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ECONOMIA BRASILEIRA 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Walcir Soares da Silva Junior 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
A década perdida 
Após um período de intensos investimentos e a metamorfose de um país 
agrário-exportador em uma das maiores economias industrializadas do mundo, 
o Brasil adentra a década de 1980 enfrentando desafios significativos. Uma 
dívida externa crescente e a inflação desenfreada emergem como as principais 
preocupações e obstáculos da história econômica recente do país. Esse cenário 
se tornou um trauma duradouro, que assombra os brasileiros até os dias atuais. 
A visão utópica de se tornar uma potência desenvolvida mundialmente deu lugar 
ao anseio por conquistar a estabilidade monetária, uma batalha que levaria uma 
década e meia para ser alcançada. Esse período é conhecido como a “década 
perdida”, marcada por desafios e frustrações. 
A década de 1980 foi um divisor de águas para a economia brasileira, 
trazendo consigo uma série de crises que afetaram profundamente o País. A 
crescente dívida externa gerou um peso insustentável sobre a capacidade de 
pagamento do Brasil, afetando seu desenvolvimento econômico e ameaçando 
sua soberania financeira. Além disso, a inflação descontrolada corroía o poder 
de compra da população, prejudicando a estabilidade social e gerando 
incertezas para os agentes econômicos. 
Nesse contexto desafiador, a busca pela estabilidade monetária se tornou 
uma prioridade absoluta. O Brasil empreendeu esforços para controlar a inflação 
e reverter o cenário de endividamento. Políticas econômicas e reformas 
estruturais foram implementadas, buscando restabelecer a confiança dos 
investidores e promover um ambiente propício para o crescimento sustentável. 
No entanto, esses esforços enfrentaram dificuldades e obstáculos significativos 
ao longo do caminho, prolongando o período de instabilidade econômica. 
A década perdida foi um momento de aprendizado e resiliência para o 
Brasil. Os desafios enfrentados nesse período deixaram marcas profundas na 
sociedade brasileira, moldando sua mentalidade e suas expectativas em relação 
à economia e ao papel do Estado. O processo de superação dessas 
adversidades exigiu ajustes, reformas estruturais e um repensar das políticas 
econômicas, visando a estabelecer bases sólidas para o crescimento 
sustentável. 
 
 
3 
Ao estudar essa época conturbada da história econômica brasileira, 
buscamos compreender não apenas os eventos e os fatores que levaram à crise, 
mas também refletir sobre as lições aprendidas e as estratégias adotadas para 
reconstruir a economia. Analisaremos as políticas econômicas implementadas, 
os desafios enfrentados e os resultados alcançados, bem como suas 
consequências de longo prazo. Dessa forma, poderemos traçar paralelos entre 
o passado e o presente, vislumbrando perspectivas para um futuro de maior 
estabilidade e prosperidade econômica para o Brasil. 
TEMA 1 – REDEMOCRATIZAÇÃO 
Com o aumento da taxa de juros efetiva para 8,9% ao ano em 1981 e a 
consecutiva queda no PIB de 4,3%, a postura desenvolvimentista perdeu 
importância nos objetivos da política brasileira, dando lugar às rolagens, 
renegociações e inevitável crescimento da dívida externa. Diferentemente dos 
últimos 50 anos, o endividamento não se transmutava em indústrias, rodovias e 
hidrelétricas, apenas acompanhava o rugir dos juros compostos, pura e 
simplesmente. 
Segundo Silveira Filho (2000, p. 90) “a década perdida não foi pior por 
causa dos investimentos plantados pelo II PND, colhidos decrescentemente ao 
longo dos anos 80. Eles fizeram com que o Brasil conquistasse saldos 
comerciais positivos altamente favoráveis”. Mas, a despeito dos superávits na 
balança comercial, os juros líquidos e amortizações da dívida absorviam 
qualquer excedente gerado com esforço e ainda pediam por mais empréstimos 
e financiamentos, que, por sua vez, eram ineficientes para tornar o balanço de 
pagamentos brasileiro positivo. 
A redemocratização brasileira, uma fase marcante da história política, 
passava ao largo das tentativas de resolver o problema econômico. O general 
João Figueiredo assumiu a presidência em 1979 como último presidente da 
Ditadura Militar e deu continuidade à abertura política do governo anterior. Em 
1983, iniciaram-se as campanhas das Diretas Já, que, ainda que rejeitadas pelo 
Congresso, levaram à eleição presidencial indireta de Tancredo Neves. Com a 
sua morte, pouco antes de assumir o cargo, a presidência é assumida por José 
Sarney (vide Quadro 1). 
 
