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Fichamento - Émile Durkheim

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Fichamento de "As Regras do Método Sociológico" – Émile Durkheim
O autor procurou, com este livro, traçar a primeira metodologia unificada para o recém-fundado campo de investigação científico-sociológico. Seu primeiro passo então seria reconhecer que uma pretensa ciência da sociedade deveria ir além dos preconceitos tradicionais, da opinião do senso comum, “pois o objeto de toda ciência é fazer descobertas e toda descoberta desconcerta mais ou menos as opiniões aceitas”. Do desenvolvimento desta ideia surge uma das primeiras normas e percepções de seu método: o sociólogo não deve se deixar intimidar pelo resultado de sua pesquisa se ela for metodicamente conduzida, tendo sempre em mente que as “maneiras de pensar mais costumeiras são antes contrárias do que favoráveis ao estudo científico dos fenômenos sociais”. Ele prevê casos até onde “o caráter normal de uma coisa e os sentimentos de aversão que ela inspira podem inclusive ser solidários”.
Durkheim tem consciência e assume que este método é conservador, na medida em que “considera os fatos sociais como coisas cuja natureza (...) não é modificável à vontade”, e com isso rebate possíveis críticas de pensadores mais exaltados, que buscam “transformar o mundo” com revoluções. Nas suas palavras: “Bem mais perigosa é a doutrina que vê neles apenas o produto de combinações mentais, que um simples artifício dialético pode (...) subverter de cima a baixo! ”.
Esclarece ainda seu objetivo, que é estender o racionalismo científico à conduta humana – para ele, possível de ser reduzida a relações de causa e efeito – e que “uma operação não menos racional pode transformar a seguir em regras de atuação no futuro”. Essas informações anteriores fazem-se presentes no prefácio da primeira edição. Na segunda edição, após encarar a resistência dos leitores, o autor usa o prefácio para defender-se e rebater certas críticas que oportunamente citarei quando tratarmos de características do fato social.
O autor novamente, na introdução, justifica a criação dessa pretensa metodologia unificada. Para ele, “as precauções a tomar na observação dos fatos, a maneira como os principais problemas devem ser colocados, o sentido no qual as pesquisas devem ser dirigidas, as práticas especiais que podem permitir chegar aos fatos, as regras que devem presidir a administração das provas, tudo parecia indeterminado. (...) Assim, fomos levados (...) a elaborar um método que julgamos mais definido, mais exatamente adaptado à natureza particular dos fenômenos sociais”.
Assim, consideradas as premissas fundamentais, é no primeiro capítulo que Durkheim apresenta o conceito de fato social, através de exemplos, como “toda maneira de fazer sentir, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independentemente de suas manifestações individuais”. Para chegar a esta conclusão, ele expõe a influência repressiva da consciência pública e a dificuldade de resistência e superação de um fato social, causada pela coerção, e delimita um espaço investigatório para a Ciência Social, distinto do biológico e do psicológico, pelo fato social encontrar-se fora do indivíduo e, muitas das vezes, em representações (não concretas como algo orgânico, mas mesmo assim reais).
Aproveita também para demonstrar como a educação produz o ser social, espalhando-se na consciência coletiva. Ressalta, no entanto, que “um fenômeno só pode ser coletivo se for (...) geral”. Ser coletivo é “ser comum a todos os membros da sociedade”, é “estar em cada parte por estar no todo”. Ser geral é ser “comum a maior parte dos membros da sociedade”, é “estar no todo por estar nas partes”.
Um trecho importante deste capítulo é: “cumpre assinalar que a imensa maioria dos fenômenos sociais nos chega dessa forma. Mas, ainda que se deva, em parte, à nossa colaboração direta, o fato social é da mesma natureza”. Aqui, Durkheim transparece que sua teoria dá espaço relevante à ação individual no processo social.
Concebido e conceituado o fato social, o autor definirá as regras relativas à sua observação. “A primeira regra e a mais fundamental é considerar os fatos sociais como coisa. (...) Para que a ciência seja objetiva, é preciso que ela evidentemente exprima os fenômenos, não em função de uma ideia de espírito, mas de propriedades que lhe são inerentes. É preciso que ela os caracterize por um elemento integrante da natureza deles, não pela conformidade deles a uma noção mais ou menos ideal. Donde a regra seguinte: Jamais tomar por objeto de pesquisas senão um grupo de fenômenos previamente definidos por certos caracteres exteriores que lhe são comuns, e compreender na mesma pesquisa todos os que correspondem a essa definição”.
Persistindo na definição do comportamento correto do sociólogo, Durkheim empreende duas importantes considerações: a de que o conceito do senso comum não é inútil à ciência, embora deva servir apenas como indicador da existência de um fenômeno social; e, finalmente, a de que “as partes variáveis do senso moral não são menos fundadas na natureza das coisas do que as partes imutáveis; as variáveis pelas quais as primeiras passaram testemunham apenas que as próprias coisas variavam”. Depois de expostos, faz todo sentido introduzir a definição do próprio autor. “Quando, portanto, o sociológico empreende a exploração uma ordem qualquer de fatos sociais, ele deve esforçar-se em considerá-los por um lado em que estes se apresentam isolados de suas manifestações individuais”.
Na conclusão da obra, fica óbvio que a ciência social deve existir “independente da filosofia. (...) tudo que ela pede que lhe concedam é que o princípio de causalidade se aplique aos fenômenos sociais. (...) A sociologia, portanto, não é o anexo de nenhuma outra ciência; ela própria é uma ciência distinta e autônoma, e o sentimento a especificidade da realidade social é inclusive tão necessário ao sociólogo, que somente uma cultura especificamente sociológica é capaz de prepará-lo para a compreensão dos fatos sociais”.
Émile Durkheim previa que seu método seria superado brevemente. Acreditava que coube a ele definir regras iniciais para compreensão da sociedade por uma ciência recém-criada. Por enquanto, sua obra ainda permanece como uma das mais fundamentais às ciências sociais contemporâneas.

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