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artigo - repensando as praticas da psicologia jurídica

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Revista Quadrimestral do UNIPÊ
Centro Universitário de João Pessoa
ASSEMBLÉIA GERAL DO IPÊ
Clemilde Torres Pereira da Silva
Flávio Colaço Chaves
José Loureiro Lopes
José Trigueiro do Vale
Manuel Batista de Medeiros
Marcos Augusto Trindade
REITOR
José Loureiro Lopes
PRÓ-REITORA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO
Vera Lúcia Azevedo de Medeiros
PRÓ-REITOR DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
Maria do Céo Costa de Oliveira
PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO
Reginaldo Moura Brasil
EDITOR
José Octávio de Arruda Mello
SECRETÁRIO
Marcelo Amaro da Silva
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA E DIAGRAMÇÃO
Ermira Limeira Ferreira
ASSISTENTES DA SECRETARIA
Lucinete Freire de Queiroz
Marília Loureiro Lopes
Kátia Vânia Vasconcelos Souto Maior
Magna Coeli S. Cavalcante de Oliveira
CONSELHO EDITORIAL
José Loureiro Lopes - UNIPÊ/PB
José Octávio de Arruda Mello - UEPB/UNIPÊ/PB
Luiz Renato de Araújo Pontes - UFPB/PB
Wolf Dietrich Heckendorff - UFPB/PB
Maria do Céo Costa de Oliveira - UNIPÊ/PB
Walmir Rufino da Silva - UNIPÊ/PB
Geraldina Porto Witter - UMC
José Sebastião Witter - UMC
Flamarion Tavares - UNIPÊ/PB
Elisa Médici Pizão Yoshida - PUCCAMP
Teófilo Otoni Torronteghy - UFSanta Maria
Tânia Martinez - UFESP
Afonso Antonio - Universidade Campo do Rio Claro
Dietmar Pfeiffer - Universidade de Münster/Alemanha
Luiz Bueno da Silva - UNIPÊ/PB
Steniel Ferreira Patrício - UFPB
Haydée Fizsbein Wertzner - USP
José Maria Barbosa Filho - UFPB
Otávio M. L. de Mendonça - UFPB
Antônio Sérgio Tavares de Mello - UNIPÊ/PB
REDAÇÃO
Marcelo Amaro da Silva
Revista do UNIPÊ, Bloco B, 1º andar, Sala 208
BR 230 - Km 22 - Bairro Água Fria
Cep.: 58053-000 / Caixa Postal: 318
João Pessoa - Paraíba - Brasil
Email: revista@unipe.br
Tiragem desta edição: 1.500 exemplares
ISSN 1414-3194
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REVISTA DO
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do UNIPÊ
REVISTA DO UNIPÊ, ANO XII, nº 2, 2008. João Pessoa.
109 p.
Quadrimestral
ISSN 1414-3194
CDU 34(05)
BC/UNIPÊ 1- CIÊNCIAS JURÍDICAS
I- TÍTULO
SUMÁRIO
 
 
 
 
09 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
 
 
 
21 
 
 
 
30 
 
 
 
 
 
 
39 
 
 
 
48 
 
 
 
 
55 
 
 
 
 
EDITORIAL 
 
TEMAS ESPECIAIS 
 
Dom José e o profetismo na Igreja 
da Paraíba 
 Antônio Kemps 
 
 
ARTIGOS 
 
Água e Vida: Direitos fundamentais 
José Ferreira de Andrade 
Cássia Cristina Alves Cardoso 
Eunicélia de Fátima Carneiro da Silva 
Luana Thaína Albuquerque Barreto 
Patrícia Leite Tavares 
 
Estado moderno e intervenção no 
século XVIII 
Maria do Socorro de Lucena Gomes 
 
Repensando as práticas da 
psicologia jurídica na pós 
modernidade 
Giovanna Marafon 
Dávila Tereza de Galiza F. Pinheiro 
 
 
Educação fundamental e legislação
pátria 
Jean Patrício da Silva 
 
A mística da inimputabilidade do 
adolescente 
Petrônio Bismarck Tenório Barros 
Hidnari Suellen de Andrade Paula 
 
Incidência de barreiras comerciais 
com fins ambientais 
Henry Iure de Paiva Silva 
 
 
 
 
 
63 
 
 
78 
 
 
 
 
 
 
93 
 
 
96 
 
 
98 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
108 
 
 
 
 
Controle social e realidade 
Deborah Carvalho Pereira de Melo 
 
A construção histórica da 
Constituição como paramount law 
Raphael Peixoto de Paula Marques 
 
 
RESENHAS 
 
Uma vida dedicada à magistratura 
Elza Regis de Oliveira 
 
Leitura–Literatura–Computador 
Geraldina Porto Witter 
 
São José de Piranhas – um estudo de 
poder local 
Martha Falcão de Carvalho e Morais 
Santana 
 
 
INFORMAÇÕES 
 
- Da Biblioteca Central à BIEN 
- Artes Plásticas e Artesanato 
- Imagens fotográficas motivaram 
exposição 
- Franciraldo e Sales lideraram 
livros 
- Concertos de fim de ano 
- DCE homenageia mulher 
- Fernanda em lançamento de 
Revista 
 