 
 
4 
Quadro 1 – Lista de presidentes da República de 1985 a 1995 
Período Presidente Denominação 
1985 Tancredo Neves 
Sexta República 
1985-1990 José Sarney 
1990-1992 Fernando Collor 
1992-1995 Itamar Franco 
Fonte: Walcir Soares da Silva Junior. 
Segundo Castro (2005), junto ao sonho da redemocratização, a 
população brasileira estava ansiosa não só por liberdades civis e políticas, mas 
também por crescimento econômico, redistribuição de renda e pelo fim da 
inflação. De fato, em 1984 e 1985, o Brasil cresceu 5,4% e 7,8%, 
respectivamente. Acompanhando o crescimento havia também a melhora nas 
contas externas e redução do desequilíbrio das contas públicas. Portanto, o 
maior problema a ser enfrentado pelo governo Sarney era a inflação, que, 
mesmo nos ambientes recessivos entre 1981 e 1983, não diminuíra, ficando 
acima de 100% já em 1980 e acelerando para 224% em 1984. 
Para resolver a inflação, na cartilha econômica ortodoxa, ao menos 
teoricamente, bastaria identificar o tipo de inflação e atacar diretamente as suas 
causas. Mas as divergências em torno do problema inflacionário já começavam 
na identificação do tipo de inflação que o Brasil enfrentava, se havia uma causa 
única ou várias e qual ou quais remédios seriam passíveis de tentativa, levando 
em consideração os custos que cada política anti-inflacionária poderia ter sobre 
a economia. Começava a saga para dominar o “dragão inflacionário”, que duraria 
mais de uma década. 
TEMA 2 – O PROBLEMA DA HIPERINFLAÇÃO 
Inflação é um termo que a maioria dos brasileiros, mesmo aqueles que 
não têm contato diário com o vocabulário econômico, reconhece. Ainda assim, 
nem todos estão familiarizados com suas causas e, muitas vezes, com sua 
definição. Inflação pode ser entendida como o aumento generalizado dos preços 
em uma determinada economia. Isso quer dizer que o aumento de alguns preços 
não necessariamente se traduz em inflação. Para entendermos como ela 
funciona, pensemos no seguinte exemplo: 
 
 
5 
Suponha que uma determinada economia seja feita apenas de duas 
pessoas – a Maria e o João – e que a totalidade dos bens existentes nessa 
economia sejam apenas duas maçãs. Isso quer dizer que não existem casas, 
carros, televisores ou qualquer outro produto. Todos os produtos dessa 
economia são essas duas maçãs, que, por sua vez, podem ser consumidas pelo 
João e pela Maria. 
Suponha que tanto o João quanto a Maria recebam 10 reais de salário. 
Eles vão ao mercado e cada maçã custa dez reais. Segundo esse exemplo, o 
Produto Interno Bruto desta economia é de 20 reais. Cada pessoa, com seu 
salário, é capaz de comprar uma maçã e, uma vez que João e Maria gastem 
seus salários, a economia entra em equilíbrio: a oferta (maçãs) se iguala à 
demanda de João e de Maria. 
Suponha agora um presidente benevolente que decida dobrar o valor do 
salário de 10 para 20 reais. Momentaneamente, tanto João quanto Maria terão 
a impressão de que estão mais ricos e podem, portanto, comprar duas maçãs 
com a sua renda. No entanto, como não é possível fazer surgirem maçãs 
instantaneamente (a economia precisaria de mais recursos, comprar sementes, 
plantá-las e esperá-las crescer), o que irá acontecer é um aumento imediato dos 
preços assim que a demanda por quatro maçãs (inexistentes) tomar o mercado. 
Esse exemplo ilustra uma inflação de demanda.Por mais que a economia 
aparentemente esteja mais rica (o PIB nominal saiu de 20 reais para 40 reais), 
em termos reais, tanto João quanto Maria podem comprar apenas uma maçã 
com seus salários. Portanto, uma inflação de demanda acontece quando um 
aumento inesperado da demanda faz os preços subirem por conta de uma 
incapacidade de aumento da oferta. 
Existem basicamente três tipos de inflação (Quadro 2). Além da inflação 
de demanda, há também a inflação de oferta e a inflação inercial. A inflação de 
oferta, também conhecida como inflação de custos, ocorre quando um 
componente básico do lado da oferta (petróleo, energia, água) se torna mais 
caro, aumentando os custos de maneira generalizada. Por fim, a inflação inercial 
é uma inflação de expectativa. 
 
