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aula 02, 03, 04 e 05

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AULA 02 – EUA, PRIMEIRA GUERRA, CRISE DE 1929 E A AMÉRICA LATINA NAS DÉCADAS DE 1930 3 1940.
O continente americano e o período pós-Primeira Guerra 
Nas primeiras décadas do século XX, todo o continente americano passou por transformações muito significativas para a condução da política e da sociedade na região. Os Estados Unidos se consolidaram como forte potência regional e, posteriormente, mundial. 
Os países latino-americanos iniciaram o processo de mudança em sua ordenação política sobretudo em virtude do desencantamento com uma Europa arrasada pela Primeira Guerra Mundial.
Ao mesmo tempo, houve intensas transformações modernizadoras nas sociedades latino-americanas, o que favoreceu a tomada de posição de cunho nacionalista nos âmbitos culturais e políticos de formas variadas, até mesmo conduzindo alguns países da região a ditaduras.
Em nossa aula anterior, vimos que, logo no início do século, a região viveu sua primeira revolução no México, um fator muito importante quando analisamos a trajetória do continente. Foi a luta pela terra e por interesses políticos que inseriu o México no século XX.
Os EUA e o período pós-Primeira Guerra 
Os Estados Unidos consolidaram sua prosperidade sobretudo após a Primeira Guerra Mundial, conflito que adquiriu proporções mundiais e marcou a história contemporânea, inserindo todas as regiões do planeta na lógica da guerra. 
Segundo Eric Hobsbawm: (…) as guerras foram visivelmente boas para a economia dos EUA. Sua taxa de crescimento nas duas guerras foi bastante extraordinária, sobretudo na Segunda Guerra Mundial, quando aumentou mais ou menos 10% ao ano, mais rápido que nunca antes ou depois. Em ambas, os EUA se beneficiaram do fato de estarem distantes da luta e serem o principal arsenal de seus aliados, e da capacidade de sua economia de organizar a expansão da produção de modo mais eficiente que qualquer outro. (…) Em 1914, já era a maior economia industrial, mas ainda não a dominante. As guerras, que os fortaleceram enquanto enfraqueciam, relativa ou absolutamente, suas concorrentes, transformaram sua situação (1995, p. 55).
O crescimento estadunidense se consolidou cada vez mais após a Primeira Guerra e o país viveu o “American Way of Life”, o estilo de vida americano que tornou os Estados Unidos um modelo de consumo. 
De acordo com José Jobson Arruda: Após o término da Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos assumiram a hegemonia econômica em escala planetária, passando de país devedor a potência credora no mercado internacional, pois fizeram vultosos empréstimos aos países envolvidos no conflito, tanto a vencedores quanto a vencidos (2001, p. 13).
A crise de 1929
Os Estados Unidos adotaram uma postura isolacionista em relação à Europa, e seu crescimento econômico propiciou intensa euforia e a certeza, ainda que falsa, de uma prosperidade sem limites, marcada pelo alto grau de consumo de produtos, que rapidamente se tornaram bens de consumo. Os salários cresciam, e o desemprego era relativamente baixo, com crédito fácil alimentando a produção. 
Uma forte busca por enriquecimento rápido supervalorizou ações de empresas e, em dado momento, em 1929, tudo veio abaixo, pois a bolsa de valores de Nova York quebrou e fomentou uma crise generalizada e sem precedentes em todo o mundo capitalista, encerrando a era do capitalismo liberal e dando início a  uma reorientação na economia estadunidense. Depois desse acontecimento, o mundo jamais seria o mesmo.
O período que antecedeu a crise foi de intensa efervescência cultural nos Estados Unidos. Era a época do jazz, embalado pelo foxtrote e pelo blues, pelas melindrosas e seu estilo solto, cabelos curtos, o boxe se desenvolvia, eram os famosos anos 1920. 
A intolerância racial também se tornou um pouco mais acirrada, assim como a corrupção, o comércio ilegal de bebidas, o período dos gângsteres. O cinema também se revolucionou, transformando a vida em imagens captadas pelas câmeras. 
E por que os Estados Unidos viveram essa crise em um momento de grande prosperidade?  Que razões levaram essa potência a passar por um período turbulento em sua vida financeira?
A crise de 1929 foi causada, sobretudo, pela insistência americana em manter depois da guerra o mesmo ritmo de produção alcançado durante o conflito, quando abastecia os países envolvidos nos combates, fornecendo desde gêneros alimentícios até produtos industrializados e combustível.
Com a paz, os países europeus recomeçaram a produção de bens que importavam dos Estados Unidos durante o conflito. Com isso caíram as exportações do país e o mercado interno americano viu-se abarrotado de produtos que não conseguia absorver. E qual seria a solução?
A solução seria reduzir a produção em determinados setores, o que provocaria séria crise econômica e social. A curto prazo, a indústria, a agricultura e a mineração teriam que diminuir o movimento de seus negócios, o que representaria baixa nos seus lucros e maior número de desempregados.
A política do governo, essencialmente liberal, não poderia cogitar em intervir na produção; os empresários, por sua vez, só viam seus interesses imediatos, logo, não concordavam com essa solução. Ninguém pressentia o real perigo da situação. 
Imaginava-se que o progresso e a estabilidade do país fossem suficientemente fortes para absorver qualquer excedente de produção (2001, p. 23).
A crise se acirrou ainda mais, pois apenas 5% da população estadunidense detinha 35% da riqueza do país, o que demonstra a intensa disparidade que marcava os Estados Unidos.
