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Crianca_e_adolescente_em_situacao_de_vulnerabilidade_social

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Curso de Pós-Graduação Lato Sensu a Distância 
 
 
 
 
 
Educação, 
Diversidade e 
Inclusão Social 
 
Criança e Adolescente em 
situação de 
vulnerabilidade social 
 
 
Autor: Salette Marinho de Sá 
 
 
EAD – Educação a Distância 
Parceria Universidade Católica Dom Bosco e Portal Educação 
 
 
 
 
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SUMÁRIO 
 
 
UNIDADE 1 – CRIANÇA E ADOLESCENTE ......................................................... 04 
 1.1 Noções sobre infância ...................................................................................... 05 
 1.2 Adolescência: uma discussão necessária ........................................................ 09 
 
UNIDADE 2 - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) .............. 15 
2.1 O Código de Menores ....................................................................................... 16 
2.2 O Estatuto da Criança e do Adolescente........................................................... 20 
 
UNIDADE3 - ECA E O SISTEMA DE PROTEÇÃO ................................................ 29 
3.1 O Conselho Tutelar e as medidas de proteção ................................................. 32 
3.2 O Conselho Tutelar e a violência doméstica ..................................................... 35 
3.3 O ato infracional e a questão da imputabilidade penal ...................................... 39 
 
UNIDADE 4 – ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO DE CRIANÇAS E 
ADOLESCENTE ..................................................................................................... 42 
4.1 Proteção Social Básica...................................................................................... 45 
4.2 Proteção Social Especial ................................................................................... 49 
 
UNIDADE 5 – CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA ................................ 54 
5.1 Assistência social no atendimento à criança e aos adolescentes ..................... 56 
5.2 A retirada da criança e do adolescente do convívio familiar.............................. 60 
 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 65 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Introdução 
 
 
 
 Fonte: http://migre.me/8B5yM 
 
 
Discutir o tema criança e adolescente é complexo e uma tarefa desafiadora. 
Para tanto, organizamos esta disciplina para contribuir na discussão de assuntos 
vivenciados no cotidiano de professores, assistentes sociais, psicólogos, educadores 
físicos, entre tantos outros profissionais que atuam nas diversas políticas públicas. 
Sabemos que as escolas e demais locais onde estamos inseridos não se constituem 
de situações estáticas, mas trata-se de um processo que tem movimentos e 
dinâmicas diversas, conforme a correlação de forças presentes na sociedade. 
 Realizamos uma breve retrospectiva da legislação relativa à infância, a partir da 
aprovação do primeiro Código de Menores em 1927 que introduz o conceito de 
“abandono” e, posteriormente, é incluído o conceito de “situação irregular” pelo 
Código de Menores reformulado em 1979, até a promulgação da Constituição 
Federal em 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990, consagrando 
a “doutrina da proteção integral”. 
A aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990) trouxe 
mudanças no atendimento às crianças e aos adolescentes, apresentando 
discussões que merecem ser aprofundadas, devido aos avanços significativos na 
efetivação da doutrina de proteção integral trazida pelo ECA. Assim essa disciplina 
tem a intenção de contribuir com reflexões sobre essa temática, apontando questões 
referentes à trajetória da criança e do adolescente, as mudanças após o Estatuto da 
Criança e do Adolescente (1990), destacando a implantação de órgãos como 
Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente e o Conselho Tutelar. 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 1- CRIANÇA E ADOLESCENTE 
 
 
[...] Criança, no meu tempo de criança, 
não valia mesmo nada. 
 A gente grande da casa 
usava e abusava 
de pretensos direitos 
de educação. 
Por dá-cá-aquela-palha, 
ralhos e beliscão. 
Palmatória e chineladas 
não faltavam [...] 
 (Cora Coralina, Antiguidades,1965) 
 
 
 
Cora Coralina apresenta no poema Antiguidades (1965) a condição da 
criança na sociedade brasileira no final do século XIX. Percebemos que, felizmente, 
essa condição experimentou muitas transformações. 
A mais importante dessas transformações é o reconhecimento da criança e 
também dos adolescentes, como sujeito de direitos. 
 Muitas vezes, ainda as crianças e adolescentes são vistos como adultos em 
miniaturas. Infelizmente é comum a ideia de "adultizarmos" as crianças, isso se 
manifesta, por exemplo, na maneira de vestir, na imposição de modelos de 
comportamento adulto para as crianças, nas responsabilidades que determinamos 
para as crianças, no uso de uma linguagem conceitual, no impedimento da 
brincadeira, no acúmulo de atividades que 
levam as crianças ao estresse. Isto não 
significa que a educação será feita sem 
colocar limites e responsabilidades. A 
educação deve ocorrer respeitando a 
condição de infância da criança. Se 
quisermos uma sociedade saudável, 
devemos começar a cuidar melhor das 
crianças, o que, em síntese, significa 
deixar a criança viver a sua infância. 
Fonte: http://migre.me/8Hruz 
 
 
 
 
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Ultimamente estamos tão 
preocupados em preparar as crianças para 
o mundo globalizado e tecnológico que 
descuidamos de algo muito importante: 
deixar a criança aproveitar a sua infância, 
ter contato com a natureza, brincar com os 
amigos, usar a imaginação e a criatividade 
nas várias situações que lhes são 
apresentadas. 
 Fonte: http://migre.me/8HryI 
 
 
 
A contribuição da família, profissionais, defensores dos direitos e ainda 
legisladores e poder público deveria ser reconhecer na criança um cidadão em 
desenvolvimento, com necessidades e direitos. 
A regra básica é que a criança e o adolescente devem ter todos os direitos 
que têm os adultos e que sejam aplicáveis à sua idade. E, além disso, devem contar, 
ainda, com direitos especiais decorrentes de sua caracterização como pessoa em 
condição peculiar de desenvolvimento pessoal e social. 
Certos direitos são reconhecidos a todos os seres humanos independente de 
sua idade, como a proteção contra tortura, contra o trabalho abusivo e explorador, 
com acesso aos serviços de saúde e à liberdade de crença e opinião. 
 Outros direitos, no entanto, são específicos das crianças e dos adolescentes, 
como o acesso à educação, enquanto condição imprescindível do seu 
desenvolvimento, juntamente com o esporte, o lazer e a recreação. 
 
1.1 Noções sobre infância 
 
Ao iniciarmos as discussões sobre a infância, vale atentar-se para o que 
Korczak, ao escrever sobre a criança, afirmou: 
 
 
 
 
 
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Somente poderá amar cada criança com amor sábio, quem se 
interessar por sua vida espiritual, por suas necessidades, por seu 
futuro. Quanto mais se aproximar da criança, mais verá nela coisas 
dignas de sua atenção. E é nessa observação escrupulosa que 
encontrará sua recompensa e a coragem para novos esforços, que 
permitam que vá sempre em frente. (KORCZAK, 1983, p.234). 
 
 
O pesquisador francês Philippe Ariès (1960), em sua obraHistória Social da 
Criança e da Família, afirma que o conceito ou a ideia que se tem da infância foi 
sendo historicamente construído e que a criança, por muito tempo, não foi vista 
como um ser em desenvolvimento, com características e necessidades próprias, e 
sim como um adulto em miniatura. Vigorava a noção de que a criança deveria vestir-
se como adulto, trabalhar nos mesmos locais, com jornadas de mesma duração, 
frequentar os mesmos ambientes. Ariès aponta que a construção do sentimento de 
amor pelas crianças foi, durante muitos séculos, despercebido, chegando mesmo a 
não existir. Sua tese indica o surgimento da 
noção de infância apenas no século XVII, junto 
com as transformações que começam a se 
processar na transição para a sociedade 
moderna. 
Aparecem retratos de crianças vivas, 
quando começa a surgir nessa época, 
interesse pela criança na organização da 
família. Começam a surgir pinturas de retrato 
de crianças, pequenos príncipes, filhos de 
senhores burgueses ricos. No século XIX a 
pintura foi substituída pela fotografia. 
Príncipe Baltasar Carlos (séc. XVII) 
 Fonte: http://migre.me/8Hs4x 
Os sentimentos em relação à criança tiveram algumas transformações no 
decorrer da história: o primeiro sentimento foi chamado de paparicação, surgido no 
meio familiar, onde a criança era considerada ingênua, inocente e graciosa e por 
isso precisava de cuidados. 
Logo depois surge um novo tipo de sentimento oriundo dos meios 
eclesiásticos ou dos homens da lei e de homens moralistas, que estavam 
 
 
 
 
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preocupados com a disciplina e a racionalidade dos costumes. As crianças eram 
vistas como criaturas frágeis de Deus que precisam ser preservadas e disciplinadas. 
Esse sentimento passou para a vida familiar, onde a criança passou a ser vista como 
ser incompleto e imperfeito, que necessitava de moralização e da educação do 
adulto. 
Até o século XVIII a família era um espaço aberto em que tinham trânsito 
livre, os avôs, filhos, amigos, mas a criança não tinha nenhuma garantia e nem 
consideração especial. A família era considerada mais como realidade social e 
moral. A criança foi ocultada por muito tempo pela família. A partir do século XVIII, 
aliou-se aos sentimentos de paparicação e de disciplina, o sentimento de 
preocupação com a higiene e com a saúde. A criança conquista o lugar junto a 
seus pais, tornando-se um assunto sério e digno de atenção. Sua simples existência 
era digna de atenção. A criança começa a ser vista como um indivíduo social, dentro 
da coletividade, e a família tem grande preocupação com sua saúde e sua 
educação. 
Destacamos que também a partir do século XIX a adolescência passou a ser 
definida com características específicas, que a diferencia da infância e da idade 
adulta. Percebe-se que a trajetória da criança é marcada pela discriminação, 
marginalização e exploração. 
 
