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12-Alimentos

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�LFG – CIVIL – Aula 12 – Prof. Cristiano Chaves – Intensivo II – 10/11/2009
Alimentos
3.	ALIMENTOS
	Vamos estudar alimentos sob o prisma do direito material e processual, com todos os detalhes.
	3.1.	NOÇÕES CONCEITUAIS
	O que significa alimentos no direito civil brasileiro? A concepção de alimentos transpassa o seu sentido vulgar. Sob o ponto de vista jurídico, alimentos significa mais do que alimentação, não pode se representar na ideia de alimentação. Bem mais do que isso, alimentos é subsistência, manutenção, desse modo, é tudo aquilo que uma pessoa precisa para viver dignamente, com dignidade. O mínimo necessário, sob o prisma material, para que alguém viva dignamente, significa alimentos.
	Dentro do conceito de alimentos estão incluídos saúde, moradia, vestuário, educação, lazer e esporte. Alimentos é muito mais do que ter direito à alimentação. 
	A obrigação alimentícia, entenda, esse dever subsistência, de manutenção, de fazer alguém sobreviver, é obrigação recíproca entre os parentes, os cônjuges e os companheiros. Art. 1694, do CC:
	Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.
	
	A obrigação alimentícia está fundada na solidariedade. O dever alimentício está fundado na solidariedade social e familiar. A obrigação de prestar alimentos decorre da solidariedade social e familiar. Saiba você que essa solidariedade não é norma-regra e sim norma-princípio. E se é norma-princípio, tem conteúdo aberto e pode até afastar a norma-regra.
	E como é que uma norma-princípio vai afastar a norma-regra no que tange aos alimentos? Como é que a solidariedade afastará a obrigação alimentícia? É que solidariedade é bem diferente de caridade. A caridade é unilateral e a solidariedade é recíproca. Caridade vem da ideia de fraternidade. Caridade e fraternidade é unilateral, é o dízimo para a igreja. E por que a solidariedade é recíproca? Porque aquele que hoje dá, amanhã pode precisar. Os alimentos estão fundados, não na caridade, não na fraternidade, mas na solidariedade social e familiar. Dizer isso significa em termos práticos que quem pede hoje, amanha pode prestar e vice-versa. Aquele que hoje recebe, amanha pode ser obrigado a pagar.
	Pensando na solidariedade social e familiar que serve de fundamento para os alimentos aludo a um belíssimo acórdão do TJ/RJ que faz menção a isso. Trata-se de um pai que não deu amor, não deu carinho, abandonou os filhos e sumiu no mundo. A mãe teve que criar todos os filhos sozinhos e os filhos, criados exclusivamente com o sacrifício da mãe, prosperaram na vida. Mais adiante, o pai já idoso, desempregado precisou de ajuda e sabe a quem ele foi pedir os alimentos? Dos filhos que outrora ele havia abandonado. Depois de tê-los abandonado, no futuro, requereu alimentos deles. Eles se recusavam a prestar alimentos ao pai porque o pai não havia sido solidário com eles na infância e na adolescência. E o TJ/RJ confirmou que aquele pai que não prestou alimentos, não teve direito de receber, porque isso quebraria a solidariedade social e familiar. Essa quebra da solidariedade social e familiar pode ser muito bem vista, muito bem exemplificada nos alimentos. Você já nota que o fundamento da prestação alimentícia é a solidariedade, social e familiar e isso pode quebrar as próprias regras jurídicas do dever alimentício.
	
	3.2.	ESPÉCIES DE ALIMENTOS
	Vamos nos valer agora de três diferentes critérios para classificar os alimentos:
	a)	Quanto à NATUREZA – Os alimentos podem ser:
Naturais ou Civis
Necessários ou para subsistência
	Os alimentos naturais são aqueles necessários à manutenção da pessoa e do seu padrão de vida. Ou seja, se o alimento chamado de necessarium personae., ou seja, tudo aquilo necessário para a manutenção da pessoa. Os alimentos civis correspondem à necessidade de uma pessoa. Não são apenas para a subsistência. São alimentos também para a manutenção do status social: educação, cultura, lazer, esporte. É mais do que subsistir. É subsistir com dignidade. É manter o nível, é manter o padrão. Os alimentos naturais correspondem à regra geral do sistema. Se é assim, não é difícil notar que os alimentos naturais sempre levam em conta mais do que a subsistência. No nosso sistema os alimentos só não serão naturais nos casos previstos em lei porque a regra é que os alimentos sejam naturais. E os alimentos serão naturais quando o juiz calcula, alem da subsistência: educação, lazer, cultura, etc.
	Ao lado dos alimentos naturais, o Código de 2002 criou uma nova categoria. Agora figuram os alimentos necessários que também são chamados de alimentos para a subsistência. Estão previstos nos arts. 1.704, § único e art. 1.694, § 2º. Os alimentos serão necessários quando eles corresponderem ao mínimo que pessoa precisa para sobreviver. Claro. Se a regra geral são os alimentos naturais, é porque os alimentos necessários somente terão cabimento nos casos previstos em lei. Somente terão cabimento nas hipóteses taxativamente previstas em lei. E quais são elas? Os dois artigos você anotou. Os casos previstos em lei significam: quando os alimentos decorrem de culpa de quem o pleiteia. As duas hipóteses previstas em lei de alimentos necessários são os alimentos decorrentes de culpa de quem os pleiteia. Nesse caso, serão puramente necessários para a subsistência. É uma verdadeira cesta básica. Os alimentos para subsistência são alimentos necesarium vitae porque não são necessários da pessoa, mas à vida. Aqui, já não há a ideia de manutenção do padrão. Aqui já não há educação, lazer, cultura. Aqui, é exclusivamente subsistência, manutenção. Os alimentos necessários ou para subsistência são aqueles dedicados à sobrevivência do credor, do titular. No nosso sistema os alimentos somente serão necessários nos casos previstos em lei e esses casos são os dos colocados abaixo: do cônjuge ou companheiro culpado pela dissolução da afetividade. É o cara que batia na mulher. Outro exemplo: filho indigno.
	Art. 1.704. Parágrafo único. Se o cônjuge declarado culpado vier a necessitar de alimentos, e não tiver parentes em condições de prestá-los, nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge será obrigado a assegurá-los, fixando o juiz o valor indispensável à sobrevivência.
	Art. 1.694. § 2º Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia.
	
