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INSTITUTO ESPERANÇA DE ENSINO SUPERIOR CURSO DE BACHAREL EM PSICOLOGIA BRUNA LANNA NOGUEIRA DOS SANTOS MARIA RISONETE DO NASCIMENTO MONTEIRO SARAH GLENDA PONTES AGUIAR DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE UMA CRIANÇA AUTISTA NA APAE DE SANTARÉM - PARÁ SANTARÉM - PARÁ Dezembro/2013 BRUNA LANNA NOGUEIRA DOS SANTOS MARIA RISONETE DO NASCIMENTO MONTEIRO SARAH GLENDA PONTES AGUIAR DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE UMA CRIANÇA AUTISTA NA APAE DE SANTARÉM – PARÁ Trabalho Acadêmico Orientado apresentado ao Instituto Esperança de Ensino Superior – IESPES, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Psicologia. Orientador (a): Profª Msc. Neuzivan da Silva Lima SANTARÉM/PA Dezembro/2013 BRUNA LANNA NOGUEIRA DOS SANTOS MARIA RISONETE DO NASCIMENTO MONTEIRO SARAH GLENDA PONTES AGUIAR DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE UMA CRIANÇA AUTISTA NA APAE DE SANTARÉM – PARÁ Trabalho Acadêmico Orientado apresentado ao Instituto Esperança de Ensino Superior – IESPES, como requisito para obtenção do Grau em Psicologia. Aprovado em 10 de Dezembro de 2013 Comissão Examinadora _________________________________________ Profª Msc Neuzivan Lima da Silva/ IESPES Presidente/Orientador _________________________________________ Profª Esp. Maria das Dores Carneiro Pinheiro/ IESPES 2° Membro _______________________________________ Profª Drª Mariene da Silva Casseb / IESPES 3° Membro Dedicamos a todas as pessoas que se empenham a favor da causa das crianças com autismo. AGRADECIMENTOS A Deus por suas bênçãos, por ser nossa rocha e fortaleza, por ter nos dado sabedoria e oportunidade de concluir este curso, pois sem ele não somos nada e não teríamos chegado até aqui. Ao Centro Educacional Especializado Humberto Frazão - APAE de Santarém-PA, por ter cedido espaço para a realização desta pesquisa, assim como a diretora Nedy Pedroso de Sousa e seus colaboradores que nos apoiaram durante as intervenções. As professoras Mariene da Silva Casseb e Neuzivan Lima da Silva, pela dedicação e suas orientações prestadas na elaboração deste trabalho, nos incentivando e colaborando no desenvolvimento de nossas idéias, que foram significativamente necessárias. A professora Jucenilda Oliveira que nos auxiliou na aplicação do instrumento de Avaliação, juntamente com seus conhecimentos na área de Psicomotricidade. A psicóloga Paloma Lobato Gentil Sampaio por ter nos incentivado a pesquisar uma temática tão desafiadora, além de ter contribuído com grande parte do referencial que embasou este trabalho. A todos os professores que passaram pelo curso nos incentivando a nos tornarmos profissionais de excelência através dos conhecimentos prestados e experiências sobre o trabalho desenvolvido por eles, facilitando assim a escolha de nossas futuras áreas de atuação. Aos nossos maridos Edemil e Natan Aguiar pelo companheirismo e confiança, nos apoiado durante essa trajetória, não medindo esforços para contribuir com a realização deste sonho. Aos nossos pais pela educação e dedicação, nos incentivando a prosseguir mediante as dificuldades enfrentadas. Aos nossos familiares pelo apoio durante o decorrer do curso. ... Assim como um diamante precisa ser lapidado para brilhar, uma pessoa com autismo merece ser acolhida, cuidada e estimulada a se desenvolver. Ana Beatriz Barbosa Silva RESUMO A criança em seu desenvolvimento precisa adquirir uma organização de si, do espaço e do tempo. Na visão psicomotora esta precisa construir a sua unidade corporal, alicerce para sua comunicação com o outro e para a exploração do meio, pois com isso o processo de maturação se intensifica. A criança autista necessita relacionar-se neste processo de maturação, onde a psicomotricidade por meio da imagem do corpo, localiza as dificuldades de contato visual, de interação social e atraso da linguagem oral. Este estudo objetivou analisar a influência das intervenções psicomotoras no desenvolvimento psicomotor de uma criança autista na APAE de Santarém/Pará. Trata-se de uma pesquisa de campo, através de um estudo de caso, com enfoque quanti-qualitativo, exploratório e quase experimental. Os instrumentos utilizados foram a Escala de Desenvolvimento Motor (EDM), proposta por Rosa Neto para a avaliação, coleta de dados e reavaliação, e o Manual de Análise do Comportamento Aplicada (ABA) a fim de embasar as pesquisadoras na criação das atividades utilizadas com o avaliado nas intervenções. Verificou-se que o Programa de Intervenção Psicomotora embasado em ABA mostrou-se útil, no que diz respeito às mudanças evidenciadas nos resultados da reavaliação, no qual aponta que a Idade Motora Geral (IMG) que na primeira avaliação era 66 meses, correspondente a uma criança de 05 anos e 05 meses, classificado por Rosa Neto como “muito inferior”, passou para 92 meses, ou seja, a atual idade psicomotora do avaliado é referente a uma criança de 07 anos e 06 meses, com classificação de “normal médio”, diminuindo assim seu atraso psicomotor. Isso indica que o objetivo geral da pesquisa foi alcançado com êxito, pois os resultados apontam que há influência das intervenções psicomotoras no desenvolvimento psicomotor da criança autista avaliada, de modo que esta apresentou resultado positivo durante e após as intervenções. PALAVRAS-CHAVE: desenvolvimento psicomotor, criança autista, intervenções psicomotoras. ABSTRACT A child in need to acquire a development organization itself, of space and time. Psychomotor this vision need to build your body unit foundation for its communication with each other and to the exploitation of the environment because it ripening process intensifies. The autistic child needs to relate this maturation process , where psychomotor through body image, locates the difficulties of eye contact, social interaction and oral language delay. This study aimed to analyze the influence of psychomotor interventions psychomotor development of an autistic child in APAE Santarém/Pará. This is a field research through a case study with quantitative and qualitative, exploratory and quasi-experimental approach. The instruments used were the Motor Development Scale (EDM), proposed by Rosa Neto for evaluation, data collection and review, and the Handbook of Applied Behavior Analysis (ABA) in order to ground the researchers used in the creation of activities with evaluated interventions. It was found that the program Psychomotor grounded in ABA intervention was useful, with regard to the changes evident in the results of the revaluation, which indicates that General Motor Age (IMG) that the first assessment was 66 months, corresponding to a child of 05 years and 05 months, rated by Rosa Neto as "very low", went to 92 months, ie, the current age of the evaluated psychomotor refers to a child of 07 years and 06 months, with a rating of "normal medium", thus decreasing their psychomotor retardation. This indicates that the overall objective was successfully achieved,as the results indicate that there is an influence of psychomotor interventions psychomotor development of autistic children evaluated, so this had a positive result during and after the interventions. KEYWORDS: psychomotor development, autistic child, psychomotor interventions. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Símbolo da APAE..................................................................................... 53 Figura 2 – Kit EDM .................................................................................................... 54 Figura 3 – Atividade Pé enlaçado .............................................................................. 67 Figura 4 - Atividade Entrelaçado ............................................................................... 68 Figura 5 - Materiais da atividade Rasgou colou ........................................................ 69 Figura 6 - Foto da folha de revista colada em duas partes ....................................... 70 Figura 7 – Foto da folha de revista colada em quatro partes .................................... 71 Figura 8 – Atividade Circuito de obstáculos .............................................................. 72 Figura 9 – Atividade Vai e Vem ................................................................................. 73 Figura 10 – Atividade Pular corda ............................................................................. 75 Figura 11 - Atividade Circuito de direções ................................................................. 76 Figura 12 – Atividade Caminhada nos colchões ....................................................... 78 Figura 13 - Atividade Cocabola ................................................................................. 79 Figura 14 – Caras e bocas ........................................................................................ 80 Figura 15 – Atividade Balão facial ............................................................................. 81 Figura 16 – Atividade Embalatas ............................................................................... 83 Figura 17 – Formato pirâmide ................................................................................... 84 Figura 18 – Três em três ........................................................................................... 