Buscar

Livro - Processos Grupais

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 38 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 38 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 38 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DINÂMICA GRUPAL:
CONCEITUAÇÃO, HISTÓRIA, CLASSIFICAÇÃO E CAMPOS DE 
APLICAÇÃO
Por Francisco Danúzio de Macêdo CARNEIRO
(FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL/ESCRITÓRIO DE DIREITOS AUTORAIS/CERTIFICADO DE REGISTRO 
NO 173.454) 
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO 1
2. CONCEPÇÕES DA DINÂMICA GRUPAL
2.1. Concepção Ideológica 3 
2.2. Concepção Tecnológica 4 
2.3. Concepção Fenomenológica 5 
3. HISTÓRIA DA DINÂMICA GRUPAL
3.1. Dinâmica Grupal e Condições Históricas dos EUA 
3.2. Fatos Relevantes na História da Dinâmica Grupal 
3.2.1. Trabalhos do Dr. Pratt 
3.2.2. Pesquisas de Hawthorne 
3.2.3. Sistematização da Psicoterapia de Grupo 
3.2.4. Criação da Sociometria 
3.2.5. Fundação do Primeiro Laboratório de Dinâmica Grupal. 
4. CLASSIFICAÇÃO DA DINÂMICA GRUPAL
4.1. Dinâmica Grupal: Psicologia e Sociologia 
4.2. Dinâmica Grupal: Antecedentes e Desdobramentos 
5. APLICAÇÕES DA DINÂMICA GRUPAL
5.1. Saúde 
5.1.1. Grupos Operativos em Doenças Orgânicas 
5.1.2. Grupos Balint 
5.1.3. A Comunidade Terapêutica 
5.1.4. Grupos de Auto­Ajuda 
5.2. Educação 
5.2.1. Apreensão do Conhecimento 
5..2.2. Métodos para Formação de Educadores. 
5.3. Administração 
5.3.1. Teoria Z 
5.3.2. Sociotécnica 
5.4. Serviço Social 
5.4.1. Serviço Social de Grupos­SSG. 
6. REFERÊNCIAS
7. O AUTOR
I ­ INTRODUÇÃO
Neste trabalho estão sintetizados vinte anos de múltiplas experiências e contínuas leituras sobre Dinâmica 
Grupal.
Acreditamos que, por propiciar respostas necessárias para a compreensão e resolução do 
mais essencial dilema humano ­ o relativo à sua convivência social, nos próximos tempos a 
Dinâmica Grupal ocupará nas ciências humanas um papel com importância semelhante ao que 
a Psicanálise vem ocupando desde o início deste século.
Aliás, observa­se que, ao mesmo tempo em que essas duas vertentes do conhecimento humano têm uma 
série de convergências em seus postulados teóricos e em sua aplicabilidade na prática ­ sobre isso, 
Sigmund Freud foi o primeiro a reconhecer que a psicologia individual era também psicologia social ­ 
entre elas há também contrastes significativos, dos quais, pela sua pertinência a esta introdução, 
destacamos apenas um: enquanto a psicanálise foi criada e desenvolvida principalmente por uma única 
pessoa, o próprio Freud, a Dinâmica Grupal é o resultado de trabalhos de múltiplas pessoas, em múltiplos 
campos do conhecimento e da atividade humana.
Nesta Apostila, tentamos fazer uma síntese dessa multiplicidade, o que será feito através de quatro 
capítulos:
è O primeiro contém uma explanação sobre a conceituação da Dinâmica 
Grupal. Nesse capítulo, a natureza interdisciplinar da Dinâmica Grupal está 
expressa numa tríade conceitual: ideológica, fenomenológica e tecnológica. 
è O segundo é um relato contendo os principais fatos e as condições históricas, 
especialmente as relacionadas aos Estados Unidos da América, que permitiram 
o surgimento e o desenvolvimento de uma ciência da grupalidade humana. 
è O terceiro é um sistema de classificação composto de duas partes: uma 
considera a Dinâmica Grupal como sendo um ramo pertencente 
simultaneamente à Psicologia e à Sociologia; na outra, apresenta­se um 
esquema classificatório em que partindo­se dos três autores cujas obras 
consideramos estruturantes para a Dinâmica Grupal — quais sejam, Freud com 
a Psicanálise; Kurt Lewin, com a Teoria de Campo; e Jacob Levy Moreno com 
o Psicodrama e a Sociometria; chega­se aos principais desdobramentos 
teóricos e técnicos da Dinâmica Grupal. 
è No quarto e último capítulo, escolhemos quatro dos principais campos da 
atividade humana — isto é, Saúde, Educação, Administração de Empresas e 
Serviço Social, para demonstrar como é grande a fertilidade, e como já é 
enorme a quantidade de áreas beneficiadas pelos conhecimentos da Dinâmica 
Grupal. 
Finalmente, chamamos ainda a atenção para o fato de que o conteúdo desta apostila se articula e, como 
acontece num díptico, complementa­se com o conteúdo do trabalho "Grupo: esquema estrutural e 
dinâmica grupal", que publicamos em julho de 1999.
2. CONCEPÇÕES DA DINÂMICA GRUPAL
Há diversas concepções para a Dinâmica Grupal. Observamos que, no geral, cada uma delas reflete uma 
posição particular do que seja, e para que serve essa especialidade do conhecimento que trata das relações 
humanas quando em grupos sociais. Basicamente, pode­se classificar todas as concepções de três 
maneiras: ideológica, tecnológica, fenomenológica.
2.1. Concepção Ideológica. Considera que a Dinâmica Grupal é uma forma especial de 
ideologia política na qual são ressaltados os aspectos de liderança democrática e da participação 
de todos na tomada de decisões. Também ressaltam­se as vantagens, tanto para a sociedade 
como para os indivíduos comuns, das atividades cooperativas em pequenos grupos. Dessa 
concepção verifica­se duas linhas de pensamento e ação: uma, idealista; outra, pragmática. 
2.1.1. Linha Idealista­Utópica. Foi especialmente defendida por Jacob 
Levy Moreno em seu amplo Sistema Socionômico ­ esse seria 
formado por comunidades baseadas no amor espontâneo, 
na generosidade e na santidade, na bondade positiva e na 
cooperação pura [1: p. 22]. Para estruturar essas 
comunidades, Moreno propôs as técnicas sociométricas. 
Através delas uma pessoa poderia decidir, de maneira 
consciente e livre, sobre sua participação em um grupo social 
qualquer. 
2.1.2. Linha Pragmática. Foi cientificamente experimentada por Kurt 
Lewin. Com as pesquisas sobre o fenômeno da boa liderança, Lewin 
demonstrou que, quando os seres humanos participavam de atividades 
em grupos democráticos, não somente sua produtividade era 
intensificada, como também o seu nível de satisfação era 
elevado e as suas relações com os outros membros 
baseavam­se na cooperação e na redução das tensões (...) 
nessas circunstâncias, o grupo tornava­se 
suficientemente autônomo para prosseguir sua tarefa 
mesmo quando o líder se ausentava [2: p. 98]. 
2.2. Concepção Tecnológica. Conforme essa concepção, a Dinâmica Grupal refere­se a um 
conjunto de métodos e técnicas usadas em intervenções nos chamados grupos primários, como 
famílias, equipes de trabalho, salas de aula etc. A rigor, o uso de qualquer uma dessas técnicas 
objetiva aumentar a capacidade de comunicação e cooperação e, consequentemente, incrementar 
a espontaneidade e a criatividade dos seres humanos quando em atividade grupal. Todas elas 
podem, didaticamente, ser enquadradas em duas variantes de intervenção: uma, dos Jogos 
Dramáticos; outra, do Psicodrama. 
2.2.1. Jogos Dramáticos. Essa variante privilegia o jogo espontâneo, 
muitas vezes sem regras pré­estabelecidas, para dinamizar a 
grupalidade humana. Essa variante de concepção da Dinâmica Grupal 
é universalmente difundida, isso se dá basicamente pelo fato de que a 
necessidade lúdica do jogo é inerente ao crescimento e 
desenvolvimento humano, e também porque é especialmente aplicada 
na área da educação. ­ Nos países anglo­saxônicos o jogo 
dramático espontâneo é uma atividade comum nas 
escolas de primeiro e segundo grau, sendo incluído na 
disciplina conhecida como Teatro na Educação, pois é 
reconhecido como um meio efetivo de aprendizagem tanto 
para o conteúdo das matérias quanto para a própria vida 
[3: p. XI/XII]. 
2.2.2. Psicodrama. Assim como o seu corolário o Sociodrama, 
o Psicodrama historicamente se originou no Teatro 
Espontâneo ou Teatro da Improvisação fundado por Moreno 
em Viena no ano de 1921. Do Teatro Espontâneo que 
pretendia pôr fim à repetição da conserva dramática do 
teatro convencional e dos clichês de papéis, permitindo 
uma contribuição inteiramente criadora e espontânea para 
que assim pudesse desenvolver novos papéis, nasceu o 
Psicodrama [4: p. 31]. 
Essa variante tecnológica que é centralizada na noção de 
papéis sociais, e que enfatizaa ação corporal, tem sido 
utilizada de uma maneira muito especial no campo terapêutico. 
Para isso, foram desenvolvidas múltiplas técnicas direcionadas 
especialmente para treinamento de papéis (role playing) 
caracterizados como saudáveis. Entre as técnicas criadas por 
Moreno, as mais usadas são: solilóquios, inversão de papéis, 
duplos, espelhos, realização simbólica, psicodança. 
2.3. Concepção Fenomenológica. Aqui estão autores que priorizam suas atividades 
em torno da idéia de que os fenômenos psicossociais que ocorrem nos pequenos 
grupos é resultado de um sistema humano articulado como um todo, uma gestalt. Entre 
esses fenômenos, citam­se: coesão, comunicação, conflitos, formação de lideranças 
etc. Nessa concepção, também pode­se observar duas formações teóricas: uma, a 
Psicologia da Gestalt, que é descritiva, pois centra seus postulados na descrição dos 
fenômenos que ocorrem no aqui­agora do mundo grupal — por exemplo, a 
configuração espacial adotada regularmente por uma unidade grupal; a outra, a 
Psicanálise, que é explicativa por que procura explicar a unidade do grupo através da 
idéia de uma ‘mentalidade grupal’ (instinto social), muitas vezes inconsciente para os 
membros do próprio grupo. 
2.3.1. Psicologia da Gestalt. Dessa escola da Psicologia, o 
grande impulsionador da Dinâmica Grupal foi Kurt Lewin. 