 
 
6 
Quadro 2 – Tipos de inflação e suas causas 
Tipo Causa 
Inflação de demanda 
Causada por um excesso de demanda em relação à oferta, 
o que faz que os preços subam pela falta de produtos no 
mercado. 
Inflação de oferta 
Causada por um aumento de preços em produtos 
específicos que representem um aumento nos custos da 
economia. Exemplo: salários, petróleo, energia elétrica. 
Inflação inercial 
É uma inflação psicológica causada pela expectativa dos 
agentes de que, se os preços subiram ontem, voltarão a 
subir amanhã, tornando o combate à inflação nas suas 
causas de demanda e oferta ineficiente. 
Fonte: Walcir Soares da Silva Junior. 
As diversas ferramentas de indexação de uma economia e os esperados 
aumentos de preço por conta de um longo tempo de inflação podem fazer que, 
mesmo que as causas de demanda e oferta sejam atacadas, a inflação 
permaneça. Imagine um lojista que, sempre que vai repor sua mercadoria, se 
depara com um aumento de preços que dissolve sua margem de lucratividade. 
Após um período de tempo, ele começará a repassar esse aumento esperado 
de preços aos seus produtos, mesmo antes de consultar seu preço junto ao seu 
fornecedor. Este, por sua vez, pode estar fazendo o mesmo com seus preços. 
Entre as diversas linhas teóricas que precederam o Plano Real no Brasil, 
o reconhecimento de que a hiperinflação brasileira tinha um relevante 
componente inercial é um dos poucos consensos na literatura que discute os 
planos de combate à inflação. Segundo Castro (2005), reconhecia-se que a 
indexação devido à correção monetária, implantada no Plano de Ação 
Econômica do Governo (PAEG) no início da Ditadura Militar, era um dos 
principais entraves para enfrentar o aumento de preços. A inflação inercial é uma 
inflação “psicológica”, e o seu combate não poderia ser feito somente pelos 
meios ortodoxos. 
De acordo com Leite (2011, p. 33): 
Vários textos foram escritos, trocados e debatidos na PUC. Mas, para 
tornar curta uma longa história, o que ficou mais famoso que todos os 
outros foi o Plano Larida, de André e Persio. Ele sustentava que a 
natureza da nossa inflação era outra. Era inercial. Todos os contratos 
da economia, todos os preços e tarifas eram corrigidos a intervalos 
regulares, o que criava a inércia. Ela se reproduzia. Mas não ficava 
estável. A cada inesperado — como uma quebra de safra, uma alta de 
preço internacional do petróleo —, a inflação pulava de patamar. 
 
