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Ecobairro um conceito para o desenho

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1 
 
ROGÉRIO PAULO 
AZEVEDO MOREIRA 
SILVA GOMES 
ECOBAIRRO, UM CONCEITO PARA O DESENHO 
Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos 
requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Planeamento do 
Território – Ordenamento da Cidade, realizada sob a orientação científica do 
Doutor Jorge Carvalho, Professor Associado Convidado da Secção Autónoma 
de Ciências Jurídicas e Políticas da Universidade de Aveiro. 
 2 
 
Universidade de Aveiro 
Ano de 2009 Ecobairro, um conceito para o desenho urbano 
 
2. O MOVIMENTO MODERNO E A NATUREZA 
A transição entre o século XIX e XX foi caracterizada por acções higienistas 
com o object ivo de resolver as carênc ias e precar iedades das habi tações, bem 
como a deterioração das condições de vida advindas da revolução industr ial. 
Enge ls f az um a desc r i ção da rea l id ade da época , nom eadam ente das 
recém urbanizadas cidades como, por exemplo, Manchester ou Londres, onde se 
sentem problemas sociais e ambientas ta is como: pobreza, fa l ta de habitação, 
equipamentos sociais insuf icientes para a população, falta de espaços de lazer, 
inexistência de recolha de lixo, inexistência ou inef icácia de saneamento básico, 
congest ionamento do tráfego, ruas estreitas dif icultando a c irculação do ar e dos 
raios solares, poluição com a consequente má qualidade do ar, falta de espaços 
verdes, degradação do ambiente urbano e dos “recursos natura is” (Benévolo, 
1997:565-566). 
Este é um período marcado pela migração das populações rurais para os 
aglomerados urbanos, tendo como consequência a expansão urbana em meio de 
condições humanas precárias . Esta sociedade industr ial emergente é elemento de 
ref lexão, surgindo concepções urbaníst icas que têm como or ientação a resolução 
dos problemas desta nova cidade que suscita temores pela desordem. Torna -se, 
pois, imperat iva a procura de modelos alternativos à cidade existente. 
Para percebermos como as c idades dos países industr ial izados resolveram 
os seus problemas sócio-ambientais, é importante analisar algumas das propostas 
urbanísticas desenvolvidas entre o século XIX e XX. Pretendemos com a análise 
desses modelos de cidade retirar soluções que sejam aplicadas ao bairro, estudar 
propos tas nas qua is se re lac ionam núc leos res idenc ia is com o am biente ou 
natureza, pois foram estas que criaram formas de ocupação alternativas à cidade 
industrial. 
«As soluções dadas pelo Urbanismo sempre est iveram baseadas na ideia 
de modelo, ou de esquema ideal estabelecido aprioristicamente, a cujos ditames o 
pro jecto urbanís t ico tem procurado até agora submeter , por um verdadeiro acto 
de força , a rea l idade. [ . . . ] Daí impor -se a conc lusão de que não será possível 
sup era r s em e lha n t e es t ad o d e c o is as s e m reco r re r a um Urb an ism o m enos 
teór ico e mais humano. É o que se começa a fazer em vár ias partes do mundo, 
g raças , en t re out ros fac tores , à fo rça e rea lce que ganha d ia -a -d ia a ques tão 
 3 
 
Universidade de Aveiro 
Ano de 2009 Ecobairro, um conceito para o desenho urbano 
eco lóg ica e am bienta l no hor i zon te da soc iedade con tem porânea.» (CHOAY, 
2000: contracapa) 
Com o re ferênc ia para desenvo lve rm os a pesqu isa apresentada nes te 
capítulo uti lizamos a classif icação feita no livro “O urbanismo” de Françoise Choay 
(2000), no qual a autora faz uma revisão crí t ica das pr inc ipais ideias de vár ios 
autores e pensadores dos séculos XIX e XX, c lass if icando essas propostas de 
culturalistas, progressis tas e naturalistas, três modelos que se distinguem pelo tipo 
de projecções espaciais e de imagens da c idade futura. O pr imeiro está associado 
à nostalgia da ant iga c idade orgânica, o segundo à cr iação de uma nova cidade, 
assente nas novas técnicas e no funcional ismo, e o terceiro refere-se ao modelo 
utópico criado por Frank Lloyd Wright. 
2.1 O modelo urbano culturalista 
Will iam Morr is (1834-1896) inspira-se na harmonia das ruas e c idades do 
p a s s a d o e d e f e n d e c o m o i d e a l a o r g a n i c i d a d e , s e n d o a i r r e g u la r i d a d e , a 
diversidade e a simetria a marca dessa ordem orgânica (Choay, 2000:13). 
Cons idera que a supressão da d i ferença entre c idade e campo fo i uma 
mudança produzida pelas pessoas que invadiram as aldeias, pois em muito pouco 
tempo as aldeias da Inglaterra f icaram mais populosas, cresceram rapidamente, a 
c idade invadiu o campo diminuindo as suas diferenças. Para Morr is, em prol da 
modern idade e como jus t i f icação des ta , com eteram -se er ros quer nas c idades 
quer contra a paisagem natural. No passado, as terras inc ultas e as florestas eram 
sinónimo de atraso, de abandono. Mas Morr is é defensor das f lorestas como se 
fossem jardins, devendo estas permanecer o mais natural possível, com as suas 
belas rochas e madeira para a construção que, segundo o autor, seriam úteis para 
muitas gerações futuras. Morr is propõe verdadeiras “ reservas natura is” , po is 
preocupa-se com a preservação das f lorestas no seu estado natura l , as quais 
d e n om in a d e p e d a ç os d e n a t u r e za s e l va g em q u e t am b ém t êm um a f u nç ã o 
ut i l i tár ia e nostálgica, no sent ido em que devolvem ao homem urbano os prazeres 
da vida simples e do campo (Choay, 2000:132-136). 
No capítulo intitulado City and Country do seu livro “Social Problems”, em 
1884, Henry George escreveu: «As imensas populações dessas grandes c idades 
estão completamente frustradas de todas as agradáveis influências da natureza. A 
grande maior ia delas nunca põe, do começo ao f im do ano, os pés sobre o solo. 
Esta v ida das grandes c idades não é a v ida natura l do homem». A le i tura deste 
l i v r o b e m c o m o o l i v r o “ L o o k i n g B a c k w a r d ” d e E . B e l l a m y s ã o o b r a s q u e 
 4 
 
