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Infraestrutura e Superestrutura e sua relação com o esporte.

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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA – UNOESC
ACV – CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
GUSTAVO DE CARVALHO – MAIKON SANTUCHES
INFRAESTRUTURA E SUPERESTRUTURA E SUA RELAÇÃO COM O ESPORTE
Joaçaba
2015
GUSTAVO DE CARVALHO – MAIKON SANTUCHES
INFRAESTRUTURA E SUPERESTRUTURA E SUA RELAÇÃO COM O ESPORTE
Projeto de pesquisa apresentado à disciplina Sociologia da Educação, Curso de Educação Física, Área das Ciências da Vida, Universidade do Oeste de Santa Catarina – Campus de Joaçaba.
Orientador: Professor Márcio G. Trevisol
Joaçaba
2015
INRODUÇÃO
 Propõem-se nesse trabalho, analisar de maneira crítica o esporte no seu sentindo global. Do amadorismo ao profissionalismo. Em que parte desse processo o esporte como cultura e bem estar passa a se tornar o esporte espetáculo. Qual a relação entre os métodos de produção e o esporte, como isso ocorre e quais as consequências. Usou-se como base os conceitos marxistas para entender em qual parte da sociedade o atleta se encontra, enfatizando o jogador de futebol e caracterizando-o com seu valor de troca e seu valor de uso. Baseando-se em seu salário absurdamente alto e esclarecendo se o seu lugar na sociedade é na burguesia ou no proletariado. Ainda, procurou-se problematizar o esporte em sua totalidade mundial, justificando que é um meio de ascensão social, mas que mesmo assim, em alguns casos não mudará seu lugar na sociedade. 
Usando os conceitos de Karl Marx (1818 – 1883) Infraestrutura e superestrutura, buscou-se relacioná-los ao esporte moderno e responder o porquê do atleta ser transformado em mercadoria. Como é identificado o sistema produtivo e como, por meio do capitalismo o atleta deixa de ser atleta e passa a ser um produto. Quem são as indústrias que produzem essa ‘’mercadoria’’ e como o esporte é o meio de produzir e lucrar por meio da exploração da mão-de-obra. Seguindo assim o pensamento de Marx sobre o sistema capitalista, onde tudo nesse sistema acaba virando mercadoria e objetivando o lucro.
O ESPORTE AMADOR E PROFISSIONAL
Todos os atletas que hoje conhecemos como estrelas profissionais, sejam eles jogadores de futebol, lutadores de artes marciais ou então nadadores, todos esses atletas iniciaram no esporte amador. Dessa forma o amadorismo não deixa de ser uma expressão do cotidiano esportivo, por sua vez, o esporte amador assume um caráter de prática que não visa lucro, enquanto isso, o esporte profissional adquire um caráter totalmente oposto. Isso não quer dizer que o esporte amador não esteja inserido no sistema capitalista, mas que houve um processo de transposição do amador para o profissional, uma transformação que não é de fácil percepção, uma vez que temos a mídia como instrumento de organizar a nossa consciência a partir de princípios políticos determinados pelo sistema econômico capitalista. 
O esporte teve seu primeiro aparecimento na Inglaterra durante a estruturação do capitalismo industrial, ou seja, na decadência do feudalismo e na passagem para o capitalismo. Logo, o esporte começa a ser modelado a partir dos interesses burgueses desse capitalismo que surgia. Inicia-se a organização de clubes, ligas, federações e confederações, aumentado assustadoramente o caráter competitivo no esporte. O espírito competitivo está na essência do ser humano, bastou por meio disso induzir a competição, instigar as pessoas a assistir os eventos esportivos. A partir de então, começou a ser exigidos resultados e vitórias dos atletas, essas por sua vez, representavam um ganho de recursos através das apostas. Essas apostas carregavam o espírito capitalista e logo o esporte amador não servia como espetáculo, não era mais visto como meio de produzir lucro. Essa relação entre a vitória e o dinheiro acabou por corroer o esporte amador. 