 
http://migre.me/8AYaU 
 
Nos últimos 50 anos, várias concepções de crianças acerca da infância vêm 
sendo expressas e indicam novas concepções: sujeito social e histórico, 
constituído no seu presente, cidadão portador e produtor de cultura. Essas novas 
 
 
 
 
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concepções aparecem especialmente no âmbito educacional, e no Brasil, são frutos 
tanto da ação de movimentos sociais quanto do desenvolvimento das ciências que 
estudam a infância. 
 O século XX é o século da descoberta, valorização, defesa e proteção da 
criança. Nessa perspectiva a infância passa a ser vista não mais como um tempo de 
“preparação para...”, mas como um tempo em si, tempo de sorrir, de brincar, de 
jogar, de sonhar. Ou seja, um tempo que incorpore tudo o que a criança é e vive 
como sujeito de direitos. 
 
1.1.1 Sujeitos de Direitos 
 
A criança e o adolescente já não poderão mais ser tratados como objetos 
passivos da intervenção da família, da sociedade e do estado. A criança tem direito 
ao respeito, à dignidade e à liberdade, e este é um dado novo que em nenhum 
momento ou circunstância poderá deixar de ser levado em conta. 
 
1.1.2 Pessoas em Condição Peculiar de Desenvolvimento 
 
Serem consideradas pessoas em condição peculiar de desenvolvimento foi 
uma das principais conquistas. Isso significa que, além de todos os direitos de que 
desfrutam os adultos e que sejam aplicáveis à sua idade, a criança e o adolescente 
têm ainda direitos especiais decorrentes do fato de que: 
 ainda não têm acesso ao conhecimento pleno de seus direitos; 
 ainda não atingiram condições de defender seus direitos frente a 
omissões e transgressões capazes de violá-los; 
 não contam com meios próprios para arcar com a situação de suas 
necessidades básicas; 
 por se tratar de seres em pleno desenvolvimento físico, emocional, 
cognitivo e sociocultural, a criança e o adolescente não podem 
responder pelo cumprimento das leis e demais deveres e obrigações 
inerentes à cidadania da mesma forma que os adultos. 
 
1.1.3 Prioridade Absoluta 
A prioridade absoluta da criança e do adolescente é entendida como: 
 
 
 
 
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 primazia em receber proteção e socorro em qualquer circunstância; 
 precedência no atendimento por serviço ou órgão público de qualquer 
Poder; 
 preferência na formação e execução das políticas sociais públicas; 
 destinação privilegiada de recursos públicos às áreas relacionadas com 
a proteção da infância e da juventude. (COSTA, 1994) 
 
 
1.2 Adolescência: uma discussão necessária 
 
 
Fonte: http://migre.me/8AY6i 
 
A discussão proposta neste texto é importante para entender a adolescência 
como um processo psicossocial, com mudanças biológicas, psicológicas e 
sociológicas - portanto ela terá diferentes peculiaridades, dependendo do ambiente 
social, econômico e cultural em que o adolescente se desenvolve, como um 
processo de construção de identidade. Portanto, a adolescência deve sempre ser 
compreendida em um contexto amplo, numa perspectiva de história de vida, de 
possibilidades, de oportunidades, de características pessoais, individuais e 
relacionais. 
Assim é fundamental para o profissional que trabalha diretamente com esta 
população, refletir sobre concepções de adolescência e de família, visto que essas 
concepções nortearão suas práticas e formas de intervenção. 
Sem dúvida, precisamos retomar a discussão a respeito da necessidade de 
garantir os direitos. Pensar em adolescentes que não têm acesso a uma educação 
 
 
 
 
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de qualidade, a espaços públicos de lazer com segurança e equipamentos para 
saúde, trabalho, cultura entre outros, significa que os direitos não estão garantidos, 
como se afirma na Constituição Federal. 
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), desde 1980, publica o 
relatório Situação Mundial da Infância. Na edição de 2011, tem o título: “A 
adolescência: uma fase de oportunidades” e trouxe como foco de análise a 
adolescência, apontando a importância e a urgência da discussão do tema. 
O relatório afirma que a adolescência é, antes de tudo, uma fase especial de 
desenvolvimento, que precisa ser abordada a partir da perspectiva dos direitos. 
Argumenta que é um equivoco entender a adolescência como um problema. 
Muitos adolescentes são vistos como ameaça para suas famílias e para a 
sociedade, no entanto, deveriam ser reconhecidos como sujeitos da sua própria 
história e suas necessidades deveriam ser pauta das políticas públicas. O 
interessante no relatório é que há uma convocação para todos inverterem a lógica 
tradicional, que costuma reduzir a adolescência a uma fase de riscos e 
vulnerabilidades.A ideia proposta é a visão dessa fase da vida como oportunidade 
não apenas para os próprios adolescentes, mas também para suas famílias, suas 
comunidades, os governos e a sociedade. Oportunidade de socialização, construção 
de identidade e autonomia. Afirma o Relatório: 
 
Para as famílias, a adolescência é um convite para descobrir um 
mundo novo. As escolas podem aproveitar a facilidade de 
aprendizado dessa fase e contribuir para que os estudantes 
adquiram o conhecimento necessário para desenvolver seu 
potencial. A comunidade se beneficia com a característica natural da 
adolescência de agir coletivamente. Na esfera das políticas públicas, 
devem ser ampliados os canais para que os adolescentes exerçam 
seu poder de influência e construam uma perspectiva crítica em 
relação à sua realidade. (UNICEF1, 2011) 
 
 
Na discussão trazida pelo relatório, não há valorização de dados sobre a 
gravidez na adolescência, doenças sexualmente transmissíveis e infrações 
cometidas, uso de drogas. O relatório aborda essas questões ressaltando a 
necessidade de se compreender as trajetórias de vida para identificar as razões e 
 
1
 Disponível em: <http://www.unicef.org/brazil/pt/br_sowcr11web.pdf>. Acesso em 29/01/2012. 
 
 
 
 
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reverter a falta de acesso a direitos básicos que levam a estatísticas devastadoras 
para a adolescência. 
Importante destacar que é na adolescência que meninas e meninos possuem 
imenso potencial para seu próprio desenvolvimento e podem consolidar de forma 
sustentável e duradoura as experiências vivenciadas. Portanto, investir no 
desenvolvimento dos adolescentes é disponibilizar ferramentas para que encarem os 
desafios do seu tempo e se engajem em um esforço coletivo para melhoria de sua 
vida, da sua família, da sua comunidade e do seu país. 
O Brasil possui uma população jovem: 30% dos seus 191 milhões de 
habitantes têm menos de 18 anos e 11% da população possuem entre 12 e 17 anos, 
uma população de mais de 21 milhões de adolescentes. Por isso, é essencial que o 
Brasil atenda às necessidades específicas da adolescência nas suas políticas. Caso 
contrário, corre-se o risco de que um grupo tão significativo e estratégico para o 
desenvolvimento do País fique invisível para as políticas públicas que priorizam a 
infância e a juventude. 
No Brasil, as políticas destinadas a esse público, estão mais voltadas para 
dois desses aspectos que veem a adolescência/ juventude como problema e a 
juventude como ator estratégico para desenvolvimento. Em ambos os processos 
deve-se considerar a identidade desses adolescentes e jovens, identificar sua 
cultura, suas necessidades, transformando-as em ações, projetos e políticas 
públicas. Com certeza, dessa forma eles 
se sentirão mais dispostos para interagir 
com profissionais, com outros jovens e 
com sua própria família. 
 Alguns fatores como: falta de 
oportunidades educacionais e 
profissionais, mortes violentas, relações 
sexuais precoces desprotegidas, 
HIV/AIDS e trabalho infantil são alguns 
dos principais riscos que podem impedir 
que os adolescentes se desenvolvam até 
chegar a vida adulta. 
Fonte: http://migre.me/8Hzzb 
 
 
 
 
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 Os desafios são muitos, mas destacamos que para enfrentar essas situações 
e outras, é necessário que as políticas públicas sejam voltadas para a adolescência, 
para sua promoção e desenvolvimento, com investimentos e educação, cuidados de 
saúde, proteção e participação dos adolescentes, principalmente para os mais 
pobres e vulneráveis. A questão da vulnerabilidade social será discutida a seguir. 
 
