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Nutrologia e Atenção à Saúde do Idoso Alessandro Pontes Arruda MD, MSc, PhD, FCCM 1 Objetivos: •Descrever os principais problemas nutricionais decorrentes do processo de envelhecimento •Entender a epidemiologia da desnutrição na população idosa •Descrever as variáveis fisiológicas que se deprimem durante o processo de envelhecimento •Conhecer e identificar os sinais clínicos de desnutrição no paciente idoso •Considerar as principais medidas bioquímicas e antropométricas usadas na avaliação nutricional do paciente idoso •Conhecer as ferramentas de avaliação do risco nutricional específicas para a população idosa •Considerar as necessidades energéticas e proteicas da população idosa •Descrever a sarcopenia como doença de alta relevância e prevalência na população idosa, entendendo sua etiopatogenia e considerando as medidas atualmente aceitas para seu controle 2 Epidemiologia da Desnutrição nos Idosos: •Idosos: Definido pela ONU em 1985 como a população com 60 anos ou mais •Segmento populacional com características próprias relacionadas ao estado nutricional, ingestão de alimentos e resposta à terapia nutricional •O envelhecimento populacional é uma realidade de diversos países do mundo, incluindo o Brasil, decorrente do aumento da expectativa de vida associado a uma queda das taxas de natalidade •Atualmente representam mais de 8% da população brasileira (11 milhôes de pessoas), a estimativa é que chegue a 15% em 2025 (35 milhões) •Trata-se do setor populacional com maior risco de incapacidade e doença (estima-se que 85% sejam portadores de algum tipo de doença crônica, e 30% tenham duas ou mais doenças associadas) 3 Epidemiologia da Desnutrição nos Idosos: •A desnutrição proteico-calórica é extremamente subestimada e frequentemente não identificada nessa faixa etária sobretudo em razão das m o d i fi c a ç õ e s fi s i o l ó g i c a s a s s o c i a d a s a o envelhecimento •O comprometimento do estado nutricional nessa população de pacientes agrava ainda mais a morbi- mortalidade, afetando indicadores como as taxas de prevalência hospitalar e mortalidade •A manutenção de um estado nutricional adequado no idoso é tarefa árdua e depende de uma abordagem multifatorial para interferir nas diversas condições que comprometem o apetite dessa população (medicamentos, problemas dentários, alteração do padrão de consumo pela aposentadoria, doenças crônicas associadas, fatores psicossociais, simplificação e monotonia dos pratos preparados, diminuição da sensibilidade olfativa e gustativa próprias da idade) 4 Variáveis Fisiológicas Que Se Deprimem no Idoso •Índice Metabólico Basal •Colesterol Sérico •Hemoglobina •Tolerância à glicose •Densidade óssea •Síntese proteica •Água corporal total •Peso corporal •Capacidade respiratória máxima •Taxa de filtração glomerular •Dentição •Sede •Salivação (aumento da viscosidade salivar) •Sensibilidade gustativa •Sensibilidade olfativa •Acuidade visual •Capacidade motora •Absorção intestinal •Motilidade gastrointestinal 5 Estudos de Incidência de Desnutrição em Idosos Bienia, 1982 61% Bastow, 1983 53% Sullivan, 1989 39% Mowé, 1994 31,3% Cederholm, 1995 20% Teixeira, 1995 55,3% Pontes-Arruda, 1997 47.8% 6 Risco Nutricional: IMC = Peso Corpóreo (Kg)/Altura2 (cm) Fonte: World Health Organization,1997 % de Perda de Peso Corpóreo = (Peso Usual - Peso Atual) x 100/Peso Usual F Fonte: Blackburn GL, Bistrian BR, 1977 7 Classificação do IMC IMC (Kg/m2) Classificação <16.0 Magreza Grau III 16.0-16.9 Magreza Grau II 17.0-18.4 Magreza Grau I 18.5-24.9 Peso Normal 25.0-26.9 Sobrepeso Grau I 27.0-29.9 Sobrepeso Grau II 30.0-34.9 Obesidade Grau I 35.0-39.9 Obesidade Grau II 40.0-49.9 Obesidade Grau III >50.0 Obesidade Grau IV 8 Principais Ferramentas: Avaliação Subjetiva Global (ASG) •Possui limitações como os outros metodos mas é largamente utilizada •Aplicabilidade simples e barata, podendo ser realizada à beira do leito. Tem mais de 20 anos de uso •Utiliza diversos parâmetros incluindo