Buscar

circuitos produtivos texteis. Território pontiguar.

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.
ISBN: 978-85-7506-232-6
O USO DESIGUAL DO TERRITÓRIO POTIGUAR
PELOS CIRCUITOS PRODUTIVOS DA INDÚSTRIA
TÊXTIL E DE CONFECÇÕES
Matheus Augusto Avelino Tavares
Professor do IFRN – Campus de João Câmara
Doutorando em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP)
Bolsista Capes
matheusgeografo@yahoo.com.br
INTRODUÇÃO
No período atual a constituição de muitas regiões é, cada vez mais, presidida por
processos que tem suas origens em espaços distantes, trata-se de um acontecer hierárquico
que ao mesmo tempo em que impõem novos arranjos regionais não pode fazer tábula rasa
das marcas geográficas já fixadas nos territórios. Silveira (2010, p. 75) aponta que no
período da globalização “ocorrem bruscas mudanças de funções no território que
significam, ao mesmo tempo, transformações regionais”, de modo que não podemos mais
analisar a região como na tradição francesa conforme aponta Milton Santos1 (1978; 1988;
1996; 2003). 
Também acreditamos que não se trata de opor os dados genuinamente
regionais aos da globalização, como se eles formassem realidades segmentadas e
disjuntivas, ou seja, isto não quer dizer que as regiões sejam tributárias de processos
horizontais de um lado ou de verticais do outro. O que constatamos é que a região se
reveste de novos atributos constitutivos, sendo compreendida como a síntese contraditória
de múltiplas determinações na qual atua o acontecer solidário que lhe dá forma e a
1 Em várias de suas obras Milton Santos aponta para a impossibilidade de compreendermos as regiões, no período 
atual, de acordo com os ensinamentos da Geografia Francesa mais especificamente com os apontamentos de Vidal 
de La Blache. Para Milton Santos (1978; 1986; 1996; 2003) a região não pode ser mais entendida como um subespaço
coerente resultado de um longo processo histórico e produto das relações estabelecidas pelos grupos humanos 
locais com o meio geográfico. Essa idéia está completamente suplantada, pois com a modernização dos transportes, 
dos meios de comunicação e, sobretudo, com a internacionalização da economia, a essência da região mudou e isto 
significando dizer que ela é, cada vez mais, definida por ações longínquas que nem sempre dizem respeito aos 
interesses das comunidades locais (SANTOS, 1978).
4205
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.
ISBN: 978-85-7506-232-6
estrutura através da organização de espaços ora mais tributários de processos horizontais,
ora de processos verticais. 
A região e o processo de "regionalização como fato" (RIBEIRO, 2004) ora em
curso no território potiguar nos revela uma faceta própria do período da globalização que é
aquela relacionada ao aumento exponencial do número de variáveis chaves que configuram
os processos espaciais (SANTOS, 2003), de modo que ao mesmo tempo em que se evidencia
uma estruturação regional dependente de circuitos horizontais, se desnuda de forma
indissociável e imbricada outra diretamente serviente as ordens globais.
Nesse sentido, o presente trabalho busca analisar o uso desigual do território
pelo circuito espacial da produção da indústria têxtil e de confecções dando ênfase nas
desigualdades geradas por esse processo no período histórico atual denominado por Santos
de técnico-científico-informacional 
CIRCUITOS ESPACIAIS PRODUTIVOS NO RIO GRANDE DO NORTE
A partir da década de 1970 a constituição das regiões no território potiguar
apresentou novos conteúdos, os quais se estabeleceram em função de uma divisão
territorial do trabalho (DTT) pautada em uma nova racionalidade. Surgindo como produto
dessa nova racionalidade, há o advento de novas formas de usos dos territórios pelos
circuitos espaciais produtivos que nesse momento incorporam outros subespaços como
potenciais para a extração de uma mais-valia que, conforme asseverou Santos (1996), já
começava a se revelar como uma mais-valia global. Podemos dizer que a partir desse
momento novas parcelas dos territórios são chamadas a darem respostas aos desígnios dos
grandes agentes da economia, sejam eles nacionais ou internacionais. 
O uso do território que em tempos de uma "industrialização fordista"
(BREITBACH, 2003) era concebido de maneira muito concentrada em espaços restritos, a
partir desse momento, em que o imperativo da globalização econômica se evidencia com
maior intensidade (SANTOS, 2008), entrou em uma nova fase, na qual a sua localização não
mais se fundamenta somente em função desses preceitos. 
