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PUC Minas Virtual • 1 
 
 
UMA ANÁLISE DO INSTITUTO DAS FÉRIAS DO EMPREGADO 
DOMÉSTICO A PARTIR DA SUPERAÇÃO DA TEORIA DE 
APLICAÇÃO DA CONVENÇÃO Nº 132, DA OIT, À LUZ DO 
PRINCÍPIO DA NORMA MAIS FAVORÁVEL, FACE À PROMUL-
GAÇÃO DA LEI Nº 11.324/20061 
 
 
Marcella Pagani 
Mestre e Doutoranda em Direito do Trabalho pela PUC/MINAS 
Especialista em Direito do Trabalho e Previdenciário 
Professora de Direito do Trabalho da PUCMINAS 
Advogada integrante do Ferreira, Kumaira e Fiuza Advogados Associados 
 
 
____________________________ Sumário _____________________________ 
1. Introdução. 2. Evolução histórica. 3. Férias do empregado doméstico. 3.1. A teoria da 
aplicação da Convenção nº 132, da OIT, à luz do princípio da norma mais favorável no 
instituto das férias do empregado doméstico. 3.1.1 Princípio da norma mais favorável. 
3.1.2. Convenção nº 132 da OIT. 3.1.3. Lei nº 5859/72 x Convenção nº 132 da OIT à luz 
do princípio da norma mais favorável. 3.2. A superação da teoria da aplicação da Con-
venção nº 132, da OIT, à luz do princípio da norma mais favorável, face à promulgação da 
Lei nº 11324/2006. 4. Conclusão. 5. Bibliografia. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Será analisada a superação da teoria sobre o instituto das férias do empregado 
doméstico, fundada a partir do confronto entre a Convenção nº 132 da Organização Inter-
nacional do Trabalho e a Lei nº 5859/72, à luz do princípio da norma mais favorável. 
Inicialmente, será desenvolvida uma análise da evolução histórica da inserção do 
trabalhador doméstico no âmbito justrabalhista. 
 
 
 
1
 Artigo publicado em 2008. 
 
Título: Férias do Empregado Doméstico 
 
Autora: Marcella Pagani 
 
PUC Minas Virtual • 2 
 
Posteriormente, será explanada a teoria baseada na aplicação da Convenção nº 
132 da Organização Internacional do Trabalho no instituto das férias do empregado do-
méstico. Para tanto, serão confrontadas as normas jurídicas brasileiras atinentes ao insti-
tuto das férias do empregado doméstico até a promulgação da Lei nº 11324/2006, a fim 
de se verificar qual delas estava atingindo os objetivos precípuos do instituto das férias, 
de modo a convergir para a função finalística do Direito do Trabalho. 
Por fim, será feita uma análise crítica da Lei nº 11.324/2006. à luz da função teleo-
lógica do Direito do Trabalho, de modo a demonstrar a superação da discussão em torno 
do instituto das férias do empregado doméstico. 
 
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
 
A relação de emprego surgiu com o fim do trabalho escravo e da servidão, uma vez 
que, em tais relações, havia a sujeição pessoal do escravo ou servo; ausente, portanto, a 
subordinação. 
O trabalho subordinado nasceu a partir da grande oferta de trabalho livre, no qual 
não há se falar em sujeição pessoal do obreiro. 
Nesse sentido, leciona Maurício Godinho Delgado (1999, p. 34): 
 
Ora, a existência do trabalho livre (isto é, juridicamente livre) é pressuposto histó-
rico-material do surgimento do trabalho subordinado (e, via de conseqüência, da 
relação empregatícia). Pressuposto histórico porque o trabalho subordinado não 
ocorre, de modo relevante, na história, enquanto não assentada uma larga oferta 
de trabalho livre no universo econômico-social. Pressuposto material (e lógico) 
porque o elemento subordinação não se constrói de modo distintivo senão em re-
lações em que o prestador não esteja submetido de modo pessoal e absoluto ao 
tomador dos serviços (como ocorre na servidão e escravatura, por exemplo). Em 
decorrência dessa conexão histórica, material e lógica entre trabalho livre e traba-
lho subordinado percebe-se que as relações jurídicas escravagistas e servis são 
incompatíveis com o Direito do Trabalho. É que elas supõem a sujeição pessoal 
do trabalhador e não a sua subordinação. 
 
Muito embora as raízes da relação doméstica se assentem nos escravos da casa 
grande e nas amas de leite2, é com o fim das relações jurídicas escravistas e servis que o 
trabalho doméstico subordinado passou a fazer parte do sistema justrabalhista. 
Cumpre consignar que, após a Revolução Francesa, o trabalho doméstico foi a 
primeira profissão a ser regulada por lei no mundo ocidental. Cita-se, nesse sentido, o 
 
 
 
2
 Dados históricos relatados por Platão Barros no artigo denominado Aspectos do regime de férias do em-
pregado doméstico., publicado na Revista do TRT – 8ª Região. Belém, 15 (28):97-103, jan/jun 1982 
PUC Minas Virtual • 3 
 
