Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA Aula 3 – Atividade Financeira do Estado Professora Eveline Lima O ESTADO E OS RECURSOS NECESSÁRIOS À SUA MANUTENÇÃO Como é da essência do homem viver entre semelhantes e ter liberdade para conduzir-se de diversas maneiras, o DIREITO surgiu para estabelecer normas de conduta capazes de equacionar conflitos de interesses e viabilizar a convivência humana. A complexidade das relações fez com que os laços familiares e sociais não fossem suficientes para garantir a eficácia do Direito, sendo necessária uma entidade superior para imprimir maior eficácia às normas de conduta. Organizou-se, então, o ESTADO. Para manter e atender suas finalidades, o Estado necessita de recursos, obtidos de diversas maneiras, sendo a imposição compulsória, decorrente da soberania, a mais comum. Por esta razão diz-se que o TRIBUTO é inerente ao estado, em qualquer tempo ou lugar. CONCEITO “Ramo do Direito Público que estuda a atividade financeira do Estado sob o ponto de vista jurídico”. (HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1998, p. 34) “Ramo do ordenamento jurídico que regula a atividade relacionada com a obtenção, a administração e a aplicação dos recursos necessários à subsistência e ao funcionamento do Poder Público”, ou seja, “é o conjunto de regras e princípios que se ocupa da obtenção das receitas públicas (excetuadas as de natureza tributária e as acessórias destas), dos orçamentos, da dívida e da despesa pública”. (MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Direito Tributário e Financeiro. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 3) OBJETO: a disciplina normativa da atividade financeira do Estado, que se desdobra em receita, despesa, orçamento e crédito público. DIREITO FINANCEIRO AUTONOMIA: a Constituição Federal consagrou a autonomia do Direito Financeiro: Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito tributário, financeiro, penitenciário... (...) §1º. No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar- se-á a estabelecer normas gerais. (cabe à Constituição disciplinar de forma geral e não pormenorizada, sendo vedado exaurir o assunto) NORMAS GERAIS: a serem observadas pela União, pelos Estados, DF e Municípios ‒ Lei n° 4.320/64 (lei ordinária com status de lei complementar, pois traz matéria que só pode ser disciplinada por esta): estatui normas gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. ‒ Lei Complementar n° 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal): estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. DIREITO TRIBUTÁRIO CONCEITO “Disciplina da relação entre fisco e contribuinte, resultante da imposição, arrecadação e fiscalização dos impostos, taxas e contribuições”. (NOGUEIRA, Ruy Barbosa Apud HARADA, Kiyoshi. 1998, p. 199) “Conjunto de regras e princípios que regulamenta a instituição e a cobrança de tributos e dos seus acessórios (juros, penalidades etc.)”. (MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. 2012, p. 25) OBJETO “Tributos que o Estado decreta com base no princípio de autoridade, no exercício da soberania”. (HARADA, Kiyoshi. 1998, p. 198) “Obtenção de recursos públicos (...) – através da instituição e da cobrança de tributos – ocorra dentro de limites jurídicos preestabelecidos por representantes dos cidadãos, de forma isonômica, não confiscatória etc”. (MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. 2012, p. 25) NORMAS GERAIS: ‒ Constituição Federal ‒ Código Tributário Nacional 2 ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO 1. Conceito: “atuação estatal voltada para obter, gerir e aplicar os recursos financeiros necessários à consecução das finalidades do Estado que, em última análise, se resumem na realização do bem comum”. (HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1998, p. 26) A atividade financeira do Estado se desenvolve, basicamente, nas seguintes áreas: Receita (Obtenção de recursos) Orçamento (Planejamento / gestão) Despesa (Aplicação de recursos) 2. Função da atividade financeira: satisfação das necessidades públicas. Finalidade do Estado: realização do bem comum; para isto, o Estado precisa prover e aplicar recursos financeiros, que é o objetivo da atividade financeira do Estado. Daí porque os fins da atividade financeira coincidem com as finalidade da atuação estatal destinada à satisfação das necessidade coletivas. Finalidade da atuação estatal ⇔⇔⇔⇔ Fins da atividade financeira Finalidade do Estado Realização do bem comum Prover e aplicar recursos financeiros NECESSIDADE COLETIVA ≠ NECESSIDADE PÚBLICA � NECESSIDADE COLETIVA: construção de edifício público, cemitérios, estádios, hospitais, pontes, praças, viadutos, abertura de ruas, avenidas, estradas vicinais e rodovias, manutenção do serviço de transporte e comunicação, preservação de monumentos históricos e artísticos, defesa interna/externa, prestação jurisdicional, assistência social, previdência social, saúde e higiene, educação e cultura e diversos outros bens e serviços. � NECESSIDADE PÚBLICA: necessidade de interesse geral, coletivo, que o legislador insere no ordenamento jurídico, em nível constitucional ou legal, imputando ao Estado a obrigação de satisfazê-la sob o regime de direito público (serviço público). 