Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Universidade Federal Rural de Semiárido Curso de Direito Arbitragem e Mediação Prof. Me. José Albenes Bezerra Jr. Nota de aula: Meios unilaterais e bilaterais de resolução de conflitos 1. INTRODUÇÃO A cultura demandista ou judiciarista traz, como perverso efeito colateral, a (falsa) percepção de que todo e qualquer prejuízo temido ou sofrido tem que ser necessariamente reparado, não podendo ser relevado ou renunciado, num discurso de tolerância zero que só faz aumentar as tensões e as insatisfações ao interno da coletividade. A vida na sociedade contemporânea, massificada e conflitiva, impõe a consciência de que é preciso abrir algumas concessões e tolerar certos comportamentos, não havendo como como converter cada interesse contrariado ou insatisfeito numa lide judicial, sob pena de se acentuarem as animosidades e de se generalizar a conflituosidade, com repercussão no assombroso número de processos judiciais. Pergunta: Esse ambiente acaba redundando num perverso círculo vicioso onde só resultam perdedores. Quem seriam, então, esses perdedores? _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ É preciso aceitar a inclusão, no conceito de jurisdição, de mecanismos não judiciais de solução de conflitos, permitindo, assim, uma interpretação mais próxima das finalidades na norma de inafastabilidade. Afinal, o objeto do legislador constitucional não é outro do que aquele de propiciar uma resposta adequada a qualquer ameaça ou lesão a direito. Arbitragem e Mediação (Prof. José Albenes Bezerra Júnior) Nota de aula: Meios unilaterais e bilaterais de resolução de conflitos 2 A jurisdição estatal, nesse aspecto, precisa ser vista como um recurso final, uma maneira de obter uma palavra final acerca de determinada controvérsia. A alternativa judicial deixa de significar, entretanto, a saída melhor ou necessária de solucionar uma controvérsia. O modo judicial de solução de conflitos deve ser visto como uma das formas dentro de um universo de alternativas parcial ou totalmente direcionadas aos mesmos fins. Pergunta: “O acesso à justiça precisa ser visualizado como uma cláusula de reserva” (MANCUSO, 2014, p.200). O que seria isso? E qual é sua visão acerca disso? _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ A política de crescimento físico do Judiciário, sobre não resolver o problema do excesso de demanda, ao final se traduz em frustração aos jurisdicionados, que, ou se resignam ao acompanhar o lento e estressante trâmite dos processos, ou aceitam antecipar seu término, não raro firmando acordos insatisfatórios ou mesmo ruinosos. E nesse contexto, a função judicial do Estado sai como: lenta, onerosa, imprevisível, massificada e “injusta”. A concepção de um serviço de distribuição de justiça monopolizado pelo Estado, acompanhado de uma concepção prodigalizada e incondicionada de prestação judiciária, deve ser gradualmente afastada, até porque reporta a uma realidade judiciária defasada, sem mais correspondência com a atualidade, revelando-‐se: IRREALISTA e ATÉCNICA. O que você entende/compreende como irrealista e atécnica? _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ Arbitragem e Mediação (Prof. José Albenes Bezerra Júnior) Nota de aula: Meios unilaterais e bilaterais de resolução de conflitos 3 _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ Não há como negar que o chamado monopólio estatal da distribuição da Justiça não guarda aderência à realidade atual, devendo ser devidamente revistada e contextualizada para se compatibilizar com as novas necessidades e interesses emergentes na contemporânea sociedade massificada e conflitiva. A função judicial do Estado não é imposta aos jurisdicionados, mas na verdade é uma prestação ofertada a quem dela necessite, em face de controvérsias insuscetíveis de composição entre os diretamente interessados. 2. MEIOS UNILATERAIS EM ESPÉCIE 2.1 Renúncia Há casos de renúncia pura e simples, quando o titular do direito simplesmente abre mão do que lhe é devido (direito subjetivo é um poder de agir e não uma obrigação de fazer), excluindo-‐se desse contexto as situações excepcionais, justificadas ora pela natureza da situação, ora pela qualidade das pessoas envolvidas. Segundo Petrônio Calmon (2007, p.63), a renúncia “é um dos resultados possíveis da autocomposição, ocorrendo quando o titular da pretensão dela abre mão totalmente, em uma atitude que se pode considerar altruísta, sem qualquer tipo de contrapartida dos demais envolvidos no conflito”. A renúncia é uma das espécies de autocomposição unilateral, e como há o total abandono da pretensão, sem qualquer exigência, prescinde da concordância da parte contrária. Pode ocorrer sem que haja processo judicial ou em seu curso, considerando a lei como o ato em que o autor renuncia ao direito sobre o qual se funda a ação. No ordenamento jurídico a irrenunciabilidade apresenta-‐se de forma excepcional, tipificando situações que envolvem direitos indisponíveis. 