A crise foi construída aos poucos. A bolsa de valores refletia esse momento sobretudo pelo fato de muitas empresas serem de capital aberto, ou seja, as ações estavam nas mãos de muitas pessoas que, alarmadas com os acontecimentos, começaram a querer vender suas ações até o momento em que começou a haver mais vendedores que compradores, o que fez com que as ações passassem a ser vendidas a preços irrisórios, culminando em sua desvalorização praticamente total.
A quinta-feira negra
No dia 29 de outubro de 1929, a famosa quinta-feira negra, a crise chegou ao seu ápice. As ações despencaram e foi registrada uma queda histórica. O caos parecia instalado e não havia, naquele momento, perspectiva alguma de melhora.
E a América Latina nesse contexto, como viveu essa crise? Vamos investigar um pouco mais...
Os efeitos e solução da crise de 1929 As repercussões dessa crise perduraram até 1933 e atingiram praticamente todo o planeta. Muitos países europeus passaram a não poder vender mais seus produtos aos estadunidenses, que buscaram proteger seu mercado interno. Além disso, houve o repatriamento dos recursos estadunidenses que estavam investidos na Europa, o que provocou forte crise nesse continente. França e Inglaterra, entre outros países, tiveram suas economias arrasadas. Para sair da crise, foi criado um plano de recuperação econômica denominado New Deal (Novo Acordo), marcado por intervenção econômica, o que representou uma intensa mudança no próprio modelo econômico praticado pelos estadunidenses. O estabelecimento desse plano e as medidas para tirar os Estados Unidos da crise foram a plataforma política de Franklin Delano Roosevelt, candidato democrata à sucessão presidencial em substituição ao republicano Herbert Hoover. Entre algumas medidas do New Deal, podemos citar: Concessão de créditos ilimitados aos bancos para descontos dos títulos depositados. Abandono temporário do lastro-ouro. Concessão de linhas de crédito especiais aos fazendeiros. Combate ao desemprego. Investimentos na agricultura, na indústria e no comércio.
Muitos investidores que haviam perdido tudo se suicidaram pulando das janelas dos edifícios, ao passo que muitos pobres passaram a contar com a caridade alheia, aumentando a fila da sopa gratuita para os desempregados. No entanto, não foi o que ocorreu.
A repercussão da crise de 1929 na América Latina  
A América Latina sempre esteve na esfera de influência estadunidense, sobretudo com a afirmação da Doutrina Monroe: “A América
para os americanos.” 
Os Estados Unidos procuraram afirmar sua soberania sobre seus vizinhos de todas as formas possíveis, em especial tentando afastar a influência europeia que ainda era significativa na região.
Como exemplo podemos citar a influência inglesa, notadamente no comércio, que sempre foi muito forte junto aos latino-americanos ― no Brasil e na Argentina, por exemplo. Assim, estabeleceram-se variadas formas para a consolidação da hegemonia estadunidense.
Uma grande parte do comércio empreendido pelos países latino-americanos era realizada com a Europa e outra parte com os Estados Unidos, tanto no âmbito das importações quanto no das exportações.
Com a crise, todos começaram a estabelecer certo protecionismo, o que complicou bastante a vida financeira de algumas nações da América, sobretudo pelo fato de que várias delas tinham economias agroexportadoras e que foram afetadas pela retração de investimentos estrangeiros e pela redução nas exportações de suas matérias-primas.
O Brasil, por exemplo, teve a economia afetada intensamente, pois sua balança comercial dependia das exportações do café, e os Estados Unidos eram os principais compradores e consumidores de café do mundo. Houve um forte desequilíbrio na balança de comércio brasileira; além do café, diversos produtos agrários sofreram os efeitos da crise. Ainda assim, essa crise contribuiu para o processo de industrialização não somente do Brasil mas também de outros países latino-americanos, pois os recursos investidos no café passaram a ser destinados a outros empreendimentos industriais. 
A diminuição do poder de compra tornou os produtos importados mais caros, o que acabou por estimular a produção de similares no Brasil. Argentina e México também passaram pelo processo de substituição de importações e estimularam sua produção interna.
A crise de 1929 gerou diferentes efeitos sobre a política de toda a região do continente americano, fomentando a formação de governos de cunho nacionalista e de ditaduras que buscaram transformar a condução dos países da região. Tivemos o advento da Era Vargas no Brasil, em que o presidente Getúlio Dorneles Vargas chegou ao poder por meio de um golpe em 1930. Tivemos ainda a ascensão de Juan Domingo Perón na Argentina e o governo de Lázaro Cárdenas no México. 
Ainda sobre os efeitos da crise de 1929 na América, vamos analisar a situação de Cuba. A ilha viveu uma das piores crises econômicas e sociais de sua história em virtude da política implementada por seu presidente, Ramón Grau San Martín, que acabou renunciando em decorrência das intensas manifestações que ocorreram no país.
A crise de 1929 também contribuiu para piorar a situação econômica da ilha. Ocorreu então a Revolta dos Sargentos, liderada por Fulgêncio Batista, que assumiu o poder na ilha e se tornou presidente, consolidando seu poder e tornando-se o homem mais poderoso de Cuba. Afastou-se do poder em Cuba por oito anos e depois retornou, governando como ditador e contando com o apoio dos Estados Unidos. Foi derrubado pela Revolução Cubana em 1959.             
As décadas de 1930 e 1940 no continente americano 
Os anos 1930 e 1940 foram de especial atenção para a condução da política de todo o continente americano. Alguns acontecimentos marcaram toda a região, até mesmo pautando as relações de alguns países com os Estados Unidos e com alguns países da Europa.
