Buscar

03-Direitos da Personalidade

Prévia do material em texto

�LFG – CIVIL – Aula 03 – Prof. Cristiano Chaves – Intensivo II – 02/09/2009
Direitos da Personalidade
	
	TUTELA JURÍDICA DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
	Vamos estudar a proteção jurídica dos direitos da personalidade. E começamos a análise com o art. 12, do Código Civil. O Código de 1916 estava fundado num esquema de proteção jurídica binário. Ele aceitava a proteção jurídica dos direitos num esquema binário. Esse esquema binário era muito bem representado por meio do binômio lesão-sanção. Ou seja, o Código de 1916 partia da premissa de que a toda lesão a direito deveria corresponder uma sanção. A toda ameaça de lesão ou lesão, sempre correspondendo uma consequente sanção (perdas e danos). Vale dizer, o esquema protetivo dos direitos no Código de 16 tinha uma visão estritamente pecuniária, patrimonialista. E, juntando com a nossa aula inicial, com o que começamos a estudar esse semestre, você já percebe que, até aí, nada demais, nada de diferente, afinal de contas, o Código de 16 era estritamente patrimonialista. Trazer uma estrutura protetiva pecuniária, patrimonialista, assentada na ideia de perdas e danos era absolutamente normal para o Código de 16.
	Só que o novo Código percebeu que esse esquema binário (lesão-sanção), que essa tutela reparatória de direitos não mais se apresentava suficiente. Repito: o esquema binário lesão-sanção veio se mostrando insuficiente ao longo do tempo. E assim, o novo Código Civil captando energia que veio do Código de Defesa do Consumidor e do Código de Processo Civil resolveu prestigiar uma nova técnica de proteção dos direitos. Essa técnica de proteção de direitos é uma técnica que superou a idéia do esquema lesão-sanção que se mostrou insuficiente ao longo do tempo. O Código, percebendo que o binômio lesão-sanção era insuficiente para a proteção dos direitos da personalidade, resolveu alterá-lo. Em outras palavras, ao escolher, ao eleger o mecanismo de proteção dos direitos da personalidade, o Código abandonou o paradigma do lesão-sanção, dizendo que esse esquema não serve para a proteção dos direitos da personalidade porque essa proteção não pode se dar pela via pecuniária. Por uma idéia patrimonialista. A proteção dos direitos da personalidade não pode se dar por essa via porque o titular de um direito da personalidade quer não é, necessariamente, dinheiro, mas uma providencia para impedir que o dano ocorra ou, se ele já ocorreu, impedir que ele se alastre, que ele se amplie. 
	Imagina que o gerente do banco diga que vai colocar o seu nome no SPC/SERASA. O que você quer? Esperar que ele coloque para pleitear uma indenização e esperar todo o andamento do processo com o seu nome lá, negativado? Ou o que você quer é adotar providencias para impedir que ele coloque ou, se ele já colocou, para imediatamente retirar seu nome, sem prejuízo da reparação pelo dano causado. Em outras palavras, como já dizia Tim Maia, “não quero dinheiro, só quero amor.” O que eu quero dizer com isso é que a tutela jurídica dos direitos da personalidade ganhou um novo mecanismo. 
Vamos conferir o Código, o art. 12, que materializa a tutela jurídica dos direitos da personalidade. Olha o que está escrito:
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
	Você já percebe que o esquema de proteção dos direitos da personalidade não é mais fundado no binômio lesão-sanção, não é mais puramente patrimonial. Por quê? Não perca de vista o art. 12: a proteção dos direitos à personalidade agora pode ser preventiva (“cesse a ameaça”), pode ser reparatória (“reclamar perdas e danos”) e sem prejuízo de outras formas de reparação previstas em lei (“sem prejuízo de outras sanções”).
	Quanto a essas outras formas de reparação, me lembro do direito penal, que tem um capítulo, no CP, “dos crimes contra a pessoa” (sem prejuízo de outras sanções previstas em lei). A expressão “sem prejuízo de outras sanções” contida no Código Civil está deixando claro que a tutela civil não afasta outros mecanismos protetivos como, por exemplo, o direito penal.
	Além do direito penal, me vem à mente as hipóteses de autotutela, quando o ordenamento permite que o próprio titular defenda com mãos próprias o seu direito. Ao fazer menção, ao aludir “sem prejuízo de outras sanções”, visivelmente o Código está falando no direito penal, nas hipóteses de autotutela e de todas as demais hipóteses previstas em lei. Ou seja, o que o Código está dizendo nesse momento é que a proteção dos direitos à personalidade é riquíssima porque admite uma proteção civil sem prejuízo de outros mecanismos de proteção.
	No que tange à proteção civil, aí você vem comigo agora: a tutela jurídica dos direitos da personalidade é uma tutela binária (Código Civil, art. 12):
Tutela preventiva sem prejuízo de 
Perdas e danos, portanto, sem prejuízo de ser também reparatória. 
	É o art. 12, concatenando a tutela jurídica dos direitos da personalidade. É uma tutela preventiva, sem prejuízo de ser também reparatória. Essa tutela preventiva, sob o ângulo processual se materializa sob o ângulo das tutelas específicas das obrigações. 
Tutela específica das obrigações está no art. 461, do CPC (na tutela individual) e no art. 84, do CDC (na tutela coletiva). A tutela jurídica dos direitos da personalidade é uma tutela preventiva, sem prejuízo de ser também reparatória. 
A tutela preventiva se materializa, se consubstancia processualmente falando através da tutela específica (arts. 461, CPC e 84, do CDC).
E/OU
A tutela reparatória se dá através da indenização por danos morais e assim nós vamos percebendo o esquema protetivo: honra, imagem, privacidade, integridade física. 
	Os direitos da personalidade como um todo submetem-se a esse esquema de proteção: proteção preventiva, proteção reparatória. E olhe o que eu vou colocar: e/ou. Por que uma não elimina a outra, na medida em que uma não prejudica a outra.
	Com isso, você já vai percebendo que a falta de conteúdo patrimonial afasta a proteção dos direitos da personalidade das ações possessórias. Não cabe ação possessória. As ações possessórias são inidôneas para a proteção dos direitos da personalidade pelo simples motivo que a proteção desses direitos se dá de forma preventiva por tutela específica e, reparatória, por indenização por danos morais. Ambas sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, sem prejuízo do direito penal, sem prejuízo das hipóteses de autotutela como, por exemplo, legítima defesa. Me vem à mente agora: legítima defesa é proteção a direito da personalidade quando se trata de crime contra pessoa. Então, você já vai percebendo isso. 
A mensagem que está como pano de fundo aqui: o que você enxerga como pano de fundo disso aqui? E veja se você consegue lembrar da nossa primeira aula. O pano de fundo é: a proteção jurídica dos direitos da personalidade vem ao encontro daquele movimento de despatrimonialização do direito civil. Eu falei no finalzinho da primeira aula sobre isso. Eu falei que o direito civil ia ganhando uma preocupação com a pessoa humana e chamei aquilo de repersonalização. Aquele movimento de repersonalização, de preocupação com a personalidade, está aqui. A maior prova de que o direito civil se preocupa com a personalidade é que ele vai abandonando um viés estritamente reparatório para ganhar uma visão preventiva. Ou seja, o direito civil se preocupa com os direitos da personalidade de modo tão claro, de modo tão contundente que não só quer reparar, mas quer impedir que o dano ocorra ou se ele já ocorreu, impedir que ele se alastre.
É evidente que a tutela específica, que a tutela preventiva dos direitos da personalidade valoriza essa categoria porque você já pensou se alguém estiver indevidamente usando a sua imagem? Estou lembrando daquela imagem da Cicarelli. Imagina se estivéssemos no Código de 16: o máximo que ela poderia pedir era uma indenização. Mas o que ela queriade indenização resolveria o problema dela? Claro que não. O que ela precisava ali era de uma tutela específica para dizer: “pare de explorar a minha imagem”. Se ela estava em local público são outros quinhentos, mas a imagem dela estava sendo explorada comercialmente na medida em que estava em um site à disposição de todos. Daí a tutela específica: “proteja a minha personalidade, contra a exploração indevida da minha imagem, da minha privacidade.” Se vai ter indenização aqui ou não. São outros quinhentos. O que está em jogo aqui é a exploração comercial da imagem. Então, é claro que nós vamos percebendo a importância da tutela preventiva como valorização dos direitos à personalidade. 
Nesse momento é preciso também que você lembre qual é a forma de reparação preventiva e reparatória. Então, vamos lá: 
TUTELA ESPECÍFICA (Preventiva)
 “A tutela preventiva dos direitos à personalidade se dá através da tutela específica das obrigações (art. 461, do CPC – na jurisdição individual e art. 84, do CDC – na jurisdição coletiva).