84 Figura 19 – Formato triângulo ................................................................................... 84 Figura 20 – Enfileiradas ............................................................................................ 84 Figura 21 – Atividade Pé com pé .............................................................................. 85 Figura 22 – Atividade Cartão-desenho ...................................................................... 87 Figura 23 – Atividade Memória masculino e feminino ............................................... 90 LISTA DE TABELAS, QUADROS E GRÁFICOS Tabela 1 – Classificação do desenvolvimento motor para crianças .......................... 33 Tabela 2 – Classificação do desenvolvimento motor para deficientes ...................... 33 Tabela 3 – Dados da primeira avaliação ................................................................... 60 Tabela 4 – Nível de desenvolvimento psicomotor ..................................................... 61 Tabela 5 – Dados da intervenção psicomotora ......................................................... 91 Tabela 6 – Desenvolvimento psicomotor .................................................................. 92 Tabela 7 – Elementos com maior desenvolvimento psicomotor após intervenção ................................................................................................................ 94 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABA – Análise do Comportamento Aplicada APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais AVD – Atividade da Vida Diária AVP – Atividade da Vida Prática CAEE – Centro de Atendimento Educacional Especializado CHE - Programa de Competências e Habilidades Educacionais CID - Classificação Internacional de Doenças CIF – Código Internacional de Funcionabilidade CNS - Conselho Nacional de Saúde DSM – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mental EDM - Escala de Desenvolvimento Motor IC - Idade Cronológica IM - Idade Motora IMG - Idade Motora Geral IM1 - Idade Motora da Motricidade Fina IM2 - Idade Motora da Motricidade Global IM3 - Idade Motora do Equilíbrio IM4 - Idade Motora do Esquema Corporal IM5 - Idade Motora da Organização Espacial IM6 - Idade Motora da Organização Temporal IN - Idade Negativa IP - Idade Positiva QMG - Quociente Motor Geral QM1 - Quociente Motor da Motricidade Fina QM2 - Quociente Motor da Motricidade Global QM3 - Quociente Motor do Equilíbrio QM4 - Quociente Motor do esquema Corporal QM5 - Quociente Motor da Organização Espacial QM6 - Quociente Motor da Organização Temporal SBP – Sociedade Brasileira de Psicomotricidade TEA - Transtornos do Espectro do Autismo TID - Transtornos Invasivos do Desenvolvimento TGD – Transtorno Global do Desenvolvimento SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14 1 PSICOMOTRICIDADE ........................................................................................... 17 1.1 Corpo funcional ................................................................................................. 17 1.2 Histórico da psicomotricidade ......................................................................... 19 1.3 Desenvolvimento psicomotor .......................................................................... 22 1.4 Motricidade humana ......................................................................................... 25 1.5 Áreas Básicas da Motricidade Humana........................................................... 26 1.5.1 Motricidade fina .............................................................................................. 26 1.5.2 Motricidade global .......................................................................................... 27 1.5.3 Equilíbrio ......................................................................................................... 27 1.5.4 Organização espacial ..................................................................................... 29 1.5.5 Organização temporal .................................................................................... 30 1.5.6 Lateralidade .................................................................................................... 31 1.6 Avaliação psicomotora ..................................................................................... 32 1.7 Campos de Intervenção da Psicomotricidade ................................................ 34 1.7.1 Estimulação psicomotora .............................................................................. 34 1.7.2 Educação psicomotora .................................................................................. 35 1.7.3 Reeducação psicomotora .............................................................................. 35 1.7.4 Terapia psicomotora ...................................................................................... 36 1.8 Psicomotricidade e psicologia ......................................................................... 37 2 AUTISMO ............................................................................................................... 39 2.1 Histórico do autismo .........................................................................................39 2.2 Definições e conceitos ...................................................................................... 40 2.3 Transtornos do Espectro do Autismo ............................................................. 42 2.3.1 Autismo infantil .............................................................................................. 43 2.3.2 Síndrome de Rett ............................................................................................ 44 2.3.3 Transtorno de Asperger ................................................................................. 45 2.3.4 Transtorno desintegrativo da infância ......................................................... 46 2.3.5 Transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação ............. 47 2.4 Diagnóstico do autismo .................................................................................... 48 2.5 Tratamento do autismo ..................................................................................... 49 2.6 Psicomotricidade e Autismo ............................................................................ 49 3 METODOLOGIA .................................................................................................... 51 3.1 Tipo de Pesquisa ............................................................................................... 51 3.2 Universo da Pesquisa ....................................................................................... 52 3.3 Local ................................................................................................................... 52 3.4 Instrumentos e Materiais .................................................................................. 54 3.5 Procedimentos .................................................................................................. 55 3.5.1 Coleta de dados .............................................................................................. 55 3.5.2 Análise dos dados .......................................................................................... 58 3.6 Aspectos Éticos da Pesquisa ........................................................................... 58 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 60 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 96 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 99 APÊNDICES ........................................................................................................... 105 ANEXOS ................................................................................................................. 111 14 INTRODUÇÃO O discurso atual sobre o autismo, transcorre do trabalho de pesquisadores engajados com a temática e de pais que se dedicam ao cuidado de seus filhos autistas, fornecendo informações relevantes para o desenvolvimento da área. Partindo do pressuposto de que o ser humano utiliza-se da motricidade para manifestar sentimentos e emoções, esta pesquisa buscou de forma prática e avaliativa analisar a influência das intervenções psicomotoras embasadas no Manual da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) no desenvolvimento psicomotor de uma criança autista. O Transtorno do Espectro do Autismo é um fenômeno de causa ainda desconhecida e de abrangência biopsicossocial, onde o conhecimento sobre este carece de avanços em pesquisas e estudos sobre a origem, desenvolvimento e prognóstico dos acometidos por ele. Vale ressaltar que o desenvolvimento dos autistas varia de pessoa para pessoa, mas que ele pode ser fortemente determinado pelas condições sociais vivenciadas pelas famílias. Nesse contexto, a lei nº 12.764/2012 Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autista (Lei Berenice Piana), atende as principais reivindicações das famílias, relacionadas ao acesso às informações de qualidade, serviços especializados e acessíveis, apoio aos cuidadores e familiares, garantindo o direito à cidadania. As primeiras descrições mais fidedignas sobre o autismo surgiram na década de 40, portanto trata-se de um diagnóstico recente, que necessita de mais pesquisas acerca de como ajudar a melhorar