Normas para apresentação de 
trabalhos na Revista do UNIPÊ 
 
 
4 Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
 5Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
EDITORIAL
Uma das características do Reitorado José Loureiro Lopes, à frente da Reitoria do
Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ tem consistido na ênfase atribuída ao segmento
editorial da Instituição.
Enquanto a criação da Coleção Água Fria assegurou títulos como Dom Adauto:
subsídios biográficos, em dois tomos, do Cônego Francisco Lima, e Apologia do Amor
– Sady e Ágaba, sob a organização de Amaury Vasconcelos, a manutenção da Coleção
Autônoma significou monografias do nível de A Constituição da Casa Grande e da Senzala
(O Direito Consuetudinário Brasileiro) de Paulo Lopo Saraiva.
Na linha das publicações regulares, o Reitorado objetivou a atualização dos
Catálogos de Pesquisa e Anais de Iniciação Científica, a cargo da Coordenadoria de
Pesquisa, e esta Revista do UNIPÊ, carro chefe da instituição.
Tal o que explica a publicação, ainda em 2008, deste número dois do Ano XII,
desta Revista do UNIPÊ, consagrado a Ciências Jurídicas. Ele circula depois do terceiro
número do ano, dedicado a Ciências Biológicas e da Saúde, em razão de evento verificado
na área de Fisioterapia.
Graças a colaboração do conselheiro fundador Flávio Colaço Chaves e equipe do
Curso de Direito do UNIPÊ, este número da já consagrada revista repete o padrão habitual.
Se os temas especiais, homenageando o Arcebispo Dom José Maria Pires,
evidenciam sólida contribuição do padre Antônio Kemps, a seção de artigos justapõe análises
teóricas e práticas no campo do Direito, com pesquisas a cargo de alunos do UNIPÊ, sob
a orientação de professores deste. Essas produções realçam temas como intervencionismo
do Estado moderno, legislação pedagógica, inimputabilidade do adolescente e barreiras
comerciais.
Já as resenhas, subscritas por cientistas sociais de altíssimo nível, ressaltam títulos
de autores nacionais e paraibanos.
Esta edição de Revista do UNIPÊ encerra-se com informações dedicadas a
acontecimentos culturais da região e da Paraíba.
Registrando auspiciosa atualização, Revista do UNIPÊ permanece fiel ao lema de
sua criação, como publicação aberta a todos.
Dr. José Octávio de Arruda Mello
Editor de Revista do UNIPÊ
TEMAS ESPECIAIS
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
8 Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
 9Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
DOM JOSÉ E O PROFETISMO NA IGREJA DA PARAÍBA(*)
Antônio Kemps(*)
Querido Dom José Maria Pires: Agradeço ao nosso atual Arcebispo Dom Aldo di
Cillo Pagotto, esta oportunidade de lhe parabenizar solene e publicamente na celebração dos
seus cinqüenta anos de Sagração Episcopal. Muitos outros, sem dúvida, podiam fazer isso,
melhor do que eu. Mas dos seus quase 30 anos de vida paraibana participei mais de 25 e a
maior parte deste tempo, mesmo bem perto da sua pessoa. Dom José foi um tipo de bispo
todo especial, e isso até hoje.
Agora, para tipificar este seu jeito de ser Arcebispo, queria trazer uma realidade
bíblica, que, ao meu ver, nos explica muito bem esse tipo de atuação em nossa querida
Arquidiocese de João Pessoa. A realidade bíblica, que eu quero trazer, é o profetismo hebraico,
que geralmente é reconhecido como um fenômeno único. O conteúdo ético e religioso da
profecia israelita não tem paralelo no mundo antigo. É muito significativo que o movimento
profético, na história de Israel, aparece exatamente um pouco antes do estabelecimentoda
monarquia, i.e., da mudança de governo que vai do sistema tribal, no tempo dos juizes, para
o governo monárquico, onde o rei devia ser a representação de Javé na caminhada do povo.
Assim fica muito claro que Deus-Javé quer a atuação dos seus profetas ao lado dos reis, dos
quais, como nos registra a Bíblia, a grande maioria fez o que Javé reprovava.
Esta presença dos profetas vai até depois da volta do exílio na Babilônia, para então,
um pouco misteriosamente, desaparecer e ceder o lugar aos sábios da literatura sapiencial.
Tudo isso nos é apresentado, tanto nos livros de Samuel e Reis, como nos textos dos
profetas escritores, grandes e menores.
E assim estamos chegando na atuação de Dom José na Paraíba.
Dom José chegou em 1966, logo depois do golpe de 64, quando começou o Regime
Militar, o período da ditadura, o novo governo militar no Brasil. Ao mesmo tempo a Igreja de
sessenta estava passando, por um período de adaptação da nova teologia do Vaticano II. Os
bispos voltaram de Roma com uma nova imagem de Igreja, que era agora “o Povo de Deus”
e não mais “a pirâmide hierárquica de papa, bispos e povo”. É exatamente a simbiose, por
assim dizer, desses dois elementos ‘o novo Regime da Ditadura Militar’ de um lado e ‘a nova
Teologia do Vaticano II’ do outro lado, que fizeram com que vários dos nossos bispos,
especialmente do Nordeste, viraram, com a graça de Deus, verdadeiros profetas como no
tempo do profetismo em Israel.
Na Bíblia, os profetas são pessoas que guiam o povo pela vontade revelada por
Deus-Javé. Todos eram ativos na política e isso, muitas vezes, em oposição à monarquia,
porque viram neste governo da monarquia uma instituição ímpia e contra Javé. Eles colocavam
a integridade do javismo acima de qualquer consideração nacional ou patriótica.
Dentro deste conjunto de coisas, é muito fácil imaginar as tensões e conflitos, que
uma atitude como esta, envolvem. O uso do instrumental profético, de forma legitima, exige
uma total independência do profeta diante do governo. Na Bíblia também, havia falsos profetas,
_________________________
(*)
 Homilia proferida, na Catedral Metropolitana de João Pessoa, em julho de 2007, por ocasião dos
cinqüenta anos da sagração episcopal de Dom José Maria Pires.
que eram funcionários da corte, funcionários da ideologia reinante. Mas o Profeta verdadeiro
tinha como um tripé de independência: a independência temática, a independência de objetivos
e a independência econômica. Os temas do governo não são os temas do profeta, os objetivos
do governo não são os objetivos do profeta, os recursos e subvenções não podem vir do
governo. Não é necessário grande esforço hermenêutico para concluir que não poderia haver
denúncia no nível praticado pelo profetismo, se os profetas fossem dependentes das
subvenções do estado.
Essa independência custou muito caro aos profetas. Como também custou caro a
Dom José.
Tudo começou com a opção pelos pobres do Vaticano II, que antes para a Igreja só
era virtual, mas não na vida real. A Carta Pastoral: “Eu ouvi os clamores do meu Povo”,
biblicamente o grito de Javé na escravidão do Egito, agora tornou-se o grito dos bispos do
Regional Nordeste II, e era como o começo desta nova Igreja. É aí que começa a defesa dos
pobres agricultores, que deviam ceder lugar pela cana de açúcar para a produção do álcool,
o Projeto Pró-Álcool. Vieram Mucatu, Camucim, Alagamar e outras lutas.
Uma vez tive que acompanhar Dom José numa visita à fazenda de Alagamar, da qual
uma parte pertencia a minha paróquia de Itabaiana. Quando chegamos ao posto militar, que
o governador biônico tinha mandado colocar na entrada da fazenda, tive que descer do carro
e só Dom José podia entrar, conforme a ordem do governador. Foi depois dessa visita que
um grupo de bispos foi tanger o gado do proprietário em defesa do roçado dos pobres. E
assim surgiu um grande número de acontecimentos desse tipo na vida de Dom José.
Naquele tempo todo contato de Igreja-Estado era problemático. O desfile militar no
dia da independência, 07 de setembro, sempre foi um problema. Mesmo o título de cidadão
paraibano com pré-censura do discurso do homenageado, que Dom José não aceitou, nunca
foi entregue.
Concluindo, de certa maneira, todas as solenidades destes dias, são um pouco como
uma reparação, um tipo de retratação. Para isso tinha que chegar a 50 anos de bispo, porque
são pouquíssimos os que chegam lá. Hoje a situação, tanto do Estado como da Igreja, é
outra. Os profetas na Bíblia também desapareceram, mas não sem deixar o seu recado.
Assim a mesma coisa acontece agora. Hoje a Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba o
acolheu em sessão solene pela propositura do Deputado Estadual Rodrigo Soares.
Na quarta-feira, 18 de julho de 2007, o Poder Judiciário, pelo Tribunal de Justiça do
Estado da Paraíba com o Presidente desembargador Antônio de Pádua Lima Montenegro,
lhe recebeu também em sessão solene. A sua Arquidiocese, com o atual Arcebispo Dom
Aldo di Cillo Pagotto, também organizou todo um programa de solenidades para esta
oportunidade dos 50 anos de Sagração Episcopal. Estamos muito felizes com sua pessoa e
lhe queremos muito bem. No dia 22 de setembro na data de sua Sagração, depois de uma
peregrinação de mais de trinta dias, percorrendo 750Km na França e na Espanha, na Catedral
de Santiago de Compostela, estivemos juntos em oração e pensamento.
Parabéns, Dom José!
ARTIGOS
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
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12 Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
 13Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
ÁGUA E VIDA: DIREITOS FUNDAMENTAIS
José Ferreira de Andrade (orientador) UNIPÊ
Cássia Cristina Alves Cardoso/UNIPÊ
Eunicélia de Fátima Carneiro da Silva/ UNIPÊ
Luana Thaína Albuquerque Barreto/ UNIPÊ
Patrícia Leite Tavares/ UNIPÊ
RESUMO
O objetivo deste artigo é analisar a inter-relação e os direitos fundamentais da água, de forma
a identificar os problemas, a importância e conscientização da educação para que ela possa
chegar a todos potável e de boa qualidade. Para tanto, discute-se a importância do manejo
sustentável dos recursos hídricos e os danos causados à saúde por falta de controle da
poluição ou contaminação das águas. Dentro desse contexto, é possível estabelecer alternativas
para enfrentar a escassez e a exclusão social no tocante às águas.
Palavras-chave: Recursos hídricos, saúde, controle de poluição.
WATER AND LIFE: FUNDAMENTAL RIGHTS
ABSTRACT
This article aims at analysing the inter-relation and the fundamental rights of the water, in order
to identify the problems, the importance and the environmental awareness of education so
that everyone would be able to get drinkable and good quality water. This study also discusses
the importance of the maintainable use of the water resources and the harms caused to the
population’s health due to lack of pollution control or water contamination. In this context, it