Nesse período, a própria condução da política estadunidense para a América se modificou. A política do Big Stick foi substituída por uma política mais amena, a de boa vizinhança, que consistia basicamente em estabelecer laços de amizade com os países da América Latina a fim de expandir cada vez mais o modelo de vida e de consumo americanos. Significa Grande Porrete. Foi o slogan usado pelo presidente estadunidense Theodore Roosevelt para descrever o estilo de diplomacia empregada como corolário da Doutrina Monroe, a qual especificava que os Estados Unidos da América deveriam assumir o papel de polícia internacional no Ocidente.
Foi como uma "injeção de economia" nos países da America do Sul. Roosevelt tomou o termo emprestado de um provérbio africano, "fale com suavidade e tenha à mão um grande porrete", implicando que o poder para retaliar estava disponível, caso fosse necessário. Roosevelt utilizou pela primeira vez esse slogan na Feira Estadual de Minnesota, em 2 de Setembro de 1901, doze dias antes que o assassinato do presidente William McKinley o arremessasse subitamente na presidência.
As intenções desta diplomacia eram proteger os interesses econômicos dos Estados Unidos na América Latina.
Foram criados mecanismos para garantir essa expansão, que ocorreu em diferentes campos, mas, sobretudo, no cultural. O objetivo dos Estados Unidos era ampliar sua esfera da atuação na América Latina e, para isso, utilizou-se de todas as formas possíveis para fortalecer essa política. No Brasil, estreitou laços com Getúlio Vargas e até visitou nosso país.
Esse estreitamento de laços se consolidou fortemente no âmbito cultural. Artistas do cinema dos Estados Unidos vinham frequentemente ao Brasil divulgar seus filmes e produtos estadunidenses eram divulgados nos meios de comunicação. A revista Seleções (Reader's Digest) chegou ao Brasil em 1938.
A América Latina se viu cada vez mais influenciada pelos estadunidenses e por sua busca de atuação internacional, o que fortaleceu a presença dos Estados Unidos em todo o continente e consolidou a política de alianças estabelecida entre os países da região, fator que veremos melhor mais adiante. Até lá!
Penetração cultural americana - O poder cultural era muito forte. Foi criada uma agência específica para cuidar da política de boa vizinhança na América Latina, o Office of the Coordinator of Inter-American Affairs (OCIAA) ou simplesmente Birô, como o chama Gerson Moura em seu clássico livro Tio Sam chega ao Brasil: a penetração cultural americana. O objetivo estadunidense ― muito bem-apontado nessa obra ― era promover a penetração cultural americana e consolidar a solidariedade hemisférica. Promover essa cooperação interamericana era fundamental. Para alcançar seus objetivos, o OCIAA contava com as divisões de comunicações, relações culturais, saúde e comercial/financeira. Cada uma dessas divisões subdividia-se em seções: rádio, cinema, imprensa; arte, música, literatura; problemas sanitários; exportação, transportes e finanças (CPDOC. “Tio Sam chega ao Brasil”). O rádio foi um excelente instrumento para a divulgação da cultura estadunidense. Apresentavam-se programas transmitidos diretamente dos Estados Unidos por estações locais. Sobre a área cinematográfica, vejamos mais um trecho coligido do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC): Já na área cinematográfica, tanto os filmes de ficção quanto os documentos desempenhavam o papel de difusores culturais e ideológicos. Na produção dos primeiros, o OCIAA contou com a colaboração das indústrias cinematográficas de Hollywood. Procurava-se evitar a distribuição na América Latina de filmes que expusessem instituições e costumes norte-americanos malvistos, como a discriminação racial, ou que pudessem ofender os brios dos latino-americanos. Os bandidos mexicanos, por exemplo, foram banidos das produções de Hollywood. Outra 2 importante iniciativa foi a criação de personagens que ajudassem a fomentar a solidariedade continental. Data dessa época o nascimento do conhecido personagem dos Estúdios Disney, o papagaio Zé Carioca. O filme Alô Amigos, que apresentou esse personagem ao mundo como amigo do Pato Donald, enfatizava a política de boa vizinhança. Vejamos o que diz Gerson Moura: “Zé Carioca é falador, esperto e fã de Donald; sente um imenso prazer em conhecer o representante de Tio Sam e logo o convida para conhecer as belezas e os encantos do Brasil. Brasileiramente, faz-se íntimo de Donald ― quando este lhe estende a mão, Zé Carioca lhe dá um grande abraço ―, que aceita o oferecimento e sai para conhecer o Brasil” (CPDOC. “Tio Sam Chega ao
Brasil”).
AULA 03 O populismo na América Latina
Você sabe o que significa Populismo?
Quando pensamos no termo populismo, imediatamente nos vem à mente a existência de governos de cunho popular e que buscam suas bases de assentamento nas massas, sobretudo nos trabalhadores.  
Esse é um tema muito interessante e rico, pois, apesar de o situarmos no recorte das décadas de 1930 e 1940, permanece como uma característica de alguns governos contemporâneos que, cientes do papel de mobilização das massas, buscam nelas suas bases de apoio.
A seguir veremos como Angela de Castro Gomes (2001) e o “Grupo de Itatiaia” define o populismo.