 
 
É fundamental enxergarmos os jovens como cidadãos de direitos, 
quais os diferentes espaços de participação. A juventude precisa estar em 
espaços de participação de seus municípios, desde a escola até a 
prefeitura, passando pela igreja, pelas associações, pelos diversos grupos 
juvenis, buscando melhoria para todos. Acesse o site do Ministério do 
Desenvolvimento Social e Combate a Fome e veja a Política Nacional 
da Juventude (http://www.mds.gov.br Atalho: http://migre.me/8HtCS) 
 
 
 
1.2.1 Vulnerabilidade social 
 
A situação de vulnerabilidade social se encontra diretamente ligada à miséria 
estrutural, agravada pela crise econômica que lança o homem ou a mulher ao 
desemprego ou subemprego. Pode ser entendida como resultado negativo da 
relação entre recursos materiais disponíveis e acesso às oportunidades sociais, 
econômicas, culturais, responsabilidade do Estado, da relação mercado e 
sociedade. Essa situação se traduz em desvantagem social para os jovens e suas 
famílias, como por exemplo, no caso de mobilidade social. 
À medida que a família encontra dificuldades para cumprir satisfatoriamente 
suas tarefas básicas de socialização e amparo/serviços aos seus membros, criam-se 
situações de vulnerabilidade. São apresentados dados secundários sobre educação, 
saúde, cultura, lazer e trabalho que demonstram a dificuldade de acesso dos 
adolescentes e jovens a essas políticas, o que contribui com a situação de 
vulnerabilidade social. A questão agrava-se em situações que fomentam o aumento 
da violência e da criminalidade. Ressaltamos aqui que embora muitos casos, a 
violência esteja associada à pobreza, não é sua consequência direta, mas sim 
resultado das desigualdades sociais, a negação do direito ao acesso a bens e 
 
 
 
 
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equipamentos de lazer, esporte e cultura opera nas especificidades da cada grupo 
social desencadeando comportamentos violentos. 
As políticas públicas voltadas aos adolescentes e jovens têm como desafio 
combinar políticas universais, compreendendo eles não isolados em um mundo à 
parte, e políticas afirmativas, compensatórias, sensíveis à particularidade da 
identidade juvenil, já que eles compõem uma geração com linguagens, 
necessidades e formas de ser específicas – reconhecendo o protagonismo juvenil. 
O protagonismo juvenil é parte de um método de educação para a cidadania 
que prima pelo desenvolvimento de atividades em que o jovem ocupa uma posição 
de centralidade, e sua opinião e participação são valorizadas em todos os 
momentos. No combate à vulnerabilidade social é necessária a superação dos 
enfoques setoriais e desarticulados de grande parte das políticas sociais. 
 
 
Saiba o que o Governo federal está fazendo para contribuir à 
superação da miséria no Brasil 
(http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/expansao-dos-servicos-de-
protecao-social-basica-e-especial-2012-2013-plano-brasil-sem-miseria 
Atalho: http://migre.me/8HtVN). 
 
Expansão dos Serviços de Proteção Social Básica e Especial 
2012 – Plano Brasil sem Miséria - Decreto nº 7.492 de junho de 2011, 
que instituiu o Plano Brasil Sem Miséria – com expansão dos serviços 
socioassistenciais e promovendo a integração e a articulação de políticas 
públicas, programas e ações. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 2 – ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
 
 
Cada época, dependendo dos determinantes econômicos com suas 
implicações sócio-político-culturais, elaborou um tipo de discurso sobre a questão da 
criança em situação de vulnerabilidade, sugerindo formas de encaminhamento para 
a sua solução. 
 
 
 
Fonte: http://migre.me/8AYE2 
 
 
Para falar do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990), é 
necessária uma comparação com a lei que anteriormente existiu no país: o Código 
de Menores. 
 O Código de Menores e o Estatuto da Criança e do Adolescente apresentam 
duas visões jurídicassobre a criança: a Doutrina da Situação Irregular e a Doutrina 
da Proteção Integral. O ECA traduz esta última em lei, que está em vigor desde 
1990, dividindo até hoje opiniões e práticas quanto ao modo de cuidar as crianças e 
adolescentes. 
 
 
 
 
 
 
 
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Quadro 1 – Duas visões jurídicas sobre a criança 
Doutrina da Situação irregular Doutrina de Proteção Integral 
Trata-se da doutrina que orientou o Código 
de Menores. Preconiza a atuação do 
Estado, através do Judiciário, quando o 
menor se encontra em alguma situação 
considerada irregular: os abandonados, 
vítimas de maus-tratos, miseráveis e 
infratores. 
 
Trata-se da nova concepção jurídica 
segundo a qual o Governo, o Estado e a 
Sociedade são obrigados a propiciar a todas 
as crianças e adolescentes, o respeito a 
seus direitos fundamentais. O Estatuto da 
Criança e do Adolescente concebe a 
criança e o adolescente como sujeitos de 
direitos, e pessoas em condição peculiar de 
desenvolvimento. 
 
Fonte: Elaboração própria a partir do Código de Menores e Estatuto da Criança e do 
Adolescente 
 
 
2.1O Código de Menores 
O lema do Código de Menores (1979) era a preservação da ordem social e o 
Estado era responsável por providenciar a assistência às crianças e adolescentes 
abandonados, para “reeducá-los” ou “recuperá-los”. Crianças e adolescentes 
abandonados eram chamados de “menores”. 
O discurso moralizador existente na época atribuía às famílias consideradas 
“desajustadas” a incapacidade de oferecer educação e afeto aos seus filhos, que 
viviam nas vias públicas, convivendo com o mundo dos vícios e com a “escola” do 
crime. Com tal entendimento, era necessário frear a ação dos infratores que 
ameaçavam a ordem pública. Surgiram nessa época as primeiras instituições para 
menores abandonados ou envolvidos com o crime. O debate que se propunha era 
de um lado a prevenção e de outro, a punição. 
A criação do Juízo de Menores por meio do Decreto nº 16.272, de 
20/12/1923, indicava que a pessoa do juiz deveria determinar o tipo de tratamento 
para cada situação apresentada pelos “menores abandonados ou infratores”. 
O Juiz de Menores era uma figura atípica dentro da estrutura do Estado. Ele 
aplicava a lei e detinha poderes de vigilância, proteção e regulação da vida dos 
menores. 
A responsabilidade do Estado consagrou-se no Direito através da edição do 
primeiro Código de Menores em 1927. Passetti afirma: 
 
 
 
 
 
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que foi com o Código de Menores (Decreto nº 1734/A, de 12 de 
outubro de 1927) que o Estado respondeu pela primeira vez com a 
internação, responsabilizando-se pela situação de abandono e 
propondo-se a aplicar os corretivos necessários para reprimir o 
comportamento delinquência. Os abandonados estavam na mira do 
Estado. (1999, p.355) 
 
O mesmo autor relata que nos primeiros 30 anos da República, a criança 
pobre era considerada abandonada e potencialmente perigosa, e cabia ao Estado, 
incutir-lhe a obediência. A educação, sob o controle do Estado, direcionava-se 
assim, para disciplinar os cidadãos demonstrando uma política centralizadora e 
repressora. 
A correção de comportamento em nome da educação elevou o número de 
prisões e internatos, onde os “desajustados” deveriam ser reeducados. “Ao escolher 
políticas de internação para crianças abandonadas e infratores, o Estado escolhe 
educar pelo medo.” (PASSETTI, 1999, p.356). 
O argumento para as internações fundamentava-se no princípio de que era 
preciso combater o indivíduo perigoso. No entanto, o infrator que deveria ser 
reintegrado socialmente era totalmente alijado da sociedade e o internato em vez de 
corrigir, deformava. A integração ocorria pelo avesso na ilegalidade e a austera vida 
de interno orientada pela rotina perpetuava a individualidade e a delinquência. 
O Código de Menores (1927) regulamentou também o trabalho infantil até que 
com a Constituição de 1934, determinou-se a proibição do trabalho dos menores de 
12 anos em todo o território brasileiro. 
Esse Código introduziu timidamente a discussão sobre os castigos de pais 
contra filhos, referindo-se a punição apenas para castigos imoderados. Era aceita a 
disciplina corporal de crianças e adolescentes, com a finalidade de educar. 
O Estado, através do Juiz de Menores, 
podia destituir o pátrio poder, decretando a 
sentença da “situação irregular do menor”. Era 
determinado pelo Juiz ao “menor carente”, 
considerado criança em perigo, que a rede de 
atendimento abarcasse com todos os efeitos da 
pobreza, assumindo funções de abrigo, escola, 
hospital e, às vezes, prisão. 
Pátrio poder é um poder-dever 
atribuído aos pais em benefício 
dos filhos. Os pais só podem 
usá-lo para a realização desse 
dever. Por ser exercido por 
ambos os pais, a expressão 
pátrio poder foi substituída por 
poder familiar no Código Civil 
de 2002. É o conjunto de direitos 
e deveres referentes aos pais 
com relação a seus filhos e 
respectivos bens, com a 
finalidade de protegê-los. 
 