O trabalho é uma atividade tipicamente humana, onde produzimos através de nossas ações aquilo que queremos. No capitalismo, o trabalho passa a ser assalariado, ou seja, o trabalhador troca sua força física ou metal por um salário no final do mês. Dessa forma o significado de trabalho é controverso e no capitalismo ele não é mais um meio de produção da consciência humana e sim da exploração da mão-de-obra. Entende-se então que o objetivo último do capitalismo é o lucro, e esse lucro se dá pela exploração do trabalho. Objetivando o lucro e explorando a mão-de-obra, esse método de produção conduz a uma divisão de classe social. 
Nessa divisão de classes, o lucro, que é o objetivo do sistema econômico não é divido de maneira honesta, pois quem é explorado, mesmo que seja remunerado não recebe um valor justo pelo seu trabalho. Esse processo é denominado por Marx de ‘’Mais-Valia’’. A sociedade fica dividida entre os burgueses, aqueles que possuem os meios de produção e os proletários, aqueles que produzem através do trabalho, ou seja, são os proletários que são explorados. Essa divisão é consequência da Mais Valia, onde o proletário ganha muito menos do que produz, assim, dificilmente se tornará um burguês. Segundo Marx, tudo que está englobado no capitalismo acaba tornando-se mercadoria. Logo, o esporte profissional, promovido pelos eventos esportivos caracterizado pela competição, pela vitória e suas apostas, acaba se tornando um método de produção, e os atletas, a mercadoria, mas essa disseminação não seria possível sem a intervenção da mídia. 
O ESPORTE MIDIÁTICO E DE ESPETÁCULO 
O esporte espetáculo só recebeu essa denominação ‘’espetacular’’, por conta da mídia televisiva principalmente. Antes da televisão, os jogos eram narrados e transmitidos através do rádio. A voz do narrador tinha tom de emoção, ela promovia essa emoção nos amantes do esporte. Logo, com a criação da televisão foi possível aumentar essa emoção que antes era ouvida e passou a ser assistida. Aí chegamos ao que nos interessa refletir sobre o quanto a mídia nos move e cria o modelo de sociedade pré-estabelecido por quem está no poder. Mesmo antes de a televisão existir, os amantes do esporte poderiam ir aos centros de eventos esportivos para assistir, mas como sabemos pela atividade empírica, assistir qualquer esporte pela televisão é muito mais agradável aos olhos. Mais emocionante.
Conforme a tecnologia foi crescendo, ficou mais agradável assistir pela televisão. Imagens e som de alta definição, imagens coloridas, tela cada vez maior e algumas peculiaridades que nem percebemos, mas que fazem toda a diferença no que se diz respeito ao espetáculo. Uma delas é a ‘’nostalgia’’. Principalmente no futebol, percebe-se que sempre os narradores voltam ao passado, buscam pelos jogos históricos, decisões de campeonato, os gols mais bonitos e as histórias contadas pelos ex-jogadores. Tudo isso que se refere ao passado, faz com que o telespectador se atualize a se faça parte daquele momento do jogo, tornando-o assim, emocionante. 
Outro método de tornar o esporte espetacular é o chamado ‘’replay’’. Esse por sua vez tem um papel importantíssimo no que diz respeito à emoção no jogo e é um dos instrumentos que faz com que seja melhor assistir um jogo de futebol, basquete, vôlei, corridas e outros esportes radicais pela televisão. Os lances, ou os momentos reprisados podem ser tanto espetaculares quanto polêmicos, de forma que toda polêmica é notícia e essa por sua vez vai parar em jornais e revistas que estarão à venda na manhã seguinte. 
É por meio da mídia que produtos e materiais, assim como marcas são disseminados no mercado consumidor. É onde uma determinada marca lança uma chuteira e coloca um jogador que é famoso usá-la e fazer a propaganda da chuteira especificando todos os detalhes que irão persuadir seus filhos a comprarem. Isso vale para marcas de desodorante, camisas de clubes, produtos estéticos e outros acessórios. E assim o esporte vai se tornando uma fábrica do capitalismo, aonde irá gerar um modo de produção em massa e é em massa que será o consumismo. 