Segundo Angela de Castro Gomes (2001), para um grupo de intelectuais conhecido como “Grupo de Itatiaia”, o populismo se define da seguinte forma:
Em primeiro lugar, o populismo é uma política de massas, vale dizer, é um fenômeno vinculado à proletarização dos trabalhadores na sociedade complexa moderna, sendo indicativo de que tais trabalhadores não adquiriram consciência e sentimento de classe: não estão organizados e participando da política como classe. As massas, interpeladas pelo populismo, são originárias do proletariado, mas dele se distinguem por sua inconsciência das relações de espoliação sob as quais vivem. Só a superação dessa condição de massificação permitiria a libertação do populismo ou, o que seria quase o mesmo, a aquisição da verdadeira consciência de classe (...).
Em segundo lugar, o populismo está igualmente associado a uma certa conformação da classe dirigente, que perdeu sua representatividade e poder de exemplaridade, deixando de criar os valores e os estilos de vida orientadores de toda a sociedade. Em crise e sem condições de dirigir com segurança o Estado, a classe dominante precisa conquistar o apoio político das massas emergentes. 
Finalmente satisfeitas estas duas condições mais amplas, é preciso um terceiro elemento para completar o ciclo: o surgimento do líder populista, do homem carregado de carisma, capaz de mobilizar as massas e empolgar o poder (Gomes, 2001, p. 24-25).
Construção do modelo populista
Para a construção do modelo populista, alguns elementos se fazem necessários, como um proletariado sem consciência de classe, uma classe dirigente em crise e um líder que possa arregimentar essas massas, transcendendo todas as fronteiras possíveis.
No caso da América Latina, tudo isso pode ser pensado como uma fase de transição de uma economia baseada em modelo agrário-exportador para uma fase mais moderna, de expansão urbana e industrial, em que a existência de massas se torna uma característica importante.
Quando pensamos a relação do populismo como política de manipulação de massas, temos a interação entre Estado e classes populares no centro das discussões. As massas são o objeto das políticas populistas, que visam manter aquelas sob controle e utilizá-las dentro do jogo político da contemporaneidade.
Movimentos populares
Temos de refletir acerca do contexto do século XX e a ascensão de movimentos populares.
A Revolução Russa produziu o fantasma do comunismo, e a crise do liberalismo e da democracia após a Primeira Guerra Mundial abriu caminho para correntes de pensamento de cunho antiliberal e antidemocrático, pregando a necessidade de um Estado forte, intervencionista e capaz de promover a ordem. O fascismo na Itália e o nazismo na Alemanha foram exemplos claros desse tipo de pensamento.
O líder carismático
Cabe ressaltar que, na América Latina, sempre houve uma preocupação com possíveis sublevações das classes populares, o que acabou por fortalecer a ideia de construção de um Estado autoritário e centrado na figura de um líder carismático, capaz de influir nos conflitos sociais e políticos, estabelecendo um contato direto com as massas, aprofundando uma política de controle das classes trabalhadoras.
A figura do líder carismático em defesa do povo: uma das mais claras manifestações do populismo latino-americano. O movimento populista também é tido como de manipulação de massas, com políticos estigmatizados como enganadores e manipuladores por promessas não cumpridas. 
Surge no contexto de crise das classes dominantes comprometidas com o capital estrangeiro e, em um momento de transição da própria estrutura econômica da região, uma mudança de política agrária para relações modernas de produção, amparadas em um processo de industrialização em desenvolvimento.
Populismo latino-americano
Sobre o assunto, Octavio Ianni (1989) destaca: Sob vários aspectos, o populismo latino-americano parece corresponder a uma etapa específica na evolução das contradições entre a sociedade nacional e a economia dependente.   A natureza do governo populista está na busca de uma nova combinação entre as tendências do sistema social e as determinações da dependência econômica. Nesse contexto, as massas assalariadas aparecem como um elemento político dinâmico e criador. As massas populistas possibilitam a reelaboração da estrutura e atribuições do Estado. Segundo as determinações das próprias relações sociais e econômicas, na época do populismo, o Estado revela uma nova combinação dos grupos e classes sociais, em âmbito nacional e nas relações externas. O colapso das oligarquias liberais ou autoritárias constituídas no século XIX, juntamente com as crises do imperialismo europeu e norte-americano, abre novas possibilidades à reorganização do aparelho estatal. Aí as massas aparecem como um elemento político importante e às vezes decisivo (Ianni, 1989, p. 9).
No Dicionário de política, o populismo é visto como fator que: (...) tende a permear ideologicamente os períodos de transição, particularmente na fase aguda dos processos de industrialização. É ponto de coesão e de sutura e, ao mesmo tempo, de referência e solidificação, apresentando grande capacidade de mobilização e oferecendo-se como fórmula homogênea a cada uma das realidades nacionais em face das ideologias “importadas”, como uma fórmula autárquica (Bobbio, Mateucci e Pasquino, p. 985).
Líderes populistas
A ideia de demagogia, as promessas e o personalismo fazem parte dos líderes populistas. Tanto na América Latina quanto no mundo contemporâneo, esses elementos continuam presentes. Em alguns casos, muda-se o nome, mas as características permanecem, em um processo que alguns denominam neopopulismo, uma versão atualizada do populismo praticado entre as décadas de 1930 e 1960.
vamos analisar três casos específicos acerca do populismo na América Latina:
Brasil, com Getúlio Vargas. Argentina, com Juan Domingo Perón. México, com Lázaro Cárdenas.
Vale ressaltar que esses não foram os únicos; houve outros e com características idênticas.