Lewin, em sua Teoria de Campo, desenvolveu um esquema 
sui­generis para explicar as interações humanas: baseando­se 
nos princípios da topologia — ramo da geometria que trata das 
relações espaciais sem considerar a mensuração quantitativa, 
estabeleceu uma teoria dinâmica da personalidade centrada 
na idéia de campo psicológico [5: p. 83] que mantém 
interpendência com múltiplas forças sociais; daí, desenvolveu 
uma metodologia de trabalho: pesquisa­ação (action research), 
na qual o indivíduo é, ao mesmo tempo, sujeito e objeto da 
ação em estudo; e criou o primeiro laboratório de Dinâmica 
Grupal, onde em estudos realizados com grupos primários 
(face to face groups) introduz conceitos retirados da física do 
campo magnético para descrever os fenômenos da 
existencialidade social do ser humano — entre os termos os 
mais comuns são: coesão, locomoção em direção a objetivos, 
procura de uniformidade, atração e equilíbrio de forças; e a 
partir deles concebe a idéia do grupo como um todo 
dinâmico, uma gestalt que não é só resultado da soma dos 
seus integrantes, mas é possuidor de propriedades 
específicas enquanto ‘um todo’ [6: P. 5323]. 
Enfim, para Lewin, esse grupo como uma totalidade dinâmica, 
busca formas de equilíbrio no seio de um campo de forças 
sociais, sendo isso, por exemplo, o que explica a emergência 
de lideranças, fenômenos que aparecem como que 
reunindo um campo social de alto privilégio, e funciona 
como centro de atração de todos os movimentos coletivos 
[7: P. 10]. 
2.3.2. Psicanálise. A utilização dos postulados da Psicanálise 
para explicar a Dinâmica Grupal foi inicialmente tentada por 
Freud em sua obra "Psicologia de grupo e análise do ego". No 
entanto, o esquema conceitual, referencial e operativo [8: 
p. 98] no qual ele desenvolvia sua tarefa, estava referido não 
propriamente ao que atualmente se concebe como grupo 
humano (microgrupo; grupo primário; face to face groups), mas 
sim a fenômenos sociológicos como raças, castas, profissões, 
multidões etc. 
No entanto, Freud ao reconhecer que a psicologia individual 
é, ao mesmo tempo, também psicologia social [9: p. 13], 
teve uma intuição primordial: quando as pessoas se 
organizam em grupos, surgem fenômenos como 
expressão de um instinto especial que já não é redutível — 
instinto social: herd instinct, group mind —, que não vêm 
à luz em nenhuma outra situação [9: p. 14). Completa sua 
intuição com um raciocínio irrefutável: é possível descobrir 
os primórdios da evolução desse instinto no círculo 
familiar [9: p. 14]. 
Wilfredo Bion, partindo das proposições formuladas por 
Melanie Klein em suas pesquisas na clínica psicanalítica com 
crianças, esclareceu, com o termo mentalidade de grupo, o 
significado desse instinto social ­ esse termo designa uma 
atividade mental coletiva que se produz quando as 
pessoas se reúnem em grupo (...) a hipótese de sua 
existência deriva do fato de que o grupo funciona em 
muitas oportunidades como uma unidade, ainda que seus 
membros a isto não se proponham nem disto tenham 
consciência [10: p. 24]. 
A mentalidade grupal seria assim uma espécie de continente, 
‘um todo’ que englobaria todas as contribuições feitas pelos 
membros do grupo. Conforme a concepção bioniana, esse 
fenômeno comporta dois níveis: nível da tarefa; nível dos 
pressupostos básicos — o primeiro, mais ou menos 
relacionado com algo consciente, designado; o segundo, 
menos evidente, mas está rotineiramente presente sob 
forma dos três processos que podem ser inferidos da 
dinâmica grupal, ou seja, dependência, acasalamento e 
luta­fuga. [11: p. 23]. 
Enrique Pichon­Rivière, um psicanalista argentino da escola 
kleiniana, desenvolveu, com sua teoria e técnica do Grupo 
Operativo, esse esquema de Bion. Pichon­Rivière inicia com 
uma definição de grupo ­ conjunto de pessoas ligadas entre 
si por constantes de tempo e espaço, e articuladas por 
sua mútua representação interna, que se propõe, de forma 
explícita ou implícita, a uma tarefa que constitui sua 
finalidade [12: p. 53]. 
Nessa definição Pichon­Rivière sintetizou as duas condições 
sine qua non para a existência de todos os grupos humanos: 
primeira, o termo pessoas articuladas por sua mútua 
representação interna, pressupõe que essas pessoas 
tenham algo que as una num nível superior ao que o filósofo 
francês Jean Paul Sartre definiu como serialidade [12: p. 53]; 
isto é, quando as pessoas se somam sem efetivamente 
estabelecerem comunicações que as unam afetivamente como 
acontece numa fila humana qualquer (em estabelecimento 
bancário, por exemplo); a segunda condição é a tarefa que 
constitui sua finalidade. 
Nessa tarefa, de acordo com a construção bioniana, Pichon­
Rivière percebeu dois níveis: explícito, implícito. O explícito 
está representado pelo trabalho produtivo e planificado 
cuja realização constitui a razão de ser do grupo ­ por 
exemplo, produção material, aprendizagem, cura, lazer etc. 
Sob essa tarefa explícita, subjaz outra, a tarefa implícita, 
que consiste na totalidade das operações mentais que 
devem realizar os membros do grupo, conjuntamente, para 
constituir, manter e desenvolver a sua grupalidade. [12: p. 
53/54]. 
Os pressupostos básicos de Bion estão assim implicitamente 
contidos na mentalidade do grupo em tarefa. E aí se colocam 
como verdadeiros esquemas organizadores do comportamento 
desse grupo, e que, frequentemente, poderá determinar um 
funcionamento grupal aberrante ­ ou excessivamente centrado 
numa liderança pessoal (na hipótese da dependência); ou 
excessivamente centrado numa idéia colocada como 
promessa, esperança para o futuro (na hipótese do 
acasalamento); ou excessivamente centrado na sua 
autopreservação, que é mantida como que o grupo reagisse 
atacando ou fugindo de ameaças internas ou externas 
(hipótese da luta­fuga). 
3. HISTÓRIA DA DINÂMICA GRUPAL
O interesse científico pela Dinâmica Grupal é recente — trata­se de uma ciência do século XX.
No entanto, já no século XVIII que, por ter sido caracterizado por enormes avanços no 
conhecimento humano e pelas grandes revoluções políticas da Inglaterra, da França e da 
Independência Americana, foi chamado de Século das Luzes, viveu Giambattista Vico (1688­
1744), um pensador italiano que hoje é reconhecido por sua aura de precursor das ciências 
humanas.
Vico, em sua obra: "Princípios de uma ciência nova", estabeleceu a diferença entre Ciências 
Naturais e Ciências Humanas, e propôs, como base de estudo dessa última, um princípio 
epistemológico consideradofundamental para o desenvolvimento dos diversos campos do 
conhecimento humanista — quais sejam, Antropologia, Sociologia, Psicologia e a Dinâmica 
Grupal, um ramo da psicologia social. Esse princípio está expresso na fórmula latina: verum 
ipsum factum — isto é, só o feito é verdadeiro; ou, só posso demonstrar logicamente o 
que é obra minha [13: contracapa].
Nos termos da Dinâmica Grupal, esse preceito implicou diretamente na contemporânea 
metodologia científica denominada de pesquisa­ação — nessa, o sujeito pode demonstrar 
logicamente um fenômeno grupal que também é feito, verdadeiramente, por ele enquanto 
membro desse grupo em estudo. Ou seja, ele torna­se sujeito­objeto da pesquisa.
Há também uma notável pertinência epistemológica dessa proposição com a Teoria da 
Espontaneidade de Moreno. A palavra espontâneo, um termo central na teoria moreniana, 
etimologicamente deriva do latim sua sponte: ‘de livre vontade’; o que se produz por 
iniciativa própria do agente, sem ser o efeito de uma causa exterior. Dado que se 
demonstra a relação dos estados espontâneos com as funções criadoras [4: p. 53], então 
pode­se presumir que, em verdade, só o que é criado de maneira espontânea, ‘de livre 
vontade’, pode ser considerado como obra minha; e também disso inferir que só o 
espontaneamente feito é verdadeiro.
Posteriormente a Vico, já durante o século XIX, ocorreram os avanços nas ciências humanas 
que permitiram o estabelecimento das bases conceituais e operativas e a atual sistematização 
científica da Dinâmica Grupal. Dos avanços, três fatos científicos foram fundamentais:
è Em 1839, o pensador francês Augusto Comte em seu "Curso 
de filosofia positiva" criou o termo sociologia — formado do 
latim socius — companheiro; e do grego logía, estudo, para 
definir a nova ciência da sociedade [6: p: 10513]. 
è Em 1879, o psicólogo alemão Wilhelm Wundt criou na 
Universidade de Leipzig o primeiro laboratório de psicologia, 
que, com isso, tornou­se objetiva e experimental; 
è Em 1895, o cientista social francês Gustave Le Bon (1841­
1931) apresentou, em seu pioneiro trabalho sobre a Psicologia 
das Multidões, a proposição básica para o entendimento de 
uma psicologia social: sejam quais forem os indivíduos que 
compõem um grupo, por semelhantes ou dessemelhantes 
que sejam seu modo de vida, suas ocupações, seu caráter 
ou sua inteligência, o fato de haverem sido transformados 
num grupo, coloca­os na posse de uma espécie de mente 
coletiva que os faz sentir, pensar e agir de maneira muito 
diferente daquela pela qual cada membro dele, tomado 
individualmente, sentiria, pensaria e agiria, caso se 
encontrasse em estado de isolamento [9: p. 18]. Essa 
proposição e os argumentos de Le Bon para justificá­la, serviu 
de parâmetro para o estudo sobre Psicologia de Grupo 
publicado por Freud em 1921. 
Contudo, só no século XX, foram estabelecidas as condições para se conferir cientificidade aos 
temos da Dinâmica Grupal. Um relato sobre essas condições pode ser feito considerando­se 
dois níveis de fatos: 1o) Dinâmica Grupal e condições históricas dos EUA. Considera­se alguns 
fatos especificamente relacionados à história dos Estados Unidos da América e suas relações 
com o desenvolvimento da Dinâmica Grupal; 2o) Fatos da história do desenvolvimento da 
Dinâmica Grupal. Apresenta­se uma seqüência de cinco acontecimentos históricos relevantes 
para a consolidação dessa ciência na atualidade.