 
 
 
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O Juiz, ao determinar que a criança fosse retirada das ruas, da sua família ou 
comunidade, acreditava, fundamentando-se no Código, que o atendimento seria, no 
mínimo, melhor que o oferecido anteriormente, o que efetivamente, na prática, não 
ocorria. Sempre houve denúncias sobre a situação dos internatos, os quais 
funcionavam como depósitos. 
A lógica utilizada pelo Código era aparentemente simples: “se a família não 
pode ou falha no cuidado e proteção do menor, o Estado toma para si esta função”. 
(FALEIROS, 1995b, p.54). 
Devido à complexidade na disputa pela guarda dessas crianças, que não eram 
órfãs e sim carentes, entre o Juiz de Menores, a família e as entidades de 
atendimento, muitas famílias acabavam abandonando os filhos nos internatos. Esse 
abandono era apontado pelos profissionais (psicólogos, assistentes sociais, e 
outros) dos internatos como imoralidade das famílias, desconsiderando a dificuldade 
destas para reaver o chamado poder familiar. 
De acordo com Arantes, 
 
embora a prática do internato de crianças não seja fato recente no 
Brasil, apenas com a criação da FUNABEM na década de 60 e a 
revisão do Código de Menores na década de 70, quando também, 
com a ditadura militar os menores foram considerados ‘questão de 
segurança nacional’, consolida-se a ideia de que lugar de criança 
pobre é no internato. (1995, p.213). 
 
 
Por não satisfazer as necessidades do 
momento e apoiado nas críticas ao antigo Serviço 
de Assistência ao Menor, o regime militar 
substituiu o SAM pela Fundação do Bem-Estar do 
Menor (FUNABEM) criada em 1º de dezembro de 
1964, pela Lei nº 4513, vinculada ao Ministério da 
Justiça, reforçando seu caráter policial frente à 
problemática que deveria atender. 
 Fonte: http://migre.me/8HzQq 
À FUNABEM coube a tarefa de implementar a Política Nacional do Bem-Estar 
do Menor (PNBM), que deveria por fim ao emprego de métodos repressivos e 
primitivos nas instituições para “menores” e, através da ação conjunta com a 
 
 
 
 
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“comunidade”, desenvolver outras estratégias de atendimento que não priorizassem 
mais a internação ou a institucionalização da criança. 
Para assegurar o controle da situação, a FUNABEM, desencadeou, na década 
de 70, um processo de sensibilização dos governos estaduais, dando origem às 
Fundações Estaduais do Bem-Estar do MenorFEBEMs. 
No entanto, as unidades da FEBEM em cada estado se revelavam lugares de 
tortura e espancamentos, nos moldes dos esconderijos militares, onde subversivos 
eram torturados. 
Os prejuízos resultantes da marginalizaçãoeram alarmantes, chegando a 
formar a Comissão Parlamentar de Inquérito em 1976, constituindo a CPI do Menor. 
A CPI concluiu seu trabalho, apresentando como recomendação a criação do 
Ministério Extraordinário, coordenador de todos os demais organismos envolvidos, 
financeiramente apoiado por um Fundo Nacional de Proteção ao Menor. Entretanto, 
não veio a concretizar-se. 
Ao final da década de 70, era promulgado o novo Código de Menores, através 
da Lei 6697, de 10/10/79, que pretendia inaugurar uma nova postura jurídica frente à 
questão dos “menores”. O Código de Menores em 1979 passou a ser o único 
diploma a regular a matéria que dita normas de proteção e assistência aos 
brasileiros menores de 18 anos. 
Para exemplificar, citamos o Art., 2º: 
Para efeitos deste Código, considera-se em situação irregular o 
menor: I- privado de condições essenciais à subsistência, saúde e 
instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de: a) falta 
de omissão dos pais ou responsável; b) manifesta impossibilidade 
dos pais ou responsável para provê-las; II – vítimas de maus-tratos 
ou castigos imoderados impostos por pais ou responsável; (...) VI- 
autor de infração penal. 
 
O Código autorizava os juízes a internarem crianças que se encontram em 
“situação irregular” e define a carência como uma das hipóteses dessa situação. 
Em 1984 a FUNABEM passa a subordinar-se ao Ministério da Previdência e 
Assistência Social (MPAS). Os anos 80, no campo das políticas de atendimento à 
população infanto-juvenil, surgem como um ciclo de grandes transformações. 
A partir das lutas e pressões sociais, e dentro das correlações de forças 
possíveis, em 1986, os direitos da criança são colocados em evidência por inúmeras 
organizações, destacando-se o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, 
 
 
 
 
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Pastoral do Menor, entidades de direitos humanos, ONG’s. As organizações sociais 
se opunham à desumana, bárbara e violenta situação a que se encontrava 
submetida a infância pobre no Brasil; e também à omissão e ineficácia das políticas 
sociais e das leis existentes em fornecer respostas satisfatórias face à complexidade 
e gravidade da chamada questão do “menor”. 
À medida que se pôde efetivamente questionar o modelo de assistência 
vigente, tornou-se possível a emergência de novas proposições contidas na 
Constituição Federal (1988), como veremos a seguir. 
 
2.2 O Estatuto da Criança e do Adolescente 
 
O Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8.069/90, de 13 de julho de 
1990 – concretiza um notável avanço democrático, ao regulamentar as conquistas 
relativas aos direitos de criança e adolescente consubstanciadas no Artigo 227 da 
Constituição Federal de 1988. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente é o reflexo, no direito brasileiro, dos 
avanços obtidos na ordem internacional, em favor da infância e da juventude. Ele 
representa uma parte importante do esforço de uma Nação, recém-saída de uma 
ditadura de duas décadas, para acertar o passo com a comunidade internacional em 
termos de direitos humanos. 
O ECA é a regulamentação num sentido amplo do art. 227 da Constituição, 
reconhecendo e garantindo os direitos das crianças e dos adolescentes, 
consagrando a Doutrina da Proteção Integral. 
 
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e 
ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e 
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de 
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e 
opressão. (BRASIL, 1988). 
 
Absoluta prioridade não é simplesmente uma expressão, mas um princípio 
que gera direitos e obrigações jurídicas. 
 A promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069, de 13 de 
julho de 1993), com inúmeros títulos, capítulos e artigos que garantem a imagem da 
 
 
 
 
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nossa última Constituição, direitos fundamentais – respeito à vida e à saúde, à 
liberdade e à dignidade, à convivência familiar e comunitária, à educação, cultura, 
esporte e lazer, à profissionalização e proteção no trabalho, à prevenção, vem não 
só ratificar a Declaração Universal da Criança, mas reconhecer e consagrar a 
criança e o adolescente como indivíduos e, portanto, cidadãos. 
O ECA resgata o valor da criança e do adolescente como seres humanos – 
sujeitos de direitos – que devem receber o máximo de dedicação, em virtude de sua 
condição peculiar de pessoas em desenvolvimento. 
 
 
 
Fonte: http://migre.me/8B5CF 
 
A criança e o adolescente passam a ser percebidos como seres em 
desenvolvimento, tanto do ponto de vista físico quanto psicológico e social, com 
necessidades que precisam ser supridas nestas três esferas. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente exige um tratamento especial, 
prioritário, e, para garanti-lo, obriga o conjunto da política, da economia e da 
organização social a operar um reordenamento; a revisar prioridades políticas e de 
investimentos; a colocar em questão o modelo de desenvolvimento e respectivo 
projeto da sociedade, excludente e perverso, que desconhece, na prática, estes 
seres sujeitos de direitos: a criança e o adolescente. 
Este reordenamento tem uma configuração legal, formal, que deve expressar-
se ao longo de um processo em todos os campos da vida social: das organizações 
governamentais e não governamentais, das políticas sociais básicas e da 
organização familiar. 
 
 
 
 
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Para o cumprimento do chamado Sistema de Garantia de Direitos, introduzido 
pelo Estatuto, o art. 86 desta Lei propõe uma nova gestão desses direitos, “através 
de um conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais da 
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”. 
A primeira e importante novidade desse artigo é, justamente, a expressão 
política de atendimento. Isso porque, como vimos, o atendimento à criança e ao 
adolescente foi, ao longo da história, predominantemente isolado e fragmentário. 
Tanto que sempre se falou em “atendimento”, mas apenas com o ECA ganhou força 
a expressão “política de atendimento”, visando designar ações articuladas e 
integradas. 
O Sistema de Garantia de Direitos 
apresenta três eixos fundamentais: promoção, 
defesa e controle social. Estes eixos devem 
funcionar de maneira articulada – órgãos 
governamentais e não governamentais. 
O eixo da “promoção” corresponde à 
deliberação e formulação política de atendimento 
dos direitos, articulada com as demais políticas 
públicas. Destacam-se como exemplo de atores 
desse eixo os Conselhos de Direitos. 
No eixo da “defesa”, temos os Conselhos 
Tutelares, Centros de Defesa, Ministério 
Público, entre outros atores. Esse eixo 
assegura a exigibilidade dos direitos, cada vez 
que estes são violados. 
Por fim, o eixo do “controle social”, que 
diz respeito à vigilância do cumprimento dos 
preceitos legais. Deve haver uma articulação da 
sociedade civil para agir, controlar e fazer 
funcionar esse sistema. 
Conselhos de Direitos da 
Criança e do Adolescente são 
órgãos cuja função é formular as 
políticas públicas (básicas, 
assistenciais e de garantia), nas 
esferas federal, estadual e 
municipal, compostos de maneira 
paritária, por representantes do 
Poder Executivo e de entidades 
da sociedade civil. 
Conselhos Tutelares são 
órgãos de fiscalização, aos quais 
compete averiguar o 
descumprimento dos direitos 
fundamentais às crianças. 
Existem nos municípios e são 
compostos por cidadãos eleitos 
na comunidade.Centros de Defesa são 
organizações da sociedade civil, 
sem fins lucrativos, criadas para 
garantir, defender e promover os 
direitos da pessoa humana, no 
caso específico, da criança e do 
adolescente. 
Ministério Público, de acordo 
com a Constituição Federal de 
1988, é “instituição permanente, 
essencial à função jurisdiscional do 
Estado, imcumbindo-lhe a defesa 
da ordem jurídica, do regime 
democrático e dos interesses 
sociais e individuais indisponíveis” 
(Art.127). 
 