O populismo no México, na Argentina e no Brasil
Não há como agrupar e definir o populismo nos três países de forma idêntica, pois cada um tem suas especificidades. Cárdenas e Perón foram eleitos democraticamente para a presidência de seus respectivos países, enquanto Vargas assumiu o poder por meio do que denominou revolução. Todos se ampararam nas classes trabalhadoras e buscaram nelas seus elementos de fortalecimento.
O principal objetivo desses líderes era fazer frente ao domínio oligárquico que havia se estabelecido em seus países. Contavam fortemente com o apoio das massas, e seus discursos eram sempre direcionados a essa classe.
A seguir conheceremos mais profundamente cada um desses líderes.
Cabe destacar ainda que a crise de 1929 e a Segunda Guerra Mundial aumentaram as tensões na região e a necessidade de manter o controle sobre o meio operário. Assim, para consolidarem seu poder, os políticos denominados populistas concederam alguns direitos que fortaleceriam sua imagem perante as massas, sobretudo no campo trabalhista.
Lázaro Cárdenas foi presidente do México entre 1934 e 1940. Algumas de suas ações o caracterizam como populista. Seu principal objetivo era modernizar a economia e a sociedade mexicana. Foi um forte conciliador e, durante seu governo, realizou a reforma agrária, uma demanda do México que vinha desde a época da Revolução
Mexicana. Apesar de a divisão de terras no México já estar em andamento antes do governo de Cárdenas, a atuação dele não tinha precedentes na história do México até então. 
Cárdenas também nacionalizou a exploração do petróleo mexicano, acabando com o privilégio das companhias petrolíferas estrangeiras que dominavam esse comércio no país, em sua maioria inglesas e estadunidenses. Incentivou ainda a criação de sindicatos e, em seu mandato, formou-se a Confederação dos Trabalhadores Mexicanos, que incorporou outras centrais sindicais. Também incentivou a educação dos trabalhadores mexicanos e dos camponeses, dando-lhe um caráter mais laico. 
Alguns historiadores não classificam o governo de Cárdenas como populista, mas sim como um governo nacionalista e corporativista. Em seus discursos, Cárdenas buscava mostrar as massas como portadoras de direitos e as convidava a legitimar sua gestão e sua plataforma de governo. Para obter apoio popular, ele se remetia aos signos da Revolução Mexicana, que tinham um forte apelo no imaginário social das massas, uma vez que canalizavam as expectativas de diferentes grupos.
Juan Domingo Perón governou a Argentina entre 1946 e 1955, e depois foi eleito para um novo mandato em 1973, falecendo um ano depois. Assumiu a Secretaria de Trabalho e ali iniciou sua consolidação na política argentina, baseando-se na inserção popular, um modo inovador de fazer política, com a participação de trabalhadores e dos sindicatos. As massas passaram a ter um espaço mais consolidado na vida política argentina.
Getúlio Vargas não foi diferente. Assumiu o poder por meio de um golpe militar em 1930 e governou até 1945, sendo destituído e retornando, alguns anos depois, como presidente eleito democraticamente.
Vargas buscou consolidar-se junto aos trabalhadores e também buscou o apoio dos sindicatos, inserindo as massas na vida política brasileira. 
Os três presidentes analisados aqui caracterizaram a política na América Latina de forma diferente, marcada pela inserção das massas e dos trabalhadores, que passaram a ocupar um espaço importante na vida política dos países analisados nesta aula. Não podemos deixar de destacar que era necessário manter esses trabalhadores sob controle; a própria Revolução Russa e o advento do socialismo soviético haviam mostrado a necessidade desse controle.
AULA 04 – O CONTINENTE AMERICANO E A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Conforme estudamos em aulas anteriores, desde o início do século XX, o continente americano passou por muitas transformações, incluindo revoluções, participação em conflitos internacionais e advento de governos populistas. Houve ainda o advento de um novo conflito internacional, a Segunda Guerra Mundial. 
Nas palavras de Eric Hobsbawm, esse conflito foi global e praticamente todos os estados independentes do mundo se envolveram, forçadamente ou não, embora a América Latina participasse de forma mais nominal.
Os Estados Unidos e a América Latina antes da Segunda Guerra 
Os Estados Unidos adotaram uma postura de distanciamento em relação aos acontecimentos europeus, buscando se aproximar cada vez mais de seus parceiros latino-americanos. Com a ascensão de Franklin Delano Roosevelt à presidência da República em 1933, houve uma reorientação da política estadunidense.
O Big Stick, política estabelecida no final do século XIX, dá lugar à política de boa vizinhança. O objetivo era diminuir ainda mais a influência europeia, em especial a alemã e a italiana, na região.
As décadas de 1930 e 1940 marcaram essa política de aproximação dos Estados Unidos com a América Latina por meio de uma forte massificação cultural ― essencial para que os Estados Unidos se afirmassem ―, inserindo, em todos os países da região, sobretudo no Brasil, sua cultura, seus costumes... ..o “American Way of Life”. Para fortalecer essa política, foi criado um órgão específico pelo governo estadunidense, o OCIAA, sob a direção de Nelson Rockefeller.
OCIAA
O OCIAA permaneceu em atuação durante todo o período da guerra; no Brasil, assim que o conflito se encerrou, o escritório foi fechado.
Segundo Gerson Moura (1985), o OCIAA atuou em segmentos distintos, desde o combate à malária no Nordeste até a vinda de astros de filmes hollywoodianos para férias em nosso país e, consequentemente, para a divulgação de seus trabalhos. Era uma forma de fortalecer o mercado externo para os Estados Unidos, que buscavam se recuperar dos efeitos da crise de 1929, e expandir a indústria do cinema hollywoodiano.