É preciso acrescentar que esses eventos verticalmente constituídos, embora
sejam portadores de uma racionalidade hegemônica, pari passu, com os interesses das
grandes empresas também engendraram circuitos produtivos que são organizados
horizontalmente, o que revela o caráter híbrido e contraditório da estruturação regional no
período em questão.
4206
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.
ISBN: 978-85-7506-232-6
Tomando como exemplo a expansão do circuito espacial de produção da
indústria têxtil e de confecções no Rio Grande do Norte podemos aferir que sua expansão
possibilitou o surgimento de novas topologias espaciais que se desenvolveram de acordo
com os níveis de densidade técnica e científica presentes nas suas diversas regiões, de
maneira que temos pelo menos três formas de regionalização proporcionada por esse
circuito: uma se materializa na Região Metropolitana de Natal; uma segunda na Região
Seridó; e, por fim, uma terceira que ocorre de forma mais dispersa em outros pontos do
território, dos quais Mossoró é o destaque (Mapa 1). Esse processo evidencia que, cada vez
mais, o uso do território é guiado por forças de concentração e forças de dispersão
(SANTOS; SILVEIRA, 2001) que atuam paralelamente, dado que, se, por um lado, temos uma
lógica territorial que proporciona a concentração do circuito na Região Metropolitana de
Natal e no Seridó; por outro, há também uma lógica territorial que conduz o circuito a se
expandir por outros subespaços, como ocorre na Região Oeste e em outras regiões do
território potiguar.
No caso da Região Metropolitana de Natal averiguo-se a expansão do circuito
espacial da indústria têxtil e de confecções por meio da constituição de espaços
verticalmente comandados que aparecem atrelados aos imperativos de uma indústria mais
tecnificada, dado sua maior necessidade de produção para atender a demandas de
mercados nacionais e mundiais.
Faz mister destacar que esse processo também esteve diretamente atrelado às
normas de promoção territorial (SILVEIRA, 1999) empreendidas por meio da política
desenvolvida pela Superintendência para Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE).
Inicialmente as duas principais normas desse sistema de ações foram a 34/18 e
posteriormente o FINOR. Tais normas passaram a proporcionar, por meio de incentivos
fiscais, por exemplo, a implantação de filiais de empresas sediadas no Centro-Sul, no
Nordeste (CLEMETINO, 1987). Além disso, a partir de meados da década de 1970, a
expansão do circuito espacial têxtil no Nordeste passa a fazer parte da política econômica
nacional através do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PNAD).
Também é preciso destacar que os governos locais trataram de ampliar o leque
de vantagens oferecidas pela SUDENE para as empresas através da criação de programas de
governos que concediam mais incentivos a esses agentes. Aqui podemos identificar
claramente a constituição de uma solidariedade organizacional entre as ações da instânciafederal com a estadual, na qual o resultado é a migração de empresas nacionais para o
4207
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.
ISBN: 978-85-7506-232-6
Nordeste. É nesse sentido que as considerações de Klein (1978) tornam-se pertinentes,
quando este afirma que é o Estado o agente social capaz de assegurar as transformações
nas cidades e regiões para que as mesmas possam satisfazer as necessidades de
acumulação do capital.
4208
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.
ISBN: 978-85-7506-232-6
Mapa 1. Industria têxtil e de confecções no Rio Grande do Norte.
Fonte: FIERN 2011. Elaboração Cartográfica: Diego Tenório / Organização dos dados: Matheus Augusto Avelino Tavares.
De acordo com Clementino (1987, p. 185), a partir desse momento o que se
verificou foi “uma verdadeira guerra na negociação com os grupos que se propunham a
instalar filiais têxteis no Nordeste”; o que temos, na realidade, é uma verdadeira guerra
entre os lugares (SANTOS; SILVEIRA, 2001), pois os mesmos para atraírem essas empresas,
além de concederem incentivos fiscais e políticos, passaram a equipar o território com
novas materialidades para que o mesmo garantisse uma boa fluidez.
No território potiguar a criação do Parque Têxtil Integrado e do Fundo para o
Desenvolvimento da Indústria Têxtil do Estado (FUNTÊXTIL), são exemplos dessa nova
racionalidade que então se revela. Esses eventos evidenciam a tese de Santos (2008) e
Silveira (1999), segundo a qual os objetos geográficos não funcionam de maneira isolada,
nem tão pouco as ações se dão a parte desses objetos, pois os mesmos formam um sistema
no qual o funcionamento de um depende do outro.