o desenvolvimento das pessoas afetadas. Silva (2012) discorre que o autismo é um transtorno global do desenvolvimento infantil que se manifesta antes dos 03 anos de idade, apresentando um conjunto de características que afetam diretamente a interação social, a linguagem e o comportamento. Considerando que o comportamento da criança autista apresenta alterações qualitativas nos aspectos biopsicossociais, como a psicomotricidade pode facilitar no desenvolvimento psicomotor da criança autista? Há uma necessidade crescente de possibilitar a identificação precoce do autismo, para que essas crianças possam ter 15 acesso a ações e programas de intervenções o quanto antes, através da aplicação de técnicas que possibilitem o seu desenvolvimento psicomotor. De acordo com os estudos de Fonseca (2010) a psicomotricidade permite compreender, de forma mais clara, a multiplicidade interativa e a conexão intrínseca dos processos psicológicos com os processos motores, que sustentam, de fato, o comportamento e a aprendizagem humana. De acordo com esta literatura, a Psicomotricidade é a ciência que estuda o homem em movimento, e contribui de maneira expressiva para a formação e estruturação do esquema corporal, tendo como objetivo principal incentivar a prática do movimento em todas as etapas da vida de uma criança. Considerando que a psicomotricidade é uma ciência que tem por objeto o estudo do homem através do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo, de que forma a Análise do Comportamento Aplicada conhecido no Brasil como ABA (do inglês, Applied Behavior Analysis) pode ser útil nas intervenções psicomotoras com a criança autista? Diante da problemática que engloba a área motora e cognitiva da criança autista, surgiu a necessidade de pesquisar técnicas utilizando a ciência da psicomotricidade, de modo que para a utilização destas deve-se verificar às limitações e habilidades que a criança autista apresenta. Considerando que a função motora, o desenvolvimento cognitivo e o desenvolvimento afetivo estão intimamente ligados, qual a importância da intervenção psicomotora com a criança autista? A importância das intervenções psicomotoras está relacionada a maneira de como estas são elaboradas, para que assim haja contribuição no desenvolvimento psicomotor da criança autista. O problema que rege a pesquisa está relacionado ao seguinte questionamento: Há influência no desenvolvimento psicomotor da criança autista com intervenções psicomotoras através da Análise do Comportamento Aplicada (ABA)? A atividade motora é de grande importância no desenvolvimento global da criança, através da exploração motriz ela desenvolve a consciência de si mesma e do mundo exterior, facilitando a conquista de sua independência. O olhar psicomotor voltado para a criança autista pode modificar a sua representação na sociedade, ampliando assim, suas interações com o meio e facilitando sua atuação social. Quanto menos estimuladas estas crianças são, mais alheias ao mundo exterior elas se tornam e são mais difíceis de serem 16 compreendidas. E quanto mais houver questionamentos quanto ao desenvolvimento de crianças autistas, novas pesquisas serão realizadas, a fim de incluir, integrar, socializar, diminuir preconceitos e proporcionar a aceitação das crianças com necessidadesespeciais em nossa sociedade, pois estas também são dotadas de potencialidades que precisam ser descobertas. Os resultados alcançados oferecem contribuições importantes para as famílias e aos profissionais na área da saúde e da educação como os médicos, pedagogos, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, enfermeiros e educadores físicos, onde estes poderão utilizar-se dos resultados obtidos para o atendimento em grupo ou individual de crianças precocemente diagnosticadas como autistas. De modo que esses resultados mostrarão que é possível proporcionar oportunidades de mudanças a crianças com diversas necessidades especiais, incluindo as crianças autistas, pois a intervenção psicomotora poderá contribui significativamente para um melhor desenvolvimento destas crianças. Levando em consideração estes aspectos teve-se como objetivo geral analisar a influência das intervenções psicomotoras embasadas no Manual da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) no desenvolvimento psicomotor de uma criança autista na APAE de Santarém-Pará e, como objetivos específicos, verificar a atual situação do perfil psicomotor da criança autista; destacar as potencialidades e dificuldades motoras apresentadas por ela, averiguar a aplicação das atividades que foram desenvolvidas através do manual ABA; estimular a motricidade fina, motricidade global, esquema corporal, organização espacial, organização temporal, equilíbrio e lateralidade; e, verificar possíveis mudanças ou melhoras através dos resultados obtidos após a reavaliação. 17 1 PSICOMOTRICIDADE 1.1 O Corpo Funcional A psicomotricidade está interligada com o corpo, por isso se faz necessário identificar a origem desta palavra. Marinho (2007) destaca que o termo que remete a esse conceito é garbhas, que significa “embrião”, ou seja, o princípio ou começo; em grego, é kapós, que se refere a “frutos, semente” e, em latim, é corpus, que significa “tecido de membros, envoltura da alma, embrião do espírito”. Com isso, constata-se que o corpo está constantemente enredado com a alma, de modo que estes em conjunto se comunicam com o mundo exterior. De acordo com Alves (2012), o primeiro objeto que a criança percebe é seu próprio corpo. Tal conhecimento irá se estruturar a partir das sensações vivenciadas, de modo que surgiram possibilidades de expressar-se através de movimentos. A maneira como a criança desenvolverá seu esquema corporal nos remete ao fato de que esta necessita tomar consciência de seu próprio corpo. “A imagem do corpo, por sua vez, expressa uma relação permanente com a história psicomotora (motora, afetiva e cognitiva) do indivíduo” (SCHILDER, 1968 apud FONSECA, 2008, p.106). Vale ressaltar que estes aspectos são de fundamental importância para o desenvolvimento global da criança, mais precisamente no que se refere à construção de seu esquema corporal. A despeito disso Bueno (2013) enfatiza que o esquema corporal é um elemento básico indispensável para a formação da personalidade da criança, onde este reflete o equilíbrio entre as funções psicomotoras e sua maturidade. Segundo Almeida (2009), o corpo é repleto de características pertencentes somente a um único ser, embora sejam semelhantes, já que cada corpo irá desenvolver uma ou várias características que lhe são particulares. A maneira como cada corpo experencia o mundo é que irá determinar a maneira como este se comporta. O corpo existe para o mundo e no mundo para descobrir e ser descoberto e para transformar e ser transformado. É pelo corpo que atingimos fins, realizamos gestos, concretizamos pensamentos e organizamos ações (FONSECA, 2008, p.123). 18 Nesta mesma linha de pensamento considera-se que o esquema corporal depende da organização de si mesmo, ou seja, de dentro para fora. “Esta organização leva a uma percepção e controle do próprio corpo por meio da interiorização das sensações” (OLIVEIRA, 2009, p.51). O corpo mostra a história de vida do sujeito, de maneira singular este representa quem realmente é. Vale notar a contribuição de Alves (2012) onde reforça que o indivíduo quando se descobre, utiliza e controla seu corpo, de modo que seu esquema corporal irá se estruturar, e tomará consciência de si e das suas potencialidades no meio em que este está inserido. Cada parte do nosso corpo é composto por potencialidades, fragilidades, e também de nossas histórias, pois a experiência de cada indivíduo se dá através do corpo, com suas significações e sentimentos que lhe são particulares. Ferreira e Ramos (2007) mencionam o conceito de corpo como aquele conhecimento que se adquire no meio sociocultural, como um aspecto mais informativo. O esquema corporal é caracterizado pela própria consciência do corpo, da relação de suas partes entre si com as do meio exterior, envolvendo equilíbrio e coordenação motora que são imprescindíveis para andar e sentar-se, entre outras ações, geralmente sem cair. Enquanto Oliveira (1997) relata que sob a ótica de Vygotsky a imagem corporal é uma representação produzida sob um contexto histórico-social, fruto da experiência individual, a conexão entre inteligência prática, sensório-motricidade e emoção, por um lado, e o campo dos signos e da linguagem, por outro, é que permite a internalização dos conceitos de si, do outro e do mundo. Alves (2012) destaca que o corpo não é somente algo biológico e orgânico, mas que também expressa emoções e está repleto de significados que são adquiridos por meio da relação do indivíduo com o meio. Vale ressaltar que o corpo é composto também por “habilidades motoras que envolvem as categorias de movimento de locomoção, manipulação e estabilização” (BUENO, 2013, p.37). Todo movimento é produzido através de estímulos, que darão respostas motoras, contribuindo para o desenvolvimento saudável do corpo. Ao referir-se a tal assunto, Alves (2012) sustenta que o movimento é uma resposta muscular à estimulação sensorial, só podemos estudá-lo na unidade sensório-motora, isto é, levando em consideração a informação motora. O corpo produz os movimentos conforme as reações de estimulações, tanto externas, quanto 19 internas. Sendo assim percebe-se que o movimento tem definições diferentes relacionados às sensações que o corpo vivencia. A mesma autora faz a distinção dos conceitos de movimentos, onde existem os: movimentos reflexos, que são aqueles cuja reação é involuntária, estereotipada e localizada no organismo a um estímulo específico, sendo estes inatos ou adquiridos por aprendizagem, como por exemplo, o reflexo de sucção; movimentos voluntários, caracterizados como atos intencionais que encerram dois elementos importantes, a motivação e antecipação, é o ponto onde se reúnem as faculdades intelectuais e psíquicas e as possibilidades motrizes; e os movimentos automáticos, são denominados de reações globais aos estímulos do meio, sendo estas aprendidas tornando-se involuntárias, como por exemplo, a coreografia de uma dança. 