	A culpa do credor não extingue a prestação alimentícia. A culpa do credor não extingue, não mitiga o direito a alimentos. A culpa do credor modifica a sua natureza. Não lhe retira o direito de receber alimentos, apenas modifica a sua natureza. Em vez de fazer jus aos naturais, ele passa a ter direito a alimentos puramente necessários, ligados à subsistência. Há portanto, uma mudança na natureza dos alimentos quando decorrentes de culpa.
	b)	Quanto à CAUSA – Os alimentos podem ser:
Legais ou legítimos
Voluntários 
Ressarcitórios
	O critério aqui, quanto à causa, à origem dos alimentos, é tripartiti. 
	Alimentos legais ou legítimos – são os alimentos que decorrem de uma relação de direito de família. 
	Voluntários – serão voluntários quando decorrerem da vontade das partes. Aqui pode ser doação (uma pessoa estabelece doação para outra sob forma de subvenção periódica, alimentos voluntários), que é uma vontade inter vivos ou pode ser testamento (a pessoa deixa um legado sob forma de alimentos), vontade causae mortis. 
	Ressarcitórios – decorrem da responsabilidade civil, do dever de indenizar, quando o juiz fixa a indenização em prestações periódicas. Se o juiz fizer isso, nós teremos aí alimentos ressarcitórios, reparatórios. O art. 475-Q, do CPC, estabelece a possibilidade de o juiz fixar a indenização em prestações periódicas.
	Art. 475-Q. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, o juiz, quanto a esta parte, poderá ordenar ao devedor constituiçãode capital, cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão. (Acrescentado pela L-011.232-2005)
	
	Sempre que o juiz fixar a indenização em prestações periódicas, portanto, alimentos indenizatórios, alimentos ressarcitórios, toda vez que o juiz faz isso, ele deve determinar a constituição de capital para assegurar o pagamento. Os parágrafos desse artigo vão dizer que esse capital constituído pode ser sobre bens móveis, imóveis, títulos da dívida pública, mas pode também o incluir o devedor em desconto em folha de pagamento. O devedor condenado em processo a ressarcir o autor e lhe são fixadas prestações periódicas. A hipótese mais comum de fixação de prestações periódicas é morte de parente. Nesse caso, o juiz fixa indenização em prestações periódicas e fazendo isso ele determina a indenização em prestações periódicas e, concomitantemente, ele determina a constituição de capital para assegurar o pagamento. O devedor vai ter que constituir o capital para garantir o pagamento. Esse capital vai ser constituído por bens móveis, imóveis, títulos da dívida pública e agora, permite o código, que se substitua o capital garantia pela inclusão em folha de pagamento ou em desconto direto em folha. É a importante novidade do art. 475-Q, do CPC, no que tange aos alimentos ressarcitórios, indenizatórios.
	A grande diferença entre os alimentos legais, voluntários e ressarcitórios é que somente é possível a prisão civil como meio executivo do coerção, nos alimentos legítimos, nos alimentos de direito de família. Os alimentos voluntários e ressarcitórios não permitem o uso da prisão civil. Eles devem ser executados com penhora, na admitido o uso da prisão civil. Prisão civil é somente para os alimentos de direito de família, para os alimentos legítimos
	§ 1º Este capital, representado por imóveis, títulos da dívida pública ou aplicações financeiras em banco oficial, será inalienável e impenhorável enquanto durar a obrigação do devedor.
	§ 2º O juiz poderá substituir a constituição do capital pela inclusão do beneficiário da prestação em folha de pagamento de entidade de direito público ou de empresa de direito privado de notória capacidade econômica, ou, a requerimento do devedor, por fiança bancária ou garantia real, em valor a ser arbitrado de imediato pelo juiz.
	§ 3º Se sobrevier modificação nas condições econômicas, poderá a parte requerer, conforme as circunstâncias, redução ou aumento da prestação.
	§ 4º Os alimentos podem ser fixados tomando por base o salário-mínimo.
	§ 5º Cessada a obrigação de prestar alimentos, o juiz mandará liberar o capital, cessar o desconto em folha ou cancelar as garantias prestadas.
	
	c)	Quanto à FINALIDADE – Os alimentos podem ser:
Provisórios
Provisionais
Definitivos
	Quanto ao que se destinam os alimentos, o critério é mais processual do que material.
	Provisórios – Art. 4º, da Lei de Alimentos (Lei 5.478/68), estabelece que os alimentos provisórios são antecipatórios, tem natureza antecipatória. São fixados initio litis. Nesse caso, o juiz pode fixar de ofício os alimentos provisórios. Nem precisa de pedido da parte porque o art. 4º diz que o juiz apenas deixará de fixá-los quando a parte expressamente declarar que deles não precisa. Ele os fixará mesmo que seja de ofício. 
	Art. 4º As despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios a serem pagos pelo devedor, salvo se o credor expressamente declarar que deles não necessita.
	Os alimentos provisórios têm natureza antecipatória. É uma antecipação de tutela dentro de uma ação de alimentos. Detalhe: só é possível a fixação de alimentos provisórios na ação de alimentos ou em outras ações que venham cumuladas com alimentos como, por exemplo, dissolução de união estável, separação e divórcio. Isso porque os alimentos provisórios têm natureza antecipatória, correspondem a uma antecipação da tutela. E você deve estar pensando que é o do art. 273, do CPC. O art. 273, do CPC, estabelece uma antecipação de tutela genérica, submetida a requisitos genéricos. Aqui, eu não estou falando de uma antecipação genérica. Aqui estou falando de uma antecipação de tutela submetida a um requisito específico, qual seja, a prova pré-constituída. O requisito específico para a concessão dos alimentos provisórios é prova pré-constituída. Havendo prova pré-constituída, nós já podemos dizer que o juiz pode conceder os provisórios. Mas prova pré-constituída de quê? Da causa dos alimentos. E qual é a causa dos alimentos? Causa de direito de família. E qual é? A relação de parentesco, o casamento ou a união estável. Havendo prova da relação familiar na petição inicial, provando que o réu é o pai, que a ré é esposa ou companheira, nesses casos é possível a concessão de alimentos provisórios de natureza antecipatória e submetidos a requisitos específico: prova pré-constituída da relação familiar.
	Quero dizer que, nesse caso dos alimentos provisórios, você percebe um detalhe importante: os alimentos provisórios sempre serão concedidos em ação de alimentos ou em ação que venha cumulada com alimentos, porque os alimentos provisórios nada mais são do que a antecipação da tutela jurisdicional dos próprios alimentos.
	Provisionais – Já os alimentos provisionais estão previstos no art. 852, do CPC. Os alimentos provisionais são alimentos submetidos a um procedimento cautelar, malgrado tenham natureza satisfativa. Apesar de terem natureza satisfativa, estão submetidos a um procedimento cautelar. São de natureza satisfativa porque são irrepetíveis. Ninguém devolve o que recebe. Em sendo assim, é lógico que não podem natureza cautelar. Eles têm apenas procedimento cautelar. E não natureza cautelar. Eles têm natureza satisfativa (porque são irrepetíveis). Os valores recebidos a títulos de alimentos provisionais não se repetem. Não são restituídos.
	Art. 852 - É lícito pedir alimentos provisionais:
	I - nas ações de desquite e de anulação de casamento, desde que estejam separados os cônjuges;
	II - nas ações de alimentos, desde o despacho da petição inicial;
	III - nos demais casos expressos em lei.
	Parágrafo único - No caso previsto no nº I deste artigo, a prestação alimentícia devida ao requerente abrange, além do que necessitar para sustento, habitação e vestuário, as despesas para custear a demanda.
	Se os alimentos provisionais têm procedimento cautelar, é possível perceber que eles podem ser preparatórios ou incidentais, em qualquer outra ação. Em qualquer ação, os alimentos provisionais podem ser preparatórios ou incidentais e são submetidos aos mesmos requisitos das cautelares. O que quero dizer que é que os alimentos provisionais estão submetidos ao fummus boni iuris e ao periculum in mora, que são os requisitos genéricos das cautelares.
	E quem pede alimentos provisionais? São aquelas pessoas que não possuem prova pré-constituída. Aquelas pessoas que ainda não têm prova pré-constituída, propõem ação de alimentos com a fixação de alimentos provisórios. Quem ainda não tem prova pré-constituída para propor ação de alimentos e requerer os alimentos provisórios, essa pessoa vai requerer, de forma urgente, alimentos provisionais. Eles podem ser preparatórios ou incidentais. De que ação? De qualquer uma. Pode ser de uma ação de alimentos, porque eu posso promover uma ação de alimentos e ainda não ter prova pré-constituída. Se eu promovo a ação de alimentos sem prova pré-constituída, como eu sei que vai demorar muito, eu já peço alimentos provisionais. Pode ser também em investigação de paternidade, em dissolução de união estável. O autor da ação está morrendo de fome. Ele tem fummus boni iuris, ele tem periculum in mora, ele propõe alimentos provisionais preparatórios e depois a investigação de paternidade. Dissolução de união estável. Ainda não tem prova suficiente, mas a companheira precisa de alimentos e serão alimentos provisionais porque ela ainda não tem prova pré-constituída. Então sempre que a parte não tiver prova pré-constitída ela se vale de alimentos provisionais, de forma preparatória ou incidental,submetidas aos requisitos da cautelar. 
	Claro que os alimentos provisionais não têm natureza cautelar, porque são irrepetíveis. Importante receber que, do ponto de vista prático, provisórios e provisionais desembocam no mesmo lugar porque apesar de terem natureza distintas (provisórios, natureza antecipatória; provisionais, natureza satisfativa com procedimento cautelar), vão dar no mesmo lugar: visam conceder subsistência a quem precisa em caráter de urgência. Provisórios são alimentos antecipatórios, provisionais são alimentos cautelares, não por natureza, mas por procedimento.
	Definitivos – Os alimentos definitivos são aqueles fixados por sentença (na ação de alimentos ou em outra ação que tenha pedido de alimentos cumulado). Estão submetidos à cláusula rebus sic stantibus. São aqueles fixados para perdurar enquanto se mantiver a situação fática subjacente. Alterada a situação fática subjacente, é possível alterar os alimentos definitivos. Mas alterar como? Por meio de ação revisional ou exoneratória. 
	Duas informações importantíssimas:
1ª Informação: 	Tanto os provisórios quanto os provisionais e os definitivos admitem execução com prisão civil. É possível executá-los sob pena de prisão. Isso porque todos eles são alimentos de direito de família, legítimos.
2ª Informação: Tanto os provisórios quanto os provisionais e os definitivos são pedidos desde a data da citação. Todos eles são devidos desde a data da citação. É o art. 13, § 2º, da Lei de Alimentos:
	§ 2º. Em qualquer caso, os alimentos fixados retroagem à data da citação.
	