Tutela específica das obrigações. Eu adoro essa expressão. Foi um dos poucos momentos em que o direito usou uma expressão de forma tão clara, tão precisa. O que é a tutela específica das obrigações? É um mecanismo de proteção, de tutela, que se contrapõe a uma idéia de tutela genérica. No Código de 16, a proteção dos direitos é genérica. Perdas e danos. Dizia o Código de 1916 e dizia sempre: violado um direito, perdas e danos. Perdas e danos correspondem a uma tutela genérica das obrigações. Mas se percebeu a necessidade de uma tutela que não seja genérica. Se percebeu que cada titular quer a tutela que ele precisa para aquele caso. Percebeu-se que cada pessoa reclamava um mecanismo diferenciado de proteção. Se percebeu que cada um quer a tutela adequada para o seu caso adequado. Cada um quer uma tutela específica para si. Desse modo, tutela específica quer dizer: a tutela adequada para a solução cada um dos conflitos apresentados. Tutela específica quer materializar a ideia de tutela adequada para a solução de cada um dos conflitos específicos. É a tutela jurisdicional que se mostra mais adequada para cada caso. A tutela específica, a tutela adequada para cada caso, traz consigo uma infinidade de tutelas. Dentro da tutela específica serão encontradas inúmeras tutelas. Será encontrada uma diversidade de tutelas impressionante. Por quê? Porque na tutela específica, o juiz vai buscar a tutela adequada para cada caso e ao fazer isso pode adotar uma série infinita de providencias. 
Dentro da tutela específica vamos encontrar a 
Tutela inibitória
Tutela sub-rogatória
Tutela de remoção do ilícito (...)
E seria impossível dizer todas porque o rol é exemplificativo. Seria impossível listar todas. Vamos dar um exemplo: colocaram seu nome indevidamente no SPC/SERASA e você: “juiz, eu quero uma tutela específica. Manda tirar o nome”. Aí o juiz diz: “banco, tira, sob pena de multa diária de mil reais.” Você lembra do nome dessa multa? Astreintes (art. 461, § 4º, do CPC). O juiz está dando uma tutela específica sob a forma de tutela inibitória. É uma tutela específica sob forma de tutela inibitória. Não adiantou. O banco não tirou. Se a multa diária, que é a tutela inibitória, não deu certo, ele pode ser valer de tutela sub-rogatória. Ele mesmo manda a ordem para o SPC/SERASA e manda retirar o nome. E se ele próprio mandou, tutela sub-rogatória porque ele substituiu a vontade do devedor. Essa substituição quando o próprio ato judicial substitui a vontade do devedor, está na tutela sub-rogatória, específica sob forma sub-rogatória. O caso da Cicarelli é típico de tutela de remoção de ilícito. O juiz disse ao Youtube: “tira a foto dela”. Multa diária não deu certo? Aí o juiz disse: “ou você tira a imagem dela ou eu tiro o site do ar.” E na medida em que ele tira o site do ar, ele está removendo o ilícito. Tutela específica sob forma de remoção do ilícito. O mais importante é perceber que o rol das possibilidades de tutela específica é exemplificativo e consta isso do próprio § 5º, do art. 461. O próprio dispositivo confessa que o rol é exemplificativo.
§ 5º - Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial.
	Esse dispositivo, confessadamente reconhece o caráter exemplificativo da tutela específica. Se o rol das hipóteses de tutela específica é exemplificativo, cabe: tutela inibitória (multa diária, por exemplo, que inibe o descumprimento), tutela sub-rogatória, remoção do ilícito, etc. Mas eu quero tangenciar dois problemas importantíssimos, dois pontos polêmicos a respeito da possibilidade judicial a título de tutela específica, envolvendo o uso da tutela específica, os poderes do juiz na tutela específica. 
Pelo que você vai notando até agora, os poderes do juiz na tutela específica são amplos ou restritos? São amplos e são exemplificativos (disse o art. 41, § 5º). Sobre o tema, também o Enunciado 140:
 Enunciado 140 da III Jornada – Art. 12: A primeira parte do art. 12 do Código Civil refere-se às técnicas de tutela específica, aplicáveis de ofício, enunciadas no art. 461 do Código de Processo Civil, devendo ser interpretada com resultado extensivo.
	É o Enunciado 140, da Jornada, confirmando o caráter exemplificativo das hipóteses de tutela específica. As hipóteses de tutela específica, as medidas adotadas a título de tutela específica podem ser concedidas de forma ampla. Vamos agora, para dois problemas:
	Problema 01:	Possibilidade de uso do chamado mandado de distanciamento
	Se você nunca ouviu a expressão, mandado de distanciamento é sinônimo de mandado de restrição de direitos ou mandado de restrição da liberdade de ir e vir. O Dado Dolabela namorava com a Luana Piovani (até porque não é muito difícil namorar com a Luana Piovani) que alegou agressão e perseguição. O juiz: mandado de distanciamento nele. Mandado de distanciamento é restrição de direitos, liberdade de locomoção. O juiz disse: “não se aproxime dela”. E isso pode? O art. 461, § 5º, permite o uso do mandado de distanciamento como uso de tutela específica. É possível ao juiz determinar mandado de distanciamento a título de tutela específica. O juiz pode fazer isso com base no art. 461, § 5º, que é rol exemplificativo. 
Aliás, em se tratando de violência doméstica, o art. 22, da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), reforça o cabimento do mandado de distanciamento. Claro que a Lei Maria da Penha só será aplicada no caso de violência doméstica. Eu falei em violência doméstica, não necessariamente contra a mulher. Todos lembram de Rogério Sanches comentando a Lei Maria da Penha. E ele, com toda razão, porque entende bem do assunto, disse no livro que cabe aplicação da Lei Maria da Penha não só em favor da mulher, mas também em favor de transexual, homossexual e também de grupos minoritários. Então, cabe aplicar a Lei Maria da Penha a todo aquele que historicamente é vítima de violência. E o homem? Sinceramente? Eu acho extremamente difícil sustentar o cabimento da Lei Maria da Penha em favor de homem, mesmo que o cara apanhe da mulher. É que aquela lei tem um pano de fundo histórico. É um resgate com a igualdade constitucional. Historicamente, os dados são de violência doméstica contra a mulher e nós não temos dados de violência doméstica contra homem. E é o art. 22, da Lei Maria da Penha, reforçando o cabimento do mandado de distanciamento. 
E qual é a distancia? Decisão novinha em folha do STJ: “A distancia do mandado de distanciamento depende do caso concreto e é o juiz quem vai fixar.” 
Vamos ao art. 22, III, da Lei Maria da Penha:
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos destaLei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: 
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: 
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; 
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; 
c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;
	Essa distância, sejamos coerente, varia de uma cidade para outra, logicamente. Eu vi na TV outro dia que Dado Dolabela estava reclamando porque ele estava no camarote e Luana Piovani chegou e aí, como ele sofreu mandado de distanciamento, ele disse: “os incomodados que se mudem. Eu estava aqui primeiro. Ela que vá embora.” Mas ela não quis embora e chamou a polícia para tirar ele e a polícia tirou ele. A polícia agiu certo? Certíssimo. Quem sofreu a restrição de direitos, foi ele ou ela? Foi ele e se a restrição de direitos foi sofrida por ele, quem tem de sair é ele. Ela não tem restrição. Vale dizer: se ela vai num lugar onde ele está antes, ela tem que sair porque foi ele que sofreu a restrição dos direitos no limite da distancia determinada pelo juiz.
	Agora, a dificuldade que eu vejo não é essa, porque isso é restrição de direitos, ele sofreu restrição na liberdade de locomoção. Diminuiu a liberdade, relativização de direitos, normal. Agora, a dificuldade é outra: é que eu vejo que o juiz deve fixar também o prazo, o limite, o tempo, condição ou rever a medida a qualquer tempo. Na verdade, é preciso que o juiz estabeleça prazo até para que as partes possam cuidar da vida. Enquanto houver relato de violência. Enquanto houver suspeita de violência, o mandado de restrição de direitos deve ser manter. 
	Está aí, mandado de distanciamento. Possibilidade de tutela específica na proteção de valores, como a privacidade, integridade física. E o mandado de distanciamento está dentro das prerrogativas do juiz a título de tutela específica. 
	Sabe onde eu vejo o palco mais iluminado para aplicação do mandado de distanciamento? Na ação de separação de corpos porque nessa ação, se o cara está lá dentro, o juiz tira. Se o cara está fora, é impedido de voltar. Se ligou? Muitas vezes não adianta só separação de corpos porque o sujeito persegue a mulher no restaurante, no cinema, em todo lugar. Homem apaixonado é um problema. E aí é mandado de distanciamento na criatura para a preservação da privacidade da mulher, porque só separação de corpos não adianta.
	Vamos para o segundo problema. O primeiro está aí: uso de mandado de distanciamento.
	Problema 02:	Possibilidade de prisão
	O juiz pode, a título de tutela específica, prender? Se na sua mente, neste momento, passou a ideia de que eu estaria me referindo à prisão por crime de desobediência (art. 330, do CP), esqueça! Não é dele que estou falando, até porque aquele crime lá no direito penal é de menor potencial ofensivo e, portanto, não caberia prisão. A criatura vai lá lavrar um termo, depois se compromete a dar umas cestas básicas e é só alegria. Vejam que eu não estou falando de uma prisão de natureza penal. Eu estou perguntando se o juiz pode decretar uma prisão de natureza civil, processual, a título de tutela específica. Pode o juiz prender? Dizer: “ou você faz isso ou eu vou te prender”? Há dois posicionamentos na doutrina:
	1ª Corrente:	Fredie Didier, Marinoni – Para ambos é possível, sim, a utilização da prisão civil como mecanismo coercitivo. Mas aí você vai dizer: “peraí, mas eles não leram o art. 5º da Constituição que diz expressamente que não cabe prisão civil, salvo a do devedor de alimentos e a do fiel depositário? Na verdade, segundo a nova orientação do Supremo, desde dezembro de 2008, só cabe a do devedor de alimentos (já que a do fiel depositário foi banida do nosso sistema). Será que Didier e Marinoni não sabem disso?” sabem, só que eles dizem que nesse caso não há prisão por dívida civil. Eles dizem que o que a Constituição veda é a prisão por dívida civil. Nesse caso, não há a prisão por dívida civil, mas sim uma prisão a título de tutela específica, ou seja, um mecanismo de coerção de uma obrigação e não de uma dívida. 