is possible to establish alternatives to tackle with the lack and social exclusion of the water.
Key-words: Water resources, health, pollution control.
14 Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
Introdução
Decorrente de estudos e análises desenvolvidas ao longo de um ano de pesquisas, o
presente trabalho visa a avaliar a relação entre água e direitos fundamentais, com fulcro na
dignidade da pessoa humana, que, em se tratando de princípios constitucionais, é a base de
todos os direitos. Dentro dos fatores que podem contribuir para essa harmonização estão a
educação e a conscientização, as quais são essenciais para uma efetiva conservação e
preservação desse bem ambiental chamado água. Esse recurso natural se revela essencial ao
desenvolvimento econômico,que é necessário para o desenvolvimento social, devendo ser
usado de forma sustentável para que promova a inclusão social, respeito, cidadania e qualidade
de vida.
Não há mais tempo a perder. São muitas as cidades brasileiras com problemas
relacionados com a qualidade ou a escassez de água. Nos países em desenvolvimento, assim
também como em nações industrializadas, o desafio é lidar com os problemas advindos da
poluição das águas, inclusive as subterrâneas (águas doces encontradas abaixo da superfície
terrestre). Deve-se considerar também a poluição por descargas diretas de materiais, como,
por exemplo, a chuva ácida e o escoamento de águas contaminadas por fertilizantes e
agrotóxicos. Em vista das dimensões do problema, impõem-se políticas públicas de tratamento
e saneamento básico, além de gestão ambiental para a recuperação de mananciais e proteção
do meio ambiente como um todo, visto que a água é elemento determinante de promoção da
vida.
O aspecto da sustentabilidade vem da necessidade da manutenção de uma população
crescente e do acelerado aumento no consumo de água. O uso racional da água é vital para
o ser humano, uma vez que as reservas de água doce têm múltiplos usos e, além de mal
distribuídas, estão em pequena proporção no globo terrestre.
Na sociedade pós-moderna, as atividades globalizantes que influem no ciclo natural
das águas, os impactos antrópicos e o consumo desenfreado, colocam em risco o equilíbrio
ecológico do planeta.
A Água: da antiguidade aos nossos dias
A História humana, desde a antiguidade, é plena de exemplos da presença da água
como fator determinante para a sobrevivência humana, com o estabelecimento das civilizações
às margens de rios e mares. Observa-se a apreciação da água em diversas religiões e sua
aplicação simbólica, mitológica e teológica no decorrer dos tempos. Outros usos destacáveis
da água são no lazer, na navegação, nas atividades domésticas e como fonte de inspiração a
diversos escritos.
No segundo dia da criação Deus disse: “Que exista um firmamento no meio das águas
para separar águas de águas!” Deus fez o firmamento para separar as águas que estão acima
do firmamento, das águas que estão abaixo do firmamento. E assim se fez. (GÊNESIS, I, 6-
7, p. 14).
No Egito, uma lenda antiga diz: “Num que é água parada e escura, é a fonte e o
princípio do universo, e contém em si todos os elementos que virão a existir, e que o Egito,
nascido da água, viverá da água” (ÉVANO, 1998, p. 7-8).
 15Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
A teoria do Big Bang dispõe que antes da grande explosão não existia nada. Mas com
o processo de resfriamento, “o vapor proveniente das rochas se condensou e começou uma
chuva torrencial que durou séculos, resultando na formação dos mares e oceanos” ( SOUZA,
2006, p.21).
Homero escreveu o poema do mar, a Odisséia, onde narra as aventuras de Ulisses,
livro repleto de “minúcias das eras remotas em que os Aqueus se iniciavam na arriscada arte
de navegar” (HOMERO, 2003, 9-10).
Navegando pelo tempo, chegamos à soberba Roma, pelas mãos do poeta Virgílio. Já
no século IV a.C., os romanos construíram importantes obras hidráulicas. Os aquedutos
foram disseminados por todo o império. No seu auge, a água era distribuída em fontes públicas
e casas de banho. “Sob o domínio romano as cidades do Norte da África contaram com o
abastecimento de água para banhos e consumo. Os engenheiros romanos ainda construíram
açudes para irrigar imensas propriedades rurais” (REID, 2004, p. 79).
Na Idade Média, as casas de banhos foram sumindo da paisagem européia (caíram
em desuso). A água tornou-se sagrada, fonte de crenças e mitos. Depois vieram as grandes
navegações.
O Brasil é um país privilegiado pela abundância de recursos hídricos, mas um país de
dimensões continentais, onde a água é mal distribuída. Para ilustrar esse quadro, é importante
observar as considerações de Freitas (2007, p.18):
O Brasil, nos últimos anos, vem tomando consciência do problema.
Afinal, um povo que possui os maiores rios do mundo tem dificuldade
em imaginar que pode ficar sem água. Mas, apesar de termos cerca
de 13,7% da água doce disponível no mundo, a verdade é que os
problemas vêm se agravando. No Nordeste a falta de água é crônica.
No Sudeste ela é abundante, porém de má qualidade. A invasão de
áreas de mananciais hídricos pela população carente é um dos maiores
problemas de São Paulo. Os dejetos industriais lançados no rio
Paraíba do Sul tornam precária a água que abastece o Rio de Janeiro
e outras cidades. Falta água para irrigar os arrozais do Rio Grande do
Sul.
E não é diferente no Rio Paraíba do Norte, onde se constatou a redução da quantidade
e da qualidade de suas águas, que enfrenta a poluição causada por efluentes industriais, lixo,
esgotos, e ainda o assoreamento devido à devastação da mata ciliar. Com toda essa carga de
poluição ficam prejudicadas principalmente as comunidades de pescadores situadas às margens
do rio, que se queixam de não ter mais do que viver, pois não podem mais pescar, já que os
peixes estão desaparecendo.
A norma jurídica e a realidade social
A Constituição Federal de 1988 foi, segundo o professor José Afonso da Silva, a
primeira Constituição brasileira a trazer no seu cômputo um capítulo específico dedicado ao
meio ambiente, inserido no titulo da ordem social, dispondo em seu Art. 225:
16 Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (CONSTITUIÇÃO
FEDERAL, 2007, p. 67)
É evidente, após a interpretação de tal artigo, realizar a conciliação do desenvolvimento
sustentável à preservação do meio ambiente e do equilíbrio ecológico ao desenvolvimento
econômico.
A água, um dos principais bens ambientais, se não o maior, é um dos fatores da
sobrevivência da fauna e flora, sem ela não seria possível a evolução das espécies, a manutenção
do planeta, enfim, a vida em todas as suas formas.
Ter acesso a água significa respeito aos direitos e garantias fundamentais, não só à
vida, mas também, à dignidade da pessoa humana.
O sistema de legislação brasileiro em matéria ambiental é considerado um dos melhores
do planeta por ser avançado e abranger os mais diversos tipos de questões cujo alvo seja o
meio ambiente.
Antes mesmo do advento da Carta Magna de 1988, o Código Civil brasileiro de
1916, edição 2002, em seus artigos 563 e 568 já abordava a problemática dos conflitos
entre vizinhos pela água doce. Posteriormente tivemos o Código de Águas – instituído pelo
Decreto Nº 24.643, 10.7.1933 – Foi o primeiro diploma legal a regular, de modo específico,
o uso dos recursos hídricos.
Interessante ressaltar que durante muito tempo e mesmo com o Código de Águas em
vigor, a temática água sempre era mais enfocada sob a ótica privada do que pública.
A Constituição Federal de 1988, passou a considerar como bens do Estado, as águas
superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes de obras da União, como dispõe o art. 26,
I; lagos e rios internacionais ou que banhem mais de um Estado, passaram ao domínio da
União, como aborda o Art.20, III. A Constituição acabou extinguindo as águas particulares
ou de uso comum previstas pelo Código Civil (1916) e pelo Código de Águas.
A lei Nº 9.433/97 estabelece os fundamentos da atual política nacional dos recursos
hídricos. Já em seu primeiro dispositivo decreta ser a água um bem de domínio público,
sujeitando seu uso à outorga; significando dizer que para se ter acesso à mesma faz-se
necessário uma licença pré-concedida de órgão administrativo competente.
Com o objetivo de ampliar o alcance sobre a matéria foi criada no ano 2000 a Agência
Nacional de Águas-ANA, responsável pelo implemento de uma política nacional acerca dos
recursos hídricos. A mesma é a entidade pública federal com a incumbência de conceder as
outorgas no âmbito federal, possuindo também a prerrogativa de organizaro sistema nacional
de informações sobre os recursos supracitados.
Na esfera estadual, os estados tentam implementar legislações que retratem o tema.
Contudo, o problema é complexo e de acordo com cada região, têm suas especificidades.
Porém o que se observa com freqüência, mesmo em regiões castigadas pela seca, é uma
cultura de desperdícios e de mau uso da água tratada, perdida em decorrência de vazamentos
e desperdício no uso doméstico.
As leis existentes conseguem trazer no seu cômputo os mais variados problemas que
envolvam a água, porém, para terem plena eficácia necessitam de apoio da população com
seriedade, ser mais consciente ao utilizar a água, saber, ou melhor, reconhecer a sua importância
e evitar o desperdício.
 17Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
Desperdício e mau uso são problemas culturais. A educação ambiental não pode mais
ser uma simples meta e sim uma realidade.
Legislar é preciso, mas educar, conscientizar é fundamental.
Aspectos da sustentabilidade
Inicialmente faz-se mister analisar conceitos do que seria desenvolvimento sustentável,
haja vista que o uso da água, como fonte de vida, deve ser feito de maneira consciente.
Sustentável é a capacidade de se manter estável por um longo período. “O
desenvolvimento sustentável está vinculado, em sua forma e seu conteúdo, a uma base ambiental
e ao processo eficiente de aproveitamento dos recursos ecológicos. Ambiente e economia
podem e devem, ser mutuamente reforçados para o verdadeiro desenvolvimento social”.
(TELECURSO 2000, p.47).
Segundo excerto retirado do Caderno de Debate Agenda 21 e Sustentabilidade (2004,
p.7):
Desenvolvimento sustentável trata de um novo modelo de civilização,
construído coletivamente, para mudar o padrão de desenvolvimento,
com adoção de princípios éticos, de forma que atenda às necessidades
básicas atuais, sem prejuízo para as futuras gerações, estabelecendo