3.1. Dinâmica Grupal e Condições Históricas dos EUA. As excepcionais condições 
nos campos político­ideológico, econômico, e científico­tecnológico dos EUA neste 
século, foram extremamente favoráveis para o desenvolvimento de uma ciência da 
grupalidade humana naquele país. Quanto a isso, o que é sempre ressaltado é a 
radical coerência entre os postulados da Dinâmica Grupal e os parâmetros do campo 
político­ideológico norte­americano. Essa coerência pode ser observada nos seguintes 
fatos: 
3.1.1. Os ideais de democracia e participação estão presentes 
desde os primórdios da formação social americana — quanto a 
isso o pensador francês Alexis de Tocqueville acentua 
sobretudo o sistema de valores dos imigrantes puritanos 
que povoaram a América, e o seu duplo sentido da 
igualdade e da liberdade [14: p. 214]. 
3.1.2. O associativismo, como uma resposta pragmática às 
enormes dificuldades encontradas pelos primeiros 
colonizadores, é inerente ao processo de formação da nação 
americana. Sobre isso, o mesmo Tocqueville em seu célebre 
tratado "Sobre a democracia na América", publicada em 1864, 
fez a seguinte observação: tenho encontrado na América 
todos os tipos de associações. Os americanos de diversas 
idades, condições e opiniões se associam 
constantemente. Não somente em termos comerciais e 
industriais, mas também religiosos, morais, sérios ou 
fúteis, gerais ou particulares e de grandes ou pequenas 
associações. Na França, você encontra liderando um novo 
projeto, o Estado; na Inglaterra, um grande proprietário e, 
na América, uma associação. [15: p. 2]. 
3.1.3. A peculiar situação política dos EUA no período que 
antecedeu a Segunda Guerra Mundial. Na década de 30, a 
sociedade americana, em contraposição aos sistemas 
totalitários que predominavam no mundo de então (nazismo na 
Alemanha, stalinismo na Rússia, monarquia absoluta no Japão 
etc., era o que Karl Popper caracterizou como sociedade 
aberta [16: p. 53], pois regida por parâmetros democráticos. 
Isto é, a liberdade de comunicação e associação é uma 
garantia da Constituição Federal, e há funcionamento 
independente dos poderes executivo, legislativo e judiciário. 
Foram essas condições democráticas que permitiram que, 
nessa década de 30, inúmeros cientistas e pensadores de 
renome abandonassem seus países de origem e fossem 
desenvolver seus trabalhos nos Estados Unidos ­ entre eles, 
muitos eram de origem judáica que fugiam do nazismo 
alemão, como os já citados autores fundamentais para a 
Dinâmica Grupal: Kurt Lewin e Jacob Levy Moreno. 
3.1.4. As dramáticas mudanças na economia americana 
ocorridas na década de trinta, mais especificamente entre os 
anos de 1929, crack da bolsa de New York, e 1941, ano do 
ataque japonês a Pearl Harbour e da entrada americana na II 
Guerra. Nesse curto período de tempo, a economia americana 
desenvolveu­se, com dramáticas modificações, em três 
etapas: 1a) inicialmente, a grave recessão com desemprego 
em massa; 2 a) depois, a fase de recuperação determinada por 
uma planejada intervenção governamental com reorganização 
financeira, mobilização coletiva e pesados investimentos 
econômicos na área pública, uma política denominada de New 
Deal; 3a) finalmente, a aceleração do crescimento da economia 
que foi impulsionada pelos esforços coletivos organizados para 
a guerra. 
Todas essas fases econômicas propiciaram situações muito 
favoráveis ao desenvolvimento de trabalhos com grupos: na 
época da recessão, a preocupação com "rendimento" 
determinou o estudo, por parte dos psicólogos, dos 
fatores de rendimento das equipes de trabalho [15: p. 2]; 
na fase de recuperação, foi necessário um amplo processo de 
mobilização coletiva e a utilização de métodos massivos de 
propaganda e mobilização, e isso instigou os dirigentes a 
programarem, nas suas pesquisas e análise dos 
fenômenos coletivos, meios de ação sobre os grupos 
humanos; a preparação para a guerra obrigou os 
especialistas a intensificarem suas pesquisas sobre os 
fatores de coesão e eficácia das pequenas unidades de 
trabalho, os elementos do ‘moral’ dos grupos isolados em 
operações, e os processos acelerados de formação pelos 
métodos de grupos [15: p. 2]. 
3.2. Fatos Relevantes na História da Dinâmica Grupal. Os cinco fatos mais 
marcantes para a história da Dinâmica Grupal no século atual aconteceram nos 
Estados Unidos da América, e foram os seguintes: 
3.2.1. Trabalhos do Dr. Pratt.Em 1905, o médico Joseph Pratt 
trabalhando num sanatório de Boston, introduziu entre seus 
pacientes internados com tuberculose uma metodologia de 
trabalho chamado de classes coletivas [17: p. 23]. As 
classes tinham como finalidade acelerar a recuperação física 
dos enfermos mediante uma série de medidas sugestivas que 
eram administradas através de informações técnicas sobre a 
doença e dentro de um clima de cooperação grupal. Com esse 
método, que foi concebido como terapias exortativas 
paternais que atuam pelo grupo [17: p. 23], Pratt tornou­se 
pioneiro, pois foi o primeiro a utilizar­se de forma sistemática e 
deliberada das emoções coletivas com fins terapêuticos. 
A notável eficácia da abordagem de Pratt, fez com que fosse 
estendida para muitas outras categorias nosológicas, como 
diabetes, neuroses, e alcoolismo — Alcóolicos Anônimos 
(AA), organização iniciada em 1935, é o exemplo mais 
significativo dessa tendência terapêutica [17: p. 23]. 
3.2.2. Pesquisas de Hawthorne. Em 1928, na usina de 
eletricidade de Hawthorne da Western Electric em Chicago, foi 
realizado um conjunto de pesquisas lideradas pelo australiano 
Elton Mayo. Esses estudos foram concebidos com base nos 
métodos da Psicologia Experimental usados por Wilhelm 
Wundt em Leipzig, e inicialmente procurava determinar o efeito 
de determinados fatores ambientais, iluminação do ambiente 
por exemplo, sobre a produtividade. Com o andamento da 
experiência, verificou­se que os operários comportavam­
se como acreditavam que deveriam, e não como os 
pesquisadores esperavam — por exemplo, aumentavam 
sua produção quando os pesquisadores diziam que a 
iluminação aumentava, quando ela na realidade não se 
alterava. A partir daí, o experimento demonstrou que era 
impossível estabelecer uma correlação simples e direta 
entre os fatores físicos do ambiente de trabalho e a 
produtividade. As causas do desempenho estavam no 
comportamento humano. 
Como conseqüência de um trabalho de quase uma 
década, Mayo e seus colaboradores lançaram as bases de 
uma nova filosofia de administração, que passou a ser 
chamada de Relações Humanas no Trabalho. Os pontos 
principais dessa filosofia são os seguintes: 
è O sistema social formado pelos grupos 
determina o resultado do trabalho individual que 
quase nunca coincide com os padrões impostos 
pela administração; 
è A administração não deve estabelecer relações 
com o indivíduo, mas com o grupo [18: p. 27]. 
3.2.3. Sistematização da Psicoterapia de Grupo. Por volta de 
1932 estava completo o desenvolvimento para sistematização 
da Psicoterapia de Grupo. 
Inicialmente deve­se ressaltar que a psicoterapia de grupo 
começou como uma ciência do grupo terapêutico e não do 
grupo "em si". A contribuição que a psicoterapia de grupo 
forneceu à Dinâmica Grupal é a de que ela se ocupa, de 
forma realística, com a patologia do grupo [19: p. 19]. 
Por volta de 1931, começaram quase que simultaneamente 
em Nova Iorque dois movimentos com a utilização de 
pequenos grupos para o tratamento de transtornos psíquicos: 
início dos trabalhos psicodramáticos por Moreno; início da 
Grupoterapia ativa de Samuel R. Slavson. 
Com o início desses dois trabalhos, foram criadas as duas 
principais organizações de terapeutas de grupo: a 
Associação Americana de Psicoterapia de Grupo fundada 
por Slavson, e a Sociedade Americana de Psicoterapia de 
Grupo e Psicodrama criada por Moreno [11: p. 7]. 
E também delineiam­se os dois modelos básicos para se 
abordar um grupo com objetivos terapêuticos: diretivo; não 
diretivo. O primeiro, um estilo que Moreno, um líder narcísico 
e carismático [11: p. 6], desenvolveu na terapia pela ação do 
Psicodrama. O segundo modelo institucionalizou­se na 
Sociedade de Slavson, um educador progressista 
influenciado pelas idéias democráticas de John Dewey (...) 
um autodidata, pioneiro da terapia psicanalítica de grupo 
com crianças [11: p. 119, 467]. 
è O Modelo psicodramático de Moreno 
representou uma revolução conceitual e 
operativa para o manejo psicoterápico de 
grupos humanos. 
Conceitualmente, a maior contribuição 
moreniana à Dinâmica Grupal foi a introdução 
do termo tele. Tele é um fator que na 
sociometria, uma outra criação de Moreno que 
será abordada num próximo item, indica 
encontro humano. 
Esse mesmo sentido de tele permitiu a Moreno 
propor o psicodrama como um método 
terapêutico único, abrangente e capaz de, via 
o encontro na ação grupal, efetivar uma cura. 
A justificativa moreniana é expressa na 
seguinte construção: Mesmer afirmava que 
as curas hipnóticas são devidas ao 
magnetismo animal. Bernheim demostrou 
que não é o magnetismo animal que produz 
a cura, mas a sugestionabilidade do 
sujeito. Freud descartou a terapia pela 
hipnose e declarou que o eixo da 
sugestionabilidade (e portanto da cura) é a 
transferência [20: p. 18]. Completando esse 
raciocínio, Moreno propôs o tele como 
superação da relação transferencial — o tele é 
o corolário do encontro que se estabelece 
entre o terapeuta e o cliente­grupo, sendo 
assim o autêntico eixo da cura. 
Operativamente, o novo da proposta 
moreniana está no formato terapêutico. Um 
formato terapêutico consiste em duas 
partes, uma é o veículo, tal como o divã, a 
cadeira, o palco do teatro terapêutico etc.; 
e outra, são as instruções relativas ao 
modo de comportar­se quanto ao veículo 
[20: p.117]. 