 
7 
Quanto mais subia, mais pressão havia para que os prazos de correção 
se encurtassem. E, se fossem encurtados, mais subiria a inflação. Essa 
espiral tinha um fim previsível: a hiperinflação. 
Assim, de 1985 a 1995, o Brasil passou por diversos planos de 
estabilização, que só seriam efetivos uma década de aprendizado depois. 
TEMA 3 – OS PLANOS ANTI-INFLACIONÁRIOS 
Segundo Castro (2005, p. 116), “ao longo dos cinco anos do governo do 
presidente José Sarney, foram lançados nada menos de três planos de 
estabilização: Plano Cruzado, em 1986; Plano Bresser, em 1987; e Plano Verão, 
em 1989”. Alguns desses planos envolveram ainda outros subplanos. Vejamos 
cada um destes: 
• Plano Cruzado I (1986): envolveu reforma monetária e congelamento. O 
Cruzado ficou estabelecido como nova moeda. O plano foi um sucesso 
inicialmente, zerando a inflação nos primeiros meses de vigência e 
gerando queda na taxa de desemprego. No entanto, o plano, que levava 
em conta o componente inercial da inflação, ignorou a inflação de 
demanda prévia à sua implantação. Esses fatores, somados à expansão 
monetária e consequente aumento da demanda, levaram ao 
superaquecimento da economia. Dadas as defasagens causadas pelo 
congelamento de preços, produtos desapareciam das prateleiras. 
• Cruzadinho (1986): envolveu um pacote fiscal para o desaquecimento do 
consumo e financiamento de investimentos em infraestrutura e metas 
sociais. O plano foi um fracasso nos seus dois objetivos. 
• Cruzado II (1986): envolveu um pacote fiscal para aumentar a 
arrecadação em 4% do PIB. Aumentos de preço em produtos 
selecionados foram o gatilho para o descongelamento da economia, 
decretado no fim do plano, em 1987. Com a piora das contas externas é 
declarada a moratória dos juros externos, reduzindo ainda mais a entrada 
de capitais no Brasil. 
• Plano Bresser (1987): plano híbrido com elementos ortodoxos (aumento 
de juros e de impostos e corte de gastos) e heterodoxos (congelamento 
de preços e salários). Teve sucesso inicial na redução da inflação, mas 
com os fracassos dos planos anteriores, remarcações de preço 
preventivas levaram a aumentos subsequentes às reduções. 
 
 
8 
• Plano “feijão com arroz” (1988): envolveu uma política ortodoxa 
gradualista, com o objetivo de estabilizar a inflação e reduzir o déficit 
público. No entanto, aumentos de preços públicos e os megassuperávits 
na balança comercial (que não permitiram uma política monetária mais 
apertada) levaram à aceleração da inflação. 
• Plano Verão (1989): o fracasso do gradualismo do plano anterior e o 
reconhecimento do componente inercial da inflação levaram a um plano 
de desindexação mais radical. O Plano Verão continha também 
elementos ortodoxos (corte de gastos e restrição de crédito) e 
heterodoxos (congelamento de preços e salários). O Cruzado foi 
substituído pelo Cruzado Novo. Dado o ano eleitoral, o ajuste fiscal não 
aconteceu. Como resultado, a inflação acelerou para mais de 80% ao mês 
no início de 1990. 
A década de 1980 teve seu fim sem que o problema da inflação fosse 
corretamente diagnosticado, quiçá, resolvido. Mas o aprendizado dos planos 
implementados durante a década fori de extrema relevância para o sucesso do 
que viria a ser o Plano Real. Ainda que este não tenha sido, como não foram os 
outros, um consenso, o aprendizado, somado ao cenário internacional e 
ambiente político favoráveis, foram variáveis importantes no que viria a ser o fim 
da hiperinflação brasileira. 
TEMA 4 – DESENVOLVIMENTO E NEOLIBERALISMO 
Simultaneamente ao fracasso no controle da inflação durante a década 
de 1980 e início dos anos 1990, o Brasil passou por várias transformações 
influenciadas pelo ambiente político internacional. O modelo de crescimento 
baseado em substituição de importações foi responsável pelo desenvolvimento 
da indústria brasileira e foi, por muito tempo, a base da política nacional 
desenvolvimentista adotada no país. 
Segundo Castro (2005, p. 143), as três principais características do 
modelo de industrialização brasileiro durante o período foram: 
(1) A participação direta do Estado no suprimento da infraestrutura 
econômica (energia e transportes) e em alguns setores considerados 
prioritários (siderurgia, mineração e petroquímica); (2) a elevada 
proteção à indústria nacional, mediante tarifas e diversos tipos de 
barreiras não-tarifárias; e (3) o fornecimento de crédito em condições 
favorecidas para a implantação de novos projetos. 
 
