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Apostila de Direito do Consumidor

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Belo Horizonte
2015
DIREITO DO CONSUMIDOR
Lei nº 8.078/90
 Roteiro de Estudos
PROF. ANDRÉ LUIZ LOPES
ESCOLA SUPERIOR DOM HELDER CÂMARA
ÍNDICE
1. A Contextualização do Código de Defesa do Consumidor 04 
O Código de Defesa do Consumidor como microssistema
Norma de ordem pública e interesse social
Autonomia e heteronomia
O CDC como uma “lei de função social”
O Fundamento constitucional do CDC
2. Princípios do Código de Defesa do Consumidor 08
2.1 Princípio da vulnerabilidade
2.2 Princípio da transparência
2.3 Princípio da informação
2.4 Princípio da segurança
2.5 Princípio do equilíbrio das prestações
2.6 Princípio da reparação integral
2.7 Princípio da solidariedade
2.8 Princípio da interpretação mais favorável ao consumidor
2.9 Princípio da boa-fé objetiva
2.10 Princípio da reparação objetiva
2.11 Princípio do venire contra factum próprium
2.12 Princípio da conservação do contrato
2.13 Princípio da harmonia nas relações de consumo
3. Relação de consumo 12
3.1 Conceito de consumidor
3.2 Correntes de interpretação da definição jurídica de consumidor: finalista e maximalista
3.3 Destinatário final
3.4 Pessoa jurídica como consumidora
3.5 Consumidores equiparados
3.6 Conceito de fornecedor
3.7 Conceito de produto
3.8 Conceito de serviço
4. Direitos básicos do consumidor 16
4.1 Direito à proteção da vida, saúde e segurança
4.2 Direito à liberdade de escolha
4.3 Direito à informação
4.4 Direito à transparência e boa-fé
4.5 Direito à proteção contratual
4.6 Direito à prevenção e reparação de danos materiais e morais
4.7 Direito ao acesso à Justiça
4.8 Direito à facilitação da defesa de seus direitos
4.9 Direito a serviços públicos adequados e eficazes
5. Responsabilidade civil nas relações de consumo 18
5.1 Conceito
5.2 Responsabilidade pelo fato do produto (Fato do produto, Produto defeituoso)
5.3 Responsabilidade pelo fato do serviço (Fato do serviço, Serviço defeituoso)
5.4 Responsabilidade por vício do produto (Vício do produto, Alternativa do consumidor)
5.5 Responsabilidade por vício do serviço (Vício do serviço, Alternativa do consumidor, Vício aparente, Vício oculto)
5.6 Responsabilidade objetiva (Elementos)
5.7 Excludentes da responsabilidade civil
5.8 Responsabilidade solidária
5.9 Responsabilidade subsidiária e solidária do comerciante
5.10 Exceção à responsabilidade objetiva no CDC
5.11 Decadência do direito de reclamar do vício
5.12 Prescrição
6. Dano material e dano moral nas relações de consumo 22
6.1 Conceitos
6.2 Quantificação do dano moral
6.3 Dúplice função da condenação por dano moral
6.4 Pessoa jurídica vítima de dano moral
6.5 Dano moral coletivo
7. Da desconsideração da personalidade jurídica 24
7.1 Teorias (maior e menor)
7.2 Requisitos
7.3 Desconsideração inversa
8. Das práticas comerciais 26
8.1 Da oferta
8.2 Da oferta ou venda por telefone ou reembolso postal
8.3 Vinculação da oferta
8.4 Recusa de cumprimento da oferta, apresentação ou publicidade
8.5 Da publicidade (enganosa e abusiva)
8.6 Das práticas abusivas
8.7 Da cobrança de dívida (repetição de indébito)
9. Dos bancos de dados e cadastros de consumidores 28
9.1 Conceito de cadastros
9.2 Conceito de banco de dados
9.3 Acesso às informações
9.4 Proibição de manutenção de informações negativas referentes a período superior a cinco anos
9.5 Obrigação de comunicação
9.6 Responsabilidade pela comunicação
10. Da proteção contratual 30
10.1 Prévio conhecimento do conteúdo do contrato
10.2 Interpretação favorável ao consumidor
10.3 Vinculação de documentos
10.4 Direito de desistência imotivada
10.5 Garantia contratual complementar
10.6 Das cláusulas abusivas
10.7 Hipóteses de presunção de vantagem exagerada
10.8 Outorga de crédito ou concessão de financiamento
10.9 Limitação das multas de mora
10.10 Liquidação antecipada do débito
10.11 Perda total das prestações pagas na resolução do contrato
10.12 Dos contratos de adesão
10.13 Cláusula resolutiva
10.14 Padrão legal de redação do contrato de adesão
10.15 Cláusulas restritivas de direito
11. Da defesa do consumidor em juízo 35
11.1 Defesa coletiva
11.2 Direito difuso, coletivo e individual homogênio
11.3 Legitimação concorrente para defesa coletiva
11.4 Honorários e custas nas ações coletivas
11.5 Aplicação subsidiária do C.P.C e Lei 7.347/85
11.6 Ações coletivas para a defesa de interesses individuais homogêneos
11.7 Competência para conhecer e julgar o pedido
11.8 Necessidade de publicação de edital
11.9 Sentença de procedência do pedido
11.10 Legitimados para a execução da sentença
11.11 Ações de responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços
11.12 Coisa julgada e litispendência
BIBLIOGRAFIA 40
LEI 8.078/90 41
I - A CONTEXTUALIZAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
	O Código de Defesa do Consumidor como microssistema – Microssistema legislativo é a denominação daquela lei que inclui, em um único diploma, várias disciplinas jurídicas (civil, penal, administrativo, processo civil, dentre outras), sem se importar com a divisão de ramos e sim com a efetividade.�, conforme é o caso do CDC.
	A estrutura do CDC possui características de codificação por dar tratamento abrangente à relação jurídica especifica que elege para regular, estruturando-se a partir da identificação do âmbito de incidência da lei, seus princípios (art. 4º) e direitos básicos do sujeito protegido (art. 6º), assim como os aspectos principais do direito material do consumidor (contratos e responsabilidade civil), direito processual (tutela especial do consumidor), direito administrativo (competências e sanções) e direito penal (crimes de consumo).�
	Norma de ordem pública e interesse social - O CDC é uma lei de função social que traz em seu bojo normas de direito privado, mas de ordem pública (direito privado indisponível), e normas de direito público, conforme preceitua seu art. 1º, e interesse social, ou seja, de natureza cogente, não sendo facultado às partes de determinada relação de consumo a possibilidade de optar pela aplicação ounão de seus dispositivos, autorizando, inclusive, o magistrado de conhecê-los de ofício, sem que seja necessária a provocação das partes envolvidas.
	O caráter cogente do CDC fica bem evidente, sobretudo, quando trata das “praticas abusivas” (arts. 39 a 41), bem como das “cláusulas abusivas”, fulminadas de nulidade pelo art. 51.
	Recentemente o STJ decidiu que “As normas de proteção e defesa do consumidor têm índole de ordem pública e interesse social. São, portanto, indisponíveis, pois resguardam valores básicos e fundamentais da ordem jurídica do Estado Social, daí a impossibilidade de o consumidor delas abrir mão ex ante e no atacado.” (REsp 586.316/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/04/2007, DJe 19/03/2009).