Quanto ao veículo, a grande contribuição 
moreniana à terapia grupal consistiu na 
introdução do palco. Esse permitiu a ativa 
participação do grupo, enquanto atores e 
platéia de um drama terapêutico, nos 
processos de cura. 
O palco também propiciou um ambiente 
terapêutico com instruções específicas: o 
desempenho de papéis. 
Na terminologia inglesa, desempenhar papéis 
significa role playing, e consiste em colocar 
as pessoas (atores) em várias situações e 
em vários papéis [20: p. 157]. Com isso, 
busca­se a espontaneidade e o seu corolário a 
criatividade que são os fatores fundamentais 
para um vida humana saudável. 
è Slavson, em suas contribuições à 
psicoterapia de grupo, partilha da crença 
subjacente do primado da abordagem do 
indivíduo em grupo. Em sua abordagem 
individualista a Dinâmica Grupal era 
minimizada e as concepções do grupo 
funcionando como uma entidade eram 
vigorosamente atacadas [11: p. 133]. 
O modelo terapêutico de Slavson, que é 
chamado de intrapessoal por acentuar o 
primado da psicodinâmica individual no 
grupo, e por ver na situação da terapia 
grupal uma réplica do tratamento um­a­um 
(um terapeuta, um paciente) da psicanálise 
individual, foi contestado pelo modelo 
integralista que vê o grupo como um todo, 
como o local e a força motivacional 
principal para a mudança terapêutica [11: p. 
10]. 
O modelo integralista mais consistente foi 
apresentado na já citada concepção de 
Wilfredo Bion. 
Bion, que se achava familiarizado com a 
teoria de campo de Kurt Lewin, e via o 
grupo como dinamicamente diferente dos 
membros individuais [11: p. 31], concebeu, 
a partir de suas experiências como 
psicoterapeuta de grupo na Tavistock Clinic de 
Londres durante a Segunda Guerra Mundial, a 
citada teoria dos pressupostos básicos para 
explicar o grupo como um todo. 
Em termos práticos Bion defendeu a idéia de 
que o papel do terapeuta de grupo reside 
essencialmente em confrontar o grupo 
como um todo com seus temas de fantasia 
inconscientes partilhados sob forma dos 
pressupostos básicos [11: p. 8]. 
O trabalho de Bion com a Dinâmica Grupal foi 
muito breve. Contudo, suas concepções e o 
campo de trabalho estruturado na Tavistock 
Clinic impulsionaram as pesquisas e as 
experiências com terapia grupal em todo o 
mundo. 
Na América Latina, mais especificamente na 
Argentina do final de década de cinqüenta, um 
fértil campo terapêutico foi desenvolvido, 
ocupandolugar central os trabalhos com grupo 
operativo de Pichon­Rivière. 
A concepção de grupo operativo surgiu a partir 
da idéia bioniana de que as atividades grupais 
comportam dois níveis: nível da tarefa, e nível 
dos pressupostos básicos. Pichon­Rivière 
propôs uma psicoterapia de grupo centrada 
na tarefa [8 p. 84]. Para ele, juntamente com 
a idéia de que o grupo é o agente da cura, o 
terapeuta deve fazer uma análise 
sistemática das dificuldades do grupo em 
tarefa. Isto é, a atividade terapêutica está 
centrada na mobilização de estruturas e 
condutas estereotipadas que imobilizam a 
realização de uma tarefa pelo grupo [8 p. 
84]. 
Conforme o esquema pichoniano, essas 
estruturas estereotipadas são determinadas 
pelas ansiedades despertadas pelas 
mudanças que uma tarefa impõe ao grupo. 
Por sua vez, Pichon­Rivière, inspirado na 
teoria dos mecanismos de defesa primitivos de 
Melanie Klein, identificou duas modalidades 
básicas de ansiedades que podem paralisar a 
atividade grupal: (a) ansiedade depressiva, 
determinada pelo abandono do vinculo que o 
grupo mantinha com uma tarefa anterior; (b) 
ansiedade paranóide, criada pelo novo vínculo 
que o grupo deverá manter com a outra 
atividade a que estará submetida. 
Nessas circunstâncias, o papel do 
coordenador (terapeuta) deve ser a de diminuir 
essas ansiedades, favorecendo o vínculo entre 
o grupo e o campo de sua tarefa. 
Conseqüente a isso, é estruturado um grupo 
operativo onde o esclarecimento, a 
comunicação, a aprendizagem e a 
resolução de tarefas coincidem com a cura 
[8: p. 98]. 
Em Pichon­Rivière esse funcionamento 
aberrante emerge como ansiedades e conflitos 
que podem paralisar a realização da tarefa 
pelo grupo. Por isso é necessário que seja 
trabalhado para que o grupo continue a existir 
eficazmente em torno de uma tarefa. Nesse 
sentido, ocupa papel fundamental uma 
liderança formal ou informal. Essa 
liderança, no acontecer grupal, é 
representada por aquele indivíduo que se 
faz depositário dos aspectos positivos do 
grupo, tornando­se assim uma espécie de 
direcionador das diversas atividades 
desenvolvidas pelo grupo [12: p. 56]. 
Para finalizar, deve­se atentar que, para 
desempenhar um bom papel corretor e bem 
direcionador das atividades grupais, a 
liderança, ao mesmo tempo em que deve 
desmistificar (desvelar) essa dinâmica 
subjacente que paralisa os trabalhos em 
grupo, deve também assumir a função de 
aglutinar a cooperatividade do grupo em torno 
do planejamento e realização da tarefa 
produtiva. 
3.2.4.Criação da Sociometria. Em 1932, Moreno cria, 
simultaneamente com o Psicodrama, a Sociometria. 
Na apresentação desse método, Moreno define a sociometria 
como a ciência da medida do relacionamento humano [19: 
p. 39]. Contudo, coloca um pressuposto nessa definição 
científica — o método sociométrico foi concebido a partir de 
uma outra referência epistemológica básica, qual seja, a 
religiosa. 
Moreno reconhece que, rigorosamente, a religião não é 
considerada um referencial científico. Apesar disso ele próprio 
contra­argumenta com pertinência: religião vem de religare, 
que é o princípio de tudo reunir, de ligar em conjunto. [19: 
p. 21], e daí propõe a sociometria como a ciência que busca a 
essência da ligação, da re­ligação, e da vinculação humana. 
Ademais, a base religiosa permitiu­lhe a criação de uma 
verdadeira estrutura cosmológica para a sociedade humana. 
Essa estrutura formaria um sistema social utópico por ele 
denominado de socionômico cujo projeto, em princípio, 
visava a uma elucidação do fenômeno social tal qual era 
vivido no seu interior pelos seres humanos que dele 
participavam, o que exigiria a adoção de métodos diretos e 
experimentais [4: p. 121]. Ou seja, exigiria a adoção do 
método sociométrico. 
Ainda nesse ideal utópico, estavam implicitamente delineados 
os três eixos que fundamentariam a sociometria, e que 
também se constituiria na principal contribuição de Moreno à 
ciência da Dinâmica Grupal, quais sejam, o conceito de 
espontaneidade­criatividade, o fator tele, a teoria do papel. 
Quanto a isso, Moreno afirma numa citação autobiográfica que 
minha posição religiosa original compreendia três 
aspectos: primeiro, a hipótese da espontaneidade­
criatividade como força propulsora do progresso humano, 
acima e independente da libido e dos motivos sócio­
ecônomicos; segundo, a hipótese do amor e da partilha 
mútua como princípio funcional poderoso e indispensável 
na vida de um grupo; terceiro, a hipótese de uma 
comunidade superdinâmica baseada nestes princípios que 
pode ser efetivida através de técnicas sociométricas [1: p. 
23]. 
Ou seja, repetindo, esses três aspectos englobam o que 
atualmente é considerado os fundamentos da concepção 
moreniana relativa à pessoa humana: o conceito de 
espontaneidade­criatividade para a dimensão individual; o 
amor, e sua expressão o fator tele, em sua projeção social; o 
papel, como eu tangível, resultado da conjugação dessas duas 
dimensões anteriores. 
A espontaneidade está no princípio da sociometria, pois um 
processo sociométrico só merece fé quando os seus 
participantes manifestam espontaneamente suas 
preferências. [21: p. 120]. 
O papel, um conceito derivado do teatro e introduzido na 
sociologia e na psiquiatria por Moreno, indica a posição 
(status) que a pessoa assume dentro da sociedade. [21: p. 
211]. O teste sociométrico visa justamente captar esse status 
num indivíduo de uma relação grupal. 
O tele é um corolário do religioso conceito amor — summum 
bonum [22: p. 24]. Na Dinâmica Grupal o que unifica e 
constitui a unidade grupal é o tele [21: p. 195]. 
O fator télico possibilita o encontro na grupalidade humana. 
Nessa mesma grupalidade, o fator que opera facilitando o 
desencontro, a desagregação grupal, é a "força" descrita pela 
psicanálise como transferência. 
O tele é ainda uma proposição sociométrica que pode ser 
expressa na seguinte relação: eleição e percepção do 
indivíduo para o grupo/eleição e percepção do grupo para o 
indivíduo. 
Com isso o tele torna­se fatorável. Significando que, através 
de um teste sociométrico, ele pode ser expresso num fator 
numérico; o qual, num primeiro plano, indica um valor relativo 
ao status que um indivíduo ocupa numa grupalidade; e, num 
plano maior, indica um valor relativo ao nível de agregação 
conseguido pelo grupo do qual esse indivíduo faz parte. 
Esses valores relativos, por sua vez, podem ser apresentados 
através de tabelas e gráficos denominados de sociogramas. 
Encerrando com Dalmiro Bustos, um psicodramatista argentino 
que, mercê de sua formação psicanalista, realizou, após visitar 
Moreno em seu Instituto de Beacon (Nova York) em 1969, um 
trabalho para aperfeiçoamento do Teste Sociométrico: tele 
implica um conceito existencial e totalizador, intelectivo, 
afetivo, biológico e social. Ao abandonar o acaso em 
nossa infância começa a seleção. Buscamos 
sociometricamente aqueles que complementem 
positivamente nossos objetivos, rechaçamos outros ou 
permanecemos indiferentes a terceiros. Quando se dá o 
encontro, existe a certeza e não são necessárias 
verbalizações de confirmação. Produzem­se respostas­
condutas coerentes com as propostas. Deste modo 
sabemos que é o fator télico que está funcionando. [23: p. 
17]. 
3.2.5. Fundação do Primeiro Laboratório de Dinâmica Grupal. 
Em 1945 Kurt Lewin funda, a pedido do Instituto Tecnológico 
de Massachusets (Massachusets Institute of Technology­
M.I.T.), o primeiro centro de pesquisas dedicado 
especificamente à Dinâmica Grupal. 
