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Organização do Estado

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Direito Constitucional I
Organização do Estado
Professor José Felício Dutra Júnior
feliciodutra@yahoo.com.br 
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ESTADO FEDERAL
Soberania e autonomia  Soberania, no federalismo, é atributo do Estado Federal como um todo. Os Estados-membros dispõem de outra característica — a característica da autonomia, que não se confunde com o conceito de soberania.
Autonomia  Importa, necessariamente, descentralização do poder. Essa descentralização não é apenas administrativa, como também política.
Capacidade de elaborar as leis  há a incidência de duas ordens legais: a da União e a do Estado-membro.
A autonomia política dos Estados-membros ganha mais notado relevo por abranger também a capacidade de autoconstituição.
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Constituição Federal 
Entes unidos em função de uma Constituição Federal, e não de um tratado de direito internacional. 
A Constituição Federal deve ser rígida e o princípio federalista deve ser cláusula pétrea, evitando-se a secessão, e ao mesmo tempo permitindo um equilíbrio entre Entes Políticos. 
Constituição Federal  explicitará a repartição de competências entre a ordem central e as parciais.
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Repartição de competências
A repartição de competências entre as esferas do federalismo é o instrumento concebido para favorecer a eficácia da ação estatal, evitando conflitos e desperdício de esforços e recursos, pois no Estado Federado há mais de uma ordem jurídica incidente sobre um mesmo território e sobre as mesmas pessoas. 
Capacidade tributária das pessoas políticas  a CRFB descreve um modelo de repartição de receitas entre os Entes Federados  Estados e Municípios participam das receitas tributárias por meio de fundos (art. 159, I, da CF) e de participação direta no produto da arrecadação de outras pessoas políticas (arts. 157, 158 e 159, II, da CF)  art. 3°, III, CRFB  Objetivo Fund.
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Repartição de competências
Segundo o professor Paulo Gonet, existem dois modelos básicos de repartição de competências: 
A) modelo clássico  vindo da Constituição norte-americana de 1787; conferiu à União poderes enumerados e reservou aos Estados-membros os poderes não especificados.
B) modelo moderno  que se seguiu à Primeira Guerra Mundial; responde às contingências da crescente complexidade da vida social, exigindo ação dirigente e unificada do Estado, em especial para enfrentar crises sociais e guerras. Dilatação dos poderes da União com nova técnica de repartição de competências, em que se discriminam competências legislativas exclusivas do poder central e também uma competência comum ou concorrente, mista, a ser explorada tanto pela União como pelos Estados-membros.
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Repartição horizontal e vertical 
Repartição horizontal  não há concorrência. Apresenta três soluções possíveis: 1) enumeração exaustiva da competência de cada esfera da Federação; 2) discrimina a competência da União deixando aos Estados-membros os poderes reservados (ou não enumerados); 3) discrimina os poderes dos Estados-membros, deixando o que restar para a União. (por ex. art. 21, art. 22, e art. 30)
Repartição vertical  realiza-se a distribuição da mesma matéria entre a União e os Estados-membros. Essa técnica, no que tange às competências legislativas, deixa para a União os temas gerais, os princípios de certos institutos, permitindo aos Estados-membros afeiçoar a legislação às suas peculiaridades locais. (por ex. art. 23 e art. 24)
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Características do federalismo:
Federalismo não se confunde com democracia  Estado Federal é forma de Estado (elemento estrutural); Democracia é regime político. 
Participação dos Estados-membros na vontade federal  Senado Federal, com representação paritária, em homenagem ao princípio da igualdade jurídica dos Estados-membros.
Inexistência de direito de secessão  os Estados-membros não são soberanos. Forma Federativa é cláusula pétrea da CRFB. 
Conflitos: o papel da Suprema Corte e a intervenção federal  Assumindo feição jurídica, o conflito será levado ao deslinde de uma corte nacional, prevista na Constituição, com competência para isso.
Não havendo solução judiciária ou não sendo o conflito de ordem jurídica meramente, o Estado Federal dispõe do instituto da intervenção federal, para se autopreservar. 
A intervenção federal importa a suspensão temporária das normas constitucionais asseguradoras da autonomia da unidade atingida pela medida.
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REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS NA CRFB DE 1988
Repartição tanto horizontal como vertical de competências  concerne às competências legislativas (competências para legislar) e no que respeita às competências materiais (isto é, competências de ordem administrativa).