	No que diz respeito ao interesse social, o CDC visa resgatar a imensa coletividade de consumidores da marginalização não apenas em face do poder econômico, mas também dotá-la de instrumentos adequados para o acesso à Justiça. Assim, embora destinatária final de tudo o que é produzido em termos de bens e serviços, a comunidade de consumidores é sabidamente frágil em face da outra personagem das relações de consumo, motivo do CDC pretender estabelecer o necessário equilíbrio de forças, tratando, muitas vezes, desigualmente consumidores e fornecedores por serem claramente desiguais.� 
	Autonomia e heteronomia - Por muito tempo o direito privado, em especial o direito civil, foi sinônimo de autonomia da vontade, ou autonomia privada. Por intermédio dela os particulares auto-regulavam seus próprios interesses, mediante contratos escritos ou verbais. Há na sociedade contemporânea um decréscimo da autonomia buscando, justamente, proteger os mais fracos, os hipossuficientes. O Código Civil bem reflete essa tendência ao dispor no seu art. 421 que “a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”. Mais adiante, o art. 2.035, parágrafo único, dita que “Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos”.
	Assim, reduz-se a autonomia da vontade para proteger a parte mais fraca nas relações contratuais, através do princípio da função social dos contratos, flexibilizando o valor do pacta sunt servanda (princípio da força obrigatória dos contratos, que reza que os contratos devem ser cumpridos a qualquer custo). 
	Atualmente o conteúdo dos contratos não corresponde apenas à vontade das partes, sendo composto por padrões mínimos de razoabilidade, que remetem à boa-fé objetiva, ao equilíbrio material entre as prestações e à vedação ao abuso de direito.
	O STJ decidiu ser abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado – Súmula 302. Recentemente essa mesma corte reafirmou a nulidade, de pleno direito, da cláusula, inserida em contratos de plano ou de seguro-saúde, que limite o tempo de cobertura para a internação (AgRg no Ag 1088452/RS, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 10/12/2013, DJe 03/02/2014).
	Autonomia, etimologicamente falando, vem do grego “nomos”, que significa regra, aliado ao prefixo “auto”, relativo a si próprio. É, portanto, o poder de dar regras para si mesmo. Já heteronomia é o poder de estabelecer regras para os outros. As leis são heterônomas.
	Verifica-se, na sociedade atual, uma elevação da heteronomia, seja através
das leis de ordem pública (heteronomia desejável e necessária), seja através do que poderíamos chamar de “heteronomia privada”, que se traduz no poder dos grandes complexos econômicos de ditar o conteúdo dos contratos para os consumidores, que outra alternativa não têm senão aceitar o que lhes é imposto, sob pena de não contratar. São os contratos de adesão, disciplinados pelo CDC no art. 54.� 
	O CDC como uma “lei de função social” – As normas de ordem pública estabelecem valores básicos e fundamentais de nossa ordem jurídica e, apesar de serem normas de direito privado, têm forte interesse público, motivo de serem indisponíveis e inafastáveis, conforme é o caso do CDC, dispondo seu art. 1º que suas normas se dirigem à proteção dos consumidores, provocando a intervenção imperativa nas relações jurídicas de direito privado, antes dominadas pela idéia de autonomia da vontade, através de “política nacional de relações de consumo”, prevista no art. 4º, do mesmo codex, onde dita os objetivos e princípios que devem ser observados nas relações de consumo�, além dos princípios da boa-fé objetiva e o equilíbrio das relações de consumo.
	Já o art. 5º, estabelece os instrumentos para realização da política nacional das relações de consumo:
manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita, para o consumidor carente;
instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito do Ministério Público;
criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo;
criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a solução de litígios de consumo;
concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de Defesa do Consumidor.
	Assim, as leis de função social caracterizam-se por importar as novas noções valorativas que devem orientar a sociedade, positivando uma série de direitos assegurados ao grupo tutelado, impondo deveres a outros agentes da sociedade para transformar a realidade social e conduzi-la a um novo patamar de harmonia e respeito nas relações jurídicas.
	No caso do CDC, é a concretização do art. 5º, XXXII�, da Constituição Federal, presente no título dos direitos e garantias fundamentais, além do art. 170, V� e art. 48, ADCT�.
	O Fundamento constitucional do CDC – O CDC foi a concretização da vontade da Constituição Federal de 1988 que no art. 5º, XXXII, situado no capítulo dos direitos e garantias fundamentais, estabelece: “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”, caracterizando a defesa do consumidor como direito fundamental, que se justifica no reconhecimento de uma situação de desigualdade a qual as normas de proteção do consumidor realizam a equalização de condições, colocando-o, também, a salvo da possibilidade de reforma – art. 60, § 4º, IV – cláusula pétrea.�
	Também o art. 170, V - relativo aos princípios gerais da atividade econômica, que prescreve ser a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social”, observados, dentre os princípios, a defesa do consumidor.
	Há ainda o art. 48 das Disposições Constitucionais Transitórias, que determinou ao Congresso Nacional a elaboração do CDC, 120 dias após a promulgação da Constituição Federal, o que aconteceu em 1990 através da Lei 8.078/90.
	Além das menções explícitas, existem muitas normas na Constituição da República que importam não só para as relações de consumo, mas para todas as outras. A dignidade da pessoa humana, fundamento da República (art. 1º, III), é norma que perpassa qualquer relação jurídica, modelando-lhe o conteúdo. 
	Também de alta importância são os objetivos fundamentais da República,
dentre os quais se coloca a igualdade substancial (art. 3º, III) bem como a solidariedade (art. 3º, I). 
	Portanto, o direito do consumidor seria, assim, o conjunto de normas e princípios especiais que visam cumprir um triplo mandamento constitucional:
promover a defesa dos consumidores – art. 5º, XXXII;
observar e assegurar como princípio geral da atividade econômica e princípio imperativo da ordem econômica constitucional a necessária defesa do consumidor – art. 170, V;
sistematizar e ordenar esta tutela especial infraconstitucionalmente através de código (microcodificação), que reúna e organize normas tutelares de direito privado e público, com base na idéia de proteção do consumidor – art. 48, ADCT.�II – PRINCÍPIOS DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
	O direito do consumidor é dotado de uma base principiológica que visa à correta interpretação, compreensão e aplicação das regras previstas no CDC, que incidem sobre as relações jurídicas de consumo, sendo elas:
1) PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE – É o princípio básico que fundamenta a existência e aplicação do direito do consumidor às relações de consumo. O art. 4º, I, do CDC estabelece, dentre os princípios informadores da Política Nacional das Relações de Consumo, o “reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo”.
	A vulnerabilidade do consumidor constitui presunção absoluta no CDC, que informa se suas normas devem ser aplicadas e como devem ser aplicadas na relação jurídica desequilibrada, existente entre o consumidor e o fornecedor de produto e/ou serviços, não se confundindo vulnerabilidade com hipossuficiência.
	A noção de vulnerabilidade no CDC está associada à identificação de fraqueza ou debilidade de um dos sujeitos da relação jurídica de consumo (o consumidor) em razão de determinadas condições ou qualidades que lhes são inerentes ou, ainda, de uma posição de força que pode ser identificada no outro sujeito da relação jurídica, que direcionam para uma aplicação restrita ou ampliada das normas consumeristas ao destinatário final da relação de consumo.
