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Arlindo Ugulino Netto – ANESTESIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 1 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. ANESTESIOLOGIA ANESTESIA INALATÓRIA A reduo da concentrao de oxignio e o aumento da concentrao de gs carbnico produzem inconscincia e analgesia. Da mesma forma, a adio de um certo gs ou vapor ao ar atmosf rico pode produzir o mesmo efeito. Assim, no s culo passado, o xido nitroso (N2O) e, depois, o ter dietlico e o clorofrmio foram utilizados como anest sicos inalatrios em fraes de atmosfera. A administrao de um agente teraputico tem como objetivo a obteno de uma ao farmacolgica com a dose eficaz recomendada oferecendo a menor repercusso sistmica ao paciente. Esta regra deve ser seguida pelos anest sicos de uma forma geral, sobretudo, os inalatrios. Contudo, como se sabe, a anestesia moderna tende a ser, cada vez mais, balanceada – raramente se faz anestesia exclusivamente inalatria. No entanto, seu uso exclusivo ainda feito em algumas anestesias peditricas ou procedimentos de curto perodo de tempo. OBJETIVOS DO ANESTESIOLOGISTA Equilibrar o sistema pulmo-circulao (DA95). Este fato importante pois, quando se faz uma induo inalatria em uma criana, ocorrer induo mais rpida do que em um adulto jovem. Isso se d devido a maior velocidade e capacidade metablica da criana, que maior do que a do adulto, com freqncia respiratria maior. Conhecer os conceitos bsicos de farmacocin tica e farmacodinmica dos agentes inalatrios principais Ter noes farmacolgicas da concentrao alveolar mnima (CAM) de cada anest sico inalatrio, constante de tempo, solubilidade dos anest sicos, captao pelos tecidos, distribuio compartimental, metabolismo e excreo. FARMACOCINTICA DOS ANESTSICOS INALATRIOS A farmacocin tica compreende a absoro, distribuio e eliminao de um frmaco, procurando explicar a entrada das mol culas no organismo, a seletividade dos seus trajetos nos compartimentos orgnicos e sua sada atrav s das vias naturais. Os anest sicos inalatrios desenvolvem suas aes farmacolgicas principais no sistema nervoso central, onde inibem a percepo da sensibilidade. J as aes secundrias, colaterais, so exercidas sobre os outros sistemas do organismo. Seu mecanismo de ao (adiantando um pouco da farmacodinmica destes anest sicos) consiste na expanso das membranas celulares, desarranjo dos canais inicos e sensibilizao de enzimas superficiais. Ação no sistema nervoso central: Atua na inibio da percepo da sensibilidade. Os anest sicos inalatrios atuam sobre as sinapses, interferindo na memria e no estado de alerta. A inconscincia e a amn sia ocorrem fruto da ao do anest sico no c rebro, sendo que, para que isto necessrio uma concentrao alveolar mnima de 25-40%. H ainda evidencias que tais anest sicos atuem sobre a substncia ativadora reticular ascendente (SARA). Como se sabe, o SARA formado por fibras ascendentes, provenientes da formao reticular (ncleos da rafe) e, apresentam como principal ao o controle do esto de viglia. Em estudos experimentais, mostra a importncia dos neurnios da estrutura CA1 do hipocampo na memria antergrada e, consequentemente, na amn sia provocada pelos anest sicos inalatrios. Alem disso, deve-se lembrar que o tlamo uma grande subestao das vias sensoriais e, portanto, a ao analg sica dos anest sicos gerais se relaciona com a inibio da sensibilidade dolorosa em nvel do tlamo. Quanto a ao dos anest sicos inalatrios sobre a medula espinhal, os estudos experimentais apontam que o isoflurano dificulta a transmisso dos impulsos sensoriais da medula para o crtex cerebral. Ações secundárias ou colaterais: Al m da inibio da sensibilidade, os frmacos que atuam como anest sicos inalatrios tamb m apresentam efeitos em vrios sistemas extra-enceflicos, agindo, pois, em sistemtica. Excetuando-se os casos de hipersensibilidade e tolerncia individual, que so muito raros, as aes colaterais dos anest sicos inalatrios so dose-dependentes. CONCENTRAÇÃO ALVEOLAR Administrados por via pulmonar, os anest sicos inalatrios chegam corrente circulatria atrav s da absoro (captao) nos alv olos pulmonares. A medida da concentrao (frao ou fracional) alveolar feita por um processo relativamente simples, mediante anlise do gs expirado final. De um modo geral, os anest sicos inalatrios so bem tolerados at a administrao da dose anest sica, expressa pela concentração alveolar mínima (CAM). A CAM definida pela concentrao de anest sico capaz de manter 50% de uma populao insensvel a um estmulo doloroso padronizado (como a inciso da pele com bisturi). Contudo, este conceito no deve ser levado para uma anestesia efetiva, uma vez que so necessrias doses que garantam a insensibilidade dor em mais de 50% da populao. Esta dose anest sica capaz de sensibilizar pelos menos 90% ou 95% dos pacientes definida pela CAM-expandida (DA90 ou DA95), que a CAM acrescida de Arlindo Ugulino Netto – ANESTESIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 2 aproximadamente um tero (30%) de seu valor (a DA95 vale cerca de 1,3 vezes o valor da CAM; ver OBS 2). Esta sim a CAM teraputica capaz de garantir uma anestesia efetiva. O CAM apresenta algumas variveis que influenciam direta ou indiretamente no seu valor: Diretamente: a idade do paciente (sobretudo extremos de idade, sobretudo os idosos, que necessitam de concentraes anest sicas menores, diferentemente da criana, que necessitam de uma concentrao um pouco maior devido ao seu metabolismo aumentado); ciclo circadiano; drogas; funo tireoidiana; temperatura corporal. Indireta: sexo; tempo de administrao da anestesia; concentrao de O2; alteraes do pH (equilbrio cido- bsico); PaCO2 (limites compatveis com a vida); presso arterial. Depois da d cada de 40, foram estudadas algumas dezenas de novos agentes. Desses, alguns foram usados clinicamente, como o halotano, fluomar, enflurano e o isoflurano. Os que permanecem so o halotano, enflurano e o isoflurano. Recentemente, foram introduzidos o sevoflurano e desflurano. Observe a tabela ao lado, que relaciona a CAM com a idade do paciente, que na maior parte da vida, o CAM do xido nitroso ultrapassa os 100%, enquanto que o halotano apresenta uma CAM menor que 1%, o que prova a sua maior potncia com relao aos demais anest sicos inalatrios. Contudo, apresenta alguns efeitos indesejados como a hepatotoxicidade. Por esta razo, no possvel realizar apenas o xido nitroso para promover a anestesia, sob pena de levar o paciente hipxia difusional. Isto porque no alv olo, s haveria concentraes de xido nitroso, faltando o oxignio. A hipxia difusional responsvel pela maioria dos relatos de cefal ia, nusea e letargia que ocorrem aps administrao do N2O – um efeito “ressaca”. Os alv olos do paciente, que est respirando o ar atmosf rico se tornam preenchidos com uma mistura de N2, O2 , CO2 , N2O e H2O (em estado de vapor). Durante os primeiros minutos que o paciente respira o ar atmosf rico, grandes volumes de N2O se difundem a partir do sangue e so expirados. Isso significa dizer que, no ocorrer a presena de O2 nos alv olos e, somente N2O. A perfuso do O2, portanto, estaria prejudicada, fazendo com que o paciente desenvolva uma acidose respiratria com uma consequente morte cerebral. Recomenda-se, portanto, concentraes mnimas de oxignio a 25% e 75% de N2O. Na prtica anest sica, para ter uma maior margem de segurana, utiliza-se 1/3 de O2 (33,3%) e 2/3 de N2O (66,6%). Contudo, existem escolas que utilizam concentraes meio a meio (50% de O2 e 50% de N2O). O isoflurano, bastante utilizado atualmente, capaz de diminuir o fluxo sanguneo cerebral, sendo bastante til em neurocirurgias. O isoflurano responsvel aindapelo referido efeito Robin Wood, isto , realiza um seqestro do sangue da circulao coronariana e, portanto, o seu uso deve ser repensado em pacientes coronariopatas. Para estes, est indicado o sevoflurano, capaz de realizar os mesmos efeitos do isoflurano em nvel de SNC sem promover seqestro de circulao coronariana. O sevoflurano , atualmente, considerado o melhor e mais efetivo anest sico inalatrio no mercado. J o enflurano vem entrando em desuso por ser responsvel por liberar ons fluoretos nefrotxicos. OBS1: Fluxômetro. O fluxometro trata-se de um equipamento componente dos aparatos anest sicos que apresenta um medidor de fluxo de oxignio, de nitrognio e de ar comprimido. Os fluxmetros mais simples apresentam apenas duas colunas, a de nitrognio e de oxignio. Estas colunas medem o fluxo dos respectivos gases que entram no aparelho por meio de aparelhos valvulares denominados servomax de fluxo e servomax de presso, que aplicam uma presso de 3,5 kpsi2 sobre o sistema do fluxmetro. Caso a presso seja menor, podem ocorrer intervenincias no funcionamento da anestesia. Contudo, o sistema valvular do servomax de presso responsvel por impedir qualquer oscilao na presso, garantindo uma boa alimentao e distribuio dos gases inalatrios para os blocos cirrgicos. O sistema valvular de servomax de fluxo responsvel por aferir a concentrao de oxignio e, caso a concentrao caia para menos de 25% do ar fornecido ao paciente, o aparelho ativa um sinal sonoro na forma de alarme e corta, automaticamente, o fornecimento de xido nitroso como um mecanismo de segurana. OBS2: Relação fração alveolar x concentração alveolar mínima. Admitindo que na maioria das anestesias inalatrias bem conduzidas a concentrao alveolar estaria prxima concentrao alveolar mnima (DA50), ou entre esta e a concentrao mnima expandida (DA95), pode-se dizer que a relao Fa/CAM seria de 1-1,3 considerando que a DA95 cerca de 30% maior do que a DA50. Desse modo, para haver inibio da sensibilidade durante a induo da anestesia, necessrio obter uma concentrao alveolar suficiente, que represente a dose anest sica. No inicio da administrao, o anest sico inalatrio sofre duas diluies: (1) no volume do sistema de inalao; (2) no volume a reo do pulmo. Por isso, existe uma grande diferena entre a concentrao administrada (frao inalada ou FI) e a concentrao alveolar (frao alveolar ou FA). medida que o tempo passa, a diferena diminui e o equilbrio cin tico vai se processando. A Arlindo Ugulino Netto – ANESTESIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 3 relação FA/FI vai se aproximando de 1. Embora se saiba que, durante uma anestesia clinica clássica, esse equilíbrio cinético não se processa, a relação Fa/Fi pode ser suficientemente elevada de forma que a relação Fa/CAM esteja próxima ou pouco abaixo de 1,3 (CAM-expandida, DA95). CONSTANTE TEMPO E MECANISMO DE PRÉ-OXIGENAÇÃO Velocidade em que a CAM alcança o cérebro e prevê o tempo de equilíbrio entre o que foi captado, absorvido e distribuído, de modo que já tenha acontecido 63,2% de substituição de N2O no órgão ou tecido da concentração anestésica (desnitrogenação: processo obtido pela infusão de O2 a 100% durante 5 minutos). Constante tempo (CT) = Volume/Fluxo Quanto maior for o volume, maior será o tempo para induzir o procedimento anestésico. Quanto maior for o fluxo, menor será o tempo necessário para levar o agente anestésico inalatório para dentro do alvéolo. Foi demonstrado cientificamente que, no primeiro minuto, é possível retirar 63,2% de concentração de nitrogênio alveolar com o uso de oxigênioterapia a 100%. Dos 33,8% restantes, a cada minuto de oxigênioterapia, mais nitrogênio