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DINÂMICA GRUPAL: CONCEITUAÇÃO, HISTÓRIA, CLASSIFICAÇÃO E CAMPOS DE APLICAÇÃO Por Francisco Danúzio de Macêdo CARNEIRO (FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL/ESCRITÓRIO DE DIREITOS AUTORAIS/CERTIFICADO DE REGISTRO NO 173.454) ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO 1 2. CONCEPÇÕES DA DINÂMICA GRUPAL 2.1. Concepção Ideológica 3 2.2. Concepção Tecnológica 4 2.3. Concepção Fenomenológica 5 3. HISTÓRIA DA DINÂMICA GRUPAL 3.1. Dinâmica Grupal e Condições Históricas dos EUA 3.2. Fatos Relevantes na História da Dinâmica Grupal 3.2.1. Trabalhos do Dr. Pratt 3.2.2. Pesquisas de Hawthorne 3.2.3. Sistematização da Psicoterapia de Grupo 3.2.4. Criação da Sociometria 3.2.5. Fundação do Primeiro Laboratório de Dinâmica Grupal. 4. CLASSIFICAÇÃO DA DINÂMICA GRUPAL 4.1. Dinâmica Grupal: Psicologia e Sociologia 4.2. Dinâmica Grupal: Antecedentes e Desdobramentos 5. APLICAÇÕES DA DINÂMICA GRUPAL 5.1. Saúde 5.1.1. Grupos Operativos em Doenças Orgânicas 5.1.2. Grupos Balint 5.1.3. A Comunidade Terapêutica 5.1.4. Grupos de AutoAjuda 5.2. Educação 5.2.1. Apreensão do Conhecimento 5..2.2. Métodos para Formação de Educadores. 5.3. Administração 5.3.1. Teoria Z 5.3.2. Sociotécnica 5.4. Serviço Social 5.4.1. Serviço Social de GruposSSG. 6. REFERÊNCIAS 7. O AUTOR I INTRODUÇÃO Neste trabalho estão sintetizados vinte anos de múltiplas experiências e contínuas leituras sobre Dinâmica Grupal. Acreditamos que, por propiciar respostas necessárias para a compreensão e resolução do mais essencial dilema humano o relativo à sua convivência social, nos próximos tempos a Dinâmica Grupal ocupará nas ciências humanas um papel com importância semelhante ao que a Psicanálise vem ocupando desde o início deste século. Aliás, observase que, ao mesmo tempo em que essas duas vertentes do conhecimento humano têm uma série de convergências em seus postulados teóricos e em sua aplicabilidade na prática sobre isso, Sigmund Freud foi o primeiro a reconhecer que a psicologia individual era também psicologia social entre elas há também contrastes significativos, dos quais, pela sua pertinência a esta introdução, destacamos apenas um: enquanto a psicanálise foi criada e desenvolvida principalmente por uma única pessoa, o próprio Freud, a Dinâmica Grupal é o resultado de trabalhos de múltiplas pessoas, em múltiplos campos do conhecimento e da atividade humana. Nesta Apostila, tentamos fazer uma síntese dessa multiplicidade, o que será feito através de quatro capítulos: è O primeiro contém uma explanação sobre a conceituação da Dinâmica Grupal. Nesse capítulo, a natureza interdisciplinar da Dinâmica Grupal está expressa numa tríade conceitual: ideológica, fenomenológica e tecnológica. è O segundo é um relato contendo os principais fatos e as condições históricas, especialmente as relacionadas aos Estados Unidos da América, que permitiram o surgimento e o desenvolvimento de uma ciência da grupalidade humana. è O terceiro é um sistema de classificação composto de duas partes: uma considera a Dinâmica Grupal como sendo um ramo pertencente simultaneamente à Psicologia e à Sociologia; na outra, apresentase um esquema classificatório em que partindose dos três autores cujas obras consideramos estruturantes para a Dinâmica Grupal — quais sejam, Freud com a Psicanálise; Kurt Lewin, com a Teoria de Campo; e Jacob Levy Moreno com o Psicodrama e a Sociometria; chegase aos principais desdobramentos teóricos e técnicos da Dinâmica Grupal. è No quarto e último capítulo, escolhemos quatro dos principais campos da atividade humana — isto é, Saúde, Educação, Administração de Empresas e Serviço Social, para demonstrar como é grande a fertilidade, e como já é enorme a quantidade de áreas beneficiadas pelos conhecimentos da Dinâmica Grupal. Finalmente, chamamos ainda a atenção para o fato de que o conteúdo desta apostila se articula e, como acontece num díptico, complementase com o conteúdo do trabalho "Grupo: esquema estrutural e dinâmica grupal", que publicamos em julho de 1999. 2. CONCEPÇÕES DA DINÂMICA GRUPAL Há diversas concepções para a Dinâmica Grupal. Observamos que, no geral, cada uma delas reflete uma posição particular do que seja, e para que serve essa especialidade do conhecimento que trata das relações humanas quando em grupos sociais. Basicamente, podese classificar todas as concepções de três maneiras: ideológica, tecnológica, fenomenológica. 2.1. Concepção Ideológica. Considera que a Dinâmica Grupal é uma forma especial de ideologia política na qual são ressaltados os aspectos de liderança democrática e da participação de todos na tomada de decisões. Também ressaltamse as vantagens, tanto para a sociedade como para os indivíduos comuns, das atividades cooperativas em pequenos grupos. Dessa concepção verificase duas linhas de pensamento e ação: uma, idealista; outra, pragmática. 2.1.1. Linha IdealistaUtópica. Foi especialmente defendida por Jacob Levy Moreno em seu amplo Sistema Socionômico esse seria formado por comunidades baseadas no amor espontâneo, na generosidade e na santidade, na bondade positiva e na cooperação pura [1: p. 22]. Para estruturar essas comunidades, Moreno propôs as técnicas sociométricas. Através delas uma pessoa poderia decidir, de maneira consciente e livre, sobre sua participação em um grupo social qualquer. 2.1.2. Linha Pragmática. Foi cientificamente experimentada por Kurt Lewin. Com as pesquisas sobre o fenômeno da boa liderança, Lewin demonstrou que, quando os seres humanos participavam de atividades em grupos democráticos, não somente sua produtividade era intensificada, como também o seu nível de satisfação era elevado e as suas relações com os outros membros baseavamse na cooperação e na redução das tensões (...) nessas circunstâncias, o grupo tornavase suficientemente autônomo para prosseguir sua tarefa mesmo quando o líder se ausentava [2: p. 98]. 2.2. Concepção Tecnológica. Conforme essa concepção, a Dinâmica Grupal referese a um conjunto de métodos e técnicas usadas em intervenções nos chamados grupos primários, como famílias, equipes de trabalho, salas de aula etc. A rigor, o uso de qualquer uma dessas técnicas objetiva aumentar a capacidade de comunicação e cooperação e, consequentemente, incrementar a espontaneidade e a criatividade dos seres humanos quando em atividade grupal. Todas elas podem, didaticamente, ser enquadradas em duas variantes de intervenção: uma, dos Jogos Dramáticos; outra, do Psicodrama. 2.2.1. Jogos Dramáticos. Essa variante privilegia o jogo espontâneo, muitas vezes sem regras préestabelecidas, para dinamizar a grupalidade humana. Essa variante de concepção da Dinâmica Grupal é universalmente difundida, isso se dá basicamente pelo fato de que a necessidade lúdica do jogo é inerente ao crescimento e desenvolvimento humano, e também porque é especialmente aplicada na área da educação. Nos países anglosaxônicos o jogo dramático espontâneo é uma atividade comum nas escolas de primeiro e segundo grau, sendo incluído na disciplina conhecida como Teatro na Educação, pois é reconhecido como um meio efetivo de aprendizagem tanto para o conteúdo das matérias quanto para a própria vida [3: p. XI/XII]. 2.2.2. Psicodrama. Assim como o seu corolário o Sociodrama, o Psicodrama historicamente se originou no Teatro Espontâneo ou Teatro da Improvisação fundado por Moreno em Viena no ano de 1921. Do Teatro Espontâneo que pretendia pôr fim à repetição da conserva dramática do teatro convencional e dos clichês de papéis, permitindo uma contribuição inteiramente criadora e espontânea para que assim pudesse desenvolver novos papéis, nasceu o Psicodrama [4: p. 31]. Essa variante tecnológica que é centralizada na noção de papéis sociais, e que enfatizaa ação corporal, tem sido utilizada de uma maneira muito especial no campo terapêutico. Para isso, foram desenvolvidas múltiplas técnicas direcionadas especialmente para treinamento de papéis (role playing) caracterizados como saudáveis. Entre as técnicas criadas por Moreno, as mais usadas são: solilóquios, inversão de papéis, duplos, espelhos, realização simbólica, psicodança. 2.3. Concepção Fenomenológica. Aqui estão autores que priorizam suas atividades em torno da idéia de que os fenômenos psicossociais que ocorrem nos pequenos grupos é resultado de um sistema humano articulado como um todo, uma gestalt. Entre esses fenômenos, citamse: coesão, comunicação, conflitos, formação de lideranças etc. Nessa concepção, também podese observar duas formações teóricas: uma, a Psicologia da Gestalt, que é descritiva, pois centra seus postulados na descrição dos fenômenos que ocorrem no aquiagora do mundo grupal — por exemplo, a configuração espacial adotada regularmente por uma unidade grupal; a outra, a Psicanálise, que é explicativa por que procura explicar a unidade do grupo através da idéia de uma ‘mentalidade grupal’ (instinto social), muitas vezes inconsciente para os membros do próprio grupo. 