Código Napoleônico que regulou, em alguns artigos, o trabalho exercido pelo empregado 
doméstico. 
Pode-se dividir a inserção do trabalhador doméstico na cultura brasileira em três 
importantes momentos históricos (SANTOS, 2002)3. 
O primeiro, como já dito, foi a vinda dos escravos para o Brasil, onde os mais lim-
pos e melhor afeiçoados eram escolhidos para trabalhar na casa grande. 
Algum tempo depois, o trabalho doméstico passou a ser exercido por jovens mo-
ças, geralmente interioranas, de origem pobre, filhas de pequenos agricultores, que eram 
trazidas por famílias para trabalhar nas grandes cidades, com a esperança de um futuro 
mais promissor. 
Posteriormente, com a migração da população do campo para a cidade, a oferta de 
mão-de-obra cresceu e as indústrias e o comércio passaram a absorver os trabalhadores 
mais qualificados, fato que levou a grande maioria vinda do campo a preencher vagas 
disponíveis nos lares. Em troca de serviço prestado, eram oferecidos moradia, alimenta-
ção e baixos salários. 
Assim, no Brasil, o trabalho doméstico, inicialmente, era regulado pelas Ordena-
ções do Reino, mais precisamente no livro IV que tratava das relações inerentes ao direito 
privado. O código filipino vigorou, no Brasil, de 1603 a dezembro de 1916. 
Em 1º de janeiro de 1917, o Código Civil Brasileiro, elaborado pelo jurista Clóvis 
Beviláqua, passou a disciplinar a matéria, no capítulo relativo à locação de serviços. Res-
salta-se que o Código Civil regulou de maneira genérica a locação de serviços, aplicável a 
qualquer relação de trabalho. 
A primeira legislação que, especificamente, cuidou da relação de trabalho domésti-
co foi o Decreto nº 16.107, de 30 de julho de 1923. Referido diploma legal regulava a lo-
cação de serviço doméstico relacionado às atividades classificadas como domésticas. 
Curioso destacar que o Decreto nº 16.107/23 não fazia distinção entre os serviços 
prestados nos lares de família, hotéis, restaurantes, bares, pensões, escritórios, consultó-
rios. Eram todos considerados trabalhos domésticos4. 
Em 1941, surge o Decreto-lei nº 3078, de 27 de fevereiro, fato que criou, entre os 
doutrinadores, grande entrave em torno do mais novo diploma legal regulador do trabalho 
doméstico. 
 
 
 
3
 Idéia sustentada por Reni Freitas dos Santos no artigo denominado. Empregado Doméstico: contratação a 
título de experiência, publicado na Revista Justiça do Trabalho, vol. 19, nº 221, maio/2002. p. 62/68. 
4
 Informação histórica retirada do artigo Empregado doméstico, de autoria de Dárcio Guimarães de Andra-
de, publicado na Revista do TRT – 3ª Região. Belo Horizonte, 27 (57): 69-75, jul 97/dez 97. 
PUC Minas Virtual • 4 
 
O art. 15, do Decreto-lei em questão, dispunha que sua regulamentação ocorreria 
dentro de trinta dias. Como tal regulamentação não surgiu, a doutrina e jurisprudência se 
dividiram sobre o assunto. 
Para alguns doutrinadores, o Decreto-lei nº 3078/41 nunca entrou em vigor, devido 
à ausência de regulamentação (BARROS, 2001). 
Contudo, havia aqueles que defendiam a auto-executoriedade do diploma legal de 
1941. 
Por outro lado, existia o posicionamento no sentido de que, com o advento da Con-
solidação das Leis do Trabalho, o diploma consolidado teria revogado o Decreto-lei nº 
3078/41. 
Todavia, Alice Monteiro de Barros (2001) entende que não houve revogaçãopelo 
texto celetista, mas tão somente a exclusão do trabalhador doméstico do âmbito normati-
vo. 
Apenas em 1972, com o surgimento da Lei nº 5859, a polêmica travada entre os 
doutrinadores trabalhistas foi absorvida. 
Dessa forma, a Lei nº 5859, de 11 de dezembro de 1972, regulamentada pelo De-
creto nº 71.885, de 09 de março de 1973, e com alterações trazidas pela Lei nº 10.208, de 
23 de março de 2001 e Lei nº 11.324/2006, disciplina, até os dias atuais, o contrato de 
emprego doméstico. 
Com a entrada em vigor da Lei nº 5859/72, os empregados domésticos passaram a 
ter direito às férias remuneradas de vinte dias úteis, após um ano de trabalho, anotação 
na carteira de trabalho e se tornaram segurados obrigatórios do Instituto da Previdência 
Social. 
O direito ao vale-transporte foi contemplado aos domésticos, somente na década 
de 80, mais precisamente com o Decreto nº 95.247/87, que regulamentou as Leis nºs 
7.418/85 e 7.619/87. 
Ressalta-se que, com a promulgação da Constituição da República de 1988, o art. 
7º, parágrafo único, estendeu aos empregados domésticos o direito à percepção ao salá-
rio mínimo, à irredutibilidade salarial, ao décimo terceiro salário, ao repouso semanal re-
munerado, às férias anuais acrescidas de 1/3, à licença maternidade, à licença paternida-
de, à aposentadoria e à integração ao sistema de previdência social. 
Passados mais de dez anos da promulgação da Constituição da República, é edi-
tado o Decreto nº 3361, de 10 de fevereiro de 2000, que contemplou o empregado do-
méstico com a faculdade ao acesso ao FGTS e ao programa do seguro-desemprego. 
PUC Minas Virtual • 5 
 