vai sendo retirado. No 6º minuto, 100% do nitrogênio pulmonar deve ter sido retirado, o que significa dizer que, neste 6º minuto, o alvéolo está 100% saturado de O2. Este princípio é utilizado no mecanismo de pré-oxigenação do paciente, procedimento capaz de realizar, depois de 5 minutos de oxigenioterapia a 100% (por meio de uma máscara) antes da indução da anestesia, a desnitrogenação do paciente. Depois de retirado todo o nitrogênio do alvéolo, este estará ávido e extremamente sensível para a infusão de qualquer substância, sobretudo, dos agentes anestésicos de cunho inalatório (mesmo em menor concentração e volume). Estes agentes encontrarão nos alvéolos apenas o O2, gás de alta difusibilidade (só não é maior que a do CO2), e terão maior facilidade para difundir-se ao longo das paredes alveolares. SOLUBILIDADE DOS ANESTÉSICOS De uma forma geral, para obter uma adequada indução anestésica, o profissional deve estabelecer um equilíbrio de pressões parciais do anestésico entre o alvéolo e o sangue arterial. Cada agente anestésico específico apresenta determinada estrutura molecular, conseqüentemente, a capacidade de difusão é dada particularizada de acordo com a droga anestésica utilizada. O agente anestésico entra no alvéolo, vai tomando toda a parede interna do alvéolo, aumentando a sua pressão parcial. Por fim, consegue passar através dos capilares e conseguem entrar na circulação sistêmica. Na medida em que o gás anestésico toma uma pressão parcial alta, consegue fazer sua captação e sua passagem de dentro para fora do alvéolo. Atinge na circulação sistêmica, níveis basais sistêmicos. Quanto mais solúvel, mais facilmente o anestésico passará pelo alvéolo e, ocorrerá seu efeito mais rapidamente. A solubilidade de um agente é expressa pelos coeficientes de partição. Por definição, o cociente de partição é a relação entre a quantidade (massa) de um agente em dois meios quando se processa o equilíbrio, ou seja, quando nenhuma molécula passa mais de um para outro meio. Deste modo, há o coeficiente de partição sangue/gás e o coeficiente de partição tecido/gás. Quanto menores estes coeficientes, mais rápido será o aumento da pressão parcial do anestésico no alvéolo, aumentando a velocidade de sua difusão. Contudo, quanto maior for o coeficiente gordura/gás, menor será a velocidade. EFEITO DO SEGUNDO GÁS Quando administrado em altas concentrações um agente anestésico como N2O promove uma grande transferência do volume do gás alveolar para o sangue, devido ao elevado gradiente de pressão parcial. Considerando que o N2O não existe no organismo, o gradiente de pressão alvéolo/sangue é muito alto, permitindo essa rápida captação, diferente do oxigênio já existente em nosso organismo (que está saturando a hemoglobina em quase 100% e exerce uma pressão parcial no plasma). Arlindo Ugulino Netto – ANESTESIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 4 Em razo do rpido deslocamento de volume do xido nitroso, a capacidade residual funcional diminui e os gases alveolares remanescentes aumentam suas concentraes porque perderam uma parte significativa do maior diluente, que o xido nitroso. Em resumo, o efeito de segundo gs regido pela seguinte lei fsico-qumica: quando um vapor se encontra em equilbrio no alv olo e um gs menor e solvel acrescentado, ocorre aumento na concentrao deste vapor. O N2O transfere-se para o sangue mais rapidamente que o primeiro agente administrado, diminuindo assim a sua concentrao nos alv olos e aumentando a dos gases remanescentes. Em exemplos prticos, faz-se primeiro a desnitrogenao do paciente (com oxignio a 100%). Logo depois, aplica-se o agente anest sico inalatrio (como o halotano) e, concomitantemente, administra-se xido nitroso, o “segundo gs”, responsvel por, de maneira didtica, empurrar o primeiro gs contra a parede dos alv olos (aumentando, assim, a presso parcial do primeiro gs, isto , do anest sico inalatrio), aumentando a velocidade de induo do anest sico. EFEITO DA CONCENTRAÇÃO Quanto maior a concentrao do gs inspirado, maior ser a velocidade de aumento da concentrao alveolar. A afirmao explicao efeito do segundo gs pela concentrao elevada do primeiro gs, a exemplo do xido nitroso como primeiro gs e do halotano como segundo gs. Certamente, a concentrao do segundo gs s acontece se o primeiro for transferido em grandes volumes. CAPTAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DOS ANESTÉSICOS A captao do anest sico inalatrio no alv olo pelo sangue depende da perfuso sangunea do alv olo e da solubilidade do agente no sangue, expressa pelo coeficiente de partio sangue/gs. A distribuio do anest sico pelo organismo depende da perfuso sangunea dos vrios rgos e da solubilidade do agente no sangue. H ainda alguns outros fatores que influenciam na captao e distribuio dos anest sicos: durao da anestesia, massa corporal magra e gorda. Tendo maior massa corporal, o individuo capta mais anest sico porque tem maior perfuso tecidual. Por isso, sua concentrao alveolar sempre mais baixa, quando comparado com o individuo normal ou magro. Isso repercute na relao Fa/Fi, que mais baixa, e consequentemente na relao Fa/CAM, que passa a ter um maior tempo para atingir 1, significando uma induo anest sica inalatria mais longa. A captao dependente da retirada do N2 do pulmo (pela alocao do agente anest sico atrav s do processo de respirao, a depender da frao inspirada do paciente). A relao entre a frao alveolar (FA) e a frao inspirada (FI) retrata a velocidade que ocorre a elevao da concentrao no alv olo em relao a frao administrada. A captao e a distribuio dos anest sicos inalatrios sofrem influncia de vrios outros fatores: perfuso sangunea tecidual, massa corporal magra, massa corporal gorda, durao da administrao de anest sico, etc. O segundo gs responsvel por aumentar o FA/FI do primeiro anest sico. DISTRIBUIÇÃO COMPARTIMENTAL A ordem de distribuio compartimental dos anest sicos inalatrios a seguinte: (1) rgos ricamente vascularizados (c rebro, corao, pulmes, rins e fgado); (2) msculos; (3) Gordura; (4) Pobremente vascularizados (Cartilagens e Ossos). EFEITOS NA VENTILAÇÃO E NO DÉBITO CARDÍACO Quanto maior a ventilao, maior ser a velocidade de concentrao alveolar e mais rpida a induo anest sica. Quanto maior o debito cardaco, menor a velocidade de aumento da concentrao alveolar e mais lenta ser a induo. ELIMINAÇÃO Enquanto o anest sico vai sendo eliminado, processa-se a regresso da anestesia. Sendo ela um fenmeno reversvel, pode-se falar em sua indicao, manuteno e regresso. O termo regresso refere-se mais especificamente farmacologia e est relacionado com os nveis de conscincia ps-anest sica. O termo recuperao mais gen rico, mais abrangente, e envolve todos os aspectos da reversibilidade anest sica, incluindo o estgio de regresso e a estabilidade cardiorrespiratria. Na anestesia inalatria, sempre que a concentrao inspirada menor do que a concentrao alveolar, o anest sico retorna boca e ao sistema de anestesia. Consequentemente, passa do sangue para o alv olo e das c lulas para o sangue por diferena de presso parcial, que dependente da diferena de concentrao. medida que o Arlindo Ugulino Netto – ANESTESIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 5 anestésico do sistema de anestesia vai sendo eliminado, a concentração inspirada e a concentração administrada se aproxima do zero. Passado algum tempo de eliminação do anestésico, aproximadamente 10 minutos, o paciente está quase acordado, é capaz de obedecer a comandos e abrir os olhos ou a boca quando solicitado. Nesse momento, ele tem no alvéolo uma concentração anestésica equivalente à meia concentração alveolar mínima, que por definição é a CAM- acordado, isto é, concentração alveolar mínima em que o paciente obedece comando. Parte considerável do anestésico foi então eliminado. Para que isso acontecesse, foi necessário um débito cardíaco capaz de perfundir bem todo o organismo e de trazer para o alvéolo pulmonar uma boa porção do anestésico retido no sistema nervoso central. Completando o processo de eliminação, a ventilação alveolar traz o anestésico do alvéolo para o ambiente. Alguns fatores, além da perfusão sanguínea e ventilação alveolar, podem interferir na regressão da anestesia. A duração da administração de anestésicos, a massa corporal (especialmente a gordurosa) e a solubilidade do agente são fatores determinantes importantes. O compartimento gorduroso, sendo pouco perfundido e tendo grande capacidade de estocar anestésico pela alta solubilidade dos agentes nas gorduras, exerce maior influência nos estágios finais de regressão da anestesia, porque elimina os anestésicos lentamente e, por isso, mantém a concentração alveolar apenas subanestésica. FARMACODINMICA DOS ANESTSICOS INALATRIOS A estrutura química dos anestésicos é a responsável por determinar as suas propriedades físicas, sendo também capazes de explicar a ação farmacológica desses agentes. Existe uma relação entre peso molecular, solubilidade e ponto de ebulição. A halogenização (adição de elementos halogenados: Cl-, Fl-, Br-, I-) dos hidrocarbonetos promoveu os ensaios de um considerável numero de agentes, o que ocorreu após o grande desenvolvimento da química nuclear, com a preparação do hexafluoreto de urânio na década de 40. Quimicamente, quando se substitui átomos de Hidrogênio de um hidrocarboneto por Flúor, aumenta o peso molecular, solubilidade e ponto de ebulição. Atualmente, a tendência é para os menos solúveis, menos potente. A justificativa maior é a baixa metabolização. Sendo pouco potentes, com a concentração alveolar mínima elevada, para que esta venha a ser atingida, a vaporização do agente é muito grande e, obviamente, o gasto significativamente alto. Dentro das propriedades físico-químicas, destaca-se o tamanho e o peso molecular dos agentes. Alguns agentes anestésicos inalatórios, a depender do tamanho de sua molécula, conseguem ultrapassar a barreira hemato-encéfalica e hemato-placentária (quase todos os agentes inalatórios apresentam tal propriedade). Os que tem peso molecular abaixo de 200, passam estas barreiras tranquilamente; os que têm um peso molecular intermediário entre 400 e 600, passam mais lentamente; os anestésicos com mais de 600 de peso molecular não passam estas barreiras. Os anestésicos que conseguem difundir-se e chegar ao útero favorecem o relaxamento da musculatura uterina, podendo causar aborto ou trabalho de parto prematura em pacientes obstétricas submetidas a cirurgias que não o parto. A recomendação técnica é que se utilize metade dos valores da DA95 dos anestésicos inalatórios juntamente à anestesia venosa para este grupo de pacientes. OBS3: O óxido nitroso, ao contrário da maioria dos anestésicos inalatórios, não interfere na ação da musculatura uterina. Esta particularidade expõe a importância de explorar o efeito de segundo gás do N2O durante a indução anestésica inalatória em pacientes gravídicas. Arlindo Ugulino Netto – ANESTESIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 6 OBS4: A paciente grvida, por si s, apresenta uma menor necessidade de substncias opiides (apresentam uma proteo da interao das catecolaminas endgenas). A mesma indicao deve ser feita para a succinilcolina (bloqueador neuromuscular despolarizante), uma vez que a paciente grvida apresenta pouca quantidade de