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1 Noções de criminologia NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA CONCEITO, MÉTODO, OBJETO E FINALIDADE DA CRIMINOLOGIA CONCEITO Etimologicamente, criminologia deriva do latim crimen (delito) e do grego logo (tratado), sendo o antropólogo francês Topinard (1830- 1911) o primeiro a utilizar este termo, que só adquire reconhecimento ofi cial, sendo aceito internacionalmente graças à obra de Garofalo, o qual junto com seus compatriotas italianos: Lombroso (que fala de Antropologia Criminal) e Ferri (que evoluciona em direção a Sociolo- gia Criminal), podem ser considerados como os três grandes fundadores da Criminologia Científi ca. A criminologia pode ser conceituada como uma ciência baseada em fatos que se ocupa do crime, do criminoso, da vítima e do controle social dos delitos. Portanto, a criminologia tem como objeto o estudo da criminalidade, ou seja, estuda o crime e o criminoso. A criminologia quando surgiu explicava a origem da delinquência, utilizando o método das ciências, o esquema causal e explicativo, ou seja, buscava a causa do efeito produzido. Nessa linha, encontramos as teorias que se seguem: Teorias Ecológicas ou da Desorganização Social – a ordem social, estabilidade e inte- gração contribuem para o controle social e a conformidade com as leis, enquanto a desor- dem e a má integração conduzem o indivíduo ao crime e à delinquência. Teorias da subcultura delinquente – pressu- põe a existência de uma subcultura da violên- cia, fazendo com que alguns grupos passem a aceitar a violência como um modo comum de resolver os confl itos. Teoria da anomia – (anomia é uma pa- lavra que tem origem etimológica no grego [a – ausência; nomos – lei] e que signifi ca sem lei, conotando também a ideia de iniquidade, injustiça e desordem). A motivação para a delinquência decorreria da impossibilidade de o indivíduo atingir metas desejadas por ele. Como afi rmava Rousseau, a criminologia deveria procurar a causa do delito na socie- dade. Assim, Rousseau entendia que a socie- dade tinha grande participação na pratica da conduta criminosa. Por outro lado, Lombroso encarava de forma diferente, dizia que para erradicar o delito deveríamos encontrar a eventual causa no próprio delinquente e não no meio social ou seja na coletividade. MÉTODO Vitorino Prata Castelo Branco, escreveu em seu livro Criminologia Biológica, Socio- lógica e Mesológica, que “método é o meio empregado pelo qual o pensamento humano procura encontrar a explicação de um fato, seja referente à natureza, ou ao homem ou à sociedade”. Portanto, podemos perceber que método é um trabalho de refl exão humana, que visa explicação para uma determinada situação real e concreta. Cabe frisar que o método só pode ser confi ável quando ele está cientifi camente sistematizado. Temos dois métodos que despontam no estudo da criminologia: o método abstrato, formal e dedutivo defendido pelos estudiosos considerados clássicos no estudo da criminolo- gia. E o método empírico e indutivo que tem como seus defensores os positivistas. O método científi co, isto é, o método em- pírico (baseado na observação e, no caso da Criminologia, na experimentação), é consi- derado, na atualidade, extensível também ao estudo do comportamento delitivo, sem descartar, em razão disso, o possível emprego de outros métodos, é dizer, aplicação de forma não excludente. O princípio da unidade do método científi co pôs fi m, assim, à tradicio- 2 Noções de criminologia nal dicotomia metodológica defendida por Dilthey, autor que sustentou a necessidade de que as ciências “naturais”, de uma parte, e as do “espírito”, de outra, tivessem seus respectivos métodos. Em defi nitivo, o método empírico garante um conhecimento mais confi ável e seguro do problema criminal desde o momento em que o investigador pode verifi car ou refutar suas hipóteses e teorias sobre ele pelo procedimen- to mais objetivo: não a intuição, nem o mero sentido comum ou a communis opinio, mas sim a observação. A Criminologia é uma ciência do “ser”, empírica; o Direito, uma ciência cultural, do “dever ser”, normativa. Em consequência, enquanto a primeira se serve de um método indutivo, empírico, baseado na análise e na observação