Por fim, em 19 de julho de 2006, o projeto de Lei de Conversão nº 14, de 2006, 
após algumas alterações, é aprovado e editado pelo governo federal, através da Lei nº 
11.324/2006. 
Referida lei alterou o período de fruição das férias do empregado doméstico, pas-
sando-o para trinta dias corridos. Estendeu a garantia à estabilidade provisória no empre-
go da empregada doméstica gestante, bem como a folga nos dias de feriado. Outrossim, 
vedou o desconto no salário de valores relativos à alimentação, vestuário, higiene e mo-
radia. 
Vê-se, portanto, que o empregado doméstico permaneceu por décadas à margem 
do sistema jurídico brasileiro, pois, somente com a promulgação da Constituição Federal 
de 1988, foram-lhe estendidos direitos capazes de assegurar o mínimo de dignidade hu-
mana. 
Percebe-se, entretanto, uma evolução legislativa no sentido de integrar o trabalha-
dor doméstico às demais normas justrabalhistas, muito embora haja a constante necessi-
dade de avanço legislativo e cultural nesse sentido. 
 
3 FÉRIAS DO EMPREGADO DOMÉSTICO 
 
3.1 A teoria da aplicação da Convenção nº 132, da OIT, à luz do princípio da norma 
mais favorável no instituto das férias do empregado doméstico 
 
3.1.1 Princípio da norma mais favorável 
 
A função teleológica do Direito do Trabalho está essencialmente fundada na ne-
cessidade de se buscar o equilíbrio jurídico na relação empregatícia, através da “melhoria 
das condições de pactuação da força de trabalho na ordem socioeconômica” (DELGADO, 
1999, p. 90). 
Sintetiza Maurício Godinho Delgado (1999, p. 90): 
 
De fato o ramo justrabalhista incorpora, no conjunto de suas normas, princípios e 
institutos, um valor finalístico essencial, que marca a direção de todo o sistema ju-
rídico que compõe. Esse valor – e a conseqüente direção teleológica imprimida 
da este ramo jurídico especializado – consiste na melhoria das condições de pac-
tuação da força de trabalho na ordem socioeconômica. Sem tal valor e direção fi-
nalística o Direito do Trabalho nem sequer se compreenderia, historicamente, e 
nem sequer se justificaria, socialmente, deixando, pois, de cumprir sua função 
principal na sociedade contemporânea. 
 
PUC Minas Virtual • 6 
 
Para tanto, o operador do direito deve se afastar da concepção civilista de igualda-
de jurídica e buscar, no sistema justrabalhista, a igualdade real entre as partes no contra-
to de emprego. 
Isso se deve ao fato de que o empregador é o detentor da capacidade econômica 
e, portanto, deve ser visto como um ser coletivo, cujos atos podem repercutir de forma 
mais concreta. 
Por outro lado, o obreiro, detentor da força de trabalho, é um ser individual que, so-
zinho, não é hábil para causar repercussões significativas na sociedade. 
Vê-se, por conseguinte, que, se admitir a plena liberdade na contratação laboral, as 
distorções existentes entre as partes da relação empregatícia gerarão diferentes formas 
de exploração. 
Importante salientar que a própria Constituição Federal, ao consagrar o princípio da 
igualdade, o faz de modo que é necessário desigualar para se buscar a almejada igualda-
de material dos indivíduos. 
Nos dizeres de Alexandre de Moraes (2003, p. 180): 
 
Dessa forma, o que é vedado são as diferenciações arbitrárias, as discriminações 
absurdas, pois o tratamento desigual dos casos desiguais, à medida que se desi-
gualam, é exigência do próprio conceito de Justiça, pois o que realmente protege 
são certas finalidades, somente se tendo por lesado o princípio constitucional 
quando o elemento discriminador não se encontra a serviço de uma finalidade 
acolhida pelo direito [...] 
 