Como acontece com todas as outras ciências, a história da 
Dinâmica Grupal também pode ser dividida em dois períodos: 
pré­científico e científico. 
Pode­se dizer que o período pré­científico desenvolveu­se até 
a década de trinta quando Kurt Lewin e seus colaboradoresrealizaram as primeiras pesquisas empíricas, teoricamente 
significativas com grupos humanos. Até esse período, quem 
sentia curiosidade pela natureza dos grupos para obter 
respostas às suas questões dependia, sobretudo, da 
experiência pessoal e de documentos históricos. Foram 
criados sistemas teóricos complexos e muito amplos, pois 
foram concebidos por homens de notável capacidade 
intelectual, entre os quais: Cooley, Durkheim, Tarde, Le 
Bon, Freud. [24: p. 6/7]. 
As pesquisas que Lewin e sua equipe realizaram entre a 
década de trinta e quarenta, e que levaram ao reconhecimento 
científico e ao convite para fundação do laboratório no M.I.T. 
representaram para as ciências sociais, sobretudo para a 
psicologia e a sociologia, uma verdadeira rebelião 
empírica. Nesses trabalhos, em vez de se aceitar a 
especulação sobre a natureza dos grupos, procuraram­se 
os fatos e buscaram­se separar dados objetivos e 
impressões subjetivas. [24: p. 7]. 
Entre esses trabalhos, dois são destacados, tanto porque 
apresentam um procedimento metodológico de fácil 
operacionalização e reprodutibilidade; como também pelo alto 
valor heurístico de suas conclusões, podendo, por isso, ser 
consideradas como um verdadeiro padrão­ouro utilizável no 
campo das pesquisas científicas com a Dinâmica Grupal. 
Em virtude da mencionada importância histórica dessas duas 
pesquisas, será apresentado um relato sobre as mesmas, e 
também será feita uma apresentação do que ficou conhecido 
como T­Group, uma técnica iniciada por Lewin a partir dessas 
pesquisas com a Dinâmica Grupal. 
Porém, antes desse relato, deve­se considerar que a lewiniana 
equipe iniciou cada uma das duas pesquisas com um 
pressuposto básico: na primeira, a pressuposição era a de 
que os grupos funcionam como totalidades dinâmicas, e 
que realizam seu equilíbrio num "campo de forças". No 
entanto, mesmo sendo um "campo de forças", uma 
pressão exterior pode modificá­lo ou basta que se integre 
a informação no campo perceptivo do grupo para provocar 
a mudança [2: p. 95]; a segunda, referiu­se aos estados de 
equilíbrio grupal. Nesta, pressupunha­se que, como uma 
gestalt, o grupo busca uma "boa forma" em seu equilíbrio. 
[2: p. 97]; 
Primeira pesquisa: em 1943, o estado de relativa 
penúria devido à constituição de reservas para 
o exército levou as autoridades norte­
americanas a se voltarem para os meios de 
mudar os hábitos alimentares dos 
estadunidenses. Era necessário persuadi­los 
de que as vísceras (coração, rins etc.), muitas 
vezes rejeitadas, tinham as mesmas 
qualidades nutritivas da carne considerada "de 
primeira". Toda uma campanha de 
informações pela imprensa, pelo rádio, por 
cartazes tinha tentado demonstrar as 
vantagens econômicas desta mudança. 
Apesar dos meios utilizados, os resultados se 
revelaram insignificantes. Lewin foi então 
encarregado pelo governo americano de 
estudar um novo modo de ação. De princípio 
constatou que eram as donas­de­casa que 
representavam o elemento de decisão em toda 
compra de carne consumida pelas famílias. 
Decidiu então atuar sobre pequenos grupos de 
donas­de­casa. 
Ao iniciar os trabalhos, achou­se diante do 
seguinte problema: ou acentuava o caráter 
positivo do consumo das vísceras; ou diminuía 
as reticências diante desses alimentos 
julgados negativamente. 
Reuniu então vários grupos de uma quinzena 
de pessoas. Em metade desses grupos, 
especialistas qualificados (como médicos e 
nutricionistas) explicaram como e por que 
deveria se consumir tais pedaços de carne. 
Essas explicações revelaram­se 
decepcionantes, pois somente 3% dos 
membros dos grupos aceitaram realmente as 
informações, traduzindo­as em seus 
comportamentos alimentares. 
Na outra metade dos grupos, a equipe de 
pesquisadores contentou­se em colocar o 
problema para os participantes: tendo em vista 
a difícil situação econômica com grave 
escassez de carne, de que modo é possível 
mudar o consumo para que haja 
disponibilidade de carne para toda a 
população? 
Depois deixou a discussão desenvolver­se 
sem intervir, exceto para fornecer informações, 
quando eram pedidas. Essas discussões 
permitiram a cada dona de casa a 
possibilidade de falar sobre seu próprio 
comportamento, de analisar suas atitudes 
diante dos problemas etc. Ficou rapidamente 
claro que a recusa desses alimentos baseava­
se em certos receios subjetivos, preconceitos 
que pareciam possíveis de ultrapassar. 
Resoluções foram tomadas em comum, e as 
participantes se comprometeram a modificar 
suas atitudes. Com efeito, os resultados 
mostraram que 32% delas modificaram suas 
compras, e passaram a usar em seu cardápio 
as vísceras. 
Lewin e sua equipe tiraram do fato constatado 
a seguinte conclusão: na primeira metade dos 
grupos, ao trazer a informação por meio de 
autoridade, aumentava­se a pressão por uma 
mudança. No entanto, seria necessário uma 
pressão mais forte, mais autoritária para que 
essa solução tivesse êxito, o que poderia 
desencadear tanto agressividade quanto 
recusa por parte do grupo. 
Na outra metade, ao invés de aumentar, por 
meios autocráticos, as pressões externas, ele 
preferiu reduzir as resistências que se 
opunham à mudança através do diálogo do 
compromisso com a mudança pelos 
participantes. Com isso, houve deslocamento 
para um novo equilíbrio grupal. 
Segunda pesquisa: os estudos dos estados de 
equilíbrio levam Lewin e sua equipe a procurar 
qual deva ser "a boa forma" de um grupo. Isto 
é, para que tipo de organização um grupo 
deva dirigir­se. O experimento que ilustra 
essas pesquisas é conhecido com o nome de 
"experimento dos três climas". 
Três grupos de crianças eram voluntários para 
a construção de maquetes de teatro. Essas 
crianças foram agrupadas por afinidades, o 
que facilitava a coesão no grupo e motivação 
na tarefa. Daí, pensava­se que os resultados 
do grupo dependeria do tipo de organização 
utilizada. Em cada grupo um experimentador 
induziu uma forma diferente de organização. 
No primeiro grupo, o experimentador define os 
objetivos e os meios para atingí­los, e as 
crianças devem obedecer a seguinte 
exigência: é um grupo autocrático, em que a 
organização é definida "de fora", pelo 
experimentador. 
No segundo grupo, o experimentador define 
com as crianças as finalidades, os meios e a 
divisão das tarefas: é um grupo democrático, 
em que os indivíduos interagem para 
encontrar a melhor organização. 
No terceiro grupo, o experimentador não 
impõem nem propõe nada, o grupo é entregue 
a si mesmo: é um grupo sem diretrizes, um 
grupo laissez—faire. 
O experimento mostrou resultados diferentes, 
conforme os três tipos de organização. 
No grupo autocrático a tarefa é efetuada sem 
entusiasmo; a produção é "média"; as relações 
interpessoais são tensas; os participantes 
sentem­se frustrados e suas atitudes oscilam 
entre a apatia e a agressividade. Assim que o 
experimentador deixa a sala. o trabalho é 
interrompido. 
No grupo democrático a produção é "boa", o 
nível de satisfação elevado, e as relações 
entre os membros baseiam­se na cooperação 
com a redução das tensões. O grupo é 
suficientemente autônomo para prosseguir em 
sua tarefa quando o animador se ausenta. 
No grupo "laissez­faire" a produção é 
pequena, os participantes mostram um 
constante sentimento de frustração e de 
fracasso, a agressividade entre os membros é 
intensa. 
Desse experimento, foi tirado uma conclusão 
quanto à "boa forma" grupal: o grupo 
democrático, por ser o mais produtivo e por 
trabalhar dentro do "melhor clima", mostrou­se 
a forma ideal de organização social. 
T­Group: Após essas duas pesquisas, e com a 
fundação do laboratório no M.I.T., Kurt Lewin e 
seu grupo de colaboradores ampliaram o 
campo de experiências aplicando a Dinâmica 
Grupal em treinamentos de relações humanas.O método utilizado então passou a ser 
denominado de T­Group (Training Group, ou 
Grupo de Treinamento). Para viabilização 
desse método, Lewin partiu de uma outra 
pressuposição básica: é possível a 
modificação da conduta individual através 
de transformação do comportamento em 
grupo [25: p. 13]. 
A comprovação desse pressuposto, que 
também é coerente com os formulados para 
as duas pesquisas anteriores, deu­se com 
uma série de sessões de grupos. Dessas, será 
apresentado um resumo histórico da 
experiência inicial, quando Lewin e sua equipe 
fez, fortuitamente, a descoberta do 
poderoso meio de formação e de mudança 
em Dinâmica Grupal, o T­Group. [15: p. 69]. 
A história do T­Group começa em 1946 
quando, numa escola estadual para formação 
de professores primários em Connecticut­EUA, 
foi realizada uma experiência sob a 
responsabilidade técnica do centro de 
pesquisa de Dinâmica Grupal dirigido por 
Lewin. Essa experiência tinha como finalidade 
principal testar hipóteses concernentes aos 
efeitos comparados das conferências e dos 
estudos de casos sobre o comportamento e 
suas mudanças. Ao mesmo tempo também 
objetivava formar animadores de grupo em 
organizações pedagógicas. 
Nas sessões iniciais, os participantes, em 
número de 30, eram divididos em três grupos 
que se reuniam sob a coordenação de um 
monitor e com a presença de um observador 
que preenchia as folhas de observação das 
interações e da dinâmica grupal. Os sub­
grupos empregavam seu tempo entre estudos 
de casos com jogos de papéis e exposições 
magistrais. 