	O juiz fixou, a título de provisórios, um salário-mínimo. Na sentença, ele majorou para dois. O réu vinha cumprindo. E já está devendo um salário-mínimo desde a citação porque os alimentos definitivos são devidos desde a citação. E o contrário: o juiz fixou os provisórios em dois, na sentença diminuiu para um. Ele tem direito de cobrar a diferença? Não, porque os alimentos são irrepetíveis. Confirmando essa regra, a Súmula 277, do STJ, que incorpora a ideia de que os alimentos são devidos desde a citação:
	STJ Súmula nº 277 - DJ 16.06.2003 - Julgada procedente a investigação de paternidade, os alimentos são devidos a partir da citação.
	Mesmo quando os alimentos sejam fixados na sentença da investigação de paternidade, eles são devidos desde a citação. É a regra do art. 13, § 2º, da Lei de Alimentos.
	Eu disse que os alimentos definitivos são aqueles submetidos à cláusula rebus sic stantibus. Devem perdurar enquanto se mantiver a situação fática subjacente. Enquanto a necessidade e a capacidade se mantiverem, a obrigação alimentícia se mantém. 
	Observação:	Considerando que os alimentos definitivos estão submetidos à cláusula rebus sic stantibus, como fazer, naquelas situações em que o credor, a alimentando (credor) pode prejudicar o alimentante (devedor) pela sua inércia? Eu vou dar dois exemplos:
	A ex-esposa ou ex-companheira jovem que está se separando ou se divorciando, dissolvendo a união estável. Agora ela vai ficar solta, namoradeira. Ela pode trabalhar de novo, pode arrumar um emprego e se manter. Mas há um problema. É que nesse casamento, ela largou tudo e foi cuidar dos filhos, da família, do marido, etc. Ela, descasada, precisa se manter e precisa de um tempo para voltar ao mercado de trabalho, se reorganizar. É justo que ela receba alimentos. Então, o juiz fixa os alimentos provisórios (porque ela fez prova de que era casada), na sequência converte os provisórios em definitivos e agora ela tem direito a alimentos definitivos com a cláusula rebus sic stantibus. Enquanto ela não arranjar emprego, a situação fática não modifica e os alimentos vão se mantendo. Sabe quando ela vai arrumar emprego? Nunca. Porque se ela fizer isso, sua situação fática se modifica e os alimentos cessam. O bom para ela é não arranjar emprego, é não voltar ao mercado de trabalho, por conta da cláusula rebus sic stantibus.
	Agora vamos ao exemplo do filho maior de idade que está estudando, fazendo faculdade. Se ele fazia medicina, agora precisa fazer residência. É justo pagar pensão a ele. Se ele continuar estudando, fazendo mestrando, doutorado, pós-doutorado, não parar de estudar nunca e jamais arranjar um emprego, o pai continua obrigado a prestar alimentos. 
	Para esses casos em que a inércia do credor pode prejudicar o devedor temporalmente, fala-se em alimentos transitórios, que constituem uma criação doutrinária e jurisprudencial no sentido de permitir que o juiz fixe alimentos por tempo determinado. Alimentos transitórios são aqueles fixados por tempo determinado, são alimentos resolúveis, alimentos por prazo determinado. Em outras palavras, são alimentos submetidos a termo ou condição. O juiz fixa os alimentos por tempo determinado e os alimentos que podem ser por tempo determinado são, de regra, os definitivos. Mas nada obsta que ele tenha os provisórios transitórios. Nada impede que ele estabeleça os provisionais transitórios. Nada. Ele pode dar alimentos, qualquer um, provisórios, provisionais ou definitivos, por tempo determinado. Se os alimentos são transitórios não é necessária a propositura de ação exoneratória porque os alimentos cessam automaticamente pelo advento do termo ou implemento da condição. advindo o termo ou implementada a condição, cessam automaticamente os alimentos transitórios porque foram constituídos para atender a uma situação transitória, temporalmente passageira. 
	E se o credor precisar dos alimentos provisórios depois daquele tempo? Vamos supor que durante o tempo fixado, o filho ficou doente, ela precisou acompanhá-lo em um tratamento, enfim, não teve condições de arranjar um emprego. Passou o tempo e ela continua precisando daqueles alimentos provisórios. O que fazer agora? Promover uma nova ação de alimentos. Tudo de novo, desde o início, provar novamente que precisa. Começa tudo de novo porque os transitórios são alimentos por tempo determinado. Criação da doutrina e da jurisprudência.
	3.3.	CARACTERÍSTICAS DOS ALIMENTOS
	a)	A obrigação alimentícia é personalíssima – é intuitu personae em razão das pessoas envolvidas. Os alimentos são intuitu personae porque decorrem das peculiaridades das pessoas envolvidas, logo, devem levar em conta a necessidade de quem recebe, a capacidade contributiva de quem paga e a proporcionalidade, para que tenham caráter personalíssimo e atendam as necessidades de cada pessoa. Dizer que os alimentos são personalíssimos, conclui-se em sequência lógica, que seriam também intransmissíveis. Ou seja, a morte do credor ou a morte do devedor extinguiria a obrigação alimentícia. Esse é o problema:
	b)	A obrigação alimentícia é transmissível – Estranhamente, muito estranhamente, apesar de os alimentos terem natureza personalíssima, são transmissíveis. A morte do credor ou do devedor não extingue a obrigação. O art. 1700, do CC estabelece:
	Art. 1.700. A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694.
	