Diante dessas peculiaridades existentes na relação de emprego, o Direito do Tra-
balho surgiu tendo como base o princípio da proteção, de modo que os institutos e regras 
justrabalhistas estão enraizados a este princípio, cuja finalidade é restaurar o equilíbrio 
entre as partes contratantes, mediante a proteção ao hipossuficiente na relação emprega-
tícia. 
Nesse sentido, ensina Américo Plá Rodriguez (1978, p. 37) que se trata de “um 
princípio geral que inspira todas as normas de Direito do Trabalho e que deve ser levado 
em conta na sua aplicação”. 
Dessa forma, o princípio da proteção tem abrangência ampla, pois está presente 
nos demais princípios informadores do Direito do Trabalho. 
É nesse contexto de se considerar o obreiro como sujeito hipossuficiente da rela-
ção empregatícia, que o princípio da norma mais favorável surge para complementar a 
função teleológica do ramo justrabalhista. 
Informa tal princípio que se deve observar a regra mais favorável ao empregado 
tanto no instante da elaboração da norma, quanto no confronto entre normas concorren-
tes, bem como na interpretação das regras jurídicas (DELGADO, 2001). 
PUC Minas Virtual • 7 
 
Quando da elaboração da regra, chamada por Maurício Godinho Delgado (2001) 
de fase pré-jurídica, o princípio da norma mais favorável reveste-se da função informativa, 
uma vez que atua sobre o processo de elaboração da norma, assumindo o caráter de fon-
te material. 
No instante em que ocorre confronto entre regras jurídicas, o princípio da norma 
mais favorável age como critério de hierarquia das normas jurídicas, de modo que preva-
lecerá a norma que se mostrar mais favorável ao obreiro. 
Na ocorrência de multiplicidade de interpretações em relação a uma mesma norma 
jurídica, o princípio da norma mais favorável assume o papel de princípio de interpretação 
do direito (DELGADO, 2001). Nesse ínterim, a interpretação mais favorável ao trabalhador 
no tocante a determinada norma é que prevalecerá. 
Maurício Godinho Delgado (2001, p. 44), com maestria, explica: 
 
Ou seja, informa esse princípio que, no processo de aplicação e interpretação do 
direito, o operador jurídico situado perante um quadro de conflito de regras ou de 
interpretações consistentes a seu respeito deverá escolher aquela mais favorável 
ao trabalhador, a que melhor realize o sentido teleológico essencial do Direito do 
Trabalho. 
 
Contudo, o operador do Direito, quando da aplicação do princípio da norma mais 
favorável, não pode se afastar do caráter sistemático do ordenamento jurídico (DELGA-DO, 2001), muito menos das regras trazidas pela hermenêutica jurídica. 
Desse modo, deve-se, a teor da teoria do conglobamento, optar pela regra mais fa-
vorável, quando vista de maneira global, sem violar o sistema da ordem jurídica e distan-
ciar-se do sentido teleológico informador do Direito do Trabalho (DELGADO, 2001). 
A teoria da acumulação mostra-se falha, uma vez que extrai de cada norma aquilo 
que for mais favorável ao obreiro, fracionando as normas jurídicas em análise, de modo 
que o caráter sistemático da ordem jurídica é comprometido (DELGADO, 2001). 
Esclarece Maurício Godinho Delgado (2001, p. 44): 
 
Assim, o encontro da regra mais favorável não se pode fazer mediante uma sepa-
ração tópica e casuística de regras, acumulando-se preceitos favoráveis ao em-
pregado e praticamente criando-se ordens jurídicas próprias e provisórias em fa-
ce de cada caso concreto – como resulta do enfoque proposto pela teoria da 
acumulação. 
 
Assim, o princípio da norma mais favorável, enquanto critério de hierarquia, à luz 
da teoria do conglobamento, deverá ser observado quando da fixação do instituto das fé-
rias do empregado doméstico. 
 
3.1.2 Convenção nº 132 da OIT 
PUC Minas Virtual • 8 
 
 
Em 1970, foi aprovada, pela Organização Internacional do Trabalho – IOT, a Con-
venção nº 132, que revisou as Convenções nº 52 e 101. 
O Brasil, entretanto, somente ratificou a referida convenção, em 23 de setembro de 
1998, sendo que, através do Decreto nº 3197, de 05 de outubro, a Convenção nº 132 da 
OIT foi promulgada neste País. 
O assunto tratado na Convenção nº 132 da OIT diz respeito às férias anuais remu-
neradas, aplicável a todos os empregados, com exceção dos marítimos5. 
Dessa forma, as férias dos empregados marítimos continuam regidas pela Con-
venção nº 91, aprovada pelo Decreto Legislativo nº 20/95, promulgada pelo Decreto nº 
66.875/70. 
Assim, aplica-se a Convenção nº 132 da OIT a todos os empregados regidos pela 
Consolidação das Leis do Trabalho, incluindo os trabalhadores rurais, os avulsos, os do-
mésticos e os servidores públicos civis e militares, por força do art. 7º, XXXIV e parágrafo 
único; art. 39, § 3º e art. 142, § 3º, VIII, todos da Constituição Federal. 
Dispõe, a convenção em comento, que a duração das férias, nos países que ratifi-
caram o diploma, não poderá ser inferior a três semanas de trabalho, por cada ano de 
prestação laboral6. 
O art. 4º, da convenção em análise, determina a redução proporcional do lapso 
temporal de duração das férias, no caso de o empregado não ter completado o período 
aquisitivo necessário para a obtenção da totalidade das férias. 
Quanto aos feriados oficiais ou costumeiros, a Convenção nº 132 da OIT inovou ao 
estabelecer que tais dias não poderão ser computados como parte do período de duração 
das férias anuais remuneradas7. 
Nos termos da convenção em estudo, é permitido o fracionamento do período de 
férias, desde que uma das frações do referido período corresponda pelo menos a duas 
semanas de trabalho ininterrupto do empregado8. 
Estabelece, ainda, que a parte ininterrupta do período de férias deverá ser fruída 
dentro de um ano, sendo que o período remanescente poderá ser gozado nos próximos 
 