Diante dessas circunstâncias, já a partir de meados da década de 1970 o circuito
espacial de produção da indústria têxtil e de confecções apresentou um amplo crescimento
4209
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.
ISBN: 978-85-7506-232-6
no território potiguar, sobretudo porque se verificou vultosos investimentos realizados por
empresas nacionais que no âmbito da nova divisão territorial do trabalho compreendiam o
Nordeste e, particularmente, o Rio Grande do Norte, como locus perfeito para reprodução
do capital. A expansão desse circuito se revelou tanto por meio da captação de recurso
provenientes da SUDENE, pois até 1975 o estado somente ficava atrás de Pernambuco,
quanto por meio da tecnificação e do aumento estrondoso da capacidade de produção do
setor que, em pouco mais de 10 anos aumentou em mais de 2000% (CLEMENTINO, 1987).
Podemos dizer que a partir desse momento temos o aumento substancial do
capital fixo no território por intermédio desses investimentos que engendraram a
construção de novos espaços produtivos. Até meados dos anos 1970 a região de Natal
recebeu mais de 25 estabelecimentos de grande porte diretamente atrelados ao circuito
espacial de produção têxtil e de confecções. Tais empresas não eram apenas têxteis, mas de
outros ramos que se estabeleceram para atender a crescente demanda do circuito têxtil e
de confecções e que podemos chamar de circuitos espaciais complementares como, por
exemplo, o de botões, galões e fecho-eclair. 
Radicaram-se nesse período no território potiguar um grupo de empresas
pertencentes à União de Empresas Brasileiras (UEB) composto pela Incarton, Sparta-
Nordeste e a Indústria Têxtil Seridó, além da Alpargatas Confecções do Nordeste vinda de
São Paulo (SANTOS, 2010). Acrescentasse a essas empresas provindas do Sudeste, o
fortalecimento de algumas grandes empresas locais que também se beneficiam dessas
normas. São elas: Confecções Reis Magos, T. Barreto Indústria e Comércio, Soriedem
Confecções Sucar, Dinan e a Confecções Guararapes (SOUZA, 1997; SANTOS, 2010).
A constituição desses novos espaços produtivos aumentou substancialmente a
intensidade dos fluxos materiais de mercadorias e insumos em geral e passaram a exigir a
agregação de mais capital fixo ao território na forma de infra-estruturas de movimento que
proporcionassem uma conexão mais eficiente entre as instâncias produtivas separadas pelo
acirramento da divisão territorial do trabalho. Não é mera coincidência que esse período
seja marcado pela produção ou melhoramento das infraestruturas no território potiguar
como as que ocorreram nas rodovias estaduais e federais que realizavam a ligação entre os
espaços produtivos no Rio Grande do Norte e os principais espaços de circulação e de
consumo da Região concentrada do Brasil.
No transcorrer dos anos 1980 e no inicio dos anos 1990 novas normas de
promoção territorial foram estabelecidas pelo estado através do Fundo de Desenvolvimento
4210
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.
ISBN: 978-85-7506-232-6
Comercial e Industrial do Rio Grande do Norte e do Distrito Industrial em Extremoz que
passou a concentrar várias empresas do circuito têxtil. No entanto, a partir de meados da
década de 1980 o circuito espacial têxtil entra em um processo de retraimento que culmina
em uma crise que atinge vários estabelecimentos no território potiguar. Dentre os fatores
que proporcionaram esse processo, temos a crise generalizada na produção algodoeira do
estado que tornou escassa a matéria prima barata que abastecia o circuito, de modo que
muitos produtores tiveram que passar a comprar em outras regiões para suprir sua
demanda.
Também é fundamental compreender que a expansão do circuito esteve
intrinsecamente ligada às normas de promoção territorial concedidas pelo Rio Grande do
Norte. Como muitos desses incentivos fiscais concedidos pelo estado esgotaram o seu
prazo, as empresas beneficiadas passaram a buscar novos lugares com condições iguais ou
até melhores das existentes no território potiguar para se restabelecerem.
Do início da década de 1990 até os dias atuais, o circuito espacial têxtil e de
confecções presenciou concomitantemente um novo processo de expansão e o advento de
uma nova lógica de localização espacial de seus estabelecimentos, pois a partir desse
momento temos a criação de novos sistemas de ações e de objetos que proporcionaram
uma reorganização do espaço industrial potiguar.