Para avaliação dessas reuniões foram 
organizadas sessões especiais de trabalho, as 
quais reuniam os animadores oficiais e os 
observadores para verificar as observações e 
discutí­las. Durante o desenvolvimento dos 
trabalhos, alguns participantes da experiência 
que moravam nessa escola pediram para 
assistir a essas sessões de avaliação. Após 
discussões entre os membros da equipe 
coordenadora, eles foram admitidos. 
Aconteceu então algo imprevisto que é 
descrito assim: Lewin e sua equipe de 
animadores não previra os efeitos sobre os 
participantes da descrição de seus 
comportamentos, nem a maneira pela qual 
seria preciso orientar as relações entre a 
equipe e os ouvintes voluntários. Aberta a 
discussão, o efeito foi elétrico, 
primeiramente, foi preciso, 
inexoravelmente, abrir essas reuniões às 
demais pessoas interessadas, e logo todos 
passaram a comparecer. As reuniões 
prolongavam­se por três horas seguidas. 
Os participantes declaravam que elas eram 
essenciais, e ninguém mais deixou de 
lembrar o programa previsto, os casos que 
a equipe preparava, as situações trazidas 
pelos membros voluntários, os jogos de 
papéis etc. [15: p. 69]. 
Logo depois nasceu a idéia de substituir o 
conteúdo das sessões que era baseado em 
fatos ocorridos "um outro lugar, num outro 
tempo", pela análise do comportamento dos 
próprios membros do grupo no "aqui­agora" 
(em latim: hic et nunc) das sessões. E assim o 
papel do monitor passou a consistir em atrair a 
atenção do grupo sobre o hic et nunc vivido e 
não apenas racionalizado pelos membros do 
grupo. 
Infelizmente, no início de 1947 Kurt Lewin 
morre subitamente, o que certamente dificultou 
a continuidade e o aprofundamento teórico das 
pesquisas por sua equipe. No entanto, os seus 
achados com o T­Group influenciaram de 
maneira decisiva o desenvolvimento teórico e 
prático de diversas áreas da Dinâmica Grupal 
na atualidade — Gestalterapia, Sócio­Análise, 
Grupos de Encontro, Grupo Operativo etc. 
Para encerrar este capítulo, cita­se apenas 
duas dessas áreas de influência: (a) Grupos 
de Encontro; (b) Grupo Operativo. 
(a) Grupos de Encontro. Em verdade 
constituiu­se num amplo movimento 
grupalístico que se desenvolveu, 
especialmente na sociedade americana, 
durante a década de sessenta. Esse 
movimento foi iniciado pelo psicólogo Carl 
Rogers e se caracterizou pela amplitude de 
uma organização multitudinária, pelas 
experiencias comunitárias, e pela postura 
liberalizante em sua prática grupal [26: p. 
130]. Esta última característica, um aspecto 
fundamental da concepção dita rogeriana, se 
expressa numa postura que é prescritiva para 
o animador de um Grupo de Encontro, qual 
seja, a não­diretividade. 
Sobre isso, ressalve­se ainda dois fatos: 
primeiro, conforme uma observação crítica, 
com sua técnica, Rogers buscou apenas 
uma fundamentação ético­filosófica, não 
existindo nele qualquer preocupação 
científico­epistemológica. [26: p. 130]; 
segundo, essa fundamentação ético­filosófica 
foi absorvida por correntes pedagógicas 
contemporâneas que encontraram em Rogers, 
com o seu personalismo radicalmente 
libertário e a sua recusa de toda relação de 
autoridade na experiência pedagógica, [6: 
p. 3621], o modelo ideal para a prática de uma 
almejada educação humanista. 
(b) Grupo Operativo. Iniciou­se com a 
denominada "Experiência Rosário", um 
seminário coordenado por Pichon­Rivière, em 
1958, numa instituição universitária da cidade 
de Rosário na Argentina. 
Em Rosário ocorreu uma experiência de 
laboratório social que se efetivou mediante 
as técnicas de investigação ativa de Kurt 
Lewin, e que teve como propósito a 
aplicação de uma didática interdisciplinar e 
de caráter acumulativo [12: p. 88]. Dela 
resultou a técnica do Grupo Operativo que 
está centrada na tarefa, onde teoria e prática 
se resolvem numa práxis permanente e 
concreta do "aqui­agora" de cada campo 
grupal assinalado. 
Finalmente, deve­se assinalar que Grupo 
Operativo não é um termo utilizado para se 
referir a uma técnica específica, e nem a 
um tipo determinado de grupo — Grupo 
Terapêutico, por exemplo. Mas refere­se a 
uma forma de pensar e operar em grupos, 
que pode se aplicar à coordenação de 
diversos tipos de atividades grupais, 
existindo, portanto, grupos operativos 
terapêuticos, familiares, de aprendizagem, 
de reflexão, entre outros. [12: p. 53]. 
4. CLASSIFICAÇÃO DA DINÂMICA GRUPAL 
A Dinâmica Grupal é uma ciência Interdisciplinar. Portanto, qualquer um dos modelos 
que se use para sua classificação deve considerar as múltiplas disciplinas científicas a 
ela relacionada. Nesta obra será apresentado um modelo composto de dois itens: 
primeiro, um esquema classificatório com posicionamento da Dinâmica Grupal perante 
a Psicologia e a Sociologia, ou seja, perante as duas ciências humanas a que está 
diretamente vinculada; segundo, um quadro divisório relacionando os grandes 
antecedentes, e as linhas de influência mais significativa da Dinâmica Grupal. 
4.1. Dinâmica Grupal X Psicologia e Sociologia
1.1.1. Behaviorismo
(Psicologia 
Comportamental) 
1.1. Psicologia
Individual 
1.1.2. Psicanálise
(Psicologia Dinâmica) 
1. 
Psicologia
1.2.1. Psicologia das 
Massas (Multidões)
1.2. Psicologia
Social 
1.2.2. Psicologia dos 
Grupos
Dinâmica 
Grupal
2.1. Micro­Sociologia
2. 
Sociologia
2.2. Macro­Sociologia
Observar que a Dinâmica Grupal foi colocada numa situação de dupla equivalência: a 
psicologia de grupos e a micro­sociologia. No entanto, pode­se afirmar, com 
fundamentos, que a Dinâmica Grupal está ligada primordialmente à Psicologia, e 
secundariamente à Sociologia. Uma fundamentação para esta afirmativa será 
apresentada nos parágrafos seguintes. 
No campo da Sociologia é feita a divisão entre macro­sociologia e micro­sociologia. A 
primeira trata da vida social na escala mais ampla das organizações sociais, das 
comunidades e das sociedades inteiras. A segunda focaliza o mundo face­a­face 
da interação social. [27: p.139]. 
A micro­sociologia refere­se ao que C.H. Cooley, num dos estudos clássicos das 
ciências sociais define como "grupos primários", isto é, aqueles grupos que se 
caracterizam pela associação íntima, face­a­face entre seus membros.[6: p. 
5516]. 
Considerando que essa definição de Cooley é compatível com o conceito que Pichon­
Rivière dá ao fenômeno grupo, então, pode­se afirmar que, por terem nos "grupos 
primários" o mesmo objeto de estudo, a Dinâmica Grupal e a micro­sociologia referem­
se a uma mesma especialidade das Ciências Humanas. 
Contudo, sobre isso deve­se ainda considerar que há pertinência na perspectiva 
teórica que percebe no fenômeno grupo um arcabouço entremeado em espiral e 
constituído pela tríade: a) estrutura; b) processo; c) conteúdo. [28: p. 16]. 
a) Estrutura. Em termos sociológicos, refere­se ao conceito de 
morfologia social, e tem quase o mesmo sentido que os 
geógrafos utilizam para designar o modo pelo qual a 
população se distribui pela terra. A estrutura é 
essencialmente material, física. [6:p. 4303]. Isto é, refere­se 
aos aspectos espaço—temporais do quando, onde e quem, 
que é exemplificado nos termos grupos primários ou 
secundários, classes sociais, instituições, comunidades, 
sociedade etc. 
b) Processo. Refere­se aos aspectos dinâmicos que são 
ativados dentro e entre essas estruturas. [28: p. 17]. A 
ação se desenvolve como interação e comunicação na 
estrutura social. 
c) Conteúdo. Diz respeito ao significado desta ação nesta 
estrutura. Significado este que estabelece a coesão, a 
coerência e a continuidade grupal [28: p. 18]. 
Sendo assim, e observando­se que desde os seus fundadores Augusto Comte, Herbert 
Spencer e Emil Durkheim, a sociologia esteve particularmente interessada na estrutura 
social — Durkheim em 1901, definiu a sociologia como a ciência das instituições 
[28: p. 17] ­ tendo secundarizado a abordagem dos processos e dos significados da 
ação social. 
Ainda deve­se considerar que o tangível num processo grupal é o comportamento de 
seus membros; e que o significado desse processo está baseado na subjetividade 
desses componentes. Assim, considerando­se que os elementos comportamento e 
subjetividade constitui­se no próprio objeto de estudo da Psicologia, então, a Dinâmica 
Grupal, que também busca estudar esses elementos na grupalidade humana, é, 
sobretudo, uma derivação da Psicologia. 
De fato, para completar, foi principalmente o desenvolvimento da Psicologia entre o 
final do século XIX e o início do século XX que permitiu o surgimento e a 
sistematização de uma ciência do grupo humano. 
Nesse desenvolvimento da Psicologia destacam­se duas linhas teóricas: a psicanálise 
e a psicologia da gestalt; e uma área prática: a psicoterapia de grupo. A Dinâmica 
Grupal constituiu­se, enquanto especialidade das ciências humanas, principalmente 
referenciada nesses três campos da Psicologia, de onde ela retirou os seus principais 
conceitos e os elementos necessários para operacionalizar os seus termos. Baseado 
na argumentação acima exposta, apresenta­se a seguir o já citado Quadro Divisório. 
Nele estão relacionados os principais antecedentes, e os desdobramentos mais 
significativos da Dinâmica Grupal. 
4.2. Dinâmica Grupal X Antecedentes e Desdobramentos 
Quanto ao quadro da pagina anterior deve­se fazer apenas três considerações:
10) Ele é resultado de uma adaptação de um quadro 
apresentado no manual sobre Psicoterapia de Grupo que foi 
elaborado por uma equipe coordenada por Osvaldo Saidon. O 
quadro, segundo seus autores, representa uma tentativa de 
decifrar as linhas de influência que podem ser 
identificadas em relação às práticas terapêuticas de grupo 
mais difundidas no panorama atual deste campo; [26: p. 