	Quando da morte do devedor, a obrigação se transmite. É estranho. Eu fico pensando o seguinte: imagine que eu e Juliana somos irmãos. Eu sou nascido dentro do casamento e ela é nascida fora do casamento. Eu era filho de Cássio e convivia com ele. Não recebia alimentos porque convivia com ele. Mas Juliana foi reconhecia e recebia alimentos de Cássio. Se a obrigação de pagar alimentos se transmite aos herdeiros e nós dois somos os herdeiros, isso significa que, proporcionalmente, ela ficará com mais do que eu porque dividirá comigo a herança e, além disso, receberá alimentos. Isso quebrará a paridade constitucional entre os filhos. Por isso, a doutrina brasileira, a exemplo de Carlos Roberto Gonçalves (Professor Sinopse), e a jurisprudência, resolveram estabelecer critérios para regular a transmissibilidade da obrigação alimentícia. 
	Critérios para a transmissão dos alimentos (para a aplicação do art. 1.700, do CC):
1º Critério – Que o credor não seja beneficiário do espólio – Dizer isso significa dizer que ele não pode ser nem herdeiroe nem legatário porque se ele for herdeiro ou legatário, ele já tira do espólio herança ou legado. Se ele vier a tirar alimentos, ele quebra a igualdade. Mas como pode o alimentando não ser nem herdeiro nem legatário? A hipótese em que ele não será nem herdeiro e nem legatário não é a dos filhos porque filho sempre será herdeiro. É a hipótese da ex-mulher. Cássio morreu e deixou uma ex-mulher que recebia alimentos. Ela pode cobrar os alimentos do espólio porque ela não é herdeira, mas apenas ex-mulher. Se você é filho de pais separados e o seu pai já tem uma criatura com ele, torça para ele não se separar da sua madastra porque se ele se separar da sua madastra, ela pleitear alimentos e o juiz fixar, quando seu pai morrer, sabe quem vai pagar os alimentos da sua madastra? Você! É você quem paga os alimentos da sua madastra porque ela não é nem herdeira e nem legatária. Ela não é beneficiária do espólio.
2º Critério – Respeito às forças da herança – Os alimentos apenas se transmitem para os legatários nos limites da força da herança, ou seja, se não tem patrimônio, não vai pagar. Somente se o espólio produzir frutos, haverá o pagamento. Seu pai morreu e deixou um imóvel. Só que você mora nesse imóvel com sua mãe e seus irmãos. Sobram frutos? Não. Vai pagar os alimentos da ex-mulher? Não, porque não produz frutos. Mas se seu pai deixou empresa, que produz dividendos, ou deixou vários imóveis alugados, haverá frutos. Neste caso será possível transmitir a obrigação alimentícia que será paga com os frutos do espólio. O credor de alimentos que não é herdeiro nem legatário receberá alimentos dos frutos do espólio, não do espólio em si.
3º Critério – Temporal: os alimentos cessam com a prolação da sentença de partilha – Os alimentos são transmitidos nos limites da sentença de partilha. Até a prolação da sentença de partilha. Proferida a partilha, cessam os alimentos. Depois da partilha, não há mais espólio e se não há mais espólio, os alimentos se extinguem, lembrando que os alimentos somente incidem sobre os frutos. É assim que vamos enxergar esse estranho art. 1.700, do Código Civil, que é o que menciona a transmissibilidade da obrigação alimentícia.
	c)	Alimentos são impenhoráveis – Não se pode penhorar aquilo que se recebe a título de alimentos. São impenhoráveis e incompensáveis. Mas há exceção. Os alimentos admitem penhora ou compensação quando estiverem em confronto com outra obrigação de alimentos. Os alimentos, excepcionalmente, admitem penhora ou compensação, para o cumprimento de uma obrigação de mesma natureza. Quando ela tiver obrigação de mesma natureza, excepcionalmente, será admitida a penhora ou a compensação.
	d)	Os alimentos são futuros – Frutos no sentido de irretroativos, no sentido de que não retroagem. O pai nunca pagou. Como cobrar os atrasados? Não cobra os atrasados porque os alimentos são irretroativos. Alimentos são para subsistência e se eu subsisti até aqui, eu não preciso do alimento para trás, mas preciso do alimento daqui para frente. Os alimentos são futuros e são devidos, sempre, desde a data da citação. Art. 13, § 2º, da Lei de Alimentos.
	e)	Os alimentos são imprescritíveis – A ação de alimentos pode ser promovida a qualquer tempo. E os alimentos serão devidos dali para frente, desde a data da citação. Mas não esqueça que a execução dos alimentos já fixados judicialmente submetem-se a prescrição. Não é a cobraça. Cobrar não tem prazo. Eu posso cobrá-los a qualquer tempo. Mas a execução dos alimentos já fixados judicialmente tem prazo prescricional. É de 2 anos. Art. 206, § 2º, do Código Civil:. Ou seja, a pretensão executiva dos alimentos prescreve em dois. A prescrição cognitiva não prescreve. Eu posso pleiteá-los a qualquer tempo, mas executar os alimentos que foram fixados pelo juiz, prescrição executiva de dois anos.
	§ 2º Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem.
	Não corre prescrição contra o absolutamente incapaz, você já viu isso comigo (art. 198, CC). Contra o relativamente incapaz, corre. 
	Art. 198. Também não corre a prescrição: I - contra os incapazes de que trata o art. 3º;
	