Trata-se de um novo conjunto de normas de promoção territorial que
estabelecidas através do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial (PROADI),
possibilitou além da construção do Centro Industrial Avançado (CIA), localizado em Macaíba;
um fortalecimento do Distrito Industrial de Extremoz e de São Gonçalo do Amarante. Tais
espaços além de oferecerem uma maior racionalidade técnica e científica por meio de
energia barata e de sistemas de informação, concederam amplos incentivos fiscais e doação
de terrenos localizados nas margens de grandes eixos de circulação do território potiguar
(BR 101 e BR 304), para as empresas que aí se estabelecessem. Assim, presenciou-se uma
verdadeira corrida das empresas para esses espaços, tanto as que já estavam radicadas no
território potiguar, quanto daquelas provindas de outras regiões do país. Os exemplos desse
processo foram a Coats, a Guararapes, a Nortex a Capricórnio e a Textile, localizadas em São
Gonçalo do Amarante, a Coteminas e a Toli, localizadas em Macaíba e a Vicunha, em
Extremoz.
Aqui é preciso pontuar que na Região Metropolitana de Natal se formou não
somente esse circuito mais carregado das variáveis da ciência e da técnica e com alta
4211
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.
ISBN: 978-85-7506-232-6
densidade de capitais, mas também um circuito produtivo alinhado aos pequenos e médiosprodutores. Tal circuito tanto pode ser originário do acontecer hierárquico quanto de
formas horizontais de organização produtiva. No primeiro caso temos a ampliação das
formas flexíveis de trabalho na qual predominam uma produção terceirizada que altamente
atrelada aos grandes agentes da economia encontram nessa “prática flexível” uma forma de
ampliarem as formas de extração de mais-valia. 
Se Ricardo Antunes (2005) falou de uma nova “morfologia do trabalho”,
produzida por aconteceres hierárquicos, como modo de caracterizar as novas formas de
trabalho no mundo contemporâneo, nas quais prevalecem o desemprego estrutural, a
precarização, a subcontratação, a terceirização e a flexibilização; podemos dizer que essa
morfologia do trabalho encontra na expansão desses circuitos produtivos sua forma
geográfica de expressão, sobretudo, àqueles circuitos com baixa densidade de capitais e
organização que se mostram mais sensível aos eventos geradores desse acontecer
hierárquico.
Em um segundo caso há a formação de um circuito que embora seja tributário
também de um acontecer hierárquico, está mais relacionado a processos horizontais, dado
que não aparecem como terceirizados de outros agentes da economia. Apesar de
concentrado em Natal este circuito se dispersa por toda a região metropolitana e possui
como característica existencial fundamental o fato da maioria de seus estabelecimentos
apresentarem um ou dois funcionários e serem baseados em relações familiares de
trabalho.
Nos municípios de Macaíba, Parnamirim e Ceara Mirim encontramos as maiores
concentrações de “estabelecimentos”2 produzindo uma gama variada de produtos que na
maioria dos casos são consumidos na própria região metropolitana, mas em alguns casos
devido à banalização dos sistemas técnicos contemporâneos como computador e internet,
constamos um alargamento desse circuito que usam a internet para vender e divulgar os
seus produtos não somente no Brasil, mas também na Europa. 
Esse circuito apesar de grande difusão geográfica na Região Metropolitana de
Natal não se constitui como predominante na conformação geral do circuito de confecções,
principalmente, quando consideramos a quantidade da produção e a absorção de mão de
obra que é mais expressiva nos grandes espaços produtivos dos agentes hegemônicos do
2 A pesquisa de campo vem evidenciando que muitos desses estabelecimentos são na realidade a própria residência 
do trabalhador que geralmente possui um compartimento no qual se desenvolve a atividade produtiva. 
4212
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.
ISBN: 978-85-7506-232-6
circuito; por isso, afirmamos que mesmo com existência desses pequenos produtores
fundamentados muitas vezes em uma solidariedade orgânica, o que predomina nessa
região é um circuito baseados em uma solidariedade organizacional produtora de espaços
verticais. 