um contínuo melhoramento da qualidade de vida das comunidades,
criando e implementando soluções para combater a degradação
ambiental e as desigualdades econômicas e sociais, em que as medidas
são aplicadas em uma balança de três pratos-justiça social, proteção
ambiental e eficiência econômica.
Observa-se uma correlação entre a falta de água de boa qualidade e a pobreza. Muito
se tem falado ultimamente em desenvolvimento sustentável, preservação do meio ambiente e
como forma para alcançar esse objetivo, desenvolver valores e novas posturas com relação
à educação e a conscientização do povo brasileiro. “Da dignidade da pessoa humana deriva
também o direito de exercer atividade econômica com senso de responsabilidade” (JOÃO
XXIII, 1963, p.8).
As condições de acesso a esse bem água é um dos mais graves problemas mundiais,
pois milhões de pessoas não contam com abastecimento de qualidade. Somam-se a isso a
escassez e a contaminação das águas.
Muitos rios distribuídos pelo país sofrem com a devastação da mata ciliar, poluição,
escassez hídrica, assoreamento, erosão e esgotamento da capacidade produtiva do solo.
Muitos agonizam a espera de um projeto sério de revitalização para não perder sua capacidade
de oferecer água adequada ao consumo humano, à fauna e à flora.
Nos últimos tempos, os seres humanos têm colocado cada vez mais em prática o
princípio da autodestruição. Atitudes irresponsáveis têm produzido danos insanáveis ao
ecossistema mundial, à água e principalmente à própria existência.
Para exemplificar tais atitudes citamos a poluição direta dos mananciais pelos próprios
pescadores, o desrespeito ao período de defeso, prejudicando a reprodução de várias espécies;
18 Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
o uso indiscriminado de agrotóxicos contaminando os lençóis freáticos e leitos de rios, tornando
cada vez mais obrigatório o uso sustentável dos recursos hídricos, entendido como sendo, o
uso da água através de medidas que regulem, por exemplo, a atividade pesqueira, de modo
a garantir o equilíbrio do ecossistema na preservação das espécies e a rentabilidade econômica.
A conservação do meio ambiente, mesmo que a longo prazo, é a saída mais
viável. Sendo necessário desenvolver projetos que estimulem uma reflexão sobre a importância
do uso sustentável da água. Mudar as relações para que sejam mais solidárias e benevolentes
e a uma consciência social em busca de uma cooperação entre os diferentes povos, culturas
e religiões facilitando a conservação da sustentabilidade tão importante para a realização dos
projetos humanos.
Poluição das águas
O conceito de poluição da água, segundo a Lei que instituiu a Política Nacional do Meio
Ambiente - Lei 6.938/81, Art. 3º, III, é assim definido como “qualquer alteração de suas
propriedades físicas, químicas ou biológicas, que possa importar em prejuízo à saúde, à
segurança e ao bem estar das populações, causarem dano à flora e à fauna, ou comprometer
o seu uso para fins sociais e econômicos”.
As alterações de que trata o legislador tem no homem o principal causador desses
danos. Em todo o mundo o adensamento populacional, causado pelo alto índice de crescimento
demográfico, gera grandes fontes de poluentes, tanto pelos números de residências quanto
pela diversificação dos fins econômicos. Os resíduos industriais, dejetos humanos, esgotos
domésticos, são exemplos de grande potencial ofensivo aos recursos hídricos. Nesse sentido,
o saneamento básico é um desafio que precisa ser enfrentado para evitar a propagação de
doenças.
As atividades industriais e de mineração são fontes de poluentes tóxicos das águas. A
agricultura é fonte de poluentes orgânicos e inorgânicos através dos fertilizantes, pesticidas,
herbicidas e restos de animais.
A preocupação com as doenças virais propagadas pela água tem aumentado nas
últimas décadas. Elas podem ser transmitidas pelo consumo da água, como a cólera; pela
falta de hábitos de higiene, como a escabiose; contato direto com a água, cuja doença mais
comum é a esquistossomose e as doenças transmitidas através de insetos que vivem em
águas paradas como a dengue e a malária. Milhões de pessoas morrem todo ano em
conseqüências de doenças veiculadas pela água e as crianças são as mais afetadas.
Nas comunidades ribeirinhas, muitas crianças são acometidas por diarréias e outros
sintomas característicos e seus pais muitas vezes sequer associam as doenças à água, por
total falta de informação sanitarista.
Considerações finais
É cediço que a água implica em elemento natural imprescindível a todas as formas de
vida. Plantas, animais e seres humanos fazem parte de um ciclo ecológico que necessita de
sustentabilidade vital.
 19Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
O homem vem se desenvolvendo e se reciclando cientificamente a cada dia, no entanto,
esse crescimento tecnológico e a ganância por inovações industriais desenfreadas implicam
num drástico desequilíbrio ambiental.
Tal instabilidade, seria aquela relacionada à natureza e ao homem que, por coadunarem
numa necessária relação sócio-vital, acabam não conseguindo manter equilíbrio frente à
manutenção saudável do meio ambiente. O ser humano, uma vez não explorando a natureza
e seus adjacentes de maneira adequada, destruirá gradativamente seu hábitat. Como também
a natureza, não sendo tratada adequadamente, resultará em mudanças ecológicas no planeta
Terra, tais como, a desertificação dos campos rurais, desordens climáticas, as secas e estiagens,
a infertilidade dos solos agrícolas e a fúria das inundações prejudicando a paisagem humana.
As facetas várias que se mostram na problemática hídrica, têm motivado governantes,
estudiosos e cientistas tanto em âmbito nacional como internacional, pela preservação da
água doce em todo o planeta. O uso racional de aqüíferos (grandes reservas de água doce
subterrâneas) tem sido o foco de Comissões e Fóruns Mundiais da Água. A grande relevância
desses encontros diz respeito à aflição que cerca a humanidade frente à provável escassez
de água doce no século XXI. A urgência de alguns desafios serem superados, tais como: o
atendimento das necessidades básicas da população, a garantia do abastecimentode alimentos,
a proteção dos ecossistemas e mananciais, a administração de riscos, a valorização da água,
a divisão e a eficiente administração dos recursos hídricos têm como conseqüência,
basicamente, minimizar os conflitos que tendem a se agravar no decorrer deste século.
Observa-se, demonstrada a importância fundamental, que a água doce implica na
continuidade da vida nas suas mais variadas formas, seja na vida aquática com as algas e os
peixes, seja na vida terrestre com os animais e o ser humano. É condição basilar que todo
cidadão presente neste planeta não desperdice a água. Deve ser mais altruísta e pensar nas
gerações futuras junto a um desenvolvimento sustentável, pois a vida sem água não existe.
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Recebido: 01.04.2008
Avaliado: 22.06.2008
 21Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
ESTADO MODERNO E INTERVENÇÃO NO SÉCULO XVIII
Maria do Socorro de Lucena Gomes/ UNIPÊ
RESUMO
Este artigo aborda o conceito de Estado e a necessidade de compreender tal Instituição no
sentido de ordenar e organizar a sociedade em prol do bem-comum. Alguns filósofos e
ideólogos do contato social, foram verificados assim como os fatores de intervenção na era
moderna, foram identificados, não a intervenção Econômica do Ente Estatal na sociedade
moderna de uma forma geral, dando uma ênfase à influência do Liberalismo Econômico
situado século XVIII.
Palavras-chave: Sociedade, economia, contrato social.
MODERN STATE AND INTERVENTION OF THE 17th CENTURY
ABSTRACT
This article approaches the concept of State and the necessity to understand it in terms of
commanding and organizing the society concerning the common good. Some philosophers
and ideologists of the social contact, were verified and the intervention factors were identified,
not the Economic intervention of the State Being in the modern society of a general form,
giving which emphasized the influence of the Economic Liberalism if the 17th century.
Key-words: Society, economy, social contract.
22 Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
Introdução
Quando pensamos o ser humano e a sua convivência cotidiana, paralelamente
evidenciamos a idéia de sociedade, haja vista este encontrar-se inserido na proposta da boa
vizinhança, buscando a solidariedade orgânica diante do social, situação esta onde percebemos
a importância do Estado, como uma “organização vigilante, ou conjunto de instituições
diferenciadas e coordenadas de governo que promulgam e aplicam a lei, mantendo a ordem
através das forças armadas no sentido de defesa e ataque” (RUMMEY; MAYER, 1972,
p.47). Favorecendo de certa forma, a convivência entre os próprios componentes do meio
social.
Para Hobbes (1990, p. 399) o ser humano ao reunir-se numa multidão de indivíduos,
pactuando objetivos comuns ao seu meio, “constrói um corpo político, elaborado pela ação
humana que se denomina Estado”. Segundo Rousseau (1980, p. 42) “os indivíduos reunidos
e que vivem em pacto social em prol e criando a vontade geral, elaboram um corpo coletivo
e moral igualmente denominado Estado”. A sociedade civil, portanto é o Estado propriamente
dito, onde a nação vive sob o julgo de normas positivas (as leis), promulgadas e aplicadas
por um poder soberano. O povo, na concepção moderna supracitada, trata-se desse poder
os indivíduos, através de um Contrato, elaboram-se como nação e transferem a esta os
direitos naturais que são comuns, transformando-os em direitos civis; assim o Estado, trata-
se do poder hegemônico, que representa a soberania popular, que deverá atuar em prol da
vontade geral, como corpo moral coletivo ou Instituição pública, poder político organizado
no interior da sociedade civil.
Até Maquiavel a facção político-estatal objetivava um poder supremo, que poderia
consistir-se na busca da justiça plena, a suprema virtude, a liberdade, enfim o poder dos
poderes, representado por Deus (Teocracia) na terra. Com a concepção maquiavélica de
Estado, partindo do princípio de que o poder era um fim em si mesmo, despreza-se a finalidade
ética e religiosa desta Instituição, onde a mesma passa, portanto a conservar ou expandir a
sua força política sobre a nação, cujo interesse maior, naquela época, consistia-se em domínio
amplo e pleno sobre a sociedade por parte das classes dominantes (realeza, burguesia e