	Ocorre a vulnerabilidade técnica quando o consumidor não possui conhecimentos especializados sobre o produto ou serviço que adquire ou utiliza em determinada relação jurídica, presumindo-se ter o fornecedor conhecimento aprofundado sobre o produto ou serviço oferecido.
	A vulnerabilidade jurídica ocorre quando falta ao consumidor conhecimentos sobre os direitos e deveres inerentes à relação de consumo estabelecida, bem como a ausência da compreensão sobre as conseqüências jurídicas dos contratos que celebra.
	Também ocorre a vulnerabilidade fática quando tratar-se de consumidor criança ou idoso, por conta do reduzido discernimento ou falta de percepção ou, ainda, no caso do analfabeto, que não tem pleno acesso à informação sobre a relação de consumo estabelecida, além do doente, em face da debilidade física.
2) PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA – O dever de agir com transparência permeia o CDC, motivo da Política Nacional das Relações de Consumo incluir dentre seus objetivos assegurar a transparência nas relações de consumo, impondo às partes o dever de agir de forma transparente e leal - art. 4º. 
3) PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO – É direito básico do consumidor a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem – art. 6º, III. Assim, é direito do consumidor ser informado e dever do fornecedor de produto ou serviço informar.
O STJ entende que "O art. 6º, III, do CDC institui o dever de informação e consagra o princípio da transparência, que alcança o negócio em sua essência, porquanto a informação repassada ao consumidor integra o próprio conteúdo do contrato. Trata-se de dever intrínseco ao negócio e que deve estar presente não apenas na formação do contrato, mas também durante toda a sua execução" (REsp 1121275/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/03/2012, DJe 17/04/2012).
4) PRINCÍPIO DA SEGURANÇA – Ao fornecedor de produto e/ou serviço cabe assegurar que esses, ao serem ofertados no mercado de consumo, sejam seguros, não causem danos, de qualquer espécie, aos consumidores. O art. 6º prescreve, dentre os direitos básicos do consumidor, a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos.
	O art. 8º prescreve que os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.
	Já o art. 10 prescreve que o fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança e, acaso tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários (recall – art. 10, § 1º).
5) PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO DAS PRESTAÇÕES – O reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor e o caráter desigual com que este se relaciona com o fornecedor, ressaltaram a importância do princípio do equilíbrio do direito nas relações de consumo, consolidando o princípio da isonomia constitucional, previsto no art. 5º, caput, da Carta Magna. O art. 4º, III, cita o equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores, sendo nulas as disposições que ponham em desequilíbrio e em situação de inferioridade o consumidor – art. 51.
	Além disso, o art. 6º, V prescreve a possibilidade de modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas.
	Também é demonstração desse equilíbrio a proteção contratual e extracontratual com a adoção da responsabilidade civil objetiva, além da proteção processual com a inversão do ônus da prova, quando o consumidor for a parte hipossuficiente da relação de consumo, facilitando a defesa de seus direitos em juízo – art. 6º, VIII.
6) PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO INTEGRAL – Refere-se à efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos causados ao consumidor, ressarcindo-o ou compensando-o de forma integral, prevista no art. 6º, VI.
7) PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE – Orienta-se por este princípio a divisão de riscos estabelecidos pelo CDC, estendendo a toda cadeia de fornecedores que participaram do ciclo econômico do produto ou serviço no mercado a responsabilidade civil objetiva, arcando todos, solidariamente com os danos causados ao consumidor, cuja previsão está no art. 7º, parágrafo único. 
	Nesse sentido decidiu o STJ: “o parágrafo único do art. 7º do Código consumerista adotou o princípio da solidariedade legal para a responsabilidade pela reparação dos danos causados ao consumidor, podendo, pois, ele escolher quem acionará. E, por tratar-se de solidariedade, caberá ao responsável solidário acionado, depois de reparar o dano, caso queira, voltar-se contra os demais responsáveis solidários para se ressarcir ou repartir os gastos, com base na relação de consumo existente entre eles.” (REsp 1102849/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/04/2012, DJe 26/04/2012).
8) PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO MAIS FAVORÁVEL AO CONSUMIDOR – o intérprete, diante de uma relação de consumo, deverá interpretar as cláusulas contratuais de maneira mais favorável ao consumidor, parte vulnerável na relação de consumo – art. 47.
9) PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA – É o dever imposto, a quem quer que tome parte em relação negocial, de agir com lealdade, honestidade e cooperação, abstendo-se de condutas que possam esvaziar as legítimas expectativas da outra parte. 
10) PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO OBJETIVA – A responsabilidade civil por danos causados ao consumidor é objetiva, que dispensa o elemento culpa, bastando que a vítima prove o dano, a ação ou omissão e o nexo causal entre um e outro.
	O art. 12 prescreve que o fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
	A dispensado elemento culpa também ocorre no art. 14, ao prescrever que o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos, exceto quanto aos profissionais liberais, relação onde é necessária a prova da culpa.
	Contudo, demonstrado pelo fornecedor de que ele não colocou o produto no mercado; que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste ou a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, exclui-se sua responsabilidade civil.
	“A responsabilidade civil do hospital é objetiva pelos danos causados, na condição de fornecedor, aos consumidores, nos termos do art. 14, caput, do Código de Defesa do Consumidor. A exceção prevista no § 4º do referido dispositivo legal, cuidando da responsabilidade subjetiva, é restrita aos profissionais liberais, incluindo-se aí os médicos.” (EDcl no AgRg no Ag 1261145/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 22/04/2014, DJe 15/05/2014)
11) PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DO CONTRATO – A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes – art. 51, § 2º.
12) PRINCÍPIO DA HARMONIA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO – Pressupõe a igualdade substancial das partes com a proteção do consumidor, observada a boa-fé, com a finalidade de obter maior justiça no mercado de consumo – art. 4º, III.
13) PRINCÍPIO DO ACESSO À JUSTIÇA – Dentre os direitos básicos do consumidor, está previsto no art. 6º o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica, administrativa e técnica aos necessitados, além da facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências (art. 6º, VII e VIII).
	Para a defesa dos direitos e interesses do consumidor o CDC admite todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela – art. 83.
III – RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO
	A relação de consumo é composta, sempre, pelos mesmos sujeitos: o fornecedor de produtos e/ou serviços e o consumidor.
1 - CONSUMIDOR - É toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final, equiparando-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo – art. 2º. Assim, tanto a pessoa física quanto a jurídica podem ser consumidoras protegidas pelas normas do CDC.
	Nesse passo, somente se desnatura a relação consumerista se o bem ou serviço passa a integrar a cadeia produtiva do adquirente, ou seja, torna-se objeto de revenda ou de transformação por meio de beneficiamento ou montagem.
Correntes de interpretação da definição jurídica de consumidor – A existência de correntes doutrinárias e jurisprudenciais acerca do conceito de consumidor se extrai da expressão “destinatário final”, da redação do art. 2º: corrente da interpretação finalista e corrente da interpretação maximalista.