	2ª Corrente:	Eduardo Talamini (PR) – Entende descabida a prisão civil a título de tutela específica porque a Constituição proíbe o uso de prisão por natureza civil, fora nos casos excepcionalmente excepcionados. A Constituição obstou peremptoriamente o uso da prisão civil fora das exceções nela mesma contempladas. Claro que essa segunda corrente lembra também que se possível fosse ao juiz a prisão civil a título de tutela específica, haveria também uma quebra do sistema jurídico porque o mesmo fato que para o direito penal, que é o direito repressor, seria de menor potencial ofensivo, e para o direito civil seria de maior potencial ofensivo. Haveria um desequilíbrio do sistema, que estaria tratando o mesmo fato por diferentes valores: mínimo potencial ofensivo para o direito penal, máximo potencial ofensivo para o direito civil. 
	Sabe o que eu acho? Ponderação de interesses. Se você está pensando em uma ação de conteúdo patrimonial (cobrança, execução, indenização, possessória, monitória), você mesmo conclui: cabe prisão civil a título de tutela específica? Claro que não porque não tem sentido restringir a personalidade do devedor para garantir patrimônio. Mas, se você estiver pensando em ação que tutele direitos fundamentais, que proteja direitos fundamentais (como o direito de internação para tratamento de saúde), usando os mecanismos típicos de tutela específica (multa diária, o que for), a criatura morre. Concorda comigo? Se for caso de urgência, vai morrer. Nesse caso, talvez, eu me incline pela prisão civil. Ou seja, por ponderação de interesses, me parece que a prisão civil, a título de tutela específica ficaria resguardada para situações limítrofes e, claro, por favor, escreva isso agora: em ponderação de interesses, em caráter flagrantemente excepcional, essa prisão civil só seria possível para proteger direitos fundamentais que estejam periclitando de forma absoluta porque mesmo que envolva direitos fundamentais, que não estejam periclitando, não se justifica proteger outro direito que também é fundamental, que é a liberdade. Então, para mim, só em ponderação de interesses e em caráter, insisto, visivelmente excepcional envolvendo direitos fundamentais que estejam periclitando absolutamente. Aí, sim, se pensaria nessa possibilidade para o sistema jurídico a título de tutela específica. 
	É claro que se alguém lhe perguntar sobre isso na prova de marcar, você vai dizer que não cabe porque a Constituição diz que só se admite prisão civil nos casos nela previstos. Na prova de marcar, a resposta é não. Tudo isso que eu acabei de lhe apresentar é muito bonito numa prova de escrever. Aí você mostra uma posição, mostra a outra e o que diz a Constituição.
	Eu concluo para lhe dizer o seguinte: “todas essas possibilidades da tutela específica podem ser concedidas, ampliadas, reduzidas, substituídas ou revogadas de ofício pelo juiz quando ele entender adequado”. E você viu que a tutela específica se traduz numa infinidade de providências. Se a ideia é se chegar a uma tutela adequada, o juiz vai substituindo, ampliando, modificando do jeito que ele quiser, do jeito que for necessário para que ele chegue à tutela específica para o caso específico. Um excelente exemplo, para você não esquecer é o caso do Pânico na TV. Eles queriam porque queriam que a Carolina Dickman calçasse as sandálias da humilhação, da humildade e ela não queria calçar. Ela ia na festa, olha o Pânico; na porta da casa ela, olha o Pânico; na praia, olha o Pânico e ela não queria calçar. Se fosse no Código de 1916, restaria o quê a ela? Perdas e danos. E, perdas e danos, o Pânico pagaria o dinheiro que fosse para continuar perseguindo ela. Não ia dar certo. Pois bem, tutelaespecífica para Carolina Dickman. O que o juiz fez? Concedeu primeiro multa diária (tutela inibitória). E o Pânico fez o quê? Pagava a multa e continuava perturbando o juízo dela. Aí ela fez o quê? “Juiz, esse negócio de multa diária não funciona”. O juiz fez o quê? Trocou a multa diária por mandado de distanciamento 200 metros. Quem assiste o Pânico vai lembrar que quando o juiz deu o mandado de distanciamento, eles tiveram que se afastar dela e se ela estivesse em uma festa ou em algum lugar, eles ficavam com uma trena, medindo 200 metros e ficavam ali parados, esperando ela passar. Mas aí um dia eles resolveram fazer uma brincadeira e foram com a escada magirus até o 7º andar do prédio onde ela morava, no apartamento, pela janela e aí ela comunicou ao juiz. Eles se defenderam: “Juiz você deu o mandado de distanciamento terrestre. Nós viemos por via aérea.” Aí o juiz não gostou da brincadeira. E sabe o que o juiz fez? “Substituo de novo: agora você não pode nem tocar no nome dela. Não pode se aproximar e não pode falar o nome dela, sob pena de eu tirar o programa do ar.” Aí é remoção do ilícito. Sabe quantas vezes eles tocaram no nome dela? Nenhuma, porque agora o juiz achou a tutela específica. Então, nesse exemplo, o juiz achou a tutela específica para o caso específico. Agora, quando eles querem falar o nome dela, usam um bombonzinho.
	Com isso também, você já percebe que naqueles casos de multa diária aplicadas pelo juiz para retirar o nome do SPC. Passa um mês, dois meses, seis meses e não adianta! Nesse caso, o juiz tem que revogar. Mas por que ele tem que revogar? Porque a multa não deu certo! E aí a criatividade do juiz: ele vai ter que buscar uma tutela adequada. Ele vai ter que, ele mesmo mandar uma ordem para o SPC para tirar. Pensa aí, juiz, estuda! Ele é que vai buscar a tutela específica, mas nada impede que ele o faça provocado pela parte.
	TUTELA REPARATÓRIA
	A tutela reparatória se dá através da indenização por danos morais. Só tem um detalhe. E aqui eu tenho uma advertência e, por favor, se ligue, se ligue muito no que vou te contar. Não esqueça! 
	A indenização por dano moral curiosamente não tem caráter reparatório. A tutela reparatória dos direitos da personalidade não tem caráter reparatório. Mas por que? Porque a indenização por dano moral não consegue reparar o bem lesado. Não consegue reconstituir o bem lesado. Em verdade, a reparação por dano moral (indenização por dano moral) tem caráter compensatório. Eu vou repetir porque eu tenho todo o interesse que você anote direitinho essa parte da aula. Não se perca não! Atenção, atenção! A indenização por dano moral não tem caráter reparatório e sim compensatório. É um valor que se põe nas mãos da vítima, do ofendido para compensar a lesão, para compensar a dor que lhe foi imposta. Caráter compensatório para a indenização por danos morais.
	Mais ainda. Perceba que se a indenização por danos morais é resultado da violação a direitos da personalidade, você acabou de descobrir algo importantíssimo. Acabou de descobrir que existe uma correlação entre dano moral e direitos à personalidade e, com isso, você acaba de descobrir que no direito brasileiro o dano moral não é dor, vexame, humilhação, sofrimento, vergonha... Dano moral não é um sentimento negativo. Dano moral é a violação a um direito da personalidade. E a caracterização do dano moral não passa, insisto, por um sentimento negativo.
	Vamos considerar que o meu nome e o de Juliana foram inseridos indevidamente no sistema de proteção. Para mim, está tudo bem, não estou nem aí. A vida continua. Juliana está triste, depressiva, foi para o psicólogo. Não consegue nem acordar e nem dormir bem. Tanto eu quanto ela temos direitos a indenização. Os dois. O sentimento negativo não caracteriza o dano moral, mas serve para fins de quantificação, de arbitramento. O arbitramento, a quantificação levará em conta a repercussão, mas a caracterização, não. A caracterização do dano moral é a violação da personalidade. Você acabou de descobrir que a prova do dano moral no Brasil é in re ipsa. Sabe o que significa? Ínsita na própria coisa. Ou seja, a prova do dano moral é a prova da violação da personalidade. Pouco interessando a repercussão negativa. A repercussão negativa não interessa para provar o dano moral. A repercussão negativa pode interessar, repito, para fins de quantificação.
	A indenização por danos morais nada mais é do que a violação da personalidade, a violação de um direito da personalidade. Se o dano moral é a violação de um direito da personalidade, o rol de direitos da personalidade é um rol exemplificativo, motivo pelo qual as hipóteses de danos morais também são exemplificativas. Os direitos da personalidade estão sustentados numa cláusula geral que é a dignidade da pessoa humana. A cláusula geral de proteção dos direitos da personalidade é a dignidade da pessoa humana. Se é esse o fundamento, você acabou de descobrir que, no final das contas, o dano moral é a violação da dignidade humana. Eu insisto: o dano moral não é do vexame, humilhação, sofrimento, vergonha. Não! Mero aborrecimento não gera dano moral. Nunca! Porque o dano moral é mais do que isso. O dano moral não é o aborrecimento, não é a vergonha, não é a dor. Nada disso é o dano moral. O dano moral é a violação da personalidade. O aborrecimento pode interessar, não para caracterizar, mas para quantificar.
