Buscar

Materia super explicada!!

Prévia do material em texto

RESPONSABILIDADE CIVIL
Apresentação da matéria.
“A vida em sociedade requer obediência a certos preceitos de convivência. Somente assim é possível viver pacificamente. Dentre tais normas de convivência, encontra-se o dever jurídico de não lesar a ninguém (neminem laedere). Esse dever social, elementar à própria ordem jurídica, impõe, em princípio, que uma pessoa não deve causar um dano a outra.
Devemos respeitar os direitos alheios, a fim de que os nossos próprios direitos também sejam respeitados pelas outras pessoas. Por isso, é essencial que evitemos, ao máximo, prejudicarmos uns aos outros.
Entretanto, por causa da constante luta pela sobrevivência, os seres humanos acabam gerando danos uns aos outros. Sempre que isso ocorre, surge a necessidade de reparação.
O direito exerce importante papel nesse processo de reparação, cabendo-lhe preservar ou restabelecer o equilíbrio pessoal e a harmonia social. Diante desse contexto, o estudo da responsabilidade civil assume papel cada vez mais relevante.
A consideração dos diversos aspectos da responsabilidade civil envolve uma certa complexidade. Em virtude de sua vastidão, a responsabilidade civil ultrapassa os limites da legislação codificada, para atingir a seara doutrinária e jurisprudencial, de onde retira muitos de seus elementos. Daí a necessidade do estudo e pesquisa constantes.
Além da constância com que nos deparamos com as questões relativas ao dever de indenização no dia-a-dia, o tema é também objeto frequente de provas e concursos. Em qualquer exame em que se exija do candidato algum conhecimento jurídico, estão presentes questões relacionadas à responsabilidade civil.” — LIGIERA, Wilson Ricardo. Prefácio. In: BIELA JR. Direito civil: teoria geral da responsabilidade civil. São Paulo: Nelpa, 2011 (Coleção Simplificado).
 
Introdução à Responsabilidade Civil.
O ordenamento jurídico visa proteger os atos realizados em harmonia com a lei e reprimir aqueles praticados em sua violação. Assim, ao mesmo tempo em que tutela a atividade do homem que se comporta de acordo com o Direito, reprime a conduta daquele que o contraria. Quem causa um prejuízo a alguém, pode ser obrigado pelo Direito a repará-lo, a fim de restabelecer a ordem social. A esse dever de reparação dá-se o nome de responsabilidade civil.
A noção da responsabilidade pode ser obtida da própria origem da palavra, que vem do latim respondere, que significa responder. Ou seja, a responsabilidade advém da ideia de que, se alguém causa dano a outrem, deve responder pelos seus atos danosos.
A responsabilidade divide-se em responsabilidade penal e responsabilidade civil.
A responsabilidade penal resulta da violação de uma norma penal, de direito público, lesando interesse da sociedade e sujeitando seu autor a ser privado de sua liberdade, de acordo com a pena prevista em lei.
Na responsabilidade civil, o interesse violado é o privado, podendo a pessoa lesada pleitear a reparação, a fim de ser ressarcida do prejuízo sofrido.
Responsabilidade civil pode ser conceituada como a aplicação de medidas destinadas a obrigar uma pessoa a reparar um dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em decorrência de um ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa que a ela pertence ou de simples imposição legal.
 
