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A foto na capa, mostrando um beija-flor tesourão (Eupetomena macroura), foi gentilmente cedida para a presente publicação por Johan Dalgas Frisch e Christian Adam Dalgas Frisch, autores de Jardim dos beija-flores (São Paulo, Dalgas-Ecoltec, 1995). Guia Prático do Observador de Aves Autor: Márcio Amorim Efe Prefácio: Edison Baptista Chaves Apoio: CEMAVE / IBAMA 1999 SUMÁRIO Prefácio Seja um naturalista amador e melhore sua qualidade de vida..............................3 I - Características morfológicas das aves e seus ambientes - Características principais............................................................................6 - Diversidade estrutural das aves..................................................................7 - DIversidade de hábitats...............................................................................8 - DIversidade alimentar..................................................................................9 - Migração....................................................................................................10 - Tipos de ninho...........................................................................................12 - Tipos de ovo..............................................................................................15 - Tipos de filhotes.........................................................................................15 II - Técnicas e equipamentos para observação de aves - Como observar..........................................................................................16 - Binóculos...................................................................................................16 - Lunetas......................................................................................................17 - Máquina Fotográfica..................................................................................17 - Gravador....................................................................................................17 - Roupas e comportamentos adequados.....................................................18 - Quando Observar......................................................................................19 - O que observar..........................................................................................19 - Identificação, livro de texto e guias de campo...........................................24 III - Avifauna existente na região da Serra do Tabuleiro.....................27 IV - Sobre a PROAVES..................................................................................38 V - Sobre o Autor............................................................................................40 Prefácio Seja um naturalista amador e melhore sua qualidade de vida "No f inal, conservaremos apenas o que amamos, amaremos apenas o que compreendemos, compreenderemos apenas o que nos houver sido ensinado." Baba Dioum, conservacionista senegalês citado no exemplar de fev/99 do National Geographic Magazine. A observação de aves é uma alternativa de lazer que ainda não tem muita divulgação no Brasil. A PROAVES aceitou o desafio de ser parceira da Rede Plaza de Hotéis na iniciativa pioneira de divulgar sistematicamente, com uma orientação Especializada, esse hobby que tanto atrai as pessoas nos países desenvolvidos. Por ser uma atividade que traz estímulo intelectual, a observação de aves é muito gratificante para seus Aficcionados. Também envolve caminhadas ao ar livre, com maior ou menor grau de dificuldade e contato com a natureza. Ou seja, reúne ingredientes que reconhecidamente são fundamentais para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Em lugares como os Estados Unidos e Canadá, os observadores de aves há tempo já estão organizados em Associações. Reúnem-se para a prática e aperfeiçoamento de suas habilidades de localizar e identificar as diferentes espécies de aves nos r espec t i vos háb i ta ts , obse rvando seu comportamento e mantendo cuidadosos registros. Estes grupos organizam saídas de campo e viagens, publicam periódicos i n f o r m a t i v o s , p r o m o v e m n ã o a p e n a s pa l e s t r a s c o m especialistas, como outros eventos variados para divulgar suas atividades e a proteção da natureza. O contato com grande variedade de éspécies é um dos aspectos valorizados por esses ornitófilos, havendo competição quanto ao número de espécies 3 efetivamente observadas pela pessoa ao longo da sua vida. Consideram que uma lista pessoal de espécies observadas chega a um nível respeitável quando registra de 300 a 400 espécies de aves, sendo que há muitos ornitófilos mais viajados com listas superiores a 700 (a América do Norte tem mais de 850 e s p é c i e s d e a v e s ) . E m c a t e