	A prescrição só começa a correr quando ele fizer 16 anos. Enquanto ele não fizer 16 anos, a prescrição contra ele não corre.
	f)	Os alimentos são irrepetívies – Significa que os alimentos são irrestituíveis. Aquilo que se recebeu a título de alimentos, não se restitui, não se devolve. A prestação alimentícia serve para a subsistência. Se alguém recebeu os alimentos, mesmo que se venha a descobrir que aquela pessoa não tinha necessidade, aqueles alimentos não serão devolvidos porque serviram para a sobrevivência. Alimentos não têm natureza de acréscimo patrimonial. Claro que estou falando dos alimentos de direito de família. Eles servem para a subsistência. É por isso que não se repetem. 
	Mas, não esqueçam que a doutrina e a jurisprudência vão flexibilizando a regra da irrepetibilidade dos alimentos dizendo que quando os alimentos foram recebidos ilicitamente podem ser repetidos. Exemplo: a ex-mulher ou companheira que recebe alimentos e que casa de novo escondido. Você sabe que as novas núpcias, a constituição de uma nova família faz cessar a obrigação alimentícia. Se a ex-mulher casou de novo e não comunicou ao devedor, estará recebendo ilicitamente. É o filho que recebe alimentos do pai, que arranja um emprego e não comunica ao pai. Nos casos em que a obrigação alimentícia foi paga ilicitamente, doutrina e jurisprudência admitem a repetição. Essa é uma regra completamente excepcional, porque a regra geral é a não-repetição, são devidos desde a citação e não podem ser repetidos.
	g)	Os alimentos são irrenunciáveis – Significa que os alimentos não admitem renúncia. É o que está no art. 1.707, do Código Civil, que corresponde à Súmula 379, do Supremo, que foi a fonte de inspiração para esse artigo 1,707:
	Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora.
	STF Súmula nº 379 - DJ de 12/5/1964 - No acordo de desquite não se admite renúncia aos alimentos, que poderão ser pleiteados ulteriormente, verificados os pressupostos legais.
	Mas não podemos esquecer que a ex-cônjuges renunciarem aos alimentos nos acordos de separação e divórcio, em especial, quando se trata de separação amigável. E aí o STJ começou a perceber o seguinte: se a ex-mulher renuncia aos alimentos, ela cria nele a expectativa de que alimentos não vai prestar. Se é assim, ele reorganiza a vida acreditando que não terá essa despesa. Se ela reaparece na vida dele e resolve cobrar os alimentos, venire contra factum proprium. Ela está se comportando de forma contraditória. Ato ilícito caducificante. Ela perde o direito de cobrar depois. O STJ, acolhendo esse entendimento, no REsp 701902/SP diz que a renúncia aos alimentos entre cônjuge e companheiros é válida e é eficaz. 
REsp 701902 / SP - NANCY ANDRIGHI - TERCEIRA TURMA - Julgamento 15/09/2005 - DJ 03/10/2005 
Direito civil e processual civil. Família. Recurso especial. Separação judicial. Acordo homologado. Cláusula de renúncia a alimentos. Posterior ajuizamento de ação de alimentos por ex-cônjuge. Carência de ação. Ilegitimidade ativa.
- A cláusula de renúncia a alimentos, constante em acordo de separação devidamente homologado, é válida e eficaz, não permitindo ao ex-cônjuge que renunciou, a pretensão de ser pensionado ou voltar a pleitear o encargo.
- Deve ser reconhecida a carência da ação, por ilegitimidade ativa do ex-cônjuge para postular em juízo o que anteriormente renunciara expressamente.
Recurso especial conhecido e provido.
	Só não se admite a renúncia entre parentes. Parentes não podem renunciar, mas cônjuges e companheiros, sim. E a renúncia é válida e é eficaz, sob pena de venire contra factum proprium.
	Mas ai você pergunta: e o caso daquela mulher que renunciou porque era profissional liberal, mas faliu, ou perdeu o emprego, os filhos são menores,ela não tem nenhum parente, também não tem a quem pedir. Neste caso, a situação não é abusiva e não sendo abusiva, já não se caracteriza o venire contra factum proprium. Aqui não há abuso de direito. Mas a regra geral é a de que entre cônjuges e companheiros é válida e é eficaz de acordo com o STJ. 
	Eu quero dizer, inclusive, que a Súmula 336, do STJ, não colide com esse entendimento:
	STJ Súmula nº 336 - DJ 07.05.2007 - A mulher que renunciou aos alimentos na separação judicial tem direito à pensão previdenciária por morte do ex-marido, comprovada a necessidade econômica superveniente.
	Essa súmula não está alando de pensão alimentícia, mas de benefício previdenciário. A renúncia é válida e é eficaz. A ex-mulher que renunciou pode cobrar de novo do marido? Não. Mas quando ele morrer, se ela provar uma necessidade superveniente, ela pode ser beneficiária previdenciária. Pela previdência, pela pensão previdenciária, se provar necessidade superveniente. A renúncia é válida e eficaz, sob pena de venire contra factum proprium, somente sendo irrenunciáveis os alimentos entre parentes. Mas a ex-mulher que renunciou os alimentos pode cobrar beneficio previdenciário por morte do ex-marido, se provar necessidade superveniente.
	Se o examinador colocar: “de acordo com o Código Civil, os alimentos são irrenunciáveis sempre.” Verdadeiro. O Código Civil diz isso mesmo. “De acordo com a jurisprudência do STJ os alimentos sempre admitem renúncia.” Falso, porque alimentos só admitem renúncia entre cônjuges/companheiros. Mas o que renunciou terá direito à pensão previdenciária por morte se provar necessidade superveniente (Súmula 336 do STF).
	h)	A obrigação alimentícia não é solidária – O art. 265 diz que a solidariedade não se presume e, por conta disso, a obrigação alimentícia não é solidária.
	Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.
	Se a obrigação alimentícia não é solidária, o que dizer do art. 1.698, do Código Civil?
 (Intervalo – 01:34:00)
	Problemas decorrentes do art. 1.698 em relação à não-solidariedade
	O art. 265 diz que a solidariedade não se presume e se é assim, a obrigação alimentícia não é solidária. Mas o que dizer, então, do art. 1698 do Código Civil? Já que a obrigação alimentícia não é solidária, como interpretar o art. 1.698 do Código Civil? Esse é um artigo extremamente relevante porque vai trazer uma novidade que é o reconhecimento de uma regra diferenciada. Ele diz assim:
	Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato (OBRIGAÇÃO SUBSIDIÁRIA); sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos (OBRIGAÇÂO PROPORCIONAL), e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide (NOVA MODALIDADE INTERVENTIVA DE TERCEIROS).
	A primeira parte do artigo está dizendo que os alimentos não são solidários, mas, sim, subsidiários, porque eu só posso cobrar do parente mais distante, depois de cobrar do parente mais próximo. Exemplo: a obrigação alimentícia avoenga, dos avós. Eu só posso cobrar dos avós, depois de ter cobrado os pais. E depois o código diz que os alimentos não são solidários, são proporcionais. A conclusão a que chego: a obrigação alimentícia não é solidária nunca. Ela é subsidiária ou proporcional. 
	Indo mais longe: se existe um parente mais próximo, a obrigação é subsidiária, porque eu só posso chamar os avós depois de chamar os pais. Mas se existe mais de um, exemplo, pai e mãe, e os quatro avós, aí a obrigação não é subsidiária, ela é proporcional. Cada um responde na proporção dos seus recursos. 
	Mas a dificuldade vem aí: e intentada a ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide. O problema todo está aqui. Quando o código fala isso, parece que ele está fazendo alusão ao chamamento ao processo do art. 77, do CPC. Mas se estiver, realmente, falando do chamamento ao processo, isso muito vai me preocupar porque chamamento ao processo é somente quando a obrigação for solidária. Ora, se ele falou em chamar para integrar a lide, estaria se referindo ao chamamento ao processo? Estaria ele transmudando uma obrigação alimentícia em uma obrigação solidária? A doutrina brasileira se divide em dois grupos:
	1ª Corrente:	Fredie Didier, Alexandre Câmara – Entendem que essa figura do art. 1698, parte 	final, trata de um litisconsórcio facultativo. Ora, dizer isso é dizer que o autor decide se ele quer 	promover a ação diretamente contra um e depois se quer chamar os demais. Exemplo: o pai que tem 	vários filhos. Se o pai tem vários filhos, e que promove a ação apenas contra um deles, esse pai 	poderá chamar os demais à lide. Posteriormente. Litisconsórcio facultativo. 
	2ª Corrente:	Maria Berenice Dias – E esse posicionamento é o do STJ, ao qual eu adiro. O STJ, 	seguindo o ensinamento de Maria Berenice Dias entende que não seria litisconsórcio facultativo 	porque se fosse assim, só quem poderia chamar os demais à lide seria o autor. Entendo que quando o 	código diz “podendo os demais ser chamados à lide”, tanto o autor, quanto o réu podem fazê-lo. Se 	o meu pai ajuíza uma ação contra mim, somente tenho eu o direito de chamar os demais à lide. Não 	pode ser litisconsórcio facultativo. Trata, em verdade, de uma nova modalidade de intervenção de 	terceiros, de um novo mecanismo de intervenção de terceiros. Uma intervenção de terceiros especial, 	prevista no Código Civil. E se é uma nova modalidade de intervenção de terceiros, tanto o autor, 	quanto o réu podem chamar os demais. Se o meu pai ajuizou uma ação somente contra mim, eu 	tenho interesse, sim, de chamar os meus irmãos. Apesar da minha capacidade contributiva ser maior, 	os meus irmãos também podem ter e cada um contribui proporcionalmente.
	Veja, portanto, que se trata de um novo modelo de intervenção de terceiros, quando não, um litisconsórcio facultativo, como entendem Didier e Câmara, o que obstaria a utilização pelo réu. De qualquer forma, uma coisa é certa: confirma-se com isso, que a obrigação alimentícia não é solidária. Ela é subsidiária e proporcional. Subsidiária quando há um devedor mais próxima, proporcional, quando há mais de um devedor próximo, seja subsidiária, seja proporcional, a obrigação alimentícia não é solidária porque a solidariedade não se presume.
	Tem EXCEÇÃO – Existe um caso e somente um em que a obrigação alimentícia é solidária. É aquela em favor de pessoa idosa. Art. 12, do Estatuto do Idoso (Lei 10.741/01), que expressamente estabelece que, em favor de pessoa idosa, a obrigação alimentícia é solidária. Vale dizer: o idoso pode escolher um só e cobrar toda a obrigação alimentícia daquela pessoa.
	3.4.	SUJEITOS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTÍCIA
	O art. 1694 vai estabelecer quem são os sujeitos da obrigação alimentícias:
	Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.
	 É claro que há especificidades em relação à obrigação alimentícia devida a esses sujeitos.
	a)	Peculiaridades dos alimentos em favor de cônjuges/companheiros
	Em favor de cônjuge/companheiro, os alimentos somente são devidos depois da dissolução da união conjugal, do casamento ou da união estável. É que durante o casamento ou união estável, durante a convivência os cônjuges têm um em relação ao outro dever de assistência material. E isso acontece cada um contribuindo na proporção dos seus recursos. Quem ganha mais, proporcionalmente presta uma assistência maior. Cessado o casamento ou a união estável, os cônjuges ou companheiros terão entre si o dever de alimentos. E ainda assim, se provada a necessidade. 
	Outro detalhe importante é que você não pode esquecer é que as novas núpcias podem trazer interessantíssimos efeitos, produzir consequências. Sequem casou de novo, ou constituiu nova família, foi o devedor dos alimentos, o único efeito decorrente é a possibilidade de revisão do quantum. Se isso implicasse no aniquilamento da obrigação, todo devedor de alimentos iria casar de novos, nem que fosse simuladamente. A constituição de uma nova família pelo devedor implica em possibilidade de revisão. Só.
	Porém, a constituição de uma nova família pelo credor dos alimentos implica em exoneração. 
	