 
9 
Durante esse período, o Brasil teve muita influência dos estudos da Cepal 
– Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe e sua teoria 
estruturalista, que questionava a teoria econômica tradicional emum dos seus 
núcleos: a teoria das vantagens comparativas. Desenvolvida por David Ricardo 
(1772-1823) no século XIX, a tese diz respeito à necessidade de especialização 
das economias para serem capazes de participar do comércio internacional. 
De acordo com Krugman (2015), ainda que um país apresente uma 
desvantagem absoluta na produção de dadas mercadorias em relação a outro 
país, o comércio será vantajoso se ele se especializar na produção e exportação 
do bem em que sua vantagem absoluta seja maior. Ou seja, o país deve 
especializar-se na produção do bem em que tem vantagem comparativa (ou 
relativa). 
O desdobramento da adoção desse tipo de abordagem levaria um país 
como o Brasil a especializar-se na produção de bens agrícolas, uma vez que há 
vantagem comparativa – e muitos vezes absoluta – em detrimento de bens com 
maior valor agregado. No entanto, a prática de exportar bens de baixo valor 
agregado e importar bens de alto valor agregado, segundo a Cepal, levaria a 
uma deterioração dos termos de troca, tornando os países periféricos (em 
desenvolvimento) sempre dependentes dos países do centro (desenvolvidos). 
No entanto, ainda que tenha tido relativo sucesso na industrialização 
brasileira por muitos anos, as consequências inevitáveis desse modelo, definidas 
por Castro (2005, p. 144) como “estrutura de incentivos distorcida em certos 
setores”, “certo viés antiexportador” e “endividamento do Estado”, foram os 
argumentos utilizados pelas vertentes neoliberais que se instauraram nos países 
latino-americanos nos anos 1980. A promessa de que, apenas seguindo a 
cartilha neoliberal de corte de gastos e aumento de impostos, esses países 
poderiam receber o financiamento de órgãos multilaterais como o FMI, levaram 
à assinatura do chamado Consenso de Washington. 
De fato, a reformulação do estruturalismo por autores como Fajnzylber, 
French Davis, N. Lusting, J. Ros, L. Taylor e outros, consolidada no documento 
Transformação produtiva com equidade, publicado pela CEPAL em 1990, 
demonstra que o estruturalismo apresentou falhas importantes e deveria ser 
aprimorado. Segundo os neoestruturalistas, depois de ultrapassada a “etapa 
fácil” de substituição de importações, o país deveria partir para a “substituição 
das exportações”, focando nas exportações de bens com maior valor agregado. 
 
 
10 
De acordo com a Cepal (1990), a América Latina deveria focar em 
aumentar suas relações comerciais externas e o papel do Estado deveria ser 
fomentar uma competição baseada em ganhos de produtividade. Essas políticas 
divergem de maneira fundamental do estruturalismo tradicional, principalmente 
por incorporar “virtudes” pró-mercado. Era a percepção de que o estruturalismo 
não estava necessariamente equivocado ou era um plano de desenvolvimento 
inadequado, mas era sim, incompleto. Países em desenvolvimento não 
poderiam adotar uma política “liberal” quando as vantagens competitivas dos 
países hoje desenvolvidos vieram em grande parte de uma política protecionista 
e colonial. 
Não é mera coincidência que, anos mais tarde, economistas do MIT – 
Massachusetts Institute of Technology e da Kennedy School de Harvard, 
Haussman e Hidalgo et al. (2011), criaram um método para medir sofisticação 
produtiva e complexidade econômica e chegaram à conclusão de que o 
desenvolvimento está intimamente relacionado à capacidade dos países de 
produzir e exportar bens complexos. Segundo os autores, a complexidade está 
relacionada à quantidade de conhecimento necessário para a produção de um 
determinado produto. 
Criadores do Índice de Complexidade Econômica1, os autores analisaram 
a pauta exportadora e a sofisticação de uma infinidade de produtos e países, e 
chegaram a importantes correlações entre níveis de renda per capita e 
complexidade econômica, corroborando as teorias estruturalistas elaboradas 
pela Cepal mais de quarenta anos antes. Ainda assim, nos anos 1990, foram as 
políticas neoliberais que dominaram a política dos países em desenvolvimento, 
com resultados desastrosos em termos de desigualdade, concentração e 
estagnação. 
Segundo Castro (2005), o Consenso de Washington foi uma série de 
recomendações feitas em Washington, D. C., em 1989, que os países em 
desenvolvimento deveriam adotar, como disciplina fiscal, liberalização comercial 
e financeira e redução do papel do Estado na economia. O consenso diz respeito 
aos economistas presentes, não aos países envolvidos, principalmente os latino-
americanos. Adicionalmente a essas recomendações, o Plano Brady, anunciado 
 
