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Professor Humberto Ritt Engenheiro Civil, M.Sc. Estruturas de Aço Dimensionamento à Flexão – parte 1 INTRODUÇÃO O dimensionamento de barras prismáticas submetidas à momento fletor e esforço cortante (vigas) tem suas condições estabelecidas pelo item 5.4 da NBR 8800. Do mesmo modo que nos casos de tração e compressão, é importante mais uma vez lembrar que a seção 5 da NBR 8800 trata do dimensionamento de elementos estruturais submetidos a ações predominantemente estáticas, o que é válido para estruturas civis comuns. Para as condições adicionais de dimensionamento, tais como fadiga, fratura frágil e temperaturas elevadas, ver o item 9 da NBR 8800. Por uma questão de facilidade de apresentação e de exposição, o dimensionamento à flexão será exposto na parte 1, e a seguir, na parte 2, será apresentado o dimensionamento ao esforço cortante. BARRAS SUBMETIDAS À FLEXÃO BARRAS FLETIDAS SÃO ELEMENTOS ESTRUTURAIS SUJEITOS À SOLICITAÇÕES DE MOMENTO FLETOR, ATUANDO OU NÃO FORÇA CORTANTE. EMPREGADAS, EM GERAL, NAS FORMAS DE VIGAS E TERÇAS. A nova ponte sobre o rio das Velhas da BR-381, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG), foi construída em quatro meses por R$ 29,3 milhões e inaugurada em setembro. O prazo foi obtido com a adoção de 650 t de vigas metálicas - produzidas em apenas três meses e transportadas ao local depois de prontas - e de método no qual as lajes de concreto foram fabricadas simultaneamente às vigas e estacas. Com 222 m de comprimento, a ponte é dividida em cinco vãos de 42,8 m e três pistas de rolamento, totalizando 16,3 m de largura. No vão mais alto, a ponte dista 13 m do nível da água. Toda a infraestrutura (fundações e blocos) e a mesoestrutura (pilares e travessas) foram feitas de concreto "in loco". Para a fundação foram construídas 18 estacas de 1,5 m de diâmetro escavadas mecanicamente e embutidas na rocha. Os pilares são cilíndricos e sempre em conjunto de três unidades, sendo ao todo seis apoios. O tabuleiro da ponte foi projetado para três faixas de rolamento, com faixa de segurança interna de 60 cm de proteção e acostamento de 2,5 m. Além das pistas, a ponte tem também uma passarela com 1,50 m de largura de um dos lados da ponte. CONCEITOS GERAIS Ao estudar a flexão simples em perfis metálicos, encontramos algumas semelhanças importantes com o estudo de compressão simples. A expressão básica apresentada pela NBR é semelhante às utilizadas para o dimensionamento à tração e compressão, mas devido à esbeltez dos elementos constituintes dos perfis, a ruína das peças flexionadas, a exemplo das comprimidas, também é definida em muitos casos pelo comportamento quanto à instabilidade. É importante expor a conceituação básica do comportamento de peças metálicas quando submetidas à flexão. Deve-se atentar que existe superposição de dois comportamentos, o de tensões de flexão com o de instabilidade. Do mesmo modo como ocorria nas seções comprimidas, as seções flexionadas podem sofrer instabilidades globais (da viga como um todo) ou localizadas (dos elementos componentes da seção) COMPORTAMENTO DA SEÇÃO TRANSVERSAL SOB MOMENTO FLETOR, SEM INFLUÊNCIA DA INSTABILIDADE Iniciando pela apresentação do comportamento de uma seção flexionada sem instabilidade, ou seja, sem instabilidade localizada dos elementos constituintes da seção transversal e sem instabilidade lateral da viga, significando que a viga está inteiramente contida lateralmente. Pretende-se apresentar o estudo do comportamento dessa viga sob momentos fletores crescentes, que atuam no plano que contém um eixo principal da seção. Partindo de um momento fletor nulo, para essa primeira condição de interesse, o comportamento das tensões na seção transversal pode ser representada na figura: A tensão em uma fibra distante y da linha neutra da seção, é dada por: onde y é a distância representada na figura e I é a inércia da seção. Para a fibra mais distante, ocorre a tensão máxima, cuja expressão também já é conhecida: Quando a distância até a fibra extrema é passada ao denominador, a expressão da tensão máxima fica: onde W é chamado de módulo de resistência elástico da seção. Na medida em que Msd cresce, as tensões nas fibras extremas também aumentam, até o instante em que essa tensão máxima alcança, em uma ou em ambas as fibras extremas ao mesmo tempo, a tensão de escoamento. O momento fletor que corresponde ao início do escoamento da seção, é chamado pela NBR 8800 de Mr, e utilizando as expressões anteriores, pode-se definir Mr como: Na expressão acima, W é o módulo de resistência elástico com relação ao eixo da flexão, ou o mínimo caso a seção tenha módulos diferentes com relação à fibra superior e inferior. A nomenclatura apresentada segue a adotada pela NBR, que apresenta expressões onde são utilizadas essas variáveis Wsup, Winf e W. A partir de Mr, com o crescimento de Msd, a tensão máxima não ultrapassa fy e a distribuição de tensões na seção assume a configuração representada na figura: Na situação de plastificação integral da seção, o equilíbrio pode ser escrito como: ΣMRc = 0 Rt.