a perda de peso nos últimos 6 meses antes da avaliação, ingestão alimentar em relação ao padrão usual do paciente (de forma não intencional), presença de sintomas gastrointestinais (como diarréia), avaliação da capacidade funcional do paciente, demanda metabólica e exame físico 9 Principais Ferramentas: Avaliação Subjetiva Global (ASG) 10 Principais Ferramentas: Avaliação Subjetiva Global (ASG) 11 Avaliação Nutricional •Deve levar em cons ideração as alterações próprias do envelhecimento •Usa a ASG associada ao IDI (Índice de Desnutrição do Idoso), considerando como risco nutricional a presença de pelo menos duas va riáve i s a l teradas : antropometria abaixo do percentil 5 ( prega cutânea do tríceps, prega subescapular, área muscular do braço), va lores b ioqu ímicos g ravemente reduzidos (albumina inferior a 2,8g/ 100ml e contagem de linfocitometria menor que 900 células/mm3) •Os critérios mais rigorosos do IDI reduzem a chance de considerar as alterações fisiológicas do envelhecimento como desnutrição 12 Avaliação Nutricional - Considerações Adicionais •O inquérito deve levar em conta a l t e r a ç õ e s fi s i c a s e fi s i o l ó g i c a s importantes como a perda de dentes, regimes medicamentosos e alteração do paladar/olfato •O s p a c i e n t e s p o d e m a i n d a s e r portadores de demência senil ou doença degenerativa (Alzheimer, Parkinson) que limitem a memória ou a locomoção as qua i s podem pre jud ica r ta nto a entrevista/avaliação quando a nutrição oral. Nesses casos é fundamental o envolvimento de familiares no processo de avaliação nutricional •Hipoalbiminemia ou a dosagem de pré- albumina (desde que não sejam pacientes criticamente enfermos) podem ser usadas como um bom marcador 13 Avaliação Nutricional - Considerações Adicionais •A concentração de albumina declina com o envelhecimento (3-8%/década a partir dos 70 anos) •Adicionalmente idosos respondem menos à suplementação proteico-dietética •Em idosos não se deve usar o índice creatinina- altura como medida de proteína muscular total já que a excreção urinária de creatinina diminui em virtude do decréscimo de massa muscular •Alterações na composição corporal do idoso d i fi c u l t a m a a v a l i a ç ã o d e m e d i d a s antropométricas (diminuição da massa magra, aumento da gordura total e diminuição da água intracelular) •Parao cálculo da altura considerar a medida do comprimento da perna: Homens: 64,19 - (0,04 x idade) + (2,02 x comprimento da perna = altura em cm Mulheres: 84,88 - (0,24 x idade) + (1,83 x comprimento da perna) = altura em cm 14 •O processo de envelhecimento promove mudanças de peso, altura e compartimentos corporais •O peso corporal normalmente aumenta com o avançar da idade, podendo atingir o valor maximo aos 45 anos no homem e 50 anos na mulher. O peso se mantém estável ate os 65 anos, quando começa a diminuir progressivamente •A a l tura tende a d iminu ir com o envelhecimento em razão do encurtamento de vértebras, dos discos intervertebrais, cifose e osteoporose. Estima-se que a partir dos 30 anos ocorra perda de 1,2-4,2 cm a cada 20 anos •Ocorre aumento relativo da gordura em relação à massa magra corporal, estimada em 6% por cada década a partir dos 30 anos Alterações na ComposiçãoCorporal no Idoso 15 Necessidades Hídricas no Idoso •O idoso necessita de 1mL de água/Kcal de alimento ingerido ou 30mL/Kg de peso corporal •Numerosos fatores contribuem tanto para que essa meta não seja alcançada quanto para que ela seja ultrapassada •A á g u a t o t a l d i m i n u i c o m o envelhecimento de 80% ao nascer para 60%-70% •Desordens do balanço hídrico são frequentes no idoso •Com o envelhecimento ocorre redução da filtração glomerular e do fluxo sanguíneo renal •A água intracelular também é um i m p o r t a n t e r e g u l a d o r t é r m i c o protegendo contra hipo e hipertermia 16 Necessidades Energéticas e Proteicas •Ocorre a redução do gasto energético basal (GEB) de 38 Kcal/m2/h aos 30 anos para 30 Kcal/m2/h aos 80 anos, acompanhada de uma redução