1) Receita Pública: entrada de recurso que, integrando-se no patrimônio público sem quaisquer reservas, condições ou correspondência no passivo, vem acrescer o seu vulto, como elemento novo e positivo”. (MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. 2012, p. 25) Observação: para a Lei n° 4.320/64, são tratados como receita todos os ingressos, inclusive os oriundos de operações de crédito. Ingresso de quantia nos cofres de uma entidade que não configure acréscimo ao seu patrimônio não é receita, pois não configura riqueza nova. Exemplo: União recebe quantia que havia emprestado ou toma valor emprestado de um particular. Receita: ingresso de quantia nova que é incorporada ao patrimônio do ente que a recebe. Exemplo: União recebe R$ 10.000,00 de contribuinte que paga Imposto de Renda. OBJETOS DA ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO 1.1) Espécies de Receita Pública (a) Quanto à periodicidade com que a receita é auferida Extraordinárias: recebidas esporadicamente e, portanto, não são fonte permanente de custeio do Tesouro. Exemplo: imposto extraordinário de guerra, doação, herança jacente (não há herdeiros e os bens são incorporados ao patrimônio público) etc. Ordinárias: auferida com periodicidade regular. Exemplo: ICMS, IPTU, IR etc. (b) Quanto à origem ou atividade da qual é obtida Originárias: decorrente da exploração de bens e empresas do Poder Público, no exercício de atividade assemelhada a dos cidadãos em geral, ou seja, origina-se de atividade desempenhada pelo próprio Estado. Exemplo: aluguel de bem público, preços públicos etc. Derivadas: obtida compulsoriamente, em função de constrangimento legal exercido pelo Poder Público sobre o setor privado. Exemplo: tributos em geral e penalidades pecuniárias (multas). (c) Quanto à forma de utilização Correntes: auferidas com o propósito de serem exauridas dentro do período anual. Ex.: receita tributária usada no decurso da execução orçamentária (com previsão anual). De capital: não são auferidas para utilização usual, com despesas correntes, razão pela qual alteram o patrimônio do Estado de forma duradoura. Lei n° 4.320, de 17 de março de 1964 Art. 11. A receita classificar-se-á nas seguintes categorias econômicas: Receitas Correntes e Receitas de Capital. 3 §1°. São Receitas Correntes as receitas tributária, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito públicoou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas Correntes. §2°. São Receitas de Capital as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; da conversão, em espécie, de bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital e, ainda, o superávit do Orçamento Corrente. 1.2) Repartição Constitucional de Receitas (a) Atribuição de competências: confere ao ente tributante aptidão de criar/arrecadar determinado tributo. (b) Repartição de receitas: atribui-se ao ente central a competência de instituir/arrecadar o tributo, mas se lhe impõe o dever de dividir com os entes periféricos o recultado desta arrecadação. Essa receita partilhada não se confunde com a”transferência voluntária” que um ente pode fazer ao outro. 2) Orçamento Público: é veiculado por lei e estabelece a previsão de realização de despesas. É possível que uma despesa prevista no orçamento não seja realizada, todavia, não pode ocorrer o contrário (realização de despesa não prevista no orçamento). Quanto à receita, não é indispensável sua previsão no orçamento para que possa ser exigida. 2.1) Espécies de Orçamento Plano Plurianual: estabelece metas genéricas e planejamento de longo prazo (quatro anos). Lei de Diretrizes Orçamentárias: implementa essas metas de modo mais específico, sob a forma de diretrizes, orientando como deve ser feita a lei orçamentária. Lei Orçamentária anual: deve conter a previsão específica de receitas e despesas para o exercício subsequente, através dos orçamentos propriamente ditos, que são três (distintos e autônomos entre si): orçamento fiscal da União, orçamento de investimentos, orçamento da seguridade social. 3) Despesa Pública: conjunto de dispêndios do Estado, para o funcionamento dos serviços públicos ou aplicação de certa quantia, em dinheiro, por parte da autoridade ou do agente público competente, com autorização legislativa, para execução de fim a cargo do governo. (BALEEIRO, Aliomar Apud MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Direito Tributário e Financeiro. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 10) OBSERVAÇÃO: A Lei de Responsabilidade Fiscal (LC n° 101/2000) disciplinou rigidamente as despesas públicas. Exemplo: Art. 16. A criação, expansão ou aperfeiçoamento de ação governamental que acarrete aumento da despesa será acompanhado de: I - estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva entrar em vigor e nos dois subseqüentes; II - declaração do ordenador da despesa de que o aumento tem adequação orçamentária e financeira com a lei orçamentária anual e compatibilidade com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias. (...) §3°. Ressalva-se do disposto neste artigo a despesa considerada irrelevante, nos termos em que dispuser a lei de diretrizes orçamentárias. Art. 17. Considera-se obrigatória de caráter continuado a despesa corrente derivada de lei, medida provisória ou ato administrativo normativo que fixem para o ente a obrigação legal de sua execução por um período superior a dois exercícios. §1°. Os atos que criarem ou aumentarem despesa de que trata o caput deverão ser instruídos com a