Enquanto na Região Metropolitana de Natal predomina circuitos mais
densamente tecnificados e comandados por um acontecer hierárquico, constatamos a
expansão de formas de trabalho erigidas a partir de racionalidades mais aderentes aos
processos horizontais. É nesse sentido que verificamos o advento e o fortalecimento de uma
nova lógica de formação do circuito de confecções que vem proporcionando uma
reorganização do território potiguar e, outorgando, por isso, novas feições à sua
regionalização. 
Nesta realidade a Região Seridó, o Alto Oeste e mais alguns subespaços do
território potiguar passam a fazer parte da expansão do circuito de confecções,
principalmente. Neste caso temos um processo diferenciado, pois o mesmo não responde
majoritariamente a aconteceres hierárquicos como ocorre na Região Metropolitana de
Natal, embora estes também influenciem o surgimento de novos circuitos, sobretudo,
aqueles que se apresentam como terceirizados de grandes empresas. 
A formação desse circuito aparece mais atrelada a diversos processos
horizontais que se estabelecem por meio de diversos agentes sociais locais. De modo geral
há predominância de pequenos e médios estabelecimentos de produção que apresentam
mão-de-obra barata, e muitas vezes fundamentada em relação de parentesco, uma grande
complementaridade entre os diversos agentes que formam o circuito e, por fim, uma
densidade técnica e de capital relativamente baixa quando comparamos com a Região
Metropolitana de Natal. Tomando como ponto de reflexão as considerações de Santos
(1996), podemos dizer que nesses subespaços se sobressaem relações solidarias orgânicas
entre diversos agentes do lugar que se fundam por meio de uma coletividade que trabalha
em busca de resultados comuns.
Um dado fundamental na formação desses circuitos é que seu desenvolvimento
se deu a partir da incorporação de famílias de técnicas de produção consideradas
ultrapassadas ou obsoletas para os grandes capitais industriais, sobretudo, porque elas são
intensivas em trabalho humano e não em maquinário modernos que permitem uma
ampliação da produção e uma maior racionalização do processo produtivo. 
4213
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.
ISBN: 978-85-7506-232-6
Além disso, acreditamos que a compreensão do circuito de confecções
desenvolvido nessas regiões também passa pelo entendimento de um acontecer homólogo
que se verifica a partir de um conhecimento técnico do processo produtivo que de base
local apresenta uma circulação mais horizontal das informações e funciona como um dos
motores de dinamização dessas regiões. E comum a existência de unidades produtivas
autônomas e independentes pertencentes a membros diversos de um mesmo grupo
familiar. 
Na Região Seridó o processo de expansão do circuito espacial confecções tem
como ponto de inflexão a década de 1970, mas destacamos que durante este período a
região ainda não apresentava a dinâmica que o caracterizará nos anos ulteriores. Já a partir
da segunda metade dessa década, tomando como base a pesquisa de Morais (2005), o
circuito espacial confecções já aparecia em 3º lugar na conformação econômica do Seridó,
com aproximadamente 50 estabelecimentos.
Na medida em que as forças do lugar vão incorporando a lógica de
funcionamento desse circuito e na medida em que as ações do governo que promovem
alguns incentivos a sua expansão aumentam, constatamos uma ampliação do circuito
confecções, que se revela tanto pelo aumento da produção quanto por meio do surgimento
de novas especialidades de circuitos espaciais como, por exemplo, o circuito dos bonés, que
de acordo com Lins (2011) tem surgimento durante esse período.
No que concerne a expansão do circuito produtivo de confecções para outras
regiões do território potiguar, constatamos que de modo geral predomina a existência de
pequenas e médias empresas que, muitas vezes, surgem atreladas as relações estabelecidas
horizontalmente semelhante ao que se processa na Região Seridó, como exemplo temos os
municípios Santa Cruz e Nova Cruz na região Agreste; Mossoró e Apodi na Região Oeste.
Na contemporaneidade a intensificação dos fluxos de informação, de capitais e
de mercadorias, possibilitou que a Região Seridó e o Alto Oeste passassem a atender além
das demandas locais, demandas nacionais e até internacionais, o que, ao mesmo tempo, em
que ampliou os espaços de produção do circuito confecções, possibilitou a intensificação de
seu processo de tecnificação, como forma de atender ao aumento da demanda produtiva. 
Assim, em virtude da trama complexa de aconteceres que regem essescircuitos
nessas regiões, sua compreensão tornou-se mais difícil. Essa economia pobre como os
denominou Arroyo (2008), adquiriu novos contornos, de modo que ao mesmo tempo em
4214
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.
