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Os modos de formação de sintomas
Leigo: os sintomas são a essência da doença e a cura o desaparecimento dos sintomas
Médico: faz questão de distinguir entre sintomas e doença – o desaparecimento dos sintomas está longe de significar a cura da enfermidade
Faculdade de formar novos sintomas é o que resta da enfermidade depois do desaparecimento dos sintomas
Analisar os sintomas para compreender a doença
Sintomas psíquicos: atos nocivos ou pelo menos inúteis, atos que se realizam com aversão e que são acompanhados de um sentimento penoso ou de sofrimento
Seu principal prejuízo consiste no esforço psíquico que sua execução exige e no esforço que se requer para combatê-los
Esses esforços podem acarretar diminuição da energia psíquica disponível - a pessoa se torna incapaz de realizar as tarefas importantes da vida
Somos todos neuróticos: as condições que presidem à formação dos sintomas existem igualmente no homem normal
Sintomas neuróticos: efeito de um conflito que se trava em torno de um novo modo de satisfação da libido
Conflito de duas forças
Uma das partes do conflito representa a libido insatisfeita, afastada da realidade e obrigada a procurar novos modos de satisfação
Se a realidade impede essa satisfação em outro objeto no lugar do que é recusado, esta será finalmente obrigada a regredir e a procurar satisfação ou em organizações ultrapassadas ou em objetos anteriormente abandonados
O que atrai a libido para o caminho da regressão são as fixações que deixou nesses estágios de seu desenvolvimento
Quando o Eu, que possibilita a realização das tendências psíquicas e não aceita essas regressões, nasce o conflito
A libido vê o caminho bloqueado e deve procurar escapar numa direção onde possa dispender sua reserva de energia segundo as exigências do princípio do prazer
Deve se separar do Eu
O que facilita a tarefa são as fixações e contra as quais o Eu se defendeu graças a recalcamentos
Ocupando em sua marcha regressiva essas posições recalcadas, a libido subtrai-se do Eu e suas leis
Sob a dupla pressão da privação interior e exterior, torna-se insubordinada 
As representações a que a libido aplica daí em diante sua energia fazem parte do sistema inconsciente e estão submetidas aos processos de condensação e deslocamento
Mesma situação que caracteriza a formação dos sonhos
O sonho que se formou no Ics a título de realização de um desejo Ics, que se chocou com certa atividade Pcs
Esta impõe ao sonho sua censura, em consequência da qual sobrevém um convênio caracterizado pela formação do sonho manifesto
O mesmo se dá com a libido, cujo objeto, relegado para o Ics, deve contar com a força do Eu Pcs
Eu se opõe ao objeto e constitui para a libido uma espécie de contra-ataque, dirigido contra a sua nova posição e obriga-a a escolher um modo de expressão que possa tornar-se igualmente do Eu
Assim nasce o sintoma
Produto consideravelmente deformado da satisfação Ics de um desejo libidinal, um produto equívoco, habilmente escolhido e possuindo duas significações diametralmente opostas (satisfação/sofrimento)
Se a libido pode escapar às condições criadas pelo conflito, deve-o à existência das fixações
Pelo retorno às fixações, a libido suprime o efeito dos recalcamentos e obtém uma derivação ou satisfação
Onde encontra a libido as fixações de que necessita para abrir caminho através dos recalcamentos?
Nas atividades e sucessos da sexualidade infantil, nas tendências parciais e nos objetos abandonados e desdenhados da infância
Importância da infância: de uma parte a criança manifesta pela primeira vez pulsões e tendências que traz ao mundo e, de outra parte, sofre mudanças exteriores, acontecimentos acidentais que despertam a atividade de outras pulsões
Os acontecimentos acidentais da infância são capazes de deixar pontos de apoio para as fixações da libido
Acontecimentos da vida infantil: acarretam consequências tanto mais graves quanto se produzem numa época em que o desenvolvimento não está terminado, circunstância que favorece precisamente sua ação traumática
Etiologia das neuroses: soma da disposição hereditária aos acontecimentos acidentais (traumáticos) – fatores filogenéticos e fatores ontogenéticos
Ênfase nos acontecimentos da vida sexual infantil
Porém: fica a impressão de que esses acontecimentos não possuem muita importância porque não tiveram, na época em que se produziram, importância alguma e só se tornaram importantes regressivamente (ex. Complexo de Édipo)
Neuroses infantis: muito frequentes
Porém, passam despercebidas e são consideradas sinais de perversidade ou má educação
Manifestam-se a maioria das vezes como histeria de angústia
Quando uma neurose irrompe numa das fases ulteriores da vida, a análise revela que ela é continuação direta de uma neurose infantil, que na época, talvez só se manifestou sob aspecto velado, como esboço
Mas há casos em que o sofrimento infantil prossegue, sem interrupção, a ponto de se tornar uma doença que dura tanto como a vida
Regressão da libido ao período infantil: fixação – acontecimentos traumáticos
Há casos em que a causa da neurose pode ser encontrada nos acontecimentos posteriores, em que o papel das impressões infantis surge como efeito da regressão (só depois)
Pedagogia: se propõe a prevenir as neuroses instituindo controle sobre a vida sexual da criança
Porém: isso não tem o menor valor – pode favorecer o recalcamento sexual exagerado ou lançar a criança na vida sem nenhum meio de defesa
A neurose não é prevenível 
