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Claudio Romualdo

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O ENSINO SUPERIOR E O CENÁRIO DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NO 
BRASIL: UMA ANÁLISE CRÍTICA. 
 
HIGHER EDUCATION AND BUSINESS ADMINISTRATION COURSE 
SCENERY IN BRAZIL: A CRITICAL ANALYSIS 
 
Cláudio Romualdo* 
Resumo 
O objetivo desse artigo é explicitar resumidamente a história do Ensino Superior e sua 
implantação no Brasil, para em seguida demonstrar a origem do curso de 
Administração, também no Brasil. Esses cenários servirão para uma análise crítica sobre 
a formação do Administrador. Nesse sentido, buscou-se analisar as Diretrizes 
Curriculares Nacionais do Curso de Administração e a proposição de uma formação 
voltada para uma perspectiva antropológica de gestão empresarial. 
 
Palavras-chave: Ensino Superior. Administração. Diretrizes Curriculares Nacionais. 
Perspectiva Antropológica. Formação. 
 
 
Abstract 
 
The aim of this paper is to explain briefly the history of higher education and its 
implementation in Brazil, to a following demonstration of the origin of the Business 
Administration course, also in Brazil. Based on these sceneries, a critical analysis of the 
educational process of the business administrator will be possible. In this regard, 
the National Curriculum Guidelines for the business administration course was analyzed 
and it was proposed an anthropological education for the business management and 
administration courses. 
 
Keywords: Higher Education. Business Administration. National Curriculum 
Guidelines. Anthropological Perspective. Education. 
 
 
Introdução 
 
 O presente artigo tem a pretensão de levantar o cenário do Ensino Superior, 
demonstrando suas raízes históricas e a sua implantação no Brasil. A partir de então, 
faz-se um recorte do cenário e conduz-se a reflexão na direção da oferta do Ensino 
Superior através do curso de graduação em Administração. 
 No primeiro momento, denominado “O Ensino Superior no Brasil”, apresenta-se 
um breve resgate histórico referente ao surgimento das Instituições de Ensino Superior 
 
*
 Diretor Geral da Faculdade de Tecnologia, Ciências e Educação – FATECE – Pirassununga. Avaliador 
Institucional do MEC-INEP. romualdo@didaciebe.com.br. 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios, v. 1, n. 1, fev. 2012, p. 105-123 106 
(Universidades) na Europa, berço de seu nascimento, para em seguida, demonstrar 
como e para que finalidade as Instituições de Ensino Superior foram criadas no Brasil 
nos diversos momentos de sua história. Apresentam-se dados da expansão do Ensino 
Superior no Brasil confrontando-os com a dicotomia entre o público e o privado. 
Ressalta-se que a dicotomia entre o oferecimento do Ensino Superior por Instituições 
Públicas e pela Iniciativa Privada é uma linha transversal que referencia o presente 
trabalho. 
 No segundo momento, citado como “A História do Curso de Administração”, 
apresenta-se o núcleo do surgimento da Administração enquanto formação universitária, 
principalmente nos Estados Unidos e o nível de influência na criação das Escolas de 
Administração no Brasil. Em seguida reflete-se sobre o processo de massificação do 
curso de Administração e suas consequências para a formação do egresso e para as 
organizações e empresas na busca por profissionais hábeis e competentes nos aspectos 
técnicos e humanos. 
No terceiro momento, intitulado como “A Formação do Administrador”, a 
proposição de se analisar as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de 
Administração de 2005 oferece subsídios para a compreensão do paradoxo entre a 
proposta das DCN e a real situação da formação dos Administradores no interior das 
Instituições do Ensino Superior. 
Na tentativa de buscar um novo caminho à formação do administrador, o 
referente artigo propõe uma reflexão sobre a perspectiva antropológica da gestão 
empresarial contrapondo-se a histórica influência das bases teóricas norte-americanas. 
 
1 O Ensino Superior no Brasil 
 
O Ensino Superior é tratado como processo da produção da complexa Instituição 
de Ensino Superior, cuja sigla, atualmente, se denomina IES e é composta por 
Faculdades, Institutos, Centros Universitários e Universidades, na esfera pública e 
privada. Para se compreender melhor o Ensino Superior como processo da produção das 
IES é necessário resgatar a história dessas Instituições no cenário brasileiro. 
 O lócus originário do Ensino Superior são as escolas antigas dos gregos, 
romanos, estóicos e outros. A Baixa Idade Média, compreendida entre os séculos XI e 
XIV é a linha do tempo que marca o início das suas atividades na Europa. Esse período 
foi marcado pela forte crise do modelo feudal e de tantas outras crises sociais, políticas 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios, v. 1, n. 1, fev. 2012, p. 105-123 107 
e econômicas, assim essas crises influenciaram muito a trajetória da constituição das 
Instituições de Ensino Superior. Porém, há um fator marcante que dá um 
direcionamento explícito ao percurso das Instituições de Ensino que é servir aos 
interesses dos burgueses diante das atividades comerciais e econômicas que começavam 
a se desenvolver. 
 As mais antigas Instituições de Ensino Superior na Europa, denominadas como 
Universidades por Dirceu Benincá são: 
 Entre as mais antigas universidades da Europa, estão: Bolonha (Itália, 
1088); Oxford (Inglaterra, 1096); Paris (França, 1170); Moderna 
(Itália, 1175); Cambridge (Inglaterra, 1209); Salamanca (Espanha, 
1218); Montpellier (França, 1220); Pádua (Itália, 1222); Nápoles 
(Itália, 1224); Toulouse (França, 1229); Siena, (Itália, 1240), Múrcia 
(Espanha, 1272); Coimbra (Portugal, 1290); Complutense de Madrid 
(Espanha, 1203); Praga (República Checa, 1348); e Viena (Áustria, 
1365). (BENINCÁ, 2011, p. 32). 
 