ISBN: 978-85-7506-232-6
que “começam e terminam num único sub-espaço, que vai desde a produção até o consumo
no mesmo distrito de uma cidade” (ARROYO, 2008, p. 21); percebemos que diante das
possibilidades abertas pelo período da globalização muitos já não se realizam somente em
sua cidade de origens ou no estado do Rio Grande do Norte, mas extrapolam esses limites
se espraiando não somente pela formação socieespacial brasileira mas também por
algumas partes do mundo. 
Por exemplo, os circuitos de confecções de roupas e de biquínis que têm seus
espaços produtivos na Região Oeste e no Seridó são eloquentes para ilustrarem essa
situação. Podemos dizer que esse circuito produtivo “autoriza uma cooperação estendida”
(SANTOS; SILVEIRA, 2001, p. 101), uma vez que constatasse uma ampliação de sua escala de
realização, dado que em alguns períodos ele ultrapassa a dimensão do território nacional
para estabelecer uma conexão na escala do sistema-mundo com os mercados europeu e
americano, sobretudo este que nos últimos anos tem adquirido com maior periodicidade os
produtos desse circuito. 
Por fim, pontuamos que embora esse circuito espacial de confecções apresente
certa disseminação pelas Regiões do Seridó e na Região de Mossoró, dado que vários
municípios se apresentam enquanto espaços de produção, constata-se uma concentração
espacial do processo produtivo, sobretudo, nas cidades de Caicó, Jardim de Piranhas, Serra
Negra do Norte e Mossoró que dotados de uma maior carga de densidade técnica, de
capital e normativa quando comparado as demais cidades, comandam esse processo em
suas respectivas regiões.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os usos do território pela industrial têxtil no Rio Grande do Norte vem
corroborando a tese de Santos (2003) segundo a qual no período
técnico-científico-informacional aumenta exponencialmente o número de variáveis
definidoras das estruturas e dos conteúdos regionais. Em outros termos evidenciasse que
ao mesmo tempo em que se instalam formas de produção influenciadas por um processo
de globalização e oriundas das divisões territoriais hegemônicas, temos a permanência e o
advento de um conjunto de formas de produção mais baseadas em solidariedades
horizontais estabelecidas por agentes não hegemônicos. 
É desse conflito que emergiu a nova estruturação regional do território potiguar
que às vezes se subordina completamente aos anseios dos agentes da economia
4215
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.
ISBN: 978-85-7506-232-6
globalizada e em outros momentos, resiste a essas ações ou as transformam e as absorvem
de acordo com suas necessidades. Esta situação, consequentemente, nos permite apontar a
existência de um processo de regionalização tributário de uma lógica desigual
simultaneamente vertical-horizontal. 
Usando as palavras de Santos (1988), podemos dizer que no período da atual, as
regiões aparecem como distintas versões dos processos de globalização, dado que para
apreendê-la em sua essência é preciso concebê-la como produto da confluência e das
contradições de uma ordem global e uma ordem local intermediada pela formação
socioespacial.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Ricardo. O Caracol e sua Concha:
Ensaios sobre a nova morfologia do trabalho,
São Paulo: Boitempo, 2005.
ARROYO, Monica. “A economia invisível dos
pequenos”. In: Le Monde Diplomatique.
Brasil, ano 2, no. 15, outubro de 2008.
BREITBACH. A. C. M. Une Dynamique Regionale
Fondee sur La Diversification Industrielle:
L’Expériences de la Région de Caxias do Sul –
Brésil. Docteur de L’Universite, Paris, 2003.
CLEMETINO, M. L. M. O Maquinista de Algodão e
o Capital Comercial. Natal, UFRN Ed
Universitária, 1987.
LINS, Z.M. Circuitos Espaciais de Produção da
Atividade Boneleira: O Uso dos territórios de
Caicó, de Serra Negra do Norte e Jardim do
Seridó> Dissertação de Mestrado. PPGe, UFRN,
2011.
MORAIS, I. R. D. Seridó Norte-Rio-Grandense:
Uma Geografia da Resistência. Caicó, 2005.
KLEIN. J-L. Du Materialisme Historique aux
Inegalités Régionales. In: Cahiers de
Geographie Du Québec, Vol. 2, Nº 56, 1978.
RIBEIRO, Ana Clara Torres. Regionalização: Fato e
Ferramenta. In: Brasil Século XXI: Por uma
nova regionalização? Agentes, processos e
escalas. ORG: LIMONAD, E.HAESBAERT, R.