da realidade, as disciplinas jurí- dicas utilizam um método lógico, abstrato e dedutivo. O método que predomina na criminologia é o empírico que pode ser entendido como aque- le que busca por meio da observação conhecer o processo, utilizando-se da indução para depois estabelecer as suas regras, o oposto do método dedutivo utilizado no Direito Penal. Foi graças à Escola Positiva que surgiu a fase científi ca da Criminologia e generalizou-se a utilização do método empírico. Vale mencionar que, o Empirismo não é achismo ou meras deduções sem nenhuma base científi ca. O método empírico é árduo e de pouco conhecimento dos profi ssionais do mundo jurídico. Assim, o método empírico parte de determinada premissa (s) correta(s) para deduzir dela as consequências. O OBJETO DA CRIMINOLOGIA A Criminologia fundamenta o seu objeto no estudo de alguns pontos fundamentais como o de- lito, o delinquente, a vítima e o controle social. Vejamos: a) crime: pode ser entendido como fato típico, antijurídico e culpável. O agente só pode ser condenado por uma conduta que seja perfeitamente adequada a um tipo penal. Essa conduta é chamada de típica. Se não houver correspondência entre o fato praticado e a des- crição legal, a conduta será atípica e portanto, não será considerado crime. b) deliquente: é a pessoa que infringe a norma penal, sem justificação e de forma reprovável. Aos delinquentes condenados e submeti- dos a um devido processo legal aplica-se uma sanção criminal, uma pena (privativa de liber- dade, restritiva de direitos, multa) que tem como função prevenir e também a repressão do delito. Tipos de delinquentes mais comuns: ladrão � – aquele que se apropria indevida- mente de algo que pertence a outros. assassino � – aquele que tira a vida de outra pessoa, sem estar em situação de legítima defesa. estuprador ou violador � – aquele que força outra pessoa a manter relação sexual. estelionatário � – aquele que se aproveita da ignorância de uma ou mais pessoas para obter vantagem para si próprio. sequestrador � – aquele que rapta uma pes- soa e exige da família um pagamento em troca da libertação dessa. falsário � – aquele que produz dinheiro falso. c) vítima: a criminologia busca descobrir as consequências da pratica do crime em relação a pessoa da vítima. Vítima é a pessoa que, individual ou coletivamente, tenha sofrido danos, inclusive lesões físicas ou mentais, sofri- mento emocional, perda fi nanceira ou diminui- ção substancial de seus direitos fundamentais, como consequências de ações ou omissões que violem a legislação penal vigente, nos Estados membros, incluída a que prescreve o abuso de poder”. (Resolução n.º 40/34 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 29 de novembro 85). A vítima é entendida como um sujeito capaz de infl uir signifi cativamente no fato delituoso, em sua estrutura, dinâmica e prevenção; São apontados algumas variáveis que inter- vêm nos processos de vitimização, como por exemplo a cor, raça, sexo, condição social. d) controle social: é o conjunto de institui- ções, estratégias e sanções sociais que pretendem promover à obediência dos indivíduos aos mode- los e regras comunitárias. Encontra-se dividido em: 1. Controle social formal: polícia, judiciário, administração penitenciária etc.; 2. Controle social informal: família, escola, igreja. 3 Noções de criminologia FINALIDADE A criminologia tem como função transmitir para a sociedade e os poderes públicos sobre o delito, odelinquente, a vítima e o controle social, reunindo todo o contexto do fato cri- minoso e não apenas o crime em si. Busca-se compreender cientifi camente o problema cri- minal, preveni-lo e intervir com efi cácia e de modo positivo no homem delinquente. A in- vestigação criminológica, enquanto atividade científi ca, reduz ao máximo a intuição e o sub- jetivismo, submetendo o problema criminal a uma análise rigorosa, com técnicas empíricas. Portanto, verifi ca-se que a criminologia tem como fi nalidade uma análise completa, abor- dando todos os aspectos de um fato criminoso e não apenas o crime em si. Vale ressaltar que a criminologia estuda o crime como fato biopsicossocial e o criminoso em sua integralidade, vida e histórico social, biológico, psicológico, psiquiátrico do