ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS E SAÚDE PÚBLICA: REFLEXÕES A PARTIR DO ASSENTAMENTO JOANA D’ARC (CELEBRIDADE) 1Erlon Moreira Castilho geoerlon@yahoo.com.br Resumo: O futuro é incerto, e é neste contexto que se encontra hoje a saúde ambiental, com os desafios de promover uma melhor qualidade de vida e saúde nas cidades e a oportunidade de enfrentar nosso absurdo quadro de exclusão social, sob a perspectiva da eqüidade. O assentamento “Joana D’Arc” (Celebridade) é exemplo de como a falta de infra-estrutura contribui para uma caracterização onde a população vive em condições insalubres, estando sujeitos a diferentes tipos de doenças, causadas principalmente, pelas contaminações oriundas da precariedade das ações em saneamento. Dessa forma, o objetivo desse artigo é analisar os índices de doenças infecto-parasitárias relacionando-os ao processo de formação do assentamento e da infra-estrutura de saneamento básico. Palavras-chave: saneamento básico, doenças infecto-parasitárias, saúde pública. 1 ERLON. M. C. – Graduado em Geografia pela Faculdade Católica de Uberlândia – FCU (2007) 2 1 - Introdução: A gestão ambiental apresenta prática de gerenciamento que se baseia nos parâmetros de desenvolvimento sustentável. Essa atuação vem sendo reforçada nos últimos anos, tendo em vista a preocupação com os efeitos das ações antrópicas sobre o meio ambiente. No Setor Leste do município de Uberlândia-MG, mais específico no assentamento “Joana D’arc”, conhecido hoje por “Celebridade”, da região periferia da área urbana do município, são notórios tais processos, uma vez que, a partir de sua formação tornou-se relevante o índice de doenças infecto-parasitárias dos moradores pela falta e/ou pela precariedade dos serviços de saneamento básico. O poder público municipal têm demonstrado preocupações no que tange essas ações em relação à saúde da população dessa região. Atuando com responsabilidade sócio-ambiental através da implantação do Sistema de Gestão Ambiental que é a parte de um sistema da gestão de uma organização utilizada para desenvolver e implementar sua política ambiental, para gerenciar seus aspectos ambientais e utilizando das leis ambientais, iniciando pelo cumprimento da Constituição Federal de 1988 que indica por seu Art. 225: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para os presentes e futuras gerações. Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS; saúde é o "bem estar físico, mental e social do cidadão"; e saneamento o "controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem efeitos deletérios sobre o seu bem estar físico, mental ou social". Conforme a Lei Número 11.445, (05/01/2007), que aborda como princípio a universalidade do acesso aos serviços de saneamento e a integralidade, no Artigo 3º determina que o saneamento básico baseia-se num conjunto de serviços de infraestrutura e instalações operacionais de: a) abastecimento de água potável: constituído pelas atividades, infra-estruturas e instalações necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até as ligações prediais e respectivos instrumentos de medição; 3 b) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infra-estruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente; c) limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividades, infra- estruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas; d) drenagem e manejo das águas pluviais urbanas: conjunto de atividades, infra- estruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de águas pluviais, de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas; O saneamento básico pode ainda ser definido como o conjunto de serviços e ações com o objetivo de alcançar níveis crescentes de salubridade ambiental. Como uma questão essencialmente de saúde pública, o acesso aos serviços de saneamento básico deve ser tratado como um direito do cidadão, fundamental para a melhoria de sua qualidade de vida. Com base na Lei número 11.145/2007, que estabelece as diretrizes nacionais para a política de saneamento, é possível constatar que existe um déficit na oferta desses equipamentos em todo o país, principalmente com relação ao esgotamento sanitário, considerado o mais precário e deficiente dos serviços pelos seus baixos índices e pela extensão da rede coletora. A noção de problemas ambientais não só permite uma maior incorporação das ciências sociais para a sua compreensão e resolução, mas se encontra mais em consonância com o projeto da saúde coletiva. Essa noção permite considerar que no projeto da saúde coletiva não só a saúde surge como uma conquista social é um direito universal associados à qualidade e à proteção da vida, como afirma Minayo (1997), mas também o ambiente. Nesta perspectiva, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia para a compreensão dos problemas ambientais, que são simultaneamente problemas de saúde deverá, como considera Minayo (1997), estar ao serviço do sentido social, político e de direito universal, o que inclui a eqüidade. 4 Portanto, podemos associar o conceito de saúde pública ao de saneamento básico, onde a falta deste leva a sérias conseqüências. Entre elas: A ausência de sistemas adequados de esgotamento sanitário obriga as comunidades a conviverem com seus próprios excrementos, agravando os riscos de mortalidade devido a doenças transmissíveis por veiculação hídrica ou por vetores (moscas, mosquitos, baratas, ratos e outros): cólera, esquistossomose, males gastrointestinais; a ausência de abastecimento de água, além de agravar igualmente as condições de saúde, não possibilita os cuidados com a higiene pessoal e doméstica e as formas inadequadas de disposição de lixo urbano, lançados nos lixões a céu aberto ou nas águas, afetam o ambiente, poluindo o solo, a água, o ar, destruindo fauna e flora e prejudicando as comunidades locais que passam a conviver com os agentes patogênicos (vírus, bactérias, protozoários e fungos) e vetores transmissores de doenças. Segundo o diagnóstico elaborado para a realização da Conferência Nacional das Cidades, com base nos dados divulgados por pesquisas do IBGE, é justamente aos mais pobres que o saneamento mais falta. A maioria dos cerca de 18 milhões de pessoas que não tem acesso à água encanada nas áreas urbanas moram em habitações precárias nas “favelas, invasões, loteamentos clandestinos e bairros populares das periferias dos grandes centros, ou em pequenos municípios particularmente do semi-árido”. Pesquisas realizadas nos países desenvolvidos comprovaram que a implantação de medidas de saneamento básico - abastecimento de água, esgotamento sanitário, destinação final adequada dos resíduos (lixo) e controle de vetores - preveniram a ocorrência de enfermidades, reduzindo em média: a mortalidade por diarréia em 26%; a ascaridíase em 29%; o tracoma, enfermidade ocular, em 27%; a esquitossomose em 77%;