pseudocolinesterase (dependendo de doses menores deste bloqueador). Devemos saber ainda que a paciente grvida deve sempre ser considerada um paciente de “estomago cheio”, aumentando a possibilidade de a grvida desenvolver uma aspirao de contedo gstrico regurgitado. MECANISMO DE AÇÃO Duas teorias tentam explicar o mecanismo de ao dos agentes inalatrios: Teoria de Meyer-Overton: droga lipossolvel aumenta o volume da membrana lipdica que, por sua vez, distorce as protenas da membrana. Hipótese do receptor de proteína: o agenteinalado liga-se diretamente a parte hidrofbica da protena de membrana. EFEITOS CARDIOVASCULARES DOS ANESTÉSICOS INALATÓRIOS Os efeitos cardiovasculares dos anest sicos inalatrios so de grande importncia pois podem alterar o equilbrio entre a oferta e o consumo de oxignio pelo miocrdio. Dentre as propriedades farmacodinmicas dos anest sicos inalatrios, uma das principais caractersticas a ser estudada o impacto destes agentes no sistema cardiovascular. Alguns agentes anest sicos aumentam a freqncia cardaca, outros diminuem, outros ainda sensibilizam a produo de catecolaminas endgenas. Todos os agentes anest sicos inalatrios so cardiodepressores (alguns deprimem mais do que outros). O halotano, por exemplo, diminui a contratilidade miocrdica, o debito cardaco, a presso arterial m dia, a frequncia cardaca e a resistncia vascular. Alguns agentes anest sicos aumentam o fluxo sanguneo cerebral, excluindo a sua escolha para a realizao de procedimentos neurocirrgicos. O oxido nitroso apresenta capacidade de aumento exagerado da presso parcial, da que, ocorre o preenchimento de determinadas cavidades (propicia o pneumotrax, distenso abdominal, dentre outros). Aumenta a possibilidade de que ocorra embolia de fossa posterior. O halotano produz reduo dose-dependente da contratilidade miocrdica e do d bito cardaco, do que resulta aumento da pr -carga. H pouca alterao da resistncia vascular sistmica. Como o d bito cardaco est diminudo, ocorre diminuio dose-dependente da presso arterial m dia, sendo a sistlica mais afetada do que a diastlica. O fluxo sangneo cerebral est aumentado, ao passo que o fluxo sangneo heptico est dimnudo. O halotano parece influenciar menos a resistncia vascular coronariana do que o isoflurano. Diferentemente dos demais anest sicos inalatrios, a freqncia cardaca diminui em parte porque as respostas simpticas esto deprimidas (efeito central do anest sico) e em parte por efeito direto sobre o ndulo sinoatrial e o sistema de conduo, levando reduo da velocidade de gerao e conduo de impulsos. Ocorre uma importante interao entre o halotano e as catecolarninas endgenas e exgenas, originando arritmias ventriculares, incluindo taquicardia e fibrilao ventriculares. O enflurano possui efeitos cardiovasculares intermedirios entre os do halotano e os do isoflurano. Assim, o halotano e o enflurano possuem maior efeito inotrpico negativo, ao passo que o isoflurano o mais potente vasodilatador entre os trs agentes. A diminuio da presso arterial observada durante anestesia com o enflurano resulta em parte da reduo do d bito cardaco e em parte da diminuio da resistncia vascular sistmica. A freqncia cardaca est comumente aumentada, e as respostas mediadas por barorreflexo esto deprimidas. Por efeito direto sobre o corao anest sico reduz a gerao e a conduo de impulsos e no sensibiliza o miocrdio s catecolaminas. A estabilidade do ritmo cardaco na presena de epinefrina circulante (endgena ou exgena) maior com o isoflurano e menor com o halotano, ocupando o enflurano uma posio intermediria. O enflurano causa reduo da resistncia vascular coronariana, a qual parece ter significado clnico. O enflurano nefrotxico. Arlindo Ugulino Netto – ANESTESIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 7 O isoflurano produz menor alteração do débito cardíaco, em função do menor efeito inotrópico negativo quando comparado ao halotano e ao enflurano. Gera aumento da freqüência cardíaca e este efeito parece ter mediação central. Causa a maior redução da resistência vascular sistêmica quando comparado ao halotano e ao enflurano e não sensibiliza o miocárdio às catecolaminas endógenas e exógenas. O ritmo cardíaco é notavelmente estável, constituindo uma vantagem definida sobre o halotano e, em menor extensão enflurano. Essa maior estabilidade do ritmo cardíaco está ligada provavelmente ao menor efeito do isoflurano sobre a geração e a condução de impulsos, de tal modo que as arritmias causadas por alteração do automatismo e pelo fenômeno de reentrada são raras. Concentrações de isoflurano inferiores a 1 CAM não provocam aumento do fluxo sangüíneo cerebral na presença de PaCO2 normal, ao contrário do que ocorre com halotano e enflurano. Em níveis mais profundos de anestesia, o isoflurano aumenta fluxo sangüíneo cerebral e, consequentemente, a pressão craniana, mas ainda assim em menor extensão do que a com o halotano. Esta característica do isoflurano é de grande importância em anestesia para neurocirurgia. O isoflurano diminui a resistência vascular coronariana. Por outro lado, diminui também a resistência vascular sistêmica e, se em conseqüência ocorre queda da pressão arterial média, pode causar diminuição do fluxo sangüíneo coronariano. Não obstante, a diminuição da resistência vascular coronariana tende a aumentar o fluxo sangüíneo nas áreas com vasculatura coronariana normal. O global do anestésico sobre a perfusão coronariana depende do balanço entre esses dois fatores. Na presença de doença vascular coronariana, pode haver redistribuição do fluxo sangüíneo levando à redução distal na área da estenose. O termo "roubo do fluxo coronariano" foi