2.3.1. Psicologia da Gestalt. Dessa escola da Psicologia, o grande impulsionador da Dinâmica Grupal foi Kurt Lewin. Lewin, em sua Teoria de Campo, desenvolveu um esquema suigeneris para explicar as interações humanas: baseandose nos princípios da topologia — ramo da geometria que trata das relações espaciais sem considerar a mensuração quantitativa, estabeleceu uma teoria dinâmica da personalidade centrada na idéia de campo psicológico [5: p. 83] que mantém interpendência com múltiplas forças sociais; daí, desenvolveu uma metodologia de trabalho: pesquisaação (action research), na qual o indivíduo é, ao mesmo tempo, sujeito e objeto da ação em estudo; e criou o primeiro laboratório de Dinâmica Grupal, onde em estudos realizados com grupos primários (face to face groups) introduz conceitos retirados da física do campo magnético para descrever os fenômenos da existencialidade social do ser humano — entre os termos os mais comuns são: coesão, locomoção em direção a objetivos, procura de uniformidade, atração e equilíbrio de forças; e a partir deles concebe a idéia do grupo como um todo dinâmico, uma gestalt que não é só resultado da soma dos seus integrantes, mas é possuidor de propriedades específicas enquanto ‘um todo’ [6: P. 5323]. Enfim, para Lewin, esse grupo como uma totalidade dinâmica, busca formas de equilíbrio no seio de um campo de forças sociais, sendo isso, por exemplo, o que explica a emergência de lideranças, fenômenos que aparecem como que reunindo um campo social de alto privilégio, e funciona como centro de atração de todos os movimentos coletivos [7: P. 10]. 2.3.2. Psicanálise. A utilização dos postulados da Psicanálise para explicar a Dinâmica Grupal foi inicialmente tentada por Freud em sua obra "Psicologia de grupo e análise do ego". No entanto, o esquema conceitual, referencial e operativo [8: p. 98] no qual ele desenvolvia sua tarefa, estava referido não propriamente ao que atualmente se concebe como grupo humano (microgrupo; grupo primário; face to face groups), mas sim a fenômenos sociológicos como raças, castas, profissões, multidões etc. No entanto, Freud ao reconhecer que a psicologia individual é, ao mesmo tempo, também psicologia social [9: p. 13], teve uma intuição primordial: quando as pessoas se organizam em grupos, surgem fenômenos como expressão de um instinto especial que já não é redutível — instinto social: herd instinct, group mind —, que não vêm à luz em nenhuma outra situação [9: p. 14). Completa sua intuição com um raciocínio irrefutável: é possível descobrir os primórdios da evolução desse instinto no círculo familiar [9: p. 14]. Wilfredo Bion, partindo das proposições formuladas por Melanie Klein em suas pesquisas na clínica psicanalítica com crianças, esclareceu, com o termo mentalidade de grupo, o significado desse instinto social esse termo designa uma atividade mental coletiva que se produz quando as pessoas se reúnem em grupo (...) a hipótese de sua existência deriva do fato de que o grupo funciona em muitas oportunidades como uma unidade, ainda que seus membros a isto não se proponham nem disto tenham consciência [10: p. 24]. A mentalidade grupal seria assim uma espécie de continente, ‘um todo’ que englobaria todas as contribuições feitas pelos membros do grupo. Conforme a concepção bioniana, esse fenômeno comporta dois níveis: nível da tarefa; nível dos pressupostos básicos — o primeiro, mais ou menos relacionado com algo consciente, designado; o segundo, menos evidente, mas está rotineiramente presente sob forma dos três processos que podem ser inferidos da dinâmica grupal, ou seja, dependência, acasalamento e lutafuga. [11: p. 23]. Enrique PichonRivière, um psicanalista argentino da escola kleiniana, desenvolveu, com sua teoria e técnica do Grupo Operativo, esse esquema de Bion. PichonRivière inicia com uma definição de grupo conjunto de pessoas ligadas entre si por constantes de tempo e espaço, e articuladas por sua mútua representação interna, que se propõe, de forma explícita ou implícita, a uma tarefa que constitui sua finalidade [12: p. 53]. Nessa definição PichonRivière sintetizou as duas condições sine qua non para a existência de todos os grupos humanos: primeira, o termo pessoas articuladas por sua mútua representação interna, pressupõe que essas pessoas tenham algo que as una num nível superior ao que o filósofo francês Jean Paul Sartre definiu como serialidade [12: p. 53]; isto é, quando as pessoas se somam sem efetivamente estabelecerem comunicações que as unam afetivamente como acontece numa fila humana qualquer (em estabelecimento bancário, por exemplo); a segunda condição é a tarefa que constitui sua finalidade. Nessa tarefa, de acordo com a construção bioniana, Pichon Rivière percebeu dois níveis: explícito, implícito. O explícito está representado pelo trabalho produtivo e planificado cuja realização constitui a razão de ser do grupo por exemplo, produção material, aprendizagem, cura, lazer etc. Sob essa tarefa explícita, subjaz outra, a tarefa implícita, que consiste na totalidade das operações mentais que devem realizar os membros do grupo, conjuntamente, para constituir, manter e desenvolver a sua grupalidade. [12: p. 53/54]. Os pressupostos básicos de Bion estão assim implicitamente contidos na mentalidade do grupo em tarefa. E aí se colocam como verdadeiros esquemas organizadores do comportamento desse grupo, e que, frequentemente, poderá determinar um funcionamento grupal aberrante ou excessivamente centrado numa liderança pessoal (na hipótese da dependência); ou excessivamente centrado numa idéia colocada como promessa, esperança para o futuro (na hipótese do acasalamento); ou excessivamente centrado na sua autopreservação, que é mantida como que o grupo reagisse atacando ou fugindo de ameaças internas ou externas (hipótese da lutafuga). 3. HISTÓRIA DA DINÂMICA GRUPAL O interesse científico pela Dinâmica Grupal é recente — tratase de uma ciência do século XX. No entanto, já no século XVIII que, por ter sido caracterizado por enormes avanços no conhecimento humano e pelas grandes revoluções políticas da Inglaterra, da França e da Independência Americana, foi chamado de Século das Luzes, viveu Giambattista Vico (1688 1744), um pensador italiano que hoje é reconhecido por sua aura de precursor das ciências humanas. Vico, em sua obra: "Princípios de uma ciência nova", estabeleceu a diferença entre Ciências Naturais e Ciências Humanas, e propôs, como base de estudo dessa última, um princípio epistemológico consideradofundamental para o desenvolvimento dos diversos campos do conhecimento humanista — quais sejam, Antropologia, Sociologia, Psicologia e a Dinâmica Grupal, um ramo da psicologia social. Esse princípio está expresso na fórmula latina: verum ipsum factum — isto é, só o feito é verdadeiro; ou, só posso demonstrar logicamente o que é obra minha [13: contracapa]. Nos termos da Dinâmica Grupal, esse preceito implicou diretamente na contemporânea metodologia científica denominada de pesquisaação — nessa, o sujeito pode demonstrar logicamente um fenômeno grupal que também é feito, verdadeiramente, por ele enquanto membro desse grupo em estudo. Ou seja, ele tornase sujeitoobjeto da pesquisa. Há também uma notável pertinência epistemológica dessa proposição com a Teoria da Espontaneidade de Moreno. A palavra espontâneo, um termo central na teoria moreniana, etimologicamente deriva do latim sua sponte: ‘de livre vontade’; o que se produz por iniciativa própria do agente, sem ser o efeito de uma causa exterior. Dado que se demonstra a relação dos estados espontâneos com as funções criadoras [4: p. 53], então podese presumir que, em verdade, só o que é criado de maneira espontânea, ‘de livre vontade’, pode ser considerado como obra minha; e também disso inferir que só o espontaneamente feito é verdadeiro. Posteriormente a Vico, já durante o século XIX, ocorreram os avanços nas ciências humanas que permitiram o estabelecimento das bases conceituais e operativas e a atual sistematização científica da Dinâmica Grupal. Dos avanços, três fatos científicos foram fundamentais: è Em 1839, o pensador francês Augusto Comte em seu "Curso de filosofia positiva" criou o termo sociologia — formado do latim socius — companheiro; e do grego logía, estudo, para definir a nova ciência da sociedade [6: p: 10513]. è Em 1879, o psicólogo alemão Wilhelm Wundt criou na Universidade de Leipzig o primeiro laboratório de psicologia, que, com isso, tornouse objetiva e experimental; è Em 1895, o cientista social francês Gustave Le Bon (1841 1931) apresentou, em seu pioneiro trabalho sobre a Psicologia das Multidões, a proposição básica para o entendimento de uma psicologia social: sejam quais forem os indivíduos que compõem um grupo, por semelhantes ou dessemelhantes que sejam seu modo de vida, suas ocupações, seu caráter ou sua inteligência, o fato de haverem sido transformados num grupo, colocaos na posse de uma espécie de mente coletiva que os faz sentir, pensar e agir de maneira muito diferente daquela pela qual cada membro dele, tomado individualmente, sentiria, pensaria e agiria, caso se encontrasse em estado de isolamento [9: p. 18]. Essa proposição e os argumentos de Le Bon para justificála, serviu de parâmetro para o estudo sobre Psicologia de Grupo publicado por Freud em 1921. Contudo, só no século XX, foram estabelecidas as condições para se conferir cientificidade aos temos da Dinâmica Grupal. Um relato sobre essas condições pode ser feito considerandose dois níveis de fatos: 1o) Dinâmica Grupal e condições históricas dos EUA. Considerase alguns fatos especificamente relacionados à história dos Estados Unidos da América e suas relações com o desenvolvimento da Dinâmica Grupal; 2o) Fatos da história do desenvolvimento da Dinâmica Grupal. Apresentase uma seqüência de cinco acontecimentos históricos relevantes para a consolidação dessa ciência na atualidade. 