 
 
5
 Conforme se depreende do art. 2º, da Convenção nº 132, da OIT. 
6
 Conforme dispõe do art. 3º, da Convenção nº 132, da OIT. 
7
 Conforme previsto no art. 6º, da Convenção nº 132, da OIT. 
8
 Conforme disposto no art. 8º, da Convenção nº 132, da OIT. 
PUC Minas Virtual • 9 
 
dezoito meses, a contar do término do ano em que foi adquirido o direito de fruição das 
férias9. 
Na hipótese de cessação da relação empregatícia, prevê o art. 11, da Convenção 
nº 132 da OIT, que o empregado que tenha completado o período mínimo de serviço terá 
direito ao período de férias remuneradas proporcional à duração do tempo de serviço pelo 
qual ainda não foram gozadas as férias, ou a uma indenização compensatória, ou, ainda, 
a um crédito de férias equivalente. 
A Convenção nº 132 proíbe a realização de qualquer acordo que tenha como obje-
tos o abandono do direito ao período mínimo de férias anuais remuneradas e/ou a renún-
cia ao gozo das férias mediante indenização ou de qualquer outra forma, sendo que os 
acordos já realizados serão considerados nulos de pleno direito10. 
Permite, o art. 13 da convenção, que cada país poderá adotar medidas que visem 
a impedir ou punir o empregado que exercer, durante o período de gozo de férias, ativida-
des remuneradas incompatíveis com o objetivo do instituto em comento. 
Vê-se, pois, que, ao ratificar a Convenção nº 132 da OIT, o Brasil obrigou-se a 
cumpri-la, devendo, para tanto, adequar a legislação vigente aos novos ditames do texto 
convencional. 
Ressalta-se que, após o término do período de dez anos de vigência da Conven-
ção nº 132, o Brasil poderá denunciá-la, de modo que a denúncia surtirá efeito somente 
após passados um ano de seu registro. 
Em caso de o Brasil não denunciar a convenção no prazo acima descrito, estará 
novamente vinculado ao texto convencional por novo período decenal11. 
 
3.1.3 Lei nº 5859/72 x Convenção nº 132 da OIT à luz do princípio da norma 
mais favorável 
 
Como é sabido, nos termos do art. 130, da CLT, o período de gozo de férias no or-
denamento jurídico brasileiro é de trinta dias corridos, ressalvada a aplicação do referido 
dispositivo celetista ao empregado doméstico, cujo período de fruição de férias é de vinte 
dias úteis, a teor do art. 3º, da Lei nº 5859/72. 
 
 
 
9
 Conforme previsto no art. 9º, da Convenção nº 132, da OIT. 
10
 Conforme elencado no art. 12, da Convenção nº 132, da OIT. 
11
 Conforme disposto no art. 19, da Convenção nº 132, da OIT. 
PUC Minas Virtual • 10 
 
A princípio, a Lei nº 5859/72 não se mostra conflitante com a Convenção nº 132 da 
OIT, uma vez que o período mínimo de três semanas, determinado pela convenção, foi 
respeitado. 
Importante ressaltar que, até a edição da Lei nº 11.324/2006, havia na doutrina jus-
laboral, bem como na jurisprudência, discussão sobre a possibilidade de aplicação do ca-
pítulo da CLT, que dispõe sobre o instituto das férias, ao empregado doméstico. 
A grande divergência girava em torno do fato de que o Decreto nº 71.885/73, que 
regulamentou a Lei nº 5859/72, teria estendido ou não a aplicação do capítulo da CLT 
referente às férias aos empregados domésticos12. 
Para os defensores13 da aplicação do período de férias de trinta dias corridos aos 
empregados domésticos, haveria dois fundamentos justificadores de tal conclusão. 
O primeiro deles seria o fato de que, à época do advento da Lei nº 5859/72, o perí-
odo de férias previsto na Consolidação das Leis do Trabalho era de vinte dias úteis. Des-
sa forma, a Lei do Empregado Doméstico teria abraçado o espírito celetista, de modo que 
a alteração ocorrida em 1977, através do Decreto-lei nº 1535, de 13 de abril de 1977, teria 
afetado, significativamente, o dispositivo da Lei nº 5859/72. 
Nesse diapasão, leciona Márcio Túlio Viana14: 
 
Ao tempo em que a regra foi feita, as férias previstas na CLT eram de 20 dias 
úteis, para todos os empregados. Depois, passou a 30 dias. Essa alteração teria 
afetado as férias do doméstico? Se interpretarmos o artigo teleologicamente, a 
resposta será sim. Vale dizer: as férias do doméstico também são de 30 dias. 
 