Os Estados Unidos procuraram afirmar sua soberania
No campo político, os Estados Unidos procuraram afirmar sua soberania sobre a América formando alianças que visavam sobretudo impedir a penetração dos países fascistas e garantir a supremacia dos estadunidenses diante de seus irmãos latinos.
Assim, foram realizadas várias conferências, nas quais se procurava estabelecer qual seria a posição da região em relação aos acontecimentos europeus. Não podemos deixar de destacar que a iniciativa para a realização dessas conferências era sempre dos Estados Unidos.
Veremos a seguir as conferências interamericanas e a entrada do continente americano na Segunda Guerra . 
Conferência de Buenos Aires 
A Conferência de Buenos Aires, realizada em 1936, nessa cidade, tinha a preocupação de assegurar uma defesa continental comum para a região diante de um possível conflito internacional. Segundo Seintenfuss (1981, p. 281 ): “Nessa oportunidade, adota-se uma recomendação segundo a qual qualquer atentado à soberania de um Estado do continente por um Estado extracontinental é considerado atentado ao conjunto do Novo Mundo.”
Essa preocupação com a segurança continental foi reforçada nas conferências seguintes, que contaram com a participação de todos os países do continente americano.
Conferência de Lima
Em dezembro de 1938, tivemos a VIII Conferência Pan-Americana, conhecida como Conferência de Lima, ocorrida no Peru, e que também contou com a participação de vários países do continente. Vejamos o principal item da agenda dessa conferência.
A implementação da Declaração de Buenos Aires de 1936, que instituía que qualquer ato suscetível de perturbar a paz do hemisfério dizia respeito a todos os Estados e justificava uma consulta. A delegação dos EUA (...) esperava obter aprovação da declaração segundo a qual a tentativa de um Estado não americano de perturbar a paz de uma nação americana dizia respeito a todos e que tomariam iniciativa para uma resistência conjunta (Maccan, 1995 , p. 101-102). Ainda sobre a conferência, podemos destacar o seguinte: (...) defesa continental contra as ameaças externas; reunião não protocolar e urgente dos ministros das Relações Exteriores quando uma situação, continental ou extracontinental, o exigir; não reconhecimento das aquisições territoriais realizadas através da coerção ou força; rejeição do conceito de minoria étnica, linguística ou religiosa (Seintenfuss, 1981, p. 235).
Os países do Eixo( Alemanha, Italia e Japão) acompanhavam atentamente os acontecimentos da Conferência de Lima. A imprensa italiana destacava que esse era um sonho do presidente Roosevelt e que não se consolidaria. Já a imprensa alemã definia a conferência como uma manifestação do imperialismo político e econômico dos Estados Unidos.
O documento final dessa conferência, conhecido como Declaração de Lima, estabeleceu como princípios importantes a consagração da não intervenção estrangeira nas questões continentais e, quando houvesse necessidade, a convocação de reuniões extraordinárias por qualquer país signatário da Conferência de Lima.
Iº Reunião Extraordinária de Ministros de Relações Exteriores das Repúblicas Americanas
Após a eclosão da guerra na Europa, os países do continente americano decidiram convocar uma reunião extraordinária, item previsto na Conferência de Lima. Ocorreu a Iº Reunião Extraordinária de Ministros de Relações Exteriores das Repúblicas Americanas, em setembro de 1939, que apresentou alguns pontos principais.
1 - Neutralidade do Novo Mundo
2 - Proteção
da paz no hemisfério ocidental
3 - Cooperação econômica continental
Ao final da reunião foram geradas algumas declarações: Delcaração de Neutralidade, de Solidariedade Continental e do Panamá. A Declaração do Panamá tornou efetiva a neutralidade e a paz no continente americano e criou uma zona de segurança continental marítima no Atlântico.
Conferência de Havana
Buscando posicionar o continente americano acerca dos acontecimentos internacionais, foi realizada a Conferência de Havana, que objetivava fornecer uma visão comum acerca do contexto internacional e reforçar as decisões adotadas nas conferências e reuniões anteriores.
Conferência do Rio de Janeiro
Em dezembro de 1941, os Estados Unidos tiveram uma frota naval localizada em Pearl Harbor, no Pacífico, atacada pelos japoneses, o que gerou uma imediata declaração de guerra, mergulhando o Novo Mundo em um conflito de proporções internacionais. Foi então convocada uma nova conferência, reunida na cidade do Rio de Janeiro, em janeiro de 1942, a Conferência do Rio de Janeiro, que definiu os rumos adotados pela região no conflito.
Foi decidido o seguinte nessa Conferência: As nações americanas reafirmavam a Resolução XV, aprovada na II Reunião de Havana de 1940, referente à “Assistência Recíproca e Cooperação Definitiva das Nações Americanas”, que estabeleceu o princípio de que todo atentado de um Estado não americano contra a integridade ou inviolabilidade do território, contra a soberania ou independência política de um Estado Americano, será considerado como um ato de agressão contra os Estados que assinam esta Declaração (Seintenfuss, 1981).
A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial
O rompimento de relações diplomáticas e comerciais de diversos países do continente americano com os países do Eixo gerou retaliações, com o afundamento de vários navios comerciais que trafegavam no Atlântico, incluindo diversas embarcações brasileiras, tanto comerciais quanto de passageiros, o que levou à entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Dezenove embarcações brasileiras foram afundadas por submarinos alemães e italianos. 