clero); contudo, nos dias atuais, trata-se de exercer sobre a população o papel de mediador
e regulador (político-econômico e administrativo) entre o próprio homem e sua representação
social, onde os valores religiosos, éticos, morais, tornam-se subordinados ao próprio
representante do Estado ou facção que o represente.
Segundo Dallari (1995, p. 43) é na obra de Maquiavel, que pela primeira vez, em “O
Príncipe”, escrita em 1513, denomina-se Estado, com a designação “estar firme”, onde este
significa, portanto situação permanente de convivência ligada à sociedade. É portanto, a
partir do século XVI que o nome Estado é referenciado indicando uma sociedade política ou
designação dada “[...] a todas as sociedades políticas que com autoridade superior, fixaram
as regras de convivência de seus membros.”
O Estado Moderno é relativamente recente no contexto histórico, data do começo
do século XVII e apresenta todo um quadro de transformações sociais e político-econômicas,
desencadeadas pela sociedade européia, criando portanto um novo mundo, que não deu
mais acesso a hegemonia da sociedade feudal.
Na visão dos historiadores Koppers, o Estado passa a ser um elemento universal na
organização humana, tratando-se do “[...] princípio organizador e unificador em toda
 23Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
organização social da humanidade, considerando-se por isso onipresente na sociedade de
todos os tempos”. Evidenciamos o Absolutismo Monárquico do Velho Mundo, no século
XVI, que na França desta época, apresenta o poder soberano dos Reis, gerando atitudes
egocêntricas tais como àquelas expressadas verbalmente pelo Monarca Luiz XIV, “O Estado
sou eu”, que denotam poder e centralização das decisões governamentais, nas mãos dos
senhores soberanos e absolutos, cujos fins a serem atingidos, justificavam todos os meios a
serem galgados pelo próprio poder.
O Estado absolutista e a intervenção econômica na sociedade
O Estado Absolutista resultou de um longo processo histórico, iniciado com a crise
da sociedade feudal, a partir do século XIV, na Europa Ocidental. Os tradicionais estamentos
aristocráticos (nobreza e clero) passaram a defrontar uma nova classe social ou seja a burguesia.
Os burgueses, enriquecidos pelas atividades comerciais diversas, exercidas ao longo da história,
buscaram estabelecer alianças políticas com os Monarcas e estas monarquias nacionais,
aproveitaram-se destas disputas de classes para ampliarem o poder político. Vemos surgir
portanto um novo tipo de Estado, apoiado pelo povo burguês da época e centralizador por
excelência das decisões políticas, cuja força estendeu-se pelos vastosterritórios, antes
controlados pelos senhores feudais.
O Estado absolutista tem em Hobbes (1990, p. 91-92) seu grande questionador e
indagador teórico, “o qual procurava as origens desta Instituição, sua razão de ser e sua
finalidade; sendo o Ente Público, soberano a realização máxima de uma sociedade,
qualificando-a de racional e civilizada”. O Estado, um poder acima da individualidade humana,
“poderia conter o egoísmo, a ambição e a crueldade, vícios próprios do ser humano, incutindo
no homem uma racionalidade, levando-o a viver um equilíbrio social”.
O Absolutismo, não interessou-se em afastar a igreja e suas atividades políticas;
utilizou-a contudo, para fins de beneficiar-se em sua atuação para com os súditos; princípios
tais como a necessidade de prestar obediência aos reis, foram encontrados na teoria do
direito divino dos reis, de autoria do bispo francês Jacques Bénigne Bossuet (1627-1704),
cuja obra intitulou-se A política inspirada na Sagrada Escritura (1979).
Na estrutura política absolutista, especificando o caso francês do século XVI, o rei
ditava a lei, através de editos ordenações e sentenças; exercia a justiça através do chancelar
(este presidia na ausência do rei, o Conselho das Partes), estabelecia a própria justiça com o
Conselho das Partes e por fim governava e administrava o reino com os conselhos (Alto
Conselho – Ministro de Estado, Conselho das Finanças, Conselhos dos Despachos e Conselho
das Partes); destacando ainda a presença e participação dos Senhores Ministros do Rei, o
Chanceler, o controlador geral das finanças, quatro secretários de Estado e por fim os
comissários e intendentes fiéis ao Monarca.
O Estado intervinha fortemente na vida econômica da nação e
consistia-se no principal responsável pela construção de uma base
manufatureira, necessitando para tal, de amplo quadro administrativo
para dar conta de tamanha tarefa (CRETELLA JUNIOR, 2000, p.137).
24 Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
O controle da economia impunha a esta entidade funções árduas e especializadas
para a época, tais como o estabelecimento de normas rígidas sobre os métodos de fabricação,
critérios para inspecionar a qualidade da matéria prima utilizada na produção, fixação de
preços e produtos entre outros serviços. O Estado controlava bens e pessoas e desenvolveu,
nesta fase histórica, um importante componente da sua estrutura – o Judiciário; valorizando o
antigo direito romano, delineou com bem mais veemência o que seria público e privado,
estabelecendo leis de conteúdo abstrato, dotadas de generalidades e acentuada formalidade,
no objetivo de regulamentar as relações dos súditos para com o poder estatal. Na realidade
o povo estava sempre bem longe do poder político, contudo, a partir do Absolutismo, a
nação não poderia ser ignorada totalmente pelas políticas nacionais.
Uma segunda teoria, ainda sob a análise de Dallari (2000, p. 45), passa a admitir
que:
A sociedade humana, mesmo apresentando este quadro absolutista
do poder do Estado no século XVII até o início do século XVIII,
existiu durante certo período, sem a presença do Estado para lhe
organizar. Contudo, esta instituição foi constituída gradativamente
pelas tribos e comunidades pré-históricas, no sentido de atender
político-socialmente as necessidades dos grupos sociais, de acordo
com a realidade local e temporal dos próprios grupos.
Schimidt (1934, p. 45), conceitua o Estado como “uma instituição necessária que vai
surgir quando nasce a idéia e a prática da soberania”. Pallieri (2000, p. 45), indica como data
oficial da criação do Estado na realidade ocidental, “o momento em que foi assinada a paz de
Westfália”.
O liberalismo e a proposta da não intervenção estatal na economia
Saindo da visão do Estado Absolutista, responsável de certa forma pelas medidas
político-econômicas fundamentais ao desenvolvimento do acúmulo do capital no âmbito da
fase moderna da História, nos deparamos com o surgimento do Estado Liberal. Este emerge
com a Revolução Francesa (século XVIII) e vai predominar durante todo o século XIX,
deixando bem nítida a divisão entre atividade econômica e atuação política do Estado; ou
seja, ser liberal no século XVIII, significava a recusa plena do intervencionismo estatal na
economia da sociedade, sob a crença de que esta poderia se conduzir muito melhor, se o
poder estatal (no aspecto econômico) tivesse atuação cada vez mais restrita, delegando tal
função à iniciativa privada; situação ideológica predominante nos tempos atuais.
Como liberalista econômico predominante na época, vamos encontrar a forte influência
de Smith (1978, p.42), o qual considerava em sua doutrina que o Estado tinha apenas três
deveres a cumprir:
1. O dever de proteger a sociedade da violência e da invasão
por outras sociedades;
2. O dever de proteger cada membro da sociedade da injustiça e
da opressão, administrando a justiça social;
3. E por fim o dever de manter certas obras e instituições públicas,
que não fossem do interesse de grupos privados, haja visto o lucro
 25Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
não reembolsar as despesas a estes, e sim, ter o objetivo de apenas
proporcionar a sociedade, sem o interesse do acúmulo do capital, o
bem-estar e favorecer a população com: boa moradia, educação digna,
saúde favorável, em decorrência de bons atendimentos e tratamentos
médicos em postos e hospitais públicos, entre outros serviços básicos
essenciais e contínuos necessários a vida cotidiana dos cidadãos.
A teoria da Mão Invisível, evidenciada pelo próprio Smith (1978, p. 45) em sua obra
intitulada The Nature and causes of the Wealth), busca justificar a implantação do Estado
Liberalista ou Liberalismo Econômico no seio da própria sociedade do século XVIII,
evidencia-nos “a possibilidade de um ordenamento perfeito e natural no que diz respeito ao
funcionamento das atividades econômicas no cotidiano social daquela época”. Predominaria
na mesma, uma lógica interna que embora confusa e desconexa, dispensava qualquer
intervenção (estatal que fosse), no sentido de administrar tal setor. Na realidade, uma
mercadoria só deveria ser produzida se existisse para a mesma um mercado consumidor e a
compra e venda do produto regulasse a própria produção. Resultado, não caberia a Instituição
Pública nenhuma, interferir no sistema de produção e sim e tão somente, primar eficazmente
pela segurança dos indivíduos, desde que estes estivessem atentos ao cumprimentos das leis,
sob a égide dos direitos inalienáveis do homem. Ao Estado caberia proteger a vida dos
indivíduos e os bens públicos, àqueles pertencentes à sociedade, zelando também pela
propriedade privada. Ao homem caberia viver um grande contrato social, onde as leis baseadas
nos princípios universais supra-citados, norteariam as relações entre os cidadãos e o próprio
Estado.
O Estado Liberal tem no filósofo inglês Locke (1978, p. 63) um grande teórico e
figura importante para a evidência e predominância deste durante o século XVIII e início do
século XIX. Este preocupava-se com:
o estabelecimento de um pacto social entre os agentes, que juntos
habitassem determinado território ; haveria necessidade de se
estabelecer sobre o aglomerado humano, uma organização política,
baseada num acordo entre pessoas iguais e livres; os homens seriam
livres e iguais na medida em que tinham propriedades a zelar. A noção
de propriedade não estaria ligada somente aos bens materiais; ser
proprietário, segundo o individualismo do século XVIII, significava
o homem ser proprietário de si mesmo e de suas emoções, refletindo
isso em seu mundo material.
Eis a exigência da sociedade e do capitalismo originário da época, o indivíduo deveria
apresentar-se como proprietário, na impossibilidade de ser possuidor de inúmeros bens
materiais, pelo menos de suas capacidades físicas e mentais, no sentido de negociar com o