Manifesta o entendimento jurisprudencial15: 
 
Se a Lei 5859 e o Decreto regulamentador 71.885, de 9/3/73 se reportam à CLT 
para deferir aos empregados domésticos o direito às férias de 20 dias e a própria 
CLT foi alterada no sentido de que a partir do Decreto-lei 1535, de 13/4/77 as fé-
rias passavam a ser de 30 dias corridos, tem o empregado doméstico o direito a 
férias de 30 dias a partir do advento do novo regramento legal. Recurso provido.Outro fundamento defendido pelos doutrinadores favoráveis ao período de trinta 
dias de férias para os empregados domésticos baseava-se na própria Constituição Fede-
 
 
 
12
 Conforme prevê o art. 2º, do Decreto nº 71.885/73. 
13
 Defendiam a aplicação do período de 30 dias corridos de férias aos empregados domésticos os seguintes 
autores: Márcio Túlio Viana, José Luiz Ferreira Prunes, Aloysio Santos, José Janguiê Bezerra Diniz e Eva-
risto de Moraes Filho. 
14
 Idéia sustentada por Márcio Túlio Viana, no artigo Dez aspectos polêmicos do trabalho doméstico, publi-
cado no Repertório IOB de jurisprudência. n. 12/96. Jun/96. p. 201. 
15
 TRT da 1ª Reg., RO 7517/89, Rel. Juiz Américo F. B. Filho, in Bol. Jurisp. do TRT da 1ª Reg., set/out 91, 
p. 75. 
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ral, tendo em vista que há comando constitucional no sentido de equiparar os emprega-
dos domésticos aos demais empregados, no que diz respeito ao direito de férias16. 
Posiciona-se Emílio Gonçalves e Emílio Carlos Garcia Gonçalves17: 
 
A Constituição equiparou os empregados domésticos aos demais empregados no 
tocante ao direito a férias, pondo fim a discussão. Aplicam-se, agora, aos domés-
ticos, as normas da CLT que disciplinam o direito a férias. Não apenas passaram 
a ter direito a férias com duração de 30 dias corridos, como também fazem jus ao 
recebimento das mesmas com o acréscimo de um terço do salário normal. 
 
Por outro lado, havia aqueles18 que eram favoráveis à aplicação do período de vin-
te dias úteis de férias aos empregados domésticos, como disposto no art. 3º, da Lei 
nº5859/72. 
 
Defende Maurício Godinho Delgado19: 
 
É que, não obstante aplicar-se ao doméstico o capítulo celetista de férias (con-
forme esclarece o art. 2º do Regulamento da Lei do Trabalho Doméstico: Decreto 
nº 71.885/73), essa aplicação faz-se com estrito respeito às especificidades da 
categoria, principalmente com respeito técnico rigoroso às regras jurídicas dife-
renciadas expressamente lançadas por sua lei especial regulamentadora. A apli-
cação do padrão normativo geral, que consta da CLT, faz-se, desse modo, res-
peitando-se o padrão normativo especial fixado no diploma específico da catego-
ria, que é a Lei nº 5859/72. Por outro lado, a Constituição da República, ao tratar 
da extensão do direito de férias, com 1/3 ao empregado doméstico (art. 7º, XVII e 
parágrafo único), não fez qualquer menção a prazo de duração do instituto (gozo 
de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário 
normal, diz a Carta Magna). Isso significa que a Carta Magna não alterou, neste 
estrito aspecto, a ordem jurídica especial prevalecente. 
 
Nesse mesmo sentido, ensina Alice Monteiro de Barros20: 
 
O regulamento prevê, ainda, que “excetuando o capítulo referente a férias não se 
aplicam aos empregados domésticos as demais disposições da CLT”. Ora, tal as-
sertiva não induz, data venia, à conclusão de que os contornos da Lei 5859/72 fo-
ram ampliados, autorizando a concessão de férias de 30 dias, em dobro e pro-
porcionais aos domésticos, mesmo porque não poderia o regulamento conceder-
lhe tais direitos, sob pena de invadir a reserva legal. [...] O regulamento, ao exce-
 
 
 
16
 Conforme disposto no parágrafo único, do art. 7º, da Constituição Federal de 1988. 
17
 Transcrição doutrinária feita por Cíthia M. de Oliveira no artigo denominado Duração das férias do empre-
gado doméstico frente a convenção 132 da OIT, publicado naa Revista Justiça do Trabalho, Porto Alegre, 
vol. 19, nº 219, março/2002. p. 50. 
18
 Defendiam a aplicação do período de 20 dias úteis de férias aos empregados domésticos os seguintes 
autores: Maurício Godinho Delgado, Alice Monteiro de Barros, Arnaldo Süssekind, Dárcio Guimarães de 
Andrade e Platão Barros. 
19
 DELGADO, Maurício Godinho. Férias no Direito do Trabalho Brasileiro Contemporâneo.Separata da Re-
vista Trabalhista. v. VI. p. 197. 
20
 Artigo denominado O trabalho doméstico, publicado na Revista Gênesis, Curitiba, vol. 12, nº 68, ago/98. 
p. 183. 
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tuar o capítulo de férias, teve em mira incluir na esfera normativa do trabalho do-
méstico apenas as disposições sobre férias compatíveis com a Lei 5859/72. 
 