Finalista – “sustenta que o conceito de consumidor deve ser estabelecido de acordo com o critério do art. 2º, do CDC, a partir da noção de destinatário final fático e econômico de um produto ou serviço. Assim, por esta corrente, consumidor é aquele que adquire ou utiliza de um produto ou serviço de modo a exaurir sua função econômica, da mesma forma como, ao fazê-lo, determina com que seja retirado do mercado de consumo, não havendo a finalidade de lucro na relação jurídica, nem de insumo ou incremento a uma determinada atividade negocial.
Nesta visão, o consumidor seria aquele que adquire ou utiliza produto ou serviço para satisfação de interesse próprio ou de sua família.”�, sendo a corrente dominante.
Maximalista – “sustenta que a definição de consumidor deve ser interpretada extensivamente em face da abertura conceitual da expressão “destinatário final”, referida no art. 2º, quanto pela previsão relativa aos consumidores equiparados presentes no art. 2º, parágrafo único, art. 17 e art. 29, todos do CDC. Esta corrente considera consumidor o destinatário fático do produto ou serviço, ainda que não o seja necessariamente seu destinatário econômico, ou seja, a partir do ato de consumo não é preciso ser retirado do mercado, ou que não seja reempregado na atividade econômica, defendo ser o CDC norma regulamentadora do mercado de consumo e não protetora apenas do consumidor.
Segundo esta visão, serão consumidores as empresas que adquirem automóveis ou computadores para realização de suas atividades, o agricultor que adquire adubo para o preparo do plantio.”�
Destinatário final – “É aquele que ultima a atividade econômica, ou seja, que retira de circulação do mercado o bem ou o serviço para consumi-lo, suprindo uma necessidade ou satisfação própria, não havendo, portanto, a reutilização ou o reingresso dele no processo produtivo.” (REsp 1352419/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/08/2014, DJe 08/09/2014).
	Assim, não se pode considerar destinatário final para efeito da lei protetiva aquele que, de alguma forma, adquire o produto ou serviço com intuito profissional, com a finalidade de integrá-lo no processo de produção, transformação ou comercialização.
Pessoa jurídica como consumidora – O que qualifica uma pessoa jurídica como consumidora é a aquisição ou utilização de produtos ou serviços em benefício próprio, isto é, para satisfação de suas necessidades pessoais, sem ter o interesse de repassá-los a terceiros, nem empregá-los na geração de outros bens ou serviços.
	Por exemplo, aplica-se o Código de Defesa do Consumidor às relações jurídicas estabelecidas entre pessoas jurídicas e bancos, porquanto os serviços de manutenção de contas correntes e aplicações financeiras prestados pelos bancos configuram relação de consumo, sendo a empresa a destinatária final do produto.
	Segundo o entendimento do STJ, “O critério adotado para determinação da condição de consumidora da pessoa jurídica é o finalista. Desse modo, para caracterizar-se como consumidora, a pessoa jurídica deve ser destinatária final econômica do bem ou serviço adquirido.” (AgRg no REsp 1386938/DF, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/10/2013, DJe 06/11/2013).
Consumidores equiparados – o parágrafo único do art. 2º, do CDC equiparou a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Assim, quem quer que intervenha nas relações de consumo, ainda que de modo indeterminado, é equiparado a consumidor, recebendo a proteção do CDC.
Ex: Se o sujeito compra uma pasta de dentes, que é usada por toda a família, cujo uso causa inflamação nas gengivas dos usuários, todos os que a usuram são consumidores, ainda que não tenham firmado contrato de consumo.
	A segunda modalidade de consumidor por equiparação está no prevista no art. 17, do CDC, onde todas as vítimas do evento são equiparadas ao consumidor, disposição localizada na seção da responsabilidade civil pelo fato do produto ou serviço, que no prazo de 05 anos (art. 27), contados do conhecimento do dano ou sua autoria, poderá ingressar com ação de reparação civil por dano moral e/ou material.
	“A norma do art. 17 do CDC equipara aos consumidores (bystanders) o terceiro que, alheio à preexistente relação de consumo, sofre danos decorrentes do produto ou do serviço vinculado à mencionada relação.” (EDcl no REsp 1162649/SP, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 02/10/2014, DJe 10/10/2014).
Ex: Se um ônibus de transporte público atropela pessoas na calçada, haverá,em relação às vítimas, relação de consumo de acordo com o art. 17, CDC.
	A terceira previsão está no art. 29, do CDC, onde equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas da oferta, publicidade, abusivas, cobrança de dívidas, dos bancos de dados e cadastro de consumidores, ou seja, qualquer pessoa exposta à publicidade abusiva, por exemplo, mesmo sem ter adquirido o produto ou usado o serviço, pode, na condição de consumidor equiparado, reivindicar a proteção do CDC.
	“De acordo com o art. 29 do CDC, "equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas". Nesse dispositivo, encontra-se um conceito próprio e amplíssimo de consumidor, desenhado em resposta às peculiaridades das práticas comerciais, notadamente os riscos que, in abstracto, acarretam para toda a coletividade, e não apenas para os eventuais contratantes in concreto.
	A pessoa jurídica exposta à prática comercial abusiva equipara-se ao consumidor (art. 29 do CDC), o que atrai a incidência das normas consumeristas e a competência do Procon para a imposição da penalidade.” (RMS 27.541/TO, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/08/2009, DJe 27/04/2011)
“A jurisprudência do STJ, tomando por base o conceito de consumidor por equiparação previsto no art. 29 do CDC, tem evoluído para uma aplicação temperada da teoria finalista frente às pessoas jurídicas, num processo que a doutrina vem denominando finalismo aprofundado, consistente em se admitir que, em determinadas hipóteses, a pessoa jurídica adquirente de um produto ou serviço pode ser equiparada à condição de consumidora, por apresentar frente ao fornecedor alguma vulnerabilidade, que constitui o princípio-motor da política nacional das relações de consumo, premissa expressamente fixada no art. 4º, I, do CDC, que legitima toda a proteção conferida ao consumidor.
A doutrina tradicionalmente aponta a existência de três modalidades de vulnerabilidade: técnica (ausência de conhecimento específico acerca do produto ou serviço objeto de consumo), jurídica (falta de conhecimento jurídico, contábil ou econômico e de seus reflexos na relação de consumo) e fática (situações em que a insuficiência econômica, física ou até mesmo psicológica do consumidor o coloca em pé de desigualdade frente ao fornecedor).
Mais recentemente, tem se incluído também a vulnerabilidade informacional (dados insuficientes sobre o produto ou serviço capazes de influenciar no processo decisório de compra).” (REsp 1195642/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/11/2012, DJe 21/11/2012).
2 - FORNECEDOR - É toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços – art. 3º. Assim, fornecedor é qualquer pessoa física ou jurídica que, de forma habitual, desempenhe atividade mercantil ou civil, ofertando no mercado produtos ou serviços, não distinguindo o legislador a natureza, regime jurídico ou nacionalidade do fornecedor, devendo este conceito ser interpretado de acordo com os conceitos de produto e serviço – art. 3º, §§ 1º e 2º.
	“Desta forma, incide as regras do CDC à prestação de serviço somente se este for remunerado, indicando a atividade econômica no fornecimento de serviços para caracterizá-lo fornecedor.”�, contudo, a remuneração pode ser indireta, numa interpretação ampla.