 Nas Américas, a partir dos períodos de colonizações surgiram as Universidades 
do Peru, em Lima denominada Universidad Nacional Mayor de San Marcos, em 1551; a 
Universidad Nacional Autónoma do México, na Cidade do México em 1551; a 
Universidad Nacional de Córdoba, na Argentina, em 1613; Harvard, em Boston, 
Estados Unidos, em 1636; Yale, Estados Unidos, em 1701; e Princeton, Nova Jersey, 
Estados Unidos, em 1746. 
 No momento histórico, aproximadamente até 1808, os portugueses não 
permitiram a criação de nenhuma universidade brasileira, apesar dos esforços dos 
jesuítas. Estima-se que mais de 2.500 brasileiros foram diplomados na Europa. Segundo 
Benincá (2011, p. 32), “a coroa portuguesa impediu de forma sistemática o surgimento 
de universidades durante o período colonial. Sua política visava submeter às elites 
nativas ao monopólio educacional advindo de Coimbra.” 
 Por conseguinte, no Brasil, a história da implantação das Escolas de Ensino 
Superior está ligada a vinda da corte portuguesa, principalmente com a permanência na 
colônia do rei D. João VI e pode-se afirmar que a partir desse momento se instituiu o 
Ensino Superior no Brasil. Luckesi (1998, p. 34) aponta que “nascem as aulas régias, os 
cursos, as academias, em resposta às necessidades militares da Colônia, consequência 
da instalação da Corte no Rio de Janeiro.” 
 As Escolas de Ensino Superior ou Faculdades nascem com a marca 
exclusivamente profissionalizante, ligadas às áreas da Medicina, da Engenharia e do 
Direito. A Faculdade de Medicina na Bahia em 1808 é o resultado da evolução de 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios, v. 1, n. 1, fev. 2012, p. 105-123 108 
cursos de anatomia, cirurgia e medicina; as Faculdades de Direito de São Paulo e 
Recife, em 1854, resultam, também, da evolução dos cursos de Direito; em 1874 foram 
criadas a Escola Militar e a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, dando assim a 
separação entre os cursos civis e os militares. Por volta de 1900, em Ouro Preto,Minas 
Gerais, é criada a Escola de Engenharia. 
 Somente em 1930 dá-se o início à transformação ou “arrumação”, do Ensino 
Superior no Brasil como denomina Cipriano Luckesi (1998, p. 34): “O ajuntamento de 
três ou mais Faculdades podia legalmente chamar-se de Universidade.” É nesse 
contexto que se fundam as Universidades de Minas Gerais em 1933 e a de São Paulo 
em 1934. 
 Em 1935, com Anísio Teixeira, inicia-se um pensamento forte de se constituir 
uma universidade brasileira, não mais como agrupamento de faculdades, mas como um 
centro de debates livres de ideias, mas tal pensamento e discussão foram logo 
combatidos pela chegada da ditadura, com a implantação do Estado novo em 1937. Até 
1960 continua-se com a denominação de Universidade como agrupamento de 
Faculdades, apesar de coexistir as ideias de Anísio Teixeira e, em seguida, foram 
reerguidas pelo seu discípulo Darcy Ribeiro com a ajuda das bases intelectuais do país 
da referida época. Assim funda-se a Universidade de Brasília, como esperança de uma 
Universidade Brasileira, nascida a partir da reflexão nacional. Entretanto, mais uma vez 
a incipiente Universidade foi preterida pelo Golpe de 1964. 
As concepções de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro de construção da 
Universidade Brasileira, como centro de pesquisa e de debates livres, nascida para 
responder aos problemas nacionais passam a ser paradigmas em constante construção, 
mas nunca inteiramente construídos, mesmo após as conquistas políticas de democracia. 
Para Darcy Ribeiro, as Universidades aqui no Brasil absorvem, aplicam e difundem o 
saber humano fruto da atividade intelectual dos grandes centros técnico-científicos das 
nações desenvolvidas. 
É com a Lei da Reforma Universitária, Lei 5.540-68, que se intensifica no 
cenário do Ensino Superior a prevalência do ensino superior privado, pois segundo 
Luckesi: 
A Lei 5.540-68 da Reforma Universitária diz com referência ao ensino 
Superior: Art. 1º - O ensino superior tem por objetivo a pesquisa, o 
desenvolvimento das ciências, letras e artes e a formação de 
profissionais de nível universitário. Art. 2º - O ensino superior 
indissociável da pesquisa será ministrado em Universidades e, 
excepcionalmente, em estabelecimentos isolados, organizados como 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios, v. 1, n. 1, fev. 2012, p. 105-123 109 
instituições de direito público ou privado. O que percebemos, na quase 
totalidade do ensino superior brasileiro é a paulatina inversão de 
valores: o terceiro objetivo se transformou, na prática, em 
preocupação primordial; o principal e primeiro objetivo da Lei, 
reforçado no Art. 2º, está desaparecendo das preocupações reais dos 
nossos ambientes universitários. O que se constata é um ensino 
sempre mais mercantilizado, de nível cada vez mais baixo, mesmo nas 
grandes Universidades públicas. (LUCKESI, 2005, p. 29). 
 