indivíduo, e não fi cando adstrito ao terreno científi co. Vitorino Prata, que reconhecendo a con- dição de ciência da Criminologia, salienta: “Embora o homem seja o mesmo em qualquer parte do mundo, os crimes têm características diferentes em cada continente, devido à cultura, à história própria de cada um. Há, pois, uma criminologia iugoslava, criminologia brasileira, chinesa, enfi m, uma criminologia própria de cada raça ou cada nacionalidade”. HISTÓRIA DO PENSAMENTO CRIMINOLÓGICO Uma das classifi cações históricas da Crimi- nologia divide o seu desenvolvimento em duas fases: período pré-científi co e período cientí- fi co. O período pré-científi co abrange desde a antiguidade onde encontramos alguns textos esparsos de alguns autores que já demonstra- vam preocupação com o crime, terminando com o surgimento do trabalho de Lombroso e de Beccaria. A criminologia passou a existir com o surgimento da Escola Clássica. Durante a Idade Média, destaca-se a influência e o poder político da Igreja, questão que de- termina todo o pensamento em torno da de- linquência por meio da filosofia escolástica e da teologia, que modelaram diretamente o campo do Direito Penal. O positivismo criminológico surge no fi m do séc. XIX com a Scuola Positiva que foi encabe- çada por Lombroso, Garofalo e Ferri. O ponto de partida de Lombroso proveio de pesquisas craniométricas e criminosos, abrangendo fatores anatômicos, fi siológicos e mentais. A base da teoria, primeiramente foi o atavismo: o retrocesso atávico ao homem primitivo. O grande equívoco dos positivistas foi acreditar na possibilidade de se descobrir uma causa biológica para o fenômeno criminal. Ferri procurou corrigir essa postura unilateral, ao escrever sua Sociologia Criminal, onde acentua a importância dos fatores socioeconômicos e culturais da delinquência. A Escola Francesa de Lyon atacou forte- mente as ideias de Lombroso. Entre os mais famosos integrantes dessa escola temos Lacas- sagne. A tese primordial da Escola de Lyon é a seguinte: o criminoso é como o micróbio ou o vírus, algo inócuo, até que o adequado am- biente o faz eclodir. Vale dizer: a predisposição pessoal e meio social fazem o criminoso. O fi m do séc. XIX assistiu ainda ao sur- gimento da criminologia socialista em sentido amplo, entendida como explicação do crime a partir da natureza da sociedade capitalista e como crença no desaparecimento ou redução sistemática do crime depois de instaurado o socialismo. O séc. XX iniciou-se sob o signo do ecletis- mo, em que assistiu à exploração dos caminhos abertos no séc. anterior, sob a infl uência mo- deradora da união internacional de Direito Penal, fundada em 1889 por Hamel, Liszt e Prins. Consumou-se o abandono do antro- pologismo lombrosiano, progressivamente substituído pelas teorias explicativas de índole psicológica, psicanalítica, psiquiátrica e pela atenção dedicada às leis da hereditariedade, e combinação de cromossomos. Nos Estados Unidos, antes da Primeira Guerra Mundial, a Criminologia orientava-se pelo modelo europeu. Depois seguiu orien- tação de caráter prático e sociológico. Gillin fundou a primeira clínica psiquiátrica, mas seu trabalho não suplantou a orientação so- ciológica de Burgess, Shaw e Mckay. A teoria sociológica americana deve muito a Suther- land e Sellin. 4 Noções de criminologia CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA – BIOLOGIA, SOCIOLOGIA E PSICOLOGIA CRIMINAL A criminologia estuda o fenômeno crimi- nal e lança mão de estudos realizados pelos diversos ramos do conhecimento. Entre as principais áreas, encontramos a biologia, a psicologia e sociologia criminal. BIOLOGIA CRIMINAL A biologia criminal é aquela ligada aos trabalhos de Cesare Lombroso e causou gran- des polêmicas onde foi aplicada. As teorias de orientação biológica miram novamente através do homem delinquente, tratando de localizar e identifi car em alguma parte de seu corpo o fator diferencial que explique a condu- ta delitiva. Essa se supõe como consequência de alguma patologia, disfunção ou transtorno orgânico. O crescimento da neurociência demonstra que a biologia criminal não morreu e que seu campo, com o devido cuidado, pode contribuir para a compreensão do fenômeno criminal. O que se vê é um enfraquecimento