	Outro detalhe importante: a obrigação alimentícia entre cônjuges não condiciona o direito de visitas. O que eu quero dizer é que se porventura o cônjuge estiver devendo alimentos, isso não lhe subtrai o direito de visita porque visita não se constitui em favor do pai ou a mãe, mas em favor do próprio filho. O beneficiário da visita é o filho e não o pai, motivo pelo qual o débito alimentício não influencia no direito de visita e não poderia ser diferente.
	b)	Peculiaridades dos alimentos em favor de parentes
	Não são todos os parentes. Na forma do art. 1.697, do Código Civil, os alimentos são devidos entre parentes em linha reta (ascendentes ou descendentes) e colaterais de segundo grau (irmãos). Significa que os parentes colaterais de 3º (tio e sobrinho) e 4º graus (primos, tio-avô e sobrinho-neto) não têm direito a alimentos entre si. Não podem reclamar alimentos entre si. Isso está no art. 1.697.
	Pessoalmente, partilho a opinião de Maria Berenice Dias, para quem, não condenar colateral de 3º e 4º grau a pagar alimentos é quebrar a reciprocidade porque colateral de 3º e 4º grau têm direito de receber herança e, se é assim, deveriam também prestar alimentos. Para mim, há um outro fundamento. É que se os alimentos são baseados na solidariedade, os parentes de 3º e 4º grau deveriam ser obrigados prestar alimentos, ou seja, você deveria ter o direito de cobrar alimentos do seu primo, do seu tio, do seu tio-avô, do seu sobrinho-neto, por um motivo simples: alimentos correspondem à solidariedade familiar. Mas está escrito no código que colateral só pode pleitear alimentos do segundo grau (irmãos). Mas não esqueça que os alimentos são subsidiários, ou seja, eu só posso buscar o parente mais distante depois de buscar o parente mais próximo. Só posso buscar o meu bisavô depois de ter cobrado do meu pai e do meu avô.
	Parentes por afinidade não fazem jus aos alimentos porque o único efeito que decorre do parentesco por afinidade é o impedimento matrimonial. 
	
	A nova Lei de Adoção, que modificou mais d e200 artigos do ECA, expressamente diz que os alimentos também podem decorrer de guarda e tutela. Adoção é induvidoso. Gera parentesco. Mas, para além do CC, o ECA também prevê a obrigação alimentícia na guarda e na tutela. O guardião e o tutor também podem ser obrigados a prestar alimentos.
	Alimentos gravídicos – Além da guarda e da tutela, não esquece da Lei 11.804/08 (Lei dos Alimentos Gravídicos). É bom você saber que esta lei estabeleceu a possibilidade de alimentos em favor do nascituro. O legitimado é o nascituro. A forma de ser promovida é: “o nascituro diz, representado pela sua mãe, pleiteando os alimentos gravídicos.” Na medida em que se afirma que os alimentos gravídicos são em favor do nascituro e não da gestante, a lei diz que fixados os alimentos gravídicos e vindo a nascer com vida a criança, caso não haja impugnação, os alimentos gravídicos se convertem em pensão alimentícia. Está na lei! A lei diz expressamente isso. E se se convertem em pensão, é porque não são em favor da mãe, mas do filho, porque se fossem em favor da mãe, não poderiam ser convertidos em pensão alimentícia para o filho. 
	A concessão dos alimentos gravídicos não se submetem à prova pré-constituída. Meros indícios bastam. Até porque a prova pré-constituída na fase gestacional seria muito difícil. Exigiria DNA de líquido amniótico, algo difícil e perigoso para o feto. Por isso, diz a lei: a concessão dos alimentos gravídicos decorrem de meros indícios. Que indícios? Prova testemunhal de que saíam juntos, mensagens de internet. 
	E se ele não for o pai? Os alimentos são irrepetíveis e, se é assim, não vai cobrar de volta. Mas essa irrepetividade tem tempo: até o nascimento. Pode acontecer de uma mulher estar grávida e ter dúvidas sobre quem é o pai. Ela pode cobrar de todos eles. A obrigação será dividida entre eles. Assim decidiu o TJ/RJ. Uma mulher ganhou alimentos gravídicos dos três. Litisconsórcio facultativo. Você pode verifica que o art. 46, IV do CPC fala em ponto de afinidade em comum:
	
	Art. 46 - Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando: IV - ocorrer afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de direito.
	Na ação de alimentos gravídicos, o prazo para contestação é de apenas 5 dias. E a fixação dos alimentos é baseada em meros indícios.
	Alimentos em favor do filho maior de idade – Aqui eu vou chamar a sua atenção porque há uma regra que eu quero que você aprenda. Alimentos em favor de filho se submetem a uma regra binária. Qual é ela? Alimentos são em favor de filho menor que está sob o poder familiar do pai são diferentes dos alimentos em favor do filho maior. E onde está a diferença? Em favor do filho menor, os alimentos decorrem do poder familiar, portanto, há presunção de necessidade. Já o filho maior precisa provar a necessidade. Exige-se prova da necessidade dos alimentos.
	A simples maioridade, por si só, não é fator suficiente para a exoneração dos alimentos. Por que não? Porque ao atingir a maioridade, o filho não deixa de ter a necessidade, mas a presunção de necessidade. A partir dos 18, ele precisa demonstrar para o juiz a necessidade da obrigação alimentícia. Por isso, a exoneração dos alimentos decorrentes da maioridade reclama a produção de contraditório. Se o filho fez 18 anos e o pai ajuizou uma ação exoneratória é necessário formar o contraditório. Nesse sentido, a Súmula 358, do STJ:
	STJ Súmula nº 358 - 13/08/2008 - DJe 08/09/2008 - O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.
 