Referências históricas do direito em estudo.
A responsabilidade civil passou por uma série de transformações no decorrer dos tempos. De uma responsabilidade fundada da justiça retributiva, concebeu-se a responsabilidade assentada na justiça distributiva. Ao iniciar o estudo da responsabilidade civil, convém relembrar os principais períodos históricos pelos quais ela passou.
Nos primórdios da humanidade, imperava a vingança privada. Inicialmente, essa vingança era ilimitada e até desproporcional à ofensa sofrida. Posteriormente, a vingança privada acabou sendo regulamentada, a fim de que passasse a ser proporcional ao dano experimentado pela vítima. Surge, assim, a chamada “Lei de Talião”, do “olho por olho, dente por dente”.
Num período posterior, temos a composição econômica. De início, tratava-se de uma composição voluntária, que ficava a critério da vítima. Num estágio mais avançado, surgiu a composição tarifada e obrigatória.
Percebe-se que, com o tempo, abandonou-se a ideia de se fazer justiça com as próprias mãos. A justiça passou a ser realizada pelo Estado.
No Direito Romano, foi feita uma importante distinção entre os delitos públicos e privados. Os delitos públicos correspondiam àquelas ofensas mais graves, diante do que a pena era recolhida aos cofres públicos. Nos delitos privados, as ofensas eram menos graves e afetavam mais a vítima do que o Estado, diante do que a pena em dinheiro era destinada à pessoa lesada.
Nesse período, o Estado assume a função de punir. Surge a ação de indenização. E a responsabilidade civil se diferencia da responsabilidade penal.
Outro marco importantíssimo na evolução da responsabilidade civil se deu com a Lex Aquilia, surgindo a partir daí um princípio geral regulador da responsabilização, a “injúria”, que acabaria resultando naquilo que os franceses muito tempo depois chamariam de “faulte” e nós acabaríamos adotando como “culpa”, fundamento básico da responsabilidade.
De fato, o Direito Romano possui grande relevância no estudo da responsabilidade civil. A partir daquelas bases, o Direito francês desenvolveu muitos dos institutos relacionados à matéria. O Código Civil brasileiro de 1916 foi influenciado pelo Código Civil francês, de 1804, elaborado sob as ordens do imperador Napoleão.
Nosso Código Civil de 1916 dedicou poucos dispositivos à responsabilidade civil, o mesmo acontecendo com o Código atual, que apenas consignou, em sua Parte Geral, arts. 186 a 188, a regra geral da responsabilidade extracontratual e algumas excludentes. Na Parte Especial, estabeleceu a regra básica da responsabilidade contratual (arts. 389) e dedicou dois capítulos à responsabilidade civil (arts. 927 a 954). Coube à doutrina e à jurisprudência fornecer subsídios à solução dos vários litígios submetidos à apreciação do Poder Judiciário.
Pressupostos da Responsabilidade Civil Contratual e Extracontratual.
A responsabilidade civil resulta da conduta humana, praticada com infração a um dever e da qual resulta dano para outrem. Esse dever pode ser contratual (se originado de um contrato) ou legal (se decorre da lei).
Com efeito, uma pessoa pode causar um prejuízo a outrem por descumprir uma obrigação contratual, caso em que se terá a responsabilidade contratual. Responsabilidade contratual é, portanto, aquela que resulta do inadimplemento de um contrato. É ‘”a obrigação de indenizar ou de ressarcir os danos causados pela inexecução de cláusula contratual ou pela má execução da obrigação, nela estipulada.” (De Plácido e Silva, Vocabulário jurídico, verbete “responsabilidade contratual”.)
Por outro lado, pode ser que esse prejuízo seja causado, não pelo descumprimento de um contrato, mas pela inobservância de um dever imposto pela lei, caso em que ocorrerá a responsabilidade extracontratual. Responsabilidade extracontratual, portanto, também chamada de delitual ou aquiliana, é aquela que decorre, não do descumprimento de um dever contratual, mas de um dever imposto pela lei. É aquela que “resulta do inadimplemento normativo, ou melhor, da prática de um ato ilícito”. (Maria Helena Diniz, Dicionário jurídico, verbete “responsabilidade aquiliana”.) Neste caso, “nenhuma ligação de caráter convencional vincula o causador do dano à vítima do dano”. (Silvio Rodrigues, Direito civil, vol. 1, p. 308.)
Embora as consequências da infração ao dever legal e ao dever contratual sejam as mesmas (vale dizer, ressarcir o prejuízo causado), “o Código Civil brasileiro distinguiu as duas espécies de responsabilidade, acolhendo a tese dualista e afastando a unitária, disciplinando a extracontratual nos arts. 186 e 187, sob o  título “Dos atos ilícitos”, complementando a regulamentação nos arts. 927 e s., e a contratual, como consequência da inexecução das obrigações,nos arts. 389, 395 e s.”.
Nos dois casos, porém, os pressupostos da responsabilidade são basicamente os mesmos: conduta, dano e nexo causal.
1)      Conduta
Na responsabilidade contratual, a conduta consiste no fato de deixar o devedor de cumprir a obrigação no tempo, lugar e forma devidos. De acordo com o art. 389 do Código Civil, não cumprida aobrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.
Na responsabilidade extracontratual, a conduta corresponde a uma ação ou omissão do agente, caracterizada como ato ilícito. De acordo com o art. 186 do Código Civil, aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
2)      Dano
Dano é o prejuízo sofrido pela vítima. É a lesão que, devido a um certo evento, sofre uma pessoa, contra sua vontade, em qualquer bem ou interesse jurídico, patrimonial ou moral.
Na responsabilidade contratual, o dano resulta do descumprimento de uma obrigação de dar, fazer ou não fazer. Segundo o art. 402 do Código Civil, salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. E o art. 395 determina que o devedor responde pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.
Na responsabilidade extracontratual, o dano consiste no prejuízo sofrido pela vítima do ato ilícito. Conforme prevê o art. 927 do Código Civil, aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
3)      Nexo causal
O nexo causal é a relação de causalidade que deve existir entre a ação ou omissão do agente e o dano ocasionado. Ainda que tenha ocorrido um dano, mas se sua causa não está relacionada com o comportamento do agente, não há que se falar em reparação. Em outras palavras, o dano tem que ter sido causado pela ação ou omissão do agente.
Tanto na responsabilidade contratual quanto na extracontratual, indeniza-se o dano causado pela conduta comissiva ou omissiva de alguém.
Em harmonia com o art. 403 do Código Civil, ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato. E o art. 927 determina que, quem causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
O art. 393 dispõe que, em regra, o devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior.
Em geral, esses três elementos (conduta, dano e nexo causal) são mencionados como pressupostos da responsabilidade civil extracontratual. No entanto, também podemos comumente observá-los na responsabilidade civil derivada do inadimplemento contratual.
Da culpa
Além desses pressupostos, a responsabilidade normalmente depende da existência de um quarto elemento, a culpa, considerada como o fundamento da responsabilidade na teoria subjetiva.
Diferenças entre responsabilidade contratual e extracontratual
Em suma, podemos apontar as seguintes diferenças entre responsabilidade contratual e responsabilidade extracontratual:
	RESPONSABILIDADE CONTRATUAL
	RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL
	Violação de uma obrigação decorrente de um negócio jurídico preexistente
	Violação de uma obrigação imposta por um dever geral do direito ou pela própria lei
	Existência de uma relação jurídica anterior, tendo a vítima e o autor do dano já se vinculado. Origina-se, assim, da convenção, havendo um acordo prévio de vontades entre as partes envolvidas.
	Não existe uma relação jurídica anterior. Origina-se, portanto, da inobservância do dever genérico de não lesar a outrem (neminem laedere).
	O ônus da prova da ausência de culpa é, em regra, do devedor (ofensor).
	O ônus da prova da culpa é, em regra, do credor (vítima).
	Trata-se da violação de um dever de adimplir.
	Trata-se da violação de um dever negativo, ou seja, da obrigação de não causa um dano a alguém.
	O inadimplemento presume-se culposo, encontrando-se o credor numa posição mais favorável. Ou seja, demonstrando que a prestação foi descumprida, ocorre a presunção de culpa por parte do devedor inadimplente.
	Não se presume, em geral, a culpa. Ao lesado incumbe o ônus de provar culpa ou dolo do causador do dano.
	A capacidade sofre limitações.
	A capacidade é mais ampla, pois os atos ilícitos podem ser praticados por amentais e por menores de idade.
	Quanto à gradação da culpa, ela varia de intensidade de conformidade com os diferentes casos.
	A falta se apura de maneira mais rigorosa, sendo que mesmo a culpa levíssima obriga a indenizar.
 
 Obrigação e responsabilidade
Guardadas as devidas diferenças, e considerados os tratamentos diversos dados a cada espécie de responsabilidade, pode-se dizer que ambas resultam da violação de um dever primário. Na responsabilidade contratual, esse dever primário decorre da obrigação assumida; na extracontratual, esse dever resulta de uma imposição legal.
Cumpre não confundir, outrossim, obrigação e responsabilidade. Obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação. A responsabilidade é a consequência jurídica patrimonial do descumprimento da relação obrigacional.
Como explica Carlos Roberto Gonçalves (Direito civil brasileiro, v. 4, p. 21), em toda obrigação há um dever jurídico originário, enquanto na responsabilidade existe um dever jurídico sucessivo. Violado esse dever jurídico originário (quer seja ele de fonte contratual ou legal), surge um dever jurídico decorrente dessa violação, que é responsabilidade civil, propriamente dita.
 