das teorias biológicas mais radicais com a aceitação da interferência concomitante de fatores am- bientais. SOCIOLOGIA CRIMINAL O estudo da criminologia nos Estados Unidos, a Criminologia, deu um giro espan- toso nas suas investigações – um estudo de criminalidade focado no indivíduo ou em pequenos grupos. A criminologia passou a se preocupar com grande ênfase no estudo da macrocriminalidade, uma abordagem dos fatores que levam a sociedade como um todo a praticar ou não infrações criminais. Com o surgimento das teorias sociológicas da criminalidade houve uma bifurcação mui- to poderosa dessas pesquisas em dois grupos principais. Essa divisão leva em consideração, principalmente, a forma como os sociólogos encaram a composição da sociedade: consen- sual ou confl itual. PSICOLOGIA CRIMINAL Enquanto a sociologia domina os estudos da visão macro da criminalidade (de grandes grupos), as teorias psicológicas se destacam com o estudo micro (do indivíduo e de pe- quenos grupos). Se frustrações, insultos ou modelos agressivos aumentam as tendências de pessoas isoladas, então esses fatores têm probabilidade de inspirar as mesmas reações em grupos. Ao começar um tumulto, os atos agressivos, por exemplo, muitas vezes espa- lham-se rapidamente após o início de um pro- cesso agressivo de uma pessoa antagônica. Ao verem saqueadores pegando livremente aparelhos de tevê, espectadores normais, que respeitam as leis, podem abandonar sua ini- bição moral e imitá-los. A violência, em sua várias formas, é um dos objetos de estudo da psicologia criminal. O estudo de depoimentos testemunhais, aplicações de testes psicológicos em delinquen- tes, estudos psicossociais de carreiras criminais e assassinos seriais são, os temas que interes- sam à psicologia criminal brasileira. TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE Teorias criminológicas, em geral, têm como objeto quatro elementos: a lei, o criminoso, o alvo e o lugar. A forma como são classifi cadas diz respeito aos diversos níveis de explicação, que variam do individual ao contextual. As teorias criminólogicas que adotam o ní- vel individual de análise partem do pressupos- to de que o crime se deve aos fatores internos aos indivíduos que os motivam. A maioria das teorias criminólogicas mais importantes são explicações relativamente precisas que procuram propor dedutivamente hipóteses claras e consistentes entre si e que possam ser submetidas a propósitos de refu- tação e superá-los com êxito. Escola de Chicago A escola de Chicago se tornou de funda- mental importância para o estudo da crimi- nalidade urbana. As teorias estabelecidas por seus seguidores – sociólogosdurante aquele 5 Noções de criminologia período infl uenciaram estudos urbanos sobre o crime, mais tarde seriam conduzidos nos Estados Unidos e Inglaterra. Sua atuação foi marcada pelo pragmatismo, e, dentre outras inovações que preconizou, destacam-se o mé- todo da observação participante e o conceito de ecologia humana. A teoria ecológica explica esse efeito crimi- nógeno da grande cidade, valendo-se dos con- ceitos de desorganização e contágio inerentes aos modernos núcleos urbanos e, sobretudo, invocando o debilitamento do controle social desses núcleos. Com a escola de Chicago, a Cri- minologia abandonou o paradigma até então dominante do positivismo criminológico, do delinquente nato de Lombroso, e girou para as infl uências que o ambiente, e no presente caso, que as cidades podem ter fenômeno criminal. Ganhou-se qualidade metodológica. Com os estudos da escola de Chicago criou-se tam- bém o ambiente cultural para as teorias que se sucederam e que são a feição da moderna criminologia. Teoria da associação diferencial A teoria da associação diferencial parte da ideia segundo a qual o crime não pode ser definido simplesmente como disfunção ou inadaptação das pessoas de classes menos fa- vorecidas, não sendo ele exclusividade dessas. A vantagem dessa teoria é que, ao contrário do positivismo, que estava centrado no perfi l biológico do criminoso, tal pensamento traduz uma grande discussão dentro da perspectiva social. O homem aprende a conduta desviada e a associa como referência. Teoria da anomia A anomia é uma situação social onde falta coesão e ordem, especialmente