Muito embora o referido ponto debatido entre os doutrinadores fosse de significati-
va importância, a teoria aqui analisada não foi delineada em torno da divergência aponta-
da. 
A teoria da aplicação da norma mais favorável no instituto das férias do empregado 
doméstico foi desenvolvida, à luz da teoria do conglobamento, para verificar qual o diplo-
ma legal seria mais favorável ao empregado doméstico, no que diz respeito à aplicação 
do instituto das férias. 
No tocante aos dias de feriado e à proporcionalidade de férias, vê-se que a Con-
venção nº 132 é mais abrangente, já que a Lei nº 5859/72 não dispõe sobre a proporcio-
nalidade do período de férias, bem como a observância dos dias de feriado. 
Os doutrinadores mais modernos, mesmo antes da ratificação da Convenção nº 
132 da OIT, já entendiam a proporcionalidade das férias, bem como a dobra relativa à 
parcela de férias não quitada. 
Explica Maurício Godinho Delgado21: 
 
Ainda que não se considerasse válida a determinação do decreto (por não ter po-
der criativo de normas), o simples fato de ter a própria Lei nº 5.859/72 estendido o 
instituto de férias ao doméstico (com certas particularidades, é claro) já bastaria 
para aplicarem-se a este as regras regulatórias do mencionado instituto, respeita-
das, insista-se, as especificidades expressas no diploma especial doméstico. As-
sim, excetuado o lapso temporal de 20 dias úteis, expresso na Lei nº 5.859, inci-
dem sobre a relação de trabalho doméstico os preceitos do Capítulo IV, Título II, 
da CLT (arts. 129/153), que sejam compatíveis com a categoria especial exami-
nada. 
 
O entendimento jurisprudencial22 também não distancia dessa conclusão: 
 
São devidas férias proporcionais aos empregados domésticos, eis que a Lei 
5.859/72, que confere aos tais o direito ao gozo de 20 dias úteis, a título de férias 
anuais remuneradas, após o período de 12 meses de trabalho, sofre o comple-
mento das disposições contidas no capítulo consolidado relativo a férias, de acor-
do com o Decreto 71.885/73. 
 
No tocante aos dias de feriado, dispõe o texto convencional que os feriados, sejam 
eles civis ou religiosos, não serão computados no período de férias23. 
 
 
 
21
 O referido autor sustenta a posição acima transcrita no artigo Férias no Direito do Trabalho Brasileiro 
Contemporâneo, publicado na Revista Trabalhista. v. VI. p. 197. 
22
 TST, 2ª T, RR 8.666/85.2, DJ 27/06/86, Rel. Min. Carlos Alberto Barata Silva. 
23
 Conforme disposto no art. 6º, da Convenção nº 132, da OIT. 
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Tal comando é novidade para o próprio ordenamento jurídico brasileiro, haja vista 
que, até mesmo na contagem do período de férias dos empregados comuns, os dias de 
feriado são incluídos no cômputo, uma vez que não há óbice pelo diploma celetista24. 
Está-se, pois, diante de um confronto entre normas jurídicas, quais sejam a Lei nº 
5859/72 e a Convenção nº 132 da OIT, que tratam sobre mesma matéria. 
Localizada a divergência entre as normas, sobre elas deverá ser aplicado o princí-
pio da norma mais favorável, que, por sua vez, terá o papel de critério de hierarquia das 
normas jurídicas, no qual prevalecerá o diploma legal que se mostrar mais favorável ao 
empregado doméstico. 
Ressalta-se que, no processo de confronto e escolha do diploma legal mais favorá-
vel, o caráter sistemático do ordenamento jurídico e as regras de hermenêutica jurídica 
serão devidamente observados, para que ocorra a plena validação do processo. 
Ora, analisando os dois diplomas legais, de forma global, e observando-seas con-
siderações acima, é cristalino que a Convenção nº 132 da OIT mostra-se muito mais favo-
rável ao empregado doméstico, posto que confere maior amplitude de direitos, contribuin-
do para a melhoria das condições de pactuação da relação empregatícia doméstica, con-
vergindo para a função teleológica do Direito do Trabalho. 
 
3.2 A superação da teoria da aplicação da Convenção nº 132, à luz do princípio da 
norma mais favorável, face à da promulgação da Lei nº 11.324/2006. 
Em 19 de julho de 2006, o projeto de Lei de Conversão nº 14, de 2006, após algu-
mas alterações e vedações, é aprovado, originando a promulgação da Lei nº 
11.324/2006. 
A Lei nº 11.324/2006 estendeu ao empregado doméstico o direito ao período de fé-
rias de trinta dias corridos, o direito à folga nos dias de feriado e o direito à estabilidade 
provisória à empregada doméstica gestante, além de vedar os descontos no salário de 
valores relativos à alimentação, vestuário, higiene e moradia. 
Assim, o entrave, até então, debatido entre os operadores do direito em relação ao 
período de fruição das férias do empregado doméstico restou superado. 
Desse modo, o empregado doméstico, a partir de 19 de julho de 2006, terá direito 
ao período de gozo de trinta dias corridos de férias. 
As férias visam à preservação da saúde física e psíquica do obreiro. É necessário, 
para tanto, que haja um lapso temporal maior para que o trabalhador se distancie por 
 