seu patrão, em posição de igualdade.
É neste âmbito que Locke (1978) evidencia a lei, como um artifício necessário para
regulamentar a relação contraditória e desigual que florescia com o desenvolvimento do
capitalismovigente naquele momento; pois predominava a disparidade entre as pessoas
dotadas de bens materiais, diante daquelas que nada possuíam em termos de riquezas terrenas
26 Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
e que levavam desvantagens nas relações sociais, por serem detentoras apenas da força de
trabalho.
O problema da desigualdade sócio-econômica na Europa do século XVIII, passa a
ser motivo de discussão por parte de muitos estudiosos e filósofos da época. Edmundo
Burke (1729-1797), citado por Tomazi (2000, p. 84) expoente do Liberalismo inglês,
evidenciava que “a propriedade garantia a liberdade e ao mesmo tempo exigia a desigualdade;
argumentando ainda que aos ricos não cabia ajudar aos pobres, uma vez que pobreza resultava
de fracasso e ausência da própria graça divina”. O homem de negócios era louvado e ao
pobre cabia colaborar com a preservação dos bens dos ricos, sob a ideologia de que estes
lhes davam trabalho e não deveriam se revoltarem contra os patrões, para não criarem
dificuldades para os mesmo e respectivamente para a própria sobrevivência, onde poderiam
perder o próprio meio de subsistência, o emprego.
O funcionamento do Estado Liberal, requeria, conforme alude Piettre (1984, p. 87),
a existência dos homens éticos, morais e de acentuada honestidade no poder; teria como
“pressuposto a igualdade de direitos e acima de tudo a competição equilibrada no âmbito
econômico”. Como estas situações não eram alcançadas, dada a ambição, concorrência e
busca desenfreada por mais riqueza, na sociedade do século XIX, principalmente devido a
revolução na indústria, surge gradativamente a crise social pela liberdade, presente na classe
proletária, mão de obra e força produtiva que sofre os reverses e descasos sociais nas
cidades européias deste século.
Com a industrialização, o surgimento de grandes empresas fabris, vai formar
aglomerados urbanos, que repercutiram diretamente no social e político das comunidades; o
Estado passa a ser cada vez mais solicitado e aumenta gradativamente o número de atribuições
deste como instituição pública, passando a intervir mais e assiduamente nas vidas das
comunidades, isto no objetivo de minimizar os conflitos e precariedades em que vivia o
proletariado da época, mão de obra para as indústrias e fábricas que começavam a surgir no
contexto econômico urbano.
Resultado, necessitava-se atender aos interesses da coletividade, combatendo de
certa forma as diferenças sociais gritantes evidenciadas pelo liberalismo e a ênfase dada ao
capital e a iniciativa privada no âmbito do século XVIII, que excluía totalmente o estado de
intervir no aspecto econômico da sociedade.
A presença do Estado intervencionista na sociedade do século XIX
Elenca-se, portanto no Estado Social e Intervencionista, a existência do “ente público”,
como instituição política necessária a organização e normatização da própria sociedade em
que o homem vive inserido; sociedade esta que tem por objetivo primordial não apenas
dominar político-socialmente e economicamente o ser humano, mas proporcionar-lhe uma
boa e saudável convivência no território, cujos direitos sociais (saúde, educação, moradia,
entre outros) sejam proporcionalmente concedidos a todos.
O crescimento das escolas socialistas e o aparecimento do Manifesto Comunista de
Karl Marx em 1848, marca a presença da ideologia do Estado Social, “eclodindo novas
concepções políticas, cuja vigência prática ocorrerá bem mais tarde, com a criação do Estado
Soviético, no século XX” (MARX; ENGELS, 1971 p. 83).
 27Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
A intervenção do Poder Público é uma constante no Estado Social, haja vista, como
expõe Venâncio Filho (1998, p. 10), “o homem situado” ou o cidadão do século XIX, dadas
as necessidades de representação diante do processo industrial impor “[...] o alargamento
das atribuições do Estado, propondo o estatismo”, onde este, trata-se de ampla atuação do
ente público em todas as áreas, de forma protecionista e puramente emergencial, principalmente
diante do proletariado e que foge (ainda seguindo o mesmo autor) a uma definição mais
fidedigna do termo utilizado – Estatismo; tal fenômeno, denota a intromissão do poder público
de forma constante, junto ao social; situação esta gerada pelas transformações sócio-
econômicas, onde a indústria, gerida pela iniciativa privada, na Revolução Industrial,
basicamente vai utilizar-se do proletariado como força de trabalho e não vai investir no mesmo,
no sentido de beneficiá-lo, no que diz respeito as necessidades essenciais ao cotidiano (moradia
digna, educação e saúde satisfatória para o trabalhador e os seus, entre outros direitos básicos).
Resultado, é no estatismo (predominante do séc. XX) quer nos deparamos com o
intervencionismo estatal, cuja participação da instituição pública na vida social, política e
econômica da nação, situação auxiliada pelo regime Constitucionalista, vai ampliar bastante a
participação do povo politicamente no poder e junto ao processo administrativo das nações
(principalmente na Europa deste século), trazendo consequentemente para a competência do
Estado, a solução para os problemas comunitários, reivindicações feitas pelas populações
sofridas, em face dos direitos sociais.
Nas palavras de Laufenburger (1979, p. 3) o termo intervencionismo, denota
expressões tais como: economia dirigida, controlada ou organizada, capitalismo regulamentado
ou planificação; enfim, uma ação construtiva do Estado em prol do social e não somente em
favor do capital. O “homem situado é senão condicionado pelo seu meio e pelas necessidades
comuns, representante por excelência, da classe profissional que exerce e que vai evidenciar
a luta sindicalista por melhoria de vida para o trabalhador”. Este homem, comum no seio da
sociedade do século XIX e que tem em Karl Marx um grande teórico, nos remete sempre ao
problema da luta de classes, decorrente das situações opostas ou antagônicas em que conviviam
as classes sociais; ou seja as relações sociais estabelecidas na sociedade capitalista do século
XIX e que alicerçavam o processo de dominação econômica, política, ideológica e cultural
desta época, que eram exercidas pela classe dominante, proprietária dos meios de produção,
para com o empregado, o trabalhador, que nesta relação sentiu-se obrigado a organizar-se
como classe profissional para deter (através de uma pessoa jurídica – o sindicato) a exploração,
o abuso do patrão sobre sua força de trabalho.
Considerações finais
É neste âmbito que evidencia-se a proposta socialista e o Estado intervém em todos
os ângulos da sociedade, em defesa da coletividade, em prol do bem comum. Na realidade,
a propriedade privada é abolida e o homem submetido físico e moralmente ao poder soberano
do Estado. No Socialismo, fica evidenciada a luta social contra o mando e o poder
estabelecidos pela classe dominante, detentora dos meios de produção. No âmbito cultural,
através de manifestações artísticas, na literatura, no cinema; em tudo evidencia-se a luta de
classes, que se manifesta de diversas formas e em todos os aspectos da vida da sociedade;
no trabalho, no laser, no cotidiano rotineiro dos povos etc...
28 Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
Para Marx e Engels, o Estado é o produto das relações dos homens; relações estas
de opressão, haja vista, ocuparem, os mesmos, posições desiguais em face dessas relações.
Cabia portanto ao proletariado, tomar o poder e de posse deste e com o domínio sobre o
Estado, a propriedade privada dos meios de produção seria gradativamente abolida e com
ela seriam também abolidas as classes sociais (não existiriam nem ricos nem pobres, mas
todos fariam parte de uma só classes social) e finalmente o próprio Estado seria abolido e
teríamos uma nação de trabalhadores que se auto governariam em prol do bem social de
todos.
Resultado, a defesa dos interesses do proletariado e operariado da época (século
XIX), implicava na negação dos interesses burgueses e na construção de uma sociedade sem
classes e para isto, os operários deveriam se organizar e unificar suaslutas.
No final do século XIX, o movimento operário adquire uma consciência crítica relativa
a sociedade capitalista, ou seja, de que não podendo extinguir a propriedade privada,
tornando-a coletiva, basicamente deveriam ser sujeitos das transformações sociais,
empreendendo os Movimentos Sociais no seio da própria sociedade capitalista. É a partir
dessa consciência de luta em prol do direito dos trabalhadores, que o movimento operário,
organizado partidariamente e sindicalmente, avançou acentuadamente no século XIX e no
início do século XX. Os Sindicatos e partidos dos operários, na Europa, entre estes o Partido
Social-Democrata Alemão, o Partido Socialista Francês, o Trabalhista inglês e o Partido
Operário Social-Democrata Russo, dominaram e tomaram seus espaços na sociedade
capitalista, exercendo ameaça sobre o domínio pleno do econômico no social por parte da
classes burguesa.
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Recebido: 01.04.2008
Avaliado: 10.07.2008
30 Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
REPENSANDO AS PRÁTICAS DA PSICOLOGIA JURÍDICA NA PÓS
MODERNIDADE
Giovanna Marafon/UNIPÊ
Dávila Teresa de Galiza F. Pinheiro/UNIPÊ
RESUMO
Este trabalho aborda o movimento de construção histórica da Psicologia Jurídica, apresentando
as forças que interagiram nesse contexto, bem como os conceitos utilizados para se referir a
tal área, seus espaços e possibilidades de atuação. Situa as articulações entre Psicologia e
Direito, as demandas que motivaram essa aproximação e as práticas que se estabeleceram
nesse campo. Retoma a perícia como principal atividade realizada em Psicologia Jurídica,
porém não a única, afirmando a necessidade de se implementarem novas práticas psicológicas
comprometidas com o bem-estar e as potencialidades do ser humano nas questões que se
relacionam com o Direito. Nesse atravessamento, descortinam-se novos fazeres e a
interferência de outros saberes, compondo um campo de trabalho transdisciplinar.
Palavras-chave: Direito, perícia, transdisciplinaridade.
RETHINKING THE PRACTICES OF JURIDICAL PSYCHOLOGY IN POST
MODERNITY
ABSTRACT
This work is about the movement of the historic construction of Juridical Psychology, presenting