1.2 Histórico da psicomotricidade Segundo Fonseca (1995) desde Aristóteles que o corpo foi negligenciado em função do espírito, passando apenas a ser estudado no séc. XIX por neurologistas e, posteriormente por psiquiatras, com o intuito de entender as estruturas cerebrais e esclarecer fatores patológicos. A história da psicomotricidade acompanha a história do corpo e o significado do mesmo que sofreu inúmeras alterações desde a antiguidade até à atualidade (LEVIN, 2007). E a cada dia se renova cada vez mais, pelo fato de ser uma ciência que se encontra em constante discussão e evolução, e que contribui para a atuação de profissionaisde diversas áreas, a fim de atender as demandas encontradas. O termo psicomotricidade surgiu no início do século XIX, a partir do discurso médico neurológico, partindo da análise da relação entre o atraso do desenvolvimento motor e o atraso intelectual do avaliado. Com o desenvolvimento e as descobertas da neurofisiologia, começou a verificar-se a existência de diferentes disfunções graves sem que o cérebro fosse lesionado ou sem que a lesão fosse nitidamente localizada (FONSECA, 1995; BUENO, 2013). A trajetória histórica da psicomotricidade traz consigo muitas definições acerca de seus conceitos. Segundo Bueno (2013) o termo evoluiu primeiramente em sua forma teórica, depois na prática, até chegar ao meio termo entre ambas. A prática associada à atuação dos profissionais que estudam esta ciência ainda é 20 pouco reconhecida em nossa sociedade, visto que é uma abordagem globalizante que configura uma importante aliança no resgate da qualidade de vida humana, porém ainda existe uma enorme dificuldade deste profissional assumir esta abordagem em seu campo de atuação. Vale notar a contribuição de Enderle (1987) que identifica a psicomotricidade na sua essência, não só como a chave da sobrevivência, como se observa no animal e na espécie humana, mas é igualmente, a chave da criação cultural, em síntese a primeira e última manifestação da inteligência. A psicomotricidade, em termos filogenéticos, tem, portanto, um passado de vários milhões de anos, porém uma história restrita de apenas cem anos. Para Fonseca (2008) a motricidade humana, a única que se pode denominar por psicomotora, é distinta da motricidade animal por duas características: é voluntária e possui novos atributos de interação com o mundo exterior. Os conceitos acerca desta ciência relacionam-se com a função que o corpo exerce na vida do indivíduo, haja vista que a psicomotricidade estuda a relação do homem com o ambiente em que vive através dos movimentos produzidos por ele. Com isso a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (SBP) menciona o conceito mais atual de psicomotricidade como uma ciência que tem por objeto o estudo do homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas potencialidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo (SABOYA, 1995; SBP, 2013). A despeito disso Alves (2004) menciona que a psicomotricidade tem o objetivo de trabalhar o indivíduo com toda sua história de vida, social, política e econômica, retratando-as em seu corpo. Trabalha no indivíduo o afeto e desafeto do corpo, desenvolvendo seus aspectos cognitivos em conjunto com os físicos. De maneira geral a “psicomotricidade é corpo em movimento, considerando o ser em sua totalidade” (p.20), pois não há como trabalhar apenas um aspecto, mas sim o todo. Ao referir-se a tal assunto Almeida (2009) aponta a psicomotricidade como sendo um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, pois as intervenções são estruturadas a fim de produzir um resultado mais eficaz, comparadas àquelas que são realizadas sem um objetivo em comum. Com relação à função das experiências vividas pelo sujeito, sua ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização, visto que é necessário conhecer 21 a si mesmo, bem como suas potencialidades e limitações. Isso vem de encontro com o que Bueno (2013) considera a respeito da relação que as pessoas têm com os objetos, onde há o aprendizado de se comunicar e expressar suas dificuldades, sendo estas de ordem motora, emocional ou cognitiva. Ainda na mesma linha de pensamento Alves (2004) destaca que a psicomotricidade tem como objetivo primordial trabalhar para educar e reeducar o indivíduo que apresenta distúrbios, e exprimem através de perturbações psicomotoras, as debilidades motoras, a inabilidade, os atrasos psicomotores, a instabilidades psicomotoras, a inibição psicomotora, diminuição, hipercontrole e retenção. Passado o tempo, entendemos que hoje a psicomotricidade deve trabalhar com o sujeito independente de suas necessidades especiais, buscando no movimento uma forma de comunicação, desenvolvimento emocional e interação social (FERREIRA; RAMOS, 2007, p. 41). O olhar voltado não só para as potencialidades do indivíduo é um diferencial desta abordagem, pois este é trabalhado como um todo, independente de suas dificuldades. Assim como sustenta Almeida (2009) que ao falar em psicomotricidade, está falando de humanização, de relações afetivas, de envolvimento do homem com os ambientes, com os fatos e com as outras pessoas. Segundo Le Boulch (1987), a psicomotricidade se dá através de ações educativas de movimentos espontâneos e atitudes corporais da criança, proporcionando-lhe uma imagem do corpo contribuindo para a formação de sua personalidade. É uma prática pedagógica que visa contribuir para o desenvolvimento integral da criança no processo de ensino-aprendizagem, favorecendo os aspectos físicos, mental, afetivo-emocional e sócio-cultural, buscando estar sempre condizente com a realidade dos educados. Para Fonseca (2004) a psicomotricidade em termos epistemológicos não encerra só a história dos conceitos do exercício físico, da motricidade e do corpo, convocados para restaurar uma “ordem psíquica perturbada” ou para facilitar o “funcionamento do espírito”, mas também o estudo casual e a análise de condições de adaptação e de aprendizagem que tornam possível o comportamento humano. A psicomotricidade é a capacidade de determinar e coordenar mentalmente os movimentos corporais, a atividade ou conjunto de funções psicomotoras. Sendo 22 esta compreendida em sua integridade, partindo de fenômenos que envolvem o desejar e querer, bem como os movimentos, as sensações e significações de que a experimenta (ALVES, 2012). Assim, o conceito de psicomotricidade está ligado ao período de maturação da criança, no qual toda experiência corporal, vivida nas interações com o meio, a sensação, o tônus, o movimento e os afetos, fundam o psiquismo, ou seja, período no qual se formam as representações mentais a partir da ação (AUCOUTURIER, 2002). 1.3 Desenvolvimento psicomotor O desenvolvimento humano é resultado das interações dialéticas do homem em seu meio sócio-histórico cultural. Ao mesmo tempo em que o ser humano transforma o seu meio para seguir suas necessidades básicas, transforma a si mesmo (RAMPAZZO, 2009). O ser humano é o único ser capaz de modificar, criar e se transformar, têm capacidades diferentes dos outros seres, por isso está propício à mudanças, em conjunto da interação com o outro. O desenvolvimento humano precisa de um contexto social e histórico para florescer, dado que é a interação com os outros seres humanos mais experientes que permite apropriar-se das aquisições motoras, emocionais e cognitivas que se desenrolam ao longo de anos de experiência caminhando para a descoberta do seu eu e do seu self em termos vygotskianos, primeiro do âmbito inter-corporal e posteriormente, do âmbito intra-corporal (FONSECA, 2008, p. 387). O desenvolvimento humano é alvo de muitos estudos, a fim de ter uma compreensão maior acerca da evolução humana. Bueno (2013) afirma que o desenvolvimento humano é o desenvolvimento integrado ao crescimento, à maturação, às experiências e às adaptações que o corpo deste indivíduo passa. O desenvolvimento engloba todas as áreas do organismo e da personalidade do indivíduo, “o desenvolvimento é contínuo” (ALVES, 2012, p. 99), pois a todo o momento nos desenvolvemos, sendo através do crescimento de nossos cabelos, intelectual, afetivo, enfimseguindo o direcionamento que o meio proporciona. Em contrapartida Rosa Neto (2011) sustenta que o crescimento do cérebro humano não é regular nem contínuo, pois as áreas cerebrais têm picos que não coincidem com 23 os saltos neuropsicomotores das diferentes fases da vida, que ocorrem nos períodos pré, peri e pós-natal. Oliveira (1997) destaca