Visão geral da responsabilidade civil aquiliana.
Responsabilidade aquiliana ou extracontratual é aquela que decorre diretamente da lei. É aquela resultante do inadimplemento normativo, ou seja, da prática de um ato ilícito. Decorre da violação de um dever geral de abstenção, de não ocasionar um dano a quem quer que seja.
Conforme explica o Professor Álvaro Villaça Azevedo, a responsabilidade extracontratual “é também conhecida por responsabilidade aquiliana, tendo em vista que a Lex Aquilia de damno (do século IIIa.C.) cuidou de estabelecer, no Direito romano, as bases jurídicas dessa espécie de responsabilidade civil, criando uma forma pecuniária de indenização do dano, assentada no estabelecimento de seu valor”. (Álvaro Villaça Azevedo, Teoria geral das obrigações, p. 278.)
De fato, a Lex Aquilia é o divisor de águas da responsabilidade civil, como explica Sílvio de Salvo Venosa:
“Esse diploma, de uso restrito a princípio, atinge dimensão ampla na época de Justiniano, como remédio jurídico de caráter geral; como considera o ato ilícito uma figura autônoma, surge, desse modo, a moderna concepção da responsabilidade extracontratual. O sistema romano de responsabilidade extrai da interpretação da Lex Aquilia o princípio pelo qual se pune a culpa por danos injustamente provocados, independentemente de relação obrigacional preexistente. Funda-se aí a origem da responsabilidade extracontratual. Por essa razão, denomina-se também responsabilidadeaquiliana essa modalidade. A Lex Aquilia foi um plebiscito aprovado provavelmente em fins do século III ou início do século II a.C., que possibilitou atribuir ao titular de bens o direito de obter opagamento de uma penalidade em dinheiro de quem tivesse destruído ou deteriorado seus bens. Como os escravos eram considerados coisas, a lei também se aplicava na hipótese de danos ou morte deles. Punia-se por uma conduta que viesse a ocasionar danos.” (Sílvio de Salvo Venosa, Direito civil, vol. 4, p. 18 e 19.)
Há quem critique a equiparação da responsabilidade extracontratual e da responsabilidade aquiliana, pois a teoria aquiliana introduziu o pressuposto culpa ao conceito de responsabilidade civil, e não apenas à responsabilidadeextracontratual. Ademais, alega-se que equipara a responsabilidade aquiliana à contratual leva a dois equívocos: “o primeiro, de se limitar a responsabilidade extracontratual à culpa, quando isso não corresponde à realidade, ainda mais contrastada com o impulso que obteve a teoria da responsabilidade sem culpa durante o século XX. E, por outro lado, não coloca a responsabilidade extracontratual em seu verdadeiro patamar. A responsabilidade extracontratual é o gênero, a responsabilidade aquiliana é a espécie.” (Roberto Senise Lisboa, Manual de direito civil, v. 2, p. 460.) De qualquer modo, a tradição jurídica consagrou o uso da expressão “aquiliana” para referir-se à responsabilidade extracontratual.
A fonte da responsabilidade extracontratual ou aquiliana é a inobservância da lei. É a lesão a um direito sem que entre o ofensor e o ofendido preexista qualquer relação jurídica. (Maria Helena Diniz, op. cit., p. 116.) Como exemplifica Silvio Rodrigues, se alguém atropela um homem que, no desastre, perde um braço, o agente causador desse dano fica obrigado a repará-lo, por responsabilidade extracontratual. (Silvio Rodrigues, op. cit., p. 9.) A indenização, no caso, consistirá no pagamento do correspondente às despesas de tratamento da vítima, lucros cessantes até o fim da convalescença e ainda uma pensão correspondente à diminuição de sua capacidade laborativa, além de indenização por danos morais.
Estabelece o Código Civil: “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
São, assim, elementos da responsabilidade civil, segundo a teoria subjetiva: 1) conduta humana, comissiva ou omissiva; 2) dano; 3) nexo causal; e 4) culpa. Preferimos dizer, porém, que somente os três primeiros elementos são verdadeiramente os pressupostos da responsabilidade civil. O último (a culpa) se refere ao fundamento da responsabilidade subjetiva.
Segundo a teoria subjetiva, para que surja o dever de indenizar, é necessário que a conduta tenha derivado de dolo ou culpa. Dolo é a violação intencional do dever jurídico. Culpa é a falta de diligência que se exige do homem médio, por imprudência, negligência ou imperícia.
A culpa pode ser classificada em graus:
1) culpa grave: equipara-se ao dolo; ocorre quando há negligência ou imprudência extrema do agente;
2) culpa leve: é a falta que se poderia evitar, com a atenção ordinária; é aquela em que o dano poderia ter sido evitado com a adoção de diligência própria de um bonus pater familiae (bom pai de família);
3) culpa levíssima: é a falta evitável somente mediante a atenção extraordinária, em razão de habilidade ou de conhecimento singular; é aquele que somente a pessoa dotada de atenção e diligência excepcional poderia evitar.
No Brasil, a indenização não dependia do grau da culpa. A esse respeito, porém, o novo Código Civil trouxe importante inovação: “Art. 944: A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente a indenização.”
Podem ser consideradas espécies de culpa:
Culpa in eligendo: má escolha do representante ou do preposto.
Culpa in vigilando: ausência de fiscalização do patrão ou comitente com relação a empregados ou terceiros sob seu comando.
Culpa in comittendo: ato positivo do agente.
Culpa in omittendo: ato omissivo.
Culpa in concreto: examinada na conduta especifica sob exame.
Culpa in abstrato: conduta de transgressão avaliada pelo padrão do homem médio.
Culpa presumida: aquela em que há inversão do ônus da prova, cabendo ao réu provar que não agiu com culpa.
Culpa concorrente: culpa imputada ao agente e à própria vítima, que também concorre para o evento.
São, por sua vez, modalidades de culpa:
- imprudência: conduta do agente que faz o que não deve, ou como não deve;
- negligência: omissão do agente, que deixa de fazer aquilo que deveria;
- imperícia: relaciona-se com a ação ou omissão cometidas no âmbito profissional, ou derivadas de um desconhecimento técnico.
Responsabilidade civil objetiva.
Os fundamentos básicos da responsabilidade civil são a culpa e o risco. De acordo com a teoria subjetiva, a responsabilidade dependeria sempre da culpa, lato sensu, nesta compreendidas o dolo (se agente tinha a intenção de praticar o ato danoso) e a culpa (se agiu com imprudência, negligência ou imperícia). Pela teoria objetiva, despreza-se a intenção do agente e não se leva em conta o acerto ou não de sua conduta. Indaga Wilson Melo da Silva:
“Culpa, ou não culpa? Condenar-se-ia o autor do dano pelo só fato do dano mesmo ou pelo fato do dano a ele moralmente imputável? A vítima deverá ser abandonada à sua própria sorte na ausência de qualquer parcela de culpa atribuível ao agente do efeito danoso, ou não?” Segundo o autor, em certos casos “o melhor critério seria aquele da responsabilidade sem culpa, o meramente objetivo, critério que, mais reforçadamente, na espécies se justificasse com vistas à exploração industrial ou ao risco-proveito”. (Wilson Melo da Silva, Responsabilidade sem culpa, p. 12.)
De fato, embora a concepção clássica seja de que a vítima tenha que provar a culpa do agente para obter a reparação, essa solução às vezes apresenta dificuldades, pois há situações em que o ônus da prova que recai sobre a vítima mostra-se muito pesado. Por isso, passou-se a buscar meios para facilitar a verificação da culpa.
Outrossim, o conceito tradicional de culpa passou a se apresentar como inadequado para amparar as vítimas lesadas. Com isso, abrandou-se, pouco a pouco, o rigor de exigir a prova da culpa do agente. (Carlos Roberto Gonçalves, Direito das obrigações: responsabilidade civil, Sinopses jurídicas, vol. 6, t. II, p. 57 a 59.)
Apesar da evolução da teoria do risco, pode-se dizer que o Código Civil ainda adota, em regra, a responsabilidade subjetiva. Mas admite excepcionalmente a responsabilidade objetiva, fundamentada no risco ou na previsão legal. Reza o art. 927 desse diploma:
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”
Como se vê, há duas situações em que a responsabilidade é considerada objetiva: a) nos casos especificados em lei; e b) quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Risco, em sentido especial, fundado no perigo de perda, “exprime a própria responsabilidade ou o encargo acerca da perda ou do dano, trazido pelo risco.” Expressa, por conseguinte, a obrigação de ressarcir os danos que advenham do fato ou evento temido ou receado. Envolve, assim, a ideia de responsabilidade pelo dano causado por conta de quem uma determinada atividade perigosa é exercida. Risco da atividade, outrossim, é “o perigo que determinada conduta pode proporcionar à personalidade e ao patrimônio alheio”. A responsabilidade, neste caso, surge da atividade em si, e não da culpa. O que se cogita é “o resultado provocado em razão do exercício da atividade do agente”. (Roberto Senise Lisboa, op. cit., p. 539.)
A responsabilidade objetiva, portanto, é descrita como responsabilidade que independe de culpa. Seu fundamento, em geral, é o risco. Mas como mencionado, pode-se também dizer que, além do risco, háum outro fundamento para esse tipo de responsabilidade: a previsão legal. Com efeito, pode a lei determinar em que casos, além daqueles em que a atividade é considerada de risco, o agente responderá independentemente de culpa.
Nesse sentido, o Código de Defesa do Consumidor, estabelece:
“Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causadosaos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.”
E ainda:
“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.”
Nesse diploma, como se nota, aplica-se em regra a responsabilidade objetiva e só excepcionalmente a subjetiva.
A adoção da teoria objetiva não foi feita de repente, mas passou por uma série de estágios evolutivos. Essa evolução foi motivada principalmente pelo desenvolvimento industrial, pela criação das máquinas, dos veículos de transportes e pelo crescimento populacional. Com o passar do tempo, passou-se a perceber que o critério da culpa não era ruim, mas era insatisfatório para atender a todos os casos. Abrandou-se, pouco a pouco, o rigor da teoria subjetiva e a dificuldade existente em torno da comprovação da culpa, para se adotar, cada vez mais, a teoria objetiva.
Conforme alista Carlos Roberto Gonçalves (Op. cit., p. 68 e 69), as principais fases pelas quais passou a teoria da responsabilidade civil foram as seguintes:
a)      Maior facilidade à prova da culpa, com o exame mais benigno nos elementos trazidos pelas vítimas;
b)      Admissão da teoria do abuso de direito como ato ilícito;
c)      Estabelecimento de casos de presunção de culpa (p. ex., Súmula 341 do STF);
d)     Admissão de maior número de casos de responsabilidade contratual;
e)      Adoção da teoria do risco.
Saliente-se, porém, que a teoria do risco não se generalizou, nem acabou com a teoria da culpa. Apesar das várias situações em que se admite a responsabilidade objetiva (p. ex.: responsabilidade das estradas de ferro; acidentes do trabalho; acidentes aéreos; acidente nuclear, danos ao meio ambiente etc.), a responsabilidade subjetiva ainda continua sendo a regra em nosso país.
A teoria objetiva é aplicada quando a comprovação da culpa tornar-se-ia inadequada ou pesada demais para a vítima, dificultando a obtenção da justa indenização.
Em face do aumento de acidentes, “lança-se mão de técnicas de socialização do dano para o fim de ser garantida pelo menos uma indenização básica para qualquer tipo de acidente” (Biela Jr., Direito civil:teoria geral da responsabilidade civil, Coleção Simplificado, p. 31.) Ocorre, assim, a socialização dos riscos. Como exemplo, pode-se mencionar o seguro DPVAT, que constitui uma das maneiras de se facilitar a indenização da vítima. Outro exemplo é o seguro obrigatório social nos casos de acidentes do trabalho.
Como se nota, cada vez mais se fortalece a ideia de que a vítima não pode ficar sem reparação. E a adoção crescente da teoria do risco desempenha importante papel nesse cenário.
Saliente-se, por fim, que há diferentes ideias sobre a aplicação da teoria do risco, o que se observa nas suas diversas vertentes (Caio Mário da Silva Pereira, Responsabilidade civil, p. 270):
a)      Teoria do risco-proveito (responsável é aquele que tira proveito);
b)      Teoria do risco profissional (o fato prejudicial é uma decorrência da atividade ou da profissão do lesado);
c)      Teoria do risco excepcional (a responsabilidade está presente quando o dano decorre de situação anormal);
d)     Teoria do risco integral (forma de repartir por todos os membros da coletividade os danos atribuídos ao Estado);
e)      Teoria do risco criado (se alguém põe em funcionamento uma qualquer atividade, responde pelos eventos danosos que essa atividade gera para os indivíduos).
Dano e suas espécies.
 