 A mobilização estudantil em 1968 consegue do governo a criação do GT – 
Grupo de Trabalho, pelo Decreto nº 62.937, cujo objetivo era estudar, em caráter de 
urgência, as medidas que o governo deveria tomar para a resolução da crise 
universitária. Entre as questões levantadas pelo relatório do GT se encontra o fato de 
que a universidade brasileira ainda permanece organizada sob a base das faculdades 
tradicionais e se revela inadequada para atender às necessidades do processo de 
desenvolvimento, que se intensificou na década de 1950. E como constata Fávero1 
(2006, p. 33) “A respeito da expansão das Instituições de Ensino Superior, ressalta-se 
que ela ocorre por simples multiplicação de unidades, em vez de desdobramentos 
orgânicos”. E, continuando com a constatação de Fávero “A Universidade se expandiu 
entretanto em seu cerne, permanece a mesma estrutura anacrônica a entravar o processo 
de desenvolvimento e os germes da inovação”. 
 Outro momento muito relevante do Ensino Superior no Brasil, diz respeito aos 
oito anos de mandato presidencial de Fernando Henrique Cardoso, pois foram nesses 
anos que a expansão do Ensino Superior, principalmente o Ensino Superior privado, 
chegou a números tão elevados, nunca vistos na história. Fala-se dos anos de 1995-
2002. Como Cunha2 apresenta: 
A proposta de governo do candidato FHC para seu primeiro mandato 
(Cardoso, 1994) foi elaborado por uma equipe coordenada pelo 
economista Paulo Renato de Souza, ex-secretário da Educação do 
Estado de São Paulo, ex-reitor da Universidade Estadual de Campinas, 
naquele momento, técnico do Banco Interamericano de 
Desenvolvimento (BID). Vitorioso o candidato e empossado FHC na 
Presidência da República, Paulo Renato de Souza foi nomeado 
ministro da Educação, cargo que ocupou de 1995 a 2002, vale dizer, 
durante os dois mandatos do presidente. (CUNHA, 2003, p. 38). 
 
 A Expansão do Ensino Superior nesse período histórico reflete a agenda 
neoliberal das agências financiadoras que estabeleciam metas a serem alcançadas pelo 
 
1
 FÁVERO, Maria de Lourdes Albuquerque. A Universidade no Brasil: das origens à Reforma 
Universitária de 1968. EDUCAR. Curitiba, n. 28, p. 17-28, 2006, Editora UFPR. 
2
 CUNHA, Luiz Antonio. O Ensino Superior no Octênio FHC. Educação e Sociedade. Campinas, v. 24, 
n. 82, p. 37-61, abr. 2003. Disponível em: <http://www.cedes.unicamp.br>. 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios, v. 1, n. 1, fev. 2012, p. 105-123 110 
Brasil, como o Banco Mundial (BM), a Conferência Mundial sobre a Educação 
Superior (UNESCO/Paris/5-9/10/1998), o FMI, a FAO e a OMS. Por conseguinte, a 
expansão do Ensino Superior se deu pelo setor privado, onde no ano 1996 se tem 23% 
de Instituições de Ensino Superior públicas contra 77% de Instituições de Ensino 
Superior privadas. 
Pode-se constatar a evolução do número de IES no Brasil através do gráfico a 
seguir: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: MEC/INEP www.inep.gov.br 
 
 O Ensino Superior continuou a sua expansão em larga escala também no 
Governo Lula, constatando-se, claramente, a continuidade da “avalanche neoliberal e os 
modelos universitários de ocasião, como menciona Sguissardi: 
Serão os ventos e a avalanche neoliberais na economia, na reforma do 
Estado e na concepção do conhecimento e do ensino superior como 
bem privado, quase mercadoria, serviço educacional regulamentável 
no âmbito da Organização Mundial do Comércio, que irão condicionar 
nos últimos anos a nova configuração da universidade em nosso país e 
no exterior, também sob o ponto de vista dos modelos universitários. 
A drástica redução do financiamento público, a criação de fundações 
privadas no interior das IES públicas, entre outras formas de retirada 
do Estado da manutenção do setor, e a contenção na sua expansão, 
assim como o desenfreado processo de expansão da universidade 
privada, em especial a com fins lucrativos; o aumento da 
diferenciação institucional e a adoção de modelos gerenciais ou 
empresariais de administração universitária são apenas algumas 
decorrências das profundas mudanças na economia pós-fordista e na 
organização do Estado pós-moderno ou pós-Estado do Bem-Estar. 
(SGUISSARDI, 2009, p. 302). 
 
2314
922
245211
2069
710
0
500
1000
1500
2000
2500
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Total Públicas Privadas
Empreendedorismo, Gestão e Negócios 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios, v. 1, n. 1, fev. 2012, p. 105-123 111 
 Pode-se constatar que no Período do Governo Lula, a expansão do Ensino 
Superior se deu pelo relevante número de IES privadas, como está demonstrado no 
gráfico acima citado, onde em 2009 há 89,4% de IES privadas contra 10,6% de IES 
públicas. Assim, um crescimento de 191,4% das IES privadas e 16,1% das IES 
públicas. 
 O governo Lulaapregoou durante toda a campanha eleitoral a expansão das 
universidades federais, porém finalizou os seus mandatos tendo como parceira a 
iniciativa privada. Ela foi responsável pelo crescimento do ensino superior no período 
de 2003 a 2009. Dos seis milhões de jovens matriculados em IES, 75% estão em 
unidades pagas, isto é IES privadas. 
 Um dado que deve ser mencionado que contribuiu para a expansão do Ensino 
Superior no governo Lula foi a criação do PROUNI – Programa Universidade para 
Todos, em 2005, tendo como mentor o Ministro da Educação Fernando Haddad, que 
compunha o governo e a pasta da educação na época. O PROUNI consiste em 
distribuição de bolsas, integrais e parciais, em IES privadas em troca de incentivos 
fiscais. Atualmente são oferecidas 748 mil bolsas. 
 Entretanto, a meta de se ter 30% de jovens entre 18 e 24 anos nos cursos de 
graduação, fixada no Plano Nacional de Educação (PNE) aprovado em 2001, não se 
cumpriu no governo Lula. Hoje a taxa é inferior a 15%. 
 Outro programa do Governo Lula que contribuiu para a expansão do Ensino 
Superior foi o REUNI – Reestruturação e Expansão das Universidades Federais lançado 
em 2007. Segundo dados do Ministério da Educação – MEC, houve um acréscimo de 
60% no número de vagas entre 2003 a 2009. Em 2010, o Programa REUNI aplicou R$ 
22 bilhões. 
 A Educação a distância também contribuiu para a expansão do Ensino Superior. 
Dados do Censo do Ensino Superior apontou que no período de 2002 a 2008, o número 
de estudantes matriculados em cursos superiores nessa modalidade cresceu 18 vezes, na 
sua maioria em IES privadas. 
 