Universidade de Aveiro 
Ano de 2009 Ecobairro, um conceito para o desenho urbano 
in f luenc iaram e inspiraram a famosa teor ia da garden -c i ty de Ebnezer Howard 
(1850-1928) (Choay, 2000:219). 
É , p o i s , n o f i n a l d o s é c . X I X e i n í c i o d o s é c . X X q u e o p e n s a m e n t o 
cultural ista ganha forma, fundando-se na primeira resposta prát ica à problemática 
da cidade industr ial através de Ebenezer Howard, considerado o pai das cidades -
j a rd im . Ho war d co ns eg u iu p ô r em p rá t i c a a sua t e o r i a e em 189 9 f un do u a 
Associação para as Cidades - jard im; em 1903 adquir iu um terreno em redor de 
Londres e constru iu a c idade de Letchwor th e depo is W elwyn em 1919. Quer o 
livro “Town Planning in Pratice (1909)” de Raymond Unwim, quer os resultados das 
p r ime i ras exper iênc ias e a cons trução de am bas as c idades , passaram a ser 
referênc ias e modelos na Europa e nos Estados Unidos, e serviram de protót ipo 
para a cons t rução das c idades novas na Grã -Bre tanha pós Segunda Guer ra 
Mundial (Hall, 2002:112). 
A proposta de Howard baseia-se no facto de ele d iscordar que só existem 
duas possibi l idades de vida: a vida do campo ou a vida da c idade. Howard propõe 
uma terceira hipótese: viver com as vantagens da act iv idade da c idade e toda a 
beleza e delíc ias do campo, combinando-as numa forma perfeita. Considera assim 
a s c i d a d e s e o s c a m p o s ím a n s d e a t r a c ç ã o , c a d a u m o f e r e c e n d o a s s u a s 
espec if ic idades vanta josas para que se tornem num só. Para Howard, a c idade e 
o campo oferecem vantagens diferentes por comparação. A cidad e é símbolo de 
s o c i e d a d e , d e a j u d a m ú t u a e c o o p e r a ç ã o a m is t o s a , d e o p o r t u n id a d e s d e 
em preg o , d e p r og r es so , d e c iê nc iae de a r t e . O cam po é s ím bo lo de b e las 
paisagens, ar f resco, murmúrio das águas. Howard tem como object ivo elevar o 
nível da saúde e do bem estar de todos os trabalhadores. Cons idera que esta 
separação entre a soc iedade e a natureza é ant i -natura l ; nem a c idade, nem o 
campo, cumprem completamente o ideal de uma vida feliz, realizada e saudável. A 
solução ser ia então unir a c idade com o campo, união de onde germ inar ia uma 
nova vida, uma nova esperança, uma nova civi l ização. Assim, Howard estabelece 
um m odelo de c idades autónom as , ou se ja , au to -su f ic ien te econom icam ente 
(Choay, 2000:220; Hall, 1997:108). 
O m o d e lo d a c i d a d e - j a r d im , em r e s um o , c a r ac t e r i za - s e p o r g r a n d e s 
terrenos circulares, pouco ocupados por construções, espaço l ivre e áreas verdes 
com belos jard ins , inc lusive jard ins cober tos, is to é, um palác io de v idro para o 
lazer nos d ias de chuva, e aven idas sempre arbor izadas formando corre dores 
verdes e parques. O cresc imento da c idade - jard im acontecer ia de forma orgânica 
e natura l , preservando os terrenos e parques em vez de ocupá - los . Estas áreas 
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Ano de 2009 Ecobairro, um conceito para o desenho urbano 
f icar iam intac tas e as c idades crescer iam sa l tando por c ima destes parques, 
conservando sempre um cinturão verde à sua volta (Choay, 2000:221 -228). 
A c idade é apresentada em diagramas; no entanto, Howard expl ica que o 
seu modelo de c idade jardim não se trata de um desenho def init ivo, mas de um 
conceito, pois deve ser adaptado às características dos locais a ser implementado 
para aí, sim, tomar a sua configuração def init iva (Ottoni, 2002:41). 
Howard in f luenc iou au to res com o Le Corbus ie r , quando p rop õe a sua 
c idade contemporânea em 1929 no Salão de Outono de Par is, ass im como Unwin 
e G e d d e s o u am e r ica n o s d a e s c o la d e C h i c a g o , t a i s c om o L e w is M u m f o r d 
(Fre i tag, 2006:78) . Howard pode ser cons iderado o precursor de uma ecologia 
urbana, pois no seu modelo evidencia-se a articulação da cidade com a natureza, 
comunidades de tamanho médio, trabalho, cultura e lazer (Freitag, 2006:78). 
Considerarmos este modelo de cidade um ponto chave de abertura para o 
desenvo lv imento de um urbanismo eco lóg ico; por consegu inte , retomaremos o 
tema da cidade jardim num capítulo posterior. 
2.2 O modelo urbano progressista 
Robert Owen (1771-1858) é um crítico do liberalismo e apresenta propostas 
r e f o r m i s t a s . L a n ç a a s b a s e s p a r a a p r á t i c a d a e s c o l a r i d a d e o b r i g a t ó r i a 
cons iderando-a como um método para produzi r hom ens completos . Acred i tava 
que t inha chegado o momento para a mudança ser produzida, uma nova era para 
o homem novo, com um habitat novo. Para isso estabelece um modelo de c idade 
a u t o - s u s t e n t á v e l e a u t o - g o v e r n á v e l , c a b e n d o p o r é m a o g o v e r n o a 
responsabi l idade para ta l mudança, ou se ja, a determ inação de vár ios núc leos 
com 500 a 2000 habitantes. (Choay, 2000:62) 
Robert Owen propõe bairros nos quais se dist inguem vár ios conjuntos de 
quadrados formados por prédios, para cerca de 1200 pessoas, ro deados por 1000 
a 1500 acres (404,694 a 607,042 hectares) de áreas verdes. No espaço centra l 
dos quadrados são prev is tos ed i f íc ios púb l icos: a cozinha, com o restaurante 
comum, as escolas, a bibl ioteca; o restante espaço l ivre é arbor izado e serve para 
a recreação e os campos desport ivos. Em redor destes quadrados encontram -se 
estradas, jardins e áreas verdes para isolar as zonas de indústr ia das residenciais, 
t e n d o e s t a s á r e a s ve r d e s t am b ém f u n ç õe s a g r í c o l a s ( C h o a y , 2 0 0 0 : 6 2 - 6 3 ; 
Benévolo 1997:567). 
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Universidade de Aveiro 
Ano de 2009 Ecobairro, um conceito para o desenho urbano 
Owen tenta pôr em prát ica o seu plano apresentando -o ao governo inglês 
entre 1817 e 1820 mas sem sucesso. Por conta própr ia, compra um terreno em 
Indiana, na América, adaptando-se a uma aldeia já aí existente. No entanto, a sua 
experiência vem a fracassar alguns anos mais tarde (Benévolo, 1997:568). 
É em New Lanark (f ig. 1), na sua fábrica, que Owen idealiza uma vila modelo 
para 1200 habitantes, com o sent ido e object ivo de cr iar uma comunidade auto-
sustentável pela relação próxima com a indústr ia e a produção agrícola. Empenha se 
na melhor ia da qualidade de vida dos seus trabalhadores, fundamentalmente 
através da redução das horas de trabalho, da prát ica da escolaridade obr igatór i a e 
do melhoramento do habitat (Choay, 2000:61). 
Fig. 1 Vista aérea de Newlanark 
Fonte: http:/ /www.newlanark.org/gal lery.php 
Em França, Char les Four ier (1772 -1837) cons idera que a soc iedade só 
p o d e r á u l t r a p a s s a r e r e s o l v e r o s s e u s p r o b l e m a s q u a n d o f o r f e i t a a s u a 
rees t ru turação rad ica l . Para desenvo lver a produção, l i ber ta r -se do f l age lo 
civil izacional passageiro que atravessa, assim como da pobreza, realizar o homem 
to ta l e rees t ru turar -se , a soc iedade deverá pôr em prá t ica a assoc iação e a 
cooperação (Choay, 2000:68). 
Fourier salienta a importância de se fazer recurso às artes para estimular a 
s e n s i b i l i d a d e h u m a n a , p a r a c o n s e g u i r b e l e z a e s a ú d e o u s o l u ç ã o p a r a a 
 7 
 