g o r i a e s t ã o o s campeoníssimos que já observaram quase todas aves conhecidas, mais de 7.000 espécies Há também associações especializadas que reúnem observadores com interesse específico em determinada espécie ou em um grupo particular, como aves diurnas de rapina, ou pertencentes a um hábitat específico como a costa marítima, ou de certa família, ou de hábitos migratórios, etc. Essas pessoas, organizadas em quase uma centena de sociedades ornitológicas, birding clubs, secções da Sociedade Audubon, e associações profissionais, movimentam um setor respeitável da economia, pois para aprofundar -se em seu hobby procuram literatura especializada (manuais, guias de campo, periódicos, mapas), discos, fitas de áudlo e vídeo, equipamento óptico, fotográfico, de filmagem e gravação, e artigos para prover com abrigo, alimento e água, as aves silvestres que freqüentam seus quintais. Para começar, porém, basta um binóculo adequado. O americano Roger Tory Peterson, o decano dos Observadores de aves, afirmou, na década de 70, que, dependendo do critério utilizado para definir uma pessoa como observador de aves (isto é, que grau de envolvimento na atividade deve ser considerado como suficiente para arrolar a pessoa na categoria), estimava o número de aficcionados, nos Estados Unidos, em algo entre dois milhões e quarenta milhões de pessoas 4 O Brasil, com suas mais de 1.677 espécies de aves já ident i f icadas, oferece invejáveis oportunidades para o observador de aves. No Parque Estadual da Serra do Tabuleiro há registros de mais de 250 espécies de aves. No Hotel Plaza Caldas da Imperatriz, cercado por paradisíacos jardins e pela Mata Atlântica, desfrutando os benefícios de águas termais de qualidades internacionalmente reconhecidas, você pode iniciar-se nesse esplêndido hobby que é a observação de aves. Melhore sua qualidade de vida: percorra nossos jardins ou escolha as trilhas na mata, e comece agora mesmo a fazer anotações em sua caderneta de campo! Edison Baptista Chaves Diretor da Rede Plaza de Hotéis 5 I - Características Morfológicas das Aves e seus Ambientes - Características principais As aves são seres vivos que pertencem ao grupo dos vertebrados e apresentam características marcantes que as separam dos outros animais. Todas as aves apresentam BICO, porém outros animais como o ornitorrinco e a tartaruga também possuem estruturas semelhantes. Todas as aves apresentam ASAS, que podem ter a função de vôo ou natação. No entanto, os morcegos também possuem asas e as utilizam para voar. Os filhotes das aves desenvolvem-se em OVOS, entretanto as cobras, tartarugas e jacarés, reproduzem-se da mesma maneira. Como vimos, apesar destas características serem mais comumente lembradas por todos, quando nos referimos às aves, elas não são, individualmente, as características que separam as aves dos out ros grupos an imais . A única característica que é exclusiva das aves e, portanto, está presente em todas as espécies do grupo e ausente nos demais grupos animais, é a PENA. Com função de permitir o vôo e promover isolamento térmico,as penas cobrem o corpo das aves e podem ser divididas em: Penas de contorno=> pequenas penas e penugens existentes que cobrem o corpo e tem como função principal a proteção e o isolamento térmico. Penas de vôo=> principais penas das asas e cauda, responsáveis pelo vôo. Penas de adorno=> penas modificadas com a função de atrair 6 o parceiro na época do acasalamento. Penas sonoras=> penas modificadas para a produção de sons. Utilizadas também na época do acasalamento. Cerdas=> penas modif icadas em forma de "pelos", semelhantes a bigodes em algumas espécies. Têm função protetora e sensitiva, utilizadas para auxiliar a captura de insetos. - Diversidade estrutural das aves As diversas espécies de aves estão adaptadas para a sobrevivência nos diversos ecossistemas existentes no Planeta. Por isso, ao longo de sua evolução, desenvolveram diversos mecanismos de adaptação aos ambientes onde vivem. Algumas dessas adaptações podem ser visualizadas nas várias formas de bico, asas, caudas e pés das aves. Tipos de bicos Os tipos de bicos estão relacionados ao tipo de alimento que a ave consome e a maneira como esse é obtido e aproveitado. Algumas aves podem apresentar bicos finos e pontudos para a captura de peixes, (martim-pescador, garças, aves marinhas), achatados e largos para filtrar a água ou pastar no fundo dos rios e lagos, como as marrecas e patos. Os gaviões e corujas apresentam bicos fortes, curvos e pontudos, utilizados para rasgar a carne de suas presas. Os beija-flores têm bicos finos e longos, curvos ou retos que são usados para alcançar o néctar no interior das flores Os papagaios, periquitos e araras possuem bicos fortes e curtos e podem quebrar frutos duros. Alguns passarinhos possuem bicos pequenos e finos, porém potentes no aproveitamento de grãos, insetos e frutos. 