	Tem um exemplo recente, do TJ/DF que é bacana demais. Fila de banco. É chato. A criatura estava no banco e a fila demorou muito. Essa notícia está com mais detalhes na página do UOL (tablóide, radar UOL). Fila de banco é chato? Aborrece? Uma fila de banco muito demorada gera dano moral? Não porque é mero aborrecimento. Mas a fila demorou tanto, tanto, que o consumidor que estava atrás daquela mulher na fila ejaculou nela. Fila de banco com ejaculação gera dano moral? Pela fila demorada, não, mas pela ejaculação... Esse banco é completo. Pode perceber isso. Observem bem. O banco, inclusive, se defendeu dizendo assim: foi um mero dissabor. Mas essa mulher deve ser muito lesada para não perceber o movimento pré-ejaculatório. Pela fila, não, mas pela violação da dignidade, tudo muda de figura. O TJ/DF concedeu 50 mil reais a título de indenização por dano moral porque a extensão do dissabor interessa para quantificar, mas não para caracterizar o dano moral. A caracterização do dano moral, portanto, é a violação da personalidade.
	Se o dano moral é a violação da personalidade é absolutamente possível cumular dano moral e dano material porque nascem de diferentes direitos, de diferentes interesses jurídicos. A Súmula 37, do STJ, é de clareza solar ao reconhecer a cumulatividade do dano moral e do dano material quando oriundos do mesmo fato. Mas quero te falar uma coisa: dizer que é possível cumular, não há dificuldade. A dificuldade vem agora.
	É possível cumular dano moral com dano moral? O STJ passou 10 anos discutindo sobre a possibilidade de cumular dano moral com dano estético. A indenização por dano moral decorre da violação da personalidade. E aí você confere: quais são os direitos da personalidade? Eu vou lembrar aqui de alguns: honra, imagem, privacidade, integridade física, etc. Se estes são os direitos da personalidade, todos os direitos à personalidade violados podem ensejar dano moral. A violação da honra se chama dano moral. A violação da imagem se chama dano à imagem, a violação da privacidade se chama dano à privacidade e a violação da integridade física a gente chama de dano estético. É possível cumular dano moral com dano estético e a resposta é: claro porque dizem respeito a diferentes interesses jurídicos: honra e integridade física. E como dizem respeito a diferentes bens jurídicos (honra e integridade física) você então pode chegar na seguinte conclusão: 
	“A cada bem jurídico personalíssimo violado corresponderá uma diferente indenização por dano moral”.
	Se violou a honra, se violou a privacidade, a imagem e por aí vai. A cada bem jurídicoviolado, uma diferente indenização. Portanto, originando-se do mesmo fato é possível cumular dano moral e dano estético. Agora, sabe qual é o problema? É que no direito brasileiro a gente chama de dano moral o gênero e a espécie. O gênero e a espécie são chamados de dano moral. Melhor seria, talvez, se chamássemos o gênero de dano extrapatrimonial. E aí o dano extrapatrimonial seria o gênero do qual o dano moral seria apenas uma de suas espécies. Mas o problema é que no Brasil, a Constituição, o Código, a jurisprudência, eu, você, todo mundo, chama de dano moral o gênero e a espécie. Dano moral é a violação da personalidade, da dignidade da pessoa humana e o dano moral também é a violação da honra. Com isso é possível cumular dano moral com dano estético, dano moral com dano à imagem e assim sucessivamente. E é possível por um motivo simples, porque se trata de diferentes bens jurídicos.
	O STJ reconheceu a cumulabilidade do dano moral com o dano estético e a autonomia do dano estético. REsp 722524/SC. Foi editada uma súmula anteontem: 387, materializando a cumulabilidade do dano moral com o dano estético. A propósito do tema, o primeiro julgado do STJ sobre cumulação de dano estético com dano moral foi o da atriz Maitê Proença. Ela teve uma foto sua nua publicada num jornal de domingo sem autorização. Ela entrou com ação pleiteando dano à honra e dano à imagem, cumulando dano moral com dano moral. O TJ/RJ negou, mas o STJ acatou. É uma loucura. Leia comigo o que foi que disse o TJ do Rio no caso da Maitê Proença: “fosse a autora uma mulher gorda, feia, cheia de estrias, celulite, culote, a publicação de sua fotografia desnuda (ou quase) em jornal de grande circulação, certamente lhe causaria um sofrimento enorme a justificar, aí sim, seu pedido de indenização por dano moral. Tratando-se porém, de uma das mulheres mais lindas do Brasil, nada justifica um pedido dessa natureza exatamente pela inexistência de dano moral a ser indenizado.” O STJ revogou essa barbárie e foi difícil reformar porque o relator sorteado ia votando pela manutenção da barbárie e sabe o que ele ia dizendo? “As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental” E ainda disse: “pelo que vejo dos autos não há dano moral nenhum, ao contrário, as fotos são belíssimas”. A sorte é que lá no STJ estava também a Ministra Fátima Nancy Andrighi que, no voto-vista corrigiu toda barbárie e disse o seguinte: “se foi utilizada a imagem dela indevidamente tem dano à imagem, sem prejuízo do eventual dano a honra.” Que honra? Honra objetiva? Não, esclareceu a ministra, honra subjetiva. Imagina o que é para uma pessoa e uma pessoa famosa, conhecida como ela ter a sua foto nua, publicada sem a sua autorização e no jornal. Ah, mas ela posou nua. Mas ela posou nua para a Playboy, que não é vendida pelo preço do jornal, que é vendida lacrada e outra, posou nua por contrato. Ela recebeu para isso. Outra coisa é usar a imagem dela nua sem autorização e sem qualquer contrapartida. O STJ, nesse julgado, reconheceu pela primeira vez a cumulabilidade pelos danos morais. E desse julgado em diante o STJ foi repetindo, repetindo, até que veio a súmula 387:
	STJ – Súmula 387: “É possível a acumulação das indenizações de dano estético e moral.”
	Duas informações, antes do recreio:
	1.	Como o dano moral tem natureza compensatória o direito brasileiro não admite o sistema do punitive damage ou danos punitivos porque o dano moral tem natureza compensatória. 
	Agora, o STJ é muito engraçado. Ele diz que o direito brasileiro não admite o sistema de danos punitivos, não admite o punitive damage, mas o dano moral há de ter caráter punitivo. Você consegue entender? Ele quer dizer o seguinte: não há um sistema de danos punitivos. Lá nos EUA, todo mundo lembra, naqueles filmes (júri), você vê o sistema do punitive damage. O juiz fixa indenização a título compensatória e outra a título punitivo. Soma as duas e entrega à vítima. No Brasil, não há. Mas no Brasil, o STJ diz que a fixação do valor da indenização deve ter em conta o desestímulo e, portanto, reflexamente, o caráter punitivo. Então ele diz: “nós não temos o sistema de danos punitivos, mas a fixação da indenização deve levar em conta o desestímulo, deve ter um caráter pedagógico. Punitivo, no final das contas.
	2.	A fixação do valor da indenização, compensatório a título de dano moral por violação da personalidade, é matéria de fato ou de direito? Quando o juiz considera diferentes circunstâncias para chegar ao valor da indenização ele está adotando uma circunstancia fática ou jurídica? A fixação do valor indenizatório diz respeito a matéria probatória, de fato. E não de direito. Com isso, olha pergunta: seria possível, na letra fria da lei, um recurso especial para fins de discussão do quantum reparatório? Não. Por que não? Pela incidência da súmula 07, do STJ. 
	STJ Súmula nº 7 - DJ 03.07.1990 - A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.
	
A partir desta súmula, a resposta seria que não é possível porque a súmula 07 não permite recurso especial para rediscussão de prova. Na hipótese de dano moral, o STJ excepciona a Súmula 07. REsp 816577. Esse REsp confirma de uma vez por todas a admissibilidade de recurso especial para fins de discussão do quantum indenizatório. O STJ flexibiliza a súmula 07 e permite o REsp para rediscutir matéria probatória porque quer evitar decisões discrepantes. Por isso é possível rediscutir em REsp matéria de prova quando disser respeito a dano moral. Obs.: Só que esse REsp que o professor citou aí não excepciona nada. Pelo contrário o julgado aplica a Súmula 07.
	(Intervalo)
	
Não se pode ignorar que uma das hipóteses de indenização por dano moral que a gente encontra no sistema é através daquela ação civil ex delicto (art. 68, do CPP). E eu queria que você soube que no que diz respeito a essa ação, vem o Supremo entendendo que essa legitimidade do MP precisa ser repensada. É que o art. 68, do CPP legitimou o MP para a promoção da ação civil ex delicto. 
Art. 68 - Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (Art. 32, §§ 1º e 2º), a execução da sentença condenatória (Art. 63) ou a ação civil (Art. 64) será promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público.
Todavia, não se pode esquecer que o art. 127, da CF diz que cabe ao MP atuar na defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Art. 127 - O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
	É claro que o direito à reparação do dano mesmo quando se trate de dano moral é individual disponível. Não há indisponibilidade na reparação de dano. Isso é certo e não se discute. Com isso, haveria, então, o questionamento: estaria o MP legitimado, ainda, para a ação civil ex delicto em favor de vítima pobre? Teria o MP, ainda, essa legitimidade? Em outras palavras, o art. 68 se mantém compatível com o sistema constitucional? Claro que aqui não se trata de inconstitucionalidade porque o artigo é anterior à Constituição. Aqui se trata de recepção e não recepção. Teria ou não sido recepcionado o art. 68, do CPP? 