A CRFB reparte as competências em 6 (seis) planos: 
Competência geral da União;
Competência de legislação privativa da União;
Competência relativa aos poderes reservados dos Estados; 
Competência comum material da União, dos Estados- membros, do Distrito Federal e dos Municípios (competências concorrentes administrativas); 
Competência legislativa concorrente; 
Competências dos Municípios. 
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REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS NA CRFB DE 1988
Competência geral da União  temas que envolvem o exercício de poderes de soberano, ou que, por motivo de segurança ou de eficiência, devem ser objeto de atenção do governo central. 
Art. 21 da CRFB  não é taxativo. Ver art. 177 da CRFB. 
Competência de legislação privativa da União  art. 22 da CRFB (não deve ser tido como exaustivo, havendo outras tantas competências referidas no art. 48 da CF).
Delegação  Possibilidade de lei complementar federal vir a autorizar que os Estados-membros legislem sobre questões específicas de matérias relacionadas no art. 22.
A delegação haverá de referir-se a questões específicas  Então, lei complementar não poderá transferir a regulação integral de toda uma matéria da competência privativa da União.
Delegação não se equipara à abdicação de competência  Então, a União pode retomar a competência. 
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REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS NA CRFB DE 1988
Competência relativa aos poderes reservados dos Estados  o poder de auto-organização e os poderes reservados e não vedados pela Constituição Federal (art. 25).
Competências remanescentes ou residuais  §1° do art. 25
§§ 2º e 3º do art. 25  competências previstas na CRFB, cuidando, o primeiro, da exploração de serviços de gás canalizado e o segundo, da competência legislativa para instituir regiões metropolitanas.
A Constituição, no tocante a matéria tributária, enumerou explicitamente a competência dos Estados — art. 155.
A União pode estabelecer outros impostos  art. 154 da CF
Competência comum material da União, dos Estados-membros, do Distrito Federal e dos Municípios  competências concorrentes administrativas. Competências/incumbências listadas nos incs. do art. 23.
ADI 2.544, STF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 17-11-2006  impossibilidade de qualquer das pessoas políticas de abrir mão da competência recebida pelo constituinte ou de transferi-la para outrem. 
Par. único do art. 23  Cooperação  não há hierarquia entre Entes Políticos  Hierarquia de interesses (Interesse geral da União pode prevalecer). 
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REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS NA CRFB DE 1988
Competência legislativa concorrente  normas gerais a serem editadas pela União e normas específicas, a serem editadas pelos Estados-membros. O art. 24 da CRFB enumera as matérias submetidas a essa competência concorrente. 
Cabe à União editar normas gerais;
Os Estados-membros e o Distrito Federal podem exercer, com relação às normas gerais, competência suplementar (art. 24, § 2º), o que significa preencher claros, suprir lacunas. 
Na falta completa da lei com normas gerais, o Estado pode legislar amplamente, suprindo a inexistência do diploma federal.
Se a União vier a editar a norma geral faltante, fica suspensa a eficácia da lei estadual, no que contrariar o alvitre federal.
Competências dos Municípios poder de auto-organização, o que significa
reconhecer-lhes poder constituinte, expresso nas suas leis orgânicas, limitadas tanto por princípios da Constituição Federal como da Constituição estadual, nos termos do art. 29 da CRFB.
Art. 30 da CRFB  competências municipais legislativas e materiais (previsão englobada). Legislar sobre assuntos de interesse local. E, suplementar legislação estadual e federal, no que couber. 
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REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS NA CRFB DE 1988
Inexistência de hierarquia entre Lei Federal e Leia Estadual  inconstitucionalidade na invasão da competência federal pelo Estado-membro, e vice-versa. 
Distinção entre competência privativa e exclusiva  parte da doutrina faz esta distinção, entendendo que a competência exclusiva não poder ser delegada. 
A nossa Carta da República atribui a função de uniformizar o entendimento da legislação infraconstitucional federal ao Superior Tribunal de Justiça, deixando a última palavra sobre temas constitucionais ao Supremo Tribunal Federal. 
Art. 102, I, f, da Constituição  STF, competência originária: “as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta”.  Visa tutelar o pacto federativo. 
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Entes Políticos da República Federativa do Brasil: 
União  fruto da junção dos Estados entre si, é a aliança indissolúvel destes. É quem age em nome da Federação.
Estados-membros  têm governo e bens próprios, desempenhando as funções dos três poderes estatais — Executivo, Legislativo e Judiciário.