 
 
24
 Conforme se depreende do art. 129 e seguintes da CLT. 
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completo da atividade habitual e do próprio ambiente de trabalho, de modo que os siste-
mas físico e psíquico do organismo do trabalhador possam ser restabelecidos e harmoni-
zados. 
Contudo, a finalidade do instituto das férias não está restrita apenas à saúde do 
trabalhador e à sua produtividade. 
Os objetivos do instituto são abrangentes, uma vez que as férias também são ins-
trumentos de realização da plena cidadania, como bem salientado por Maurício Godinho 
Delgado25, já que favorecem a integração familiar, social e política do obreiro. 
As férias também assumem aspecto cultural e econômico (FILHO, MORAES, 
2003), na medida em que propicia ao trabalhador viajar, ter contatos com outras culturas, 
gerando intenso fluxo de pessoas e riquezas no país e no mundo. 
Assim, ampliar o período de fruição das férias do empregado doméstico é caminhar 
em consonância com o objetivo finalístico do Direito do Trabalho Brasileiro. 
 
4 CONCLUSÃO 
 
O empregado doméstico permaneceu por décadas à margem do sistema jurídico 
brasileiro, uma vez que, somente com a promulgação da Constituição Federal de 1988, 
foram-lhe estendidos direitos capazes de assegurar o mínimo de dignidade humana. 
Percebe-se, entretanto, certa evolução legislativa no sentido de integrar o trabalha-
dor doméstico às demais normas justrabalhistas, muito embora ainda haja a constante 
necessidade de avanço legislativo e cultural nesse sentido. 
Por outro lado, o instituto das férias recebeu do Direito do Trabalho importante pa-
pel no que diz respeito à saúde do trabalhador. Dessa forma, as férias têm como objetivos 
precípuos o restabelecimento do sistema físico, psíquico e hormonal do obreiro, bem co-
mo garantir ao empregado melhores possibilidades de exercer plenamente o seu papel de 
cidadão. 
Contudo, a Lei nº 5.859/72, que dispõe sobre o empregado doméstico, não esten-
deu aos trabalhadores desta categoria a plena aplicação do instituto das férias, de modo 
que os mesmos, a princípio, não fariam jus à proporcionalidade, à dobra, à não inserção 
dos dias de feriados no cômputo do período de gozo. 
 
 
 
25
 O referido autor sustenta essa finalidade do instituto das férias no artigo Férias no Direito do Trabalho 
Brasileiro Contemporâneo, publicado na Revista Trabalhista. v. VI. p. 183. 
 
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Por outro lado, a Convenção nº 132 da Organização Internacional do Trabalho, rati-
ficada pelo Brasil em setembro de 1999, ampliou a atuação do instituto das férias em re-
lação ao empregado doméstico. 
Assim, o conflito de regras detectado deve ser solucionado sob a ótica do princípio 
da norma mais favorável, optando-se por aquela que se mostra mais favorável ao obreiro, 
ou seja, a que melhor traduza a função teleológica do Direito do Trabalho. 
Após profundo estudo e análise crítica, conclui-se que, no tocante aos empregados 
domésticos, a Convenção nº 132 da OIT mostrava-se a norma mais favorável, devendo 
prevalecer face à legislação até então vigente. 
Contudo, com a edição da Lei nº 11.324/2006, a teoria acima sustentada foi supe-
rada, haja vista que referida Lei absorveu a discussão, até então existente, em relação ao 
período de fruição das férias do empregado doméstico, estabelecendo, para tanto, o lapso 
de trinta dias corridos para o gozo das férias. 
Importante consignar que a Lei nº 11.324/2006 não exterminou todas as divergên-
cias relativas aos direitos do empregado doméstico. No que diz respeito à proporcionali-
dade das férias, em caso de rescisão contratual, e o direito à dobra, no caso de ausência 
de fruição dentro do período concessivo, a legislação permaneceu inerte, de modo que as 
partes contratantes e os operadores do Direito deverão observar os argumentos aqui ex-
postos no tocante à aplicação da Convenção nº 132 da OIT a esse respeito. Assim, estará 
sendo observada a função finalística do Direito Laboral. 
O Direito do Trabalho é dinâmico e, por conseguinte, seus institutos, princípios e 
regras devem acompanhar a constante transformação que ocorre em todo o mundo. As 
relações humanas estão cada vez mais complexas, exigindo normatização cada vez mai-
or de situações anteriormente ignoradas. 
É justamente nesse contexto de grandes transformações; especialmente de ordem 
social, valorativa e moral que não se pode ignorar a importância do empregado domésti-
co, enquanto contribuinte e participante dessa evolução. 
O empregado doméstico utiliza-se de sua força de trabalho para sobreviver e, co-
mo em qualquer outra classe de trabalhador, a força de trabalho desprendida deve ser 
reconhecida e retribuída de modo civilizado. 
 
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