Participação no conflito
Enquanto Brasil e México participaram do conflito de forma muito intensa, a Argentina manteve uma posição de neutralidade durante longo período. Em abril de 1943, o Chile rompeu com o Eixo, ao passo que a Argentina manteve a posição anterior. 
De acordo com Amado Luiz Cervo (2001), a mudança de governo ocorrida na Argentina em virtude de um golpe de Estado militar não se refletiu em mudança nas relações com o Eixo e na política de cooperação continental. Essa postura de neutralidade deixou o governo dos Estados Unidos bastante insatisfeito com o país. Amado Cervo fala sobre a participação de Brasil e México: As relações dos Estados Unidos com os países latinos dependeram, no contexto da Segunda Guerra, do grau de adesão desses à política de guerra e de envolvimento no conflito. Assim, foram muito densas com o Brasil, desde que Vargas lançou-se francamente à cooperação com os aliados, e com o México, um dos primeiros a declarar guerra ao Eixo, havendo os presidentes Roosevelt e Camacho se encontrado a 20 de abril de 1943 para discutir a cooperação conjunta, a exemplo do que sucedera, com Vargas, do Brasil.
A participação da América na Segunda Guerra foi forte elemento de integração da região com o restante do mundo e, ao mesmo tempo, posicionou os Estados Unidos como grande potência internacional, pois sua participação na vitória dos Aliados foi de grande importância para consolidar sua posição internacional no contexto contemporâneo.
Internamente, durante a guerra, o governo estadunidense tinha atitudes de cunho racial, como no caso de uma ordem executiva expedida por Roosevelt, em 1942, incumbindo o exército de prender os japoneses que se encontravam na Costa Oeste do país, que permaneceram em campos de prisioneiros no interior durante todo o período do conflito.
Ao término da Segunda Guerra Mundial, que acabou por contar com a adesão de todos os países da região, até da Argentina, que declarou guerra ao Eixo quase ao final do conflito, toda a América se reorganizou e várias mudanças ocorreram, com uma era de redemocratização que se consolidou e com novas orientações nas políticas econômica e externa do continente mericano.                                                                                                                                                                                          Muitos países, antes exportadores de produtos primários, iniciaram um processo de industrialização que se consolidou ao longo do tempo, refletindo-se em mudanças que veremos melhor em nossa próxima aula.
AULA 05 – A GUERRA FRIA E O CONTINENTE AMERICANO 
A inserção do continente americano na Guerra Fria 
Conforme estudamos em aula anterior, a Segunda Guerra Mundial constituiu um fenômeno global que envolveu direta ou indiretamente todos os países do mundo. 
O continente americano se viu envolvido diretamente no conflito após o ataque japonês à base naval de Pearl Harbor, no Pacífico, em 1941.
O envolvimento dos Estados Unidos na Segunda Guerra foi um fator de suma importância para a vitória dos Aliados e marcou a inserção do continente americano na política internacional que se organizou no pós-Segunda Guerra.
A expansão do comunismo pelo mundo
Ao fim da guerra, a participação dos Estados Unidos e da União Soviética na vitória dos Aliados consolidou uma rivalidade que se estendeu por toda a segunda metade do século XX.
Temos de considerar a posição da América Latina nesse contexto, sobretudo porque a participação da União Soviética nessa vitória fez com que o prestígio do comunismo aumentasse bastante e, com isso, houve também uma expansão dos partidos comunistas pelo mundo.
Mudanças políticas na América Latina
O historiador Leslie Bethell afirma que o período entre 1944-1945 e 1947-1948 não foi um divisor de águas na América Latina, apesar das mudanças políticas ocorridas, e isso se deveu especialmente ao fato de a região estar passando por certo isolacionismo internacional.
Temos de considerar, no entanto, que esse período foi marcado por questões internas muito fortes em vários de seus países, como a democratização que passou a existir na região, uma forte tendência à esquerda e à militância trabalhista. 
Houve a queda de ditadores e a mobilização das forças populares. Partidos progressistas e reformistas começavam a chegar ao poder.
Em alguns países, por causa do prestígio obtido pelos soviéticos ao término da Segunda Guerra Mundial, os partidos comunistas passaram a ganhar um pouco mais de espaço. 
Podemos citar aqui o Brasil, que teve seu Partido Comunista do Brasil legalizado ao término do conflito, podendo disputar cargos eleitorais.
Bethell afirma que: “O principal fator por trás das mudanças políticas na América Latina durante os anos de 1944, 1945 e 1946 foi a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial. 
A despeito do poderio do Eixo, especialmente da Alemanha, dos interesses na América Latina e, de fato, das amplas simpatias pró-Eixo e pró-fascismo verificadas em toda a região no final da década de 1930 e começo da década de 1940, logo depois de Pearl Harbor todos os estados latino-americanos, com exceção do Chile e da Argentina, alinharam-se com os Estados Unidos e romperam relações com as potências do Eixo; ao fim, muitos deles, embora não até 1945, declararam guerra” (Bethell e Roxborough, 1996).
O historiador continua: “Quando ficou óbvio que os Aliados venceriam a guerra ― a derrota alemã de Stalingrado, em fevereiro de 1943, assinalou a mudança da maré ―, evidenciando-se a natureza da ordem política e econômica internacional que iria imperar no pós-guerra e a posição hegemônica dos Estados Unidos no seio dela, os grupos dominantes da América Latina, inclusive os militares, reconheceram a necessidade de fazer alguns ajustes políticos e ideológicos, além de concessões” (Bethell e Roxborough, 1996).