7 Tipos de asas De acordo com o ambiente onde vivem, as aves apresentam asas que facilitem seu deslocamento em busca de alimentos, sítios reprodutivos ou na defesa de seu território. As grandes aves que vivem em ambientes abertos e voam alto apresentam asas grandes e largas e desenvolvem vôos batidos e pesados. Como exemplo podemos citar o urubu, o tuiuiú, a cegonha, a garça-branca-grande, o colhereiro, o flamingo, etc. As aves menores, que vivem em meio à mata, em florestas densas, como a maioria dos passarinhos, geralmente, apresentam asas pequenas que dão agilidade e rapidez n e c e s s á r i a s a o d e s l o c a m e n t o e n t r e a s á r v o r e s . As aves caçadoras como os falcões, apresentam asas pequenas e pontiagudas que se fecham em forma de flecha e desenvolvem extrema rapidez durante o mergulho em direção às presas. Tipos de pés Os pés estão adaptados para o deslocamento no solo ou na água, de acordo com o ambiente onde a ave vive. Aves aquáticas e marinhas podem apresentar membranas entre os dedos ou ao longo dos mesmos, que auxiliam na natação ou na caminhada por cima da vegetação aquática. Aves de solo como os inhambús e macucos possuem pernas curtas e dedos grossos. Aves predadoras têm fortes dedos e unhas afiadas, utilizadas para capturar e sustentar a presa enquanto se alimentam ou carregam-na em vôo. -Diversidade de hábitats As aves estão presentes nos vários ecossistemas brasileiros e de acordo com o tipo de ambiente onde vivem podem ser agrupadas em: 8 Aves silvícolas=> a maioria dos passeriformes que vivem em ambientes florestados como a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, as Matas de Araucárias, Caatinga, Cerrado e Campos Rupestres. Aves aquáticas=> abrangendo as aves que vivem em ambientes dulcícolas como rios, lagos e banhados. Ex: Garças, marrecas, colhereiro, flamingo, etc. Aves marinhas=> costeiras ou oceânicas, abrangendo aves que dependem do mar para obter alimento (peixes e crustáceos) ou das ilhas para se reproduzirem. Aves limícolas=> abrangendo maçaricos e batuíras que freqüentam lagunas e manguezais enterrando seus bicos no fundo lodoso em busca de pequenos organismos. - Diversidade alimentar As aves apresentam diversas formas e estratégias de obter o alimento necessário para a sua sobrevivência, podendo utilizar diversos tipos de itens alimentares. Algumas aves apresentam hábitos generalistas, ou seja, alimentam-se de uma grande variedade de alimento, como por exemplo a gralha. Porém a maioria das espécies têm hábitos alimentares mais restritos. De acordo com o hábito alimentar, podemos agrupar as aves em: Frugívoros=> alimentam-se de frutos e frutas. Ex: sanhaçu, saíras, sabiás, etc. Granívoros=> alimentam-se de grãos e sementes tais como arroz, capim, alpiste, milho, etc. Ex: coleiros, pombas, rolinhas, canários, bico-de-lacre, etc. 9 Insetívoros=> alimentam-se de insetos que capturam em vôo ou no solo. Ex: bem-te-vi, suiriri, andorinhas, bacuraus, etc. Nectarívoros=> sugam o nectar das flores. Ex.: beija-flores e sebinhos. Carnívoros=> alimentam-se de carne de animais vivos. São os grandes predadores. Ex: gaviões, falcões e águias. Piscívoros=> alimentam-se de peixes. Ex.: atobás, garças brancas,martim-pescador, trinta-réis, águia-pescadora, etc. Detritívoros ou Necrófagos=> alimentam-se de carne de animais mortos. Realizam a limpeza do ambiente natural. Ex.: urubu-comum e gaivotão. Onívoros=> têm hábi tos genera! is tas , apresentam alimentação bastante diversificada, podem comer insetos, frutos, grãos, etc. Ex.:gralha, pardal. Pombo-doméstico. - Migração A migração é caracterizada como um deslocamento cíclico, ou seja, uma espécie migratória passa uma parte do ano em um determinado local se reproduzindo e terminada a reprodução, a maioria dos adultos e seus filhotes voam para outro local onde passam outra parte do ano descansando e alimentando-se. Quando novamente aproxima-se a época da reprodução, as aves adultas e maturas sexualmente, retornam ao primeiro local para se reproduzirem, e assim reiniciam o ciclo novamente. Os dois locais, na maioria dos casos, são as áreas de reprodução e de descanso reprodutlvo e a característica sazonal da migração é responsável pela delimitação da época do ano em que as aves permanecem nos dois locais. 