DANO MATERIAL (DANO EMERGENTE E LUCROS CESSANTES), MORAL (E ESTÉTICO).
O dano é um dos pressupostos da responsabilidade civil. Tanto a responsabilidade contratual, como a extracontratual, dependem da existência de um prejuízo. Assim, só haverá responsabilidade civil se houver um dano a reparar.
O inadimplemento da obrigação sujeita o inadimplente ao dever de reparar as perdas e danos sofridos pelo credor. Estabelece o art. 402 do Código Civil: “Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.”
O mesmo se dá na responsabilidade extracontratual. Ocorrendo o dano, a indenização será a mais completa possível, devendo incluir tudo o que a vítima efetivamente perdeu, bem como o que razoavelmente deixou de ganhar. A indenização abrange, assim, o dano emergente e o lucro cessante.
 
DO DANO EMERGENTE (DAMNUS EMERGENS)
Dano emergente é o efetivo prejuízo, ou seja, a diminuição patrimonial sofrida pela vítima. Corresponde ao “déficit real e efetivo no patrimônio do lesado, isto é, concreta diminuição em sua fortuna, seja porque se depreciou o ativo, seja porque aumentou o passivo” (Maria Helena Diniz, Dicionário jurídico)
Um exemplo facilitará a compreensão. Suponhamos que um automóvel seja abalroado e seu dono tenha que desembolsar uma determinada quantia para seu conserto. Esse valor corresponde ao dano emergente.
 
DO LUCRO CESSANTE (LUCRUM CESSANS)
Lucro cessante é a frustração da expectativa de lucro. É a perda de um ganho esperado. (Carlos Roberto Gonçalves, Direito civil brasileiro, p. 375.) É aquilo que se deixou de auferir em razão do evento danoso. É a vantagem patrimonial que não chega a ingressar no patrimônio do que sofreu a lesão. (Álvaro Villaça Azevedo, op. cit., p. 228.)
Utilizando-nos do exemplo anterior (veículo abalroado), o lucro cessante corresponderia ao valor que o seu dono, v.g., um taxista, deixaria de ganhar durante o tempo em que o veículo ficou na oficina.
 
PERDA DE UMA CHANCE
O nexo causal constitui um dos aspectos mais delicados nos casos de responsabilidade civil, e um dos mais difíceis de ser determinado. A dificuldade na sua comprovação levou a jurisprudência francesa a admitir, em determinadas hipóteses, a chamada “teoria da perda de uma chance”. Por essa teoria, a indenização é fixada levando-se em consideração a perda de uma chance de resultado favorável ou da consecução de proveito econômico. Diante da impossibilidade de se avaliar se determinado dano se deve ou não a uma ação ou omissão do agente, considera-se o prejuízo como a perda de uma possibilidade, estabelecendo-se uma indenização por tal perda.
A perda de uma chance caracteriza-se nos casos em que, em decorrência de uma conduta de alguém, desaparece a probabilidade de um evento que possibilitaria um benefício futuro para a vítima. Indeniza-se, nestas situações, não um dano final, mas um dano intermediário, decorrente da chance perdida.
 
DANO REFLEXO
Dano reflexo ou por ricochete é aquele que atinge reflexamente pessoa próxima ligada à vítima direta da conduta danosa. Assim, se alguém causa a morte de uma pessoa que deve alimentos a outra, o alimentando sofre uma perda reflexa por conta de não receber mais a pensão alimentícia do alimentante, e poderá acionar o causador do dano.
 
DANO MATERIAL E DANO MORAL
O dano pode ser material ou moral. Dano patrimonial é “a lesão concreta, que afeta um interesse relativo ao patrimônio da vítima, consistente na perda ou deterioração, total ou parcial, dos bens materiais que lhe pertencem, sendo suscetível de avaliação pecuniária e de indenização pelo responsável”. (Maria Helena Diniz, Curso de direito civil brasileiro, vol. 7, p. 62.) Dano moral é aquele relacionado a “lesões sofridas pelo sujeito físico ou pessoa natural de direito em seu patrimônio ideal, entendendo-se por patrimônio ideal, em contraposição a patrimônio material, o conjunto de tudo aquilo que não seja suscetível de valor econômico.” (Wilson Melo da Silva, O dano moral e a sua reparação, n. 1.)
 
DANO MORAL
Acerca do dano moral, ensina Maria Helena Diniz: “É a ofensa de interesses não patrimoniais de pessoa física ou jurídica provocada pelo fato lesivo. A reparação do dano moral não é umaindenização por dor, vergonha, humilhação, perda da tranquilidade ou do prazer de viver, mas uma compensação pelo dano e injustiça sofridos pelo lesado, suscetível de proporcionar-lhe uma vantagem, pois ele poderá, com a soma de dinheiro recebida, procurar atender às satisfações materiais ou ideais que repute conveniente, atenuando, assim, em parte, seu sofrimento.” (Maria Helena Diniz, Dicionário jurídico, verbete “dano moral”.)
A Constituição Federal/88 acolheu o princípio de que o dano moral é indenizável. Como visto, o artigo 1.º da Constituição assegura certos direitos básicos, dentre eles, o direito à dignidade. Em consonância com isso, determina o artigo 5.º, incisos V e X, da Constituição Federal que é assegurada a reparação do dano moral.
O dano moral não é propriamente a dor ou o sofrimento. Estes são as consequências do dano moral. Dano moral consiste na ofensa aos direitos da personalidade, na agressão à dignidade da pessoa humana. O ataque à vida, à honra, à liberdade de uma pessoa, esse é o dano moral, que resulta na dor, no sofrimento e na angústia.
 
DANO ESTÉTICO
Dano estético é “qualquer modificação duradoura ou permanente na aparência externa de uma pessoa modificação esta que acarreta um ‘enfeamento’ e lhe causa humilhações e desgostos, dando origemportanto a uma dor moral.” (Teresa Ancona Lopes, Dano estético, p. 38.)
No entender de Teresa Ancona Lopes, a cumulação de danos estéticos e morais somente é cabível nos casos em que ocorrerem graves lesões à integridade física, como deformidades ou desfigurações que gerem vergonha para o ofendido e sua rejeição na sociedade.
Em 2009, o Superior Tribunal de Justiça editou uma súmula a respeito da matéria. Estabelece a Súmula 387 do STJ: “É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.”
 