MOREIRA, R. São Paulo, Ed. Max Limonad,
2004.
SANTOS, Milton. O trabalho do Geógrafo no
terceiro mundo. São Paulo: Hucitec, 1978.
______.Técnica, espaço e tempo: globalização e
meio técnico-científico informacional. 5. ed.
São Paulo, HUCITEC, 1994.
______. A Natureza do espaço: técnica e tempo,
razão e emoção. São Paulo:
HUCITEC, 1996.
______. Por uma outra globalização: do
pensamento único à consciência universal. São
Paulo: Record, 2008.
______, SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e
sociedade no início do século XXI. 5. ed. Rio de
Janeiro: Record, 2001.
______. Metamorfose do Espaço habitado. São
Paulo, HUCITEC, 1ª Edição, 1988. 
______. Região: Globalização e identidade. In:
Conhecimento e Reconhecimento, ORG:
LIMA, Luiz Cruz. Fortaleza,: EDUECE, 2003. 
SILVEIRA, Maria Laura Da. Um país, uma região:
fim de século e modernidades na Argentina.
São Paulo: FAPESP, 1999.
_____. Região e Globalização: pensando um
esquema de análise. In: REDES, Santa Cruz do
4216
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.
ISBN: 978-85-7506-232-6
Sul, v. 15, n. 1, p. 74 - 88, jan./abr. 2010.
SANTOS, P. P. Evolução Econômica do Rio
Grande do Norte: Século XVI ao XXI. 3ºed.
Natal, 2010.
SOUZA, Itamar de. História do Rio Grande do Norte
em fascículos. In.: Diário de Natal. Projeto Ler.
Natal, 1997. 
4217
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.
ISBN: 978-85-7506-232-6
O USO DESIGUAL DO TERRITÓRIO POTIGUAR PELOS CIRCUITOS 
PRODUTIVOS DA INDÚSTRIA TÊXTIL E DE CONFECÇÕES
EIXO 3 – Desigualdades urbano-regionais: agentes, políticas e perspectivas
RESUMO
No território do Rio Grande do Norte a constituição das regiões tem sido guiada por lógicas
desiguais que possibilitam aos circuitos espaciais produtivos mais dinâmicos e mais exigentes das
densidades do período histórico atual se localizarem em parcelas sempre mais restritas do
território, ficando os demais espaços tributários de circuitos que não apresentam os mesmo níveis
de densidade das variáveis da técnica, da ciência e da informação. Constatamos que enquanto
esses circuitos produtivos mais exigentes dessas variáveis são guiados por eventos verticalmente
constituídos, típicos do período da globalização (SANTOS, 1994; 1996), os demais circuitos
produtivos apresentam em seu processo formativo uma lógica mais horizontal. É nesse sentido,
que o presente trabalho busca analisar o uso desigual do território pelo circuito espacial da
produção da industria têxtil e de confecções dando ênfase nas desigualdades geradas por esse
processo. Para tanto, realizamos uma revisão bibliográfica sobre as teorias que versam sobre os
circuitos espaciais produtivos, bem como realizamos pesquisa empírica a fim conhecermos os
eventos que configuraram essa realidade no território potiguar. Os resultados obtidos nos
permitem dizer que o uso do território pelo circuito espacial produtivos da industria têxtil e de
confecções no Rio Grandedo Norte possibilitou o surgimento de novas topologias espaciais que
se desenvolveram de acordo com os níveis de densidade técnica e científica presentes nas suas
diversas regiões, de maneira que temos pelo menos três formas de regionalização proporcionada
por esse circuito: uma se materializa na Região Metropolitana de Natal; uma segunda na Região
Seridó; e, por fim, uma terceira que ocorre de forma mais dispersa em outros pontos do território,
dos quais Mossoró é o destaque. Esse processo evidencia que, cada vez mais, o uso do território
é guiado por forças de concentração e forças de dispersão (SANTOS; SILVEIRA, 2001) que atuam
paralelamente, dado que, se, por um lado, temos uma lógica territorial que proporciona a
concentração do circuito na Região Metropolitana de Natal e no Seridó; por outro, há também uma
lógica territorial que conduz o circuito a se expandir por outros subespaços, como ocorre na
Região Oeste e em outras regiões do território potiguar.
Palavras-chave: circuitos produtivos; desigualdades territoriais; Rio Grande do Norte.
4218

Outros materiais