10 Helmut Sick, em seu livro Ornitologia Brasileira afirma que "de um modo geral o principal ponto que atrai as aves para o Brasil, não é a temperatura mais elevada dos trópicos e subtrópicos, mas a maior quantidade de alimentos nas regiões quentes onde influi decididamente a sucessão dos períodos de chuva e seca." Esse deslocamento horizontal pode ser dividido em pequenos (migrações locais), médios (migrações regionais ou neotropicais) e grandes ( inter-continentais). Além do deslocamento horizontal, pode ocorrer também migrações verticais, na qual as áreas de reprodução e descanso reprodutivo estão localizadas por exemplo no alto e no pé da serra e as aves passam um período do ano no topo da montanha e outro período na base da montanha. Para exemplificar o fenômeno da migração das aves, podemos citar a migração dos maçaricos do ártico que reproduzem-se durante a primavera e verão do hemisfério norte (junho a setembro) nas regiões do norte do Canadá. Após os filhotes já estarem criados, toda a população alça vôo em direção ao hemisfério sul. Durante a primavera, verão e parte do outono no hemisfério sul (setembro a maio), esses maçaricos concentram-se na região sul do Brasil e Argentina, e permanecem ali, alimentando-se, mudando a plumagem e ganhando peso para a viagem de volta. Em meados de maio, os maçaricos, já com a plumagem reprodutiva completa e bem a l i m e n t a d o s , a l ç a m v ô o d e v o l t a a o C a n a d á para reproduzirem-se novamente. Terminado o período reprodutivo, o ciclo novamente se inicia. É comum que durante sua estada no Brasil, as aves procedentes de zonas temperadas do globo costumem mudar de plumagem. Às aves que, realizamesses tipos de deslocamentos periódicos e sazonais, chamamos de MIGRATÓRIAS. Para o estudo destas aves migratónas a técnica mais comum é o uso do Anilhamento. 11 O anilhamento é uma técnica centenária utilizada para a marcação das aves, e consiste na colocação de anéis metálicos (anilhas) no tarso das aves, gravados com a caixa postal do Centro de Anilhamento do País, no caso do Brasil, o CEMAVE/IBAMA (C.P. 034 BRASÍLIA- DF) Além da caixa postal, vem gravado também um código que nunca se repete e funciona como um documento de identidade para a ave marcada. No Brasil, o código é formado por uma letra e cinco algarismos Após a marcação e a tomada de dados, a ave é novamente solta e o pesquisador e o CEMAVE passam então a depender de outros pesquisadores e pessoas comuns, que encontrem a ave anilhada, para a obtenção do retorno de informações tais como: o destino da ave após a migração, quais os locais e ambientes por onde a ave passa, quanto tempo a ave vive, quanto tempo depois a ave retoma ao local de anilhamento, etc Por isso a divulgação dessa técnica e a motivação das pessoas em participar do processo, escrevendo e informando ao CEMAVE quando do encontro de uma ave anilhada é muito importante. Ao encontrar uma ave anilhada você deve anotar o código (letra e número) a data, o local de encontro e enviar as informações para a caixa postal do CEMAVE/ IBAMA. Outra técnica também utilizada e de custo mais elevado é a colocação de microtransmissores de sinais de rádio ou sinais de satélite na ave e posterior acompanhamento dos sinais durante sua migração. Outras espécies permanecem em seu local de origem durante o ano todo, como é o caso da maioria dos passarinhos. Essas aves são chamadas de RESIDENTES. - Tipos de ninhos As aves utilizam seus ninhos para a postura dos ovos, incubação e cuidado com os filhotes. Na época da-reprodução é a casa e maternidade da ave. Podemos encontrar ninhos de várias formas e tamanhos e construídos com diversos materiais. Citamos a seguir alguns tipos que podem ser encontrados. 12 Ninhos pouco elaborados 1. Ovos colocados no solo. Ex: quero-quero, inhambús, Bacuraus. 2 Cavidades existentes em árvores. Ex papagaios, araras, arapaçus. 13 Ninhos bem elaborados 3. Construídos com barro em forma de forno. Ex. João-de-barro. 4. Construídos com gravetos, apoiados ou pendurados. Ex:. pombas, sabiás e a maioria dos passarinhos. 5. Construídos com fios, teias e musgos em forma de tigela. Ex.: beija-flor, balança-rabo-de-máscara. 14 No entanto existem aves que não constroem ninhos e colocam seus ovos diretamente sobre o solo nu (batuíras, talha-mar, aves de praia) ou sobre galhos e tronco de árvores (urutau). Existem aquelas que aproveitam ninhos abandonados de outras aves, como é o caso de algumas andorinhas que utilizam o ninho do joão-de-barro. Outras são consideradas parasitas, pois colocam seus ovos em ninhos de outras aves ainda em fase de choco para que seus filhotes sejam criados por elas. Ex: chopim ou pássaro-preto.Um caso interessante é o do pingüim-imperador, onde o macho assume a incubação e devido ao solo congelado, o único ovo permanece todo o tempo sobre os pés da ave, em contato com o ventre, que fornece o calor necessário para a incubação. - Tipo de ovos Os ovos também podem variar na forma, no tamanho e na coloração. Quanto à forma, podem existir ovos esféricos, cônicos ou ovais. O tamanho varia de acordo com o tamanho da ave e a coloração pode ser uniforme (branco, azulado) ou com várias pintas e manchas. A coloração é importante na camuflagem dos ovos, principalmente aqueles colocados diretamente no solo nu. - Tipos de filhotes No que diz respeito ao tipo de dependência dos filhotes aos cuidados dos pais, eles podem ser separados em muito dependentes (Nidícolas) ou pouco dependentes (Nidífugos). Os filhotes nidícolas nascem nús (sem penas), com os olhos fechados. Permanecem por longos períodos no ninho e precisam constantemente dos cuidados dos pais. Ex: garças, pombas e a maioria dos passarinhos. Os filhotes nidífugos apresentam um desenvolvImento bastante rápido. Já nascem cobertos de plumas, com os olhos abertos e com três ou quatro dias de vida já abandonam o ninho, mas ainda continuam sendo alimentados pelos pais. Ex: marrecas, aves migratórias. 