16]; 
20) O denominador comum entre os citados autores 
estruturantes está justamente no caráter estruturalista de suas 
investigações. Sobre isso, observa­se que o grupo é um fato 
privilegiado para investigação social, pois nele o caráter de 
totalidade próprio às estruturas [29: p. 10] é evidente. 
30) A propósito dessa última afirmação, sabe­se que através da 
sociometria pode­se demonstrar, matematicamente, a 
procedência da propriedade expressa na fórmula: o todo é 
mais do que a soma de suas partes. Isto é, exemplificando: 
considere o tele como o fenômeno grupal que preenche esse 
caráter de totalidade. Então, ao se buscar um cálculo de um 
índice télico num grupo operativo qualquer, pode­se verificar 
que, mais do que o simples somatório das manifestações 
télicas de cada um dos participantes nessa atividade grupal, 
deve ser considerado outras propriedades estruturais de 
grupo [29: p. 10], como os subgrupos em parelhas e 
triangulações formadas entre os indivíduos em interação 
operativa. 
5. APLICAÇÕES DA DINÂMICA GRUPAL
Como está na classificação, a Dinâmica Grupal é uma ciência interdisciplinar. Isso significa que 
são múltiplas as suas aplicações técnicas, e, por conseguinte, também são múltiplos os 
campos dos saberes humanos que podem ser beneficiados com seus conhecimentos.
Entre os saberes beneficiados, citaríamos um enorme rol: saúde, educação, serviço social, 
administração de empresas, política, esportes, religião etc. No entanto, para efeitos descritivos, 
escolhemos apenas os quatro primeiros relacionados acima — Saúde, Educação, 
Administração e Serviço Social, para fazer uma sucinta descrição sobre os seus termos que 
são particularmente beneficiados com os conhecimentos da Dinâmica Grupal.
5.1. Saúde. Na área da saúde humana é onde se situam os resultados mais 
promissores das aplicações práticas da Dinâmica Grupal. 
Neste sentido o destaque cabe às já apresentadas psicoterapias grupais. No entanto, 
além desse campo de aplicação, o qual já foi suficientemente relatado em capítulos 
anteriores, os trabalhos grupais têm se mostrado de grande utilidade em muitas outras 
áreas da saúde humana. Apresenta­se quatro exemplos: 
5.1.1. Grupos Operativos em Doenças Orgânicas. Trabalhos 
de Grupos Operativos são largamente utilizadas como 
adjuvantes no tratamento de pessoas com doenças orgânicas 
consideradas crônicas. Desse modo, em diversas instituições 
médicas têm sido formados grupos operativos com portadores 
de diabetes, nefropatias, tuberculoses etc. 
Esses grupos têm funcionado com objetivos diversos. No 
nosso meio hospitalar, já funcionam Grupos Operativos 
formados por esse tipo de clientela, um deles reúne pacientes 
dialisados do setor de nefropatia do Hospital Geral de 
Fortaleza. O grupo objetiva melhor prepará­los para 
enfrentarem as dificuldades inerentes a sua enfermidade, 
e contribuir para o bom êxito do processo de hemodiálise. 
Nas reuniões são realizadas atividades para incentivar o 
acompanhamento rotineiro com nefrologista; para 
transmitir informações úteis sobre a doença e métodos 
terapêuticos, para facilitar o estabelecimento de hábitos 
considerados saudáveis para o nefropata crônico, e, 
enfim, para melhorar o suporte psico­emocional, e Integrar 
os familiares no processo terapêutico [30: p. 1]. 
5.1.2. Grupos Balint. Nos grandes Hospitais de Ensino 
Universitário são aplicadas muitas técnicas grupais para 
facilitar a formação e o aperfeiçoamento médico. Entre essas 
técnicas, é imprescindível uma menção aos Grupos Ballint. 
Esses grupos, cujo nome homenageia o psicanalista inglês 
Michel Ballint que, nos anos 50­60, desenvolveu essa técnica 
grupal, consiste, basicamente, em discutir a dinâmica das 
relações humanas contidas no bojo das situações clínicas 
trazidas pelos médicos participantes do grupo, na medida 
em que os mesmos experimentavam e reconheciam em sí 
próprio os dinamismos inconscientes inerentes a essa 
tarefa [31: p. 352]. Nas reuniões busca­se fazer com que os 
integrantes do grupo desenvolvam a capacidade de refletir 
acerca dos fenômenos relacionais inconscientes. Essa 
capacidade de reflexão implica no desenvolvimento simultâneo 
das capacidades para perceber, sentir, pensar, agir e, 
especialmente, o aprender a aprender manejar as diversas 
situações no dia­a­dia da atividade clínica. 
5.1.3. A ComunidadeTerapêutica e suas reuniões 
comunitárias nas quais todos os pacientes e membros do 
quadro de pessoal de uma unidade de saúde mental se 
reunem, é o mais complexo dos grupos terapêuticos [11: 
p. 498]. 
A primeira experiência de Comunidade Terapêutica aconteceu 
no Northfield Military Hospital, na Inglaterra durante a II Guerra 
Mundial. Nesse hospital militar, onde, entre outros, 
trabalhavam Bion, Tom Main, Pat de Mare e Sigmund Foulkes, 
aconteceram, nesse período, mudanças radicais em sua 
organização social, havendo transformações quanto aos 
cuidados médicos e ao papel dos pacientes em seu processo 
terapêutico — com os pacientes buscava­se superar as 
atitudes de passividade e retraimento estimulando a 
participação ativa numa comunidade de estrutura grupal 
[11: p. 498]. 
Nas décadas que se seguiram a essa primeira experiência em 
Northfield, a onda de comunidades terapêuticas espraiou­se 
pelas instituições psiquiátricas do mundo ocidental e, com ela, 
sua marca distintiva: a reunião comunitária. 
Quanto a essa modalidades de reunião pode­se dizer que 
elas, do ponto de vista da terapêutica, apresentam vantagens 
e desvantagens. Contudo, como é inerente uma índole positiva 
nesta obra, será dito apenas sobre o que Sigmund W. 
Karterud, professor de psiquiatria na Universidade de Oslo, 
considera a função de Foro para Partilha de Informações a 
vantagem mais óbvia das assembléias de comunidade 
terapêutica, isto é: a reunião comunitária pode alcançar a 
todos e informá­los a respeito de acontecimentos que 
afetam a unidade como um todo. Quem se acha presente, 
quem não compareceu e por quais razões? Novos 
pacientes são apresentados, alguns pacientes podem 
estar indo embora, e membros do quadro de pessoal falam 
a respeito de suas próprias ausências. Atuações 
dramáticas — tais como comportamentos grosseiramente 
aberrantes, rompimento de normas e tentativas de suicídio 
— são geralmente trazidas ao conhecimento geral na 
reunião comunitária. Ao lado de seu puro valor 
informativo, a reunião também fornece oportunidades para 
avaliar­se a importância dinâmica dos eventos 
comunitários e corrigir percepções distorcidas [11: p. 
499]. 
5.1.4. Grupos de Auto­Ajuda. Um movimento grupal que se 
universalizou e se diversificou graças a uma imagem 
modelada por poucas idéias simples mas bastante 
poderosas: pessoas comuns com um problema comum 
reunem­se, partilham seus problemas e aprendem umas 
com as outras, sem utilizar­se da ajuda de profissionais, 
em settings que os membros do grupo possuem e 
controlam [11: p. 244]. 
Atualmente, em todo o mundo, é enorme a quantidade de 
grupos de auto­ajuda — Morton A. Lieberman, um professor 
de psiquiatria do San Francisco School of Medicine, realizou 
um estudo com mais de 3.000 grupos de auto­ajuda somente 
da Califórnia. Também é enorme a diversidade de suas linhas 
de ação: alcoolistas, narcóticos, neuróticos, comedores 
compulsivos, fumantes etc. 
De todos esses grupos o mais disseminado e popular é o 
constituído pelo movimento mundial de Alcoólicos Anônimos 
(AA). O primeiro grupo de AA aconteceu após um encontro 
casual entre um cirurgião de renome: o Dr. Bob, e um corretor 
de imóveis conhecido como Bill W., ambos de Nova York e 
alcoólicos desenganados pela medicina. Eles fundaram o 
primeiro grupo de Alcoólicos Anônimos no ano de 1935 em 
Akron, Ohio­EUA. 
Uma análise mais cuidadosa da estrutura dos grupos AA, 
revela que seu dinamismo e real efetividade no tratamento do 
alcoolismo se assenta em três elementos, os quais como que 
se articulam em três níveis ideológicos: fundo religioso; 
metodologia grupalística; ação individualizante. 
è O fundo religioso colocou­se desde as idéias primordiais 
para criação dos primeiros grupos de AA. Sobre isso Bill W. diz 
que foi convencido por seu médico, o Dr. Silkworth, de que as 
experiências espirituais libertam pessoas que sofrem do 
alcoolismo [32: p. 58]. 
Bill W. também relata que, em 1934, estava internado no 
Hospital Charles B. Towns em Nova York quando leu um livro 
de William James — Variedades da experiência religiosa — no 
qual ele encontrou uma resposta para sua profunda crise 
existencial e, ao mesmo tempo, entendeu aquilo que poderia 
ser uma fórmula para efetivar a cura de um alcoolismo como o 
seu. Bill W. diz: James achava que as experiências 
espirituais poderiam ter realidade objetiva, quase do 
mesmo modo como as dádivas do céu poderiam 
transformar as pessoas. Algumas eram, de repente, 
iluminações brilhantes, outras vinham muito 
gradativamente. Algumas nasciam de fontes religiosas, 
outras não. Mas quase todas tinham denominadores 
comuns de dor, sofrimento, e calamidade. Total desespero 
e fundo do poço eram quase sempre necessários para se 
chegar à aceitação [32: p. 58]. 
A fórmula encontrada por Bill W. se formou com esses dois 
termos: fundo do poço, aceitação. 
O fundo do poço estava representado na condição de 
absoluta miséria existencial a que estava lançado devido ao 
seu alcoolismo; e também no total desespero pela constatação 
de que tanto ele, como todas as outras pessoas (especialistas) 
tinham fracassado no intento de resgatá­lo de tão baixa 
condição. 
Daí, houve uma súbita compreensão: somente Deus lhe 
restava como superior autoridade capaz de presidir o seu 
destino. Também houve a aceitação da idéia de que, como 
ponto de apoio humano, só lhe restavam aqueles que eram 
semelhantes a ele na tão miserável condição de alcoólatra. 