2.2 Desistência Ao contrário da renúncia, que pressupõe uma conduta omissiva, em contemplação de ato ou conduta ainda não praticados, a desistência implica neutralizar os efeitos de ato ou conduta já praticados ou mesmo em andamento, mas ainda não consumados. Arbitragem e Mediação (Prof. José Albenes Bezerra Júnior) Nota de aula: Meios unilaterais e bilaterais de resolução de conflitos 4 Enquanto a renúncia é, precipuamente, referenciada à própria pretensão material ou à prova dos fatos, a desistência contempla situações eminentemente processuais e é por isso que, se a relação processual já está aperfeiçoada com a citação do réu, o autor não pode, sem o consentimento deste, desistir da ação. Isso porque ambas as partes têm direito ao processo, até porque poderia interessar ao réu a continuidade da relação processual. Segundo Petrônio Calmon (2007, p. 63), “fala-‐se em renúncia quando se abre mão do direito material e fala-‐se em desistência quando se refere apenas ao processo em curso. Em ambos os casos o processo é extinto. No primeiro, com julgamento do mérito. No segundo, a sentença que põe fim ao processo é apenas terminativa, pois aquele que deduziu sua pretensão em juízo poderá iniciar novo processo com o mesmo objeto, bastando que cumpra as regras elementares de procedibilidade”. 2.3 Confissão A propalada imparcialidade do juiz hoje não pode mais ser vista no sentido de um distanciamento olímpico com as partes e suas pretensões. Quanto à confissão, prevista entre os meios probatórios, apesar de tradicionalmente ser conhecida como a rainha das provas, limita-‐se à admissão da matéria de fato (art.348, CPC), não abrangendo sua avaliação jurídica, tampouco a aceitação das consequências que a contraparte possa extrair dos fatos. Segundo Humberto Theodoro Júnior (2014, p.502), “pode muito bem ocorrer a confissão e a ação ser julgada, mesmo assim, em favor do confitente. Basta que o fato confessado não seja causa suficiente, por si só, para justificar o acolhimento do pedido”. A confissão é um ato de disposição, ou mesmo de liberalidade, e atua com mais uma finalidade: no plano material, prova o negócio jurídico (art.212, I, CC); no plano processual cível é um elemento acelerador do processo, na medida em que torna incontroversos os fatos confessados, que assim se têm como contrários ao confitente e favoráveis à contraparte (arts. 334, II e 338, CPC). 2.4 Reconhecimento do pedido É figura precipuamente endoprocessual, de sorte que apenas excepcionalmente será formalizado em documento à parte, a ser, na sequência, juntado aos atos judiciais. Arbitragem e Mediação (Prof. José Albenes Bezerra Júnior) Nota de aula: Meios unilaterais e bilaterais de resolução de conflitos 5 Segundo Humberto Theodoro Júnior (2014, p.504), “reconhecida a procedência do pedido, pelo réu, cessa a atividade especulativa do juiz em torno dos fatos alegados e provados pelas partes. Só lhe restará dar por findo o processo e por solucionada a lide nos termos do próprio pedido a que aderiu o réu”. Na realidade, o reconhecimento acarreta o desaparecimento da própria lide, já que sem resistência de uma das partes deixa de existir o conflito de interesses que provocou sua eclosão no mundo jurídico. Em se tratando de forma de autocomposição do litígio, o reconhecimento do pedido pelo réu só é admissível diante de conflitos sobre direitos disponíveis. 