2 A História do Curso de Administração 
 
O início da escolarização em Administração no interior das Universidades 
ocorre nos Estados Unidos ou na França. Na França é a École dês Hautes Études 
Comerciales (HEC) e nos Estados Unidos é a Warton School, ou seja, ambas as 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios, v. 1, n. 1, fev. 2012, p. 105-123 112 
Instituição de Ensino Superior reivindicam a iniciação das escolas de administração ou 
negócios, aproximadamente no final do século XIX. 
Porém, foram nos Estados Unidos que as Escolas de Administração se 
instalaram nas Universidades, pois a resistência das seculares Universidades Europeias 
em relação à Educação em Administração só diminuiu após o final da Segunda Guerra 
Mundial. 
Primeiramente, nos Estados Unidos, as Business Schools originam-se através 
dos desdobramentos dos Departamentos de Economia e foram instaladas na Graduate 
School, equiparando-se como cursos de pós-graduação (mestrado profissional). E após, 
se expandiu como curso de graduação de quatro anos e mais dois anos de pós-graduação 
em regime de tempo integral. 
Em seguida, passou-se a oferecer doutorados em Administração, 
Doctor of Business Administration (DBA), em algumas 
Universidades, ou Doctor of Commercial Sciences (DCS), apenas em 
Harvard. Posteriormente, esses títulos foram abolidos e para o 
doutorado em Administração acabou adotando-se o tradicional 
Philosophy Doctor (Ph. D), como ocorria em muitas outras áreas. 
Mas, rapidamente, as Universidades de maior prestígio acabaram 
encerrando seus cursos de graduação e fazendo da administração 
apenas objeto de graduate school. Todavia, as universidades de menor 
prestígio e produção científica, bem como o Junior e Community 
Colleges, até hoje oferecem curso de administração em nível de 
graduação. (BERTERO, 2006, p. 2). 
 
Acredita-se que a resistência das conceituadas Universidades europeias e 
também por algumas Universidades norte-americanas, se dê pelo fato da Administração 
não ser uma ciência, como conceito básico de “ciência que trata de desenvolvimento de 
conhecimento sistemático por meio de pesquisa”, como comenta Mintzberg (2006, p. 
21). Não se pode ainda considerá-la ciência aplicada e sim afirmar que Administração 
aplica ciência, como Economia, Psicologia, Ciências Sociais, Ciências Políticas, 
Ciências Humanas e outras. Há uma aproximação da Administração com a Arte, 
baseada em insight, visão, intuição. Segundo Mintzberg (2006, p. 21), “Peter Drucker 
escreveu em 1954 que os dias do gerente intuitivo estão contados. Meio século depois, 
porém, ainda estamos contanto”. Isso quer dizer que a Administração é uma prática que 
se faz dialeticamente na teoria e no aprender fazendo. Por conseguinte, Mintzberg 
(2006, p. 21) afirma que “a Administração eficiente, portanto, acontece quando arte, 
habilidade e ciência se encontram”. 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios, v. 1, n. 1, fev. 2012, p. 105-123 113 
 Com os Estados Unidos se impondo como potência mundial, o ensino de 
Administração se expande, já no século XX. Possivelmente esse é um motivo relevante 
para que os Estados Unidos se consolidem como berço da Administração e não a 
Europa. Esse cenário se comprova com dados onde pelo menos dois terços da produção 
científica são de autores norte-americanos e são colocados em livrarias muito próximos 
a títulos de auto-ajuda, como estratégia de marketing. Muitas dessas obras já foram 
traduzidas para diversas línguas, transcendendo a cultura ocidental, chegando a Ásia: 
China, Índia, Paquistão, Japão, Coréia, Taiwan e outros. 
A origem do ensino de administração no Brasil deu-se com a criação do DASP – 
Departamento de Administração do serviço Público, em 1938, no período do governo 
de Getúlio Vargas que estabeleceu padrões de eficiência no serviço público federal e 
assim criou canais mais democráticos ao recrutamento de pessoas para a administração 
pública. Essa data é coincidente com o término da Segunda Guerra Mundial e o Brasil 
também visualizava otimismo frente ao futuro. Ideologicamente pensava-se que o 
mundo seria resolvido e transformado através do desenvolvimento econômico que, por 
conseguinte, viria o desenvolvimento social e político. Comenta (BERTERO, 2006, p. 
4) “que os vencedores da guerra constroem um quadro institucional internacional, 
centrado na ONU e nos diversos organismos e agências que a integram, como o Banco 
Mundial, FMI, UNESCO, FAO, OMS, OIT, que teria como missão organizar a paz 
entre as nações e promover o desenvolvimento e o enriquecimento”. 
Na continuidade o governo da época autorizou a constituição da FGV – 
Fundação Getúlio Vargas com as atribuições de estudo das organizações, da 
racionalização do trabalho e a preparação de profissionais em nível superior. A referida 
fundação foi criada em 1944 através do Decreto 6.933 e em 1948 alguns representantes 
visitaram Instituições de Ensino Superior nos Estados Unidos para conhecer o 
funcionamento de cursos de Administração, tendo em vista que o Brasil não possuía 
nenhuma experiência na organização e funcionamento de tal curso superior. Segundo, 
Bertero: 
Curiosamente, o Brasil é dos primeiros países, além dos Estados 
Unidos, a escolarizar a administração, criando relativamente cedo 
escolas, cursos, departamentos e faculdades de administração. O 
movimento pioneiro começa em São Paulo, para a administração de 
negócios, e no Rio de Janeiro, para a administração pública. 
(BERTERO, 2006, p. 4). 
 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios, v. 1, n. 1, fev. 2012, p. 105-123 114 
A aproximação da Fundação Getúlio Vargas com escolas e professores 
americanos favoreceu a criação em 1951 da EBAP – Escola Brasileira de Administração 
Pública com apoio da ONU e UNESCO. A cooperação técnica estabelecida pelos 
Estados Unidos fica evidente em Martins: 
[...] o ensino da administração no Brasil, desde o seu início, 
estabeleceu fortes vínculos com o sistema de ensino americano, 
inclusive com a utilização de bibliografia, modelos curriculares e 
mesmo com a participação de professores americanos como docentes 
nos primeiros cursos aqui realizados. (MARTINS 1989, p. 663).Constata-se que o objetivo da FGV era a formação de profissionais para atender 
o setor produtivo e a cidade de São Paulo foi escolhida como lócus de fomento desse 
trabalho por ser considerada o centro das atividades econômicas e produtivas do Brasil e 
assim foi criada em 1954 a Escola de Administração de Empresas de São Paulo – 
EAESP. 
No Início das atividades a EAESP fez convênio com a USAID – United Stades 
Agency for International Development, agência governamental voltada para o 
desenvolvimento internacional onde garantia a permanência de docentes americanos 
junto a EAESP e intercâmbio de professores brasileiros para cursarem pós-graduação 
nos Estados Unidos. Essa atividade conjunta permaneceu até 1965. 
Nesse percurso histórico da criação de Administração no Brasil é preciso 
mencionar a criação da USP, em 1934 e a FEA – Faculdade de Economia e 
Administração em 1946. Ressalta-se que a criação do curso de Administração pela USP 
estava ligada a área de economia, tendo a administração um lugar serviente. Segundo 
Bertero a criação: 
[...] do que viria a ser o futuro Departamento de Administração da 
Unidade da USP, hoje conhecida como Faculdade de Economia, 
Administração e Contabilidade, deveu muito a dois professores que 
tinham raízes na Escola Politécnica da mesma universidade, Ruy 
Aguiar da Silva Leme e Sergio Batista Zacarelli. As raízes 
politécnicas poderiam sugerir uma grande propensão a que o novo 
departamento fosse marcado pelo conteúdo da engenharia de 
produção. Isso não ocorreu. O projeto da USP foi abrangente em 
termos de conteúdo em sua época e não muito diverso do da Eaesp, 
pois Ruy Leme estudou cuidadosamente o desenvolvimento da área 
em instituições norte-americanas. Dessa forma, as duas escolas 
paulistas acabaram por abeberar-se na mesma fonte norte-americana. 
(BERTERO, 2006, p. 8). 
 