Essa aceitação implicou na concepção da citada fórmula, a 
qual está apresentada numa citação que se grifa de Bill W.: O 
Dr. Carl Jung tinha contado a um amigo quão sem 
esperança era o seu alcoolismo. O Dr. Silkworth tinha dito 
a mesma coisa em relação a mim. É provável que somente 
esses testemunhos nunca fizessem com que eu aceitasse 
completamente o veredicto. Mas, quando um alcoólico 
começou a falar com outro alcoólico a coisa deu certo [32: 
p. 58/59]. 
Dessa aceitação também derivou um duplo compromisso: 
missionário associativista. Isto é, a sua missão seria trabalhar 
pela recuperação dos que padecem do alcoolismo, e isto seria 
feito através de associações entre alcoólatras. Esse duplo 
compromisso, posteriormente, se materializou em dois 
Códigos de Ética, os quais fundamentam a existência da 
própria organização grupal: As doze tradições; Os doze 
passos. 
è A metodologia grupalistica é claramente delineada nas Doze 
Tradições: nosso bem estar deve estar em primeiro lugar; a 
reabilitação individual depende da unidade de A.A. [33: p. 
13] diz a primeira tradição. 
No entanto, é na quarta onde está explicitado aquilo que pode 
ser considerado, nos termos da Dinâmica Grupal, o elemento 
que melhor justifica a eficácia dessa metodologia. Essa outra 
tradição diz: cada grupo deve ser autônomo [33: p. 13]. 
Em termos práticos e teóricos a questão da autonomia ocupa 
lugar primordial no acontecer grupal. Sobre isso o conceito 
central é Projeto. 
Max Pagés, um professor de psicologia social da Universidade 
de Paris­Dauphine, afirma, com muita propriedade, que existe 
uma projeto auto­gestionário inconsciente em todos os 
grupos, independente das ideologias ou das origens 
sociais. É um projeto em que o grupo assume a 
responsabilidade de todos os aspectos de sua própria 
vida [34: p. 89]. 
Pichon­Rivière também pensou sobre essa questão. Para ele, 
o projeto surge, num processo dialético, como emergente 
da tarefa, e dá­se quando todos os membros do grupo 
conseguem visualizar o objetivo grupal. Isto significa ter 
conhecimento de que pertence a um grupo específico, 
com objetivos também específicos [12: p. 55]. O Projeto, 
geralmente, se concretiza na elaboração de um Plano de 
Trabalho ou de um Código de Ética. 
Por outro lado, ainda conforme Max Pagés, o projeto é ao 
mesmo tempo individual e relacional. Ele visa afrontara 
contradição entre a expressão sem repressão nem 
inibição, dos desejos individuais, e a ação em relação com 
os outros [34: p. 89]. 
Essa duplicidade do Projeto está bem definida no que 
preceituam mais duas das tradições: a quinta que diz que 
cada grupo é animado de um único propósito primordial — 
o de transmitir sua mensagem ao alcoólatra [34: p. 33]; e a 
terceira tradição: para ser membro de A.A., o único 
requisito é o desejo de abandonar a bebida [33: p. 23]. 
Em suma, um propósito (projeto) grupalístico voltado 
primordialmente para um desejo individual de abandonar o 
alcoolismo. Mas esse desejo individual também deveria estar 
bem delineado e isso foi feito nos Doze Passos. 
è A ação individualizante é expressão dos Doze Passos. Esse 
código surgiu da idéia religiosa de que a embriaguez e a 
desintegração do alcoólatra não são penalidades impostas 
por nenhuma autoridade; elas são os resultado da 
desobediência pessoal aos princípios espirituais. 
Portanto, o alcoólatra precisa obedecer certos princípios 
se não morre [32: p. 108]. 
Pode­se dizer que, dos doze passos, três sintetizam tudo o 
que foi dito acima sobre os A.A. Apresenta­se os três para 
encerrar este capítulo: 
Primeiro passo: admitimos que éramos impotentes perante 
o álcool — que tinhamos perdido o domínio sobre nossas 
vidas [35: p. 13]. 
Segundo passo: viemos a acreditar que um Poder superior 
a nós mesmos poderia devolver­nos à sanidade [35: p. 17]. 
Décimo­Segundo passo: tendo experimentado um despertar 
espiritual graças a esses passos, procuramos transmitir 
esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios 
em todas as nossas atividades [35: p. 93]. 
5.2. Educação. A pedagogia dos grupos permite uma síntese perfeita entre instrução e 
socialização do indivíduo. Todas as vertentes da Dinâmica Grupal contribuem para 
essa perfeição, no entanto, foram os achados de Lewin e de Moreno que mais 
contribuíram para esse objetivo pedagógico. 
Didaticamente, ao se diferenciar as contribuições entre um e outro desses autores, 
pode­se dizer que os postulados lewinianos se relacionam mais à apreensão do 
conhecimento dentro do processo de aprendizagem; e os achados morenianos são 
diretamente aplicáveis no treinamento do papel do educador no processo de sua 
formação profissional. 
5.2.1.Apreensão do Conhecimento. As já relatadas 
experiências de Lewin permitiram o desenvolvimento de uma 
nova mentalidade pedagógica em que se destacam três 
princípios: no primeiro, o grupo (classe) não é concebido como 
ambiente de competição, mas sim como ele mesmo, um fato 
de cooperação, sendo por isso um objeto de sua própria 
instrução; o segundo preceitua que o papel do monitor 
(professor) é motivar o grupo, controlar seu funcionamento e 
seus resultados, e ajudá­los a definir suas dificuldades; por fim 
o terceiro implica num método pedagógico ativo. Ou seja, nele 
os "alunos", através de suas próprias experiências, devem 
chegar ao conhecimento. 
Observar que a tríade ambiente, educador, educando se 
articula em momentos considerados ideais por alguns 
educadores, para o processo ensino­aprendizagem, ou seja, 
momentos fecundos em que se sente no aluno a tensão 
por conhecer, em que se percebe a ruptura do equilíbrio 
em sua visão e compreensão do mundo que o rodeia, e 
com isso, o surgimento do interesse para recuperar esse 
equilíbrio. Nesses momentos, depois de surpreender­se 
ou desconcertar­se, o aluno começa a perguntar, e as 
questões que formula são autênticas, porque são 
espontâneas e, por essa mesma razão, provocadoras de 
novos interesses [36: p. 47]. 
Ainda sobre isso, é interessante se ressaltar que na literatura 
dedicada à educação na perspectiva construtivista não se encontram 
referências bibliografias relativas a Kurt Lewin. No entanto, foi 
ele quem demonstrou, pela primeira vez, o valor da principal 
da tese construtivista: o ser humano nasce com 
potencialidades para aprender. Mas este potencial só se 
desenvolverá na interação com o mundo, na 
experimentação com o objeto de conhecimento, na 
reflexão sobre a ação [37: p. 94]. 
Quanto às muitas outras referências bibliográficas do 
Construtivismo, são principalmente citados os trabalhos em 
Epistemologia Genética do psicólogo suíço Jean Piaget. 
Porém, é importante se saber que Piaget apenas propõe um 
projeto estruturalista e, portanto, gestáltico para o 
desenvolvimento cognitivo humano; não sendo essa sua 
proposta, de modo direto como no caso dos trabalhos de 
Lewin, uma metodologia aplicável aos trabalhos pedagógicos 
com grupos humanos. 
5..2.2. Métodos para Formação de Educadores. A metodologia 
constitui uma dimensão pedagógica que, provavelmente, 
poderia ser mais beneficiada com a utilização de técnicas 
psicodramáticas. 
A dúvida expressa no "provavelmente poderia ser" se justifica 
quando escutamos a educadora argentina Maria Alicia 
Romaña lamentar­se que, em geral, os professores se 
formam apenas baseando­se em sua intuição, em seu 
afeto por crianças e adolescentes e nos estereótipos de 
professores introjetados em suas vivências como alunos. 
Além disso, lhes são oferecidas fórmulas ou receitas 
sobre como deve ser um professor, o que deve ou o que 
não deve fazer. (...). Se em vez desses elementos que, com 
pequenas variações, intensificam­se nas cadeiras do 
último ano de formação de educadores, trabalhássemos 
com role­playing (treinamento de papéis), o futuro 
professor teria a possibilidade de elaborar suas 
expectativas e seus temores. Tomaria também 
conhecimento de suas idealizações com relação à futura 
profissão, e perceberia, finalmente, com maior 
objetividade, os limites de sua tarefa como educador [36: 
p. 53]. 
5.3. Administração. Se é no campo da saúde onde se verificam as mais 
auspiciosos experiências de aplicabilidade da Dinâmica Grupal, é no campo 
administrativo onde mais se universalizou a sua ideologia. 
A história desse processo de universalização tem dupla entrada: uma 
ocidental, outra oriental. Na cultura ocidental, o primeiro passo para o 
reconhecimento da importância da Dinâmica Grupal na área da administração 
de empresas foram as pesquisas realizadas, em 1928, na usina de Hawthorne. 
Como já historiado, essas pesquisas constataram, cientificamente, que os 
pequenos grupos de trabalho tendem a engendrar estruturas informais nas 
suas relações, havendo com isso profundas mudanças quanto ao significado 
do trabalho, do rendimento e das relações formais e hierarquizadas das áreas 
de produção empresarial. 
5.3.1. Teoria Z. Do oriente, vem a grandiosa contribuição da 
cultura Zen, uma sabedoria milenar que humaniza a 
administração de empresas no Japão. Sobre isso, W. Ouchi, 
um japonês naturalizado norte­americano, publicou um livro 
sobre o que ele denominou de teoria Z. Essa teoria serve para 
explicar alguns dos principais procedimentos que levaram ao 
proverbial êxito de grandes grupos econômicos japonesas, os 
quais Ouchi chamou de empresas do tipo Z, por que nelas a 
"democraticidade" e a integração são considerados um 
fator de eficiência, e daí estimula­se a participação dos 
empregados nas decisões da diretoria e acionam­se vários 
mecanismos para que a competitividade característica do 
ambiente de trabalho dê lugar à cooperação durante o 
expediente e ao coleguismo nos momentos de lazer [38: p. 
336]. 
Esses dois movimentos de orientação geográfica e cultural 
diferentes implicaram em qualificativas mudanças no campo 
da administração de empresas na contemporaneidade. 
Mudanças essas que, tanto do ponto de vista prático como 
do conceitual, podem representar um conjunto de rupturas 
de grande relevância em relação ao paradigma clássico de 
organização empresarial [39: p. 16]. 
Desse modo, hoje é trivial afirmar que, do ponto de vista 
técnico, no setor de recursos humanos do mundo empresarial 
predominam

Outros materiais