15 II -Técnicas e Equipamentos para Observação de Aves As aves são animais relativamente fáceis de serem observados na natureza e sempre despertaram muito interesse tanto dos pesquisadores como dos amadores, principalmente devido à beleza de suas cores e à sonoridade de seus cantos. O Brasil apresenta em torno de 1.679 espécies diferentes de aves e é considerado atualmente o segundo país com maior diversidade de aves no mundo. A observação de aves em países da América do Norte e Europa é uma prática bastante difundida e reúne milhares de adeptos. No Brasil este hobby começa a ganhar força e para isso prec isamos es ta r p reparados . Nesse cap í tu lo se rão apresentadas as principais técnicas e os equipamentos mais utilizados na observação de aves. - Como observar Apesar da grande movimentação e da relativa facilidade que as aves apresentam em se expor, para se observar os detalhes e as características importantes para se chegar a identificação das espécies, é necessário, na maioria dos casos, o auxílio de equipamentos ópticos que permitam a aproximação adequada. - Binóculos Os binóculos devem ser escolhidos de acordo com o ambiente onde serão usados e apresentam grande variedade de tamanhos, materiais e preços Para ambiente de mata são ideais os binóculos de aumento entre 7 e 8vezes. Ex: 7x20; 7x35; 8x30. 16 Para ambientes abertos, os melhores binóculos devem apresentar aumento entre 10 e 20 vezes. Ex: lOx50;20x40. Podem ser grandes, pesados e de ferro, hoje em dia os mais recomendados são os menores, mais leves e emborrachados. - Lunetas São utilizadas em ocasiões específicas como a observação de ninhos, de aves distantes em ambientes abertos ou para observações prolongadas de uma determmada espécie. Podem apresentar uma ou duas lentes oculares e também variam no aumento, marcas e preços. Necessitam do auxílio de um tripé para mantê-las firmes. A util ização destes equipamentos é bastante fácil e semelhante ao uso de máquinas fotográficas. Ao avistar uma ave o equipamento deve ser apontado para a mesma. Em seguida regula-se o botão de foco até se obter melhor nitidez na imagem da ave observada. - Máquina fotográfica Uma boa forma de economizar tempo de observação e conseguir capturar mais facilmente e com maior precisão as mformações visuais a respeito da ave é através do uso de máquinas fotográficas. Uma boa foto pode ajudar muito na identificação da espécie. A tecnologia na produção de máquinas fotográficas está muito avançada e podem ser encontradas máquinas com os mais modernos recursos em lentes, automatização e tipos de filmes. Porém vale lembrar que as aves são seres extremamente ágeis e, no caso de ambientes florestados, nem sempre são visualizadas em locais com luminosidade suficiente para a fotografia. Portanto, este recurso deve ser utilizado como forma secundária, não eliminando o uso do binóculo. - Gravador Em ambientes de mata fechada e escura, a grande maioria das espécies de passarinhos tornam-se difíceis de serem visualizadas. Na maioria dos casos, é mais comum se perceber sua presença através de seu canto. 17 Sendo assim, utilizamos um artifício e um equipamento al ternat ivo para obtermos sucesso na observação e, conseqüentemente, identificação da espécie. Para o uso em campo, os melhores gravadores são os portáteis, tão pequenos que podem ser levados no bolso. Tanto podem utilizar fitas normais como micro-fitas. Precisam, porém, ter uma boa qualidade de gravação O gravador pode ser usado para atrair uma ave atravésda técnica do play-back. A técnica consiste na atração da ave através da voz da própria ave. Ou seja, ao se ouvir a vocalização de uma ave no campo, aponta-se o microfone do gravador para a direção do contato e grava-se a voz. Em seguida, volta-se a fita até o inicio da gravação e toca-se então o canto gravado As aves na maiona das vezes os machos, cantam geralmente para atrair seus parceiros ou para mostrar aos outros que aquele ali é seu território. Sendo assim, quando ela ouve uma voz de outro indivíduo da mesma espécie e do mesmo sexo, na maioria das vezes, a tendência é que essa