das necessidades energéticas (2-4% por década), em função do declínio da atividade física e da massa corporal metabolicamente ativa •A ingestão energética também diminui progressivamente com o envelhecimento decorrente de mudanças fisiológicas, incapacidade física, fatores socioeconômicos, farmacológicos e psicológicos •O gasto energético pode ser calculado usando a equação de Harris-Benedict, desde que ajustada para a idade (51-75 anos = -10%; maiores de 76 anos = -20-25%) •É i m p o r t a n t e s a l i e n t a r q u e o s macronutrientes devem ser ajustaos já que a necessidade proteica não diminui com a idade (0,8-1,0 g/Kg/dia) 17 MULHER: 655,1 + 9,5 x Peso (kg) + 1,8 x Altura (cm) – 4,7 x idade (anos) HOMEM: 66,5 + 13,8 x Peso (kg) + 5 x altura (cm) – 6,8 x idade (anos) # Fator AKvidade: Acamado: 1,2 Acamado + móvel: 1,25 Deambulando: 1,3 # Fator Lesão: Paciente não complicado: 1 Pós operatório oncológico: 1,1 Fratura ossos longos: 1,2 Sepse moderada: 1,3 Peritonite: 1,4 Politrauma em reabilitação: 1,5 Politrauma + Sepse: 1,6 Queimadura 30 a 50%: 1,7; Queimadura 50 a 70%: 1,8 Queimadura 70 a 90%: 2 # Fator Térmico: 38°: 1,1 39°: 1,2 40°:1,3 41°: 1,4 Cálculo do GER e GET (Harris-Benedict) Gasto EnergéKco Total = TMB x FA x FL x FT 18 Necessidades de Vitaminas e Minerais •A absorção da grande maioria das vitaminas não é afetada pelo processo de envelhecimento •A recomendação de vitaminas para os idosos é a mesma dos adultos •A perda de dentes pode dificultar o consumo de frutas, verduras e legumes e favorecer a deficiência de vitamina C •A deficiência de vitamina B6 prejudica a resposta imunológica celular (redução da proliferação dos linfócitos) •Presença de gastrite atrófica e redução na produção de fator intrínseco ou ainda o uso de antiácidos podem reduzir a absorção de vitamina B12 •Há risco para deficiência de vitamina D (sobretudo em idosos hospitalizados ou acamados): 30%-40% dos idosos com fratura óssea apresentam deficiência de vitamina D 19 Nutrição Enteral e Parenteral •A terapia nutricional precoce no idoso é uma PRIORIDADE no seu atendimento •O idoso em uso de nutrição enteral precisa ser controlado cuidadosamente para garantir a oferta adequada de nutrientes e água •O risco de broncoaspiração deve ser sempre considerado quando do uso de nutrição enteral, sobretudo nos idosos com problemas que interferem na velocidade de esvaziamento gástrico •O resíduo gástrico deve ser sempre aferido de acordo com o preconizado nos protocolos de cada unidade e em concordância com os guidelines internacionais •Em caso de intolerância é possível optar por uma sonda pós-pilórica •A hipoalbuminemia favorece alterações do metabolismo hídrico edema e ocorrência de úlceras de decúbito •A nutrição parenteral pode seu usada tanto quando o intestino não está funcionante ou de forma mista e concomitante com a nutrição enteral para garantir o adequado aporte calórico, com os cuidados necessários para não incorrer em sobrecarga hídrica e intolerância à glicose •O carreamento de gordura no idoso pode estar prejudicado, o que leva a necessidade de controlar os níveis de triglicerídeos circulantes com cuidado 20 Sarcopenia •Do grego “sarco” (músculo) e “penia” (falta de) •O envelhecimento está associado a redução d a m a s s a m u s c u l a r e a u m e n t o d a adiposidade, o que leva a perda da força muscular, aumento da incapacidade e da mortalidade •O c o r re a l t e ra ç õ e s i m p o rt a n t e s n a composição da fibra muscular determinando perda de força muscular e dificuldade para exercer atividades rotineiras como carregar uma sacola, levantar da cama e manter o equilíbrio •Consequentemente há um aumento da ocorrência de fraturas •A prevalência de sarcopenia é de 8,8-17,5% dos idosos, aumentando progressivamente com o avançar da idade (8-10% por década) •Dentre as causas destacam-se a desnutrição proteica, redução de níveis hormonais GH, testosterona), aumento de citocinas (IL-6, IL-1, TNF-alfa) 21
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