1 Atlas da Complexidade Econômica. Disponível em: . Acesso em 3 jul. 
2023. 
 
 
11 
em 1989, reestruturou a dívida de 32 países, condicionando essas 
renegociações à realização de reformas e ajustes fiscais. 
No Brasil, com a eleição de Fernando Collor de Mello em 1990, novos 
planos de estabilização (denominados Collor I e II) foram não só fracassados 
como minaram a confiança e credibilidade das instituições de poupança – o 
famoso bloqueio das poupanças. No entanto, transformações importantes, como 
a renegociação da dívida e a intensificação da abertura comercial e privatizações 
(denominadas Política Industrial e de Comércio Exterior – Pice) foram muito 
importantes para o plano que, finalmente, seria bem-sucedido no combate à 
inflação: O Plano Real. 
TEMA 5 – AJUSTE ESTRUTURAL E O PLANO REAL 
A prioridade agora não era mais fomentar a industrialização, ainda que as 
políticas pudessem, indiretamente, cumprir esse objetivo. Sob a justificativa de 
atingir o grande objetivo da estabilização, o PND – Programa Nacional de 
Desestatização visou a reduzir a dívida pública e o papel do Estado na economia 
brasileira. Segundo Castro (2005), entre 1990 e 1994 (governos Collor e Itamar 
Franco), foram privatizadas 33 empresas federais dos setores de siderurgia, 
petroquímica e fertilizantes, com um total de US$ 8,6 bilhões de receitas e uma 
transferência da dívida para o setor privado de US$ 3,3 bilhões. 
No que concerne ao comércio exterior, o governo Collor foi responsável 
pela grande abertura comercial, com a adoção do câmbio flutuante e 
liberalização da política de importações. Os controles quantitativos de 
importação foram substituídos por controle tarifário com alíquotas em queda 
gradual, de modo a preparar os produtos nacionais para essa transição. 
A sucessão de escândalos políticos e o processo de impeachment do 
presidente Collor, segundo Castro (2005, p. 150), “inviabilizou toda e qualquer 
ação de política econômica que dependesse da credibilidade do governo”. Com 
a posse de seu vice, Itamar Franco, em outubro de 1992, entre trocas e 
substituições, assume, de maio de 1993 a março de 1994, como ministro da 
Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (FHC). Este foi o político que coordenou 
a equipe econômica que concebeu o Plano Real. 
Segundo Castro (2005), o Plano Real foi implementado em três diferentes 
fases que podem ser resumidamente nominadas como i) ajuste fiscal; ii) 
 