no tocante a normas e valores. Então as normas são defi ni- das de forma ambígua ou são implementadas de maneira causal e arbitrária. Por exemplo, uma calamidade como a guerra subverte o padrão habitual da vida social e cria uma situação em que torna obscuro quais normas têm aplicação, ou se um sistema é organizado de tal maneira que promove o isolamento e a autonomia do indivíduo a ponto das pessoas se identifi carem muito mais com seus próprios interesses do que com os do grupo ou da co- munidade como um todo. Teoria da subcultura delinquente A subcultura é uma cultura associada a sistemas sociais e categorias de pessoas. As teorias subculturais sustentam três ideias fun- damentais: o caráter pluralista e atomizado da ordem social, a cobertura normativa da conduta desviada e a semelhança estrutural, em sua gênese, do comportamento regular e irregular. A premissa dessas teorias subcul- turais é, antes de tudo, contrária à imagem monolítica da ordem social que era oferecida pela criminologia tradicional. Teoria do labelling aproach ou etique- tamento A tese central dessa corrente pode ser defi nida, em termos muitos gerais, pela afi r- mação de que cada um de nós se torna aquilo que os outros veem em nós e, de acordo com essa mecânica, a prisão cumpre uma função reprodutora: a pessoa rotulada como deli- quente assume, fi nalmente, o papel que lhe é consignado, comportando-se de acordo com o mesmo. Todo o aparato do sistema penal está preparado para essa rotulação e para o reforço desses papéis. Teoria crítica ou radical A criminologia radical recusa o estatuto profi ssional e político da criminologia tradi- cional, considerada como um operador tec- nocrático a serviço do funcionamento mais efi caz da ordem vigente. O criminólogo radical se recusa a assumir esse papel de tecnocrata, desde logo porque considera o problema cri- minal insolúvel numa sociedade capitalista; depois, e sobretudo, porque a aceitação das tarefas tradicionais é absoluto incompatível com as metas da criminologia radical. Como poderiam os criminólogos propor-se a auxiliar a defesa da sociedade contra o crime, se o seu último propósito é defender o homem contra esse tipo de sociedade. VITIMOLOGIA A vitimologia que decorre da criminologia é a ciência que estuda amplamente a relação víti- ma/criminoso no fenômeno da criminalidade. Pode-se analisar através do comporta- mento da vítima, sua personalidade, seu comportamento na formação do delito, seu 6 Noções de criminologia consentimento para a consumação de crime, ou nenhum comportamento que possa ter contribuído para a ocorrência do crime, algum tipo de relação com o delinquente e a possível reparação de danos sofridos. Vitimização primária: a vítima criminal muitas vezes sofre danos psíquicos, físicos, so- ciais e econômicos adicionais, em consequência da reação formal e informal derivada do fato. Vitimização secundária ou sobrevitimação do processo penal: é o sofrimento adicional que a dinâmica da justiça criminal, com suas ma- zelas, provoca normalmente nas vítimas. As cifras negras, vale dizer, o conjunto de crimes que não chegam ao conhecimento do Estado pelos mais variados motivos. Vitimização terciária: é a falta de amparo dos órgãos públicos e da ausência de recepti- vidade social em relação à vitima. Especial- mente diante de certos delitos considerados estigmatizadores, que deixam sequelas graves, a vítima experimenta um abandono não só por parte do Estado, mas, muitas vezes, também por parte do seu próprio grupo social. PROGNÓSTICO CRIMINOLÓGICO Prognóstico lato sensu, vem a ser: conhecimento (efetivo ou a se confi rmar) � antecipado ou prévio sobre algo; ou conjetura sobre o desenvolvimento de um � negócio qualquer, de uma situação etc; ou juízo médico, baseado no diagnóstico e nas � possibilidades terapêuticas, acerca da dura- ção, evolução e termo de uma doença; ou predição, agouro, presságio, profecia, rela- � tivos a qualquer assunto. Prognóstico médico: é conhecimento ou juízo antecipado, prévio, feito pelo médico, baseado necessariamente no diagnóstico médico e nas possibilidades terapêuticas, segundo o estado da arte, acerca da duração, da evolução e do eventual termo de uma doença ou quadro clí- nico sob seu cuidado ou orientação. É