Eu quis começar esse segundo tempo fazendo esse comentário que está ligado indiretamente ao nosso tema porque quem anda estudando controle de constitucionalidade sabe que é um tema que precisa ser estudado a todo momento e os livros que tratam disso podem ser comparados a carro do ano. Esses livros você tem que comprar de acordo com o ano porque se você demorar mais do que 6 meses, 1 ano, para trocar o seu livro de controle de constitucionalidade já mudou tudo. A cada dia vem sendo parida uma nova tese sobre o controle de constitucionalidade. É controle de constitucionalidade concreto, abstrato, giratório, reflexo, lunático, tudo quanto é tipo. E essa matéria traz mais um modelo. O STJ, no RE 135328 (Marco Aurélio), fixou uma tese acerca da legitimidade ou não do MP paraa ação civil ex delicto. Diz o Supremo que se trata de uma hipótese de inconstitucionalidade progressiva ou, se você preferir, norma jurídica em vias de inconstitucionalidade, em rota de inconstitucionalidade porque nem toda comarca é provida de defensoria pública para atender a população carente. Razão pela qual entende o Supremo que, naquela comarca onde não houver Defensoria Pública, o MP continua sendo parte legitimada. Mas onde houver Defensoria Pública instalada e em funcionamento, aí o MP não mais detém legitimidade, não é mais parte legítima porque aquele interesse, segundo a Constituição (art. 124), vai ser defendido pela Defensoria e não pelo MP. Mas se não há Defensoria aí o MP se mantém como parte legitimada. É a tese da inconstitucionalidade progressiva ou norma jurídica em vias de inconstitucionalidade. É uma tese nova sobre controle de constitucionalidade.
Essa norma serve como paradigma, como exemplo, para o art. 100, do CPC, que fala do foro privilegiado da mulher para as ações de separação e divórcio. Esse artigo diz que é competente o foro de residência da mulher para as ações de separação, de divórcio e de anulação de casamento. Isso é constitucional? Você diria, não. Mas no Brasil, todas as mulheres estão em posição de igualdade com o homem? Não. Principalmente as pessoas mais antigas, que não trabalhavam. Ela nunca trabalhou, não tem renda própria. Para ela, não dá para aplicar o princípio da igualdade de forma plena. Então, esse art. 100, do CPC seria um outro exemplo de uma norma jurídica em rota de inconstitucionalidade. Com o passar do tempo, com a afirmação dessa igualdade, essa norma vai, aos poucos se tornando inconstitucional. É algo novo que você merece saber.
	DIREITO DA PERSONALIDADE NO ÂMBITO COLETIVO ou TUTELA JURÍDICA COLETIVA DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
	Essa é uma pergunta muito comum, uma dúvida sempre presente. Existem direitos da personalidade no âmbito coletivo? Existiria uma tutela coletiva dos direitos da personalidade? Você ainda não entendeu? Sabe o que estou te perguntando? Existe dano moral coletivo? A resposta está na lei. Código de Defesa do Consumidor, art. 6º, CI, Lei de Ação Civil Pública, art. 1º. E você, então, confere, nesses dois dispositivos, o direito positivo brasileiro admite o dano moral coletivo quando houver uma violação coletiva da personalidade. Havendo uma violação coletiva da personalidade é possível e falar em dano moral coletivo.
	Veja bem, nós poderíamos dizer, nesse caso, que haverá uma tutela coletiva dos direitos da personalidade e você então já sabe que nesse caso a tutela processual deve se dar por meio de ação civil pública. O dano moral coletivo deve ser pleiteado por meio de ação civil pública. Exemplo: dano ambiental, dano moral ao meio ambiente do trabalho (é um dano moral coletivo). E aí teríamos um dano moral coletivo.
	Uma pergunta interessante é: para quem reverte esse dano moral coletivo? Em favor do fundo previsto no art. 13, da Lei de Ação Civil Público. É o chamado Fluid Recovery. É para o fundo que reverterá a indenização. Esse fundo é gerido por um conselho que tem a participação d o MP. E a idéia do fundo é a recomposição do bem jurídico lesado. É adotar providencias para recompor o bem jurídico lesado. Daí a tutela coletiva da personalidade, que é o chamado dano moral coletivo, é possível de acordo com o direito brasileiro, revertendo a indenização para o fundo (art. 13, da Lei de Ação Civil Pública). 
	Eu me lembrei agora de uma situação interessantíssima sobre violação da coletividade. Eu estou lembrando que o Conselho Regional de Enfermagem?RJ ajuizou uma ação falando da proteção da dignidade coletiva das enfermeiras. Isto porque um motel no RJ espalhou uma propaganda por várias placas de outdoor dizendo o seguinte: “liberte a enfermeira que existe em você”. E aí o Conselho de Enfermagem diz que aquela mensagem estava violando a dignidade da categoria das enfermeiras. Dano moral coletivo. Tutela preventiva: tire a placa. Aí estamos falando da dignidade coletiva, daquele grupo de pessoas. 
Então, é possível e se fala hoje com tranquilidade da proteção coletiva da dignidade e essa proteção coletiva, você já sabe, pode ser preventiva, sem prejuízo de ser reparatória.
O STJ tem uma decisão (só uma) sobre dano moral coletivo. Negando. O único julgado do STJ nega o dano moral coletivo. Mas é jurisprudência do STJ? Eu não diria porque é um único julgado, não dá para ser jurisprudência. De mais a mais, você precisa lembrar que o direito positivo prevê o dano moral coletivo. O que quero dizer com isso? Se você está fazendo prova de concurso e o examinador coloca lá “no Brasil é possível se falar em dano moral coletivo”. A resposta é sim, é verdade, porque está na lei. E o julgado, sozinho, não muda o que está no sistema jurídico. O dano moral coletivo, insisto, só pode ser pleiteado por meio de ação civil pública. E só quem pode propor a ação civil pública são os legitimados do art. 5º, da Lei de Ação Civil Pública: MP, Defensoria Pública, Poder Público e Associações. São os colegitimados para a ação civil pública e reclamam, por exemplo, o dano moral coletivo.
Eu estou falando aqui e estou com muito medo porque falei agora que o dano moral coletivo deve ser pleiteado por ação civil pública e eu estou com medo de você achar que a ACP somente serve para pleitear dano moral coletivo. Estou falando isso porque você não pode esquecer que a ACP pode ser também mecanismo para cobrar dano moral individual.
A ação civil pública se presta à defesa de interesses transindividuais (difusos e coletivos) e se presta também à defesa de interesses individuais homogêneos. Quem diz isso é o CDC, nos arts. 81 e 82, apresentando essa estrutura. A ação civil pública é mecanismo processual idôneo para pleitear tutela de direitos transindividuais (difusos e coletivos) e individuais homogêneos. Se essa mensagem está clara, os interesses transindividuais só podem ser pleiteados somente por ação civil pública. Os individuais homogêneos podem ser pleiteados individualmente. Cada um dos interessados pode promover a sua ação. 
Mas será possível também uma ação coletiva para a tutela desses interesses individuais homogêneos. Você sabe do que estou falando? Lembram dos brasileiros que ficaram á deriva na costa do Uruguai? Sofreram dano moral? Sofreram e mais de um. Foi um dano moral individual de duas ou mais pessoas e esse dano é chamado de individual homogêneo. Bem. Esse dano individual homogêneo, que é o dano individual de duas ou mais pessoas, pode ser cobrado por ACP. A ação civil pública pode se prestar a isso. Onde está a diferença? Os interesses transindividuais somente podem ser pleiteados por ACP. Os individuais homogêneos podem ser pleiteados individualmente, mas também podem ser pleiteados através de ação civil pública. Por exemplo, a Associação dos Turistas Perdidos em Navios pode pleitear através de ação civil pública uma indenização. Nesse caso, o que vai acontecer? Nesse caso, a associação promove a ação e cada um dos interessados liquida e executa do seu próprio dano. Onde está a diferença. É que se o dano moral é coletivo só pode ser pleiteado por ACP e se é individual será pleiteado por ação individual, mas se for individual homogêneo, cabe ACP, sabendo que, nesse caso, a liquidação e execução serão individuais porque o interesse é individual. 
Com isso, eu chego à seguinte conclusão: dano moral coletivo somente pode ser pleiteado por ACP. O dano moral individual poderá ser pleiteado por ACP. Poderá. Se ele for individual homogêneo. Sabendo você que se o particular quiser, ele pode promover sua própria ação, independentemente de ACP. Ficou claro? Imagine o cara chato que não confia na associação, no MP e quer a sua própria ação. Mesmo que exista a ACP para interesse individual homogêneo, ele promove a dele. A diferença é que se ele promove a dele, não estará submetido à coisa julgada da ACP. Ou seja, se ele for inteligente, se já promoveu a dele, suspende. Se não promoveua dele, suspende. Se a ACP para individual homogêneo for vitoriosa, ele só vai liquidar e executar. Mas se a ACP para individual homogêneo for vencida, aí ele faz o quê? Ou promove a dele ou faz cessar a suspensão. Com isso, nem toda a ACP é para dano moral coletivo porque há possibilidade de ACP para pleitear dano moral individual, quando ele for individual homogêneo. O MP só tem legitimidade para ACP de direito individual homogêneo se ele for individual homogêneo indisponível de modo a respeitar o a art. 127, da Constituição.