Sintomas: a satisfação de que o sujeito está privado cria uma substituição fazendo retrogradar a libido a fases anteriores, o que comporta o retorno aos objetos ou à organização que caracterizam essas fases
O sintoma produz, de um ou de outro modo, a satisfação da primeira infância
Satisfação deformada pela censura que nasce do conflito, geralmente acompanhada de uma sensação de sofrimento e associada a fatores que fazem parte da neurose
A satisfação que nasce do sintoma é de natureza singular
O neurótico sente essa satisfação como um sofrimento e dela se queixa
O que foi um dia para o sujeito uma satisfação, deve hoje em dia provocar sua resistência ou aversão
Ex. aversão ao leite – membrana do leite – lembrança do seio materno tão desejado – desmame – ação traumática
Os sintomas só nos recordam daquilo de que em geral e normalmente esperamos satisfação 
Renúncia ao princípio de realidade e volta ao princípio do prazer – volta a uma espécie de autoerotismo ampliado
Substituem uma ação exterior por uma ação interior
Na formação de sintomas ocorrem os mecanismos de condensação e deslocamento como nos sonhos
Como o sonho, o sintoma representa algo como sendo realizado
Uma satisfação à maneira infantil, mas por uma condensação levada ao extremo limite, esta satisfação pode ser contida numa única sensação ou inervação
E por um deslocamento extremo pode ser limitada a um único pequeno pormenor de todo o complexo libidinal
Cenas infantis: nem sempre são verdadeiras
Os acontecimentos infantis reconstituídos ou evocados pela análise, ou são incontestavelmente falsos, ora não menos incontestavelmente reais e, na maioria dos casos, são uma mistura de verdadeiro e de falso 
O que perturba: é o desprezo da realidade, é o fato de não levar em conta a diferença entre a realidade e a imaginação
Analista: recomenda ao paciente para colocar no mesmo plano a realidade e a fantasia e que não importa se o que nos conta são acontecimentos verdadeiros ou falsos
Tais produções são também reais em certo sentido: foi o doente quem criou os acontecimentos imaginários
Do ponto de vista da neurose este fato não é menos importante que se o doente tivesse, realmente, vivido os acontecimentos que fala
As fantasias possuem uma realidade psíquica, oposta à realidade material, e pouco a pouco nos imbuímos desta verdade: no mundo das neuroses, é a realidade psíquica que desempenha o papel dominante
Acontecimentos da infância
Ameaça de castração, sedução, ter sido testemunha das relações sexuais
dos pais, abuso sexual
Nos casos em que o abuso realmente aconteceu e pode ser estabelecido de modo indiscutível, geralmente ocorreu numa época muito mais tardia que aquela em que a criança o situa
Todos esses acontecimentos da vida infantil constituem elemento necessário, indispensável da neurose
De onde vem a necessidade dessas invenções e de onde a criança tira esses materiais?
Das fantasias primitivas
É possível que essas invenções infantis tenham sido outrora, nas fases primitivas da família humana, realidades
A criança preencheria, com o auxílio da verdade pré-histórica, as lacunas da verdade individual
Fantasia: compensação à renúncia do prazer, satisfações imaginárias de desejos
Na fantasia o homem continua a gozar da liberdade que se viu forçado a renunciar na vida real
O reino psíquico da fantasia constitui uma ‘reserva natural’, perpetua esse estado primitivo que fomos forçados a sacrificar em todas as outras partes à necessidade
Na fantasia tudo deve brotar e desabrochar sem constrangimento, tudo, mesmo o que é inútil e nocivo
Reino psíquico da fantasia é subtraído do princípio da realidade
Sonhos despertos ou devaneios – protótipos dos sonhos noturnos
Papel da fantasia na formação dos sintomas
Os objetos e direções abandonados pela libido não o são de modo completo e absoluto
Esses objetos e direções persistem com certa intensidade nas representações da fantasia
Basta à libido reportar-se a essas representações para tornar a encontrar o caminho que deve conduzi-la a todas as fixações recalcadas 
Antes do aumento quantitativo de libido, não havia conflito entre as representações imaginárias e o Eu 
Porém, com o refluxo da libido, a quantidade de energia inerente a esses objetos aumenta a ponto de se tornarem exigentes e manifestarem um impulso no sentido de realização
Daí resulta o conflito entre eles e o Eu
Mesmo tendo sido antes conscientes ou pré conscientes, sofrem o recalque da parte do Eu e são entregues à ação do Ics
Das fantasias agora inconscientes, a libido remonta às suas origens no Ics, aos seus pontos de fixação
Introversão: afastamento da libido das possibilidades de satisfação real e seu deslocamento para fantasias consideradas até então inofensivas
Concepção dinâmica dos processos psíquicos: ponto de vista econômico – o conflito se instala a partir do momento em que certas quantidades são atingidas
Tudo depende da quantidade da libido não empregada que uma pessoa é capaz de conter em estado de suspensão e da fração maior ou menor que pode sublimá-la
Meta final da atividade psíquica: adquirir prazer e evitar o desprazer
Existe um caminho de retorno que leva da fantasia à realidade: a arte
O artista sabe dar aos seus sonhos despertos uma forma tal que perdem todo o caráter pessoal capaz de chocar estranhos, e tornam-se uma fonte de gozo para outrem (p.159) 
Referência:
FREUD, S. Conferência XXIII - Os modos de formação dos sintomas. (1916). In Edição Standard das obras psicológicas completas. Rio de Janeiro: RJ, Imago, 1980, v. XVI.

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