	A maioridade não leva à perda do direito, só faz cessar a presunção da necessidade dos alimentos.
	Alimentos nas uniões homoafetivas – Reconhecida a união homoafetiva como entidade familiar, a jurisprudência vem nutrindo simpatia por reconhecer a obrigação alimentícia nas uniões homossexuais. 
	
	3.5.	REGRAS DE FIXAÇÃO DOS ALIMENTOS
	A fixação dos alimentos submete-se a uma regra de equidade (art. 15 e 16, da Lei de Alimentos). 
	Art. 15. A decisão judicial sobre alimentos não transita em julgado e pode a qualquer tempo ser revista, em face da modificação da situação financeira dos interessados.
	Art. 16. Na execução da sentença ou do acordo nas ações de alimentos será observado o disposto no artigo 734 e seu parágrafo único do Código de Processo Civil. 
	
	Que regra é essa? A regra de equidade submete-se a um trinômio (antigamente se dizia que era a um binômio: necessidade x capacidade). A fixação da prestação alimentícia se submete a um trinômio:
Necessidade de quem recebe
Capacidade contributiva de quem presta
Proporcionalidade
	Os alimentos devem ser fixados com base em regra de equidade. Coma proporcionalidade fica fácil perceber que dos filhos da mesma idade e do mesmo pai podem receber pensões diferentes porque a proporcionalidade pode indicar diferentes necessidades e se as necessidades forem diferentes, também serão diferentes os valores da pensão. A síntese: é a equidade na fixação dos alimentos.
	Falando nisso, chegou um momento maravilhoso da aula. É o de você verificar que a fixação dos alimentos admite a incidência de teses jurídicas bastante arrojadas e importantes:
	a)	Na fixação dos alimentos o juiz pode se valer da teoria da aparência.
	OU seja, ele pode fixar os alimentos, não com base naquilo que o devedor provou receber, mas naquilo que o devedor ostenta, no seu padrão de vida aparente e não no seu padrão de vida demonstrado.Isso é muito importante em se tratando de profissional liberal. Já pensou a dificuldade de provar a renda de um profissional liberal, que não tem salário fixo? Nesse caso, o juiz pode fixar a pensão, não com base nos seus vencimentos, mas nos sinais externos de riqueza. É a incidência da teoria da aparência no âmbito alimentício. Logo, a fixação da pensão pode estar calcada na teoria a aparência.
	b)	A fixação dos alimentos pode estar baseada também na Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica.
	Ao fixar os alimentos, o juiz pode se valer além da teoria da aparência e também da teoria da desconsideração da personalidade jurídica quando se tratar de empresário. Não é raro o empresário esconder sua fortuna na empresa. Atuei num caso em que o devedor era dono de uma empresa de táxi aéreo e colocava tudo em nome da empresa. O automóvel, o apartamento, o talão de cheques, tudo era em nome da empresa e ele recebia por mês a título de pró-labore apenas dois salários mínimos. Nasceu uma filha a quem ofereceu apenas um salário mínimo. Um homem daquele, com um padrão de vida altíssimo. A juíza o condenou com base na desconsideração da personalidade jurídica. Ela passou a obrigação para a empresa. Claro que a desconsideração da personalidade jurídica nos alimentos estará submetida aos requisitos do art. 50, do CC:
	Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.
	A desconsideração da personalidade jurídica nos alimentos estará submetida aos mesmos requisitos do art. 50: desvio de finalidade ou confusão patrimonial. No exemplo que eu dei, confusão patrimonial. Ele confundiu o patrimônio próprio com o patrimônio da empresa. O critério é o objetivo: desvio de finalidade ou confusão patrimonial. É claro que nos alimentos teremos a chamada desconsideração inversa porque nos alimentos não é a desconsideração da empresa para atingir o patrimônio do sócio, mas a desconsideração do patrimônio do sócio para atingir a empresa. Daí se chamar de desconsideração inversa. Absolutamente possível na ação de alimentos para a fixação do valor. Lembrando que essa fixação pode se dar com base na teoria da aparência ou da desconsideração da personalidade jurídica, a requerimento da parte ou do MP, sem possibilidade de desconsideração de ofício.
	Observação: falando da fixação dos alimentos eu não poderia deixar de a possibilidade, que é a chamada paternidade alimentar. O que significa isso? A tese da paternidade alimentar corresponde à possibilidade de fixação dos alimentos contra o genitor nas hipóteses de paternidade afetiva (quando a filiação foi fixada pelo critério afetivo). É possível a cobrança de alimentos contra o genitor quando o pai não tiver condições de prestá-los integramente. É possível a fixação de alimentos contra o genitor, no caso de filiação afetiva, quando o pai não tiver condições de prestá-los integralmente. Imagine que eu tenho um pai afetivo, aquele homem que se apaixonou pela mãe e me registrou. Mas ele não tem condições de prestar os alimentos integralmente. Eu preciso de estudo e de plano de saúde. O meu pai não tem condições de prestar integralmente, mas o meu genitor tem. Eu vou, então, subsidiariamente, acionar o meu genitor. Atenção: em caráter excepcional será possível a fixação de alimentos contra o genitor quando o pai não tiver condições de prestá-los integralmente. É claro que essa fixação não estabelece filiação, não estabelece herança, visitas, nada disso. É exclusivamente para fins alimentares. Por isso, se pode dizer que a admissibilidade excepcional da tese da paternidade alimentar não justifica a paternidade sucessória. Eu posso falar em paternidade alimentar mas não sonhar com paternidade sucessória. Isso porque sob o ponto de vista sucessório já não se justifica a transmissão de patrimônio porque alimentos são para subsistência. Eu não posso reclamar herança do meu genitor. Herança não. Posso reclamar alimentos, quando meu pai não os puder prestar integralmente. A tese da paternidade alimentar foi construída doutrinaria e jurisprudencialmente.
	