CARACTERIZAÇÃO DO DANO MORAL
Para se evitar excessos e abusos em ações que, sob a alegação de dano moral, se buscasse um enriquecimento injustificado, recomenda Sérgio Cavalieri Filho:
“Nessa linha de princípio, só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais aborrecimentos. Dor, vexame, sofrimento e humilhação são conseqüência, e não causa. Assim como a febre é o efeito de uma agressão orgânica, dor, vexame e sofrimento só poderão ser considerados dano moral quando tiverem por causa uma agressão à dignidade de alguém.” (Sérgio Cavalieri Filho, Programa de responsabilidade civil, p. 98.)
Antônio Jeová dos Santos, todavia, entender haver a necessidade de aumentar o grau de abrangência do dano moral para apreender todo e qualquer mal que seja infligido à pessoa. Segundo o autor, “não é possível ficar numa interpretação restritiva, em que seja considerado dano moral ressarcível somente aquele que fique na órbita do afetivo, dos sentimento, representados pela dor, tristeza, vergonha, angústia etc.” Explica o autor:
“A dimensão espiritual de uma pessoa é muito mais abrangente. Não está restrita a sentimentos ou a sensibilidade. A aptidão de entender, de querer e de sentir, também são integrantes desse patrimônio espiritual e que não pode ser rompido (...) A doutrina brasileira há de superar o molde estreito do pretium doloris, expandindo a possibilidade da existência do dano moral a todos os casos em que a pessoa seja o centro da violação.”
O autor adverte, porém, que nem todo mal-estar configura dano moral. Pretender indenizar qualquer modificação no espírito, ainda que fugaz, “seria reduzir o dano moral a mera sugestibilidade, ou proteger alguém que não suporta nenhum aborrecimento trivial”. (Antônio Jeová Santos, op. cit., p. 69 e 70.) Com efeito, observa-se um grande número de demandas que pugnam pela indenização de dano moral, sem que estejam presentes os requisitos mínimos de sua caracterização. Assim, quando o prejuízo alegado resultar de uma sensibilidade exagerada, não deve haver reparação.
 
OBJEÇÕES À INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL
Atualmente não existe mais nenhuma dúvida quanto à reparabilidade do dano moral. Contudo, nem sempre foi assim. Pelo contrário, digladiavam-se os autores acerca de tão polêmico tema. Dentre os argumentos da chamada corrente negativista, que teimava em repudiar o ressarcimento do dano puramente moral, estavam aqueles relacionados à impropriedade de linguagem quanto à palavra dano, à incerteza da própria existência de um direito violado, à dificuldade da identificação do dano, à  impossibilidade de ressarcir o dano dessa natureza etc.
As respostas a tais argumentos, porém, por parte da corrente positivista, acabaram prevalecendo e mostrando-se mais convincentes. Quanto ao argumento da impropriedade de linguagem quanto à palavra dano, pode-se dizer que é inegável que a ideia de dano é absolutamente conexa, tanto na linguagem vulgar como jurídica, à ideia de um efeito penoso, isto é, de uma diminuição do bem-estar, seja moral, seja material. Quanto à pretendida incerteza, nesta espécie de dano, da própria existência de um direito violado, mostra-se ela totalmente descabida, pois é evidente que não se pode falar em dano se não houver um direito protegido pela lei. Com relação à dificuldade da identificação do dano, pode-se dizer que esta não basta para deixá-lo sem reparação. No que tange à impossibilidade de se ressarcir com o critério da equivalência, há que se ter em conta que não se reclama, na indenização por dano moral, a equivalência em termos absolutos, na medida em que a reparação tem caráter meramente satisfativo.
 
CUMULAÇÃO
A Constituição Federal/88 acolheu o princípio de que o dano moral é indenizável. Como visto, o artigo 1.º da Constituição assegura certos direitos básicos, dentre eles, o direito à dignidade. Em consonância com isso, determina o artigo 5.º, incisos V e X, da Constituição Federal que é assegurada a reparação do dano moral.
Embora a Constituição utilize a expressão “dano material ou moral”, isso não significa que só poderá ser indenizado um ou o outro. Não explicitou a Carta Magna que a cumulação sempre existiria, pela óbvia razão de que pode ocorrer um, sem que necessariamente haja o outro. Nesse sentido se orientou a jurisprudência:
Por outro lado, é hoje inquestionável, no direito brasileiro, o princípio da reparabilidade do dano moral, que pode ser demandado isoladamente ou em cumulação com o dano material. (RT 801/233)
Anteriormente à Constituição de 1988, informa Humberto Theodoro Júnior, "mesmo quando se admitia a reparação do dano moral, a jurisprudência predominante negava suacumulatividade com o dano material, ao pretexto de que, havendo o ressarcimento de todos os efeitos patrimoniais nocivos do ato ilícito, já estaria a vítima suficientemente reparada". Hoje, porém, acrescenta o mesmo autor, "em caráter muito mais amplo, está solidamente assentado, na doutrina e na jurisprudência, não só a plena reparabilidade do dano moral como sua perfeita cumulatividade com a indenização da lesão patrimonial. O estágio em que a orientação pretoriana repelia a cumulação, sob o pretexto de que a indenização do dano material excluiria a da lesão moral em face de um só evento ilícito, pode-se dizer que foi superado" (Humberto Theodoro Júnior, "O dano moral e sua reparação", RF 351/83). (RT 802/148)
É forçoso, ainda, reconhecer a possibilidade de cumulação de dano material e dano moral, tal como ensina Caio Mário da Silva Pereira: `Não cabe, por outro lado, considerar que são incompatíveis os pedidos de reparação patrimoniale indenização por dano moral. O fato gerador pode ser o mesmo, porém o efeito pode ser múltiplo. A morte de uma pessoa fundamenta a indenização por dano material na medida em que se avalia o que perdem pecuniariamente os seus dependentes. Ao mesmo tempo justifica a reparação por dano moral quando se tem em vista a dor, o sofrimento que representa para os seus parentes ou aliados a eliminação violenta e injusta do ente querido, independentemente do que a sua falta atinge a economia dos familiares e dependentes' (op. cit., p. 56). (RT 776/386)
DANO MORAL - Indenização - Cumulação com dano material - Admissibilidade diante de seus pressupostos próprios, passando pelo arbítrio judicial tanto na sua aferição quanto na sua quantificação - Inteligência do art. 5.º, V e X, da CF. Ementa da Redação: O art. 5.º, V e X, da CF, conferiu ao dano moral status constitucional, assegurando sua reparação quando do ato ilícito decorrer agravo à honra e à imagem ou violação à intimidade e à vida privada, sendo perfeitamente admissível sua cumulação com o dano material, uma vez que ambos têm pressupostos próprios, passando pelo arbítrio judicial tanto na sua aferição quanto na sua quantificação. (RT 769/149)
ACIDENTE DE TRÂNSITO - Dano moral - Cumulação com dano material - Admissibilidade - Inteligência do art. 5.º, X, da CF.  Ementa da Redação: Nos termos do art. 5.º, X, daCF é devida indenização a título de dano moral em decorrência de acidente de trânsito, podendo a verba ser cumulada com dano material, eis que representa compensações diversas. (RT 757/200)
Com efeito, a Súmula 37 do Superior Tribunal de Justiça é expressa no sentido de ser possível a cumulação de pedidos de dano moral e dano material: “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato”.
 