 
 
 
22 
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É este o espaço da sociedade civil 
articulada em “fóruns”: Fóruns de Defesa das 
Crianças e Adolescentes; o Fórum de Combate 
ao Trabalho Infantil, entre outros. Os mesmos 
fazem o papel também de controle e vigilância 
social sobre a ação governamental e 
representam a retaguarda dos conselhos 
deliberativos. 
Ainda no eixo do controle social, também 
se produz conhecimento, pois nele residem 
todos os esforços das instituições de estudos e 
pesquisas que fazem propostas para os 
Conselhos e que têm papel fundamental na formação social para a cidadania, para o 
exercício dos direitos, para a participação na relação com o Estado e no subsídio 
para as políticas públicas. 
A sociedade civil possui importante papel político para garantir a continuidade 
das políticas públicas. O Ministério Público só se pronuncia quando provocado, 
embora tenha o papel de vigiar o cumprimento da lei. 
Assim, cabe à sociedade civil fazer uma articulação entre os três eixos para 
garantir que as políticas públicas sejam universais, suficientes e mais adequadas às 
normas do Estatuto. 
 
2.2.1 Os Conselhos de Direito - espaços institucionais de participação 
Os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, órgãos instituídos por 
representação paritária de entidades governamentais e não governamentais2, são 
responsáveis por elaborar e fiscalizar as políticas destinadas à sua área de 
competência, infância e adolescência, estando presente nos níveis municipal, 
estadual e nacional; denominando-se respectivamente Conselho Municipal dos 
Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), Conselho Estadual dos Direitos da 
 
2
 Lembramos que o Ministério Público, Poder Judiciário e Poder Legislativo, apesar de órgãos do 
Estado, não são propriamente “governo”, muito menos sociedade civil, logo não podem participar dos 
conselhos. 
Os fóruns são um espaço de 
mobilização e organização, em 
geral. É instrumento legítimo de 
promoção, convocação (política) 
e fortalecimento das assembleias 
amplas para a escolha dos 
representantes da Sociedade 
Civil Organizada para 
constituição dos Conselhos. São, 
em especial, espaços de 
articulação do poder e do saber 
da sociedade, espaço de debate, 
de divulgação de ideias, de 
estímulo a propostas de políticas 
e estratégias que façam avançar 
as conquistas democráticas, e de 
articulação com parlamentares e 
magistrados. 
 
 
 
 
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Criança e do Adolescente (CEDCA) e Conselho Nacional dos Direitos da Criança e 
do Adolescente (CONANDA). 
Considerados novos atores no cenário da política nacional, os Conselhos dos 
Direitos constituem-se na primeira iniciativa legal de implantação de conselhos 
paritários com poder deliberativo; assim também como espaços privilegiados de 
participação popular e como meios para comprometer, democraticamente, Estado e 
Sociedade com a política de atendimento à criança e ao adolescente. (Art. 86 ECA), 
e controlar as ações públicas dela decorrentes (Art. 88 ECA): 
Art. 86 A política de atendimento dos direitos da criança e do 
adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações 
governamentais e não governamentais, da União, dos Estados, do 
Distrito Federal e dos Municípios. 
 
Art. 88 São diretrizes da política de atendimento: 
I- Municipalização do atendimento; 
II- Criação de Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional dos 
direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e 
controladores das ações em todos os níveis, assegurada a 
participação popular paritária por meio de organizações 
representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais [...]. 
 
Discutir conselhos deliberativos significa apresentá-los como espaço formal 
da sociedade onde são discutidas as políticas sociais. Portanto, é parte de um todo, 
que se relaciona com outras, influencia e sofre influência de toda a dinâmica social, 
podendo provocar alterações substanciais na vida da sociedade. 
Sendo órgãos deliberativos, não lhes cabe a primazia na formulação de 
políticas. Elas podem e devem ser formuladas pelo Conselho, mas outros órgãos do 
governo também podem ter suas políticas. Ocorre que, para que essas políticas 
sejam executadas, o Conselho terá que apreciá-las e aprová-las. A política 
relacionada às crianças e aos adolescentes, que não foi aprovada pelo Conselho de 
Direitos, é ilegal, pois fere o Estatuto e a Constituição. 
Pensando na atribuição deliberativa e controladora do Conselho de Direitos, 
conclui-se que uma determinada política se concretiza através de ações organizadas 
em programas e projetos. 
Ocorre, porém, que toda organização que desenvolve atividades com 
crianças e adolescentes deve, juridicamente, ser uma instituição com a característica 
de política de atendimento, e seus programas devem estar inscritos no CMDCA, 
conforme o ECA preconiza no Art. 90, Parágrafo único: 
 
 
 
 
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As entidades governamentais e não governamentais deverão 
proceder à inscrição de seus programas, especificando os regimes 
de atendimento, na forma definida neste artigo, junto ao Conselho 
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual manterá 
registro das inscrições e suas alterações, do que fará comunicação 
ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária. 
 
Estes últimos são os responsáveis pela aplicação das medidas de proteção e 
socioeducativas, previstas no ECA. 
Outro aspecto a ser evidenciado, refere-se ao Art. 91 do Estatuto que permite 
o funcionamento das entidades não-governamentais somente após seu registro no 
CMDCA, pois é a partir dele que tais entidades passarão a integrar de fato a rede de 
atendimento de que o município disporá para atender a criança e o adolescente. 
 
Art.91 As entidades não-governamentais somente poderão funcionar 
depois de registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança 
e do Adolescente, o qual comunicará o registro ao Conselho Tutelar 
e à autoridade judiciária da respectiva localidade. 
 
Para que os programas e projetos efetivamente se realizem é necessário, 
evidentemente, que tenham recursos financeiros. Uma das mais importantes 
atribuições dos conselhos municipais é o gerenciamento do respectivo fundo, 
porquanto o desenvolvimento de ações na área sempre depende da existência e 
disponibilidade de recursos financeiros. A fonte privilegiada dos mesmos é o 
orçamento público, na medida em que é constituído, basicamente, de tributos pagos 
pela população. Portanto, a deliberação do Conselho de Direitos tem força normativa 
sobre esse orçamento. Porém, o orçamento é aprovado na forma de lei, com 
vigência de um ano, o que pode trazer certos impasses, dado o rigor próprio da lei. É 
por isso que existe o Fundo da Infância e da Adolescência – FIA, como uma espécie 
de reserva de recursos voltados, exclusivamente, para a área infanto-juvenil e 
subordinado ao poder político do Conselho de Direitos. Essa é uma maneira de 
assegurar que a política de atendimento garanta a proteção integral aludida, já que 
sem recursos nada acontece. 
Recomenda-se, que os recursos do FIA sejam destinados ao financiamento 
de Projetos de ProteçãoEspecial, pois estes estão mais diretamente ligados à área 
de intervenção do CMDCA, especialmente aqueles elencados no artigo 90 do ECA. 
 
 
 
 
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Art.90 As entidades de atendimento são responsáveis pela 
manutenção das próprias unidades, assim como pelo planejamento e 
execução de programas de proteção e socioeducativos destinados a 
criança e adolescente, em regime de: 
I- orientação e apoio sociofamiliar; 
II- apoio socioeducativo em meio aberto; 
III- colocação familiar; 
IV- abrigo; 
V- liberdade assistida; 
VI- semiliberdade; 
VII- internação. 
Parágrafo único: As entidades governamentais e não-
governamentais deverão proceder à inscrição de seus programas, 
especificando os regimes de atendimento, na forma definida neste 
artigo, junto ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do 
Adolescente, o qual manterá registro das inscrições e de suas 
alterações, do que fará comunicação ao Conselho Tutelar e à 
autoridade judiciária. 
 
Vale lembrar que o Fundo angaria recursos provenientes não apenas do 
orçamento público (embora este deva ser sua principal fonte), mas de doações e 
multas, dentre outras formas. 
Isto posto, entendemos que adequar os procedimentos de tomada de decisão 
à lógica democrática de participação, igualdade, liberdade e pluralidade é o desafio 
para a realização de uma organização social, que se pretende democrática e que 
não se limita ao arcabouço institucional. 
Portanto, Estado e sociedade civil necessitam de uma profunda 
democratização para tornar possível a participação e intervenção de diversos 
sujeitos políticos na construção da democracia representativa e de novas formas de 
democracia participativa. 
Torna-se assim evidente que o processo de constituição e funcionamento do 
CMDCA é dificultado, ou até mesmo, é impedido por fatores já elencados como: 
irregularidades nas Leis que criam os Conselhos, a falta de paridade, ausência da 
participação popular e também falta de condições de funcionamento. Fatores que 
explicam em parte o imobilismo dos conselhos no sentido da não operacionalização 
do ECA, com superposições de ações, pulverização de recursos e sem capacidade 
de gerenciamento. 
Destacamos que na condução da política de atendimento aos direitos da 
criança e do adolescente, a missão dos conselhos é garantir com prioridade 
absoluta o direito de todas as crianças e adolescentes. Nessa perspectiva, o 
 
 
 
 
26 
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objetivo dos Conselhos é a melhoria integral das condições de vida da população 
infanto-juvenil. 
Garantia de prioridade compreende a primazia, a precedência, a preferência e 
a destinação privilegiada de recursos públicos. Então, se a política da criança não 
tiver essa característica, não há cumprimento do Estatuto e da Constituição Federal. 
É importante frisar que o conselheiro deve superar-se em seu papel, pois 
representa os interesses das crianças e dos adolescentes. 
 