	DIREITO DA PERSONALIDADE E PESSOAS PÚBLICAS
 
	As pessoas públicas são chamadas também de celebridades. São as pessoas que, por ofício, profissão ou opção pessoal, tem uma vida pública. São as pessoas com personalidade notória. A sua personalidade é conhecida do público. Artista, jogador de futebol, político. São pessoas notórias, cuja personalidade toca ao interesse público. 
Discute-se se essas pessoas têm proteção dos direitos da personalidade. Teriam as pessoas notórias proteção dos direitos da personalidade ou, o fato de sua personalidade ser pública (falha na transmissão). Não há que se falar em subtração do direito de personalidade das pessoas notórias. Porém, seguramente, elas sofrem uma relativização da proteção de sua personalidade. Repito: as pessoas públicas não perdem e não podem perder a proteção dos direitos à personalidade, mas sofrem uma flexibilização, uma mitigação na proteção de sua personalidade.
Imagem e privacidade servem como exemplos claríssimos de flexibilização dos direitos de personalidade das pessoas públicas. Já pensou se a revista Caras precisasse pedir autorização a todas aquelas celebridades que ali estão, se o jornal precisasse pedir autorização ao jogador que fez o gol no domingo para publicar a foto na segunda? É claro que a imagem e a privacidade são os âmbitos mais claros de flexibilização dos direitos de personalidade das pessoas públicas. Insisto: haverá uma flexibilização, jamais uma perda. 
Por isso que se imagem de uma pessoa pública for utilizada com desvio de finalidade, haverá proteção e haverá proteção exatamente porque ela não perdeu. Apenas sofreu uma flexibilização. Um exemplo interessante: um artista global foi participar de uma festa promovida pelos medicamentos genéricos. Todo mundo vestiu a camiseta para ir à festa com aquele G de genéricos. Tinham tirado a foto do cara da Globo junto com o G, a foto dele ficou bacana e sabe o que o medicamento fez? Pegou a imagem dele e fez uma publicidade sob o argumento de que ele é pessoa pública, estava em local público, sua imagem é publica. Isso pode? Não! Não pode porque nesse caso houve exploração comercial, houve desvio de finalidade. Aí ele tem proteção. A imagem dele é pública dentro dos padrões comuns, sem desvio de finalidade.
Um ponto importante é: um artista que está andando na praia, que está na rua. Vou dar um exemplo: Chico Buarque foi flagrado outro dia andando no calçadão de Ipanema. Precisa pedir autorização ao Chico para tirar foto dele no calçadão? Não, porque a imagem dele é pública. Só que aí vem o problema. Nesse dia, o Chico Buarque estava acompanhado de uma moça. Aí o problema: terceiros acompanhantes de pessoas públicas também sofrem a relativização, a flexibilização dos seus direitos à personalidade. Ninguém lembrou desse exemplo? Essa moça era casada e entrou com uma ação contra o jornal dizendo que a imagem do Chico Buarque é pública, a dela, não. Ela era casada deu uma confusão danada. Vem se entendendo que terceiros acompanhantes de pessoas públicas sofrem a relativização junto. Claro. Quem está acompanhando pessoa publica vai junto na flexibilização. Não é perda. É flexibilização. Portanto, se houver desvio de finalidade, tem proteção.
Eu concluo esse assunto com um comentário rápido e objetivo. Não caiu ainda em nenhuma prova e a jurisprudência ainda não teve a oportunidade de decidir. Porém, vem se entendendo, já, no direito comparado e na doutrina brasileira no que tange à incidência da proteção do CDC, vem se entendendo que a proteção que é destinada às pessoas públicas traz como contraponto uma responsabilidade. É a responsabilidade civil das celebridades pela propaganda enganosa. A celebridade responderá pela propaganda enganosa em duas hipóteses:
	
	1.	Quando ela vincula o seu nome a produto ou serviço
	2.	Quando ela atesta sua qualidade	
	
	Lembra do Rider do Guga, da Melissinha da Xuxa? Ou quando ela vincula o seu nome (e aí você vai lembrar de uma pá de coisas) ou quando ela atesta a qualidade. Lembra do Pelé, que fazia uma propaganda da vitamina e dizia “essa eu garanto”. Lembra disso? Nesses casos, como o artista está empenhando a sua personalidade, ou seja, está dizendo: “vejam, eu estou usando minha personalidade, que é pública, para garantir isso aqui”. Neste caso, ele responderá solidariamente com o fornecedor. E o cara que fez a propaganda? Se ele só fez a propaganda, paciência. Não há responsabilidade do artista. Ele foi apenas garoto-propaganda. Serve apenas como instrumento de marketing. Não dá para não lembrar (e falo dela de novo hoje) da Maitê Proença e do anticoncepcional Microvlar. Esse anticoncepcional foi aquele que teve uma série fabricada com placebo e depois que um monte de gente ficou grávida a Maitê Proença gravou uma propaganda do Microvlar dizendo o seguinte: “olha consumidora, teve esse probleminha, mas foi solucionado na nossa linha de produção. Pode tomar tranquila. A qualidade eu garanto.” E depois da propaganda dela mais sete consumidoras ficaram grávidas. Dá para cobrar os alimentos do menino? Sim. Ela não disse que garantia e a consumidora não acreditou na credibilidade dela? Na personalidade dela? É por isso que se fala na responsabilidade civil da celebridade por propaganda enganosa quando atesta a qualidade ou quando permite o uso do seu nome. Somente nestes casos e, é claro, nada impede que a celebridade que, eventualmente seja responsabilizada, exerça direito de regresso contra o fornecedor.
	No direito comparado, há precedente na França. O direito francês já tem precedentes nesse sentido. É um tema importantíssimo que diz respeito às celebridades.
	CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
		
	Você lembra quais são os direitos da personalidade, não é? Direitos da personalidade são aquelas garantias necessárias à vida digna. Para ter vida digna, precisa ter direito à personalidade. A classificação dos direitos da personalidade atende a um critério interessante. Qual critério? Se os direitos da personalidade constituem as prerrogativas, as garantias para ter vida digna, eles devem se espalhar por toda a dimensão da pessoa humana: corpo, alma e intelecto. Se a pessoa humana traz uma composição riquíssima, você já sabe que a classificação dos direito à personalidade diz respeito à integridade física, à integridade psíquica e à integridade intelectual. Corpo, alma e intelecto. As três dimensões diferentes da pessoa humana.
A integridade física é a tutela jurídica do corpo humano – É a tutela jurídica do corpo vivo, do corpo morto, do cadáver. E também às partes do corpo humano. Partes do corpo vivo, partes do corpo morto.
A integridade psíquica é a tutela jurídica dos valores imateriais humanos – É a honra, imagem, nome, são exemplos do direito da personalidade no âmbito psíquico.
A integridade intelectual é a tutela jurídica da criação humana, da inteligência humana – Tudo aquilo que decorre da inteligência do homem. Direito autoral é o exemplo fatal.
	Acompanhe. O direito á vida estaria enquadrado em qual dessas dimensões? O direito à vida diz respeito à integridade física? Diz respeito à integridade psíquica? Diz respeito à integridade intelectual? Se você respondeu sim a essas perguntas, você acabou de descobrir que o direito à vida é um pressuposto dos direitos da personalidade. E não é somente o direito à vida. Você já se lembra que é o direito á vida digna. O direito à vida digna se apresenta como um pressuposto dosdireitos da personalidade e é por isso que você já lembra que no nosso sistema o direito á vida digna é a cláusula geral de proteção. É um direito geral da personalidade. E se apresenta como direito geral exatamente por isso: direito à vida digna como cláusula geral, como pressuposto de proteção da personalidade, englobando tanto a integridade física, quanto a psíquica, quanto à intelectual. São três diferentes âmbitos de classificação dos direitos da personalidade. Hoje, você começa comigo anotando direitos da personalidade no que tange à integridade psíquica.
	Direitos da Personalidade no que tange à INTEGRIDADE PSÍQUICA
	Nós vamos adentrar agora na classificação dos direitos da personalidade no que diz respeito à integridade psíquica. E sabem quais são os direitos que a gente vai tratar? Honra, imagem, privacidade e nome. Só são esses os direitos à personalidade no âmbito psíquico? Claro que não, porque o rol é exemplificativo. Existem milhões de direitos da personalidade, infinitos direitos da personalidade, em todos os âmbitos. Eu vou mencionar os que estão no direito positivo.
	a)	Direito à HONRA
	
	É o primeiro direito da personalidade no âmbito psíquico. O que é o direito à honra? É o direito à boa fama, à honorabilidade. É o direito que diz respeito à reputação construída por uma pessoa. E se uma determinada pessoa construiu, criou uma determinada reputação nós vamos ter, evidentemetne o direito à honra. Essa reputação, essa honorabilidade se desdobra em dois aspectos:
Aquilo que o próprio titular pensa de si.
Aquilo que as outras pessoas enxergam nele. 
Você acabou de descobrir que o direito à personalidade se desdobra em honra objetiva e honra subjetiva.
Honra objetiva – o que os outros pensam do titular
Honra subjetiva – o que ele mesmo pensa de si.
	Ainda hoje falávamos da Maitê Proença. E naquele caso, mesmo que não violada a honra objetiva, foi assacada a honra subjetiva. São dois aspectos de um mesmo direito. Não existem duas honras. Existem um só direito à honra, que se desdobra em honra objetiva e em honra objetiva. O que eu quero dizer com isso? Se a um só tempo foi violada a honra objetiva e a honra subjetiva, quantas indenizações decorrem? Uma só porque não são dois direitos. Mesmo que sejam atentadas a honra subjetiva e a honra objetiva ao mesmo tempo, mesmo assim, haverá uma só indenização porque o direito é um só. Não há dois direitos à honra. 