the forces that have interacted in that context, as well as the terms used to refer to that are as,
its spaces and possibilities for action. It establishes an articulation between Psychology and
Law, the needs that motivated this approach and the practices that were established in that
field. It incorporates the forensic evaluations as the main activity carried out in Legal Psychology,
stating the need to implement new psychological practices committed to the welfare and
potential of the human being in matters concerned to the Law. In that intersection, new actions
and interference from other knowledge are shown, composing a field of transdisciplinary
work.
Key-words: Law, forensic evaluation, transdisciplinarity.
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Introdução
A escrita deste texto está comprometida com o movimento histórico de constituição e
afirmação da Psicologia Jurídica, considerada uma disciplina emergente e entendida como
um ramo da Psicologia que se caracteriza por sua interface com o Direito. Para isso, algumas
passagens pelas engrenagens históricas que instituíram a Psicologia como ciência serão
necessárias para, enfim, percorrer a trilha da Psicologia Jurídica, bem como seus desvios,
junto ao Direito até os dias atuais.
A Psicologia e um pouco de História
A Psicologia é considerada uma ciência recente quando comparada às demais. Além da
forte influência da Filosofia e da Religião, posteriormente, também a Biologia contribuiu de
maneira peculiar nesse contexto em que o mundo aspirava compreender o comportamento
humano.
Foi em 1879, com a criação do primeiro laboratório de Psicologia Experimental por
Wundt, na Universidade de Leipzig, que teve início, oficialmente, a história da Psicologia
enquanto ciência moderna. Os estudos nesse campo orientavam-se na investigação
experimental dos processos psicológicos relacionados à análise do comportamento, ao
desenvolvimento psicológico, à aprendizagem, percepção, memória, motivação, emoção,
inteligência etc.
Aqueles estudos eram realizados por intermédio de instrumentos laboratoriais de exame
que, rapidamente, foram substituídos por simples testes. Conforme assevera Jacó-Vilela (2002,
p. 16):
Os testes indicam o prescindir dos instrumentos de que se achavam
dotados os laboratórios (mecânicos, elétricos), transformando-se em
‘testes de lápis e papel’, cuja facilidade de aplicação – tanto em
termos de local quanto em relação à quantidade possível de pessoas
testadas ao mesmo tempo – faz com que se tornem a técnica
privilegiada de produção dos saberes e práticas psicológicas.
A partir de então, houve uma verdadeira aproximação da Psicologia ao Direito. Tal
aproximação, na verdade, traduzia o interesse do Direito em descobrir como apreciar a
qualidade dos testemunhos de indivíduos envolvidos em processos judiciais e essa foi uma
questão direcionada à Psicologia, a qual procurou respondê-la através da aplicação de testes
psicológicos.
Que demandas aproximaram Psicologia e Direito?
Diante desse panorama, no final do século XIX, desponta a primeira grande articulação
da Psicologia com o Direito: a Psicologia do Testemunho. Esta tinha a finalidade de avaliar,
por intermédio do estudo experimental dos processos psicológicos, a veracidade dos
testemunhos, as falsas confissões, as simulações ou mesmo prever certos tipos de
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comportamentos para que assim fosse possível uma eficaz atuação e aplicação da norma
jurídica.
Na clássica obra Manual de Psicologia Jurídica, de 1945, que marca a formulação
da Psicologia Jurídica como disciplina e área de estudo, Emílio Mira Y López afirma que o
testemunho dado por uma pessoa sobre um fato está sujeito a cinco fatores essenciais, quais
sejam: o modo como aquela pessoa percebe determinado acontecimento, o modo como sua
mente foi capaz de conservar o fato, a maneira de evocá-lo, o modo como quer expressá-
lo, e, por fim, o modo como pode expressá-lo.
Todos esses fatores foram estudados por influentes mecanismos advindos da Psicologia
Experimental que, no começo, era aplicada de modo quase que exclusivo aos interrogatórios
judiciais que abordassem casos delituosos, pois nesse período o estudo sobre a personalidade
do indivíduo que praticava uma conduta delituosa, o delinqüente, estava em evidência. Mira
Y López denominou esse estudo de Psicologia Anormal (termo esse não mais em uso), o
qual era considerado um ramo da Psiquiatria.
A Psicologia Anormal regeu a vida do Direito durante muito tempo e até hoje é
possível encontrar resquícios dessa teoria, a qual entendia que havia uma patologia individual
ou anormalidade em todo aquele que rompia com as regras sociais cometendo delitos. Tal
teoria trouxe sérias conseqüências, uma vez que culpabilizava individualmente certa pessoa
pela prática de um delito, acreditando que estao praticava pelo fato de possuir uma anomalia
intrínseca. Descartavam-se, assim, quaisquer conexões e fatores externos que compusessem
um contexto mais amplo, relevante para o entendimento da criminalidade e da relação das
pessoas com o crime.
Naquele período, o ideário positivista, inspirado nas Ciências Naturais, influenciou
sobremaneira as Ciências Humanas e Sociais ao estabelecer a necessidade de aperfeiçoar os
instrumentos de exame, como as perícias, as quais expandiram sua atuação aos mais diversos
setores da Psicologia e também do Direito.
Como bem pontuou Brito (2001, p. 120):
A perícia psiquiátrica, inicialmente restrita à investigação da
responsabilidade penal do adulto, estende-se, a partir do final do
século XIX, a outras áreas do Direito, visando os dispositivos de
correção a serem aplicados e a aferição de “verdades” que deveriam
auxiliar os trâmites jurídicos, percurso recomendado aos primeiros
psicólogos que se aproximaram do campo do Direito.
É possível depreender de tudo isso que havia o anseio por técnicas cada vez mais
apuradas que possibilitassem a obtenção de dados exatos, a fim de auxiliar os operadores do
Direito, tendo em vista a fé depositada nos diagnósticos advindos da avaliação psicológica.
Portanto, observa-se que, no princípio, a Psicologia era uma ciência totalmente identificada
com a prática de psicodiagnósticos.
Nessa primeira fase, a maioria dos psicólogos desempenhava suas funções como
auxiliares dos psiquiatras, o que acontecia da seguinte forma: médicos psiquiatras eram os
responsáveis pelas perícias e os psicólogos eram seus auxiliares, realizando apenas a testagem
(aplicação de testes psicológicos).
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Psicologia Jurídica: de que se fala?
Como ainda não havia o cargo de psicólogo jurídico junto ao Poder Judiciário, durante
muito tempo, a prática da Psicologia restringiu-se à realização de perícias feitas por psicólogos
autônomos, os quais atendiam incontáveis solicitações de pedidos de avaliação acerca de
disputa de guarda de crianças, análise da cessação da periculosidade, interdições etc.
No exercício de tais práticas, o termo mais usual para se definir essa área foi Psicologia
aplicada ao Direito. Percebe-se aí uma relação de subordinação, na medida em que a
Psicologia Jurídica apresentava-se como disciplina a serviço do Direito, uma disciplina
meramente auxiliar.
Não se quer dizer com isso, que a Psicologia Jurídica não possa responder às demandas
do jurídico, muito pelo contrário, o que se objetiva esclarecer é que ela não se deve paralisar
na relação com o saber jurídico, mas transcender as solicitações da seara jurídica, através de
um constante diálogo que é ao mesmo tempo psicojurídico.
Nesse sentido, assevera Trindade (2004, p. 27):
A Psicologia Jurídica, na sua totalidade, não é apenas um instrumento
à serviço do jurídico. Ela analisa as relações sociais, muitas das quais
não chegam a serem selecionadas pelo legislador. Em outras palavras,
não se jurisdicizam, isto é permanecem destituídas de incidência
normativa e constituem a grande maioria de nossos comportamentos
sociais.
Assim, com o passar do tempo, a Psicologia Jurídica tem procurado se afastar das
funções exclusivamente psicotécnicas, orientando-se cada vez mais para o bem-estar do
homem e suas potencialidades, trazendo uma preocupação ética com o seu fazer. E, com o
Direito, busca-se uma relação baseada na complementaridade e não na subordinação, criando,
desse modo, um terreno propício para o diálogo transdisciplinar, não-subordinante.
Logo, a Psicologia Jurídica vai muito além do estudo do comportamento humano no
âmbito da Justiça, pois esse se configura em uma das manifestações da subjetividade, a qual
conforme ensinamentos de Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 23) refere-se ao “mundo de
idéias, significados e emoções construído internamente pelo sujeito a partir de suas relações
sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica; é, também, fonte de suas manifestações
afetivas e comportamentais”.
De acordo com o pensamento de Michel Foucault, em sua obra intitulada A verdade
e as formas jurídicas (1974), França (2004, p. 76) traz o seguinte entendimento:
Tanto as práticas jurídicas quanto as judiciárias são as mais
importantes na determinação de subjetividades, pois por meio delas
é possível estabelecer formas de relações entre os indivíduos. Tais
práticas, submissas ao Estado, passam a interferir e a determinar as
relações humanas e, conseqüentemente, determinam a subjetividade
dos indivíduos.
Por esse prisma, entende-se que a Psicologia Jurídica interfere nas relações entre os
indivíduos como algo oriundo das próprias práticas jurídicas, as quais também são capazes
de determinar a subjetividade dos sujeitos envolvidos. Por conseguinte, a Psicologia Jurídica
vai se preocupar igualmente em enfocar “as determinações das práticas jurídicas sobre a
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subjetividade, não mais enfocaria apenas o comportamento do indivíduo para explicá-lo de
acordo com a necessidade jurídica” (FRANÇA, 2004, p. 77). Essa idéia ultrapassa a
perspectiva que o Direito possui em relação à Psicologia Jurídica.
Longe de apresentar um conceito formado e acabado acerca da Psicologia Jurídica,
tarefa praticamente impossível, preferiu-se trazer à tona as forças que disputaram terreno na
construção desse novo campo. Interessante se faz expor a constatação de Thomas Herbert
(1972) citado por Arantes (2005, p. 18-19) acerca da própria Psicologia, que nos permite
lançar questões também à Psicologia Jurídica:
(...) colocar a uma ciência as questões ‘quem és tu?’, ‘por que estás