(h/2) = MPL, mas Rt = 1/2b.h.fy, daí: (1/2b.h).h/2.fy = MPL, que, por semelhança com a expressão da distribuição de tensões na seção transversal, já apresentada anteriormente, pode ser escrita como: Z = módulo de resistência plástico, que para a seção retangular vale 1/4.b.h2, e que pode ser calculado de modo semelhante para qualquer seção. De modo geral, o valor de Z é fornecido pela tabela das propriedades geométricas de uma seção transversal. Resumindo as definições apresentadas, pode-se distinguir três condições características de funcionamento da seção transversal fletida: - Seção transversal apenas com tensões elásticas, para 0<Msd<Mr, e Mr=fy.W; - Seção transversal com tensões de escoamento, para Mr<Msd<MPL; - Seção transversal totalmente plastificada, com MPL = Z.fy. O módulo de resistência plástico Z pode ser entendido como a soma dos momentos estáticos das áreas da seção, acima e abaixo da linha neutra, calculados com relação à linha neutra. Z = At.yt + Ac.yc A partir dessa condição, com o aumento de Msd, se alcança a terceira e última situação (teórica) que é o escoamento ou plastificação integral da seção. O momento fletor correspondente a essa condição é chamado MPL. Para representar a distribuição de tensões, novamente será utilizada seção retangular como exemplo. Também como complemento, a relação entre MPL e Mr para uma seção transversal, é independente das propriedades do material e é conhecida como fator ou coeficiente de forma da seção. Esse fator é dado pela relação: Coeficiente de forma = Z/W que pode ser obtida dividindo as expressões de MPL pela de Mr. COMPORTAMENTO DA SEÇÃO TRANSVERSAL SOB MOMENTO FLETOR, COM INFLUÊNCIA DA INSTABILIDADE No estudo de flexão das vigas, é necessário também analisar a instabilidade da seção, que pode ocorrer em qualquer instante durante o aumento do valor de Msd. Ou seja, a barra submetida a fletores crescentes, percorre as condições descritas anteriormente até alcançar MPL, a menos que ocorra a instabilidade da seção durante esse “trajeto”. Basicamente, pode ocorrer nas vigas fletidas dois tipos de instabilidade, um global, da viga como um todo, outro localizado, em qualquer dos elementos da seção transversal. Paratanto, a NBR 8800, no seu item 5.4.2.1, define configurações básicas de instabilidade, ou estados limites, que devem ser verificadas em peças fletidas: Flambagem Local da Alma – FLA – situação onde a alma de seção se torna instável; Flambagem Local da Mesa – FLM – condição em que a mesa comprimida se torna instável; Flambagem Lateral com torção – FLT - Instabilidade por flexo-torção, quando há uma combinação dos dois efeitos simultaneamente e a rotação da seção pela instabilidade; Flambagem Local da Aba, aplicável a seções formadas por duas cantoneiras, constituindo uma seção similar à seção T; Flambagem Local da Parede do Tubo, que naturalmente se aplica a seções tubulares ou assemelhadas; FLAMBAGEM LATERAL COM TORÇÃO FLAMBAGEM LOCAL DA MESA FLAMBAGEM LOCAL DA ALMA “Seção Compacta”, cujas dimensões da seção são robustas o suficiente para alcançar o MPL antes de ocorrer instabilidade; (Mres = Mpl) “Seção semicompacta”, que não alcança a plastificação integral antes de uma das condições de instabilidade antes definidas, ou seja, ocorre a flambagem local após ter ocorrido uma plastificação parcial; (Mres > My) “Seção não-compacta ou esbelta”, que se torna instável antes de qualquer das fibras das seção alcançar fy. (Mres<My) As seções das vigas são divididas em três classes, conforme a influência da flambagem local: EQUAÇÃO DE DIMENSIONAMENTO No dimensionamento de peças fletidas, a condição de segurança pode ser escrita como: CONDIÇÕES DE APLICABILIDADE Nos itens 5.4.1.1, 5.4.1.2 e 5.4.2.2, a NBR 8800 coloca as condições de aplicabilidade das expressões. QUANTO À SEÇÃO TRANSVERSAL : a) Seções I e H com dois eixos de simetria, fletidas com relação a um desses eixos; b) Seções I e H com apenas um eixo de simetria, situado no plano médio da alma, fletidas em relação ao eixo central de inércia perpendicular à alma; c) Seções T, fletidas em relação ao eixo central de inércia perpendicular à alma; d) Seções constituídas por duas cantoneiras, ligadas em forma de T, fletidas em relação ao