Essas instituições FGV, EBAP, EAESP e a FEA-USP tiveram um papel de 
vanguarda na formação de profissionais de boa qualidade, na perspectiva norte-
Empreendedorismo, Gestão e Negócios 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios, v. 1, n. 1, fev. 2012, p. 105-123 115 
americana e no seu entendimento do conceito de qualidade. Entretanto, já havia 
questionamento referente à formação do administrador já nos Estados Unidos, Canadá, 
França, e em outros países, como afirma Jean-François Chanlat em seu livro “O 
indivíduo na Organização: dimensões esquecidas”: 
(Vinte e cinco anos após o famoso relatório da Fundação Ford que 
reivindicava uma real formação acadêmica e profissional em que as 
ciências do comportamento ocupassem seu justo lugar (Peterson, 
1959); Gordon e Hotel, 1959), o ensino e a formação do administrador 
são novamente contestados. Seja nos Estados Unidos (Herzberg, 1980; 
Barman e Lévi, 1984; Porter e mckibbin, 1988), no Canadá (Chanlat, 
1984; Chanlat e Dufour, 1985; Association dês Manufacturiers 
Canadiens, 1986; Devlin, 1986) na França (Galambaud, 1988; 
Delwasse, 1988) ou em outros países (Le Monde Campus, 1988), não 
se hesita em denunciar em graus diversos o elevado grau de 
especialização, a rigidez, a aintiintelectualismo, o etnocentrismo, o 
quantitativismo, o economismo, a incultura, a ausência de consciência 
histórica, a inaptidão para comunicar ou interagir nos programas e no 
comportamento dos estudantes. (CHANLAT, 2009, p. 24). 
 
 Porém a quantidade de bacharéis formados era tímida diante da demanda do 
sistema econômico da época, apesar do surgimento de diversos cursos de administração 
em outras regiões do Brasil. 
A LDB – Leis, Diretrizes e Bases de 1961 configura-se como o primeiro passo 
para a garantia da privatização que se seguiria no Ensino Superior nas próximas 
décadas. Os anos da Ditadura Militar proporcionaram o aprofundamento do caráter 
essencialmente privado do Ensino Superior e de sua acelerada expansão, impondo uma 
falsa ideia de democratização do ensino e refém da sua própria inserção num plano 
internacional, manobrado pelos Estados Unidos. Como comenta Minto: 
A Ditadura Militar semeou o terreno do ensino privado, facilitando 
sua expansão e fazendo desde um período muito importante para o 
setor. Não porque antes o ensino superior privado fosse insignificante 
em termos quantitativos – ao contrário -, mas porque foi com o golpe 
que se iniciou um novo período na história educacional brasileira em 
que a contra-reforma da universidade viria a selar de vez a intenção de 
nossas elites em eliminar o caráter crítico da universidade, da 
produção autônoma do conhecimento, enfim da já parca função 
pública da universidade, consolidando para esse ensino um modelo 
pautado, geralmente, nos moldes das antigas escolas superiores. 
(MINTO 2006, p. 114). 
 