INFRAESTRUTURA E SUPERESTRUTURA
Chegamos aos conceitos de Marx para explicar o modo de produção da sociedade.Agora entenderemos o processo a partir do qual o atleta torna-se uma mercadoria. Quais são os valores que essa mercadoria possui e como ela é vendida no mundo do esporte. Logo, iremos perceber que o homem deixa de ser o homem como um ser humano e passa a ser um objeto com valor de troca e venda. Chegaremos assim, aos pontos mais críticos do capitalismo. 
Ao falarmos nesses dois conceitos marxistas, devemos saber que temos uma ideologia e um materialismo. Essas duas partes formam o modo de produção, de como é produzido e distribuído o produto através do capitalismo. A infraestrutura é o que se refere ao materialismo, à produção material da mercadoria. Fazem parte desse conjunto as indústrias, fábricas e os comércios, tudo aquilo que possibilita a circulação dessas mercadorias. 
A infraestrutura é base da superestrutura, cuja qual é a parte ideológica do modo de produção. É a cultura, o direito a religião, a mídia, ou seja, tudo aquilo que não é material e sim ideológico, uma vez que no capitalismo podemos dizer que é o meio de dominação ideológica do estado. É o que vai possibilitar a venda do que é material. É importante salientar que a superestrutura sempre está em movimento, em constante transformação na sociedade, sendo gerada pelos diferentes interesses que as classes dominantes possuem. 
Infraestrutura e superestrutura, dizem respeito ao modo de produção da sociedade, onde se produz e vendem-se mercadorias, essas por sua vez, possuem um valor de uso e um valor de troca. O valor de uso gera uma consequência gravíssima: trata-se da ‘’coisificação’’ do homem e da ‘’humanização da coisa’’, sendo assim, o homem se torna uma mercadoria enquanto as mercadorias assumem a posição central das relações sociais. Assim, chegamos ao ponto onde no esporte o atleta é transformado em mercadoria. 
Muitos indivíduos dizem que os atletas profissionais ganham muito dinheiro. Como o futebol é o ópio do povo, vamos usá-lo como referência. Os jogadores de futebol possuem um salário um tanto quanto exorbitante e muito questionado. Logo, nos vem à cabeça que eles são ricos, pois moram em mansões e andam com carros importados. Acredita-se então que eles são burgueses, e pensar assim é pensar de maneira errada. Um jogador de futebol ou qualquer outro atleta, desde que não invista no mercado financeiro, continuará fazendo parte do proletariado. 
Pode gerar questionamento, mas é isso mesmo. Mesmo com o alto salário, o atleta continua sendo um proletário, pois ele troca seu esforço físico ou mental por um salário no final do mês. É o atleta somado aos outros companheiros que formam os grandes times, esses por sua vez, possuem os melhores jogadores e atraem mais pessoas para assistirem aos jogos, essas pessoas irão pagar para assisti-los. As emissoras de televisão atingem o ápice de audiência com os grandes jogos e no dia seguinte as revistas e jornais possuem em mãos notícias que serão vendidas gerando lucro. 
Por de trás das grandes transições dos jogadores de futebol de um time para o outro, ocorre uma movimentação gigantesca de dinheiro. Os atletas foram formados pelos seus clubes para ser cada vez mais técnicos. Essa técnica valoriza o profissionalismo e claro, exige muita força física dos jogadores para atingi-la. Quando o atleta tem um bom desenvolvimento, a mídia direciona os olofótes para ele, logo começa a se tornar popular no âmbito esportivo e se transforma em referência. 