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Ano de 2009 Ecobairro, um conceito para o desenho urbano 
 
construção de res idênc ias e ambientes harmoniosos. Recomenda que todas as 
casas da c idade possuam, entre pát ios e jardins, pelo menos tanto terreno vazio 
quan to ocupa a sua super f íc ie cons t ru ída , cons iderando o a f as tam ento ent re 
casas a forma de garantir vent ilação e salubridade dos locais. Na rua, os edif ícios 
não poderão exceder em altura a largura da rua, prevendo reservar um ângulo de 
45º na fachada enquanto que dos lados será um oitavo da largura da rua. As ru as 
d e v e m s e r v o l t a d a s p a r a a s p a i s a g e n s c a m p e s t r e s o u m o n u m e n t o s d a 
arquitectura e serem arbor izadas. Sugere, ainda, que algumas ruas sejam curvas, 
pois com esta forma rejeita a monotonia do tabuleiro de xadrez. As praças, como 
áreas de lazer, devem ocupar pelo menos um oitavo das superf íc ies. Em vez de 
muros fechados, as casas e edi f íc ios devem ser cercados com grades vazadas, 
de forma a permitir a contemplação dos jardins por todos os moradores e vizinhos 
(Choay, 2000:69-70). 
Four ier cons idera que se devia desviar o espír i to de propr iedade simples 
pa r a p r op r i ed a de c o m pos ta , on de o e l e m en to d a soc i ed ad e é a com un a . A 
com una– t i po , ou fa lange , f o rm ada po r 1620 pessoas de d i f e rentes pos ições 
soc ia is , dever ia possuir um terreno de uma légua quadrada (250 hectar es) onde 
se situar ia um grande edif ício para a habitação – o falanstério. Fourier descreve-o 
com um pát io cent ra l e vár ios pát ios m enores , am bos os t ipos serv indo para 
jardim e passeios. Cada andar corresponde a funções diferentes, a comunicação 
interna é feita por c irculações c l imatizadas e ruas galer ia (Benévolo, 1997:568). 
Choay cons idera o fa lanstér io de Four ier um modelo de habi tação colect iva que 
inicia o zonamento das funções, ou seja, separa as funções por alas e pisos, quer 
seja serviços, equipamentos, habitação, comunicação, etc. (Choay, 2000:9). 
O m ode lo de Four ie r exerceu um for te fasc ín io em m ui tos países e as 
tentativas de o pôr em prática são cerca de cinquenta e espalham -sepela França, 
Rússia, Argélia e América entre 1830 e 1850 (Benévolo, 1997:568). 
Inf luenciados por Four ier , Victor Considérant (1808 -1893) e Jean-Baptiste 
Godin (1819-1888) propõem edifícios inspirados no falanstério. 
Para Victor Considérant a transformação do caos em ordem passaria pelas 
relações societár ias e pela construção do palácio onde o homem deve morar com 
ar te, previsão e harmonia. O palác io ergue -se no meio de um jard im, como uma 
i lha de mármore banhada por um oceano verde. No meio do palác io ex is te uma 
praça ou pá t io pr inc ipa l com o pon to de reun ião, de chegadas e p ar t idas . O 
pensamento uni tár io pres ide à d ispos ição de todos os serviços, nomeadamente 
para a d istr ibuição de água, a part ir de depósitos; a calefacção é estabelecida a 
 8 
 
 
Universidade de Aveiro 
Ano de 2009 Ecobairro, um conceito para o desenho urbano 
part ir do calor que se perde das cozinhas, que é ut i l izado para aquecer todas as 
partes dos edifícios, ruas galeria e banhos; o próprio modelo de iluminação geral é 
r egu lado pe la m esm a ide ia un i tá r ia . Os g randes espaços de i xados en t re os 
prédios seriam compostos de árvores e maciços vegetais, ornados por esculturas, 
com pequenos lagos re f rescantes , p roporc ionando inc lus ive espaço onde os 
idosos e os convalescentes poder iam também dis tra ir -se, respirando ar puro e 
beneficiando do sol (Choay, 2005:77-86). 
Também Jean-Baptiste Godin, um industrial de Guise, realiza para os seus 
operár ios um edif íc io que denominou de famil is tér io (Fig. 2). O edif ico pr incipal 
compreendia três blocos de quatro andares, com pátios cobertos por vidraças. Os 
serviços estabeleciam-se em edifícios separados. Este conjunto, adequado a 1500 
pessoas, encontrava-se isolado num parque. Outros aspectos considerados vitais 
por Godin foram a garant ia de luz e ar em todos os espaços do famil is tér io, bem 
como nas áreas de uso comum, não faltando também espaço para a liberdade de 
movimentos de cada indivíduo (Benévolo,1997:568). 
Fig. 2 Familistério de Guise 
Fonte: http://morarcolet ivo.blogspot.com/2007/05/famil istrio.html 
J e a n - B a p t i s t e G o d i n c o n s id e r a n e c e s s á r i a u m a r e e s t r u t u r a ç ã o d o s 
métodos educacionais e e labora para o famil is tér io propostas para a educação, 
onde a jardinagem teria vital importância na educação e formação das crianças. O 
cu l t i vo e a m anu tenção dos j a rd ins t r a r iam , pa ra as c r ianças , o r espe i to a o 
trabalho do outro, sendo uma forma de exercitar a cidadania. Os jardins e as áreas 
verdes ser iam os lugares para a l iberdade de movimentos ser exercitada, servindo 
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Universidade de Aveiro 
Ano de 2009 Ecobairro, um conceito para o desenho urbano 
também para o lazer de cada um. Porém, uma parte das áreas verdes, com 
características de ambientes mais elaborados e atractivos, seria reservada para 
ocasiões especiais: locais para as crianças fazerem os seus passeios em conjunto 
de classes, funcionando como uma recompensa (Choay, 2005:99-107). 
Já no início do séc. XX, o movimento moderno e designadamente os ideais 
progress istas têm cont inuidade nomeadamente em autores como Le Corbus ier 
(Charles-Éduard Jeanneret) e Walter Gropius. 
Le Corbusier (1887-1965), embora na prát ica tenha t ido poucas real izações, 
é um divulgador dos ideais do urbanismo progressista. As suas ideias são uma 
reacção à cidade onde viveu, Paris. Nas décadas de 1920 e 1930 o caos levara a 
m e l h o r s o b r e a o r d e m . C o r b u s i e r r e p u d i a v a o t r a ç a d o d a s c i d a d e s s u a s 
contemporâneas, pois os imóveis acumulavam -se nas ruas estreitas repletas de 
ba r u lh o , d e ch e i ros e d e po e i ra . A c id a de to r n a ra - s e de nsa dem a is p a ra a 
segurança dos habi tantes. Nas suas cr i t icas à c idade refer iu cer ta vez que: «A 
grande c idade, [ . . . ] é hoje uma catás trofe ameaçadora, por não ter s ido mais 
animada por um espír i to de geometr ia. [ . . . ] As condições natura is foram abol idas! 
A c idade radiocêntr ica industr ial é um cancro que vai indo bem!» (c it . in Choay, 
2000: 184). 
Para Corbusier é importante t ipif icar as necessidades do homem pois estas 
são bas tante idênt icas , uma vez que os hum anos são bas icamente igua is . Ou 
seja, importa procurar a escala e a função humanas. Faz apologia da t ip i f icação, 
de se es tabe lecer um s tandard , e da m áquina, de term inando que “um a casa é 
uma máquina de habitar” (Choay, 2000: 185 -187). 
A i d e i a d e c i d a d e c o m o um t o d o n ã o i m p e d e q u e n a s u a a n á l i s e s e 
dist ingam as várias funções urbanas e classif ica quatro delas: habitar, tr abalhar, 
cult ivar o corpo e a mente e circular. A cidade corbusieriana organiza -se em torno 
dos seguintes temas: separação das funções urbanas, multipl icação dos espaços 
verdes, cr iação de protót ipos func ionais e rac ional ização do habi tat co lect ivo 
(Benévolo,1997:630). 
 10 
 