3.1. Dinâmica Grupal e Condições Históricas dos EUA. As excepcionais condições nos campos políticoideológico, econômico, e científicotecnológico dos EUA neste século, foram extremamente favoráveis para o desenvolvimento de uma ciência da grupalidade humana naquele país. Quanto a isso, o que é sempre ressaltado é a radical coerência entre os postulados da Dinâmica Grupal e os parâmetros do campo políticoideológico norteamericano. Essa coerência pode ser observada nos seguintes fatos: 3.1.1. Os ideais de democracia e participação estão presentes desde os primórdios da formação social americana — quanto a isso o pensador francês Alexis de Tocqueville acentua sobretudo o sistema de valores dos imigrantes puritanos que povoaram a América, e o seu duplo sentido da igualdade e da liberdade [14: p. 214]. 3.1.2. O associativismo, como uma resposta pragmática às enormes dificuldades encontradas pelos primeiros colonizadores, é inerente ao processo de formação da nação americana. Sobre isso, o mesmo Tocqueville em seu célebre tratado "Sobre a democracia na América", publicada em 1864, fez a seguinte observação: tenho encontrado na América todos os tipos de associações. Os americanos de diversas idades, condições e opiniões se associam constantemente. Não somente em termos comerciais e industriais, mas também religiosos, morais, sérios ou fúteis, gerais ou particulares e de grandes ou pequenas associações. Na França, você encontra liderando um novo projeto, o Estado; na Inglaterra, um grande proprietário e, na América, uma associação. [15: p. 2]. 3.1.3. A peculiar situação política dos EUA no período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. Na década de 30, a sociedade americana, em contraposição aos sistemas totalitários que predominavam no mundo de então (nazismo na Alemanha, stalinismo na Rússia, monarquia absoluta no Japão etc., era o que Karl Popper caracterizou como sociedade aberta [16: p. 53], pois regida por parâmetros democráticos. Isto é, a liberdade de comunicação e associação é uma garantia da Constituição Federal, e há funcionamento independente dos poderes executivo, legislativo e judiciário. Foram essas condições democráticas que permitiram que, nessa década de 30, inúmeros cientistas e pensadores de renome abandonassem seus países de origem e fossem desenvolver seus trabalhos nos Estados Unidos entre eles, muitos eram de origem judáica que fugiam do nazismo alemão, como os já citados autores fundamentais para a Dinâmica Grupal: Kurt Lewin e Jacob Levy Moreno. 3.1.4. As dramáticas mudanças na economia americana ocorridas na década de trinta, mais especificamente entre os anos de 1929, crack da bolsa de New York, e 1941, ano do ataque japonês a Pearl Harbour e da entrada americana na II Guerra. Nesse curto período de tempo, a economia americana desenvolveuse, com dramáticas modificações, em três etapas: 1a) inicialmente, a grave recessão com desemprego em massa; 2 a) depois, a fase de recuperação determinada por uma planejada intervenção governamental com reorganização financeira, mobilização coletiva e pesados investimentos econômicos na área pública, uma política denominada de New Deal; 3a) finalmente, a aceleração do crescimento da economia que foi impulsionada pelos esforços coletivos organizados para a guerra. Todas essas fases econômicas propiciaram situações muito favoráveis ao desenvolvimento de trabalhos com grupos: na época da recessão, a preocupação com "rendimento" determinou o estudo, por parte dos psicólogos, dos fatores de rendimento das equipes de trabalho [15: p. 2]; na fase de recuperação, foi necessário um amplo processo de mobilização coletiva e a utilização de métodos massivos de propaganda e mobilização, e isso instigou os dirigentes a programarem, nas suas pesquisas e análise dos fenômenos coletivos, meios de ação sobre os grupos humanos; a preparação para a guerra obrigou os especialistas a intensificarem suas pesquisas sobre os fatores de coesão e eficácia das pequenas unidades de trabalho, os elementos do ‘moral’ dos grupos isolados em operações, e os processos acelerados de formação pelos métodos de grupos [15: p. 2]. 3.2. Fatos Relevantes na História da Dinâmica Grupal. Os cinco fatos mais marcantes para a história da Dinâmica Grupal no século atual aconteceram nos Estados Unidos da América, e foram os seguintes: 3.2.1. Trabalhos do Dr. Pratt.Em 1905, o médico Joseph Pratt trabalhando num sanatório de Boston, introduziu entre seus pacientes internados com tuberculose uma metodologia de trabalho chamado de classes coletivas [17: p. 23]. As classes tinham como finalidade acelerar a recuperação física dos enfermos mediante uma série de medidas sugestivas que eram administradas através de informações técnicas sobre a doença e dentro de um clima de cooperação grupal. Com esse método, que foi concebido como terapias exortativas paternais que atuam pelo grupo [17: p. 23], Pratt tornouse pioneiro, pois foi o primeiro a utilizarse de forma sistemática e deliberada das emoções coletivas com fins terapêuticos. A notável eficácia da abordagem de Pratt, fez com que fosse estendida para muitas outras categorias nosológicas, como diabetes, neuroses, e alcoolismo — Alcóolicos Anônimos (AA), organização iniciada em 1935, é o exemplo mais significativo dessa tendência terapêutica [17: p. 23]. 3.2.2. Pesquisas de Hawthorne. Em 1928, na usina de eletricidade de Hawthorne da Western Electric em Chicago, foi realizado um conjunto de pesquisas lideradas pelo australiano Elton Mayo. Esses estudos foram concebidos com base nos métodos da Psicologia Experimental usados por Wilhelm Wundt em Leipzig, e inicialmente procurava determinar o efeito de determinados fatores ambientais, iluminação do ambiente por exemplo, sobre a produtividade. Com o andamento da experiência, verificouse que os operários comportavam se como acreditavam que deveriam, e não como os pesquisadores esperavam — por exemplo, aumentavam sua produção quando os pesquisadores diziam que a iluminação aumentava, quando ela na realidade não se alterava. A partir daí, o experimento demonstrou que era impossível estabelecer uma correlação simples e direta entre os fatores físicos do ambiente de trabalho e a produtividade. As causas do desempenho estavam no comportamento humano. Como conseqüência de um trabalho de quase uma década, Mayo e seus colaboradores lançaram as bases de uma nova filosofia de administração, que passou a ser chamada de Relações Humanas no Trabalho. Os pontos principais dessa filosofia são os seguintes: è O sistema social formado pelos grupos determina o resultado do trabalho individual que quase nunca coincide com os padrões impostos pela administração; è A administração não deve estabelecer relações com o indivíduo, mas com o grupo [18: p. 27]. 3.2.3. Sistematização da Psicoterapia de Grupo. Por volta de 1932 estava completo o desenvolvimento para sistematização da Psicoterapia de Grupo. Inicialmente devese ressaltar que a psicoterapia de grupo começou como uma ciência do grupo terapêutico e não do grupo "em si". A contribuição que a psicoterapia de grupo forneceu à Dinâmica Grupal é a de que ela se ocupa, de forma realística, com a patologia do grupo [19: p. 19]. Por volta de 1931, começaram quase que simultaneamente em Nova Iorque dois movimentos com a utilização de pequenos grupos para o tratamento de transtornos psíquicos: início dos trabalhos psicodramáticos por Moreno; início da Grupoterapia ativa de Samuel R. Slavson. Com o início desses dois trabalhos, foram criadas as duas principais organizações de terapeutas de grupo: a Associação Americana de Psicoterapia de Grupo fundada por Slavson, e a Sociedade Americana de Psicoterapia de Grupo e Psicodrama criada por Moreno [11: p. 7]. E também delineiamse os dois modelos básicos para se abordar um grupo com objetivos terapêuticos: diretivo; não diretivo. O primeiro, um estilo que Moreno, um líder narcísico e carismático [11: p. 6], desenvolveu na terapia pela ação do Psicodrama. O segundo modelo institucionalizouse na Sociedade de Slavson, um educador progressista influenciado pelas idéias democráticas de John Dewey (...) um autodidata, pioneiro da terapia psicanalítica de grupo com crianças [11: p. 119, 467]. è O Modelo psicodramático de Moreno representou uma revolução conceitual e operativa para o manejo psicoterápico de grupos humanos. Conceitualmente, a maior contribuição moreniana à Dinâmica Grupal foi a introdução do termo tele. Tele é um fator que na sociometria, uma outra criação de Moreno que será abordada num próximo item, indica encontro humano. Esse mesmo sentido de tele permitiu a Moreno propor o psicodrama como um método terapêutico único, abrangente e capaz de, via o encontro na ação grupal, efetivar uma cura. A justificativa moreniana é expressa na seguinte construção: Mesmer afirmava que as curas hipnóticas são devidas ao magnetismo animal. Bernheim demostrou que não é o magnetismo animal que produz a cura, mas a sugestionabilidade do sujeito. Freud descartou a terapia pela hipnose e declarou que o eixo da sugestionabilidade (e portanto da cura) é a transferência [20: p. 18]. Completando esse raciocínio, Moreno propôs o tele como superação da relação transferencial — o tele é o corolário do encontro que se estabelece entre o terapeuta e o clientegrupo, sendo assim o autêntico eixo da cura. Operativamente, o novo da proposta moreniana está no formato terapêutico. Um formato terapêutico consiste em duas partes, uma é o veículo, tal como o divã, a cadeira, o palco do teatro terapêutico etc.; e outra, são as instruções relativas ao modo de comportarse quanto ao veículo [20: p.117]. Quanto ao veículo, a grande contribuição moreniana à terapia grupal consistiu na introdução do palco. Esse permitiu a ativa participação do grupo, enquanto atores e platéia de um drama terapêutico, nos processos de cura. O palco também propiciou um ambiente terapêutico com instruções específicas: o desempenho de papéis. Na terminologia inglesa, desempenhar papéis significa role playing, e consiste em colocar as pessoas (atores) em várias situações e em vários papéis [20: p. 157]. Com isso, buscase a espontaneidade e o seu corolário a criatividade que são os fatores fundamentais para um vida humana saudável. è Slavson, em suas contribuições à psicoterapia de grupo, partilha da crença subjacente do primado da abordagem do indivíduo em grupo. Em sua abordagem individualista a Dinâmica Grupal era minimizada e as concepções do grupo funcionando como uma entidade eram vigorosamente atacadas [11: p. 133]. O modelo terapêutico de Slavson, que é chamado de intrapessoal por acentuar o primado da psicodinâmica individual no grupo, e por ver na situação da terapia grupal uma réplica do tratamento umaum (um terapeuta, um paciente) da psicanálise individual, foi contestado pelo modelo integralista que vê o grupo como um todo, como o local e a força motivacional principal para a mudança terapêutica [11: p. 10]. O modelo integralista mais consistente foi apresentado na já citada concepção de Wilfredo Bion. Bion, que se achava familiarizado com a teoria de campo de Kurt Lewin, e via o grupo como dinamicamente diferente dos membros individuais [11: p. 31], concebeu, a partir de suas experiências como psicoterapeuta de grupo na Tavistock Clinic de Londres durante a Segunda Guerra Mundial, a citada teoria dos pressupostos básicos para explicar o grupo como um todo. Em termos práticos Bion defendeu a idéia de que o papel do terapeuta de grupo reside essencialmente em confrontar o grupo como um todo com seus temas de fantasia inconscientes partilhados sob forma dos pressupostos básicos [11: p. 8]. O trabalho de Bion com a Dinâmica Grupal foi muito breve. Contudo, suas concepções e o campo de trabalho estruturado na Tavistock Clinic impulsionaram as pesquisas e as experiências com terapia grupal em todo o mundo. Na América Latina, mais especificamente na Argentina do final de década de cinqüenta, um fértil campo terapêutico foi desenvolvido, ocupandolugar central os trabalhos com grupo operativo de PichonRivière. A concepção de grupo operativo surgiu a partir da idéia bioniana de que as atividades grupais comportam dois níveis: nível da tarefa, e nível dos pressupostos básicos. PichonRivière propôs uma psicoterapia de grupo centrada na tarefa [8 p. 84]. Para ele, juntamente com a idéia de que o grupo é o agente da cura, o terapeuta deve fazer uma análise sistemática das dificuldades do grupo em tarefa. Isto é, a atividade terapêutica está centrada na mobilização de estruturas e condutas estereotipadas que imobilizam a realização de uma tarefa pelo grupo [8 p. 84]. Conforme o esquema pichoniano, essas estruturas estereotipadas são determinadas pelas ansiedades despertadas pelas mudanças que uma tarefa impõe ao grupo. Por sua vez, PichonRivière, inspirado na teoria dos mecanismos de defesa primitivos de Melanie Klein, identificou duas modalidades básicas de ansiedades que podem paralisar a atividade grupal: (a) ansiedade depressiva, determinada pelo abandono do vinculo que o grupo mantinha com uma tarefa anterior; (b) ansiedade paranóide, criada pelo novo vínculo que o grupo deverá manter com a outra atividade a que estará submetida. Nessas circunstâncias, o papel do coordenador (terapeuta) deve ser a de diminuir essas ansiedades, favorecendo o vínculo entre o grupo e o campo de sua tarefa. Conseqüente a isso, é estruturado um grupo operativo onde o esclarecimento, a comunicação, a aprendizagem e a resolução de tarefas coincidem com a cura [8: p. 98]. Em PichonRivière esse funcionamento aberrante emerge como ansiedades e conflitos que podem paralisar a realização da tarefa pelo grupo. Por isso é necessário que seja trabalhado para que o grupo continue a existir eficazmente em torno de uma tarefa. Nesse sentido, ocupa papel fundamental uma liderança formal ou informal. Essa liderança, no acontecer grupal, é representada por aquele indivíduo que se faz depositário dos aspectos positivos do grupo, tornandose assim uma espécie de direcionador das diversas atividades desenvolvidas pelo grupo [12: p. 56]. Para finalizar, devese atentar que, para desempenhar um bom papel corretor e bem direcionador das atividades grupais, a liderança, ao mesmo tempo em que deve desmistificar (desvelar) essa dinâmica subjacente que paralisa os trabalhos em grupo, deve também assumir a função de aglutinar a cooperatividade do grupo em torno do planejamento e realização da tarefa produtiva. 3.2.4.Criação da Sociometria. Em 1932, Moreno cria, simultaneamente com o Psicodrama, a Sociometria. Na apresentação desse método, Moreno define a sociometria como a ciência da medida do relacionamento humano [19: p. 39]. Contudo, coloca um pressuposto nessa definição científica — o método sociométrico foi concebido a partir de uma outra referência epistemológica básica, qual seja, a religiosa. Moreno reconhece que, rigorosamente, a religião não é considerada um referencial científico. Apesar disso ele próprio contraargumenta com pertinência: religião vem de religare, que é o princípio de tudo reunir, de ligar em conjunto. [19: p. 21], e daí propõe a sociometria como a ciência que busca a essência da ligação, da religação, e da vinculação humana. Ademais, a base religiosa permitiulhe a criação de uma verdadeira estrutura cosmológica para a sociedade humana. Essa estrutura formaria um sistema social utópico por ele denominado de socionômico cujo projeto, em princípio, visava a uma elucidação do fenômeno social tal qual era vivido no seu interior pelos seres humanos que dele participavam, o que exigiria a adoção de métodos diretos e experimentais [4: p. 121]. Ou seja, exigiria a adoção do método sociométrico. Ainda nesse ideal utópico, estavam implicitamente delineados os três eixos que fundamentariam a sociometria, e que também se constituiria na principal contribuição de Moreno à ciência da Dinâmica Grupal, quais sejam, o conceito de espontaneidadecriatividade, o fator tele, a teoria do papel. Quanto a isso, Moreno afirma numa citação autobiográfica que minha posição religiosa original compreendia três aspectos: primeiro, a hipótese da espontaneidade criatividade como força propulsora do progresso humano, acima e independente da libido e dos motivos sócio ecônomicos; segundo, a hipótese do amor e da partilha mútua como princípio funcional poderoso e indispensável na vida de um grupo; terceiro, a hipótese de uma comunidade superdinâmica baseada nestes princípios que pode ser efetivida através de técnicas sociométricas [1: p. 23]. Ou seja, repetindo, esses três aspectos englobam o que atualmente é considerado os fundamentos da concepção moreniana relativa à pessoa humana: o conceito de espontaneidadecriatividade para a dimensão individual; o amor, e sua expressão o fator tele, em sua projeção social; o papel, como eu tangível, resultado da conjugação dessas duas dimensões anteriores. A espontaneidade está no princípio da sociometria, pois um processo sociométrico só merece fé quando os seus participantes manifestam espontaneamente suas preferências. [21: p. 120]. O papel, um conceito derivado do teatro e introduzido na sociologia e na psiquiatria por Moreno, indica a posição (status) que a pessoa assume dentro da sociedade. [21: p. 211]. O teste sociométrico visa justamente captar esse status num indivíduo de uma relação grupal. O tele é um corolário do religioso conceito amor — summum bonum [22: p. 24]. Na Dinâmica Grupal o que unifica e constitui a unidade grupal é o tele [21: p. 195]. O fator télico possibilita o encontro na grupalidade humana. Nessa mesma grupalidade, o fator que opera facilitando o desencontro, a desagregação grupal, é a "força" descrita pela psicanálise como transferência. O tele é ainda uma proposição sociométrica que pode ser expressa na seguinte relação: eleição e percepção do indivíduo para o grupo/eleição e percepção do grupo para o indivíduo. Com isso o tele tornase fatorável. Significando que, através de um teste sociométrico, ele pode ser expresso num fator numérico; o qual, num primeiro plano, indica um valor relativo ao status que um indivíduo ocupa numa grupalidade; e, num plano maior, indica um valor relativo ao nível de agregação conseguido pelo grupo do qual esse indivíduo faz parte. Esses valores relativos, por sua vez, podem ser apresentados através de tabelas e gráficos denominados de sociogramas. Encerrando com Dalmiro Bustos, um psicodramatista argentino que, mercê de sua formação psicanalista, realizou, após visitar Moreno em seu Instituto de Beacon (Nova York) em 1969, um trabalho para aperfeiçoamento do Teste Sociométrico: tele implica um conceito existencial e totalizador, intelectivo, afetivo, biológico e social. Ao abandonar o acaso em nossa infância começa a seleção. Buscamos sociometricamente aqueles que complementem positivamente nossos objetivos, rechaçamos outros ou permanecemos indiferentes a terceiros. Quando se dá o encontro, existe a certeza e não são necessárias verbalizações de confirmação. Produzemse respostas condutas coerentes com as propostas. Deste modo sabemos que é o fator télico que está funcionando. [23: p. 17]. 