que o desenvolvimento humano e aprendizagem são temas centrais das obras de Vygotsky onde busca compreender a origem e o desenvolvimento dos processos psicológicos ao longo da história da espécie humana e da história individual. O mesmo autor enfatiza a importância dos processos de aprendizado desde o nascimento da criança, pois sua personalidade irá se estruturar através do processo de maturação. Ainda nesta mesma linha de pensamento Fonseca (2008), reforça que o bebê humano, com o patrimônio dos seus reflexos, não está ainda em condições de responder autonomamente as suas necessidades de sobrevivência. Indefeso e com uma motricidade dependente e exógena, mediatizada pelos outros, principalmente pela mãe: (...) o bebê vai adaptar-se ao meio por meio da motricidade e das práticas dos seres humanos mais experientes que o rodeiam que se responsabilizam pelo atendimento em tempo integral das suas necessidades básicas (amor, carinho, conforto, segurança, atenção, proteção. filiação, abrigo, alimentação, higiene, locomoção, etc.). A imaturidade motora do bebê está profundamente ligada a uma forte vinculação social extremamente complexa e única da espécie (FONSECA, 2008, p.386). A despeito disso Bueno (2013) afirma que o desenvolvimento psicomotor se caracteriza pela maturação que integra o movimento, e diversos aspectos pertencentes ao nosso esquema corporal, que dentre eles pode-se citar: o ritmo, a construção espacial, o reconhecimento dos objetos, das posições, a imagem do nosso corpo e a palavra. Vale notar que é de suma importância respeitar a individualidade de cada pessoa, assim como as condições em que o indivíduo está inserido, sendo que o ambiente influencia a maneira como o corpo irá reagir a determinados estímulos, comprometendo assim seu desenvolvimento. Rosa Neto (2011) ressalta que durante a gravidez, o feto começa a dar sinais de vida ao mundo exterior, fundamentalmente através de uma atividade motora. Desde o nascimento há mudanças maturativas da criança, que continuamente nos surpreendem com fatos novos. A integração sucessiva da motricidade implica na constante e permanente maturação orgânica. 24 Outro aspecto citado por este autor está relacionado ao fato da criança interagir com o meio e com as demais pessoas, sendo estas interações de caráter motor, social, afetivo e cognitivo fazendo parte das bases familiares e do convívio humano, para que esta possa está inserida socialmente. O desenvolvimento psicomotor elabora desde o nascimento e progridem lentamente de acordo com a maturidade neurológica, a vivência e a oportunidade que a criança possui em explorar o mundo que a rodeia (OLIVEIRA, 2009; BUENO, 2013). Segundo Oliveira (1997) o desenvolvimento psicomotor é midiatizado socialmente pelos signos e pelos outros. O signo age como um instrumento da atividade psicológica de maneira análoga ao papel de um instrumento de trabalho, porém são elementos externos ao indivíduo, voltados para fora deles sua função é provocar mudanças nos objetos, e controlar o processo da natureza. O contexto no qual a criança está inserida influenciará o processo de maturação se este não for saudável. Fonseca (2008) discorre sobre o assunto ao falar que o desenvolvimento psicomotor da criança está intimamente relacionada com o contexto sócio-histórico, e que é isso que o torna tipicamente humano ao inserir-se no seu contexto social e cultural. Para Alves (2012, p. 100), “é necessário sinalizar e orientar os responsáveis pela criança sobre a importância da influência do meio no processo evolutivo dela”, haja vista que os pais, responsáveis ou cuidadores são os primeiros educadores destas crianças, e cabe a eles estarem atentos a este aspecto. De acordo com Fonseca (2008) o desenvolvimento global da criança depende do comportamento perceptivo-motor, sendo que este exige como condição prévia, determinadas oportunidades, como as de aplicação; a exploração lúdica e sistemática; o controle postural e motor; a percepção figura-fundo; a integração intersensorial; a noção de corpo; de espaço e de tempo. Corroborando com o assunto Alves (2004) reforça que o desenvolvimento mental aliado ao motor poderá levar a criança a explorar o mundo exterior, tento contato direto com objetos concretos. Outro aspecto levantado por Fonseca (2008) é com relação às condições sociais de vida que o adulto cria para a criança, que exercem uma influência muito importante nos primeiros meses de desenvolvimento, acelerando ou inibindo o desenvolvimento motor, emocional e cognitivo, não só quanto à adequabilidade, à direcionalidade e ao nível de execução das interações. 25 Nesta mesma de linha de consideração a criança passa por mudanças físicas, alterações nos músculos, na gordura, nos órgãos internos e no sistema nervoso. O que essa descrição não transmite é o impacto de todas essas mudanças na capacidade de a criança usar o corpo para movimentar-se no mundo (BEE, 2003). A atividade motora é de suma importância no desenvolvimento global da criança. Através da exploração motriz, a criança desenvolve a consciência de si mesma e do mundo exterior (ROSA NETO, 2011). De modo que contribui de maneira significativa no processo de desenvolvimento emocional e social, onde terão possibilidades de descobrir quais são as suas habilidades, estabelecendo também a relação com o meio em que vive e com os estímulos provindos deste. 1.4 Motricidade humana Rosa Neto (2011) relata que a busca de identidade da motricidade iniciará a partir dos trabalhos de Ajuriaguerra e Diatkine, no Hospital Henri-Rousselle, de Paris, durante os anos 1947-59. Estes autores realizaram uma série de publicações que dão lugar à primeira carta de reeducação motriz na França. Esta carta trouxe a fundamentação teórica do exame motor, assim como uma série de métodos e técnicas de tratamento de diversos transtornos motrizes. A Motricidade Humana escolhe seus conceitos fundamentais baseados no paradigma da complexidade anunciado por Morin (1991) e no paradigma sistêmico e ecológico proposto por Capra (1975). Estes referenciais permitem que o profissional visualize o mundo sob um novo olhar que marca a sua própria vida, na maneira como o indivíduo lida com sua alimentação, com sua atividade física, com suas escolhas na vida e, em síntese, como cuida de sua própria motricidade. Para Bueno (2013) motricidade é o mesmo que mobilidade, pois é o domínio do corpo com sua agilidade, locomoção e a capacidade de movimentar-se de forma voluntária. Sendo a esta atribuída um papel fundamental na vida intelectual da criança, visto que é através do movimento que esta cresce, se desenvolve, e conhece seu corpo. Esta nova vertente, mesmo sem integrar os diversos princípios e modalidades da reeducação, é considerada como a estrutura que configura as grandes bases da motricidade atual, tais como: coordenação dinâmica e óculo-manual, equilíbrio, 26 organização espacial e temporal, esquema corporal e lateralidade (ROSA NETO, 2011). 1.5 Áreas básicas da motricidade humana 1.5.1 Motricidade fina Para Rosa Neto (2011), a motricidade fina pode ser definida como uma atividade com movimentos pequenos, com o mínimo de força e com grande precisão. Isso significa que para executar esta atividadedeve-se agir cautelosamente para que tenha êxito em sua conclusão, vale ressaltar que nestas atividades serão envolvidos movimentos com as mãos e dedos, com os pés, rosto, língua e lábios. Enquanto Almeida (2009) utiliza-se do termo coordenação motora fina, onde enfatiza que esta diz respeito aos trabalhos mais finos, sendo executados com o auxílio de mãos e dedos. Há algumas atividades que auxiliam o desenvolvimento dessa modalidade, como: recortes de tiras de papel de revista com o dedo; recortes de quadrados em folhas de revistas com o dedo; colar grãos em fileiras desenhadas no papel, dentre outras. Bueno (2013) também considera como a capacidade de controlar os pequenos músculos para exercício refinados, que envolvem a coordenação viso- motora ou oculomotora, a coordenação viso-manual ou óculo-manual e a coordenação músculo-facial. Para Alves (2012) é uma coordenação segmentar que exige um maior cuidado na execução dos movimentos considerados mais complexos. Rosa Neto (2002) menciona que a atividade manual, guiada por meio da visão, faz intervir, ao mesmo tempo, o conjunto dos músculos que asseguram a manutenção dos ombros e dos braços, do antebraço e a mão, que é particularmente responsável pelo ato manual de agarrar ou pelo ato motor. O mesmo autor salienta que o córtex pré-central corresponde à motricidade fina tem um papel fundamental no controle dos movimentos isolados das mãos e dos dedos para pegar o alimento. 