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FACULDADE NOSSA CIDADE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS TURMA: 3º A PERÍODO: NOTURNO CRISTIAN MARCELO RODRIGUES RESENHA A ÁGUIA E A GALINHA Carapicuíba – SP Abril/2012 1 CRISTIAN MARCELO RODRIGUES R.A. 1806 RESENHA A ÁGUIA E A GALINHA Resenha do livro A Águia e a Galinha, de Leonardo Boff, sob orientação do Professor Mestre Sergio Clemente. Carapicuíba – SP Abril/2012 2 Referência Bibliográfica da Obra Resenhada: BOFF, Leonardo. A Águia e a Galinha. Petrópolis: Editora Vozes, 1997, 140p. A Obra O livro A Águia e a Galinha – Uma metáfora da condição humana, analisada aqui em sua 48ª edição, é uma obra datada de 1997, escrita por Leonardo Boff que, além de escritor é filósofo e teólogo. Leonardo Boff está nas origens da Teologia da Libertação, movimento que, desde os anos 70 do século XX, tem focado os mais “desassistidos” política e economicamente. Por possuir esse olhar mais voltado aos pobres, a Teologia da Libertação tem sido taxada como um movimento marxista, e não religioso, inclusive pela própria Igreja Católica. Nesta obra, o autor faz uso de dois símbolos contraditórios, que são a águia e a galinha, para descrever duas condições, dois arquétipos de pessoas. Um faz referência às pessoas “livres, fortes”, que não têm medo de grandes alturas, enormes distâncias, que veem ao longe. Outro se refere às pessoas “assustadas, dependentes”, presas de certa forma ao materialismo do dia a dia. Através da descrição e da comparação entre esses arquétipos, é instigada a reflexão de cada um de nós (leitores) na busca pelo equilíbrio entre essas duas condições. Síntese dos principais elementos da obra Além de um forte componente religioso (como não poderia deixar de apresentar), esta obra traz também um viés político que, através de colocações filosóficas que instigam a discussão e reflexão pessoais, mostra a necessidade que cada um de nós tem de apoderar-se de sua própria vida, isto é, não ficar dependente de outros, nem para fazer, nem para pensar. 3 Resumo da obra Em meados de 1925, durante uma reunião de lideranças políticas, na qual se discutia as alternativas para a libertação de Gana, então conhecida como Costa do Ouro, do domínio colonial inglês, um político, que também era educador popular, expos suas ideias através de uma história: a história da águia e da galinha. Este educador, chamado James Aggrey, mostrou a seus pares que não bastava escolher um caminho a seguir para libertar seu país, caminho este que, naquele momento, poderia ser o das armas. Primeiramente, era preciso libertar seu povo do domínio psicológico imposto pelo colonizador, pois havia também aqueles favoráveis à presença dos ingleses. A história contada por James Aggrey mostrava de forma metafórica a existência de duas “condições psicológicas humanas”: a condição galinha, presa a terra e submetida ao materialismo do dia a dia, às ideias impostas como verdade, e a condição águia, com seu pensamento livre e sonhador. Leonardo Boff, contando e recontando esta história, discute essas duas condições, analisando-as simultaneamente a outros fatores que as influenciam, as diferenciam e unem, procurando a síntese entre elas. Conclusões do autor O autor parece nos apresentar a seguinte conclusão: a condição galinha não pode existir plenamente sem a condição águia, e a condição águia não pode existir plenamente sem a condição galinha. Ambas complementam-se, fornecendo o equilíbrio necessário à nossa existência. Não podemos viver plenamente como galinhas, retraídos e assustados, com medo de ousar. Também não podemos viver plenamente como águias, olhando para o futuro e nos esquecendo do dia a dia. Para sermos seres completos precisamos equilibrar esses arquétipos, fazendo uso de ambos, vivenciando nossas experiências, tomando nossas decisões, controlando nossas vidas. 4 Método utilizado Na obra são utilizadas diversas áreas do conhecimento: Naturalismo (para descrever a vida das águias), Teologia (ao citar livros sagrados e religiões), Filosofia, Astronomia, Física e História (ilustrando as considerações do autor com grandes figuras do pensamento mundial). Essas áreas de conhecimento fornecem as bases históricas e científicas nas quais o autor se baseia para suas próprias reflexões. Estas reflexões são passadas aos leitores na forma de narrativa, durante a história propriamente dita, na forma descritiva analítica, quando fala da vida das águias, seus pormenores, e dos hebreus, e comparativa, ao fazer um paralelo entre os arquétipos utilizados como título da obra e os seres humanos. Estilo da escrita O estilo da escrita é claramente descrito pelo autor no capítulo 3, sob o título: “Contar e recontar no estilo dos hebreus.” Ao adicionar dados externos para comparações, descrições e explicações, sem alterar a ideia central da história, o texto torna-se bastante filosófico, carregado de influências político-religiosas. A “densidade narrativa” em momento algum cansa o leitor, pois os argumentos utilizados nas discussões e reflexões são apresentados de maneira “extremamente leves”, permitindo a qualquer um entender suas ideias. Da mesma forma o uso do vocabulário é bastante equilibrado, evitando tornar-se “rebuscado” ou “empobrecido”. Porém não parece restringir as divagações e reflexões acerca dos diversos assuntos analisados no transcorrer do livro, como as influências psicológicas exercidas pelas figuras exemplares. 