proposto para definir esta situação em que o fluxo sanguíneo é desviado de áreas isquêmicas para áreas com vasculatura normal (efeito Robin Hood), piorando a isquemia miocárdica. Este efeito do isoflurano é, até certo ponto, semelhante ao de substâncias utilizadas no tratamento de doença isquêmica do miocárdio, como a nitroglicerina e antagonistas de cálcio. O benefício ou a piora do quadro parecem depender do calibre dos vasos afetados pelo agente vasodilatador, Embora não tenha sido demonstrado agravamento da isquemia por "roubo" de fluxo sanguíneo de áreas isquêmicas para áreas não-isquêmicas do miocárdio no paciente anestesiado com ísoflurano, é prudente evitar o uso desse agente em pacientes com doença vascular coronariana atingindo múltiplos vasos, especialmente na presença de insuficiência ventricular esquerda. O desflurano produz diminuição dose-dependente da contratilidade miocárdica e da pressão arterial média, de maneira similar ao que ocorre com o isoflurano. Diminui a resistência vascular sistêmica e eleva a freqüência cardíaca. Associa-se à hiperatividade simpática em concentrações superiores a 6%. Ocasiona pequena alteração da resistência vascular coronariana, não havendo evidência do fenômeno de "roubo de fluxo coronariano" com este agente. Pode haver piora da isquemia em coronariopatas quando seu uso é acompanhado de taquicardia e hipertensão arterial, o que é eliminado pela combinação do desflurano com um opióide como o entanil. Não sensibiliza o miocárdio à ação de catecolaminas endógenas ou exógenas, apresentando perfil semelhante ao do isoflurano. O sevoflurano deprime a contratilidade rniocárdica em extensão semelhante do isoflurano, provavelmente devido ao bloqueio do influxo de íons cálcio. Reduz a pressão arterial de maneira paralela à redução resistência vascular sistêmica. O débito cardíaco é preservado em concentrações de uso clínico. Não altera significativamente a freqüência cardíaca, o que é benéfico para o portador de doença isquêmica do miocárdio, uma vez que não há aumento do consumo de oxigênio pelo órgão nem diminuição do tempo disponível para o enchimento coronariano durante a perfusão. ·É um vasodilatador coronariano menos potente que o isoflurano, não tem efeito sobre o diâmetro dos grandes vasos coronarianos nem promove o fenômeno de "roubo de fluxo coronariano" em modelo experimental. Ele não sensibiliza o miocárdio à ação de catecolaminas endógenas ou exógenas; a dose de epinefrina capaz de produzir ectopia ventricular não difere da observada com o isoflurano. O óxido nitroso embora haja relato de propriedades depressoras do miocárdio, elas não parecem ter significadona prática clínica. A freqüência cardíaca não se altera ou diminui ligeiramente, a resistência vascular sistêmica eleva-se e não há alteração da pressão arterial média. Ele não sensibiliza o miocárdio à ação de catecolaminas endógenas ou exógenas. \ OBS5: Fatores que determinam a oferta de oxigênio para o miocárdio Fluxo sanguíneo coronário (diretamente proporcional) Resistência vascular coronariana (inversamente proporcional) Pressão aórtica diastólica (diretamente proporcional) Pressão ventricular esquerda em final de diástole (inversamente proporcional) Tempo diastólico (diretamente proporcional) Conteúdo de oxigênio no sangue arterial (diretamente proporcional) Pressão intramural ventricular (inversamente proporcional) OBS6: Fatores que determinam o consumo de oxigênio pelo o miocárdio Tensão na parede ventricular durante a sístole (pós-carga) Pressão ventricular esquerda no final da diástole (pré-carga) Pressão aórtica diastólica Espessura da parede do ventrículo Contratilidade do miocárdio Frequência cardíaca OBS7: Uma anestesia ineficiente pode causar, secundário a dor do paciente, a liberação de catecolaminas endógenas (como a adrenalina e a noradrenalina) que aumentam a resistência vascular periférica e, com isso, aumentam a pressão sistólica a pressão diastólica, aumentando assim, o trabalho do miocárdio e o consumo de oxigênio por este músculo, Arlindo Ugulino Netto – ANESTESIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 8 podendo causar hipóxia e arritmias cardíacas importantes. Em casos mais graves, a isquemia e a parada cardíaca são eventos consideráveis. EFEITOS RESPIRATÓRIOS Ocorre, nos primeiros momentos da anestesia, um aumento da frequência respiratória devido à inibição inicial dos neurônios inibitórios, seguida, só depois, da inibição dos neurônios excitatórios. É neste segundo momento que ocorre a diminuição da frequência e da amplitude respiratória. Contudo, os efeitos da anestesia sobre as condições respiratórias dependem muito do estado clínico do paciente durante o procedimento cirúrgico e outros fatores, como a posição e a idade do mesmo. Todos os agentes inalatórios halogenados deprimem a ventilação alveolar de maneira dose-dependente, do que resulta elevação da PaCO2. Em um primeiro momento, há um aumento da freqüência respiratória (inibição dos neurônios inibitórios e predominância dos neurônios excitatórios) e, em um segundo momento, ocorrerá à diminuição do volume corrente (diminuição da freqüência respiratória e amplitude). A estimulação cirúrgica diminui o grau de depressão da ventilação, provavelmente pelo efeito da liberação de catecolaminas induzida pela cirurgia sobre o mecanismo de controle central da respiração. Além dessa inibição acima citada, é devido comentar sobre a inibição que ocorre por parte dos agentes anestésicos inalatórios dos centros respiratórios. Na medida em que o CO2 aumenta, ocorrerão estímulos ao centro respiratório para que o paciente respire. A resposta ventilatória à