Tudo isso é muito bonito ao ver na televisão e nas capas de revistas e jornais. Mas na prática ao criticarmos a partir dos conceitos de Marx, percebe-se a lógica capitalista na promoção desse jogador, que para ser ‘’promovido’’ teve de treinar muito para atingir a técnica desejada. Dessa maneira o jogador passa a ser entendido na sociedade midiática como um trabalhador artista, uma vez que assim ele se torna um produto comercializado, uma mercadoria com valor de troca e venda. 
Agora é possível esclarecer em que ponto o atleta se torna uma mercadoria e em que classe social ele se encontra independentemente do seu salário. Nessa transição de um time para o outro, o atleta não escolhe o time a partir de sua preferência. Quem faz essa transição são os times. O atleta é vendido, pois o time que o quiser deve pagar um valor. Esse valor é o valor de uso, e o atleta a mercadoria com um valor. Os times que realizam a compra e a venda são os burgueses. Entende-se assim o esporte como mercado e o atleta como produto. 
CONCLUSÃO
A partir da teoria crítica de Marx, foi possível entender que o esporte não é tão fabuloso, assim como as novelas e filmes que assistimos. Como o próprio Marx afirma, ‘’tudo no capitalismo acaba se tornando uma mercadoria’’. Devemos a partir disto, prestar mais atenção na mídia, problematizar o esporte e as emissoras e o que elas querem transmitir para nós e o modelo de sociedade que se deseja formar. 
Ao mencionar que devemos problematizar o esporte, não quer dizer que não devamos assistir aos jogos e outros programas. Mas que se faça presente na consciência do profissional de Educação Física, uma ideologia crítica sobre o modelo de sociedade que está sendo formado. Que não sejam mais alienados, e que entendam como funcionam as entidades esportivas que promovem os jogos. Que entendam ainda, o momento que o produto se torna o centro das relações sociais. Mas que não esqueçam de que o esporte é um meio de ascender socialmente, pois a partir do momento que o atleta possui mais dinheiro, mesmo sendo um proletário ele tem condições de se tornar um burguês, um produtor de mercadoria. 
É de suma importância salientar que a infraestrutura e a superestrutura sempre estarão em movimento, em constante transformação para perpetuar o modelo socialmente pré-estabelecido pela ideologia do estado. O material unido com o ideológico, formando assim uma corrente de produção e venda. Objetivando o lucro através da exploração do trabalho. No esporte esse mesmo princípio é empregado da mesma forma. 
Concluímos então, que é compromisso do profissional de Educação Física com a sociedade esportiva, saber que é um ser sujeito de suas ações, capaz de refletir e de propor ações. É preciso compreender o mundo e saber que a forma pela qual está no mundo, condiciona a sua consciência deste mundo e sua ação sobre este mesmo mundo, em uma relação instalada pela práxis. Ou seja, o profissional de Educação Física deve saber que a possibilidade de refletir sobre este mundo implica na possibilidade de assim muda-lo. Assim é o ser humano, e esse é o seu compromisso. 
REFERÊNCIAS
MARX I - Classe Social, Infraestrutura/Sobre-estrutura, Modo de Produção. Realização de Robson Lima. Si, 2013. (17 min.), son., color. Série 1. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=QXNgNjJ_Dww>. Acesso em: 4 out. 2015.
MARX II - Mercadoria (expandido), Estranhamento do Trabalho, Mais-valia. Realização de Robson Lima. Si, 2014. Son., color. Série 2. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Ho7tyLSSIVk&index=8&list=PLoeEzlh_iT3crv08zVKjQaxM_VZ8bbV_v>. Acesso em: 4 out. 2015.
BETTI, Mauro. A Janela de Vidro: Esporte, Televisão e Educação Física. 1997. 291 f. Tese (Doutorado) - Curso de Faculdade de EducaÇÃo, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1997.
 
SADI, Renato Sampaio. O FETICHISMO DA TÉCNICA ESPORTIVA. 2012. 15 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Edcação Física, Universidade Federal de SÃo JosÉ del Rei, São João del Rei, 2012.

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