5 Apresentação gráfica A apresentação gráfica do livro é sóbria, extremamente limpa, não apresentando contraste de cores entre capas externas e internas que provoque algum tipo de “choque visual”. Ao contrário, mostra equilíbrio. Mesmo o alto relevo de capa é extremamente discreto. As informações contidas nas capas são claras, bem dispostas e de fácil leitura. Internamente, a cor escolhida para as páginas (tom palha, entre o amarelo e o bege), não produz cansaço visual, não refletindo a luz na direção do leitor. A disposição do texto, em especial o espacejamento entre linhas, auxilia a leitura, e o tamanho da fonte é ótimo para não forçar a visão. A gramatura das páginas evita que estas se dobrem ou danifiquem-se facilmente. Outro ponto importante é o tamanho das margens, tanto externas como internas. As margens externas foram pensadas para que o leitor possa segurar o livro aberto sem que suas mãos cubram o texto, e as internas para que não seja necessário forçar a abertura do livro, evitando que este se danifique. 6 Apresentação crítica da resenha Ao iniciar a obra, o autor contextualiza a história relacionada à independência de Gana, uma ex-colônia inglesa na costa ocidental da África. Neste ponto, faz uso da história contada por um educador, a história da águia e da galinha, como metáfora das condições físicas e psicológicas humanas. A partir daí, e sempre usando como norte essa história, o autor agrega vários elementos para discutir mais profundamente essas condições da psique e da materialidade humana. Se olharmos para o viés religioso, encontraremos uma profunda discussão sobre amar. Amar o próximo, amar a si mesmo, amar um Deus, aprofundar-se na espiritualidade. Se olharmos para o viés psicológico, a discussão passa a ser o equilíbrio pessoal. Como agir no dia a dia? Devo ser retraído ou expansivo? Devo ser materialista ou ter a “cabeça nas nuvens”? Como estou me relacionando com outras pessoas e com o meio ambiente onde vivo? Outro olhar, o filosófico. Este deve ser o mais importante, pois nos leva a questionar todos os outros. Especificamente no capítulo 5, intitulado: “A águia e a galinha convivem em nós”, o autor busca demonstrar a complexidade das relações,não só humanas, mas de todo o planeta. Nada existe isoladamente, tudo está em correlação com tudo. Cabe aqui também um olhar ecológico, sustentável. Estas relações parecem desestabilizar os pensamentos, principalmente políticos e ideológicos de superioridade. Se tudo está correlacionado, por que devo ser tratado como menor? Vemos aqui uma clara crítica aos modelos atuais de economia e sociedade, onde você vale aquilo que possui, não importando aquilo, ou quem você é. Esta obra é, sem dúvida, um chamado à luz, a luz do pensamento próprio. Sapere aude! exclamaria Kant, exortando todos ao esclarecimento. 7 Contribuição da obra Um texto marcou muito, até aqui, minha passagem pela faculdade: Que é esclarecimento – Aufklärung, de Kant. A leitura de A águia e a galinha pareceu-me uma extensão desse texto, não exatamente como uma continuidade, mas como uma afirmação. Ambos mostram os perigos, os prejuízos causados às pessoas quando estas deixam-se influenciar de maneira danosa por terceiros. E ambas enfatizam a necessidade de sermos “corajosos” a ponto de tomarmos em nossas mãos o rumo de nossas vidas. Novos conhecimentos / enfoques Um conhecimento em especial devo destacar da leitura deste livro: a Teologia da Libertação. Embora não seja o assunto central, é inegável sua contribuição para a criação do texto. Sendo objeto principal desse pensamento a assistência aos mais oprimidos, e este também o ponto central da história balizadora do livro, como dissociá-las? Já ouvira falar muitas vezes desse assunto, mas nunca tive a “curiosidade” de conhecê- lo mais seriamente. Ao pesquisar um pouco sobre o autor, tive contato mais sério com o assunto, percebendo a ligação existente, nesse contexto, entre Teologia e Política. Creio realmente ser este um “importante material” para estudos mais profundos. Indicações da resenha Utilizando um olhar repreendedor, indicaria a leitura desta obra àqueles que mantêm outros sob seu domínio, seja físico ou psicológico. Porém, isto implicaria em “transferir” aos dominadores o poder de libertar ou não. Então, sob um olhar encorajador, indico esta leitura a todos que compreendam que são os únicos que podem fazer algo por si próprios. Leiam, entendam, compreendam, libertem-se, tomem em suas mãos as rédeas de suas vidas.
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