 A Reforma Universitária de 1968, denominada lei n. 5.540, garante que o Ensino 
Superior fosse oferecido por Instituições privadas e a formação e currículo contemplam 
a ideia de maior aproximação entre Instituição de Ensino Superior e setor produtivo, 
com características reducionistas como: ensino de caráter utilitarista, redução do tempo 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios, v. 1, n. 1, fev. 2012, p. 105-123 116 
de formação, tendência de formação técnica a partir dos modelos norte americanos e 
outras. 
 O cenário que se apresenta cria a base para a massificação do curso de 
Administração no Brasil, por motivos até hoje presentes em sua expansão e no fato do 
curso de Administração ser o primeiro no ranking de números de matrículas. Os dados 
do Censo do Ensino Superior de 2009 demonstram que o curso de Administração possui 
874 mil matrículas, no território brasileiro, conforme gráfico: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fonte: Inep (www. inep. gov.br) Matrículas em Cursos de Graduação Presenciais Brasil - 2009 (em mil) 
 
Os motivos que facilitam a expansão do curso de Administração estão ligados a 
natureza do curso: um curso que exige pouco investimento às mantenedoras das IES 
privadas, a presença de estruturas físicas mais simples e um corpo docente com a 
marcante presença de especialistas em detrimento dos professores mestres e doutores, 
até porque não há um número relevante de pesquisadores na área de Administração. A 
posição de Bertero sobre as causas da abertura de tantas vagas em Administração no 
Brasil corrobora o caminho percorrido até aqui: 
A questão que a seguir se coloca é saber por que se abriram tantas 
vagas para essa profissão. A razão não é necessariamente um elogio a 
nossos educadores e gestores de universidades, centros universitários 
e faculdades de administração. Trata-se de um curso de fácil 
massificação. Exige poucos investimentos em ativo fixo, só 
recentemente laboratórios de informática passaram a ser vistos como 
necessários, e pode ser lecionados em meio período, o que permite sua 
expansão por meio de cursos noturnos. O encanto ou atratividade da 
profissão para muitos jovens, não só de classe alta e média alta, mas 
133
145
163
205
205
235
287
419
651
874
Ciências Biológicas
Letras
Educação Física
Ciências Contábeis
Comunicação Social
Enfermagem
Pedagogia
Engenharia
Direito
Administração
Empreendedorismo, Gestão e Negócios 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios, v. 1, n. 1, fev. 2012, p. 105-123 117 
de classe média média e média baixa, assegurou por muitos anos uma 
demanda não só constante, mas crescente. A maioria das vagas é 
oferecida pelas Instituições de Ensino Superior (IES) privadas com os 
objetivos empresariais em que serviços educacionais são tratados 
primordialmente como negócios. (BERTERO, 2006, p. 21) 
 
A realidade da expansão dos cursos de Administração só se alterou conduzindo à 
redução no preenchimento de vagas no final do ano 2000 e atualmente com a expansão 
de cursos superiores na modalidade de EAD, muitas vagas em cursospresenciais estão 
ociosas. 
 A massificação histórica do curso de Administração no Brasil faz com que 
egressos em grande quantidade se dirijam ao mercado de trabalho com formação 
generalista, reducionista e de pouca profundidade em áreas importantes do 
conhecimento que são exigidas pelas empresas de diversos setores. Fala-se de 
conhecimentos técnicos e sociais que deveriam ser construídos através de disciplinas de 
formação básica, profissional e de conteúdos quantitativos e tecnológicos, assim como 
formação complementar de cultura geral que deveriam fornecer bases científicas mais 
consistentes. Continua Bertero em sua análise crítica à formação dos profissionais de 
Administração: 
O resultado dessa massificação, do ponto de vista dos bacharéis que se 
formam, é que seus futuros profissionais têm pouco a ver como o que 
em outros países se entende por uma carreira de administrador. A 
grande maioria jamais ocupará um posto de gestor, mesmo que de 
primeira linha ou de supervisão simplesmente, porque lhes falta tanto 
o capital intelectual como o social para adentrar e ter uma carreira 
plena de gestor. Ao fim e ao cabo, a expansão dos cursos de 
graduação entre nós acabou por transformar o que deveria ser um 
curso destinado à formação de um grupo profissional novo, engajado 
em processo de transformação de organizações e, por meio delas, da 
própria realidade nacional, em um curso de “educação geral”. Um 
bacharelismo pejorativo em uma nova versão e com outra roupagem. 
(BERTERO, 2006, p. 23). 
 
À luz de uma reflexão mais profunda os cursos de Administração, atualmente, 
respondem muito bem à agenda neoliberal proposta ao Brasil no que se refere ao Ensino 
Superior. Essa agenda valoriza, necessariamente, os aspectos quantitativos do Ensino 
Superior. E ao encenar os aspectos qualitativos é oportuno indagar-se de que qualidade 
se refere, sem a pretensão a uma definição, porém provocar a indagação sobre o lugar 
preciso da qualidade nas recentes políticas de educação superior, em especial no Brasil. 
 
 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios, v. 1, n. 1, fev. 2012, p. 105-123 118 
3 A Formação do Administrador 
 
O curso de Administração teve diversos Pareceres e Resoluções do Conselho 
Nacional de Educação com o objetivo de dar o caminho à formação do futuro 
profissional, como o Parecer CNE/CES nº 146, de 3 de abril de 2002 que aprova as 
Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Administração, Ciências 
Contábeis, Ciências Econômicas, Dança, Design, Direito, Hotelaria, Música, 
Secretariado Executivo, Teatro e Turismo. O Parecer CNE/CES nº 134, de 4 de junho 
de 2003 que aprova as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em 
Administração, Bacharelado. A Resolução CNE/CES nº 1, de 2 de fevereiro de 2004 
que Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em 
Administração, Bacharelado, e dá outras providências. O Parecer CNE/CES nº 110, de 
11 de março de 2004 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos 
superiores em Administração Hoteleira. O Parecer CNE/CES nº 188, aprovado em 7 de 
julho de 2004 que é uma retificação do Parecer CNE/CES110/2004, referente às 
Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos superiores em Administração 
Hoteleira. O Parecer CNE/CES nº 23, aprovado em 3 de fevereiro de 2005 que é uma 
Retificação da Resolução CNE/CES nº 1/2004, que institui as Diretrizes Curriculares 
Nacionais (DCN) do curso de Graduação em Administração. A Resolução CNE/CES n° 
4, de 13 de julho de 2005 que Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de 
Graduação em Administração, Bacharelado, e dá outras providências. E por fim o 
Parecer CNE/CES nº 223, de 20 de setembro de 2006 que consulta sobre a implantação 
das novas diretrizes curriculares, formulada pela Universidade Estadual de Ponta 
Grossa. 
A proposição de se analisar as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de 
Administração de 2005, como último documento instituído pelo Conselho Nacional de 
Educação para o referido curso oferece subsídios para a compreensão do paradoxo entre 
as DCN e a realidade atual da formação dos Administradores. A análise se restringe ao 
Projeto Pedagógico do Curso e em seu interior o perfil desejado do egresso e a 
formação profissional que revelem às determinadas habilidades e competências. 
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Administração o perfil 
desejado do formando e posteriormente egresso é: 
Art. 3º O Curso de Graduação em Administração deve ensejar, como 
perfil desejado do formando, capacitação e aptidão para compreender 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios, v. 1, n. 1, fev. 2012, p. 105-123 119 
as questões científicas, técnicas, sociais e econômicas da produção e 
de seu gerenciamento, observados níveis graduais do processo de 
tomada de decisão, bem como para desenvolver gerenciamento 
qualitativo e adequado, revelando a assimilação de novas informações 
e apresentando flexibilidade intelectual e adaptabilidade 
contextualizada no trato de situações diversas, presentes ou 
emergentes, nos vários segmentos no campo de atuação do 
administrador. (MEC – CNE – 2005, Art. 3º). 
 