 
Universidade de Aveiro 
Ano de 2009 Ecobairro, um conceito para o desenho urbano 
Fig. 3 Desenho de Le Corbusier – edifícios espaçados no verde. 
Fonte: Benévolo,1997:633 
Os edifícios estão expostos directamente ao verde e ao sol; as ruas para os 
carros são sobreelevadas, sem interferir no caminho dos pedestres. A unidade de 
habitação é o elemento morfológico de organização da cidade. Corbusier, na sua 
proposta, def iniu dimensões mínimas para as unidades de habitação, garant indo 
uma grande densidade humana por m
2
 e a ocupação de uma pequena parcela do 
so lo , sendo o res tan te espaço um parque verde . Ca lcu lou num a un idade de 
habitação alojar 1600 pessoas, cobr indo 4 hectares, tendo 50 metros de altura e 
sendo cada unidade separada das outras 150 a 200 metros (Benévolo, 1997:631; 
Choay, 2000:191; Lamas, 2007:352). 
Vár ios t ipos de edif íc ios são distr ibuídos por um grande espaço verde, ou 
se ja , a c idade é conceb ida com o um grande parque, cons iderando que des ta 
fo rm a a natureza é de novo va lor i zada . Corbus ier com para o seu m ode lo de 
“c idade rad iosa” com as c idades - j ard im hor izonta is , cons iderando que es tas 
prec isam de mais hectares para terem a mesma dens idade que uma das suas 
unidades de habitação, causando o que denomina de grande dispersão. Corbus ier 
constata que as c idades suas contemporâneas têm uma proporção de aumento 
de dens idade inversa ao aum ento das áreas verdes . Cons idera que as novas 
c i d a d e s s ó d e vem aum e n t a r a s u a d e n s id a d e d e s d e q u e h a ja um a um e n t o 
cons ideráve l das suas super f íc ies p lan tadas , f unc ionando estas áreas verdes 
com o o pu lm ão da c idade e , ao m esm o tem po , v iab i l i zando a d im inu ição do 
caminho a ser percorr ido. Para ele o terreno ideal para a nova cidade seria plano, 
po is fornecer ia cond ições favoráve is para a c iv i l i zação se inte ns i f icar e para a 
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c irculação e o r io dever ia passar longe da c idade, pois cons idera -o como uma 
estrada de ferro sobre água onde circulam mercadorias (Choay, 2000: 190 -1 94). 
Na m esma época, W al te r Grop ius (1883 -1969) fo i p ro fessor na esco la 
Bauhaus, na Alemanha, e depois na Faculdade de Arquitectura de Harvard, nos 
Estados Unidos. A escola Bauhaus, da qual foi fundador, tinha como foco realizar a 
s í n t es e d as a r t e s e d a i n d ú s t r i a c om a c r i a ç ã o a r t í s t i c a . Os c o n c e i t os d e 
pa dro n i zaç ão , p ré - f a b r i c açã o e c r i açã o de um esp aço m ode rno sã o t em as 
f u n da m e n t a i s d a B a u h a u s n o q u e r e s p e i t a a o u r b a n i s m o . A s c i d a d e s d e 
Dammerstock, Karlsruhe e Siemenstad, na Alemanha, serviram de modelo para as 
teor ias preconizadas por Gropius, que considera que a repet ição de elementos 
standardizados, nomeadamente nos edif ícios, dar ia às cidades a homogeneidade 
própria de uma cultura urbana superior (Choay, 2000: 175-176). 
Gropius é a favor da verticalidade nos centros urbanos muito populosos. A 
c idade deve ser homogénea e ter uma estrutura d i la tada, desde que não tenda 
para a d ispersão pois deve ocupar a menor superf íc ie possível para conservar 
d i s tânc ias m ín im as . É a f avo r da d ispos ição do espaço predom i nan tem en te 
vert ical, por considerar que desta forma assegura a mesma quantidade de ar, de 
luz e de sol para um maior número de famí l ias por metro quadrado de superf íc ie 
útil do terreno (Choay, 2000: 179). 
C o n s t a t a n d o q u e o s c i d a d ã o s r e c l a m a v a m p o r u m a c i d a d e m e n o s 
congest ionada, mais espaçosa e mais verde, W alter Gropius apresentou ideias 
para uma nova “unidade urbana” , com uma população de c inco a o ito mil pessoas 
e uma capac idade industr ia l de do is a t rês m i l operár ios , cons iderando es tas 
un ida des c om o a b a se d e um a es t ru tu r a u rb an a r eg ion a l . Es tas “u n id a des 
urbanas” ser iam c idades verdes d issem inadas num cam po urban izado. Para 
Gropius, esta proposta cumpre a reconci l iação da c idade com o campo, um misto 
de c idade e campo. Cons idera que os progressos técni cos permitem transplantar 
a c ivi l ização urbana para o campo e, por consequência, devolvem a natureza ao 
coração das cidades. Com a criação de “unidades urbanas”, constitutivas de uma 
comunidade e regiões, acabar -se- ia com o antagonismo entre c idade grande e 
pequena, entre c idade e campo. O descongest ionamento ser ia resolv ido com a 
t ransferênc ia dos indiv íduos que não têm em prego f ixo para novas un idades 
urbanas e a ant iga c idade tornar -se- ia par te deste novo s istema adminis trat ivo, 
onde os seus bairros ter iam a função de centro regional orgânico (Choay, 2000: 
180-181). 
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O modelo progress is ta é amplamente d i fundido e expressado através do 
grupo dos C. I .A.M. (Congresso In ternac iona l de Arqui tec tura Moderna) que, no 
seu IV congresso de 1933, sob o tema “A Cidade Funcional” , elabora La Charte 
d ’ A t h è n e s ( a C a r t a d e A t e n a s ) , p u b l i c a d a e m 1 9 4 3 . N o e n t a n t o , o g r a n d e 
divulgador da Carta de Atenas, elaborando o texto f inal, é Le Corbusier (Lamas, 
2007:337, 342, 344). Os pr incíp ios da Carta de Atenas assentam no sol , espaço 
l ivre e verde e em quatro funções chave: habitar , t rabalhar, recrear -se e c ircular. 
As preocupações higienistas levavam à exigência de luz e espaços verdes, mas a 
forma de fornecer estes e lementos é des l igada do supor te f ís ico e b io lóg ico. 
(Magalhães, 2001 :92-94, 98; Lamas, 2004:344-345). 
2.3 O modelo urbano naturalista 
Contemporaneamente a Corbus ier e Gropius, porém apresentando uma 
p e r s p e c t i va d i s t i n t a d o u r b a n i s m o p r o g r e s s i s t a , t e m o s c o m o r e f e r ê n c i a o 
a rqu i tec to F rank Lo yd W r igh t ( 1869 -1959) , que se l i be r tou da t r ad ição dos 
a r q u i t e c t o s e u r o p e u s e p r o p ô s o c o n c e i t o d o e s p a ç o o r g â n i c o , s e n d o 
considerado um teór ico da dispersão e um an t i-urbanista. 
Wright cons idera que o c idadão convenientemente urbanizado vive dentro 
da desordem, pois o homem urbanizado ter ia trocado o contacto com a natureza 
pela agitação permanente, pela contaminação atmosfér ica e por um conjunto de 
celas de aluguer instaladas sobre a r igidez de um solo art if ic ial. Como resposta a 
esta problemática desenvolve os conceitos de liberdade total, individualidade e de 
espaço orgânico como elementos or ientadores da sua obra. Apresenta também o 
seu mode lo u tóp ico , Broadacre C i ty, em 1934, a t ravés de uma maquete e da 
publicação de três livros (Choay, 2005:235-236). 
Broadacre C i t y cons is te num m is to urbano - rura l com ba ixa dens idade 
res idenc ia l . Os ed i f íc ios dever iam assemelhar -se à natureza na sua fo rma e 
carácter do solo, ou seja, seguir linhas orgânicas. Ou seja, a beleza da paisagem é 
encarada não só como suporte mas como um elemento da arqui tectura (Choay, 
2005:241; Choay, 2005:31). 
O seu modelo de c idade também está vinculado ao uso do automóvel, pois 
vê neste não um problem a mas um al iado, uma vez que com o aumento da sua 
u t i l i z a ç ã o e e x t e n s ã o d a s v i a s é f á c i l c h e g a r a q u a l q u e r l a d o . A s s i m , a 
c o n c e n t r a ç ã o d e i x a d e s e r n e c e s s á r i a , s e n d o a c o n s t r u ç ã o d i s p e r s a a 
característica do modelo de Wright (Hall, 2002:67). 
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A estrutura viár ia é in tegrada na paisagem e ladeada por árvores e sebes. 
Os edif íc ios , ta is como res idênc ias, of ic inas e comércio, f icam a cur ta d is tânc ia 
das escolas e do mercado. Porém, os locais de trabalho f icam nas prox imidades 
das habitações. As escolas são envolvidas por campo, com terreno suf iciente para 
os a lunos f aze rem p lan tações . É um m ode lo m arcado pe la ap rox im ação do 
homem com a natureza. As áreas verdes adquirem um valor estét ico que contr ibui 
para o bem-estar do homem (Choay, 2005:241-245). 
2.4 Da cidade jardim ao exemplo de Village Homes 
Howard desenvo lve um d iagram a da c idade ja rd im , o qua l dever ia ser 
aperfeiçoado e moldado ao terreno. Segundo Howard ser ia uma cidade c om l imite 
f i xo , conceb ida pa ra 32 .000 h ab i tan t es (30 .000 na á rea u rba na e 2 .00 0 no 
c am p o ) , c om 4 0 0 h ec t a r es d e á r e a u r b an a r o d e a d a p o r um c i n t u r ã o ve r d e 
agricultável de 2.000 hectares; isto corresponderia a uma densidade urbana de 75 
hab/ hectare, ou uma dens idade to ta l da c idade de 13 hab/hectare. Quando a 
c idade jard im at ingisse o l im i te p laneado, então começar -se- ia outra a pouca 
d is tânc ia da já ex is ten te , conservando um c in turão de campo ou de jard im em 
volta das cidades. Segundo Hall, Howard deu a esta visão policêntrica o nome de 
cidade social (Ottoni in Howard, 2002:44; Hall, 2002:109). 
A p rop r ieda de do so lo u rbano é d a com un idade da c id ade , po rém os 
hab i tan tes não são propr ietár ios das casas e das empresas. «Howard es tava 
menos interessado em formas f ís icas do que em processos soc ia is . A chave de 
tudo es tava em que os c idadãos ser iam propr ie tár ios perpétuos da ter ra .» A 
aquis ição das terras para a nova c idade ser ia regis tada em nome de industr ia is 
q u e a r r e n d a r i am a o s f u t u r os m or a d o r es . H o wa r d d e f e n d ia a l i b e r d a d e e o 
cooperativismo para todo o plano. (Hall, 2002:109; Ottoni in Howard, 2002:42). «O 
leitor de hoje, ao consultar o seu livro, surpreende-se vendo que grande parte dele 
são páginas de cálculos financeiros.» (Hall, 2002:112). 
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Fig. 4 Distribuição dos espaços e actividades dentro da Cidade -Jardim 
Fonte: http:/ /urbanidades.arq.br/bancodeimagens/ 
Howard preconiza no seu diagrama (f ig. 4) um modelo de c idade circular, 
cor tada por 6 bou levards e com um a aven ida centra l de 125m que fo rm a um 
parque l inear com mais de c inco qui lómetros. O centro será onde se concentram 
as ac t i v idades com erc ia i s e adm in is t r a t ivas . A zona ane la r é des t inada às 
habitações, cada uma provida de um jardim. A zona industr ial desenvolve -se na 
periferia e ao longo da linha férrea, pois esta será a forma de facil itar e escoar a 
produção. Os usos e actividades (comércio, serviços, habitação e indústr ia) são 
separados por áreas verdes. O sistema de organização viário abre o interior do 
quar te irão, deste modo rompendo com a estrutura t radic ional do quarte irão. O 
acesso às hab i tações f az - se po r r uas em cu l - de -sac . Ass im , as hab i tações 
deixam de ter contacto d irec to com a rua barulhenta. Howard tem ainda como 
pr inc íp io a separação dos peões dos automóveis , ret irando o peão da rua, dado 
q u e e s t e p a s s a a d e s l o c a r - s e p e l a s r e d e s d e c a m i n h o s p e d o n a i s , e 
estabelecendo que a rua tem como pr inc ipal função a c i rculação de veículos. 
Sus ten ta a ide i a de ag r i cu l t u ra suburba na com c in tu rões ag r í co las que se 
desenvolvem em conjunto com as zonas industr iais, separando -as de outros usos 
e act iv idades, e servindo também para absorver os resíduos da c idade, ass im 
ut i l izados nas parcelas agrícolas da propr iedade, sít ios, lo tes, pastagens, etc. 
(Ottoni in Howard, 2002:41; Choay, 2000:222-225). 
É um modelo de c idade auto-suf ic iente, pois tem indústr ia para fomentar 
em p r e g o , h a b i t a ç ã o p r ó p r i a e a l im e n t aç ão q u e p r o vém d o d e se n vo l v im e n t o 
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própr io da agr icultura urbana. Howard ideal izava comunidades const ituídas por 
vontade própria e autogovernáveis (Hall, 2002:111; Choay, 2000:224). 
Em 1903 foi registada a “First Garden City Company” e um ano depois a 
pr imei ra c idade jard im, Lec tchwor th , pro jec tada por Unwin e Parker . O loca l 
escolhido está dentro dos cr i tér ios de Howard: uma área de 4000 a 6000 acres, 
boas conexões ferroviárias, abastecimento de água satisfatór io e boa drenagem. 
Porém, foi dif íc i l atrair a indústr ia. Unwin e Parker também real izam Hampstead 
(1909), o que, segundo Peter Hall , s ignif ica uma viragem para o movimento da 
c idade jardim e para Unwin. Hampstead propõe -se não como cidade jardim, mas 