ave inicie um comportamento frenético na intenção de se aproximar do outro indivíduo e se mostrar para ele. Com isso, aquela ave que não havia sido visualizada pelo observador, agora torna-se mais ativa e de fácil avistagem. Porém esta técnica deve ser usada com cautela para aves raras e não deve ser usada para atrair espécies ameaçadas de extinção. Por ser estressante é potencialmente perigoso para a ave. Além da técnica do play-back, a vocalização gravada será importante também para a identificação da espécie. - Roupas e comportamento adequados Estando a ave em seu ambiente natural, ela está acostumada com tudo que existe em seu redor e por isso é capaz de perceber qualquer movimento ou vulto estranho ao seu ambiente. Sendo assim, para conseguirmos obter sucesso em nossa observação é essencial que se esteja vestido adequadamente, com roupas leves e camufladas, de cores cinza, verde ou marrom. 18 É importante que se tenha a máxima cautela no caminhar, evitando galhos secos que possam fazer barulho e mantendo-se em silêncio. O observador é antes de mais nada um amante da natureza e conserva consigo o respeito por ela, portanto todas as regras de proteção, carinho e cuidados com o ambiente natural devem ser seguidas. Além do mais, temos de ser o mais imperceptível possível. Afora isso uma boa dose de paciência é essencial para o sucesso na observação. - Quando Observar Teoricamente podemos avistar aves a qualquer hora do dia e época do ano, porém existem momentos mais adequados que outros. Os melhores períodos do dia para se observar aves são no início da manhã, até aproximadamente 10 horas (horário solar) e ao final da tarde entre 16 e 18 horas. Nesses dois períodos as aves apresentam maior at iv idade na busca do a l imento, na delimitação e defesa do território e na corte reprodutiva. Os meses do ano mais adequados são os da primavera e verão quando a grande maioria das aves estão em período reprodutivo e tornam-se mais at ivas devido às at ividades de côrte e alimentação dos filhotes Porém quando se trata de aves migratórias, devemos conhecer previamente a época em que a espécie se encontra no local que pretendemos realizar a observação. - O que Observar A observação detalhada de uma ave tem como objetivo a captura da maior quantidade de informações possíveis para que se possa, posteriormente, proceder a identificação mais facilmente. Ao se visualizar uma ave deve-se, primeiramente fazer uma avaliação a respeito do tamanho e forma da ave. Para isso costuma- se comparar com alguma outra ave conhecida Ex: do tamanho de um pardal, menor que um pombo, com a forma de um sabiá. 19 Um dos caracteres mais importantes para a identificação das espécies é a colocação da plumagem e a respectiva distribuição de cores ao longo do corpo. Portanto esta é a informação mais importante a ser coletada pelo observador. Para notar estas informações utiliza-se uma caderneta de campo com o desenho de uma ave, o qual será preenchido durante a observação. 20 O esquema abaixo apresenta a divisão do corpo da ave com os respectivos nomes técnicos para que você possa preencher seu desenho de forma correta. 21 22 ADAPTADO DO LIVRO “FIELD GUIDE TO THE BIRDS OF NORTH AMERICA NATIONAL GEOGRAPHIC SOCIETY” Além das cores da plumagem é importante também anotar a existência e a coloração de todos os detalhes verificados, tais como: faixa na asa ou na cauda máscaras pintas, manchas, estrias cor do bico, dos pés, do olho forma de bico Outras informações secundárias importantes a serem coletadas dizem respeito ao comportamento da ave no momento da observação e ambiente em que ela encontrava-se, bem como a altura na mata. Ex: pulando de galho em galho e balançando a cauda; pousada comendo frutos no topo das árvores; pulando entre raízes e galhos junto ao solo em mata secundária. As aves são animais bastante ágeIs e ativos, o que na maioria dos casos pode dificultar a observação de todos os detalhes da ave. Por isso é importante lembrar que a observação deve ser rápida e precisa. Durante a fração de segundos em que a ave permanece à frente do observador, o mesmo deve memonzar o máximo de características a respeito da coloração da plumagem, forma do bico e tamanho da ave e, só depois abandone a observação para passar as características memorizadas para caderneta de campo, preenchendo o desenho com as informações. Feito isso, caso a ave ainda esteja no local, proceda a uma nova observação e continue coletando outras informações. Vale ressaltar que a gravação da vocalização da ave observada também será de suma importância para a Identificação da espécie. 