	3.6.	PROCEDIMENTO DA AÇÃO DE ALIMENTOS
	Agora você aprende toda a estrutura da ação de alimentos. O procedimento da ação de alimentos é chamado por alguns autores de sumaríssimo. Eu não gosto de fazer isso, para você não confundir com o procedimento sumaríssimo do art. 275, do CPC, nem com o dos juizados especiais cíveis. Prefiro chamar de procedimento abreviado, concentrado, porque é o procedimento mais abreviado de todos os procedimentos do direito brasileiro, do processo civil no Brasil. 
	a)	Petição inicial
	A petição inicial dos alimentos traz duas peculiaridades:
Pode ser promovida pela própria parte, em cartório, dispensada a presença de advogado – Mas e o art. 133, que fala da indispensabilidade do advogado? E o Estatuto da OAB? Harmonizando a Lei de Alimentos com esses diplomas. Chegou-se à seguinte conclusão: o juiz, recebendo a inicial promovida pela parte diretamente em cartório, despacha a inicial e designa advogado ou encaminha para a defensoria pública, para que a defensoria analise se há interesse. Isso acontece também no ECA. Para quem não sabe, a nova Lei de Adoção permite que os procedimentos para colocação em família substituta se iniciem a pedido do próprio interessado em cartório. 
Pode decorrer também do Ministério Público – O MP está legitimado para promover ação de alimentos quando se tratar de criança ou adolescente, independentemente de ter defensoria pública na comarca. Até porque a legitimidade do MP é pela indisponibilidade do direito e não pela condição de pobreza. É a posição do STJ, a partir do art. 201, III, do ECA:
		
	Art. 201. Compete ao Ministério Público:
	III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os procedimentos de suspensão e destituição do pátrio poder, nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem como oficiar em todos os demais procedimentos da competência da Justiça da Infância e da Juventude;
	b)	Fixação dos alimentos provisórios – inclusive de ofício
	c)	Citação do réu (via postal) 
	Aqui na ação de alimentos, a regra é a via postal. No art. 222, do CPC, está que quando se tratar de direitos indisponíveis, a citação tem que ser pessoal, por oficial de justiça. Aqui é direito indisponível, sim, mas a citação é via postal. Esse momento é importante porque os alimentos são devidos desde a citação. A citação indica o momento a partir do qual os alimentos são devidos.
	d)	Audiência una de conciliação, instrução e julgamento
	É uma audiência só para tudo. Nessa audiência, se o autor não compareceu, arquivamento (art. 7º, da lei) e se o réu não comparece é revelia. Porque a audiência é única. Mas se o réu compareceu sem advogado, ele tem o direito para conciliar. Ele só precisa de advogado para a instrução. Se ele compareceu e não fizer a conciliação, será revel. Como a audiência é única, a contestação deve ser apresentada em audiência e o parecer do MP e a sentença também serão em audiência. O STJ vem entendendo corretamente que a audiência única de alimentos somente deve ser cindida quando houver premente necessidade, por exemplo, prova pericial. Fora isso, é sempre única. Já sai o parecer do MP e a sentença.
	e)	Sentença de alimentos, que pode ser ultra petita
	O juiz não está preso ao valor requerido na inicial. Se o autor pediu dois salários. Ele pode dar três, quatro, cinco. O juiz não está adstrito ao limite inicial do pedido. Isso não implica em nulidade. A sentença pode ser ultra petita.
	f)	Recurso – Se o pedido foi procedente, o apelo será recebido no efeito meramente devolutivo
	Significa que se o juiz julgou procedente o pedido, os alimentos já podem ser executados. A apelação será recebida nosseus efeitos meramente devolutivos. Não é possível a execução provisória porque os alimentos são irrepetíveis e, sendo assim, a execução dos alimentos é sempre definitiva, mesmo na pendência de recurso. Se os alimentos não foram deferidos, aí o recurso será recebido no duplo efeito.
	g)	Coisa julgada
	Yussef Cahali diz que a coisa julgada nos alimentos é coisa meramente formal. Isso é falso. Aqui, é coisa julgada material com a cláusula rebus sic stantibus. É possível requerer de novo. Mas a causa de pedir e o pedido da ação revisional e da ação exoneratória são diferentes. Por isso, a coisa julgada que se formou nos alimentos é a coisa julgada material e não meramente formal porque o pedido e a causa de pedir são diferentes. E se é assim, lógico, que a primeira transitou em julgado e fez coisa julgada material com a cláusula rebus sic stantibus.
	Observação: 	O art. 13, da Lei da Alimentos, e também o art. 24, estabelecem que esse procedimento que você anotou se aplica não apenas às ações de alimentos, mas também às ações de revisões de alimentos, de oferta de alimentos e de outras ações que venham cumuladas com alimentos, como separação e divórcio. Com isso, percebemos que é plenamente possível a concessão de alimentos provisórios nessas ações. Em todas essas ações será possível a fixação de provisórios. Eu posso promover uma ação de revisão de alimentos contra o meu pai para aumentar a minha pensão e pedir logo os provisórios. Meu pai pode promover uma ação de oferta de alimentos contra mim e pleitear a concessão dos provisórios. Agora, reconvenção somente é admitida na ação de revisão de alimentos. Só. Na oferta não porque na própria contestação, já se pode impugnar o quantum. Reconvenção, só na ação de revisão. A ação de alimentos não admite reconvenção. A revisional, sim. É uma particularidade da ação revisional de alimentos.
	3.7.	EXECUÇÃO DOS ALIMENTOS
	A especificidade e a peculiaridade do tema, indica que a execução dos alimentos tem regras especiais. E quais são elas? O sistema se organiza com os seguintes tipos de alimentos
Execução dos alimentos vincendos – A execução se dará por desconto em folha ou desconto em outros rendimentos (usufruto, aluguéis, por exemplo).
Execução dos alimentos vencidos – A execução se dá por penhora, de acordo com as regras do CPC (multa de 10%, Astreintes ou prisão civil). 
	A prisão civil, especificamente, vem no CPC, art. 733. O art. 620, do CPC diz que a execução deve se dar de modo menos gravoso. A regra do art. 620 não se aplica aos alimentos. Assim, a execução de alimentos pode se dar sim, da forma mais gravosa, que é a prisão civil. Compete ao credor a escolha do mecanismo executivo, se ele quer penhora ou prisão. Se ele quiser penhora, você já sabe: pelas regras da nova execução do CPC (tem multa, o juiz pode iniciar de ofício, tudo igual). 
	Mas se ele escolheu prisão como mecanismo executivo, aí vêm os detalhes: a prisão só pode perdurar pelo prazo máximo de 60 dias e ela não tem natureza punitiva, mas sim coercitiva. Isso apesar de o CPC falar em 6 meses. Se ele pagar, será imediatamente solto. Como a prisão tem natureza coerciiva, o pagamento da dívida implica em soltura. Mais ainda: ele não terá direito à prisão em regime especial. Ele não faz jus à prisão no regime especial. E o STJ editou a Súmula 309:
	STJ Súmula nº 309 - DJ 19.04.2006 - O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.
	Ou seja, está dizendo que o devedor somente pode ser preso pelas dívidas relativas dos últimos três meses e mais aquelas vincendas ao longo do processo.
Dívida alimentícia atual (3 meses antes da propositura e mais as vincendas no curso do processo) – o código está dizendo que não é possível prender por dívida pretérita.
Dívida alimentícia pretérita – tem que ser executada por meio de penhora. Não cabe prisão.
	Este é um claro exemplo do duty do mitigate the loss. Lembra dele? Dever do credor de mitigar as próprias perdas. Não há dúvida de que esta súmula 309 é a aplicação desse princípio. O credor, devendo minorar as próprias perdas. Se você precisa dos alimentos, executa logo! 
	Quero lembrar que a prisão civil pode ser decretada de ofício ou a requerimento do MP e mais, o remédio cabível contra essa prisão civil é o agravo de instrumento, sem prejuízo do uso do habeas corpus.
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