CÁLCULO DO DANO MORAL
Um dos grandes desafios do jurista, atualmente, é encontrar parâmetros para o cálculo da indenização por dano moral. Hoje fala-se em buscar o valor como forma de compensação. Esta compensação tem duplo caráter, pois visa ao ressarcimento e à sanção.
No Brasil não é seguido o sistema do tarifamento para apuração do prejuízo sofrido em decorrência do dano moral. Aqui, utiliza-se o sistema aberto, ou seja, arbitramento pelo juiz a cada caso (artigos 944 a 946 do Código Civil).
O Código Brasileiro de Telecomunicações de 1962, que foi revogado pela Lei de Imprensa de 1967, trazia alguns critérios para apuração do dano moral (situação econômica do ofendido e do ofensor etc.) Essas leis estabelecem os valores mínimo e o máximo, que podem variar de 5 a 200 salários mínimos.
O Supremo Tribunal Federal expressa que esse limite máximo estaria revogado tacitamente pela Constituição Federal, que não estabeleceu limite, o que impede que haja interpretação restritiva.
O novo Código Civil, além de diferenciar no artigo 186 o dano moral do dano material, outorgou absoluta liberdade ao juiz para fixar o montante da indenização por danos morais, no mesmo pensamento já adotado tanto pelo Supremo Tribunal Federal quanto pelo Superior Tribunal de Justiça.
Além da norma citada, temos o disposto no artigo 944: "A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente a indenização".
Antonio Jeová Santos, após amplas considerações, conclui que devem ser levados em consideração determinados fatores na estipulação da indenização por dano moral, como, por exemplo: não se deve aceitar uma indenização meramente simbólica; deve ser evitado o enriquecimento injusto;  há que se levar em consideração a gravidade do caso;  devem ser observadas as peculiaridades da vitima de seu ofensor.
 
DANO MORAL NA JURISPRUDÊNCIA DO STJ
A tabela abaixo traz um resumo de alguns precedentes do STJ sobre casos que geraram dano moral, bem como os valores arbitrados na segunda instância e no STJ. Trata-se de material exclusivamente jornalístico, de caráter ilustrativo, com o objetivo de facilitar o acesso dos leitores à ampla jurisprudência da Corte.
	Evento
	2º grau
	STJ
	Processo
	Recusa em cobrir tratamento médico-hopsitalar (sem dano à saúde)
	R$ 5 mil
	R$ 20 mil
	Resp 986947
	Recusa em fornecer medicamento (sem dano à saúde)
	R$ 100 mil
	10 SM
	Resp 801181
	Cancelamento injustificado de vôo
	100 SM
	R$ 8 mil
	Resp 740968
	Compra de veículo com defeito de fabricação; problema resolvido dentro da garantia
	R$ 15 mil
	não há dano
	Resp 750735
	Inscrição indevida em cadastro de inadimplente
	500 SM
	R$ 10 mil
	Resp 1105974
	Revista íntima abusiva
	não há dano
	50 SM
	Resp 856360
	Omissão da esposa ao marido sobre a verdadeira paternidade biológica das filhas
	R$ 200 mil
	mantida
	Resp 742137
	Morte após cirurgia de amígdalas
	R$ 400 mil
	R$ 200 mil
	Resp 1074251
	Paciente em estado vegetativo por erro médico
	R$ 360 mil
	mantida
	Resp 853854
	Estupro em prédio público
	R$ 52 mil
	mantida
	Resp 1060856
	Publicação de notícia inverídica
	R$ 90 mil
	R$ 22.500
	Resp 401358
	Preso erroneamente
	não há dano
	R$ 100 mil
	Resp 872630
(Fonte: http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=93679)
 