Plano Decenal 
Documento aprovado pelo CONANDA no dia 19 de abril de 2011. Contém 
Eixos, Diretrizes e Objetivos Estratégicos. Principal desdobramento da 8ª. 
Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, o Plano Decenal é 
um documento que prevê as diretrizes da Política Nacional dos Direitos da Criança 
e do Adolescente para os próximos dez anos. Sua principal finalidade é orientar e 
cobrar do poder público na esfera federal a implementação de políticas que 
efetivamente garantam os direitos infanto-juvenis. 
(http://www.obscriancaeadolescente.gov.br/bv-politicas-planos/file/102-plano-decenal-
2011). 
 
 
 CÓDIGO DE MENORES (1979) ECA (1990) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1 - Algumas diferenças entre o Código de Menores e o ECA 
Fonte: elaboração própria 
DOUTRINA DA SITUAÇÃO 
IRREGULAR 
INVISIBILIDADE 
SOCIAL 
DOUTRINA DA 
PROTEÇÃO INTEGRAL 
 
AÇÕES ASSISTENCIALISTAS 
OU AUTORITÁRIAS, 
PENALIZANTES E 
CRIMINALIZADORAS 
VISIBILIDADE 
SOCIAL 
 
 
TITULARES DE DIREITOS 
 
 
 
 
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UNIDADE 3 – ECA E O SISTEMA DE PROTEÇÃO 
 
 
 Segundo a Constituição Federal, 
 
Art.227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à 
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à 
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à 
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar 
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de 
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e 
opressão. (BRASIL, 1988). 
 
 
No Brasil, principalmente, após a Constituição de 1988, ocorreram avanços 
no âmbito jurídico e legal, no que tange aos direitos das crianças como cidadãs, bem 
como às relações de responsabilidades sociais compartilhadas entre governo, 
família e sociedade, quanto ao cuidado e atenção à criança e ao adolescente. 
Entretanto, para além dos avanços, constata-se que há uma distância entre as 
condições reais de vida das crianças brasileiras e o que lhes cabe por direito. Por 
outro lado, e apesar de se ter ampliado em qualidade e extensão o acesso ao 
conjunto de bens e serviços que lhes são destinados, fica ainda o desafio de que é 
necessário desenvolver estratégias e instrumentos gerenciais, de forma a promover 
a universalização e a equidade do atendimento proporcionado pelas políticas 
públicas. 
O Estatuto exige um tratamento especial, prioritário, e, para garanti-lo, obriga 
o conjunto de política, economia e da organização social operar um reordenamento; 
revisar prioridades políticas e de investimentos. Deve-se desencadear uma série de 
inúmeras inovações de método e gestão, que contribuirão para a construção de uma 
nova sociedade. 
É pertinente lembrar que cabe às entidades governamentais e não-
governamentais, o atendimento de crianças e adolescentes em programas e 
projetos. 
A partir daí, foi-se construindo um Sistema de Garantias dos Direitos da 
Criança e do Adolescente com a implantação do CONANDA – Conselho Nacional 
dos Direitos da Criança e do Adolescente, dos Conselhos Tutelares, Juizados da 
 
 
 
 
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Criança e do Adolescente, das Delegacias da Criança e do Adolescente e de 
Proteção da Criança e do Adolescente, descritos abaixo: 
 
 Justiça da Infância e Juventude é o órgão encarregado de aplicar a 
lei para solução de conflitos relacionados aos direitos da criança e do 
adolescente. O ECA faculta (e estimula) a criação das chamadas varas 
especializadas e exclusivas para a infância e a juventude, mas, até o 
momento, há poucas no país. Nos municípios que não as têm, suas 
atribuições são acumuladas por juiz de outra alçada, conforme dispuser a 
Lei de Organização Judiciária. 
 Ministério Público (MP) é responsável pela fiscalização do 
cumprimento da lei. Promotores e promotoras de Justiça têm sido fortes 
aliados do movimento social de defesa dos direitos da criança e do 
adolescente. 
 Defensoria Pública é o órgão do estado encarregado de prestar 
assistência judiciária gratuita a quem dela precisar, por meio da 
nomeação de defensores públicos ou advogados. A Constituição Federal 
assegurou esse direito e determinou a criação de defensorias públicas e o 
Estatuto da Criança e do Adolescente estendeu esse direito a todas as 
crianças e adolescentes. 
 Delegacia Especializada é órgão da polícia civil encarregado de 
investigar e apurar fatos em que crianças e/ou adolescentes são vítimas 
de crimes. Esse tipo de delegacia foi a solução encontrada para superar 
tanto o problema da falta de preparo das delegacias comuns quanto a 
priorização dos crimes cometidos contra a infância, que normalmentese 
diluem nas já sobrecarregadas delegacias comuns. 
 Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) configura-se 
como uma unidade pública e estatal, que oferta serviços continuados a 
famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade social. 
 Centros de Defesa são organizações não governamentais que atuam 
no campo da defesa jurídica de crianças e adolescentes que têm seus 
direitos violados. Atuam, também, na divulgação dos direitos infanto-
 
 
 
 
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juvenis, na sensibilização da população local sobre esses direitos e no 
controle da execução das políticas públicas. 
 Organizações não governamentais (ONG’s): Essas organizações da 
sociedade civil são parte integrante da Rede de Proteção, nas funções de 
Promoção (nos Conselhos de Direitos), Atendimento (em programas nas 
áreas de saúde, educação, assistência, cultura, profissionalização e 
proteção especial), Controle (Fóruns DCA), Defesa e Responsabilização 
(Centros de Defesa). 
 
 Para o funcionamento do Sistema são essenciais a integração e a articulação 
entre órgãos do poder público, sociedade e poder judiciário. Essa integração supõe 
uma reflexão sobre cada um desses atores quanto a sua identidade e com definição 
de estratégia para cada um dos espaços, com instrumentos e atores próprios. 
 O desafio é posicionar-se eficazmente dentro da estratégia geral do Estatuto, 
no que se refere à defesa do seu conteúdo, reafirmando a responsabilidade de 
todos: não há concorrência, mas sim trabalho em conjunto. 
A figura a seguir identifica as políticas públicas e as relações entre as 
organizações governamentais, não-governamentais e comunidade para atendimento 
à criança e ao adolescente, como prioridade absoluta. Todos interligados num 
grande sistema a favor da criança e da adolescente. 
 
 
 
 
 
 
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Figura 2 – Sistema de proteção 
Fonte: Elaboração própria 
 
3.1 O Conselho Tutelar e as medidas de proteção 
Art. 18 É dever de todos velar pela dignidade da criança e do 
adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, 
violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. (ECA, 1990) 
 
 
Fonte: http://www.fundacaofia.com.br/ceats/eca_gibi/08.htm 
 
O Estatuto da Criança e do Adolescente institui como um dos principais 
mecanismos de execução das políticas para crianças e adolescentes a instalação 
dos Conselhos Tutelares. 
O Art. 131 do Estatuto conceitua e define a finalidade do Conselho Tutelar: “O 
Conselho Tutelar é órgão permanente, autônomo, não jurisdicional, encarregado 
pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, 
definidos nesta Lei”. (ECA, 1990). 
O Conselho Tutelar é um órgão permanente, isto representa que uma vez 
instalado, deve funcionar ininterruptamente, cumprindo seu papel na comunidade. 
Ser autônomo significa ter liberdade e independência na atuação funcional, suas 
decisões não são submetidas a escalas hierárquicas, no âmbito da administração. A 
revisão judicial (prevista no Art.137) não fere essa autonomia, porque é de caráter 
jurisdicional e não administrativo. 
 