Não se esqueça que o direito à honra admite uma relativização quando há interesse público. Nós falamos disso na semana passada. Eu falei sobre ponderação entre liberdade de imprensa (ou liberdade de expressão) e direitos da personalidade. É possível mitigar a honra quando se trate, por exemplo, de interesse público, na veiculação de uma informação. Nesse caso, é possível falar hipoteticamente em flexibilização. Claro que estou falando no plano abstrato. Não no plano concreto. No MP federal caiu essa pergunta em 2004: “No caso de dano à honra é assegurada a reparabilidade do prejuízo extrapatrimonial do ofendido.” Verdadeiro, sem prejuízo da reparabilidade do dano patrimonial que pode vir cumulado com esse dano moral. Essa é a proteção do direito à honra. 
Não se esqueçam que o direito penal traz para nós, no que se refere ao direito à honra, a possibilidade de exceptio veritatis. Exceção da verdade. Vinda do direito penal, a exceção da verdade, significa: é possível provar a veracidade do fato. Não se trata de violação à honra. O fato é verdadeiro. Não estou ofendendo a honra de ninguém. Então, é possível a exceção da verdade no que tange o direito à honra. 
	b)	Direito à IMAGEM
	O que é imagem? Na cabeça da grande maioria das pessoas, imagem é a característica física. É o rosto, o retrato da pessoa. O conceito de imagem não é pobre. Ao contrário, é riquíssimo. O conceito de imagem é amplíssimo. Imagem, nada mais é do que o direito de identificação de alguém. E uma pessoa pode ser identificada por diferentes critérios. A identificação de alguém pode se dar por diferentes critérios. Uma pessoa pode ser identificada por diferentes situações e circunstâncias. O que eu quero dizer com isso é que o direito à imagem é multifuncional e é assim porque permite diferentes formas identificadoras. Diferentes formas de identificar alguém. Uma pessoa pode ser identificada por diferentes circunstâncias. 
	O direito à imagem é tridimensional porque no direito brasileiro o direito à imagem diz respeito a um só tempo a 
Imagem-retrato - A imagem-retrato diz respeito às características fisionômicas. E dizendo respeito às características fisionômicas, a imagem-retrato diz respeito ao pôster da pessoa. Aqui, nós vamos lembrar dos cartunistas. Eles exploram a imagem-retrato. Uma pessoa que tem a orelha avantajada, que tem o nariz protuberante. Isso é imagem-retrato. Imagem-retrato dizendo respeito ao pôster da pessoa, às suas características fisionômicas.
Imagem-atributo – vai dizer respeito a outra coisa, às características emocionais da pessoa. A imagem-atributo diz respeito às características identificadoras que não são de natureza física. A imagem-retrato são os caracteres fisionômicos. A imagem-atributo não são os caracteres fisionômicos, mas os critérios emocionais. É uma pessoa que é conhecida por sua característica positiva ou negativa. Exemplo: alguém que é extremamente sovina, extremamente alegre, de mal com a vida e por aí vai. A imagem-atributo é possível não só para pessoa física, mas também para pessoa jurídica.
Imagem-voz – Diferente da imagem-retrato e da imagem-atributo, a imagem-voz é o timbre sonoro identificador. Sabe de quem eu lembro? Lombardi. É um exemplo fascinante de imagem-voz. Você pode não saber quem ele é, mas a voz dele serve seguramente para identificá-lo.
	O que eu quero dizer é o seguinte: é possível violar a personalidade de uma pessoa pura e simplesmente não fazendo menção ao seu nome, mas às suas características. Isso é possível e, nesse caso estaremos falando de imagem-atributo. Por isso que o direito à imagem é tridimensional porque envolve a um só tempo: imagem-retrato, imagem-atributo e imagem-voz. 
	É importante que você perceba: o direito à imagem é tridimensional, mas é um só. Mesmo que a violação atinja a imagem-retrato, a imagem-atributo e a imagem-voz, mais de uma ao mesmo tempo, caberá só uma indenização. Sim, porque embora tridimensional, o direito à imagem é um só. Daí, o descabimento de uma cumulação de uma indenização por diferentes violações da imagem. 
Agora, não esqueça, por outro lado, que o direito à imagem é autônomo. Quem fala da autonomia do direito à imagem é o art. 5º, incisos V e X da Constituição. Esses dispositivos reconhecem expressamente a independência e autonomia do direito à imagem. Isso porque, nos termos da Constituição, a imagem é um bem jurídico personalíssimo e autônomo. 
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
O que eu quero dizer com isso é o seguinte: é possível violar a imagem de alguém sem violar a honra. É possível violar a imagem de alguém falando bem dela. É possível violar a imagem de uma pessoa elogiando. Mas como isso é possível? Porque a imagem é autônoma. Eu posso utilizar a imagem dela indevidamente falando bem. Evidentemente, nós vamos partir da premissa de que a autonomia e independência do direito à imagem fazem com que a sua violação não dependa da violação da honra, sendo possível violar a imagem independentemente da violação da honra. 
Nesse sentido, eu vou lhe mostrar agora o enunciado 278, da Jornada e vejam se não tem tudo a ver com o comentário que eu fiz agora:
Enunciado 278 da IV Jornada – Art.18. A publicidade que venha a divulgar, sem autorização, qualidades inerentes a determinada pessoa, aindaque sem mencionar seu nome, mas sendo capaz de identificá-la, constitui violação a direito da personalidade. 
	Ele está falando de quê? De imagem-atributo. Mesmo sem usar o nome é possível identificar. É um indicativo seguro dessa característica tridimensional do direito à imagem. A propósito, uma excelente pergunta do concurso do MP/DF: “Uma grande empresa de plano de saúde veiculou propaganda institucional em diversos jornais e revistas nas quais constava a fotografia de Marcelo, um médico famoso na área de neurocirurgia. No texto da mensagem publicitária, após diversas referências elogiosas à atuação do médico, ressaltou-se que ele era um dos médicos conveniados ao plano de saúde da empresa. Marcelo não autorizou o uso da fotografia. É cabível na hipótese alguma espécie de indenização?” Sim, porque apesar de não ter violado honra, violou a sua imagem. Curiosamente, se além de utilizar a imagem, tivesse falado mal, nós teríamos duas indenizações. Uma por violação à imagem e uma por violação à honra. Cumulatividade de dano moral. Daí a importância do direito à imagem reconhecido pela Constituição. 
	Temos um problema. O problema é que o art. 20, do CC, não andou tão bem quanto o art. 5º, da CF. O art. 20 termina fazendo uma confusão horrorosa entre imagem honra. Leia o art. 20 e se preocupe!
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
	“Pode ser proibida”, está falando aqui de tutela preventiva. “Sem prejuízo da indenização”, tutela reparatória. Este lamentável art. 20 está dizendo que a proteção da imagem está atrelada à proteção da honra. Leia! Ele está dizendo que a imagem somente merece proteção ou quando houver violação da honra ou quando houver desvio de finalidade. O art. 20 diz que a imagem somente merece proteção quando houver violação da honra ou quando houver finalidade comercial. Se eu pegar a imagem de uma pessoa e colocar no jornalzinho do meu condomínio, nem fiz propaganda e nem falei mal dela, violei a imagem? No Código Civil a resposta é NÃO porque no Código Civil a violação da imagem está intimamente ligada à violação da honra ou ao desvio de finalidade. Isso é no Código Civil. 
Na Constituição, NÃO! Lá, no art. 5º, V e X, a proteção da imagem é autônoma. É ruim para você, que está fazendo concurso e o examinador coloca lá: “a proteção da imagem no CC depende da violação da honra ou do desvio de finalidade”. Verdadeiro ou falso? Verdadeiro! É o que diz o Código. Mas se a pergunta for descrever, como no concurso do DF, você já sabe que você vai escrever que “embora o Código Civil tenha atrelado a proteção da imagem à honra ou ao desvio de finalidade, a CF concedeu ao direito à imagem autonomia. A CF emancipou o direito à imagem que é autônomo e independente na norma constitucional, apesar dessa horrorosa redação do art. 20.” A gente pode dizer o quê? “Art. 20, você é horroroso, mas não faz falta, fique aí porque a Constituição está acima.” Portanto, mesmo horroroso, ele fica no sistema. 
Estou falando do direito à imagem, tridimensional, independente. E, aproveitando que estou falando disso, você anota comigo agora: 
Função Social da Imagem
Não caiu em concurso nenhum ainda. Esses concursos cabeções (MPF, MP/MG), já já vai cair. 
Chama-se função social da imagem as hipóteses de flexibilização. Ou seja, aqueles casos em que se relativiza a proteção da imagem. Relativização da imagem em determinados casos. Exemplos: liberdade de imprensa, ordem pública, administração da Justiça.
Linha Direta – No final do programa, eles sempre mostravam a fotografia da criatura, do foragido e estava utilizando sem utilização. Naquele caso se justificava o uso da imagem? Administração da Justiça e ordem pública. Portanto, aquele programa era um exemplo de flexibilização da imagem. Portanto, essas hipóteses de flexibilização da imagem vão sendo chamadas de função social da imagem. 