predição do médico de como a doença do paciente irá evoluir, e se há e quais são as chances de cura. O Prognóstico criminológico é feito a partir de um exame criminológico, a fi m de conhe- cer antecipadamente o quadro do paciente para diagnosticar e avaliar a possibilidade de delinquir. Quando nasceu, a criminologia tratava de explicar a origem da delinquência, utilizando o método das ciências, o esquema causal e explicativo, ou seja, buscava a causa do efeito produzido. Pensou-se que erradicando a causa se eliminaria o efeito, como se fosse sufi ciente fechar as maternidades para o controle da natalidade. Baseado em Rousseau, na sua obra “O Contrato”, a criminologia deveria procurar a causa do delito na sociedade, de forma extre- mista busca-se a causa de toda criminalidade na sociedade; já para Lombroso, da Scuola Positiva, para erradicar o delito deveríamos encontrar a eventual causa no próprio delin- quente e não o meio. A escola Positiva italiana (Lombroso, Garófalo e Ferri) apresenta a antropologia de Lombroso e a sociológica de Ferri que explica o delito através dos fatores social e individual. O positivismo encara o delito como um fato real e histórico e não sob o ponto de vista abstrato-jurídico, como é o caso da criminologia Clássica. Leva em consideração, portanto, o método empírico-indutivo ou indutivo-experimental. As escolas Na escola Clássica o crime é fundamentado na racionalidade da lei, onde o crime é um ente jurídico, uma infração; quando da violação de um direito nasce a necessidade de uma retri- buição jurídica pela pena a fi m de restabelecer a ordem externa. Esta escola alude claramente ao pensamento contratualista de Rousseau e baseia-se pelo método lógico-abstrato ou dedutivo. Fizeram parte desse movimento nomes como Beccaria, Filangieri,Pellegrino Rossi, Carmignani, Romagnosi e Carrara. A escola Positiva começa com a publica- ção da obra de Cesare Lombroso chamada “L’Uomo Delinquente”, em 1876, abordando a tese do delinquente nato. Lombroso associou o crime a fatos biológi- cos, psicológicos, antropológicos, políticos e sociais, por meio do método empírico-indutivo. O objeto do seu estudo é o atavismo natural do 7 Noções de criminologia homem primitivo, inerente a todo ser humano. Assim sendo, o crime é um fenômeno natural e social onde a pena é uma forma de defesa social que visa à recuperação do criminoso por tempo indeterminado até a sua recuperação. Participaram dessa escola além de Lom- broso, Enrico Ferri, Rafaelle Garofalo, Rafael Salillas, Dorado Monteiro e C. Bernaldo de Quiróz. A escola de Chicago Isoladamente, tanto as tendências socioló- gicas, quanto as orgânicas fracassaram. Hoje em dia fala-se no elemento bio-psico-social. Volta a tomar força os estudos de endocrino- logia, que associam a agressividade do delin- quente à testosterona (hormônio masculino), os estudos de genética ao tentar identifi car no genoma humano um possível “gene da crimi- nalidade”, juntamente com os transtornos da violência urbana, de guerra, da fome etc. De qualquer forma, a criminologia transita pelas teorias que buscam analisar o crime, a criminalidade, o criminoso e a vítima. O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO E A PREVENÇÃO DA INFRAÇÃO PENAL O Estado possui o monopólio da aplicação da lei penal. Porém, existem regras consti- tucionais e legais que limitam e determinam como a lei penal possa ser aplicada. Para tan- to, deve o Estado Administração, nos crimes de ação penal pública, após a produção de uma prova mínima, levar o caso ao Estado Juiz, para que este se manifeste sobre a aplicação ou não da sanção penal ao caso concreto. A atuação do Estado encontra na Consti- tuição federal e nas leis limitações que impe- dem que o Estado produza todo tipo de prova em face dos acusados. O Estado é o primeiro a ter de respeitar, então, essas limitações. Prevenção de crime é um conceito aberto. Para alguns é dissuadir o deliquente a não cometer o ato, para outros é mais, importa inclusive na modifi cação de espaços físicos, novos desenhos arquitetônicos, aumento da iluminação pública com o intuito de difi cultar a prática do crime e para um terceiro grupo é apenas o impedimento da reincidência.
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