27 1.5.2 Motricidade global A motricidade global permite a execução de movimentos amplos, como correr, saltar, dançar, pular, que envolvem grupamentos musculares globais e menos precisos (ROSA NETO, 2011; ALVES, 2012). Estes são essenciais para que as crianças desenvolvam seus padrões de comportamentos motores, sendo eles apresentados no decorrer das atividades que envolvem a motricidade global. A coordenação motora global deve ser uma das primeiras a serem desenvolvidas no espaço infantil, pois é a que exige mais da criança, para que esta consiga acompanhar as demais atividades sugeridas posteriormente. Considerada por Alves (2012) como coordenação motora ampla, que trabalha com atividades onde a criança necessite ter controle muscular, sendo que este é indispensável para facilitar a caligrafia e concentração na escola. A despeito disso Almeida (2009) acredita que as atividades envolvidas nestas práticas estão relacionadas à organização geral do ritmo, ao desenvolvimento e às percepções gerais da criança. Através dessas atividades a criança se descobre, e desvenda o mundo que a rodeia, podendo surgir novas possibilidades de ações que envolvam seus próprios recursos, bem como sua criatividade. Para Bueno (2013) o termo utilizado é coordenação dinâmica global ou geral, a qual considera como possibilidade de controle de movimentos amplos de nosso corpo. Considerando que o copo é puro movimento, cada pessoa produz de maneira independente segmentos corporais que as interessam. Seguindo essa linha de pensamento Rosa Neto (2002) destaca que o movimento motor global, seja ele o mais simples, é um movimento sinestésico, tátil, labiríntico, visual, espacial e temporal. Os movimentos dinâmicos corporais desempenham um importante papel na melhora dos comandos nervosos e no afinamento das sensações e das percepções, contribuindo para que o corpo esteja em harmonia com os gestos produzidos por ele. 1.5.3 Equilíbrio O equilíbrio é a base primordial de toda ação diferenciada dos segmentos corporais. Quanto mais defeituoso é o movimento, mais energia consome, e isto 28 exige mais do corpo, pois este precisa estar situado no espaço de maneira ordeira e equilibrada (ALVES, 1981; ROSA NETO, 2002). Quanto à sua classificação Alves (2012) enumera que existem dois tipos de equilíbrio, o estático e o dinâmico. O estático diz respeito aos movimentos não locomotores, ou seja, aqueles que não necessitam sair do lugar, como por exemplo, ficar de cócoras apoiando-se apenas com as pontas dos pés. Já o dinâmico refere- se aos movimentos locomotores, sendo estes aqueles no qual o indivíduo precisa se equilibrar saindo do lugar, como por exemplo, andar sobre uma corda suspensa. Com relação aos tipos de equilíbrio, Bueno (2013) reforça que tanto o equilíbrio estático quanto o dinâmico apresentam dificuldades. O primeiro exige maior concentração e controle postural. Já o segundo, o dinâmico – sendo que quando corpo está em movimento o nível de dificuldade acentua-se, e as contrações compensadoras de cada movimento devem combinar-se, para que a atividade atinja gestos harmoniosos. Fonseca (2004) descreve que a postura é uma função que, do mesmo modo que exige certas condições indispensáveis do meio envolvente, como o solo e as forças gravitacionais, é também um sistema funcional quase exclusivo da espécie humana. Este fato é mais uma singularidade do ser humano, associada à maneira de pensar, planejar e agir. Para Rosa Neto (2002, p. 17) “o equilíbrio é o estado de um corpo quando forças distintas que atuam sobre ele se compensam e anulam-se mutuamente”. A criança adota algumas posturas para assim chegar ao equilíbrio, utilizando-se de diversas maneiras para realizar o movimento de forma precisa. Sendo assim a possibilidade de manter posturas, posições e atitudes indica a existência de equilíbrio. Ao referir-se a tal assunto Fonseca (2004) menciona que o equilíbrio envolve o controle postural, revelando o nível de integridade de importantes centros e circuitos neurológicos, sem os quais nenhuma atividade pode ser realizada. O controle postural depende das funções cognitivas, visto que o corpo irá responder aos comandos emitidos pelo cérebro, para que o equilíbrio aconteça. Isso vem de encontro com Barlow (1955) afirmando que uma postura inadequada poderá estar associada a uma excessiva tensão que favorece um maior trabalho neuromuscular, o que dificulta a transmissão e as informações dos impulsos 29 nervosos. Se o corpo não está preparado para executar determinadas atividades, não há como este ter êxito em seus movimentos. Para Asher (1975) as variações da postura estão associadas a períodos de crescimento, surgindo como uma resposta as dificuldades de equilíbrio que costumam ocorrer segundo as mudanças nas proporções corporais e nos seus seguimentos. A postura ideal é aquela em que a atividade muscular tem de ser mínima para manter o corpo em estado de equilíbrio, ou seja, deve-se haver mais concentração e precisão para que o equilíbrio aconteça, mesmo que a atividade seja de difícil execução. 1.5.4 Organização espacial Segundo Lopes (2010) a organização espacial caracteriza-se pela capacidade de orientar-se, situar-se e movimentar-se no espaço, tendo como referência o próprio corpo. Isto significa que a maneira como o indivíduo se vê e percebe as coisas no espaço, está associado a si próprio, de modo a dirigir-se e avaliar os movimentos, adaptando-o ao espaço vivido. A noção do espaço é ambivalente, pois, ao mesmo tempo, é concreta e abstrata, finita e infinita. Visto que envolve tanto o espaço do corpo, assim como sua funcionabilidade, quanto o espaço que o rodeia. Percebemos a posição de nosso corpo no espaço, posteriormente a posição dos objetos em relação a nós mesmo, e por fim, aprendemos a notar as posições destes objetos entre si mesmos (ROSA NETO 2002; ALVES, 2012). A organização espacial depende, ao mesmo tempo, da estrutura de nosso próprio corpo (estrutura anatômico, biomecânica, fisiológica, etc.) da natureza do meio que nos rodeia e de suas características (ROSA NETO, 2002). O ser humano precisa ternoção de seu próprio corpo, conhecê-lo em sua essência, se perceber e compreender sua função no espaço. Para Oliveira (2009) a estruturação espacial é uma elaboração e uma construção mental, pois a consciência do eu permite situar-se no tempo e no espaço. A possibilidade de organizar-se perante o mundo, e perante as coisas entre si, e das situações, tendo uma compreensão do mundo exterior. O mesmo autor enfatiza que pela interiorização de seu corpo a criança apreende o espaço que a 30 cerca, trabalha com a representação deste espaço, prevendo e antecipando suas ações. Alves (2004) menciona que a estruturação espacial é essencial para que se viva em sociedade. É através do espaço e das relações espaciais que se situa no meio em que vive em que se estabelecem relações entre as coisas, em que se fazem observações, comparando-as, combinando-as, vendo semelhanças e diferenças entre elas. A estruturação espacial não nasce com o indivíduo ela é uma elaboração e uma construção mental que se opera através de seus movimentos em relação aos objetos que estão em seu meio. 1.5.5 Organização temporal Para Rosa Neto (2002) a organização temporal inclui uma dimensão lógica, que diz respeito ao conhecimento da ordem, da duração, e dos acontecimentos que se sucedem com intervalos. É estar orientado no tempo, e saber distinguindo o ritmo, se é rápido ou lento, dentro de um determinado espaço de tempo. Bueno (2013, p. 236) denomina de estruturação espaço temporal, sendo esta “a capacidade de avaliar tempo-espaço, interagindo-a real e convencionalmente em uma sucessão e em grandeza espacial”. Este conceito foi desenvolvido no início da criação da ciência psicomotora, pois os autores ao fazerem referência a esses termos, não conseguiam separá-los. Inserido na organização espaço temporal tem- se o tempo, o espaço e o ritmo, estando integrados esses dois conceitos psicomotores as atividades se desenvolvem de forma integrada. Segundo Almeida (2009) a noção de tempo leva a criança desenvolver hábitos do cotidiano, como: dormir, acordar, tomar banho, almoçar, ir à escola entre outras atividades que ocorrem em função do tempo. Vale ressaltar que muitas crianças não compreendem tal condição, pelo fato de ser algo tal complexo. Alves (2004) menciona que a orientação temporal garantirá para o indivíduo uma experiência de localização dos acontecimentos passados, e uma capacidade de projetar-se para o futuro, para que assim possa planejar sua vida. 31 1.5.6 Lateralidade Oliveira (2009) sustenta que a lateralidade ocorre quando se verifica o domínio de um lado do corpo sobre o outro, portanto a esfera motora da parte esquerda ou da direita tem ascendência em relação à outra. Menciona ainda que a dominância seja examinada em relação à força, precisão, habilidade e velocidade dos movimentos, no olho, mão e pé. Para Alves (2004) a propensão que o ser humano possui ao utilizar preferencialmente mais um lado do corpo do que o outro, em três níveis: mão, olho e pé. Isto significa que existe um predomínio motor, ou melhor, uma dominância de um dos lados. A mesma autora comenta que, se uma pessoa tiver a mesma dominância nos três níveis (mão, olhos e pé) do lado direito, diz-se que é destra homogênea; e canhota, ou sinistra homogênea, se for do lado esquerdo. Se ela possuir dominância espontânea nos dois lados do corpo, isto é, executar os mesmos movimentos tanto com um lado como o outro é muito comum, é chamada ambidestra. Para Rosa Neto (2002) a lateralidade é a preferência da utilização de uma das partes simétricas do corpo: mão, olhos, ouvidos, pernas; a lateralidade cortical é a especialidade de um dos dois hemisférios quanto ao tratamento da informação sensorial ou quanto ao controle de certas funções. Nesta mesma linha de considerações Lopes (2010) diz que a lateralidade é a manifestação de um lado preferencial na ação, vinculada a um hemisfério cerebral, ou seja, é a propensão que o ser humano possui de utilizar preferencialmente mais um lado do corpo que o outro, em três níveis: mão, pé, olho (em nível de força e de precisão). Conforme Le Boulch (2001) diz que a lateralização é a manifestação de um predomínio motor relacionado com as partes do corpo que integram suas metades direita e esquerda, predomínio este que, por sua vez, se vincula á aceleração do processo de maturação dos centros sensório motores de um dos hemisférios cerebrais. Já Fonseca (2008) diz que se trata de um fenômeno morfológico que representa uma forma de assimetria funcional. Este aspecto também é comentado por Lopes (2010) onde enumera quatro tipo de lateralidade: lateralidade contrariada, é como se caracterizam pessoas, geralmente canhotas, que foram obrigadas a mudar a preferência de um dos lados; lateralidade indefinida, caracteriza crianças que ainda não decidiram pelo uso 32 preferencial de um dos lados do corpo; lateralidade cruzada, além da dominância da mão, existe a do pé e a do olho. Quando essas dominâncias não se apresentam do mesmo lado, dizemos que o indivíduo tem lateralidade cruzada; ambidestra, caracteriza-se pela dominância espontânea dos dois lados do corpo, o que não é muito comum. 