hipóxia é deprimida pelos agentes inalatórios. Todos possuem efeito broncodilatador, o que pode ser útil em anestesia no paciente asmático. Não obstante há que se considerar que o isoflurano e o desflurano são irritantes para o trato respiratório, e o halotano é arritmogênico. O odor agradável e a ausência de irritabilidade do trato respiratório parecem fazer do sevoflurano um agente especialmente indicado não só em anestesia do asmático, mas também na indução inalatória em pacientes pediátricos. Na circulação pulmonar, a resposta vasoconstritora à hipóxia é atenuada, em maior ou menor grau, por todos os agentes inalatórios. EFEITOS SOBRE A TRANSMISSÃO NEUROMUSCULAR Todos os agentes inalatórios halogenados deprimem a transmissão neuromusculares e potencializam os bloqueadores neuromusculares não-despolarizantes, quando administrados em altas concentrações. O enflurano e o isoflurano são mais potentes do que o halotano na intensificação do efeito do pancurônio, ao passo que o enflurano é mais potente do que o halotano e o isoflurano na interação com o vicurônio. Esta propriedade dos agentes inalatórios parece ser devida a um efeito pré-sináptico, e ela é mais pronunciada quando é atingido o estado de equilíbrio entre as concentrações do agente inalatório nos vários compartimentos. Assim, a potencialização do efeito do bloqueador neuromuscular não-despolarizante é mais intensa com agentes como o sevoflurano e o desflurano, com os quais o estado de equilíbrio entre as frações alveolar e inspirada é atingido mais rapidamente. O isoflurano consegue potencializar os efeitos dos bloqueadores neuro-musculares aumentando a permanência desses bloqueadores nos receptores colinérgicos. EFEITOS SOBRE O SISTEMA NERVOSO CENTRAL Determinados agentes inalatórios causam aumento ou diminuição do fluxo sanguíneo cerebral e, outros se apresentam indiferentes quanto esse processo. Quanto maior for a PaCO2, maior será a vasodilatação cerebral. Todas as vezes quando se realiza anestesia, deve-se evitar a PaCO2 muito elevada, pois, ocorrendo vasodilatação cerebral, o paciente ficará refratário ao edema cerebral e, posteriormente, poderá ocorrer isquemia e áreas de infarto cerebral. Por vezes, ainda podem ocorrer acidose respiratória e, posteriormente, acidose metabólica que deixa o paciente propenso à arritmias cardíacas, hipóxia, anóxia e infarto agudo do miocárdio. O halotano causa vasodilatação cerebral e aumento dose-dependente do fluxo sanguíneo cerebral (Rice; Sbordone; Mazze, 1980). A auto-regulação do fluxo sangüíneo cerebral é deprimida, e a pressão do líquido cérebro- espinhal aumenta. Esses efeitos levam a um aumento da pressão intracraniana, o qual pode ser reduzido quando se pratica hiperventilação pulmonar para diminuir a PaCO2 antes da instituição do anestésico. O halotano é relativamente contra-indicado no paciente com hipertensão intracraniana. O enflurano, como o halotano, provoca aumento dose-dependente do fluxo sanguíneo cerebral e deprime o mecanismo de auto-regulação do fluxo cerebral levando a aumento da pressão intracraniana. Observa-se um padrão eletroencefalográfico convulsivante durante anestesia por enflurano, especialmente quando o agente é empregado em concentrações elevadas e quando coexiste hipocapnia. É, portanto, contra-indicado no paciente com epilepsia preexistente, até porque há outras opções quando se planeja utilizar anestesia inalatória nesta situação. O isoflurano eleva o fluxo sanguíneo cerebral em uma proporção inferior à observada com o halotano e o enflurano. Ele deprime o metabolismo cerebral e, assim, o consumo cerebral de oxigênio. Não produz atividade convulsivante detectável no EEG, mesmo em níveis profundos de anestesia concomitantes com hipocapnia. É assim, um anestésico inalatório adequado para uso em neurocirurgia (assim como o sevoflurano). Não obstante, pode ocorrer aumento de pressão intracraniana na presença de grandes tumores cerebrais. O desflurano é um anestésico muito utilizado nos países de primeiro mundo. No Brasil, é pouco utilizado devido ao seu alto custo e CAM bastante elevada. Este anestésico produz redução dose-dependente da resistência vascular cerebral e do consumo cerebral de oxigênio, com aumento do fluxo sangüíneo cerebral e da pressão intracraniana. Na Arlindo Ugulino Netto – ANESTESIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 9 presena de leses expansivas cerebrais, aumenta a presso intracraniana mais intensamente do que o isoflurano. Parece no alterar o mecanismo de auto-regulao do fluxo sangneo cerebral, a exemplo do que ocorre com o isoflurano, e no provoca atividade epileptiforme detectvel no EEG. Em funo da sua caracterstica de rpida recuperao, pode ter lugar em neurocirurgia naqueles casos em que se necessita de rpida avaliao neurolgica aps a cirurgia. O sevoflurano parece causar menorvasodilatao cerebral do que o isoflurano. Administrado concentrao de 1 CAM, diminui o consumo cerebral de oxignio em 50% e no altera de maneira significativa o fluxo sangneo cerebral global, mesmo na vigncia de hipocapnia. O mecanismo de auto-regulao do fluxo sangneo cerebral preservado. H alguns relatos sobre atividade epileptiforme detectvel no EEG durante a induo da anestesia em crianas, especialmente quando altas concentraes do agente so empregadas. O óxido nitroso provoca aumento do consumo cerebral de oxignio e do fluxo sangneo cerebral. A presso intracraniana tende a aumentar. Todas estas alteraes so minimizadas ou eliminadas pela administrao concomitante de barbitricos, opiides, e pela hipocapnia. Estudos experimentais mostraram piora de isquemia cerebral induzida em animais anestesiados com