PESSOA JURÍDICA E DANO MORAL
Acerca da possibilidade de a pessoa jurídica sofrer dano moral, explica Rui Stoco:
“Outra questão sobre a qual muito se controverteu e que, até pouco tempo atrás, ainda não havia sido adequadamente resolvida, até que adveio a Súmula 227 do Superior Tribunal de Justiça, é com relação à possibilidade de as pessoas jurídicas serem indenizadas por ofensas morais. Não foram muitos os doutrinadores que se debruçaram sobre o tema. Entre nós, destaca-se Wilson Melo da Silva, posicionando-se contrariamente [...]”
Atualmente, não há mais dúvida. Diz a Súmula 227 do STJ: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.”
Ocorre que o dano moral atinge também a honra objetiva, que se trata daquilo que outras pessoas pensam sobre o indivíduo. Diante disso, as pessoas jurídicas podem pleitear o ressarcimento pelo dano moral, visto que têm honra objetiva (bom nome, conceito na sociedade etc.). Assim tem entendido a jurisprudência:
PESSOA JURÍDICA - Dano moral - Protesto injustificado de título com conseqüente inscrição em cadastros restritivos de crédito - Conduta que, por si só, importa em automático prejuízo, pois o bom nome é atributo de fundamental importância, seja pelo que subjetivamente representa, seja pelo valor extrínseco para as relações sociais e comerciais - Indenização devida. Ementa da Redação: O protesto injustificado de título, com conseqüente inscrição em cadastros restritivos de crédito, importa, por si só, em automático prejuízo, gerador de reparação a título de dano moral, pois o bom nome é atributo de fundamental importância para as pessoas físicas e, inclusive, jurídicas, seja pelo que subjetivamente representa, seja pelo seu valor extrínseco para as relações sociais e comerciais. (RT 797/222)
PESSOA JURÍDICA - Dano moral - Possibilidade de ser a pessoa jurídica sujeito passivo de danos morais se sofrer lesão que cause prejuízo à sua imagem - Caracterização de violação à honra objetiva de que também os entes coletivos são titulares. Ementa da Redação: Pode a pessoa jurídica ser sujeito passivo de danos morais se sofrer lesão que cause prejuízo à sua imagem, caracterizando violação à honra objetiva de que também os entes coletivos são titulares. (RT 803/238)
PESSOA JURÍDICA - Dano moral - Indenização - Banco que procede à cobrança de débito, emitindo mais boletos do que o necessário e enviando a protesto título que representava dívida já quitada - Verba devida, pois inegável que tal ato afeta o bom nome, fama e prestígio da empresa, na medida em que torna pública a inadimplência, com inequívoca possibilidade de surgir restrições creditícias. Ementa da Redação: O banco que procede à cobrança de débito emitindo mais boletos do que o necessário e enviando a protesto título que representava dívida já quitada tem o dever de indenizar o dano moral sofrido pelo sacado, ainda que se trate de pessoajurídica, pois inegável que tal ato afeta o bom nome, fama e prestígio da empresa, na medida em que torna pública a inadimplência, com inequívoca possibilidade de surgir restrições creditícias. (RT 772/255)
AÇÃO INDENIZATÓRIA - Dano moral - Pessoa jurídica - Protesto indevido de título - Fato que pode atingir bens jurídicos não materiais como seu bom nome e conceito no meio social - Verba devida. Ementa da Redação: É devida indenização por dano moral à pessoa jurídica que tem título indevidamente protestado, pois pode ser atingida em bens jurídicos não materiais como seu bom nome e conceito no meio social, assumindo tal reparação caráter compensatório, em razão de transtornos decorrentes do ato indevido e das providências para regularizar a situação da empresa junto aos credores. (RT 751/282)
Nexo causal.
CONSIDERAÇÕES GERAIS
Nexo causal corresponde à relação de causalidade entre a ação ou omissão do agente e o dano ocasionado. É o liame que une a conduta ao resultado lesivo, de modo que se permita concluir que o dano foi ocasionado pela pessoa a quem se imputa a responsabilidade, fazendo recair sobre ela o dever de indenizar a vítima.
Com efeito, ainda que tenha ocorrido o dano, mas se sua causa não está relacionada com o comportamento do agente, não há que se falar em reparação. Em outras palavras, o dano tem que ter sido causado pela ação ou omissão do agente. Como expressou Demogue, é preciso ter certeza que, sem a ação, o dano não teria acontecido. (René Demogue, Traité des obligations en general, vol. 4, n. 66.)
O nexo causal constitui, assim, um dos elementos essenciais da responsabilidade civil. Sem ele, não há como afirmar que o dano tenha sido causado pela culpa do sujeito.
Conforme explica Rui Stoco, no tocante à determinação do nexo causal, duas questões se antepõem: a primeira pertine à dificuldade de sua prova; a segunda, à identificação do fato que constitui a verdadeira causa do dano, principalmente quando este se originou de causas múltiplas. (Rui Stoco, Tratado de responsabilidade civil, p. 146.)
Havendo mais de uma causa, há que se verificar primeiramente se essas “concausas” são simultâneas ou sucessivas.
Nas concausas simultâneas, há um só dano, embora ocasionado por mais de uma causa. Nesse caso, aplica-se na responsabilidade extracontratual o disposto no art. 942 do Código Civil: “se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação”.
Nas concausas sucessivas, por outro lado, é que reside a grande dificuldade de se identificar o dano relacionado a cada uma delas. Para isso, há três teorias principais, que serão expostas a seguir.
TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DAS CONDIÇÕES
Por esta teoria, também chamada de conditio sine qua non, causa é tudo aquilo que concorre para o resultado. Não se faz distinção entre causa, condição ou ocasião. Assim, se várias condições concorrerem para o mesmo resultado, todas teriam o mesmo valor ou relevância, de modo a se equivalerem. O grande problema dessa teoria, porém, é que permite uma regressão quase infinita.
TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA
Segundo essa teoria, causa será o antecedente não só necessário, mas também adequado à produção do resultado. Assim, ao contrário da teoria da equivalência, nem todas as condições serão consideradas causa, mas tão somente aquela que for a mais apropriada a produzir o resultado, ou seja, aquela que, de acordo com a experiência comum, for a mais idônea à realização do evento danoso. Para se considerar uma causa adequada, esta deverá, segundo uma apreciação probabilística, ser apta à efetivação do resultado. No disparo de uma arma de fogo, por exemplo, a sua fabricação não seria causa adequada para a efetivação do evento morte.
TEORIA DA CAUSALIDADE DIRETA OU IMEDIATA
Esta teoria, desenvolvida no Brasil por Agostinho Alvim, entende como causa apenas o antecedente fático que, ligado por um vínculo de necessariedade ao resultado danoso, determinasse este último como uma consequência sua, direta e imediata.
TEORIA ADOTADA PELO CÓDIGO CIVIL
Segundo Carlos Roberto Gonçalves, das várias teorias sobre o nexo causal, o nosso Código Civil adotou a do dano direto e imediato (Carlos Roberto Gonçalves, Comentários ao novo código civil, vol. 11, p. 272.), segundo se depreende do art. 403: “Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.” No entanto, por vezes a jurisprudência adota a causalidade adequada, no mesmo sentido. (Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, Novo curso de direito civil, vol. 3, p. 105.)
Um exemplo facilitará a compreensão: Uma pessoa deu uma pancada leve na cabeça de outra. Sua ação seria insuficiente para causar um grave dano, mas a vítima, portadora de uma fraqueza particular dos ossos do crânio, veio a morrer. Pela primeira e pela terceira teorias, o sujeito responde; pela segunda, não responderia.
A teoria da causalidade adequada exige que a relação de causa e efeito sempre exista em casos da mesma natureza. Ou seja, uma leve pancada na cabeça de uma pessoa normal não provocaria sua morte e, por isso, o agente não responderia. (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: responsabilidade civil, p. 331.)
Diferentemente do Código Civil, o Código Penal adotou a teoria da conditio sine qua non (art. 13). Atribui relevância causal a todos os antecedentes do resultado. Segundo Damásio, porém, a teoria não leva a excessos, pois o agente não responde em face da ausência de culpa. (JESUS, Damásio de. Direito Penal: parte geral, p. 221.)
CONCAUSAS PREEXISTENTES E CAUSA SUPERVENIENTE
As concausas preexistentes (ou seja, as que já existiam no momento da conduta do agente) não eliminam o nexo causal. Assim, as condições pessoais de saúde da vítima (p. ex., saúde debilitada) não diminuem a responsabilidade do agente.
A causa superveniente, em regra, também não favorece o agente, ainda que o resultado tenha sido agravado por ela. Assim, por exemplo, a inexistência de um determinado fármaco no hospital poderá dificultar o tratamento da vítima, mas isso não livrará o causador do dano da responsabilidade pelo ato praticado. A causa superveniente só será útil ao agente se romper o nexo causal, provocando, por si só, o resultado: por exemplo, se a vítima, internada no hospital, vier a morrer diante de um erro médico.
EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE
Entre as excludentes de responsabilidade, são importantes, nesse estudo, aquelas que afastam o dever de indenizar por romperem o nexo causal. Nesse sentido, a culpa exclusiva da vítima, o fato de terceiro, o caso fortuito e a força maior.
http://www.ligiera.com.br/resumos/responsabilidade/responsabilidade_06.htm

Outros materiais

Perguntas Recentes