3.2.5. Fundação do Primeiro Laboratório de Dinâmica Grupal. Em 1945 Kurt Lewin funda, a pedido do Instituto Tecnológico de Massachusets (Massachusets Institute of Technology M.I.T.), o primeiro centro de pesquisas dedicado especificamente à Dinâmica Grupal. Como acontece com todas as outras ciências, a história da Dinâmica Grupal também pode ser dividida em dois períodos: précientífico e científico. Podese dizer que o período précientífico desenvolveuse até a década de trinta quando Kurt Lewin e seus colaboradoresrealizaram as primeiras pesquisas empíricas, teoricamente significativas com grupos humanos. Até esse período, quem sentia curiosidade pela natureza dos grupos para obter respostas às suas questões dependia, sobretudo, da experiência pessoal e de documentos históricos. Foram criados sistemas teóricos complexos e muito amplos, pois foram concebidos por homens de notável capacidade intelectual, entre os quais: Cooley, Durkheim, Tarde, Le Bon, Freud. [24: p. 6/7]. As pesquisas que Lewin e sua equipe realizaram entre a década de trinta e quarenta, e que levaram ao reconhecimento científico e ao convite para fundação do laboratório no M.I.T. representaram para as ciências sociais, sobretudo para a psicologia e a sociologia, uma verdadeira rebelião empírica. Nesses trabalhos, em vez de se aceitar a especulação sobre a natureza dos grupos, procuraramse os fatos e buscaramse separar dados objetivos e impressões subjetivas. [24: p. 7]. Entre esses trabalhos, dois são destacados, tanto porque apresentam um procedimento metodológico de fácil operacionalização e reprodutibilidade; como também pelo alto valor heurístico de suas conclusões, podendo, por isso, ser consideradas como um verdadeiro padrãoouro utilizável no campo das pesquisas científicas com a Dinâmica Grupal. Em virtude da mencionada importância histórica dessas duas pesquisas, será apresentado um relato sobre as mesmas, e também será feita uma apresentação do que ficou conhecido como TGroup, uma técnica iniciada por Lewin a partir dessas pesquisas com a Dinâmica Grupal. Porém, antes desse relato, devese considerar que a lewiniana equipe iniciou cada uma das duas pesquisas com um pressuposto básico: na primeira, a pressuposição era a de que os grupos funcionam como totalidades dinâmicas, e que realizam seu equilíbrio num "campo de forças". No entanto, mesmo sendo um "campo de forças", uma pressão exterior pode modificálo ou basta que se integre a informação no campo perceptivo do grupo para provocar a mudança [2: p. 95]; a segunda, referiuse aos estados de equilíbrio grupal. Nesta, pressupunhase que, como uma gestalt, o grupo busca uma "boa forma" em seu equilíbrio. [2: p. 97]; Primeira pesquisa: em 1943, o estado de relativa penúria devido à constituição de reservas para o exército levou as autoridades norte americanas a se voltarem para os meios de mudar os hábitos alimentares dos estadunidenses. Era necessário persuadilos de que as vísceras (coração, rins etc.), muitas vezes rejeitadas, tinham as mesmas qualidades nutritivas da carne considerada "de primeira". Toda uma campanha de informações pela imprensa, pelo rádio, por cartazes tinha tentado demonstrar as vantagens econômicas desta mudança. Apesar dos meios utilizados, os resultados se revelaram insignificantes. Lewin foi então encarregado pelo governo americano de estudar um novo modo de ação. De princípio constatou que eram as donasdecasa que representavam o elemento de decisão em toda compra de carne consumida pelas famílias. Decidiu então atuar sobre pequenos grupos de donasdecasa. Ao iniciar os trabalhos, achouse diante do seguinte problema: ou acentuava o caráter positivo do consumo das vísceras; ou diminuía as reticências diante desses alimentos julgados negativamente. Reuniu então vários grupos de uma quinzena de pessoas. Em metade desses grupos, especialistas qualificados (como médicos e nutricionistas) explicaram como e por que deveria se consumir tais pedaços de carne. Essas explicações revelaramse decepcionantes, pois somente 3% dos membros dos grupos aceitaram realmente as informações, traduzindoas em seus comportamentos alimentares. Na outra metade dos grupos, a equipe de pesquisadores contentouse em colocar o problema para os participantes: tendo em vista a difícil situação econômica com grave escassez de carne, de que modo é possível mudar o consumo para que haja disponibilidade de carne para toda a população? Depois deixou a discussão desenvolverse sem intervir, exceto para fornecer informações, quando eram pedidas. Essas discussões permitiram a cada dona de casa a possibilidade de falar sobre seu próprio comportamento, de analisar suas atitudes diante dos problemas etc. Ficou rapidamente claro que a recusa desses alimentos baseava se em certos receios subjetivos, preconceitos que pareciam possíveis de ultrapassar. Resoluções foram tomadas em comum, e as participantes se comprometeram a modificar suas atitudes. Com efeito, os resultados mostraram que 32% delas modificaram suas compras, e passaram a usar em seu cardápio as vísceras. Lewin e sua equipe tiraram do fato constatado a seguinte conclusão: na primeira metade dos grupos, ao trazer a informação por meio de autoridade, aumentavase a pressão por uma mudança. No entanto, seria necessário uma pressão mais forte, mais autoritária para que essa solução tivesse êxito, o que poderia desencadear tanto agressividade quanto recusa por parte do grupo. Na outra metade, ao invés de aumentar, por meios autocráticos, as pressões externas, ele preferiu reduzir as resistências que se opunham à mudança através do diálogo do compromisso com a mudança pelos participantes. Com isso, houve deslocamento para um novo equilíbrio grupal. Segunda pesquisa: os estudos dos estados de equilíbrio levam Lewin e sua equipe a procurar qual deva ser "a boa forma" de um grupo. Isto é, para que tipo de organização um grupo deva dirigirse. O experimento que ilustra essas pesquisas é conhecido com o nome de "experimento dos três climas". Três grupos de crianças eram voluntários para a construção de maquetes de teatro. Essas crianças foram agrupadas por afinidades, o que facilitava a coesão no grupo e motivação na tarefa. Daí, pensavase que os resultados do grupo dependeria do tipo de organização utilizada. Em cada grupo um experimentador induziu uma forma diferente de organização. No primeiro grupo, o experimentador define os objetivos e os meios para atingílos, e as crianças devem obedecer a seguinte exigência: é um grupo autocrático, em que a organização é definida "de fora", pelo experimentador. No segundo grupo, o experimentador define com as crianças as finalidades, os meios e a divisão das tarefas: é um grupo democrático, em que os indivíduos interagem para encontrar a melhor organização. No terceiro grupo, o experimentador não impõem nem propõe nada, o grupo é entregue a si mesmo: é um grupo sem diretrizes, um grupo laissez—faire. O experimento mostrou resultados diferentes, conforme os três tipos de organização. No grupo autocrático a tarefa é efetuada sem entusiasmo; a produção é "média"; as relações interpessoais são tensas; os participantes sentemse frustrados e suas atitudes oscilam entre a apatia e a agressividade. Assim que o experimentador deixa a sala. o trabalho é interrompido. No grupo democrático a produção é "boa", o nível de satisfação elevado, e as relações entre os membros baseiamse na cooperação com a redução das tensões. O grupo é suficientemente autônomo para prosseguir em sua tarefa quando o animador se ausenta. No grupo "laissezfaire" a produção é pequena, os participantes mostram um constante sentimento de frustração e de fracasso, a agressividade entre os membros é intensa. Desse experimento, foi tirado uma conclusão quanto à "boa forma" grupal: o grupo democrático, por ser o mais produtivo e por trabalhar dentro do "melhor clima", mostrouse a forma ideal de organização social. TGroup: Após essas duas pesquisas, e com a fundação do laboratório no M.I.T., Kurt Lewin e seu grupo de colaboradores ampliaram o campo de experiências aplicando a Dinâmica Grupal em treinamentos de relações humanas.O método utilizado então passou a ser denominado de TGroup (Training Group, ou Grupo de Treinamento). Para viabilização desse método, Lewin partiu de uma outra pressuposição básica: é possível a modificação da conduta individual através de transformação do comportamento em grupo [25: p. 13]. A comprovação desse pressuposto, que também é coerente com os formulados para as duas pesquisas anteriores, deuse com uma série de sessões de grupos. Dessas, será apresentado um resumo histórico da experiência inicial, quando Lewin e sua equipe fez, fortuitamente, a descoberta do poderoso meio de formação e de mudança em Dinâmica Grupal, o TGroup. [15: p. 69]. A história do TGroup começa em 1946 quando, numa escola estadual para formação de professores primários em ConnecticutEUA, foi realizada uma experiência sob a responsabilidade técnica do centro de pesquisa de Dinâmica Grupal dirigido por Lewin. Essa experiência tinha como finalidade principal testar hipóteses concernentes aos efeitos comparados das conferências e dos estudos de casos sobre o comportamento e suas mudanças. Ao mesmo tempo também objetivava formar animadores de grupo em organizações pedagógicas. Nas sessões iniciais, os participantes, em número de 30, eram divididos em três grupos que se reuniam sob a coordenação de um monitor e com a presença de um observador que preenchia as folhas de observação das interações e da dinâmica grupal. Os sub grupos empregavam seu tempo entre estudos de casos com jogos de papéis e exposições magistrais. Para avaliação dessas reuniões foram organizadas sessões especiais de trabalho, as quais reuniam os animadores oficiais e os observadores para verificar as observações e discutílas. Durante o desenvolvimento dos trabalhos, alguns participantes da experiência que moravam nessa escola pediram para assistir a essas sessões de avaliação. Após discussões