3 - PRODUTO – É qualquer bem, móvel (ex: automóveis) ou imóvel (ex: apartamentos), material (ex: jóias) ou imaterial (ex: aplicação de renda fixa, software) – art. 3º,§ 1º.
4 – SERVIÇO - É qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista - art. 3º,§ 2º.
IV – DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR
	O art. 6º enumera os direitos básicos do consumidor, em rol meramente exemplificativo que busca destacar toda a principiologia do CDC, preservando, sobretudo, a pessoa humana consumidora em suas relações jurídicas e econômicas concretas, protegendo seu aspecto existencial e seus interesses legítimos no mercado de consumo.
1 – DIREITO À PROTEÇÃO DA VIDA, SAÚDE E SEGURANÇA - contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos, impondo o dever de segurança e cuidados aos fornecedores quando colocam produtos e serviços no mercado de consumo – art. 6º, I.
2 – DIREITO À LIBERDADE DE ESCOLHA – O consumidor tem o direito à educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações, realçando a necessidade do fornecedor apresentar todas as informações sobre o produto ou serviço e sua fruição adequada, assegurando ao consumidor a liberdade de escolha do produto/serviço bem como do fornecedor, em igualdade de condições – art. 6º, II.
3 - DIREITO À INFORMAÇÃO – O consumidor tem o direito à informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem, visando à melhor escolha na contratação, sendo, inclusive, um direito constitucional previsto no art. 5º, XIV, CF. Está implícito no dever de informar o princípio da boa-fé objetiva, através da apresentação do produto/serviço pelo fornecedor – art. 6º, III.
4 – DIREITO À TRANSPARÊNCIA E BOA-FÉ – O consumidor tem o direito à proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços. Impõe-se na transparência e a boa-fé nos métodos comerciais, na publicidade e nos contratos – art. 6º, IV.
5 – DIREITO À PROTEÇÃO CONTRATUAL – O consumidor tem o direito à modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas – art. 6º, V.
“Sobrevindo, na execução do contrato, onerosidade excessiva para uma das partes, é possível a revisão da cláusula que gera o desajuste, a fim de recompor o equilíbrio da equação contratual.” (REsp 437.660/SP, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 08/04/2003, DJ 05/05/2003, p. 306)
6 – DIREITO À PREVENÇÃO E REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS – É o direito à efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos. Assim, deve-se eliminar ou reduzir, antecipadamente, causas capazes de produzir um determinado resultado danoso ao consumidor ou, se já produzido o dano, sua reparação integral, seja ele material ou moral – art. 6º, VI.
7 – DIREITO AO ACESSO À JUSTIÇA – Trata-se do direito de acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica, administrativa e técnica aos necessitados, possibilitando a defesa dos interesses do consumidor, quando violado seus direitos, atendendo a previsão constitucional do direito de acesso ao Judiciário e assistência judiciária integral e gratuita (art. 5º, XXXV e LXXIV) – art. 6º, VII.
8 – DIREITO À FACILITAÇÃO DA DEFESA DE SEUS DIREITOS – É direito do consumidor à facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências. Assim, para facilitar a defesa do consumidor em juízo, pode-se até inverter o onus probandi, quebrando a regra do art. 333, I, do C.P.C – art. 6º,VIII.
“É assegurando a facilitação da defesa do consumidor em juízo, outras benesses podem ser admitidas. “Em se tratando de relação de consumo, a competência é de natureza absoluta, podendo ser declinada de ofício pelo magistrado em razão do princípio da facilitação de defesa do consumidor (art. 6º, VIII, do CDC)”. (AgRg no AREsp 541.491/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 26/08/2014, DJe 01/09/2014)
9 – DIREITO A SERVIÇOS PÚBLICOS ADEQUADOS E EFICAZES – É o direito à adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral, devendo os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos (art. 22) – art. 6º, X.
V – RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO
Conceito - É a obrigação legal que é imposta ao fornecedor de produto e/ou serviço no sentido deste ressarcir os danos causados ao consumidor e equiparados.
	O art. 6º, VI, prescreve, dentre os direitos básicos do consumidor, o direito a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos.
1 – RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO - O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos – art. 12.
Fato do produto – quando há um dano ao consumidor provocado por produto defeituoso atingindo-o em sua integridade física ou moral ou patrimonial – art. 12.
Ex: aquisição de celular que vem a explodir no rosto do consumidor.
Produto defeituoso - quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais sua apresentação, o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam e a época em que foi colocado em circulação.
2 – RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO - O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos – art. 14.
Fato do serviço – quando há um dano ao consumidor provocado por serviço defeituoso atingindo-o em sua integridade física ou moral ou patrimonial - art. 14.
Ex: acidente de ônibus lesionando o usuário do serviço. 
Serviço defeituoso - quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais o modo de seu fornecimento, o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam e a época em que foi fornecido.
3 – RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO PRODUTO - Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas – art. 18.
Vício do produto – são os vícios de qualidade ou quantidade que tornam os produtos impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária. Há um descompasso entre o produto oferecido e as legítimas expectativas do consumidor – art. 18.
Ex: aquisição de um veículo cujo ar condicionado não funciona. Um pacote de arroz que ao invés de 05 Kg tem apenas 4,5 Kg.
Vício que torne o produto impróprio ao consumo;
Vício que diminua o valor do produto;
Vício de disparidade das características do produto com àquelas veiculadas na oferta e/ou publicidade.
Alternativa do consumidor - Não sendo o vício sanado no prazo máximo de 30 dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;
a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
o abatimento proporcional do preço – art. 18, § 1º, I a III.
4 – RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO SERVIÇO - O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária – art. 20.
Vício do serviço – são os vícios que tornam os serviços impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária – art. 20.
Ex: aquisição pacote turístico em hotel 3 estrelas e na verdade, quando já no hotel, você constata que ele não tem estrela alguma.
Vício que torne o produto impróprio ao consumo;
Vício que diminua o valor do produto;
Vício de disparidade das características do serviço com àquelas veiculadas na oferta e/ou publicidade.
Alternativa do consumidor - pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;
a restituição imediata da quantia paga monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
o abatimento proporcional do preço – art. 20, I a III.
Vício aparente – É o vício de fácil constatação, verificado de imediato pelo consumidor.
Vício oculto – É o vício que não se percebe quando da aquisição do produto ou serviço, ou seja, sua constatação não é facilmente percebida, pois apenas no decorrer de seu uso o defeito aparece.
 
O FATO atinge a pessoa do consumidor e o VÍCIO atinge o produto ou serviço. 
5 - RESPONSABILIDADE OBJETIVA - A regra geral é a responsabilidade civil aquiliana ou subjetiva. Porém, nossa legislação, com finalidade protetiva, criou certas exceções, aplicando em determinados casos a responsabilidade objetiva, que elimina de seu conceito o elemento culpa, ou seja, haverá responsabilidade pela reparação do dano quando presentes a conduta, o dano e o nexo de causalidade entre estes, conforme adotado pelo CDC nos seus artigos 12 e 14.
Elementos:
Conduta;
Dano;
Nexo de causalidade entre a conduta e o dano sofrido.