eixo central de inércia perpendicular ao eixo de simetria; e) Seções U, fletidas em relação a um dos eixos centrais de inércia; f) Seções caixão e tubulares retangulares com dois eixos de simetria, fletidas em relação a um desses eixos de simetria; g) Seções sólidas circulares e retangulares, fletidas em relação a um dos eixos centrais de inércia; h) Seções tubulares circulares, fletidas em relação a qualquer eixo que passe pelo centro geométrico. QUANTO AO CARREGAMENTO “O carregamento transversal deve sempre estar em um plano de simetria, exceto no caso de perfis U fletidos em relação ao eixo perpendicular à alma, quando a resultante do carregamento transversal deve passar pelo centro de cisalhamento da seção transversal ou a torção deve ser impedida”. QUANTO AO VALOR DE MRD, PARA ASSEGURAR A VALIDADE DA ANÁLISE ELÁSTICA: Onde, W é o módulo de resistência elástico mínimo da seção com relação ao eixo de flexão. MOMENTO FLETOR RESISTENTE DE CÁLCULO PARA VIGAS DE ALMA NÃO ESBELTA O cálculo do momento fletor resistente é divido pela NBR em seções não-esbeltas (Anexo G) e seções esbeltas (Anexo H). Será apresentado a seguir o cálculo de MRd em vigas de seção não-esbelta (Anexo G da NBR 8800). São consideradas seções não-esbeltas: a) As seções I, H, U, caixão e tubulares retangulares cujas almas, quando perpendiculares ao eixo de flexão, têm parâmetro de esbeltez, definidos na tabela tabela G.1 da NBR 8800 b) Seções I ou H soldada, com c) Seções tubulares circulares com relação entre diâmetro e espessura de parede não superior a 0,45E/fy; d) Seções formadas por duas cantoneiras em forma de T, e sólidas circulares ou retangulares de quaisquer dimensões; VERIFICAÇÃO DE FLT: VERIFICAÇÃO DE FLM E FLA As notas relacionadas à Tabela G.1 são: DETERMINAÇÃO DE CB A verificação de FLT quando , pode exigir o cálculo do parâmetro Cb, chamado de fator de modificação para diagrama de momento fletor não- uniforme. Esse cálculo refere-se a situações onde o diagrama de fletores não é uniforme no trecho destravado de viga (chamado de Lb). O cálculo de Cb é apresentado na NBR 8800, item 5.4.2.3 e 5.4.2.4. No caso de ambas as mesas serem destravadas, a expressão de Cb é: Onde: Mmáx – Maior momento fletor, em módulo, do trecho destravado; MA – Valor de Msd, em módulo, na seção situada a um quarto do comprimento destravado, medido a partir da extremidade da esquerda; MB – Valor de Msd, em módulo, no centro do trecho destravado; MC – equivalente a MA, na seção a três quartos do comprimento destravado; Rm – parâmetro de monossimetria, igual a 1,00 em todos os casos, com exceção de: seções com um eixo de simetria, fletidas com relação ao eixo que não é de simetria, no caso em que são submetidas à curvatura reversa; Rm= 0,5 + 2(Iyc / Iy)2 Iyc – Inércia da mesa comprimida com relação ao eixo de simetria. Como a curvatura é reversa, trata-se da mesa com menor inércia; Iy – Inércia da seção com relação ao eixo de simetria. Cb = 1,00 em trechos em balanço, entre o trecho com restrição a deslocamento lateral e a extremidade livre. De modo geral o MRd é constante ao longo do trecho destravado, com exceção de seções com um eixo de simetria, fletidas com relação ao eixo que não é de simetria, e sujeitas á curvatura reversa. Cada mesa terá seu MRd que deverá ser igual ou superior ao MSd que comprime a mesa correspondente. O caso em que uma das mesas está contida lateralmente de modo contínuo e a outra está livre, a NBR 8800 (5.4.2.4) fornece as seguintes expressões, válidas para: Seções I, H e U, fletidas em relação ao eixo de inércia perpendicular à alma; Seções caixão e seções tubulares retangulares, fletidas em relação a um eixo central de inércia. a) Quando a mesa com contenção lateral estiver tracionada em pelo menos uma extremidade do comprimento destravado: onde: Mo – maior MSd, tomado com sinal negativo, que comprime a mesa livre na extremidade do comprimento destravado; M1 – MSd na outra extremidade do comprimento destravado. Se M1 comprime a mesa livre entra na expressão com sinal negativo. Se M1 traciona, entra com sinal positivo no segundo termo e com valor zero no terceiro; M2 – MSd na seção central do trecho destravado. M2>0 se tracionar a mesa livre e M2<0 se tracionar a mesa com contenção lateral contínua. b) Em trechos com momento nulo nas extremidades, submetidos a uma força transversal uniformemente distribuída, com apenas a mesa tracionada contida lateralmente contra deslocamento lateral – Cb = 2,00 c) Em todos os outros casos – Cb = 1,00. Para verificação do estado limite FLT, deve-se tomar como MSd o maior momento fletor que comprime a mesa livre.
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