entre os membros da equipe coordenadora, eles foram admitidos. Aconteceu então algo imprevisto que é descrito assim: Lewin e sua equipe de animadores não previra os efeitos sobre os participantes da descrição de seus comportamentos, nem a maneira pela qual seria preciso orientar as relações entre a equipe e os ouvintes voluntários. Aberta a discussão, o efeito foi elétrico, primeiramente, foi preciso, inexoravelmente, abrir essas reuniões às demais pessoas interessadas, e logo todos passaram a comparecer. As reuniões prolongavamse por três horas seguidas. Os participantes declaravam que elas eram essenciais, e ninguém mais deixou de lembrar o programa previsto, os casos que a equipe preparava, as situações trazidas pelos membros voluntários, os jogos de papéis etc. [15: p. 69]. Logo depois nasceu a idéia de substituir o conteúdo das sessões que era baseado em fatos ocorridos "um outro lugar, num outro tempo", pela análise do comportamento dos próprios membros do grupo no "aquiagora" (em latim: hic et nunc) das sessões. E assim o papel do monitor passou a consistir em atrair a atenção do grupo sobre o hic et nunc vivido e não apenas racionalizado pelos membros do grupo. Infelizmente, no início de 1947 Kurt Lewin morre subitamente, o que certamente dificultou a continuidade e o aprofundamento teórico das pesquisas por sua equipe. No entanto, os seus achados com o TGroup influenciaram de maneira decisiva o desenvolvimento teórico e prático de diversas áreas da Dinâmica Grupal na atualidade — Gestalterapia, SócioAnálise, Grupos de Encontro, Grupo Operativo etc. Para encerrar este capítulo, citase apenas duas dessas áreas de influência: (a) Grupos de Encontro; (b) Grupo Operativo. (a) Grupos de Encontro. Em verdade constituiuse num amplo movimento grupalístico que se desenvolveu, especialmente na sociedade americana, durante a década de sessenta. Esse movimento foi iniciado pelo psicólogo Carl Rogers e se caracterizou pela amplitude de uma organização multitudinária, pelas experiencias comunitárias, e pela postura liberalizante em sua prática grupal [26: p. 130]. Esta última característica, um aspecto fundamental da concepção dita rogeriana, se expressa numa postura que é prescritiva para o animador de um Grupo de Encontro, qual seja, a nãodiretividade. Sobre isso, ressalvese ainda dois fatos: primeiro, conforme uma observação crítica, com sua técnica, Rogers buscou apenas uma fundamentação éticofilosófica, não existindo nele qualquer preocupação científicoepistemológica. [26: p. 130]; segundo, essa fundamentação éticofilosófica foi absorvida por correntes pedagógicas contemporâneas que encontraram em Rogers, com o seu personalismo radicalmente libertário e a sua recusa de toda relação de autoridade na experiência pedagógica, [6: p. 3621], o modelo ideal para a prática de uma almejada educação humanista. (b) Grupo Operativo. Iniciouse com a denominada "Experiência Rosário", um seminário coordenado por PichonRivière, em 1958, numa instituição universitária da cidade de Rosário na Argentina. Em Rosário ocorreu uma experiência de laboratório social que se efetivou mediante as técnicas de investigação ativa de Kurt Lewin, e que teve como propósito a aplicação de uma didática interdisciplinar e de caráter acumulativo [12: p. 88]. Dela resultou a técnica do Grupo Operativo que está centrada na tarefa, onde teoria e prática se resolvem numa práxis permanente e concreta do "aquiagora" de cada campo grupal assinalado. Finalmente, devese assinalar que Grupo Operativo não é um termo utilizado para se referir a uma técnica específica, e nem a um tipo determinado de grupo — Grupo Terapêutico, por exemplo. Mas referese a uma forma de pensar e operar em grupos, que pode se aplicar à coordenação de diversos tipos de atividades grupais, existindo, portanto, grupos operativos terapêuticos, familiares, de aprendizagem, de reflexão, entre outros. [12: p. 53]. 4. CLASSIFICAÇÃO DA DINÂMICA GRUPAL A Dinâmica Grupal é uma ciência Interdisciplinar. Portanto, qualquer um dos modelos que se use para sua classificação deve considerar as múltiplas disciplinas científicas a ela relacionada. Nesta obra será apresentado um modelo composto de dois itens: primeiro, um esquema classificatório com posicionamento da Dinâmica Grupal perante a Psicologia e a Sociologia, ou seja, perante as duas ciências humanas a que está diretamente vinculada; segundo, um quadro divisório relacionando os grandes antecedentes, e as linhas de influência mais significativa da Dinâmica Grupal. 4.1. Dinâmica Grupal X Psicologia e Sociologia 1.1.1. Behaviorismo (Psicologia Comportamental) 1.1. Psicologia Individual 1.1.2. Psicanálise (Psicologia Dinâmica) 1. Psicologia 1.2.1. Psicologia das Massas (Multidões) 1.2. Psicologia Social 1.2.2. Psicologia dos Grupos Dinâmica Grupal 2.1. MicroSociologia 2. Sociologia 2.2. MacroSociologia Observar que a Dinâmica Grupal foi colocada numa situação de dupla equivalência: a psicologia de grupos e a microsociologia. No entanto, podese afirmar, com fundamentos, que a Dinâmica Grupal está ligada primordialmente à Psicologia, e secundariamente à Sociologia. Uma fundamentação para esta afirmativa será apresentada nos parágrafos seguintes. No campo da Sociologia é feita a divisão entre macrosociologia e microsociologia. A primeira trata da vida social na escala mais ampla das organizações sociais, das comunidades e das sociedades inteiras. A segunda focaliza o mundo faceaface da interação social. [27: p.139]. A microsociologia referese ao que C.H. Cooley, num dos estudos clássicos das ciências sociais define como "grupos primários", isto é, aqueles grupos que se caracterizam pela associação íntima, faceaface entre seus membros.[6: p. 5516]. Considerando que essa definição de Cooley é compatível com o conceito que Pichon Rivière dá ao fenômeno grupo, então, podese afirmar que, por terem nos "grupos primários" o mesmo objeto de estudo, a Dinâmica Grupal e a microsociologia referem se a uma mesma especialidade das Ciências Humanas. Contudo, sobre isso devese ainda considerar que há pertinência na perspectiva teórica que percebe no fenômeno grupo um arcabouço entremeado em espiral e constituído pela tríade: a) estrutura; b) processo; c) conteúdo. [28: p. 16]. a) Estrutura. Em termos sociológicos, referese ao conceito de morfologia social, e tem quase o mesmo sentido que os geógrafos utilizam para designar o modo pelo qual a população se distribui pela terra. A estrutura é essencialmente material, física. [6:p. 4303]. Isto é, referese aos aspectos espaço—temporais do quando, onde e quem, que é exemplificado nos termos grupos primários ou secundários, classes sociais, instituições, comunidades, sociedade etc. b) Processo. Referese aos aspectos dinâmicos que são ativados dentro e entre essas estruturas. [28: p. 17]. A ação se desenvolve como interação e comunicação na estrutura social. c) Conteúdo. Diz respeito ao significado desta ação nesta estrutura. Significado este que estabelece a coesão, a coerência e a continuidade grupal [28: p. 18]. Sendo assim, e observandose que desde os seus fundadores Augusto Comte, Herbert Spencer e Emil Durkheim, a sociologia esteve particularmente interessada na estrutura social — Durkheim em 1901, definiu a sociologia como a ciência das instituições [28: p. 17] tendo secundarizado a abordagem dos processos e dos significados da ação social. Ainda devese considerar que o tangível num processo grupal é o comportamento de seus membros; e que o significado desse processo está baseado na subjetividade desses componentes. Assim, considerandose que os elementos comportamento e subjetividade constituise no próprio objeto de estudo da Psicologia, então, a Dinâmica Grupal, que também busca estudar esses elementos na grupalidade humana, é, sobretudo, uma derivação da Psicologia. De fato, para completar, foi principalmente o desenvolvimento da Psicologia entre o final do século XIX e o início do século XX que permitiu o surgimento e a sistematização de uma ciência do grupo humano. Nesse desenvolvimento da Psicologia destacamse duas linhas teóricas: a psicanálise e a psicologia da gestalt; e uma área prática: a psicoterapia de grupo. A Dinâmica Grupal constituiuse, enquanto especialidade das ciências humanas, principalmente referenciada nesses três campos da Psicologia, de onde ela retirou os seus principais conceitos e os elementos necessários para operacionalizar os seus termos. Baseado na argumentação acima exposta, apresentase a seguir o já citado Quadro Divisório. Nele estão relacionados os principais antecedentes, e os desdobramentos mais significativos da Dinâmica Grupal. 4.2. Dinâmica Grupal X Antecedentes e Desdobramentos Quanto ao quadro da pagina anterior devese fazer apenas três considerações: 10) Ele é resultado de uma adaptação de um quadro apresentado no manual sobre Psicoterapia de Grupo que foi elaborado por uma equipe coordenada por Osvaldo Saidon. O quadro, segundo seus autores, representa uma tentativa de decifrar as linhas de influência que podem ser identificadas em relação às práticas terapêuticas de grupo mais difundidas no panorama atual deste campo; [26: p. 16]; 20) O denominador comum entre os citados autores estruturantes está justamente no caráter estruturalista de suas investigações. Sobre isso, observase que o grupo é um fato privilegiado para investigação social, pois nele o caráter de totalidade próprio às estruturas [29: p. 10] é evidente. 