A responsabilidade civil do fornecedor está inspirada na teoria do risco proveito, devendo, assim, quem aufere o bônus (lucro) da atividade, deve responder pelos ônus (danos) que elas venham causar a terceiros.
6 - EXCEÇÃO À RESPONSABILIDADE OBJETIVA NO CDC - A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa – art. 14, § 4º.
7 - EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL – ART. 12, § 3º - 
	O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando:
provar que não colocou o produto no mercado;
provar a inexistência do defeito;
provar a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
8 – RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA – “Trata-se da solidariedade de todos aqueles que participam da cadeia de produção ou da prestação de serviços. Para a responsabilização de todos os integrantes da cadeia de consumo, apura-se a responsabilidade de um deles, objetiva ou decorrente de culpa, caso se verifiquem as hipóteses autorizadoras previstas no CDC. A responsabilidade dos demais integrantes da cadeia de consumo, todavia, não decorre de seu agir culposo ou de fato próprio, mas de uma imputação legal de responsabilidade que é servil ao propósito protetivo dosistema.” (REsp 997.993/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 21/06/2012, DJe 06/08/2012).
	Assim, pode o consumidor acionar judicialmente um ou todos os que participaram da cadeia de consumo.
9 - RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA E SOLIDÁRIA DO COMERCIANTE – ART. 13
	O comerciante será igualmente responsável pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos, quando:
o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;
o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador;
não conservar adequadamente os produtos perecíveis.
	Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso – art. 13, parágrafo único.
10 – DECADÊNCIA DO DIREITO DE RECLAMAR DO VÍCIO - O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
30 dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;
90 dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.
	Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços e, tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito – art. 26.
	Obstam a decadência:
a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca;
a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.
11 – PRESCRIÇÃO - Prescreve em 05 anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria – art. 27.
VI – DANO MATERIAL E DANO MORAL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO
A previsão de indenização por danos (material e moral) está no art. 5º, V e X, da Constituição Federal� e art. 186 e 927, parágrafo único, do Código Civil�.
No CDC o art. 6º, VI, prescreve, dentre os direitos básicos do consumidor, a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos.
Conceito de dano - É toda lesão a um bem juridicamente protegido pelo direito, causando prejuízo de ordem patrimonial ou extrapatrimonial.
Conceito de dano material - Dano material é aquele que atinge o patrimônio (material ou imaterial) da vítima, podendo ser mensurado financeiramente e indenizado. Compreende tanto o dano emergente sofrido pela vítima quanto o lucro cessante, entendido aquele como o que ela efetivamente perdeu e o outro como o que razoavelmente deixou de lucrar. A indenização por dano material é ressarcitória ou reparatória.
Conceito de dano moral - O dano moral constitui lesão aos direitos da personalidade, como a vida, a liberdade, a intimidade, a privacidade, a honra, a imagem, a identificação pessoal, a integridade física e psíquica, o bom nome; enfim, a dignidade da pessoa humana, um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, apontado, expressamente, na Constituição Federal (art. 1º, III). 
Configura dano moral aquele dano que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia, desequilíbrio em seu bem estar, podendo acarretar ao ofendido dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação.
A indenização por dano moral é compensatória, pois não visa restaurar o estado de coisas anterior ao dano, mas apenas compensar o sofrimento da vítima.
Quantificação do dano moral – “A indenização deve ser suficiente a restaurar o bem estar da vítima, desestimular o ofensor em repetir a falta, não podendo, ainda, constituir enriquecimento sem causa ao ofendido. Assim, devem ser consideradas as circunstâncias do fato, as condições sócio-econômicas do ofensor e do ofendido, a forma e o tipo de ofensa, bem como suas repercussões no mundo interior e exterior da vítima.” (AgRg no AREsp 38.057/SC, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/05/2012, DJe 28/05/2012).
Dúplice função da condenação por dano moral (punitiva/pedagógica e compensatória) – De um lado a indenização por dano moral tem a função de compensar a vítima. Do outro, punir o agressor.
O caráter punitivo/pedagógico da indenização visa desestimular o ofensor a repetir o ato, inibindo sua conduta antijurídica. O compensatório, propiciar ao ofendido um valor pecuniário que, embora não erradique o sofrimento infligido, fornece-lhe algum grau de conforto que, pelo menos, amenize a dor injustamente causada.
Pessoa jurídica vítima de dano moral – A pessoa jurídica, reconhecida pelo ordenamento jurídico com pessoa de direitos e obrigações, pode sofrer dano moral – Súmula 227 STJ. A pessoa jurídica, por ser titular de honra objetiva, faz jus à proteção de sua imagem, seu bom nome e sua credibilidade. Por tal motivo, quando os referidos bens jurídicos forem atingidos pela prática de ato ilícito, surge o potencial dever de indenizar. (REsp 1334357/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/09/2014, DJe 06/10/2014).
Dano moral coletivo - A possibilidade de indenização por dano moral está prevista no art. 5º, inciso V e X, da Constituição Federal, não havendo restrição da violação à esfera individual. A evolução da sociedade e da legislação têm levado a doutrina e a jurisprudência a entender que, quando são atingidos valores e interesses fundamentais de um grupo, não há como negar a essa coletividade a defesa do seu patrimônio imaterial.
	O dano moral coletivo é a lesão na esfera moral de uma comunidade, isto é, a violação de direito transindividual de ordem coletiva, valores de uma sociedade atingidos do ponto de vista jurídico, de forma a envolver não apenas a dor psíquica, mas qualquer abalo negativo à moral da coletividade, pois o dano é, na verdade, apenas a consequência da lesão à esfera extrapatrimonial de uma pessoa. (REsp 1397870/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/12/2014, DJe 10/12/2014).
DESTINAÇÃO DOS VALORES ARBITRADOS – Os valores são destinados ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD), criado pela Lei nº 7347/85 (Lei de Ação Civil Pública – art. 13), que tem por finalidade a reparação de danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico, paisagístico, por infração à ordem econômica e a outros interesses difusos e coletivos. 
 
VII – DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
	As pessoas jurídicas têm, dentre seus princípios fundamentais, aquele que proclama sua autonomia patrimonial. Isso significa que os bens das pessoas naturais não se confundem com o patrimônio da pessoa jurídica. Contudo, evidenciado que a pessoa jurídica foi utilizada para prática de fraudes, pode haver a invasão no patrimônio dos sócios, que dolosamente dela utilizou para prática de 
finalidades ilícitas, para fins de satisfação de débitos da pessoa jurídica, através da desconsideração de sua personalidade.�
	O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração – art. 28, instituto que também está previsto no art. 50, do Código Civil.
TEORIAS – Há duas teorias: teoria maior e teoria menor.
Teoria maior – adotado como regra geral pelo ordenamento jurídico brasileiro e significaque, para ser aplicada a teoria, é preciso que haja desvio de finalidade caracterizado pelo uso abusivo fraudulento (teoria maior subjetiva) para desconsiderar a personalidade jurídica. Também será aplicada esta teoria se houver confusão patrimonial entre o patrimônio da pessoa jurídica e o de seus sócios (teoria maior objetiva). 
“A teoria maior da desconsideração, regra geral no sistema jurídico brasileiro, não pode ser aplicada com a mera demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente para o cumprimento de suas obrigações.