 
12 
implantação da URV – Unidade Real de Valor e; iii) nova moeda. Vejamos cada 
uma delas: 
• Fase 1 – Ajuste fiscal: composta pelo PAI – Plano de Ação Imediata e pelo 
FSE – Fundo Social de Emergência. O primeiro tinha como objetivo 
reestruturar a relação da União com os estados e municípios, renegociar 
a dívida externa com o FMI e promover o combate à sonegação. O 
segundo, na prática, tratou-se da desvinculação de receitas do governo 
federal a determinados tipos de gastos, previstos pela Constituição de 
1988, ainda que, publicamente, fosse divulgado apenas como um fundo 
para financiamento de gastos sociais. Foi o componente específico do 
Plano Real pensado para combater a inflação de demanda. 
• Fase 2 – Implantação da URV: Enquanto a primeira fase foi responsável 
por considerar o desajuste das contas públicas como uma das causas da 
inflação brasileira, a implantação daURV foi o eixo do Plano Real 
responsável por considerar o problema da indexação da economia. É 
considerada a fase fundamental no combate à inflação. A URV tinha como 
objetivo “zerar a memória inflacionária” de maneira voluntária, sem 
congelamentos de preços e salários, através de uma quase moeda que, 
diferentemente da moeda em curso, não seria contaminada pela inflação. 
A URV foi uma espécie de moeda virtual, e tinha seu valor atualizado 
diariamente para refletir as mudanças nos preços. Durante essa fase, os 
preços dos produtos e serviços ainda eram marcados em Cruzeiros Reais, 
mas as pessoas tinham a noção de que o valor da URV era mais estável 
e confiável. Essa fase preparou a população e a economia para a 
transição para a nova moeda. A URV vigorou de março a julho de 1994. 
• Fase 3 – Nova moeda: Em conjunto com uma política monetária restritiva 
(aumento das taxas de juros e depósitos compulsórios) e uma política de 
bandas cambiais (câmbio livre para oscilar para baixo, mas teto fixo em 1 
real = 1 dólar), implantava-se no dia 1º de julho de 1994 a nova moeda, o 
Real. A nova moeda substituiu o Cruzeiro Real e tinha um valor fixo em 
URV. Com a nova moeda, os preços passaram a ser marcados em Reais, 
com valores não contaminados pela inflação inercial. 
 
 
 
13 
Figura 1 – IPCA – taxa de variação (% a. a.) 
 
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Sistema Nacional de Índices de Preços ao 
Consumidor (IBGE/SNIPC). 
É importante notar que, por trás da estruturação do plano, muita incerteza 
rondava aqueles anos. Havia o medo de que, ao final de cada fase, a inflação 
retornasse ainda mais forte, a exemplo dos planos implementados nos anos 
1980. No entanto, a inflação havia cedido, permanentemente. Ainda que em 
alguns momentos ela tenha dado sinais de que fugiria ao controle, a inflação 
nunca mais alcançou os patamares da hiperinflação da década de 1980 e início 
de 1990. Segundo dados do IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor 
Amplo, a inflação de 1994 fechou em 914,46% (vide figura 1). Em 1995 foi de 
22,41%. A partir de 1996 (que registrou uma inflação de 9,56%) até o ano de 
2022, a inflação oficial só alcançou dois dígitos em 2002 (12,53%), 2015 
(10,67%) e 2021 (10,06%). 
Segundo Leitão (2011), nos 15 anos anteriores ao Plano Real, a inflação 
acumulada foi de 13 trilhões e 342 bilhões por cento. Nos 15 anos seguintes, foi 
de 196,87%. Esses números impressionantes revelam o impacto positivo do 
Plano Real na economia brasileira. Ao reduzir drasticamente a inflação, o Plano 
Real permitiu que os brasileiros pudessem planejar seus gastos, investir e 
empreender com maior segurança. Era o início do caminho para a volta do 
desenvolvimento brasileiro. 
NA PRÁTICA 
1. Por que o abandono do modelo de substituição de importações no 
desenvolvimento brasileiro representou uma guinada fundamental na 
0,00
500,00
1.000,00
1.500,00
2.000,00
2.500,00
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14 
política econômica do país? Analise os principais fatores econômicos, 
sociais e políticos que levaram a essa mudança de paradigma, bem como 
as consequências e os desafios enfrentados nesse processo de 
transição. 
2. Estabeleça a relação entre os diferentes tipos de inflação e os planos 
econômicos implementados nos anos 1980, avaliando em que medida 
essas políticas foram eficazes na contenção da hiperinflação. 
3. Discorra sobre as semelhanças entre a teoria cepalina estruturalista e a 
teoria da complexidade econômica, explorando como ambas abordam e 
explicam o fenômeno do subdesenvolvimento nos países periféricos. 
Destaque os conceitos-chave e as perspectivas teóricas dessas 
abordagens, enfatizando a importância das estruturas econômicas, das 
relações de poder, das assimetrias internacionais e das capacidades 
produtivas na compreensão dos desafios enfrentados pelos países em 
desenvolvimento. 
4. Explique as três fases do Plano Real, abordando suas características 
distintas, objetivos e estratégias adotadas para combater a inflação no 
Brasil. Relacione cada fase com as diferentes causas teóricas da inflação 
que foram abordadas e enfrentadas em cada etapa do plano, como 
indexação, expansão monetária, desequilíbrios fiscais e questões 
estruturais da economia. Avalie o sucesso e os desafios encontrados em 
cada fase, bem como o impacto do Plano Real na estabilização 
econômica e nas perspectivas de desenvolvimento do país. 
FINALIZANDO 
A década de 1980 foi marcada por uma série de desafios e 
transformações significativas no cenário econômico brasileiro. Conhecida como 
a “década perdida”, esse período foi caracterizado por estagnação econômica, 
o aumento vertiginoso da dívida externa e a ocorrência de uma hiperinflação que 
abalou a economia do país. Esses eventos representaram uma ruptura drástica 
no caminho do desenvolvimento brasileiro, levando-o a um estado de 
desfiguração em relação às características que antes o definiam, como o papel 
 