 Do ponto de vista conceitual, o perfil desejado aponta e revela um profissional 
pleno, completo para o enfrentamento do complexo mundo do trabalho, das relações, 
das empresas e das mudanças cada vez mais instantâneas no cenário nacional e mundial. 
Porém, de fato, o que ocorre no interior dos diversos cursos de Administração não 
chega perto do ideário das DCN, revelando uma grande lacuna na formação dos 
profissionais em Administração. Os motivos são evidentes pela falta de pesquisa no 
interior dos cursos; pela falta de professores pesquisadores, caracterizando ausência de 
cientificidade na relação ensino-aprendizagem. Como também, a quantidade expressiva 
de professores pragmáticos e enrijecidos em um pragmatismo baseado no senso comum 
e em experiências medíocres de mercado de trabalho, muitas vezes mascaradas pelo 
novo modismo de consultoria. Evidencia-se que boa parte desses professores se 
autodenominam consultores de empresas, após incipiente experiência de mercado. A 
titulação de boa parte dos professores é de especialista, em percentuais bem elevados 
nas diversas IES espalhadas pelo Brasil, ou seja, possuem a Pós-Graduação Lato Sensu, 
regulamentada pela Resolução nº 01 de junho de 2007 como Especialização e ou MBA 
(Master Business Administration), caracterizado também pela mesma Resolução como 
Lato Sensu. O problema que se levanta é que o professor especialista está longe de 
compreender qual é a importância da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e 
extensão, exigência essa que realmente garante a formação do perfil desejado ao egresso 
de qualquer curso superior. 
 Outro fator que contribui à lacuna na formação do perfil desejado e idealizado é 
o distanciamento do curso com a realidade local, regional, nacional e mundial. Os 
projetos de extensão e de atividades que ocorrem no interior dos cursos de 
Administração visando essa aproximação são superficiais em termos interdisciplinares, 
são assistencialistas, são míopes quanto a compreensão das necessidades da sociedade, 
do mercado de trabalho e das empresas. E, atualmente, as ações tidas como extensão 
universitária são direcionadas para um duvidoso comprometimento com a 
responsabilidade social. 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios, v. 1, n. 1, fev. 2012, p. 105-123 120 
 E, por fim, mais um fator que contribui à lacuna na formação dos 
administradores é a falsa ideia de que estão preparados para a mundialização3. 
Atualmente, um percentual relevante de ingressantes aos cursos de Administração é 
oriundo de classes sociais menos favorecidas, carregandoem suas histórias de vidas 
uma formação básica já comprometida em diversas áreas do conhecimento, 
necessitando inclusive da sujeição aos programas de nivelamento, criados pelas 
Instituições de Ensino Superior e presentes nos instrumentos de avaliação do MEC. 
Poucos chegam às IES dominando um segundo idioma e no tocante a esse quesito 
acredita-se que boa parte do corpo docente também não domina um segundo idioma. 
 A formação profissional proposta nas Diretrizes Curriculares Nacionais do 
Curso de Administração que estipula as competências e habilidades almejadas se 
caracteriza: 
Art. 4º O Curso de Graduação em Administração deve possibilitar a 
formação profissional que revele, pelo menos, as seguintes 
competências e habilidades: 
I - reconhecer e definir problemas, equacionar soluções, pensar 
estrategicamente, introduzir modificações no processo produtivo, 
atuar preventivamente, transferir e generalizar conhecimentos e 
exercer, em diferentes graus de complexidade, o processo da tomada 
de decisão; 
II - desenvolver expressão e comunicação compatíveis com o 
exercício profissional, inclusive nos processos de negociação e nas 
comunicações interpessoais ou intergrupais; 
III - refletir e atuar criticamente sobre a esfera da produção, 
compreendendo sua posição e função na estrutura produtiva sob seu 
controle e gerenciamento; 
IV - desenvolver raciocínio lógico, crítico e analítico para operar com 
valores e formulações matemáticas presentes nas relações formais e 
causais entre fenômenos produtivos, administrativos e de controle, 
bem assim expressando-se de modo crítico e criativo diante dos 
diferentes contextos organizacionais e sociais; 
V - ter iniciativa, criatividade, determinação, vontade política e 
administrativa, vontade de aprender, abertura às mudanças e 
consciência da qualidade e das implicações éticas do seu exercício 
profissional; 
VI - desenvolver capacidade de transferir conhecimentos da vida e da 
experiência cotidianas para o ambiente de trabalho e do seu campo de 
atuação profissional, em diferentes modelos organizacionais, 
revelando-se profissional adaptável; 
VII - desenvolver capacidade para elaborar, implementar e consolidar 
projetos em organizações; e 
VIII - desenvolver capacidade para realizar consultoria em gestão e 
administração, pareceres e perícias administrativas, gerenciais, 
 
3
 Processo histórico, com incidência política, econômica, cultural, tecnológica, etc., acelerado na segunda 
metade do século XX, que representa a consciência de que os fenômenos se apresentam inter-
relacionados, independentemente das fronteiras territoriais, das diferenças étnicas ou linguísticas, etc. 
(www.infopedia.pt) 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios, v. 1, n. 1, fev. 2012, p. 105-123 121 
organizacionais, estratégicos e operacionais. (BRASIL, MEC – CNE, 
2005, Art. 4º). 
 