com o subúrb io j a rd im ; não t i nha indús t r ia e para os serv iços depend ia por 
completo da estação de metro. Está, portanto, longe da ideia de c idade jardim 
auto-suf ic iente defendida por Howard. Não foi, no entanto, a única tentat iva do 
género. (Hall, 2002:112-117; Ottoni in Howard, 2002:45, 71). 
«As teor ias de Howard e os princípios de desenho urbano de Unwin terão 
importantes repercussões, inf luenciando o urbanismo do período entre as duas 
guer ras» (Lam as , 2004 :311) . Após a Pr im e i ra Guer ra Mun d ia l , em 1919 , o 
planeamento de novas cidades em Inglaterra, com destaque para a reconstrução, 
para os problemas habitacionais e perspect ivas para a melhor ia da qualidade de 
vida, tem como marco inicial a aprovação do “Housing Act”. Acredita -se que é o 
m om ento p a ra a c on s t ruçã o das c i d ad es j a rd im e H o ward é p res id e n t e do 
“National Garden Citt ies Committe”. Porém, e apesar das expectativas, a polít ica 
habitacional aprovada tem um car iz imediat ista e desenvolve -se a construção de 
um grande núm ero de casas ind isc r im inadam ente , pondo em causa qua lquer 
visão de planeamento. É após a Segunda Guerra Mundial, e com expectativas em 
muito semelhantes às de 1919, que se desenvolve e se aprova um programa de 
enorme s im i l i tude ao proposto por Howard, o “New Towns Act” , d e 1946, que 
desem penha um im por tan te pape l na urban ização de Ing la ter ra e acaba por 
in f luenc iar tam bém out ros países , en t re os qua is se encon t ram a França, a 
Alemanha, a Rússia, a Itália e os Estados Unidos. 
Nos EUA, em 1920, um grupo de indivíduos onde se incluem Lewis Mumford 
e C larence Ste in , j un tam -se para dar cont inu idade ao conce i to de Howard e 
formam a “Regional Planning Associat ion of América”. O grupo t inha a convicção 
de que a soc iedade metropol i tana concentrada devia ser subst i tu ída por uma 
descentral izada, baseada em regiões ambientalmente equil ibradas. O grupo foi 
d i s s o l v i d o n o s a n os 3 0 , e s t a n d o p o r ém e n vo l v i d o n o d e s e n vo l v im e n t o de 
Sunyside, um bairro comunitár io em Nova Iorque, composto por casas agrupadas 
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em torno de um espaço aberto que per tencia à comunidade (Ot toni in Howard, 
2002:71-90; Hall, 2002:124). 
O modelo de Howard inspirou ainda Clarence Stein e Henry Wright para os 
esquemas em Radburn, em 1928 (F ig. 5) , onde prevêem uma malha regular , a 
sep araç ão da c i r c u la ção a u t om óve l e de pe ões , a c r i açã o de um a re d e de 
caminhos pedona is , a redução do logradouro pr ivado em favor do espaço l ivre 
para a ut i l i zação púb l ica e despor to, a or ientação dos espaços pr inc ipa is das 
casas para jard ins e a cr iação de fa ixas de espaço verde, desenvo lvendo um 
parque ramif icado pela c idade. Lamas cons idera Radburn como o momento de 
ruptura com a c idade tradic ional , propondo -se como modelo a l ternat ivo para a 
cidade moderna (Corbertt, 1999:5; Hall, 2002:143; Lamas, 2004:316). 
Fig. 5 Plano de Radburn 
Fonte: http:/ /www.radburn.org/ 
Judy Corbet t e Michael Corbet t cons ideram o concei to de c idade - jardim 
como o melhor modelo para o p laneamento de comunidades e para promoção, 
junto à popu lação, de um melhor ambiente para v iver. Para os Corbett , as ideias 
de Howard formam a base de um a nova v isão de p laneam ento , po is inc luem 
considerações ambientais e sociais. Nos anos 70, Judy Corbett e Michael Corbett, 
quer inf luenciados pelo movimento da c idade- jardim, quer inspirados pela c idade 
de Radburn e pelo conceito de desenho de comunidades sustentáveis que ganha 
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dinamismo nesta época, desenvolvem o bairro Vil lage Homes (1970) (f ig. 6 e 7) em 
Davis, na Califórnia (Corbertt, 1999:7). 
Mark Francis, no seu art igo “Vi l lage Homes: A Case Study In Community 
Des ign” , ana l isa V i l lage Homes como um exemplo de comunidade sustentáve l , 
com objectivos ambientais e sociais. Vil lage Homes compõe-se por 242 unidades 
hab i tac iona is em 25 hec tares , onde 6 hec tares são espaço l i v re púb l ico , 5 
hectares são para agr icultura comum, 5 hectares são espaço verde e 3,5 hectares 
são espaço para ruas . V i l l age Hom es a lberga 650 res iden tes , 15 p equenos 
negóc ios, um edif íc io comunitár io, infantár io, res taurante, estúdio de dança e 
piscina (Francis, 2002:23). 
Fig 6 Plano de Village Homes 
Fonte: Corbertt, 1999:7 
Fig 7 Vista aérea de Village Homes 
Fonte: http:/ /www.earthfuture.com/stormyweather/gal lery/11%20 -%20Vil lageHomes.jpg 
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Os edif ícios são planeados como edif ícios de conver gência de energia, as 
casas ut i l izam 1/3 menos de energia do que em outros bairros da c idade e são 
p r o j e c t a d a s e o r i e n t a d a s t e n d o e m c o n t a a e n e r g i a s o l a r p a s s i v a p a r a 
aquec imento. As ruas desenvo lvem -se no sent ido Este – Oes te e os lo tes no 
sentido Norte – Sul. As janelas a sul são protegidaspor pérgolas e vegetação no 
verão. Para cada grupo de o i to res idênc ias prevê -se um espaço comuni tár io, 
e n t r e p o m a r e s , j a r d i n s , v i n h a s e á r e a s d e j o g o , s e n d o e s t e s e s p a ç o s d a 
comunidade e ger idos pela mesma. Os residen tes de cada grupo de oi to casas 
i n t e r v i e r a m n a f a s e d e p r o j e c t o p a r t i c i p a n d o n a d e c i s ã o d o p r o g r a m a a 
implementar nesses espaços. Esta part ic ipação potenciou, assim, o sent ido de 
pertença, de comunidade e sat isfação quanto ao bairro (Francis, 2002:32,37). 
As ruas são curvas, para reduzi r a ve loc idade do t râns i to , e em “cu l de 
sac”. Este esquema viár io poss ib i l i ta que o s is tema de drenagem natura l seja 
desenvo lv ido em conjunto com as áreas com uns e os caminhos pedest res . As 
ruas são estre i tas , com 7m de larg ura , para cr iar menos área de pav imentos 
im permeáve is e quant idade de pav im ento expos to ao so l nos longos Verões 
quentes da Califórnia. A plantação de árvores na rua também contribui na redução 
até dez graus na temperatura no Verão. A intensa vida na rua e o forte senso de 
comunidade são contributos para uma criminalidade mais baixa por comparação a 
bairros vizinhos. A redução do uso do automóvel e a valorização de uma rede de 
c a m i n h o s p e d e s t r e s e c i c l o v i a s i n t e r l i g a d o s n o b a i r r o p a s s a m t a m b é m a 
estabelecer um referenc ia l de c inco minutos de cada casa a qualquer serviço 
comunitário (centro comunitário, piscina, infantário, restaurante, estúdio de dança) 
(Francis, 2002:29). 
O s is tema de drenagem natura l desenvolve -se nas áreas comuns, numa 
rede de linhas de água e áreas de pequenos charcos permitindo a maior inf i ltração 
das águas p luv ia i s e con t r ibu indo tam bém para o desenho de a rqu i tec tu ra 
paisagista e para a não interrupção do cic lo hidrológico. O sistema tem suportado 
com eficiência uma capacidade superior ao sistema tradicional aquando das fortes 
chuvas na região (Francis, 2002:30). 
Vi l lage Homes atende também à questão de co lec ta se lect iva de l ixo e 
aproveitamento da compostagem para hortas e pomares. Porém, algumas ideias 
não foram concret izadas no que d i z respeito a resíduos, ta is como a rec ic lagem 
das águas sujas, aspecto que foi rejeitado pelo departamento de saúde pública 
aquando da aprovação do projecto (Francis, 2002:33). 
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Mark F ranc is cons ide ra que es te p ro j ec to con tém se is e lem en tos de 
inovação para o planeamento, nomeadamente: 1) o sentido de comunidade; 2) a 
conservação e redução de energia e o uso de energ ia solar ; 3 ) o potenc iar e 
desenvo lver caminhos estrutura i s para andar a pé e de b ic ic le ta; 4) o des ign 
p róx im o da n a t u re za ; 5 ) a a g r i cu l t u r a n o ba i r r o ; e 6 ) a d re n ag em na t u ra l . 
Cons idera ainda que este bairro tem caracterís t icas de uma estét ica ecológica e 
da pa isagem po is re f lec te as prá t icas eco lóg icas que gu i aram a sua ges tão, 
dando-se valor à aparênc ia natura l e rural da paisagem. Os Corbett cons ideram 
qu e es t a es t é t i c a nã o é pa r a t od a a g en te , v i s t o qu e m u i tas ve zes os nã o 
residentes acham os espaços verdes não tratados e consideram -os feios. 
Mark Francis observa que, para se viver em Vil lage Homes, os residentes 
têm que par t i lhar as preocupações ambienta is e soc ia is , af irmando ser este um 
dos maiores motivos para não haver répl icas do projecto nos últ imos vinte anos, 
posto que uma das d i f icu ldades de v iver n a comunidade é manter um elevado 
nível de participação dos residentes (Francis, 2002:28 -30). 
P o s t e r i o r m e n t e a o s u c e s s o o b t i d o e m V i l l a g e H o m e s , o s C o r b e t t 
projectaram Davisville, também em Davis, inspirados nos princípios de Ahwahnee. 
Es tes p r inc íp ios f o ram e labo rados em 1991 po r um grupo de a rqu i tec tos e 
urbanistas, de modo a estabelecer as directrizes para o desenho de comunidades 
sus tentáve is . São a reun ião das preocupações es té t icas de Andres Duan y e 
P la te r -Z yb e rk , do f o co n os t r a nsp or t es e nas q ues t õ es re g ion a is d e Pe t e r 
Calthorpe e das preocupações ecológicas dos Corbett (Ruano, 2000:19; Corbertt, 
1999:11). 
No seu l iv ro “Des ign ing Sus ta inab le Deve lopm ent ” , os Corbet t referem 
q u i n ze p o n t o s d o s p r i n c í p i o s d e Ah w a h n e e q u e c o n s i d e r a m d e a d m i r á v e l 
aproximação ao conceito or iginal da c idade-jardim de Howard (Corbertt , 1999:11- 
14): 
 Todo o planeamento deve ser feito na forma de comunidades completas e 
in tegradas cons t i tu ídas por res idênc ias, comérc io, loca is de t rabalho, 
escolas, parques e facilidades cívicas (serviços) essenciais ao dia-a-dia dos 
residentes. 
 A d im ens ão da c om un ida de d e ve s e r d e sen ha d a d e f o rm a a qu e as 
res idênc ias, o emprego, as necess idades d iár ias e outras act iv idades 
estejam a uma curta distância a pé entre elas. 
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 A maior quant idade possível de act iv idades deve ser local izada a curta 
distância a pé das estações/paragens de transportes. 
 Uma comunidade deve conter uma diversidade de tipos de residência para 
permitir que cidadãos com diferentes níveis económicos e grupos de idade 
possam lá viver. 
 As em presas q ue se loc a l i zem na com un ida de d e vem p rom ove r um a 
var iedade de t ipos de emprego para os residentes. 
 A localização e características da comunidade devem ser c onsistentes com 
uma grande rede de transportes. 
 A c om u n id a d e d e ve te r um c e n t r o q u e c om b in e os u s os c om e rc i a i s , 
cívicos, culturais e recreativos. 
 A c o m u n i d a d e d e v e c o n t e r u m a a m p l a o f e r t a d e e s p a ç o s a b e r t o s 
espec í f icos na fo rm a de praças , j a rd ins e parques , cu jo uso deve ser 
encorajado pela sua localização e desenho. 
 Os es paç os pú b l i c os de vem se r d ese n ha d os de f o rm a a enc o r a j a r a 
atenção e presença das pessoas a todas as horas do dia e noite. 
 Cada comunidade, ou conjunto de comunidades, deve ter um l im ite b em 
delineado assim como cinturões agrícolas ou corredores ecológicos para a 
v i d a s e l v a g e m , q u e f i c a p e r m a n e n t e m e n t e p r o t e g i d a d o s e u 
desenvolvimento. 
 Ruas, caminhos pedonais e c ic lovias devem contr ibuir para um sistema 
conectado e interessante de rotas para todos os dest inos. O seu desenho 
deve encorajar o andar a pé e o uso da bicicleta, sendo todas estreitas e 
e s p a c i a l m e n t e d e f i n i d a s p o r c o n s t r u ç õ e s , á r v o r e s , i l u m i n a ç ã o , e 
desencorajando um tráfego de alta velocidade. 
 Quando possível, o terreno, drenagem e vegetação natural da comunidade 
de vem se r p rese r va dos , f i ca nd o os m e lho r es ex em p los co n t i dos em 
parques e nos corredores verdes. 
 O d e s e n h o d a c o m u n i d a d e d e v e a j u d a r a c o n s e r v a r o s r e c u r s o s e 
minimizar os gastos. 
 As comunidades devem promover uma ef ic iente ut i l ização da água através 
do uso da drenagem natural, um tolerante paisagismo e recic lagem. 
 A or ientação da rua, a local ização dos edif íc ios e o uso de sombreamento 
deve contribuir para a ef iciência energética da comunidade. 
 21 
 