 
15 
do Estado como impulsionador do crescimento e o foco em políticas de cunho 
mais nacionalista. 
A estagnação dos investimentos e a crise da dívida externa 
desencadearam uma série de consequências negativas para a economia 
brasileira. O país enfrentou um período de baixo crescimento, desemprego em 
ascensão e a perda de importantes conquistas sociais que haviam sido 
estabelecidas na Constituição recentemente promulgada. Além disso, o advento 
do neoliberalismo, que se disseminou em muitos países em desenvolvimento, 
impôs desafios adicionais ao Brasil, com políticas de abertura comercial, 
privatizações e redução do papel do Estado na economia. 
No entanto, o panorama começou a mudar com a implementação do 
Plano Real. Esse plano econômico representou uma virada de jogo e possibilitou 
ao país uma trajetória de recuperação gradual. No entanto, os custos foram 
elevados e mais uma vez recaíram sobre a sociedade brasileira. A desigualdade 
social aumentou, o desemprego persistiu e muitas conquistas sociais foram 
sacrificadas. Parecia que finalmente o país estava preparando o terreno para 
uma distribuição mais equitativa dos benefícios do crescimento econômico, mas 
a história mostrou que aqueles que têm poder e influência tendem a ser os 
maiores beneficiários dessa transformação. 
Assim, o Brasil enfrentou uma montanha-russa de desafios e 
transformações ao longo dessas décadas, passando por momentos de 
estagnação e crises, mas também experimentando momentos de recuperação e 
avanço. A busca por um desenvolvimento econômico sustentável e inclusivo 
continua sendo um objetivo fundamental para o país, no qual é necessário 
conciliar o crescimento econômico com a redução das desigualdades sociais, 
garantindo que as conquistas sejam compartilhadas por toda a população. 
 
 
16 
REFERÊNCIAS 
CASTRO, L. B. de. Esperança, frustração e aprendizado: a história da Nova 
República. In: GIAMBIAGI, F. et. al. Economia brasileira contemporânea. Rio 
de Janeiro: Elsevier, 2005. 
HAUSMANN, R; HIDALGO, C. A. The Atlas of Economic Complexity: Mapping 
Paths to Prosperity. 2011. 
KRUGMAN, P. R. Economia internacional: teoria e política. São Paulo: 
Pearson Addison Wesley, 2015. 
LEITÃO, M. Saga brasileira: a longa luta de um povo por sua moeda. Rio de 
Janeiro: Record, 2011. 
SILVEIRA FILHO, J. da. Aquarela brasileira: um perfil econômico do país. 
Curitiba: Ed. do Autor, 2000.

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