estimativa prevista no inciso I do art. 16 e demonstrar a origem dos recursos para seu custeio. §2°. Para efeito do atendimento do § 1o, o ato será acompanhado de comprovação de que a despesa criada ou aumentada não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo referido no § 1o do art. 4o, devendo seus efeitos financeiros, nos períodos seguintes, ser compensados pelo aumento permanente de receita ou pela redução permanente de despesa. §3°. Para efeito do § 2o, considera-se aumento permanente de receita o proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição. (...) §7°. Considera-se aumento de despesa a prorrogação daquela criada por prazo determinado. Despesa considerada não autorizada, irregular e lesiva ao patrimônio público: aquelas que não atendem aos requisitos dos arts. 16 e 17, da LRF, e não sejam irrelevantes (art. 16, §3°, LRF) ou que contrariem outros dispositivos legais ou constitucionais. 3.1) Espécies de Despesa Pública (a) Quanto à periodicidade da despesa Extraordinárias: aquelas eventuais e esporádicas. Exemplo: custeio de uma guerra. Ordinárias: ocorrem com habitualidade, periodicidade regular. Exemplo: manutenção do Poder Judiciário. (b) Quanto à destinação da despesa Despesas Correntes ‒ Despesas de custeio: destinadas à manutenção de serviços anteriormente criados e a atender obras de conservação e adaptação de bens imóveis. Ex.: despesa com pessoal, serviço prestado por terceiros etc. (art. 12, §1°) ‒ Transferências correntes: dotações para despesas às quais não corresponda contraprestação direta em bens ou serviços. Ex.: pagamento de aposentadoria e pensão (art. 12, §2°, LRF). Despesas de capital ‒ Investimentos: dotações para planejamento e execução de obras (art. 12, §4°, LRF). ‒ Inversões financeiras: dotações orçamentárias para os fins especificados no art. 12, §5°, LRF. ‒ Transferências de capital: dotações orçamentárias para investimentos ou inversões financeiras, nos termos especificados no art. 12, §6°, LRF. Lei n° 4.320, de 17 de março de 1964 Art. 12. A despesa será classificada nas seguintes categorias econômicas: 4 DESPESAS CORRENTES Despesas de Custeio Transferências Correntes DESPESAS DE CAPITAL Investimentos Inversões Financeiras Transferências de Capital §1°. Classificam-se como Despesas de Custeio as dotações para manutenção de serviços anteriormente criados, inclusive as destinadas a atender a obras de conservação e adaptação de bens imóveis. §2°. Classificam-se como Transferências Correntes as dotações para despesas as quais não corresponda contraprestação direta em bens ou serviços, inclusive para contribuições e subvenções destinadas a atender à manifestação de outras entidades de direito público ou privado. (...) §4°. Classificam-se como investimentos as dotações para o planejamento e a execução de obras, inclusive as destinadas à aquisição de imóveis considerados necessários à realização destas últimas, bem como para os programas especiais de trabalho, aquisição de instalações, equipamentos e material permanente e constituição ou aumento do capital de emprêsas que não sejam de caráter comercial ou financeiro. §5°. Classificam-se como Inversões Financeiras as dotações destinadas a: I - aquisição de imóveis, ou de bens de capital já em utilização; II - aquisição de títulos representativos do capital de emprêsas ou entidades de qualquer espécie, já constituídas, quando a operação não importe aumento do capital; III - constituição ou aumento do capital de entidades ou emprêsas que visem a objetivos comerciais ou financeiros, inclusive operações bancárias ou de seguros. §6°. São Transferências de Capital as dotações para investimentos ou inversões financeiras que outras pessoas de direito público ou privado devam realizar, independentemente de contraprestação direta em bens ou serviços, constituindo essas transferências auxílios ou contribuições, segundo derivem diretamente da Lei de Orçamento ou de lei especialmente anterior, bem como as dotações para amortização da dívida pública. 4) Dívida Pública: decorre da celebração de empréstimos públicos, ou seja, atos através dos quais o Estado se beneficia de uma transferência de liquidez com a obrigação de devolvê-la no futuro, normalmente com o pagamento de juros. Considera-se também dívida pública a concessão de garantias e avais, pois podem gerar endividamento. OBSERVAÇÃO: o conceito jurídico de dívida pública é restrito e limitado aos empréstimos (decorrentes de contratos assinados com instituições financeiras, da emissão de títulos ou da concessão de avaise outras garantias), não abrangendo os encargos da Administração pública em geral (relativas a aluguéis, aquisição de bens, prestações de serviços, condenações judiciais etc.), embora estas também sejam “dívidas” do Estado. � Alguns autores tratam este assunto sob a denominação de “crédito público” ou “empréstimo público”. 4.1) Classificações da Dívida Pública (a) Dívida interna ou externa Interna: captada no âmbito do território do estado respectivo (com emissão de títulos no mercado interno ou empréstimos celebrados com instituição financeira estabelecida no País). Externa: captada no exterior (com o FMI, Estados estrangeiros, bancos estrangeiros, títulos lançados no exterior). (b) Dívida fundada ou flutuante Fundada ou consolidada: decorre de empréstimo de médio ou longo prazo. Flutuante: contraída em curto prazo.
Compartilhar