Universidadede Aveiro 
Ano de 2009 Ecobairro, um conceito para o desenho urbano 
Os arquitectos envolvidos no desenvolvimento dos princípios de Ahwahnee 
dec id iram então juntar -se de modo a cr iar um novo movimento de 
arquitec tura. Deste modo, em Outubro de 1993, foi realizado o I Congresso do 
Novo Urbanismo. Os con gress os s uce der am -se de p o is a nu a lm en te e em 
19 96 f o i r e d ig i da e ass inada a Carta do Novo Urbanismo. Os seus autores 
foram Peter Calthorpe, Andres Duany, El izabeth Moule, El izabeth Plater -
Zyberk , Stefanos Polyzoides e Daniel Salomon, sendo que, embora fazendo 
parte do grupo inic ial que trabalhou n o s p r i n c í p i o s d e A h w a h n e e , M i c h a e l 
e J u d y C o r b e t t n ã o c o n t r i b u í r a m part icularmente para os elementos 
cont idos nesta dec laração nem a assinaram. P o r c o n s e g u i n t e , o s C o r b e t t 
c o n s i d e r a m q u e , n a p r á t i c a , n e n h u m d o s subsequentes projectos 
planeados ou construídos pelo novo urbanismo assentam em preocupações 
ecológicas dado que, para a lém do impor tante problema da redução da 
dependência do automóvel, não atendem a nenhum outro pr incíp io ec o ló g ico 
na ex t e nsã o an te r io r m en te c on t i d a n os p r inc íp i os d e Ah wah n ee (Corbertt, 
1999: 16). 
2.5 Síntese 
As propos tas urbanas ent re o séc . X IX e séc . XX carac ter i zam -se por 
acçõ es h i g ie n is t as q ue t êm p re t e nsã o de res po nd er a os p ro b lem as sóc i o -
a m b i e n t a i s d a c i d a d e i n d u s t r i a l , m o t i v a n d o n o v o s m o d e l o s e p r á t i c a s 
urbanizadoras. As soluções preconizadas por culturalistas e progressistas têm em 
comum a importância que dão às áreas verdes e aos espaços abertos na 
c idade. 
Do modelo cultural ista sal ientamos Howard, que desenvolve o modelo de 
c idade- jard im em que ar t icu la a c idade com a natureza. O e lemento verde 
tem uma presença forte, sendo ut i l i zado para separar as funções na c idade e 
para l im itar o seu crescimento com cinturões verdes. Howard valor iza ideias 
como o transporte públ ico e ferroviár io, uma rede de caminhos pedonais, a 
agr icultura suburbana – c inturões agrícolas que separam outros usos e 
act ividades da c idade e que também servem para absorver os resíduos 
orgânicos – , a ideia de uma comunidade autogovern ável com indústr ia e 
comérc io como economia local , a mistura de classes sociais e os limites de 
crescimento. Assim, pode dizer -se que Howard preconiza um urban ismo 
 22 
sustentável . Porém, as suas jus t i f icações e preocupações não se enquadram 
nessa lógica, mas sim em questões socais e f inanceiras. Este foi um modelo 
que influenciou a urbanização de vários países. No 
 