 
 
 
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Ser não jurisdicional significa não pertencer ao Poder Judiciário (Art.92 da CF). 
Não cabe ao Conselho Tutelar estabelecer qualquer sanção para forçar o 
cumprimento de suas decisões. Se necessário, terá que representar ao Poder 
Judiciário. 
O Conselho Tutelar é o mais legítimo instrumento de pressão e prevenção 
para que de fato o Estatuto seja vivenciado no Brasil, pois força a implantação de 
mecanismos necessários ao atendimento digno dos direitos de todas as crianças e 
dos adolescentes brasileiros, independentes das situações em que estejam 
envolvidos. 
O conselheiro é escolhido pela comunidade, em processo conduzido sob a 
responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, 
com fiscalização do Ministério Público. Cada conselho é formado por cinco 
conselheiros titulares e cinco suplentes, escolhidos em eleição direta. 
Cumpre destacar que a Lei 8069/90-ECA, coerente com a diretriz da 
municipalização, adotada pela Constituição Federal, torna obrigatória a existência de 
pelo menos um Conselho Tutelar para cada município, fixando o número de seus 
membros e a forma de sua escolha. O Art. 132 do ECA prevê: “Em cada município 
haverá, no mínimo, um Conselho Tutelar, composto por cinco membros, escolhidos 
pela comunidade local para mandato de três anos, permitida uma recondução”. 
O Conselho é uma expressão da sociedade organizada, através de seus 
escolhidos. O fato de conselheiros serem escolhidos pela comunidade local, e não 
indicados política ou administrativamente, torna-os mais legítimos no desempenho 
de suas funções, evitando inibições para acionar o Ministério Público, contra as 
instituições e poderes constituídos, quando estes violarem os direitos contidos no 
Estatuto. 
É função do Conselho Tutelar receber denúncias, comunicações e 
reclamações envolvendo violação dos direitos da criança e do adolescente, devendo 
aplicar as medidas de proteção às vítimas, quando os direitos, reconhecidos no 
ECA, “forem ameaçados ou violados por ação de omissão ou abuso dos pais ou 
responsável e em razão da própria conduta”. (Art. 98 do ECA). 
Ao comentar o Art. 98 do Estatuto, devemos ressaltar a premissa de que é 
dever da sociedade em geral e do Poder Público em especial, além da família, 
assegurar os direitos básicos às crianças e aos adolescentes. Cabe ao Conselho 
 
 
 
 
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Tutelar, quando acionado, propiciar maior agilidade no atendimento às denúncias, 
utilizando os serviços existentes na própria comunidade para ressarcir os direitos 
violados, aplicando medidas de proteção estabelecidas no ECA, no artigo 136: 
I- atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos 
Arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no Art. 101, I a VII; 
II- atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as 
medidas previstas no Art. 129, I a VII; 
III- promover a execução de suas decisões, podendo, para tanto: 
a) requisitar serviços públicos na área de saúde, educação, serviço 
social, previdência, trabalho e segurança; 
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de 
descumprimento injustificado de suas deliberações; 
IV- encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua 
infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou 
adolescente; 
V- encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência; 
VI- providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, 
dentre as previstas no Art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de 
ato infracional; 
VII- expedir notificações; 
VIII- requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou 
adolescente quando necessário; 
IX- assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta 
orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos 
da criança e do adolescente; 
X- representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação 
dos direitos previstos no Art. 220,§ 3, inciso II da Constituição 
Federal; 
XI- representar ao Ministério Público, para efeito das ações de perda 
ou pátrio poder. 
 
 O Conselho Tutelar é autônomo nas suas decisões e é parte integrante da 
estrutura governamental, possuindo vínculo administrativo. Ao definir o Conselho 
Tutelar, o Estatuto utiliza a terminologia “órgão”, mas não acrescenta a palavra 
“público”. Entretanto, na leitura do Art.131 do Estatuto, compreende-se o Conselho 
Tutelar como um dos órgãos que compõem a administração pública municipal. O 
ECA estabelece que os recursos que são destinadosao Conselho Tutelar devem ser 
dotados na Lei Orçamentária Municipal. 
O principal fator determinante para a dinâmica de funcionamento do Conselho 
Tutelar é a demanda. O Conselho é um ótimo termômetro para detectar a existência 
de problemas na comunidade. 
O que não se admite é que alguma criança ou adolescente deixe de ser 
atendido por falta de organização ou planejamento. 
 
 
 
 
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3.2 O Conselho Tutelar e a violência doméstica 
 
A violência doméstica contra a criança e o adolescente, embora repudiada 
socialmente, pode ser considerada fato cotidiano. Governos e sociedade civil 
despertam para a importância de se dar mais atenção ao grupo social formado por 
esse segmento. 
 
Fonte: http://migre.me/8HGZv 
 
A conjuntura apresentada é marcada pela exclusão social, injustiças, 
marginalização, violências e com conflitos étnicos surgindo a cada momento, aponta 
para a necessidade de não mais ser ignorada a problemática da violência contra a 
criança e o adolescente e de, ao contrário, serem viabilizados investimentos para 
esse segmento da população. 
A Violência Doméstica é entendida como uma forma de linguagem que não 
expressa apenas o intuito de educar ou de corrigir comportamentos inadequados, 
mas quer comunicar o poder dos pais sobre a criança, ou seja, o poder do mais forte 
sobre o mais fraco. [...] “a violência na família brasileira existe, esta família não é 
sagrada, nem intocável e pode em alguns momentos oferecer grandes riscos à 
integridade de uma criança”. (GUERRA, 1998, p.154). 
A notificação sobre violência física doméstica é a que mais chega aos 
serviços de proteção e de saúde, pois é facilmente detectada, através das marcas 
deixadas no corpo da criança ou adolescente. Reconhecemos o Conselho Tutelar 
como legítimo instrumento de pressão e prevenção para que de fato o Estatuto da 
Criança e do Adolescente seja vivenciado no Brasil, destacando a legitimidade do 
 
 
 
 
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órgão para atender às denúncias que lhes são apresentadas e quais suas reais 
possibilidades para o enfrentamento da violência de pais contra filhos. 
Importante lembrar que a aprovação de uma lei não é suficiente para mudar 
uma concepção tão arraigada na nossa sociedade, mas é capaz de oferecer 
instrumentos para a mudança. Assim, podemos afirmar que nenhum Conselho 
poderá desempenhar o seu papel sem o apoio e reconhecimento dos demais 
organismos que atuam seja na esfera do poder público, seja no âmbito da sociedade 
civil, voltados para a problemática dos direitos da infância e da adolescência. 
O ECA reconhece a importância da denúncia de casos de violação de 
direitos, conforme traz o Art.13: “Os casos de suspeita de maus-tratos contra a 
criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da 
respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências”. 
Ao aplicar uma das medidas do art. 101 ou 109, o Conselho Tutelar, está 
emanando um ato administrativo. Portanto, os conselheiros devem estar atentos aos 
cinco requisitos necessários à formação do ato administrativo válido: Competência, 
Finalidade, Forma, Motivo e Objeto. Limitações são impostas muitas vezes, ao 
Conselho pela própria forma como os poderes públicos, na esfera municipal, atuam 
no sentido de dificultar sua viabilidade, bem como a própria ação dos conselheiros. 
 
Ao inter-relacionar família-comunidade-sociedade-Estado, como o 
quarteto assegurador de direitos, geradores da paz social que emana 
da família e que tem no Estado a garantia de sua recomposição 
quando fraturada, ou assumindo seu lugar quando por qualquer 
razão fracassa, o ECA, novamente, revela sua faceta 
intervencionista. (PASSETTI, 1999b, p.56). 
 
E essa intervenção, concluímos, dá-se através do Conselho Tutelar, que tem 
a função de atender as denúncias de violação dos direitos de crianças e 
adolescentes. Diante do caso concreto, cabe-lhe agir para que cesse a violação 
ressarcindo os direitos violados e promover a responsabilização do agressor. 
A despeito das dificuldades para a aplicação das medidas de proteção, 
acreditamos que o Conselho Tutelar tem atuado como braço social e institucional de 
garantias de direitos. Sem dúvida, acreditamos que o primeiro passo para enfrentar 
a violência doméstica é indignar-se, recusar sua banalização e a partir disso, 
 
 
 
 
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construir alternativas para que progressivamente seja alijada no cotidiano das 
famílias e da própria sociedade. 
A cultura trazida pelo ECA implica que os que estão fazendo repensem sua 
prática, e os que estão pensando, reforcem suas teorias, numa relação dialética. 
Desse movimento, deve brotar um conhecimento profícuo e ações que respondam 
às exigências da realidade de nossas crianças e adolescentes. 
 
3.2.1 Violência sexual 
O novo olhar sobre a situação da criança e do adolescente, a partir do ECA, 
fez com que começasse a se tornar visível a triste realidade de violência perpetrada 
contra meninos e meninas em todo o mundo. Este é um fenômeno que atinge todas 
as classes e ambos os sexos. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente juntamente com outras normas e 
acordos internacionais, fez com que o abuso e a exploração sexual de crianças e 
adolescentes deixassem de ser apenas um crime contra a liberdade sexual e se 
transformassem numa violação dos direitos humanos, ou seja, direito ao respeito, à 
dignidade, à liberdade, à convivência familiar e comunitária e ao desenvolvimento de 
uma sexualidade saudável. 
A partir de 1991 ocorreu a disseminação do paradigma dos direitos da criança 
e do adolescente, difundido pelo movimento dos direitos da criança e expresso no 
Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, que criou as bases para o surgimento 
de um sentimento de intolerância em relação à violência sexual contra crianças e 
adolescentes. Esse paradigma deu origem na sociedade brasileira, a uma nova 
consciência de que as crianças têm “o direito de terem direitos”, criou novos 
parâmetros para aferir as violações maciças dos direitos da criança, bem como 
gerou novos instrumentos legais para o enfrentamento das violações dos direitos da 
criança. (SÁ. 2001) 
A complexidade da violência sexual demanda ações urgentes e enérgicas, 
capazes de interromper a reprodução do ciclo de violência. 
Apesar de o abuso sexual doméstico representar a maioria dos casos de 
violência sexual contra crianças e adolescentes, o eixo da exploração sexual 
(prostituição infanto-juvenil, pornografia, sexo-turismo e tráfico de crianças e 
 
 
 
 
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adolescentes para fins sexuais) transforma-se gradativamente em carro-chefe da 
mobilização social brasileira tendo em vista seu poder aglutinador. 
 