 O ideário das habilidades e competências está distante do complexo mundo do 
trabalho. Há várias décadas, a maioria dos egressos dos cursos de Administração não 
exerce a função de administradores ou gestores e sim trabalham em diversas funções 
dentro das empresas privadas e estatais como: vendedores, assistentes administrativos, 
assistentes financeiros, de gestão de pessoas como também gerências. E uma boa 
parcela se aventura pela onda do empreendedorismo amador e até da consultoria. 
 As competências e habilidades propostas à formação profissional do 
administrador somente teriam êxito em sua concretização histórica se realmente os 
Projetos Pedagógicos dos cursos alinhassem a arte, ciência e um profundo entendimento 
do homem (sujeito) e da sociedade. E em sequência se abandonassem os modelos norte-
americanos de gestão, como também reduzissem a exposição da demasiada literatura 
norte-americana, construída sob uma ideologia ultrapassada e descontextualizada em 
relação a nossa identidade brasileira ainda em construção como dizia Darcy Ribeiro. 
 A formação de administradores no Brasil pode se estabelecer sob propostas ou 
modelos de gestão baseados em traços culturais genuínos, desde que assuma uma 
perspectiva antropológica de gestão e defina que “práticas de gestão são práticas sociais 
enraizadas no tempo-espaço, ou seja, uma sociedade, numa cultura e uma história.” 
(CHANLAT, 2010, p. 4). 
Essa antropologia da ação humana no contexto empresarial está 
fundamentada nos seguintes princípios: 1. Toda pessoa ou todo grupo 
é um ator social; 2. Toda pessoa ou todo grupo será um ator social na 
proporção da sua mobilização; 3. Todo indivíduo e todo grupo têm 
uma identidade; 4. Todo indivíduo e todo grupo possuem uma cultura 
que forma um universo de significado graças à utilização da 
linguagem; 5. Todo indivíduo ou grupo possui uma vida afetiva e um 
imaginário; 6. Todo indivíduo ou grupo se forma por meio de seu 
relacionamento com os outros; 7. Todo indivíduo ou grupo registra 
sua ação no espaço-tempo; 8. Toda ação humana sempre é 
materializada, ou seja, ela coloca o corpo à prova; 9. Toda ação 
humana sempre suscita um questionamento ético. (CHANLAT, 2010, 
p. 5). 
 
Atualmente, a superação da perspectiva neoliberal da educação faz-se necessária 
para que o Brasil se desenvolva de forma sistêmica e o curso de Administração como o 
curso superior com o maior número de matrículas tenha uma inserção transformadora, 
inovadora e nacional nos interiores das organizações, empresas, enfim, da sociedade. 
 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios, v. 1, n. 1, fev. 2012, p. 105-123 122 
Considerações Finais 
 
É inevitável que o tema abordado não tenha se concluído exatidão, devido à 
extensão do assunto e da transversalidade de contextos históricos, dados e conceitos 
ideológicos. 
Entretanto, a pretensão do artigo foi de apresentar um recorte do cenário do 
Ensino Superior no Brasil, com as nuances de suas origens históricas até a atualidade, 
para conduzir a reflexão da importância desse segmento de ensino no desenvolvimento 
do país em todas as suas dimensões, sociais, econômicas, políticas e culturais. E, dentro 
dessa análise reflexiva, demonstrar como o cenário atual do Ensino Superior está 
corrompido por uma mercantilização desenfreada, sem pressupostos éticos, sociais e 
humanitários. 
A intenção de aprofundamento exclusivo no cenário do curso de Administração 
foi propositalmente ensaiada, pois é o curso de maior número de matrículas no país e o 
mesmo tem intensa responsabilidade para com o mercado de trabalho e o 
desenvolvimento da sociedade, apesar da reflexão realizada apontar para um olhar mais 
cuidadoso e clínico em relação a expansão da oferta do curso de Administração no 
Brasil. 
 
Referências 
 
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Thomson Learning, 2006. 
BENINCÁ, Dirceu. Universidade e suas fronteiras. São Paulo: Editora Expressão 
Popular, 2011. 
CHANLAT, Jean-François. Gestão Empresarial: uma perspectiva antropológica. São 
Paulo: Cengage Learning, 2010. 
______. O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. 3. ed. São Paulo: Atlas: 
2009. V. 3. 
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Campinas, v. 24, n. 82, p. 37-61, abr. 2003. Disponível em: 
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Reforma Universitária de 1968. EDUCAR. Curitiba, n. 28, p. 17-28, 2006, Editora 
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LUCKESI, Cipriano Carlos. Fazer universidade: uma proposta metodológica. São 
Paulo: Cortez, 2005. 
BRASIL. BRASÍLIA, DF. Diretrizes Curriculares Nacionais de Administração. 
Brasília, DF: Conselho Nacional de Educação, 2005. 
MARTINS, Carlos Benedito. Surgimento e expansão dos cursos de Administração 
no Brasil. São Paulo: Ciência e Cultura, 1989 p.663. 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios 
Empreendedorismo, Gestão e Negócios, v. 1, n. 1, fev. 2012, p. 105-123 123 
MINTO, Lalo Watanabe. As Reformas do Ensino Superior no Brasil. O público e o 
privado em questão. Campinas: Autores Associados, 2006. 
MINTZBERG, Henry. MBA, Não Obrigado: uma visão crítica sobre a gestão e o 
desenvolvimento de gerentes. Porto Alegre: Bookman, 2006. 
SGUISSARDI, Valdemar. Universidade brasileira no século XXI: desafios do 
presente. São Paulo: Cortez Editora, 2009.

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