23 Identificação, Livros texto e Guias de campo Após a coleta dos dados e o preenchimento do desenho, o observador está pronto para efetuar a identificação da espécie. No caso das aves, a identificação é feita através da comparação dos desenhos da caderneta de campo com livros especializados que podem ser divididos em dois tipos: L iv ros tex tos=> l i v ros espec ia l i zados que contém informações mais completas e detalhadas sobre aves de determinados grupos ou reg iões , maior ên fase às características, de forma descritiva. Guias de Campo=> livros especializados que contém informações básicas sobre aves de uma determinada região ou país, dando maior ênfase à apresentação de desenhos ou fotos das espécies. Abaixo segue uma listagem de alguns livros importantes para observadores que pretendem atuar no Brasil. Livros textos Título Ornitologia Brasileira Autor Helmut Sick Ed: Nova Fronteira Título: As aves em Santa Catarina Autor:Lenir Alda do Rosário Ed: FATMA Guias de campo - geral Título: A guide to the birds of Venezuela Autor RMde Schauensee and W P Phelps Ed: Princeton DP Título South American Birds: a photographic aid to Identification Autor: J.S. Dunning and RSRidgley Ed: Harrowood 24 Título A guide to the birds of Colombia Autor S. Hilty and W Brown Ed Princeton DP Título: Guia para la identificacion de las aves de Argentina y Uruguay Autor: T Narosky and D. Yzurieta Título Aves Silvestres do Rio Grande do Sul Autor: William Belton Ed: FZB-RS Guias de campo-Aves de rapina Título A photographic guide to the birds of prey of southern, central and east Africa Autor D.Allan Ed NewHolland Guias de campo - Aves limícolas Título The hamlyn photographic guide to the waders of the world Autor D.Rosair and D.Cottridge Ed Hamlyn Título: Shorebirds: an identification guide Autor PHayman, J. Marchant and T Prater Ed: Cristopher Helm Guias de campo - Aves marinhas Título: Seabirds an identificatlon guide Autor P Harrison Ed: Cristopher Helm Título: Seabirds of the world a photographic guide Autor: P Harrison Ed: Cristopher Helm Título: Photographic handbook of the seabirds of the world Autor J. Enticott and D. Tipling Ed Newholland .Guias de campo-Aves aquáticas Título Wildfowl an identification guide Autor S. Madge and H Burn Ed Cristopher Helm 25 Portanto para a identificação da espécie, o observador deverá buscar nos livros, a foto, o desenho ou o texto que representa a ave observada. Deve-se levar em conta porém, que no caso de livros que apresentam as aves em forma de desenhos, estesmuitas vezes não representam fielmente as cores vistas na natureza, mas a maioria preocupa-se em manter a fidelidade na distribuição das cores e detalhes de cada espécie. A identificação das aves através do canto gravado pelos observadores pode ser realizada através comparação com discos e fitas com vozes de aves Abaixo segue uma listagem com os discos mais conhecidos: Aves brasi leiras I , I I , I I I , IV,V de Johan Dalgas Fr ish Guia Sonoro das Aves do Brasil do Professor Jacques Vielliard UNICAMP Sons da Mata Atlântica da Fundação O BOTICÁRIO A identificação se completa quando o observador consegue descobrir o nome vulgar e/ou o nome científico da ave observada. 26 27 28 III - Avifauna existente na região da Serra do Tabuleiro Segundo o trabalho "A avifauna do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, Santa Catarina, Brasil e as implicações para sua conservação", realizado nas dependências do Hotel Plaza Caldas de Imperatriz e regiões adjacentes por Jorge L. B. Albuquerque e Fernando M Brüggemann e publicado em 1996, nas páginas 47 a 68 do volume 18 nº1 da Acta Biologica Leopoldensia, foram registrados para a área um total de 270 espécies de aves, o que representa 45% das aves existentes em Santa Catarina. A seguir é apresentada a lista das aves registradas pelos autores nas regiões de Caldas de Imperatriz e Serra do Tabuleiro. 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 IV - Sobre a PROAVES Desde os primórdios as aves vêm atraindo a atenção dos homens, seja pela beleza de suas cores ou pelos seus melodiosos cantos. O Brasil é o segundo país do mundo em diversidade de aves (1679 espécies descritas até o momento), suas dimensões continentais, diferenças regionais e uma variedade de ecossistemas refletem uma grande riqueza de fauna e flora Existem no mundo cerca de 10.000 espécies de aves, distribuídas nos mais variados ambiente. São inúmeros os motivos que geram o interesse na conservação das aves, como a capacidade das aves em responder às modificações ambientais que as classifica como excelentes indicadores da qualidade de um ambiente. Dentro deste contexto, foi fundada em 1991, a PROAVES, sociedade civil de direito privado, sem fins lucrativos, com sede e foro na cidade de Brasília, Distrito Federal Tem como símbolo o Guará, Eudocimus ruber, e foi criada com o objetivo de promover esforços para a conservação das aves no Brasil. Vem viabillzando suas ações através de parcerias com instituições privadas