Entende o STF que “o Presidente da República não subscreve tratados como Chefe de Governo, mas como Chefe de Estado, o que descaracteriza a existência de uma isenção heterônoma, vedada pelo art. 151, III, da Constituição” (RE 229.096, Rel. para o acórdão Min. Cármen Lúcia, DJ de 11-4-2008). 
Art. 18, §3°, CRFB  “Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar”. 
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Entes Políticos da República Federativa do Brasil: 
Municípios  além de autonomia, contando com Executivo e Legislativo próprios, contam também com o poder de auto-organização, por meio de lei orgânica (art. 29). Previsão nos arts. 1° e 18 da CRFB. 
Não há participação no Senado Federal; 
não há função judicial do Poder Público própria; 
a intervenção nos Municípios situados em Estado-membro está a cargo deste; 
a competência originária do STF para resolver pendências entre entidades componentes da Federação não inclui as hipóteses em que o Município compõe um dos pólos da lide (art. 102, I, “f”, CRFB). 
Os Municípios podem ser criados, fundidos ou desmembrados na forma do art. 18, § 4º. Exige-se, para essas ocorrências, lei estadual, plebiscito para escutar tanto a população do eventual novo Município como dos demais envolvidos, estudos de viabilidade do novo ente e que se respeitem as limitações de calendário dispostas em lei complementar federal. 
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Entes Políticos da República Federativa do Brasil: 
Distrito Federal  Ente diíbrido. Não se confunde com Estado-membro, nem com Município, acolhendo características de cada qual. 
Rege-se por uma lei orgânica, e é autônomo; 
não tem poder de organização do Ministério Público e do Poder Judiciário que atua no seu território;
está sujeito a intervenção federal;
possui três representantes no Senado Federal;
O GDF e a mesa diretora da Câmara Legislativa têm legitimidade para ajuizar ADI perante o STF; 
Polícias civil e militar, e corpo de bombeiros, são organizados e mantidos pela União; 
exerce competências dos Estados e dos Municípios;
não pode subdividir-se em Municípios.
Territórios  art. 18, § 2º, da CRFB  natureza jurídica de Autarquia  descentralizações administrativas da União, carecendo de autonomia.
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INTERVENÇÃO FEDERAL
Mecanismo drástico e excepcional  Hipóteses enumeradas taxativamente no art. 34 da CRFB. 
A intervenção federal somente pode recair sobre Estado-membro, Distrito Federal ou Municípios integrantes de território federal. 
Não cabe a intervenção federal em Municípios integrantes de Estado-membro. 
Intervenção da União nos Estados-membros  art. 34, CRFB
Intervenção dos Estados-membros nos Municípios  art. 35, CRFB
Intervenção ex officio do Presidente da República  incs. I, II, III e V, art. 34, CRFB. Será submetido à apreciação do Congresso Nacional.
 Depende de solicitação do Legislativo ou Executivo coacto ou impedido, ou de requisição do STF (Judiciário)  art. 34, IV, CRFB. Será submetido à apreciação do Congresso Nacional.
Depende de requisição do STF, do STJ ou do TSE  art. 34, VI, segunda parte  desobediência a ordem ou decisão judiciária. Dispensada a apreciação do Congresso Nacional.
Depende de provimento, pelo STF, de representação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, e primeira parte do inc. VI (execução de Lei Federal). Dispensada a apreciação do Congresso Nacional. 
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INTERVENÇÃO FEDERAL
Tanto nos casos de atuação ex officio como na hipótese da solicitação, a intervenção não é obrigatória para o Presidente da República (ato discricionário). Nesses casos, haverá o controle político do Congresso Nacional, ao qual deverá ser submetido o decreto de intervenção no prazo de vinte e quatro horas e que poderá aprová-lo ou rejeitá-lo, por meio de decreto legislativo (art. 49, IV, da CF).
art. 36, § 1º, da CF  O decreto de intervenção deve especificar a amplitude da medida, o prazo de sua duração, as condições de execução e, se for o caso, o nome do interventor. 
Intervenção requisitada pelo STF, STJ ou pelo TSE, em caso de descumprimento de ordem ou decisão judicial; ou provimento de ação de executoriedade de Lei Federal, proposta pelo Procurador-Geral da República perante o STF, ou de representação por inconstitucionalidade para fins interventivos (princípios sensíveis)  Essas modalidades de intervenção, como se vê, passam, antes de se concretizarem, por crivo judicial, então, o Presidente da República está vinculado a decretar a intervenção  §3° do art. 36, CRFB.

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