1.6 Avaliação psicomotora Devido à importância da psicomotricidade no desenvolvimento da criança, faz necessária a reflexão de como podemos auxiliá-los nas práticas psicomotoras. Para que isto ocorra de fato é imprescindível que haja primeiramente uma avaliação, a fim de averiguar o que precisa ser trabalhado. A avaliação psicomotora tem grande importância, pois possibilita ao profissional verificar de que forma este irá desenvolver suas atividades, adequado-as as necessidades apresentadas pelas crianças (MARINHO, 2007; ALVES, 2012; BUENO, 2013). Considerando este assunto Bueno (2013), comenta que para fazer uma avaliação psicomotora faz-se necessário saber com exatidão qual o objetivo em submeter o indivíduo a esta avaliação. Visto que o sujeito avaliado será acometido à testes para verificação de suas potencialidades e dificuldades. Além disso, Rosa Neto (2011) aponta que a escolha e manejo de um instrumento de avaliação estarão correlacionados a diversos fatores, assim como a formação e experiência profissional do avaliador, de que maneira será realizado o manuseio dos materiais, a interpretação dos resultados, entre outros, que devem estar integrados também com as demais informações a respeito do avaliado. Diante disso percebe-se que a avaliação psicomotora corresponde não só a método quantitativo, mas também qualitativo, no sentido de que o avaliador estará atento também aos aspectos subjetivos do sujeito, a influência que o ambiente proporciona e o estado emocional apresentado por ele. Alves (2012) sustenta que a avaliação é um processo contínuo, pelo fato de não ser possível em uma única avaliação detectar o problema, por isso é de grande importância que o profissional esteja atento aos aspectos externos e internos do sujeito no momento da avaliação. A despeito disso vale notar que: 33 (...) a avaliação psicomotora deve ser analisada de maneira ampla, contextualizada e inserida no grupo interdisciplinar sobre o qual o sujeito circula, seja na escola, nos atendimentos ou na família. Não deve ser restrita a métodos, procedimentos técnicos e aplicação de testes apenas (BUENO, 2013, p.317). A partir da avaliação psicomotora o profissional terá acesso à história de vida do avaliado, identificando seus comportamentos em diversos aspectos, o qual contribuirá para a eficácia do tratamento que se iniciará após o resultado da avaliação (ALVES, 2012). Através daavaliação a criança é classificada de acordo com as dificuldades apresentadas por ela, mas isso não significa que esta irá permanecer com essa classificação, pois por meio desta que será iniciado o tratamento adequado. Através de inúmeras pesquisas na área do desenvolvimento psicomotor Rosa Neto (2002) estabeleceu um nível de classificação que varia de acordo com Quociente Motor Geral (QMG) encontrado na avaliação psicomotora. A tabela 1 corresponde aos níveis de classificação propostos por este pesquisador. Tabela 1 – CLASSIFICAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO MOTOR PARA CRIANÇAS QMG Classificação 130 ou mais Muito superior 120 – 129 Superior 110 – 119 Normal alto 90 – 109 Normal médio 80 – 89 Normal baixo 70 – 79 Inferior 69 ou menos Muito inferior FONTE: Rosa Neto (2002) De acordo com pesquisas de Almeida (2007), no qual dizem respeito a promoção de subsídios para uma a análise mais ampla do desenvolvimento de crianças com deficiências, independente de quais fossem, para que esta pudesse criar uma tabela de classificação padronizada em relação ao seu desenvolvimento psicomotor. Com autorização e supervisão de Rosa Neto, autor da bateria EDM, foi estabelecida a tabela de classificação para este fim. A tabela 2 corresponde aos níveis de classificação propostos por este pesquisador. Tabela 2 – CLASSIFICAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO MOTOR PARA DEFICIENTES QMG Desenvolvimento Motor 50 – 69 Deficiência motora leve 30 – 49 Deficiência motora moderada 34 20 – 29 Deficiência motora grave 0 – 19 Deficiência motora profundo FONTE: Almeida (2007) Esta pesquisadora menciona que as pesquisas que avaliam crianças com deficiência, encontram-se na classificação “muito inferior” (SOUZA, 1997; MARINELLO, 2001; ALMEIDA, 2004), de acordo com a EDM. Vale ressaltar que dentre as formas de avaliar o desenvolvimento motor, nem todas as avaliações englobam de maneira geral todos os aspectos do desenvolvimento, pois a maneira como o instrumento será utilizado deve conter a facilidade de acesso, contato e aplicação prévia, tempo de aplicação e confiabilidade, assim como ocorre na EDM de Rosa Neto (2002) escala composta por vários testes que permite ao profissional avaliar com êxito. 1.7 Campos de intervenção da psicomotricidade Bueno (2013) argumenta que com a evolução da psicomotricidade em seus diferentes saberes houve a necessidade não só em trabalhar na área terapêutica, mas sim envolver a prevenção. Haja vista que esta ciência vem se tornando uma facilitadora no desenvolvimento do indivíduo, faz-se necessário compreender este como um ser de possibilidades, visto em sua totalidade. Com isso surgem novos campos de intervenção da psicomotricidade como: estimulação psicomotora, educação psicomotora, reeducação psicomotora e terapia psicomotora. 1.7.1 Estimulação psicomotora A estimulação psicomotora está voltada para a intervenção precoce de crianças no início de suas vidas, ou seja, é um trabalho voltado mais precisamente para os bebês. Bueno (2013) afirma que este campo de atuação caracteriza-se por atividades que procuram despertar o corpo e a afetividade através de movimentos e jogos harmoniosos. Outro aspecto levantado por Bueno (2013) é o fato de que se faz necessário após a vivência conversar com a criança sobre o que foi sentido, sobre as suas 35 impressões a respeito dos movimentos executados, proporcionando a interiorização do que foi vivenciado. 1.7.2 Educação psicomotora De início é interessante destacar o conceito de educação psicomotora descrita por Le Boulch (1987 apud Alves, 2004), no qual relata que a educação psicomotora representa uma “Educação de Base”, que trabalha com crianças desde a mais tenra idade, sendo assim esta educação de base é iniciada na educação infantil, onde a criança tem a oportunidade de entrar em contato com um mundo e um universo de coisas, pessoas, locais, conteúdos que até então ela desconhecia. Rosa Neto (2002) aponta que a educação psicomotora é a ação pedagógica e psicológica que utiliza o movimento com o fim de normalizar ou melhorar o comportamento da criança. As origens da educação psicomotora remontam aos estudos realizados com crianças que apresentavam problemas de aprendizagem, mais especificamente, na leitura, na escrita, no cálculo matemático. Para Bueno (2013, p. 269) esta “realiza-se em todos os momentos da vida através de percepções vivenciadas, com uma intervenção direta em nível cognitivo, motor e emocional, estruturando o indivíduo como um todo”. Como faz notar Le Boulch (2001) enfatizando que a educação psicomotora refere-se a uma formação de base indispensável a toda a criança, seja ela normal ou com problemas, pois responde a uma dupla finalidade: assegurar o desenvolvimento funcional, tendo em conta as possibilidades da criança, e ajudar sua afetividade a expandir-se e a equilibra-se através do intercâmbio com o ambiente humano. Ainda nesta mesma linha de considerações Alves (2004), sustenta que trabalhar com a psicomotricidade na fase inicial torna o processo de aprendizado mais rico de possibilidades, de experimentações, e de vivências. A criança tem a possibilidade de experienciar sensações que ainda não foram vividas e identificadas em seu corpo. Este aspecto também é comentado por Le Boulch (2001) sustentando que a ação pedagógica tem como objetivo principal o desenvolvimento motor e mental da criança, com a finalidade de levá-la a dominar o próprio corpo e a adquirir uma inibição voluntária, indica também, que no movimento espontâneo, sua diretriz é fundamental, pois, em qualquer movimento, existe um condicionante afetivo que 36 determina um comportamento intencional. Acredita-se que a ação pedagógica é sempre uma ação motriz, por menor que seja, esta que regula o aparecimento e o desenvolvimento das formações mentais, é pelo aspecto motor que a criança estabelece os primeiros contatos com a linguagem socializada. Alves (2004) também argumenta que quando as crianças ingressam num mundo, que inicialmente parece de faz de contas, os profissionais da área da educação têm como objetivo principal adequar as crianças ao universo escolar, vislumbrando um apropriado processo de alfabetização para garantir posteriormente uma brilhante carreira estudantil. 