aqui?’ e ‘quais suas intenções?’ pode parecer impertinência à qual
ela tenderia a responder que ‘está aqui porque existe’ e quanto às
suas intenções ‘ela não as tem’ mas apenas problemas a resolver’.
No entanto, considera importante a distinção feita por Louis Althusser
entre ciência desenvolvida e ciência em constituição. Na ciência
desenvolvida o objeto e o método são homogêneos e se engendram
reciprocamente, o que não acontece com as ciências em
desenvolvimento, como a Psicologia.
Isso mostra o quão difícil se faz tecer qualquer tipo de conceituação acabada em
torno da Psicologia Jurídica, vez que surge de encontros históricos entre Psicologia e Direito.
Nesse percurso não-linear, cabe interrogar os saberes e fazeres da Psicologia Jurídica,
desnaturalizando verdades e abrindo passagem para novos fluxos e novas práticas.
Psicologia Jurídica ou Psicologia Forense?
É importante ressaltar, sucintamente, a discussão existente entre Psicologia Jurídica e
Psicologia Judicial, Forense ou Legal. Embora alguns autores confundam referidas
terminologias, essas são duas modalidades de atuação com diferenças marcantes.
A Psicologia Judicial, Forense ou Legal que inicialmente se ligava à Psicologia Criminal
e à Psicologia do Testemunho é aquela que aparece no intuito de facilitar a inserção ou
aplicação dos processos psicológicos à prática de trabalho do jurista.
 O termo forense, conforme o Pequeno Dicionário Jurídico, quer dizer: “pertencente
ao foro judicial ou que nele é usado; relativo a juízes e tribunais”, logo mostra-se como uma
terminologia que restringe o campo de atuação da disciplina, uma vez que o profissional
ligado a essa área atuaria exclusivamente na conjuntura do fórum, tendo, portanto, sua atividade
limitada ao referido contexto.
De outra banda, encontra-se a Psicologia Jurídica que trata da fundamentação
psicológica e social do Direito e da Justiça. A palavra jurídica é bem mais abrangente, pois
envolve além de procedimentos inerentes aos Tribunais, aqueles que são de interesse do
jurídico, sem, contudo, serem frutos da atividade do jurista.
Deste modo, a psicologia jurídica interessa-se por temas e atuações não apenas
circunscritas aos Tribunais de Justiça, mas, também àquelas que envolvem as instituições
jurídicas – Conselhos Tutelares, prisões, abrigos, unidades de internação, organizações não-
governamentais, instituições de cumprimentode medidas socioeducativas para adolescentes
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que cometeram atos infracionais, entre outras. E assim os temas que interessam à Psicologia
Jurídica não se restringem ao âmbito forense.
A perícia psicológica: novamente ou, ainda, uma prática a ser transposta?
A prática da perícia, conforme mencionado anteriormente ganhou espaço em virtude
da influência do ideário positivista predominante no século XIX, em que se almejava obter
dados cada vez mais exatos no intuito de dar maior sustentabilidade e exatidão às decisões
jurídicas. Desse modo, “a perícia estabeleceu o campo de atuação da Psicologia Jurídica na
busca da verdade através da prova pericial” (SILVA, 2003, p. 7).
Nesse período, o exame pericial era realizado visando principalmente averiguar as
condições dos indivíduos acerca de sua sanidade mental, capacidade de discernimento e
periculosidade. Conforme estudos de Rauter (1994), Altoé(2001) lembra-nos que os exames
periciais quando feitos nas penitenciárias e hospitais psiquiátricos penais eram usados para
instruir processos de livramento condicional, comutação de penas, indulto e, freqüentemente,
para avaliar se um detento poderia sair da cadeia ou não, se ele poderia retornar ao chamado
convívio social, se ele merecia uma progressão de regime etc.
Destarte, o que se constata é que a grande maioria do conteúdo destes laudos advindos
de exames criminológicos trazia uma densa carga de preconceito, além de estigmatizar a
pessoa que ia para a prisão. Ademais, muitas vezes tais laudos nada tinham de teor científico,
pois repetiam a mesma visão preconceituosa advinda da própria sociedade.
Com o passar do tempo, a prática da perícia expandiu-se em múltiplos contornos.
Ela não mais se fixava somente na elaboração de psicodiagnósticos de natureza criminal,
tornava-se, sim, uma prática freqüente em diversos setores da Psicologia, tais como: escolar,
clínico, industrial e, notadamente, jurídico. Na esfera jurídica, ainda são freqüentes as
solicitações de psicodiagnósticos em torno de pedidos de interdição, incapacidade para os
atos da vida civil, guarda de filhos, indenização, cessação de periculosidade, dentre outros.
A perícia visa a assessorar os órgãos judiciários, dando subsídios através de
conhecimentos técnico-científicos especializados, no intuito de levar, para os autos de um
processo, informações, as quais muitas vezes escapam ao saber jurídico, servindo, dessa
forma, para orientar a tomada de decisão por parte da autoridade judicante. Esta não está,
entretanto, obrigada a seguir o laudo pericial, uma vez que o magistrado norteia-se pelo
Princípio do Livre Convencimento Motivado, podendo, por conseguinte, criticar, acolher ou
rejeitar o laudo, de acordo com seu convencimento.
Válido ressaltar que o laudo consiste no resultado de uma perícia, em outras palavras,
é a forma de materialização da perícia no processo, cujo objetivo é apresentar resultados
conclusivos (diagnósticos) acerca da matéria posta em análise, servindo, de prova ou mesmo
de consulta elucidativa sobre determinado ponto. De acordo com Cruz (2002, p. 272):
No exercício da peritagem e na elaboração do laudo, cabe ao psicólogo
organizar as informações decorrentes da avaliação psicológica
realizada em linguagem cientificamente aceitável, pautando-se pela
objetividade nas afirmações, argumentos e descrições dos dados
coletados. Enquanto resposta a um quesito legal é da natureza do
laudo subsidiar e contribuir à tomada de decisão judicial.
36 Revista do UNIPÊ, 12 (2), 2008.
Todo esse cuidado na realização da perícia e na elaboração do laudo se faz necessário,
tendo em vista a possibilidade de invalidação dos mesmos, em caso de comprometimento da
qualidade e do teor dos instrumentos utilizados. Igualmente, é de fundamental importância
uma leitura interdisciplinar, capaz de unir os conhecimentos produzidos pela ciência psicológica
e jurídica, justamente visando à compreensão do diagnóstico produzido.
Do ponto de vista legal (Código de Processo Civil), a perícia, notadamente a
psicológica, constitui o único recurso previsto, passível de utilização pela Psicologia Jurídica,
como forma de auxiliar a Justiça (CEZAR-FERREIRA, 2004, p. 118). Isso se explica em
função de o Código de Processo Civil Brasileiro (2002) apresentar no seu Livro I: Capítulo
V do Título IV, intitulado: Dos Auxiliares da Justiça, através dos arts. 139 e 145 a 147, o
perito como auxiliar da Justiça, trazendo ainda os critérios referentes à habilitação e nomeação
do mesmo; como também o Capítulo VI, do Título VIII, intitulado como Das Provas, indicar
nos arts. 420 a 439, todo o procedimento para a realização da prova pericial.
Cabe lembrar também que, com a revisão de 1984 e a entrada em vigor da Lei de
Execuções Penais (LEP), os presos e internados para o cumprimento de suas sanções passaram
a ter direito à assistência material e à saúde, bem como assistência jurídica, educacional e
religiosa. Conforme aponta Kolker (2005), curiosamente, não há menção à assistência
psicológica. Fala-se somente em classificação dos apenados, por meio da avaliação a ser
feita por uma Comissão Técnica de Classificação (CTC), presidida pelo Diretor do
estabelecimento prisional e composta, no mínimo, por dois chefes de serviço, um psiquiatra,
um psicólogo e um assistente social. Além de avaliar para orientar a individualização da
execução penal, até 2003, coube à CTC também realizar exame criminológico com presos
com direito a livramento condicional ou progressão de regime. Desde 2003, esta deixou de
ser uma obrigação, permitindo tais profissionais desenvolverem trabalhos terapêuticos e de
ressocialização com os apenados.
 A criação do cargo de psicólogo jurídico se deu somente a partir de 1990, quando
os mesmos passaram a atuar como funcionários concursados, nas diversas Varas: Infância e
Juventude, Família e Execução Penal, desempenhando atividades distintas daquelas exercidas
pelos peritos autônomos.
Assim, a atuação nessa nova área de saber pode se fazer por outros caminhos e
possibilidades, que não somente a realização de perícias. Como bem demarcou França (2004,
p. 75), a realização da perícia é uma das possibilidades de atuação da Psicologia Jurídica,
mas não a única.
Tudo isso encontra respaldo ao se reconhecer na perícia uma forma limitada e
reduzida de produzir conhecimento a partir de um recorte parcial da realidade individual, a
qual não vislumbra a totalidade humana, mas tão somente uma parte dela. E o que é pior, essa
visão é tratada, por muitos, como a verdade absoluta sobre o indivíduo.
Hoje, a própria Psicologia reconhece que teve suas práticas e seu olhar historicamente
direcionados para a identificação das deficiências e patologias humanas. Exige-se, portanto,
da Psicologia Jurídica uma postura mais crítica, repensando a prática da perícia, distante das
antigas funções, puramente psicotécnicas e, assim, reafirmando o compromisso da Psicologia
com a ética e o bem-estar do ser humano.
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Apostas finais: atuações psicojurídicas e a construção transdisciplinar do
conhecimento
Sendo assim, também têm sido possibilidades de atuação em Psicologia Jurídica:
colaborar com o planejamento e a execução de políticas preventivas de combate à violência,
à criminalidade e à exploração sexual infanto-juvenil; criar condições favoráveis ao
cumprimento efetivo dos direitos humanos; investigar as implicações do jurídico sobre a
subjetividade individual; realizar a mediação por intermédio de intervenções que contribuam
para que, eticamente, as pessoas se responsabilizem por seus conflitos e procurem resolvê-
los; além de acompanhar e oferecer a devida orientação para cada caso pertencente aos
diversos setores da Justiça, tais como: separações, divórcios, processos de disputa de guarda,
adoção, violência de gênero, tratamento de pessoas com transtornos mentais que cometeram
crimes etc.
Apesar da resistência para se sintonizar saberes produzidos em diferentes loci numa
esfera transdisciplinar, a aposta

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