Exige-se, aqui, para além da prova de insolvência, ou a demonstração de desvio de finalidade (teoria subjetiva da desconsideração), ou a demonstração de confusão patrimonial (teoria objetiva da desconsideração).” (REsp 279.273/SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, Rel. p/ Acórdão Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/12/2003, DJ 29/03/2004, p. 230).
Teoria menor – Foi adotada pelo CDC por bastar, para a desconsideração, a demonstração de inexistência de bens da pessoa jurídica para saldar dívida junto ao consumidor.
“A aplicação da teoria menor da desconsideração às relações de consumo está calcada na exegese autônoma do § 5º do art. 28, do CDC, porquanto a incidência desse dispositivo não se subordina à demonstração dos requisitos previstos no caput do artigo indicado, mas apenas à prova de causar, a mera existência da pessoa jurídica, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.“ (REsp 279.273/SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, Rel. p/ Acórdão Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/12/2003, DJ 29/03/2004, p. 230). 
“É possível a desconsideração da personalidade jurídica da sociedade empresária - acolhida em nosso ordenamento jurídico, excepcionalmente, no Direito do Consumidor - bastando, para tanto, a mera prova de insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de suas obrigações, independentemente da existência de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial, é o suficiente para se "levantar o véu" da personalidade jurídica da sociedade empresária.” (AgRg no REsp 1106072/MS, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 02/09/2014, DJe 18/09/2014).
REQUISITOS - quando em detrimento do consumidor houver:
abuso de direito;
excesso de poder;
infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social;
falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração;
quando a personalidade jurídica for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores (teoria menor – art. 28, § 5º).
DESCONSIDERAÇÃO INVERSA – A desconsideração inversa da personalidade jurídica caracteriza-se pelo afastamento da autonomia patrimonial da sociedade, para, contrariamente do que ocorre na desconsideração da personalidade propriamente dita, atingir o ente coletivo e seu patrimônio social, de modo a responsabilizar a pessoa jurídica por obrigações do sócio controlador.
Considerando-se que a finalidade da disregard doctrine é combater a utilização indevida do ente societário por seus sócios, o que pode ocorrer também nos casos em que o sócio controlador esvazia o seu patrimônio pessoal e o integraliza na pessoa jurídica, conclui-se, de uma interpretação teleológica do art. 50, do Código Civil, ser possível a desconsideração inversa da personalidade jurídica, de modo a atingir bens da sociedade em razão de dívidas contraídas pelo sócio controlador, conquanto preenchidos os requisitos previstos na norma.
“A desconsideração da personalidade jurídica configura-se como medida excepcional. Sua adoção somente é recomendada quando forem atendidos os pressupostos específicos relacionados com a fraude ou abuso de direito estabelecidos no art. 50, do CC. Somente se forem verificados os requisitos de sua incidência, poderá o juiz, no próprio processo de execução, levantar o véu da personalidade jurídica para que o ato de expropriação atinja os bens da empresa.” (REsp 948.117/MS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/06/2010, DJe 03/08/2010).
VIII – DAS PRÁTICAS COMERCIAIS
1 – DA OFERTA - A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores – art. 31.
2 - DA OFERTA OU VENDA POR TELEFONE OU REEMBOLSO POSTAL - deve constar o nome do fabricante e endereço na embalagem, publicidade e em todos os impressos utilizados na transação comercial, vedada a publicidade de bens e serviços por telefone, quando a chamada for onerosa ao consumidor que a origina – art. 33.
3 – VINCULAÇÃO DA OFERTA - Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado – art. 30.
4 - RECUSA DE CUMPRIMENTO DA OFERTA, APRESENTAÇÃO OU PUBLICIDADE - o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha, exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade; aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente ou rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos – art. 35.
5 - DA PUBLICIDADE - A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal, sendo vedada a publicidade enganosa ou abusiva.
Publicidade enganosa - É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. A publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço – art. 37, § 1º e 3º.
Publicidade abusiva - É abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeite valores ambientais ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança – art. 37, § 2º.
6 – DAS PRÁTICAS ABUSIVAS – São as práticas contrárias às prescrições do CDC, a boa-fé objetiva, que exploram a vulnerabilidade do consumidor na relação de consumo – art. 39, I a XIII.
 
condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos;
recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes;
enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço;
prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços;
exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;
executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes;
repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no exercício de seus direitos;
colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo ConselhoNacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - Conmetro;
recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais;
 elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços;
 (Inciso acrescido pela Medida Provisória nº 1.890-67, de 22.10.1999, transformado em inciso XIII, quando da conversão na Lei nº 9.870, de 23.11.1999);
 deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério;
 aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido.
7 - DA COBRANÇA DE DÍVIDAS – O CDC proíbe na cobrança de débitos, seja o consumidor inadimplente exposto a ridículo ou submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça – art. 42.
Repetição de indébito - O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável – art. 42, parágrafo único.
	“A repetição de indébito somente tem lugar quando o consumidor pagar, efetivamente, o valor cobrado indevidamente. A repetição em dobro do indébito, prevista no art. 42, parágrafo único, do CDC, pressupõe, além da ocorrência de pagamento indevido, a má-fé do credor.” (AgRg no REsp 1373282/PR, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 25/02/2014, DJe 04/04/2014).
IX - DOS BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES 
Conceito de cadastros – Conjunto de informações pessoais fornecido pelo consumidor ao fornecedor específico com o objetivo de estabelecer um canal de comunicação entre fornecedor e consumidor, principalmente para comunicação de promoções e fornecimento de produtos.
Conceito de banco de dados – Conjunto de informações sobre a situação financeira e patrimonial dos consumidores a subsidiar os fornecedores sobre a possibilidade ou não de celebração de um contrato de consumo com a finalidade de proteção.
Acesso às informações - O consumidor tem o direito de acesso às informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes – art. 43.
Proibição de manutenção de informações negativas referentes a período superior a cinco anos – o CDC veda a manutenção de informações negativas sobre o consumidor por período superior a 05 anos.
	Estabeleceu o legislador dois prazos para o arquivamento das informações negativas do consumidor constantes de cadastros de proteção ao crédito ou banco de dados. O primeiro, genérico, disciplinado pelo § 1º do artigo 43 do Código do Consumidor, estabelece o teto máximo de cinco anos para a permanência desses dados. O § 5º desse dispositivo legal, por sua vez, dispõe que, consumada a prescrição da ação de cobrança relativa ao débito que originou a informação, os dados não poderão ser fornecidos. “A inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos serviços de proteção ao crédito até o prazo máximo de cinco anos, independentemente da prescrição da execução.” (Súmula 323/STJ, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 25/11/2009, DJ 05/12/2005 p. 410, REPDJe 16/12/2009)
Obrigação de comunicação - A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo deverá ser previamente comunicada por escrito ao consumidor, quando não solicitada por ele – art. 43, § 2º. Assim, cabe ao órgão mantenedor do cadastro notificar o consumidor, não sendo necessário o aviso de recebimento (AR).