Nesse sentido, o enunciado 279, da Jornada. Você vai perceber nesse enunciado que a imagem tem que estar submetida à ponderação de interesses. E quando a ponderação de interesses flexibilizar o direito à imagem, vamos ter a função social da imagem. Repito: o direito à imagem sempre merece proteção, mas essa proteção pode ser flexibilizada e, claro, o direito à imagem pode ser flexibilizado em nome de outros valores. 
Enunciado 279, da IV Jornada – Art.20. A proteção à imagem deve ser ponderada com outros interesses constitucionalmente tutelados, especialmente em face do direito de amplo acesso à informação e da liberdade de imprensa. Em caso de colisão, levar-se-á em conta a notoriedade do retratado e dos fatos abordados, bem como a veracidade destes e, ainda, as características de sua utilização (comercial, informativa, biográfica), privilegiando-se medidas que não restrinjam a divulgação de informações.
Não se esqueça de um outro detalhe: no nosso sistema, a imagem pode constituir direito de arena. Sabe o que é direito de arena? Direito autoral, é a imagem como direito autoral.. Artista, jogador de futebol, quando o espetáculo é transmitido. Ele vai ter um direito de receber um valor pelo uso da sua imagem. Quando a imagem é compreendida como um direito autoral, ela pode ser explorada pelo prazo máximo de 5 anos, renováveis posteriormente. Neste caso, da imagem como direito de arena, de ser explorada comercialmente, tem prazo máximo de 5 anos. Quando eu digo que a imagem funciona também como direito de arena, não faz essa cara, que vou explicar: a imagem do jogador de futebol durante a partida vai ser transmitida para inúmeros lugares. Tem um monte de gente transmitindo a imagem, um monte de gente vendendo propaganda em cima daquela transmissão esportiva (direito de arena). O jogador vai receber uma parte disso. Mas a imagem do jogador que está ali participando da partida, pode ser explorada comercialmente? Vou te contar o exemplo e depois o acórdão. Os jogadores da seleção brasileira na Copa de 70 tiveram suas imagens exploradas por uma editora num álbum de figurinhas durante as partidas. As imagens eram públicas, mas não poderiam ser exploradas comercialmente porque violou o direito de arena. 
REsp 46420: Neste REsp, o STJ protegeu os jogadores da seleção brasileira de futebol da Copa de 70 contra a indevida exploração da sua imagem.
REsp 46420 / SP - Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR - T4 - QUARTA TURMA - DJ 05/12/1994 - DIREITO A IMAGEM. DIREITO DE ARENA. JOGADOR DE FUTEBOL. ALBUM DE FIGURINHAS. O DIREITO DE ARENA QUE A LEI ATRIBUI AS ENTIDADES ESPORTIVAS LIMITA-SE A FIXAÇÃO, TRANSMISSÃO E RETRANSMISSÃO DO ESPETACULO DESPORTIVO PUBLICO, MAS NÃO COMPREENDE O USO DA IMAGEM DOS JOGADORES FORA DA SITUAÇÃO ESPECIFICA DO ESPETACULO, COMO NA REPRODUÇÃO DE FOTOGRAFIAS PARA COMPOR "ALBUM DE FIGURINHAS". LEI 5989/73, ARTIGO 100; LEI 8672/93.
	Não vamos esquecer também que o direito à imagem admite cessão. É possível ceder o direito à imagem e essa cessão pode ser expressa ou tácita. É expressa quando envolve contrato, quando um artista celebra um contrato com uma revista. Mas pode ser tácita. No carnaval de Salvador, por exemplo, um monte de gente sorri para a câmera. Olhou para a TV, sorriu para a câmera cedeu tacitamente. E eu te lembro que implica em cessão tácita para as pessoas que estão em locais públicos. Estádio de futebol. No intervalo da partida a câmera pega um monte de gente. Quem está em local público é cessão tácita de imagem. Quando a pessoa está em local público, tem sua imagem relativizada e concede tacitamente ela em contexto genérico, desde que não haja close porque se houver close, aí já não é cessão tácita. Aí já depende de consentimento.
	Sempre que eu falo desse assunto eume lembro de uma situação envolvendo uma situação no carnaval, há muitos anos, na quarta-feira de cinzas, em Salvador. Um jornal de Salvador apresentou, na quarta-feira de cinzas, na sua capa, a foto de um casal se beijando. E a manchete dizia: o amor está no ar. E um beijo ardente. Só que o cara era casado com outra. Ele ajuizou uma ação contra o jornal que se defendeu dizendo estar ele em local público, quem está na chuva... Tudo bem, só que não tiraram a foto do carnaval. Tiraram a foto dele! Nesse caso, já não há que se falar em cessão tácita. O STJ entende assim: REsp 85905:
REsp 85905 / RJ - Ministro ARI PARGENDLER - T3 - TERCEIRA TURMA - DJ 13/12/1999 - CIVIL. USO INDEVIDO DA IMAGEM. INDENIZAÇÃO DE DANOS MORAIS. O uso não autorizado de uma foto que atinge a própria pessoa, quanto ao decoro, honra, privacidade, etc., e, dependendo das circunstâncias, mesmo sem esses efeitos negativos, pode caracterizar o direito à indenização pelo dano moral, independentemente da prova de prejuízo. Hipótese, todavia, em que o autor da ação foi retratado de forma acidental, num contexto em que o objetivo não foi a exploração de sua imagem. Recurso especial não conhecido.
O STJ também entende (e aí eu já não concordo mais) que a cessão tácita abrange também as condutas pessoais. No REsp e no 595600, o STJ negou indenização a uma moça que estava fazendo topless numa praia em Camboriú. O jornal veiculou: “está muito calor na cidade” e mostrou a moça. O STJ, nesse caso, negou, entendendo que houve cessão tácita. Eu não sei de que maneira a foto foi colocada no jornal, não sei se houve desvio de finalidade, vai depender muito. 
REsp 595600 / SC - Ministro CESAR ASFOR ROCHA - T4 - QUARTA TURMA - DJ 13/09/2004 - DIREITO CIVIL. DIREITO DE IMAGEM. TOPLESS PRATICADO EM CENÁRIO PÚBLICO. Não se pode cometer o delírio de, em nome do direito de privacidade, estabelecer-se uma redoma protetora em torno de uma pessoa para torná-la imune de qualquer veiculação atinente a sua imagem. Se a demandante expõe sua imagem em cenário público, não é ilícita ou indevida sua reprodução pela imprensa, uma vez que a proteção à privacidade encontra limite na própria exposição realizada. Recurso especial não conhecido.
São situações em que o STJ vai flexibilizando a imagem e todas as hipóteses de flexibilização são possíveis desde que não haja desvio de finalidade. A Globonews pegou uma imagem interessantíssima. Lembram da Plataforma P-36, que afundou? A Globonews conseguiu uma imagem impressionante de uma pessoa que estava lá e que conseguiu se salvar. Ela filmou aquele rapaz na hora do seu desespero e mostrou nos noticiários. Até aí tudo bem. Fato jornalístico, local público, está indo bem. Só que a imagem do cara ficou tão bacana, tão precisa aquela reação, que a Globonews explorou a imagem comercialmente e resolveu fazer propaganda na Veja, na Isto É, na Época. Agora teve desvio de finalidade. Enquanto ela mostrou os seus noticiários a imagem, tudo bem. Fato jornalístico, fato público, imagens tacitamente cedidas. Mas depois que explorou comercialmente, aí sim, houve desvio de finalidade. O TJ/RJ entendeu que nesse caso há, realmente desvio de finalidade. Apelação Civel 3467/2004. Nesse julgado, o tribunal do RJ reconheceu o desvio de finalidade. E condenou a Globonews a indenizar pela propaganda indevidamente realizada.
Um aluno me parou porque foi fotografado no bloco das cachorronas no carnaval, vestido de mulher, achando que fosse sair no jornal. Não saiu. Um ano depois, estava lá a foto: “homossexuais ainda são discriminados no carnaval de Salvador.” O uso de imagem foi tácito. Todo mundo sorriu para a câmera, mas houve desvio de finalidade. Está aí o direito à indenização para essa cachorrona.
Eu concluo relembrando algo que eu falei na aula passada: quando se tratar de lesados indiretos do direito à imagem (quando a imagem em alguém foi violada depois de sua morto e porque atinge indiretamente seus parentes vivos), o § único do art. 20 não legitima os colaterais. Eu estou te relembrando:
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.
	Não estão legitimados os colaterais na qualidade de lesados indiretos do direito à imagem. Isso é estranho porque se eu falar nos direitos da personalidade genéricos os colaterais estão legitimados. É o § único do art. 12. Mas no que tange ao direito à imagem, não estão legitimados. É o § único do art. 20. Nesse sentido, confirmando a diferença de tratamento de um para o outro, o Enunciado 05, da Jornada:
Enunciado 5 da I Jornada – Arts. 12 e 20: 1) as disposições do art. 12 têm caráter geral e aplicam-se, inclusive, às situações previstas no art. 20, excepcionados os casos expressos de legitimidade para requerer as medidas nele estabelecidas; 2) as disposições do art. 20 do novo Código Civil têm a finalidade específica de regrar a projeção dos bens personalíssimos nas situações nele enumeradas. Com exceção dos casos expressos de legitimação que se conformem com a tipificação preconizada nessa norma, a ela podem ser aplicadas subsidiariamente as regras instituídas no art. 12.
	Anote: no nosso próximo encontro, vamos continuar daqui, falando do direito à privacidade e ao nome e depois falando da integridade física.
�PAGE �
�PAGE �38�

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Materiais recentes

Perguntas Recentes