30) A propósito dessa última afirmação, sabese que através da sociometria podese demonstrar, matematicamente, a procedência da propriedade expressa na fórmula: o todo é mais do que a soma de suas partes. Isto é, exemplificando: considere o tele como o fenômeno grupal que preenche esse caráter de totalidade. Então, ao se buscar um cálculo de um índice télico num grupo operativo qualquer, podese verificar que, mais do que o simples somatório das manifestações télicas de cada um dos participantes nessa atividade grupal, deve ser considerado outras propriedades estruturais de grupo [29: p. 10], como os subgrupos em parelhas e triangulações formadas entre os indivíduos em interação operativa. 5. APLICAÇÕES DA DINÂMICA GRUPAL Como está na classificação, a Dinâmica Grupal é uma ciência interdisciplinar. Isso significa que são múltiplas as suas aplicações técnicas, e, por conseguinte, também são múltiplos os campos dos saberes humanos que podem ser beneficiados com seus conhecimentos. Entre os saberes beneficiados, citaríamos um enorme rol: saúde, educação, serviço social, administração de empresas, política, esportes, religião etc. No entanto, para efeitos descritivos, escolhemos apenas os quatro primeiros relacionados acima — Saúde, Educação, Administração e Serviço Social, para fazer uma sucinta descrição sobre os seus termos que são particularmente beneficiados com os conhecimentos da Dinâmica Grupal. 5.1. Saúde. Na área da saúde humana é onde se situam os resultados mais promissores das aplicações práticas da Dinâmica Grupal. Neste sentido o destaque cabe às já apresentadas psicoterapias grupais. No entanto, além desse campo de aplicação, o qual já foi suficientemente relatado em capítulos anteriores, os trabalhos grupais têm se mostrado de grande utilidade em muitas outras áreas da saúde humana. Apresentase quatro exemplos: 5.1.1. Grupos Operativos em Doenças Orgânicas. Trabalhos de Grupos Operativos são largamente utilizadas como adjuvantes no tratamento de pessoas com doenças orgânicas consideradas crônicas. Desse modo, em diversas instituições médicas têm sido formados grupos operativos com portadores de diabetes, nefropatias, tuberculoses etc. Esses grupos têm funcionado com objetivos diversos. No nosso meio hospitalar, já funcionam Grupos Operativos formados por esse tipo de clientela, um deles reúne pacientes dialisados do setor de nefropatia do Hospital Geral de Fortaleza. O grupo objetiva melhor preparálos para enfrentarem as dificuldades inerentes a sua enfermidade, e contribuir para o bom êxito do processo de hemodiálise. Nas reuniões são realizadas atividades para incentivar o acompanhamento rotineiro com nefrologista; para transmitir informações úteis sobre a doença e métodos terapêuticos, para facilitar o estabelecimento de hábitos considerados saudáveis para o nefropata crônico, e, enfim, para melhorar o suporte psicoemocional, e Integrar os familiares no processo terapêutico [30: p. 1]. 5.1.2. Grupos Balint. Nos grandes Hospitais de Ensino Universitário são aplicadas muitas técnicas grupais para facilitar a formação e o aperfeiçoamento médico. Entre essas técnicas, é imprescindível uma menção aos Grupos Ballint. Esses grupos, cujo nome homenageia o psicanalista inglês Michel Ballint que, nos anos 5060, desenvolveu essa técnica grupal, consiste, basicamente, em discutir a dinâmica das relações humanas contidas no bojo das situações clínicas trazidas pelos médicos participantes do grupo, na medida em que os mesmos experimentavam e reconheciam em sí próprio os dinamismos inconscientes inerentes a essa tarefa [31: p. 352]. Nas reuniões buscase fazer com que os integrantes do grupo desenvolvam a capacidade de refletir acerca dos fenômenos relacionais inconscientes. Essa capacidade de reflexão implica no desenvolvimento simultâneo das capacidades para perceber, sentir, pensar, agir e, especialmente, o aprender a aprender manejar as diversas situações no diaadia da atividade clínica. 5.1.3. A ComunidadeTerapêutica e suas reuniões comunitárias nas quais todos os pacientes e membros do quadro de pessoal de uma unidade de saúde mental se reunem, é o mais complexo dos grupos terapêuticos [11: p. 498]. A primeira experiência de Comunidade Terapêutica aconteceu no Northfield Military Hospital, na Inglaterra durante a II Guerra Mundial. Nesse hospital militar, onde, entre outros, trabalhavam Bion, Tom Main, Pat de Mare e Sigmund Foulkes, aconteceram, nesse período, mudanças radicais em sua organização social, havendo transformações quanto aos cuidados médicos e ao papel dos pacientes em seu processo terapêutico — com os pacientes buscavase superar as atitudes de passividade e retraimento estimulando a participação ativa numa comunidade de estrutura grupal [11: p. 498]. Nas décadas que se seguiram a essa primeira experiência em Northfield, a onda de comunidades terapêuticas espraiouse pelas instituições psiquiátricas do mundo ocidental e, com ela, sua marca distintiva: a reunião comunitária. Quanto a essa modalidades de reunião podese dizer que elas, do ponto de vista da terapêutica, apresentam vantagens e desvantagens. Contudo, como é inerente uma índole positiva nesta obra, será dito apenas sobre o que Sigmund W. Karterud, professor de psiquiatria na Universidade de Oslo, considera a função de Foro para Partilha de Informações a vantagem mais óbvia das assembléias de comunidade terapêutica, isto é: a reunião comunitária pode alcançar a todos e informálos a respeito de acontecimentos que afetam a unidade como um todo. Quem se acha presente, quem não compareceu e por quais razões? Novos pacientes são apresentados, alguns pacientes podem estar indo embora, e membros do quadro de pessoal falam a respeito de suas próprias ausências. Atuações dramáticas — tais como comportamentos grosseiramente aberrantes, rompimento de normas e tentativas de suicídio — são geralmente trazidas ao conhecimento geral na reunião comunitária. Ao lado de seu puro valor informativo, a reunião também fornece oportunidades para avaliarse a importância dinâmica dos eventos comunitários e corrigir percepções distorcidas [11: p. 499]. 5.1.4. Grupos de AutoAjuda. Um movimento grupal que se universalizou e se diversificou graças a uma imagem modelada por poucas idéias simples mas bastante poderosas: pessoas comuns com um problema comum reunemse, partilham seus problemas e aprendem umas com as outras, sem utilizarse da ajuda de profissionais, em settings que os membros do grupo possuem e controlam [11: p. 244]. Atualmente, em todo o mundo, é enorme a quantidade de grupos de autoajuda — Morton A. Lieberman, um professor de psiquiatria do San Francisco School of Medicine, realizou um estudo com mais de 3.000 grupos de autoajuda somente da Califórnia. Também é enorme a diversidade de suas linhas de ação: alcoolistas, narcóticos, neuróticos, comedores compulsivos, fumantes etc. De todos esses grupos o mais disseminado e popular é o constituído pelo movimento mundial de Alcoólicos Anônimos (AA). O primeiro grupo de AA aconteceu após um encontro casual entre um cirurgião de renome: o Dr. Bob, e um corretor de imóveis conhecido como Bill W., ambos de Nova York e alcoólicos desenganados pela medicina. Eles fundaram o primeiro grupo de Alcoólicos Anônimos no ano de 1935 em Akron, OhioEUA. Uma análise mais cuidadosa da estrutura dos grupos AA, revela que seu dinamismo e real efetividade no tratamento do alcoolismo se assenta em três elementos, os quais como que se articulam em três níveis ideológicos: fundo religioso; metodologia grupalística; ação individualizante. è O fundo religioso colocouse desde as idéias primordiais para criação dos primeiros grupos de AA. Sobre isso Bill W. diz que foi convencido por seu médico, o Dr. Silkworth, de que as experiências espirituais libertam pessoas que sofrem do alcoolismo [32: p. 58]. Bill W. também relata que, em 1934, estava internado no Hospital Charles B. Towns em Nova York quando leu um livro de William James — Variedades da experiência religiosa — no qual ele encontrou uma resposta para sua profunda crise existencial e, ao mesmo tempo, entendeu aquilo que poderia ser uma fórmula para efetivar a cura de um alcoolismo como o seu. Bill W. diz: James achava que as experiências espirituais poderiam ter realidade objetiva, quase do mesmo modo como as dádivas do céu poderiam transformar as pessoas. Algumas eram, de repente, iluminações brilhantes, outras vinham muito gradativamente. Algumas nasciam de fontes religiosas, outras não. Mas quase todas tinham denominadores comuns de dor, sofrimento, e calamidade. Total desespero e fundo do poço eram quase sempre necessários para se chegar à aceitação [32: p. 58]. A fórmula encontrada por Bill W. se formou com esses dois termos: fundo do poço, aceitação. O fundo do poço estava representado na condição de absoluta miséria existencial a que estava lançado devido ao seu alcoolismo; e também no total desespero pela constatação de que tanto ele, como todas as outras pessoas (especialistas) tinham fracassado no intento de resgatálo de tão baixa condição. Daí, houve uma súbita compreensão: somente Deus lhe restava como superior autoridade capaz de presidir o seu destino. Também houve a aceitação da idéia de que, como ponto de apoio humano, só lhe restavam aqueles que eram semelhantes a ele na tão miserável condição de alcoólatra. Essa aceitação implicou na concepção da citada fórmula, a qual está apresentada numa citação que se grifa de Bill W.: O Dr. Carl Jung tinha contado a um amigo quão sem esperança era o seu alcoolismo. O Dr. Silkworth tinha dito a mesma coisa em relação a mim. É provável que somente esses testemunhos nunca fizessem com que eu aceitasse completamente o veredicto. Mas, quando um alcoólico começou a falar com outro