	“É dispensável o aviso de recebimento (AR) na carta de comunicação ao consumidor sobre a negativação de seu nome em bancos de dados e cadastros.” (Súmula 404/STJ, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/10/2009, DJe 24/11/2009)
	No caso de ausência de prévia notificação, o STJ já consolidou sua jurisprudência no sentido de que "a ausência de prévia comunicação ao consumidor da inscrição do seu nome em cadastros de proteção ao crédito, prevista no art. 43, §2º do CDC, enseja o direito à compensação por danos morais, salvo quando preexista inscrição desabonadora regularmente realizada." (AgRg no REsp 1413508/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 15/05/2014, DJe 22/05/2014), além da exclusão da inscrição.
Responsabilidade pela comunicação – “A responsabilidade decorrente da ausência de comunicação prévia ao consumidor, medida imprescindível à regularidade da inscrição, é da empresa administradora do banco de dados, a quem cabe providenciar a cientificação do devedor.” (AgRg no AREsp 341.286/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/08/2013, DJe 27/08/2013)
	“Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a notificação do devedor antes de proceder à inscrição.” (Súmula 359/STJ, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/08/2008, DJe 08/09/2008). 
X – DA PROTEÇÃO CONTRATUAL
Prévio conhecimento do conteúdo do contrato - Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance – art. 46.
Interpretação favorável ao consumidor - As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor – art.47.
“À luz do princípio da vulnerabilidade (art. 4º, I, do CDC), princípio norteador das relações de consumo, as cláusulas contratuais são interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor (art. 47 do CDC).” (REsp 1344967/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 26/08/2014, DJe 15/09/2014).
Vinculação de documentos - As declarações de vontade constantes de escritos particulares, recibos e pré-contratos relativos às relações de consumo vinculam o fornecedor, ensejando inclusive execução específica, nos termos do art. 84 e parágrafos – art. 48.
Direito de desistência imotivada – O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 07 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio. Nesse caso, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados – art. 49.
	“Trata-se do direito de arrependimento, que assegura o consumidor a realização de uma compra consciente, equilibrando as relações de consumo. Exercido o direito de arrependimento, o parágrafo único do art. 49 do CDC especifica que o consumidor terá de volta, imediatamente e monetariamente atualizados, todos os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, entendendo-se incluídos nestes valores todas as despesas com o serviço postal para a devolução do produto, quantia esta que não pode ser repassada ao consumidor.
	Eventuais prejuízos enfrentados pelo fornecedor neste tipo de contratação são inerentes à modalidade de venda agressiva fora do estabelecimento comercial (internet, telefone, domicílio). “Aceitar o contrário é criar limitação ao direito de arrependimento legalmente não previsto, além de desestimular tal tipo de comércio tão comum nos dias atuais.” (REsp 1340604/RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/08/2013, DJe 22/08/2013).
Garantia contratual complementar – A garantia contratual oferecida pelo fornecedor não exclui a garantia legal e deve ser entregue por escrito e devidamente preenchido pelo fornecedor – art. 50
	“A lei não fixa expressamente um prazo de garantia legal. O que há é prazo para reclamar contra o descumprimento dessa garantia, o qual, em se tratando de vício de adequação, está previsto no art. 26, do CDC, sendo de 30 (trinta) dias para produto ou serviço não durável e de 90 (noventa) dias para produtoou serviço durável. A pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou serviço vem regulada no art. 27 do CDC, prescrevendo em 05 (cinco) anos.
	Diferentemente do que ocorre com a garantia legal contra vícios de adequação, cujos prazos de reclamação estão contidos no art. 26, do CDC, a lei não estabelece prazo de reclamação para a garantia contratual. Nessas condições, uma interpretação teleológica e sistemática do CDC permite integrar analogicamente a regra relativa à garantia contratual, estendendo-lhe os prazos de reclamação atinentes à garantia legal, ou seja, a partir do término da garantia contratual, o consumidor terá 30 (bens não duráveis) ou 90 (bens duráveis) dias para reclamar por vícios de adequação surgidos no decorrer do período desta garantia.” (REsp 967.623/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/04/2009, DJe 29/06/2009).
1 - DAS CLÁUSULAS ABUSIVAS – São as cláusulas que estabelecem obrigações iníquas, acarretando desequilíbrio contratual entre as partes e ferindo os princípios da boa-fé e da eqüidade. O CDC não conceituou a cláusula abusiva, mas elencou hipóteses que a configuram no art. 51, informando que são nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor-pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis. Dentre os direitos básicos do consumidor está a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos – art. 6º, VI (ver art. 25);
subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento, na hipótese do art. 49, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados - art. 49, parágrafo único;
transfiram responsabilidades a terceiros. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo – art. 7º, parágrafo único (ver art. 25);
estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor. A inversão do ônus da prova poderá ocorre apenas em favor do consumidor, quando preenchidos os requisitos, para a facilitação da defesa de seus direitos, sendo um dos direitos básicos do consumidor previsto no CDC – art. 6º, VIII;
determinem a utilização compulsória de arbitragem. O legislador busca evitar que o fornecedor, valendo-se de contrato de adesão, imponha a arbitragem ao consumidor, subtraindo-lhe o acesso ao Judiciário; 
imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor;
deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor . O fornecedor está obrigado a cumprir na íntegra o contrato que celebrar com o consumidor por está vinculado à publicidade apresentada – art. 30;
permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral. Violam a boa-fé objetiva e o equilíbrio material entre as prestações.
autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor;
obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;
autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração;
infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações – art. 225, CF;
estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;
possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias.
Hipóteses de presunção de vantagem exagerada – O CDC elencou as hipóteses que considera a vantagem exagerada (art. 51, § 1º), sendo elas:
Vantagem que ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;
Vantagem que restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;
Vantagem que se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.
	A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes – art. 51, § 2º.
Conhecimento de ofício pelo juiz de cláusula abusiva – Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas – Súmula nº 381/STJ.
Outorga de crédito ou concessão de financiamento - No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre:
I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional;
II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros;
III - acréscimos legalmente previstos;
IV - número e periodicidade das prestações;
V - soma total a pagar, com e sem financiamento.
	A idéia básica é que o consumidor tenha completa noção do custo do empréstimo (juros, taxas e tributos), que lhe possibilitará uma decisão consciente sobre a celebração ou não do contrato – art. 52.
Limitação das multas de mora - As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigação no seu termo não poderão ser superiores a 2 % (dois) por cento do valor da prestação – art. 52, § 1º.
“Nos termos do artigo 52, § 1º, do Código de Processo Civil, "As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação". (REsp 1405105/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 26/11/2013, DJe 23/05/2014).
Liquidação antecipada do débito - É assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos – art. 52, § 2º.
Perda total das prestações pagas na resolução do contrato - Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado – art. 53.
	Nos contratos do sistema de consórcio de produtos duráveis, a compensação ou a restituição das parcelas quitadas, na forma deste artigo, terá descontada, além da vantagem econômica auferida com a fruição, os prejuízos que o desistente ou inadimplente causar ao grupo – art. 53, § 2º.
2 – DOS CONTRATOS DE ADESÃO - É aquele contrato cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo, cuja inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do contrato – art. 54.
Cláusula resolutiva - Admite-se cláusula resolutória no contrato de adesão, desde que a alternativa, cabendo a escolha ao consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2º do artigo

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