1.7.3 Reeducação psicomotora A reeducação psicomotora é um dos campos de intervenção na psicomotricidade que possibilita ao indivíduo aprender novamente aquilo que não foi apreendido. Bueno (2013) menciona que seu objetivo principal é retomar as vivências anteriores com falhas ou as fases da educação que foram realizadas de maneira inadequada. Vale notar que a reeducação psicomotora é uma ação desenvolvida nos acometidos por perturbações ou distúrbios psicomotores. A mesma autora fomenta que a atribuição da reeducação está contida em diversas áreas profissionais, mas para que se tenha uma boa reeducação faz-se necessário ter a tranquilidade e o intercâmbio afetivo do reeducador com o educando. Esta pode ser desenvolvida de forma individual ou em grupo, destinando- se a todas as faixas etárias, que enquadra desde a criança até o idoso. A reeducação psicomotora deve estar vinculada a uma avaliação psicomotora prévia, focando os sintomas diagnósticos do indivíduo. Mello (1989 apud BUENO, 2013) reforça que o psicomotricista deve conduzir este trabalho optando por um trabalho diretivo ou não diretivo, atentando-se para que este não se transforme em terapia psicomotora. 1.7.4 Terapia psicomotora Segundo Bueno (2013) a terapia psicomotora está direcionada àqueles que possuem conflitosacentuados em sua estrutura psíquica, aos funcionais ou com desorganização total de sua harmonia corporal e pessoal. Esta é voltada para 37 crianças com maior comprometimento em seu quadro sintomatológico, onde as atividades são intensificadas, para que haja evolução em seu desenvolvimento. Outro fato relevante citado por Bueno (2013) está direcionado à relação entre o psicomotricista e o sujeito, na qual são utilizados diversos mediadores não verbais, como: o olhar, os sons vocais, a distância corporal e o contato, entre outros. Porém a linguagem verbal é de grande importância na terapia, pois esta estabelece a conexão entre as vivências corporais simbólicas e fantasiosas, de modo que o corpo não seja distanciado da terapia psicomotora. 1.8 Psicomotricidade e psicologia O ser humano está envolvido numa constante interação entre o mundo externo, constituído pelo ambiente físico e social, e o mundo interno, formado pelos sentimentos, emoções e conflitos conscientes ou inconscientes, cujo corpo se torna um meio de expressá-los simbolicamente (FONSECA, 2004). Sobre a relação dos termos Alves (2004) considera que a psicologia é uma ciência que tem como objeto de estudo o comportamento, onde tal comportamento poderá ser determinado por uma emoção, desencadeando assim um ato motor voluntário ou involuntário. Enquanto que a psicomotricidade objetiva o estudo da relação entre o pensamento e a ação, envolvendo a emoção, atende a todas as áreas que trabalham com o corpo e com a mente do ser humano, assim como a Psicologia. Segundo Fonseca (2008) é através do corpo que se sente e damos sentido à vida ou que se sente uma doença, por exemplo. E é o corpo que nos permite efetuar mudanças em nosso estilo de vida, concretizar experiências e estruturar a personalidade. E cada indivíduo atribui a seu corpo um significado pessoal, com particularidades para cada indivíduo, esse corpo pode ser fonte de prazeres e/ou sofrimentos e sacrifícios, de liberdade ou de prisão, introversão ou extroversão, e a cada momento, da infância ao idoso, constrói e registra a história pessoal do sujeito. Para Schilder (1999), a imagem do corpo é “a figuração de nosso corpo formada em nossa mente, ou seja, o modo pelo qual o corpo se apresenta para nós” em outras palavras é a representação mental do corpo. Fonseca (2004) identifica que a contribuição da Psicologia para a psicomotricidade chega-se a importância dos movimentos para a formação do 38 caráter e da personalidade dos indivíduos, sendo que é através dos movimentos que criança poderá explorar o meio que o cerca, e com isso adquirirá conhecimentos necessários de seu corpo, suas percepções e sensações, podendo assim, ter a oportunidade de se descobrir-se. 39 2 AUTISMO 2.1 Histórico do autismo O autismo vem sendo estudado e pesquisado desde o século XIX, nesta época considerava-se como resultado de um desenvolvimento deficiente da inteligência. Na década de 40, Kanner referia ao autismo infantil como uma dificuldade profunda no contato com as pessoas, um desejo obsessivo de preservar as coisas e as situações, uma ligação especial aos objetos, e alterações de linguagem que se estendiam do mutismo a uma linguagem sem função comunicacional (FERRARI, 2007). Leo Kanner descreveu sobre o autismo em 1943 de modo detalhado à condição de 11 crianças, oito meninos e três meninas considerados especiais, apresentando incapacidade de interação com outras pessoas e objetos, além de distúrbios no desenvolvimento da linguagem, o qual denominou “distúrbio autístico do contato afetivo”. Contudo percebe-se que este pesquisador manifestou desejo em conhecer o mundo que essas crianças viviam, e a incapacidade que estas tinham em relacionar-se com as pessoas desde o início da vida. (COLL; MARCHESI; PALACIOS, 2004). Silva (2012) comenta que neste mesmo ano o pesquisador austríaco Hans Asperger publicou em sua tese de doutorado “a psicopatia autista da infância”, que foi um estudo observacional com mais de 400 crianças, sendo avaliado os padrões de comportamentos e habilidades destas. Segundo esta pesquisa foi observada a falta de empatia, baixa capacidade de fazer amizades, monólogo, hiperfoco em assunto de interesse especial, e dificuldades de coordenação motora. Tais aspectos observados nas crianças avaliadas, receberam a denominação de “síndrome de Asperger”. Durante os anos 50 e início dos anos 60, houveram muitas divergências sobre a natureza do autismo e sua etiologia. Coll et al. (2004) ressalta que o autismo era causado por pais que tinham seu emocional fragilizado, demonstrando irresponsabilidade com seus filhos, surgindo assim o termo “mãe geladeira”, a qual não expressa afeto pelo filho. Neste período surgiram evidências de que o autismo era um transtorno neurobiológico, por apresentar características baseadas na 40 alteração cognitiva e afetiva do indivíduo, sendo estas relacionadas à linguagem, comunicação e flexibilidade mental. Ao referi-se a tal assunto Silva (2012) enfatiza que nesta mesma época a psiquiatra inglesa Lorna Wing, cuja filha era autista, passou a publicar textos de grande importância para o estudo desde assunto, inclusive traduzindo para o inglês os trabalhos de Hans Asperger, popularizando suas teorias. Lorna Wing foi a primeira pessoa a descrever a tríade de sintomas do autismo: alterações na sociabilidade, comunicação/linguagem e o padrão alterado de comportamentos. De acordo com Sadock (2007) historicamente o transtorno autista é chamado de “autismo infantil precoce, autismo da infância ou autismo de Kanner”, caracterizado por interação social mútua e anormal, habilidades de comunicação retardadas, e disfuncionais, que tem um repertório restrito de atividades e interesses. 2.2 Definições e conceitos Acompanhando a trajetória do surgimento e caracterização da palavra autismo, faz-se necessária a compreensão a cerca de suas definições e conceitos, principalmente no que se refere sua etiologia e significações. A priori o termo “autismo” foi introduzido na psiquiatria por Plouller, em 1906, como item descritivo do sinal clínico de isolamento encenado pela repetição da autoreferência, frequente em alguns casos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). O autismo origina-se do termo grego autos, que significa “de si mesmo”. Foi empregado pela primeira vez pelo psiquiatra Eugene Bleuler, em 1911, para descrever a fuga da realidade e o retraimento para o mundo interior dos pacientes adultos acometidos de esquizofrenias (COLL et al., 2004; FERRARI, 2007; BELISÁRIO FILHO, 2010). Através dos estudos e pesquisas de Kanner em 1943 que descreveu pela primeira vez sobre o autismo denominando “Distúrbios Autísticos do Contacto Afetivo”, como uma condição neuropsicológica, caracterizada por um comportamento peculiar como dificuldade extrema em estabelecer relações interpessoais, ecolalia, obsessividade, autismo extremo e estereotipias (COLL et al, 2004; FERRARI, 2007; SILVA, 2012). 41 Asperger em 1944 propôs em seu estudo a definição de um distúrbio que ele denominou Psicopatia Autística, manifestada por transtorno severo na interação social, uso presumido da fala, desajeitamento motor e incidência apenas no sexo masculino (COLL et al., 2004; FERRARI, 2007; BELISÁRIO FILHO, 2010). Nos anos de 1970 e 1980, os meios científicos manifestaram interesse pelo autismo infantil, a partir de então foi estabelecida uma definição clara acerca do termo, sendo evidenciando a importância de se trabalhar os problemas de aquisição da linguagem, e os déficits precoces de comunicação (COLL et al.,
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