alcoólico a coisa deu certo [32: p. 58/59]. Dessa aceitação também derivou um duplo compromisso: missionário associativista. Isto é, a sua missão seria trabalhar pela recuperação dos que padecem do alcoolismo, e isto seria feito através de associações entre alcoólatras. Esse duplo compromisso, posteriormente, se materializou em dois Códigos de Ética, os quais fundamentam a existência da própria organização grupal: As doze tradições; Os doze passos. è A metodologia grupalistica é claramente delineada nas Doze Tradições: nosso bem estar deve estar em primeiro lugar; a reabilitação individual depende da unidade de A.A. [33: p. 13] diz a primeira tradição. No entanto, é na quarta onde está explicitado aquilo que pode ser considerado, nos termos da Dinâmica Grupal, o elemento que melhor justifica a eficácia dessa metodologia. Essa outra tradição diz: cada grupo deve ser autônomo [33: p. 13]. Em termos práticos e teóricos a questão da autonomia ocupa lugar primordial no acontecer grupal. Sobre isso o conceito central é Projeto. Max Pagés, um professor de psicologia social da Universidade de ParisDauphine, afirma, com muita propriedade, que existe uma projeto autogestionário inconsciente em todos os grupos, independente das ideologias ou das origens sociais. É um projeto em que o grupo assume a responsabilidade de todos os aspectos de sua própria vida [34: p. 89]. PichonRivière também pensou sobre essa questão. Para ele, o projeto surge, num processo dialético, como emergente da tarefa, e dáse quando todos os membros do grupo conseguem visualizar o objetivo grupal. Isto significa ter conhecimento de que pertence a um grupo específico, com objetivos também específicos [12: p. 55]. O Projeto, geralmente, se concretiza na elaboração de um Plano de Trabalho ou de um Código de Ética. Por outro lado, ainda conforme Max Pagés, o projeto é ao mesmo tempo individual e relacional. Ele visa afrontara contradição entre a expressão sem repressão nem inibição, dos desejos individuais, e a ação em relação com os outros [34: p. 89]. Essa duplicidade do Projeto está bem definida no que preceituam mais duas das tradições: a quinta que diz que cada grupo é animado de um único propósito primordial — o de transmitir sua mensagem ao alcoólatra [34: p. 33]; e a terceira tradição: para ser membro de A.A., o único requisito é o desejo de abandonar a bebida [33: p. 23]. Em suma, um propósito (projeto) grupalístico voltado primordialmente para um desejo individual de abandonar o alcoolismo. Mas esse desejo individual também deveria estar bem delineado e isso foi feito nos Doze Passos. è A ação individualizante é expressão dos Doze Passos. Esse código surgiu da idéia religiosa de que a embriaguez e a desintegração do alcoólatra não são penalidades impostas por nenhuma autoridade; elas são os resultado da desobediência pessoal aos princípios espirituais. Portanto, o alcoólatra precisa obedecer certos princípios se não morre [32: p. 108]. Podese dizer que, dos doze passos, três sintetizam tudo o que foi dito acima sobre os A.A. Apresentase os três para encerrar este capítulo: Primeiro passo: admitimos que éramos impotentes perante o álcool — que tinhamos perdido o domínio sobre nossas vidas [35: p. 13]. Segundo passo: viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolvernos à sanidade [35: p. 17]. DécimoSegundo passo: tendo experimentado um despertar espiritual graças a esses passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades [35: p. 93]. 5.2. Educação. A pedagogia dos grupos permite uma síntese perfeita entre instrução e socialização do indivíduo. Todas as vertentes da Dinâmica Grupal contribuem para essa perfeição, no entanto, foram os achados de Lewin e de Moreno que mais contribuíram para esse objetivo pedagógico. Didaticamente, ao se diferenciar as contribuições entre um e outro desses autores, podese dizer que os postulados lewinianos se relacionam mais à apreensão do conhecimento dentro do processo de aprendizagem; e os achados morenianos são diretamente aplicáveis no treinamento do papel do educador no processo de sua formação profissional. 5.2.1.Apreensão do Conhecimento. As já relatadas experiências de Lewin permitiram o desenvolvimento de uma nova mentalidade pedagógica em que se destacam três princípios: no primeiro, o grupo (classe) não é concebido como ambiente de competição, mas sim como ele mesmo, um fato de cooperação, sendo por isso um objeto de sua própria instrução; o segundo preceitua que o papel do monitor (professor) é motivar o grupo, controlar seu funcionamento e seus resultados, e ajudálos a definir suas dificuldades; por fim o terceiro implica num método pedagógico ativo. Ou seja, nele os "alunos", através de suas próprias experiências, devem chegar ao conhecimento. Observar que a tríade ambiente, educador, educando se articula em momentos considerados ideais por alguns educadores, para o processo ensinoaprendizagem, ou seja, momentos fecundos em que se sente no aluno a tensão por conhecer, em que se percebe a ruptura do equilíbrio em sua visão e compreensão do mundo que o rodeia, e com isso, o surgimento do interesse para recuperar esse equilíbrio. Nesses momentos, depois de surpreenderse ou desconcertarse, o aluno começa a perguntar, e as questões que formula são autênticas, porque são espontâneas e, por essa mesma razão, provocadoras de novos interesses [36: p. 47]. Ainda sobre isso, é interessante se ressaltar que na literatura dedicada à educação na perspectiva construtivista não se encontram referências bibliografias relativas a Kurt Lewin. No entanto, foi ele quem demonstrou, pela primeira vez, o valor da principal da tese construtivista: o ser humano nasce com potencialidades para aprender. Mas este potencial só se desenvolverá na interação com o mundo, na experimentação com o objeto de conhecimento, na reflexão sobre a ação [37: p. 94]. Quanto às muitas outras referências bibliográficas do Construtivismo, são principalmente citados os trabalhos em Epistemologia Genética do psicólogo suíço Jean Piaget. Porém, é importante se saber que Piaget apenas propõe um projeto estruturalista e, portanto, gestáltico para o desenvolvimento cognitivo humano; não sendo essa sua proposta, de modo direto como no caso dos trabalhos de Lewin, uma metodologia aplicável aos trabalhos pedagógicos com grupos humanos. 5..2.2. Métodos para Formação de Educadores. A metodologia constitui uma dimensão pedagógica que, provavelmente, poderia ser mais beneficiada com a utilização de técnicas psicodramáticas. A dúvida expressa no "provavelmente poderia ser" se justifica quando escutamos a educadora argentina Maria Alicia Romaña lamentarse que, em geral, os professores se formam apenas baseandose em sua intuição, em seu afeto por crianças e adolescentes e nos estereótipos de professores introjetados em suas vivências como alunos. Além disso, lhes são oferecidas fórmulas ou receitas sobre como deve ser um professor, o que deve ou o que não deve fazer. (...). Se em vez desses elementos que, com pequenas variações, intensificamse nas cadeiras do último ano de formação de educadores, trabalhássemos com roleplaying (treinamento de papéis), o futuro professor teria a possibilidade de elaborar suas expectativas e seus temores. Tomaria também conhecimento de suas idealizações com relação à futura profissão, e perceberia, finalmente, com maior objetividade, os limites de sua tarefa como educador [36: p. 53]. 5.3. Administração. Se é no campo da saúde onde se verificam as mais auspiciosos experiências de aplicabilidade da Dinâmica Grupal, é no campo administrativo onde mais se universalizou a sua ideologia. A história desse processo de universalização tem dupla entrada: uma ocidental, outra oriental. Na cultura ocidental, o primeiro passo para o reconhecimento da importância da Dinâmica Grupal na área da administração de empresas foram as pesquisas realizadas, em 1928, na usina de Hawthorne. Como já historiado, essas pesquisas constataram, cientificamente, que os pequenos grupos de trabalho tendem a engendrar estruturas informais nas suas relações, havendo com isso profundas mudanças quanto ao significado do trabalho, do rendimento e das relações formais e hierarquizadas das áreas de produção empresarial. 5.3.1. Teoria Z. Do oriente, vem a grandiosa contribuição da cultura Zen, uma sabedoria milenar que humaniza a administração de empresas no Japão. Sobre isso, W. Ouchi, um japonês naturalizado norteamericano, publicou um livro sobre o que ele denominou de teoria Z. Essa teoria serve para explicar alguns dos principais procedimentos que levaram ao proverbial êxito de grandes grupos econômicos japonesas, os quais Ouchi chamou de empresas do tipo Z, por que nelas a "democraticidade" e a integração são considerados um fator de eficiência, e daí estimulase a participação dos empregados nas decisões da diretoria e acionamse vários mecanismos para que a competitividade característica do ambiente de trabalho dê lugar à cooperação durante o expediente e ao coleguismo nos momentos de lazer [38: p. 336]. Esses dois movimentos de orientação geográfica e cultural diferentes implicaram em qualificativas mudanças no campo da administração de empresas na contemporaneidade. Mudanças essas que, tanto do ponto de vista prático como do conceitual, podem representar um conjunto de rupturas de grande relevância em relação ao paradigma clássico de organização empresarial [39: p. 16]. Desse modo, hoje é trivial afirmar que, do ponto de vista técnico, no setor de recursos humanos do mundo empresarial predominam
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