isoflurano, pela adio do xido nitroso (Baughman et al., 1989). Em vista destas propriedades, prudente evitar o uso do xido nitroso em pacientes com hipertenso intracraniana ou com grau significativo de isquemia cerebral. EFEITOS GERAIS Fígado: Todos os agentes inalatrios apresentam uma parte de seu metabolismo pelo fgado. O halotano apresenta 17% de metabolizao heptica. Todos os pacientes que usam este agente anest sico por vrias vezes, apresentaro leses hepticas, podendo trazer alteraes nas transaminases. Tamb m induz o sistema microssomal heptico, sobretudo o sistema p450, fazendo com que ocorra aumento da induo dessas enzimas. Dessa forma, todas as vezes em que se deparar com o paciente hepatopata, deve-se utilizar agentes anest sicos que menos sejam metabolizados pelo fgado (isoflurano, sevoflurano e desflurano; estes dois ltimos so os menos hepatotxicos). Tamb m no existe tanta contra-indicao quanto ao uso de xido nitroso para pacientes hepatopatas. Rins: Alguns agentes anest sicos inalatrios sofrem eliminao renal, como o enflurano. Pacientes com alteraes na funo renal no devem fazer o uso deste agente anest sico inalatrio. Mutagenicidade e teratogenicidade: No se existe ainda um estudo especifico que identifique a correlao existente entre o uso de anest sicos inalatrios e tais alteraes. Alguns estudos experimentais em animais demonstram que pequenos tumores sofrem alteraes de reprodutibilidade quando se utiliza tais drogas. No se existe um conceito formado. Foi demonstrado que, durante os 3 primeiros meses, os agentes anest sicos podem gerar mutagenicidades que levaro teratogenicidade fetal, da que, em pases de primeiro mundo, quando se opera, previamente se faz um exame de teste de gravidez. Caso esteja grvida, usa uma medicao com DA50. Útero: Todos os agentes anest sicos inalatrios promovem relaxamento do msculo uterino. Inclusive, apresentam uma indicao na anestesia geral da grvida, que quando se existe uma hipertonia uterina que dificulte a extrao do concepto e extrao placentria. apenas neste contexto que os anest sicos inalatrios so indicados. Acima de 1 CAM, todos os anest sicos promovem por dose-dependncia relaxamento uterinos. At o 4 ms de gravidez, quando a gestante exposta ao ambiente em que se tm resduos de agentes inalatrios, ocorrer uma suscetibilidade para apresentar trabalhos de abortamento (sobretudo, pacientes grvidas que so submetidas ao processo cirrgico-anest sico antes dos quatro primeiros meses de gestao). necessrio, portanto, utilizar alguns medicamentos que relaxem a musculatura uterina para que a paciente no venha a desenvolver contraes ou relaxamentos uterinos que facilitem um abortamento ou um trabalho de parto prematuro. OBS8: 99% das anestesias para o parto so os bloqueios do neuroeixo (raquianestesia, principalmente, e anestesia peridural). A anestesia geral indicada quando h recusa da paciente, quando h algum processo inflamatrio no local de puno para o bloqueio do neuroeixo, quando h distrbios na anatomia dos bloqueios do neuroeixo ou em casos de instabilidades hemodinmicas que possam vir a ser complicados em casos de bloqueios simpticos (como os que ocorrem nos bloqueios de neuroeixo). Para a induo desta anestesia geral, faz-se necessrio o uso concomitante e balanceado da anestesia inalatria e venosa complementar. Contudo, como vimos, todas as grvidas devem ser consideradas pacientes de “estmago cheio” e, portanto, esto inclusas no grupo de risco de aspirao de contedo gstrico regurgitado durante a anestesia geral. Quando h estas intercorrncias, deve-se fazer na paciente grvida a induo anest sica com a t cnica de sequncia rpida (pr -oxigenao, administrao de frmacos adequados; intubao rpida com o uso da manobra de Sellick; etc; ver OBS² do captulo de Anestesia Venosa). PROPRIEDADES DO AGENTE ANESTSICO INALATRIO IDEAL As propriedades do agente inalatrio ideal coincidem com os requisitos bsicos para a obteno de qualidade total em anestesia inalatria. As caractersticas de um anest sico geral ideal so (Jones, 1990; Heijke; Smith, 1990): Arlindo Ugulino Netto – ANESTESIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 10 Estabilidade molecular. Não deve ser decomposto por luz, álcalis, cal sodada. Deve ser estável sem que haja necessidade de preservativos, podendo ser armazenado por longos períodos nas mais diversas condições climáticas. Não-explosivo. Não deve formar misturar explosivas ou inflamáveis com ar, oxigênio ou óxido nitroso. Elevada potência anestésica. Deve ser razoavelmente potente, permitindo o uso de altas concentrações de oxigênio. Baixa solubilidade sanguínea. Esta propriedade proporciona indução e recuperação rápidas da anestesia, e garante flexibilidade no controle da sua profundidade. Odor não-pungente. Deve ser agradável e não-irritante para as vias aéreas, permitindo suave indução e recuperação rápidas da anestesia, e garante flexibilidade no controle da sua profundidade. Não-tóxico. Não deve sofrer biotransformação no organismo, nem produzir efeitos tóxicos orgânicos específicos, mesmo durante inalação crônica de baixas concentrações como ocorre o pessoal dos centros cirúrgicos. Efeitos colaterais mínimos, especialmente nos sistemas cardiovascular e respiratório. Efeitos sobre o sistema nervoso central reversíveis e não-estimulatórios. Eles devem ser prontamente reversíveis após a interrupção e não devem acompanhar-se de estimulação. O agente deve proporcionar algum grau de analgesia além da hipnose. Interações farmacológicas. Não deve participar de interações adversas com outros fármacos, nem sensibilizar o coração às catecolaminas.
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