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Ano de 2009 Ecobairro, um conceito para o desenho urbano 
 
entanto , nunca ap l icado na sua to ta l idade com o Howard precon iza ra , o 
que acabou por ter um efeito de subúrbio-jardim que se tornou insustentável. 
Para o m ode lo progress is ta a lgum as re ferênc ias são: Owen , Four ie r , 
C o n s i d é r a n t e G o d i n , o s q u a i s t ê m e m c o m u m p r o p o r g r a n d e s e d i f í c i o s 
comunitár ios com um programa estabelec ido por d iversas funções 
d is t r ibuídas pelos pisos, a presença da natureza na envolvente que isola e 
enquadra estes edi f íc ios e nos seus pát ios in ter iores. Des tes autores 
destacamos Owen, por p recon izar a ide ia de um a comunidade auto -
sus tentáve l numa re lação entre indústria e agricultura; Fourier, por estabelecer 
uma regra de afastamento entre os edi f íc ios para garante da salubr idade; 
Cons idérant , pe la ideia de d is t r ibuição uni tár ia da água a par t ir de um 
reservatór io e do calor que se perde na cozinha para aquecimento; e Godin, 
pela ideia de uma área verde reservada para ocasiões espec ia is numa espécie de 
prémio. Apesar destes contr ibutos, é com Corbus ier q u e a s i d e i a s d o m o d e lo 
p r o g r es s is t a t om am m a i s v i s i b i l i d a d e . É e l e q u e desenvolve a ideia de 
zonamento, onde dist ingue as funções urbanas, propondo um modelo onde os 
edi f íc ios (unidades de habi tação) são d is t r ibuídos por um grande espaço 
verde f icando expostos ao sol, ao ar e ao verde. Por seu turno, Grop ius 
defende a ide ia de “un idades urbanas ” , que ser iam c idades verdes 
disseminadas num campo urbanizado – região, num misto de c idade e campo. 
O urbanismo natura l is ta tem como referênc ia a Broadacre -c i ty, onde as 
funções urbanas estão d isseminadas no cont ínuo que é a natureza. Este é um 
m o d e lo d e c o n s t r u ç ão d i s p e r s a p r o p os t o p o r W r i g h t , v i n c u la d o a o u s o d o 
automóvel e, neste aspecto, pouco ambiental. 
O movimento moderno considera a natureza como solução dos 
problemas sóc io-ambienta is , jus t i f icação das premissas sani tár ias de forma a 
ter c idades mais saudáveis, resgate da nostalgia de uma vida rural ou no 
campo, isolamento ou separação de usos e actividades, recreação, estética e 
factor psicológico. Os espaços aber tos na c idade também são valor izados por 
serem impresc indíveis para uma cidade salubre e possibil itarem a luz solar e a 
 23 
ventilação aos edifícios. 
Desta abordagem pela histór ia do urbanismo moderno percebe -se que a 
reso lução dos prob lem as am bien ta is tem com o re ferênc ia a na tu reza ou os 
espaços verdes, mas considerando estes elementos como um pano de fund o da 
urbanização, is to é, pouco consc iente quer dos processos ecológicos quer dos 
limites e esgotamento dos recursos naturais e energét icos. 
Os Corbet t retomam o conce i to or ig ina l de Howard, insp irando -se nos 
desenhos da c idade de Radburn e, preocupados com as questões ambientais 
que 
 