3.2.2 Formas da violência sexual 
 
 O abuso sexual intra e/ou extrafamiliar pode se expressar de diversas formas: 
a) Abuso sexual sem contato físico: São práticas sexuais que não 
envolvem contato físico: 
 O assédio sexual caracteriza-se por propostas de relações sexuais. Baseia-
se, na maioria das vezes, na posição de poder do agente sobre a vítima, que 
é ameaçada pelo autor da agressão. 
 O abuso sexual verbal pode ser definido por conversas abertas sobre 
atividades sexuais destinadas a despertar o interesse da criança ou do 
adolescente ou a chocá-los. 
 Os telefonemas obscenos são também uma modalidade de abuso sexual 
verbal. A maioria deles é feita por adultos, especialmente do sexo masculino. 
Podem gerar muita ansiedade na criança, no adolescente e na família. 
 O exibicionismo é o ato de mostrar os órgãos genitais ou se masturbar 
diante da criança ou do adolescenteou no campo de visão deles. A 
experiência pode ser assustadora para algumas crianças e adolescentes. 
 O voyeurismo é o ato de observar fixamente atos ou órgãos sexuais de 
outras pessoas, quando elas não desejam serem vistas e obter satisfação 
com essa prática. A experiência pode perturbar e assustar a criança e o 
adolescente. 
 A pornografia é uma forma de abuso que pode também ser enquadrada 
como exploração sexual comercial, uma vez que, na maioria dos casos, o 
objetivo da exposição da criança ou do adolescente é a obtenção de lucro 
financeiro. 
b) Abuso sexual com contato físico 
São atos físico-genitais que incluem carícias nos órgãos genitais, tentativas 
de relações sexuais, masturbação, sexo oral, penetração vaginal e anal. Podem ser 
tipificados em: atentado violento ao pudor, corrupção de menores, sedução e 
estupro. 
 
 
 
 
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c) Pedofilia 
O conceito social de pedofilia define-se pela atração erótica por crianças. 
Essa atração pode ser elaborada no terreno da fantasia ou se materializar em atos 
sexuais com meninos ou meninas. Nesse aspecto, há muitos pedófilos pelo mundo 
que não cometem violência sexual, satisfazem-se sexualmente com fotos de revistas 
ou imagens despretensiosas de crianças, mas que geram neles intenso desejo 
sexual. Atuam na fantasia e, muitas vezes, não têm coragem de por em ato seu real 
desejo. Estudos vêm apontando que o indivíduo adepto da pedofilia e/ou da prática 
de pedofilia é indivíduo aparentemente normal, inserido na sociedade. Muitos têm 
atividades sexuais normais com adultos, não têm fixação erótica única por crianças, 
mas são fixados no sexo. 
 
3.3 O ato infracional e a questão da imputabilidade penal 
Uma das distorções mais frequentes quando tratamos a questão do ato 
infracional é acreditar que as crianças e adolescentes que cometem ato infracional 
não são responsabilizados. Essa crença, de boa parte da opinião pública, advém da 
dificuldade que muitos profissionais e muitas pessoas têm em diferenciar 
“imputabilidade” e “impunidade”. 
Imputabilidade significa a possibilidade legal de receber uma punição por 
seus atos. A Constituição Brasileira dispõe que até a idade de 18 anos, um 
adolescente é considerado inimputável, ou seja, não pode ser punido conforme 
previsto no Código Penal, mas recebe as medidas socioeducativas previstas no 
ECA. 
Como consequência de seus atos, a criança deve ser submetida às medidas 
de proteção, previstas no ECA (Art. 101). A partir dos 12 anos de idade, aplicam-se 
as medidas socioeducativas (art. 112 do ECA), que são muito mais severas do 
que as de proteção e devem ter caráter construtivo, como prestação de serviço à 
comunidade, ou até privação de liberdade, como a internação. Ainda temos as 
medidas de: advertência, obrigação de reparar o dano; liberdade assistida; inserção 
em regime de semiliberdade. 
Em resumo, no Brasil, adolescentes são penalmente responsáveis, isto é, 
pode-se atribuir a eles conduta definida na lei criminal (morte, roubo, furto ou 
 
 
 
 
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agressão). Entretanto, não respondem pelos seus atos de acordo com o Código 
Penal. Conforme determinado no ECA, respondem pelos seus atos diante do Juiz da 
Infância e da Juventude. 
Atualmente temos o SINASE - Sistema Nacional de Atendimento 
Socioeducativo, que regulamenta a execução das medidas socioeducativas 
aplicadas aos adolescentes: 
 
 
Sancionada lei que institui o Sistema Nacional de 
Atendimento Socioeducativo (Sinase) 
 
A presidenta Dilma Rousseff sancionou a lei 12.594, que institui o Sistema 
Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), que regulamenta a execução das 
medidas socioeducativas destinadas a adolescentes que estejam em conflito com a lei. 
O Sinase busca uniformizar, em todo o País, o atendimento aos adolescentes em 
conflito com a lei e o processo de apuração de infrações cometidas. O projeto de 88 artigos, 
aprovado pelo Congresso Nacional em dezembro de 2010, estabelece as medidas 
socioeducativas que devem ser adotadas para reinserção sociocultural do adolescente. 
 
Veja a notícia na íntegra, disponível em: 
<http://www.obscriancaeadolescente.gov.br/todas-noticias/571-sancionada-lei-que-institui-
o-sinase> Acesso em 17 abr. 2012. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 4 – ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO DE CRIANÇAS E 
ADOLESCENTES 
 
Sabe-se que a educação, cultura, arte, lazer e esporte podem ser 
instrumentos eficientes, capazes de contribuir, inclusive, com o fim da violência e 
com a formação de uma consciência cidadã. Assim, devemos procurar formas de 
fazer a nossa parte. 
Ser cidadão é buscar formas de participar ativamente das decisões de sua 
comunidade, influenciar modos de vida de maneira positiva ao seu redor, exercer os 
direitos constitucionais adquiridos e lutar 
pelos que virão. É preservar o meio 
ambiente, a natureza, os animais, os seus 
semelhantes, os opostos. É ser solidário, 
político, flexível, decidido e, principalmente, 
estar consciente de todas as atitudes 
tomadas em prol da sociedade. 
Fonte: http://migre.me/8It57 
Dallari ressalta que: 
 
A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a 
possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu 
povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da 
vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de 
inferioridade dentro do grupo social (1998, p. 14). 
 
Ser cidadão é ter consciência de que é sujeito de direitos. Direito à vida, à 
liberdade, à propriedade, à igualdade de direitos, enfim, direitos civis, políticos e 
sociais. E ainda, ser cidadão implica em cumprir com seus deveres enquanto 
membro da coletividade. 
Cidadania, segundo Marshal (1972), se refere a tudo o que vai desde o 
direito a um mínimo de bem-estar econômico e segurança ao direito de participar, 
por completo, na herança social e levar a vida de um ser civilizado de acordo com os 
padrões que prevalecem na sociedade. 
 
 
 
 
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Ao longo da história, as crianças e adolescentes não tiveram acesso às 
questões de cidadania. Fato que se alterou principalmente após a promulgação da 
Constituição Federal de 1988 e também do 
Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), que 
provocaram uma mudança significativa no que se 
refere ao reconhecimento da criança e do 
adolescente como cidadãos de direitos, bem 
como no que tange à construção de uma rede de 
proteção e de atendimento que favorecessem o 
desenvolvimento familiar e comunitário das 
mesmas. 
 Fonte: http://migre.me/8IuO6 
 
Neste sentido, a regulamentação dos dispositivos constitucionais 
relativos à infância e à adolescência por meio do Estatuto da Criança 
e do Adolescente - ECA estabeleceu nova concepção, organização e 
gestão das políticas de atenção a este segmento da sociedade, 
dando origem a um verdadeiro sistema de garantia de direitos. Do 
ponto de vista da concepção, esse sistema destaca-se pelo caráter 
abrangente, pois incorpora tanto os direitos universais de todas as 
crianças e adolescentes brasileiros quanto a proteção especial a que 
fazem jus aqueles que foram ameaçados ou violados em seus 
direitos. (AQUINO, 2004, p. 328) 
 
Portanto, promove a articulação entre os diferentes atores e políticas 
setoriais para a proteção de crianças e adolescentes, reconfigurando o aspecto da 
integralidade desta rede de proteção. Esta rede de proteção abrange muitos 
atendimentos, diferenciados pelo nível de proteção a que pertencem e ao grau de 
vulnerabilidade, de violação de direitos de cada criança. Envolve a articulação entre

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