3. MEIOS BILATERAIS DE PREVENÇÃO OU RESOLUÇÃO DE CONFLITOS 3.1 Introdução O notório crescimento, quantitativo e qualitativo, dos meios alternativos se verifica em proporção inversa à perda de eficiência e prestígio do serviço estatal de distribuição da Justiça, comprometendo a credibilidade do Judiciário ao interno da coletividade. A facilidade de acesso aos Juizados, por exemplo, acabou por retroalimentar a demanda por justiça. A criação dos Juizados não necessariamente reduz o número de demandas, podendo chegar a um crescimento desse número e a visibilidade de demandas que antes não chegavam ao Judiciário. Dessa forma, partindo da premissa de que ambas as vertentes de distribuição de Justiça buscam objetivo comum, ou seja, a justa composição dos conflitos, então é fundamental que as duas funcionem bem. Quanto aos meios auto e heterocompositivos ditos alternativos, devem se justificar de per si e buscar seu próprio espaço, não devendo, pois, esses outros meios buscar afirmação social apostando na deficiência da justiça oficial, num deletério jogo de soma zero. 3.2 Conciliação É relevante para a compreensão do termo conciliação ter presente que os dispositivos legais colocam-‐na como uma atividade cometida ao juiz da causa, que despassa seu clássico conteúdo ocupacional de destinatário da prova, para, indo além, assumir uma postura pró-‐ativa, atuando como um vetor de possível solução negociada Arbitragem e Mediação (Prof. José Albenes Bezerra Júnior) Nota de aula: Meios unilaterais e bilaterais de resolução de conflitos 6 da lide, numa evidência de que não são autoexcludentes as técnicas impositiva e suasória. Fernanda Tartuce (2011, p.68), define a conciliação como a técnica de autocomposição pela qual um profissional imparcial intervém para, mediante atividades de escuta e investigação, auxiliar os contendores a celebrar um acordo, se necessário expondo vantagens e desvantagens em suas posições e propondo saídas alternativas para a controvérsia sem, todavia, forçar a realização do pacto. O objetivo da sua atuação é alcançar um acordo que não plenamente satisfatório, evite complicações futuras com dispêndio de tempo e dinheiro. A indeclinabilidade da jurisdição e o monopólio estatal da distribuição da justiça passam por severa releitura e por uma correção de rumos, como se extrai de tantas passagens em que o próprio ordenamento positivo prevê ou mesmo incentiva: ü A não formação do processo judicial (Art.217, CF); ü O trancamento daqueles apenas iniciados (Art.295, CPC); ü A aferição administrativa do objeto litigioso em ação judicial dirigida contra a União, em ordem a verificar a plausibilidade da pretensão, para o fim de possível resolução homogênea do conflito em face de outros casos semelhantes. Pergunta: A crise numérica dos processos judiciais, segundo MANCUSO, haveria de ser enfrentada por duas vertentes, que não se excluem, mas se complementam. Você saberia (ou imaginaria) responder quais são essas vertentes? _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ 3.3 Heterocomposição de conflitos A heterocomposição caracteriza-‐se pelo fato de a resolução da controvérsia ser alcançada, não diretamente, pelos próprios interessados, mas pelo consenso em submeter a pendência a uma tertius, um interveniente, que tanto pode ser: ü Um órgão judicial; Arbitragem e Mediação (Prof. José Albenes Bezerra Júnior) Nota de aula: Meios unilaterais e bilaterais de resolução de conflitos 7 ü Um órgão paraestatal. Pergunta: O que seria a heterocomposição através de órgãos parajurisdicionais? _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ 4. EXPANSÃO DOS MEIOS PARAESTATAIS DE DISTRIBUIÇÃO DE JUSTIÇA 4.1 Introdução A heterocomposição quando realizada nas instâncias parajurisdicionais, distingue-‐se daquela promovida pelo Estado-‐juiz pelos seguintes motivos: ü Pela origem ou qualidade dos seus promoventes; ü Pela natureza da decisão proferida; ü Resolve, a um tempo, a crise jurídica e sociológica subjacente; ü É prospectiva, valorizando o aspecto da continuidade das relações fáticas e jurídicas entre os contraditores; ü Ela compõe a controvérsia e encerra o processo, sem deixar resíduos conflitivos. Pergunta: E os meios de heterocomposição parajurisdicional em espécie? ARBITRAGEM:___________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ Arbitragem e Mediação (Prof. José Albenes Bezerra Júnior) Nota de aula: Meios unilaterais e bilaterais de resolução de conflitos 8 _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ MEDIAÇÃO:_____________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ ESPAÇO PARA ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES (Conceitos, artigos e jurisprudência) _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ Arbitragem e Mediação (Prof. José Albenes Bezerra Júnior) Nota de aula: Meios unilaterais e bilaterais de resolução de conflitos 9 _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ O conteúdo aqui previsto não é suficiente para a total compreensão da matéria. Não deixe de assistir às aulas, bem como pesquisar e analisar outras fontes. Bons estudos!
Compartilhar