e governamentais, tais como: CEMAVE- Centro de Pesquisas para Conservação das Aves Silestres, órgão vinculado ao IBAMA - desde 1992 trabalha em conjunto no desenvolvimento do Projeto "Conservação das Aves silvestres no Brasil", direcionando suas ações à grupos de interesses prioritários para conservação da avifauna. Grupo Monsanto e Dextron Consultoria Empresarial no Projeto Tuiuiú no Pantanal Matogrossense, quando o Brasil foi o primeiro país da América do Sul a utillzar emissores de sinais de satélite, o que conferiu à PROAVES o I Prêmio Monsanto Pledge 94. IWRB - International Waterfowl and Wetlands Research Bureau, na viabilização do Censo Neotropical de Aves Aquáticas, coordenado pelo Escritório Neotropical da WA - Wetlands for the Americas e na confecção do Boletim do Grupo de Estudos de Aves Limícolas, da Sociedade Brasileira de Ornitologia. COPESUL - Companhia Petroquímica do Sul e SMAM - Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Porto Alegre no Projeto de Estudos da Avifauna nos Parques Urbanos do Município de Porto Alegre -RS. Fundação O BOTICÁRIO de Proteção à Natureza no projeto "Monitoramento do cisne-de-pescoço-preto e do capororoca no Rio Grande do Sul", espécies consideradas em risco. Fundação LORO Parque e IBAMA na "Recuperação da Ariranha-azul, Cianopsitta spixii" em Curaçá na Bahia, a espécie mais ameaçada de extinção do mundo. IBAMA, FURNAS E ELETRONORTE na área de planejamento de Unidades de Conservação elaborando os Planos de Manejo do parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, da Reserva Biológica do Gurupi no Maranhão e do Parque Nacional do Araguaia em Tocantins FUNBIO- Fundo Braslleiro para a Biodiversidade e IBAMA no projeto de proteção e conservação de ecossistemas; Reservas Particulares de Patrimônio Natural- RPPN. 39 V - Sobre o autor Márcio Amorim Efe é natural da cidade do Rio de Janeiro formou-se em Bacharel em Biologia Marinha em 1993 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Iniciou seu aperfeiçoamento profissional como estagiário do Laboratório de Ornitologia do Departamento de Zoologia da UFRJ, onde desenvolveu pesquisas em Ilhas do Rio de Janeiro e Sul da Bahla (Parque Nacional Marinho dos Abrolhos), orientado pelos professores Elias Pacheco Coelho, Luiz Antônio Pedreira Gonzaga e pela Bióloga Vânia Soares Alves Além das atividades e projetos do Laboratório de Ornitologia, participou como colaborador eventual de inúmeras expedições promovidas pelo CEMAVE/IBAMA Culminou sua participação na UFRJ com a apresentação de sua monografia intitulada "Dinâmica alimentar do Atobá- Marrom nas regiões de Cabo Frio e Abrolhos" Mesmo antes disso, em março de 1993,foi convidado pelo Centro de Pesquisas para Conservação das Aves - CEMAVE/IBAMA, a coordenar as pesquisas do Projeto Andorinhas do Mar, desenvolvido em conjunto com a AVIDEPA Trabalhou no Projeto entre 1993 e 1996, desenvolvendo atividades nas ilhas do Espírito Santo, sul da Bahia, São Paulo, Santa Catarina e no Parque Nacional da Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul. A partir de setembro de 1996 mudou-se para Florianópolis onde colaborou com a equipe da SPEA, responsável pelo monitoramento e gerenciamento da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo Em 1998 foi convidado a ir para Porto Alegre e atuar como executor dos projetos do CEMAVE nas regiões sul e sudeste do Brasil, à frente da Coordenadoria Regional Sul/Sudeste como parte de um convênio com a PROAVES. Em 1999,reiniciou suas atividades acadêmicas no curso de Pós-graduação, nível de Mestrado, no Departamento de Biociências da PUC RS. 40 A OBSERVAÇÃO DE AVES, atividade muito difundi- da nos países da América do Norte e Europa, é uma forma alternativa de lazer ainda não muito difundida no Brasil. A Associação Brasileira para Conservação das Aves - PROAVES aceitou o desafio de ser parceira da REDE PLAZA DE HOTÉIS no desenvo lv imento do "Projeto de Implantação do Turismo de Observação de Aves no Sul do Brasil", iniciativa inédita no Brasil que tem também o apoio do Centro de Pesquisas para Conservação das Aves Silvestres - CEMAVE / IBAMA. Por ser uma atividade que traz estímulo intelectual, a Observação de aves é muito gratif icante para seus aficcionados, principalmente por envolver caminhadas ao a r l i v re e con ta to com a na tu reza , r eun indo ingredientes que reconhecidamente são fundamentais para a melhoria da qualidade de vida. Neste Guia, foram reunidas informações sobre as principais características das aves e seus ambientes, ut i l izando uma l inguagem de fác i l entendimento e demonstrando de forma prática as técnicas e equipa. mentos necessários para que o Observador de Aves possa atingir seu objetivo final, a identif icação das Espécies.
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