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Ano de 2009 Ecobairro, um conceito para o desenho urbano 
 
ganham dinamismo na época, desenvolvem Vil lage Homes em 1970. Este é 
um bair ro com sent ido de comunidade, tem atenção à conservação e redução 
de energia, usa a energia solar, desenvolve caminhos estruturantes para andar a 
pé e de bic icleta, promove a redução do uso do automóvel, tem preocupações 
de um desenho paisagístico e integrador da natureza, integra a agricultura no 
bairro e a drenagem natural. Assim, este é um bairro que, por um lado, retoma a 
historia, ou seja, a c idade jardim de Howard, e, por outro, introduz uma 
consciencial ização ecológica no urbanismo. Assim, e retomando a classif icação 
dos modelos urbanos estabelecida por Francoise Choay, pode-se constatar que 
a visão de c idade com uma abordagem ambiental está mais próxima do âmbito 
cultural ista. 
C o m a s p r e o c u p a ç õ e s e c o l ó g i c a s d o s C o r b e t t a s s o c i a n d a s 
à s preocupações estéticas de Andres Duany e Peetr -Zyberk e às questões 
regionais levantadas por Peter Cal thorpe, são desenvolv idos os pr inc íp ios de 
Ahwahnee para a criação de comunidades sustentáveis. Estes princípios têm 
uma admirável aprox imação com o conceito or ig inal da c idade - jard im de 
Howard. Alguns anos mais tarde, es te mesmo grupo de autores dos pr incíp ios 
de Ahwahnee redige a Carta do Novo Urbanismo, à excepção dos Corbett. 
Estes consideram que a Carta d o N o vo U r b a n ism o n ã o as s e n t a em 
p r e o c u p aç õ e s e c o lóg i c a s , d a d o q u e , alheando-se dos pontos indicados 
pelos pr incíp ios de Ahwahnee, só atende à redução da util ização do automóvel.

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