A democracia – o novo caminho
Ao fim da Segunda
Guerra, a democracia passou a ser o caminho buscado pelos países em virtude de fortes pressões políticas internas e do novo rumo que estava sendo dado na região. A partir de 1947, a América Latina começou a passar por um processo de aprofundamento da Guerra Fria.
O mundo do trabalho começou a ser mais fortemente controlado, e o alinhamento internacional com os estadunidenses se consolidou efetivamente, passando a ocupar um espaço central na política latino-americana em toda a segunda metade do século XX.
Considerando aulas anteriores, vamos lembrar que, ao término da Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos haviam crescido muito economicamente, sendo um país em franco crescimento. Exportaram o American Way of Life a fim de consolidar seu modelo de consumo entre os vizinhos latino-americanos. Essa expansão do modelo estadunidense de consumo também foi acompanhada de uma expansão cultural muito forte, consolidada pela política de boa vizinhança empreendida pelo governo Roosevelt. 
Durante a guerra, essa aproximação com a América Latina se intensificou cada vez mais e, com seu fim, a América já era considerada uma região aliada. Assim, os estadunidenses procuraram direcionar sua atenção para a Europa destruída pela guerra, um possível espaço para o crescimento do comunismo.
A vitória dos Aliados na guerra – consequências
Com a vitória dos Aliados na guerra, houve uma expansão do comunismo em todo o mundo, com a ascensão dos partidos comunistas ao poder e sua inserção na vida política de alguns países. No entanto, após um curto período, esses partidos começaram a ser perseguidos, caíram no ostracismo, como o Partido Comunista da Argentina, ou foram postos na ilegalidade, como o Partido Comunista do Brasil.
Cada país buscou se inserir na lógica da Guerra Fria de acordo com seus interesses, mas é fator consolidado que a América se alinhou com os Estados Unidos, e isso fez com que o continente passasse a estar sob a ótica capitalista, buscando repelir qualquer influência soviética.
Segundo Luis Fernando Ayerbe: “A preocupação dos Estados Unidos em relação à América Latina no início da guerra fria se concentra especialmente nas posturas nacionalistas de alguns governos e movimentos que visualizam uma perspectiva equidistante da influência do país como base para qualquer política de afirmação nacional.
A maior preocupação é com a disponibilidade dos recursos naturais da região em caso de uma guerra com a União Soviética e a eventualidade de um boicote de governos, sindicatos e demais movimentos, em que a infiltração de ideias antiamericanas possa ser decisiva” (2002, p. 81).
O surgimento de um governo comunista no continente americano
Havia um forte temor do crescimento do comunismo, e era fundamental que os governos constituídos, utilizando todos os recursos necessários, conseguissem impedir esse crescimento.
É claro que o surgimento de um governo comunista no continente americano, com a Revolução Cubana, foi um fator de grande relevância para pensarmos no acirramento da Guerra Fria na América e para uma mudança na condução da política e no relacionamento dos países com o comunismo. Ocorreu na ilha de Cuba em 1959 e foi liderada por Fidel Castro e Ernesto Che Guevara. Veremos mais detalhadamente em aulas posteriores. A consolidação desse fantasma em solo americano foi extremamente importante para pensarmos a relação entre a Guerra Fria e o continente americano.
Os Estados Unidos no fim da Segunda Guerra 
Vamos agora considerar os Estados Unidos no contexto do fim da Segunda Guerra Mundial e avaliar como eles se tornaram uma grande potência no século XX.
De acordo com Sean Purdy:“Os Estados Unidos saíram da Segunda Guerra Mundial como a mais poderosa nação da terra. Suas forças armadas ocuparam o Japão e uma grande parte da Europa Ocidental. Além disso, muitas bases militares estabelecidas em países aliados durante a guerra ficaram intactas. Economicamente, os Estados Unidos detinham a maioria do capital de investimento, produção industrial e exportações no mundo, controlando até dois terços do comércio mundial, enquanto grandes partes da Europa e Ásia estavam devastadas” (Karnal et al., 2007, p. 226).
Ainda segundo Purdy: “A Guerra Fria na América Latina começou no fim dos anos 1940, quando movimentos favoráveis à mudança política e econômica surgiram em muitos países do continente e acabaram refreados ou esmagados pelas elites locais com a ajuda dos Estados Unidos. Manipulando a retórica do anticomunismo, os Estados Unidos mantiveram os países latino-americanos na esfera da influência ocidental por meio de invasão, orquestração de golpes, obstáculos à reforma social e apoio técnico e político a regimes militares repressivos. O Departamento de Estado e a CIA, por exemplo, promoveram, planejaram e executaram a derrubada do governo reformista de Jacobo Arbenz na Guatemala em 1954... ...preocupados com a ameaça que reforma agrária, redistribuição de renda e democracia política representavam para os latifundiários, os Estados Unidos, como aponta o historiador Greg Grandin, viram a Guatemala e outros casos semelhantes na América Latina em grande parte através das lentes ideológicas da Guerra Fria. Ações como essa se multiplicariam nas próximas décadas na América Central e Sul, especialmente depois da Revolução Cubana em 1959. Os Estados Unidos, nesse período, tornaram-se o “World Cop” (Karnal et al., 2007, p. 229-230).
Finalizando
Como pudemos ver, ao término da Segunda Guerra Mundial e durante grande parte da Guerra Fria, os Estados Unidos tornaram-se hegemônicos em diferentes partes do mundo.
Procuraram estabelecer uma atuação direta na política da América Latina, financiando golpes e procurando consolidar a região para sua conduta anticomunista e, assim, ganhá-la para sua esfera de influência.

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