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Anestesia em Pequenos Animais - Ricardo Mello

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INTRODUCAO
De acordo com EBPE (1999), o conceito básico de anestesia diz se da perda total ou parcial da sensibilidade em consequência de causas mórbidas, ou obtida, artificialmente, para aliviar a dor. A prática da anestesia cirúrgica data dos mais remotos tempos, do que são prova a compreensão do pescoço feita pelos assírios para a circuncisão, a pedra de Mênfis e a mandrágora, usadas por gregos e romanos. Mas foram os notáveis trabalhos de Lavoisier e Priestley sobre o ar atmosférico que rasgaram o futuro da anestesia moderna, induzindo Beddoes e Richard Pearson, secundado depois por Humphrey Davy, a pratica das inalações no tratamento de doenças pulmonares, graças à qual descobriram as propriedades anestésicas do éter e protoxido de azoto ou gás hilariante.
Não frutificou a descoberta, porque é somente em 1844 que Horário Wells, dentista americano, utiliza o gás hilariante para extrair dentes sem dor. Como prêmio colheu desprezo e crítica injusta que o levaram ao abandono da profissão. Mas vingado se sentiria 02 (dois) ano depois, quando Morton, a quem revelara as suas ideias e observações, consegue êxito brilhante ensaiando inalações de éter numa operação cirúrgica, êxito que logo chegou ao conhecimento dos mais afamados cirurgiões de então, Liston, Malgaigne, Giraldes, Simpson, recebendo logo a eterização plena consagração. Logo depois Flourens revela o poder anestésico do clorofórmico, que em 1847 Simpson por igual consagra, publicando a sua memória sobre 50 observações felizes de cloroformização.
Desde então que a anestesia cirúrgica se institui como método científico e prática regular, enriquecendo-se depois com a descoberta de novos anestésicos. 
01 – CONCEITOS BASICOS DA ANESTESIA
“A anestesiologia é o termo utilizado para descrever o estudo dos fármacos e das técnicas empregadas para a obtenção do estado anestésico, [...] é a obtenção de um estado reversível de não reconhecimento do estímulo doloroso [...] pelo córtex cerebral, podendo ser localizada ou geral em estado inconsciente. Esta é produzida pelo uso de fármacos anestésicos que deprimem o sistema nervoso central ou periférico” (NATALINI, 2007). 
De acordo com FATONI (2002), o anestésico é o fármaco empregado para anestesiar o paciente, os equipamentos e os aparelhos utilizados, bem como as demais condutas clínicas relacionadas ao ato anestésico, outras definições na anestésiologia como:
Neurolepse ou tranquilização é o estado obtido com fármacos e/ou outras técnicas, em que o paciente permanece consciente, embora calmo, sem responder exageradamente à manipulação. Sedação é o estado semelhante à tranquilização, embora com maior depressão do sistema nervoso central, em que o animal está consciente e responde com menos intensidade à manipulação. Hipnose pode ser induzida farmacologicamente e trata-se de um estado característico a anestesia geral, pois o animal é induzido ao sono de forma artificial. Analgesia consiste em perda da percepção e ausência de resposta ao estímulo doloroso. Acinesia consiste em perda do controle motor e ausência de movimento. Neurolepto é o termo que descreve o estado de narcose associado com profunda analgesia. Catalepsia é um estado característico produzido por anestésicos dissociativos derivados da fenciclidina (quetamina e tiletamina). Ocorre rigidez muscular dos membros locomotores, e o animal em geral não responde à estimulação ou à manipulação.
Segundo SPINOSA (2006), a definição de anestesia dissociativa sugere o estado de anestesia geral em que o animal está dissociado do ambiente. Ocorre a interrupção da neurotransmissão no nível talâmico, embora a atividade do nível do córtex cerebral seja mantida. Sendo suas Vias de Administração dos Anestésicos: Intravenosa (IV), Intramuscular (IM), Inalatória, Subcutânea (SC), Tópica, Epidural, Espinal (subaracnóide), Intraóssea.
02 – CIRCUITOS E APARAELHOS INALATORIOS UTILIZADOS
Assim como MARK P.G (2009) as anestesias inalatórias possuem vantagens como o fácil controle, a idade não é um fator limitante, eliminação rápida, baixa taxa de biotransformação, ausência de excitação (com MPA), recuperação rápida e suave. Mas também possui desvantagens como a poluição.
Os Circuitos Anestésicos são dependentes do tamanho dos pacientes, são classificados como:
Aberto;
Semi-Aberto;
Fechado;
Semi-Fechado;
Existem também os Equipamentos Necessários como Laringoscópio, Abre - bocas, sondas endotraqueais, seringas, intermediários (entre circuito e sonda), máscara facial (geralmente para pacientes idosos), lidocaína (spray ou gel) e estilete (auxilia a colocação da sonda endotraqueal). Alguns aparelhos de anestesia como:
Fonte de gás diluente (02, N20 e ar comprimido);
Válvulas redutoras de pressão;
Extensões (chicotes);
Rotâmetro (possui escala milimetrada para maior precisão);
Fluxômetro (escala L/min);
Circuitos anestésicos (abeto, semi-abertos, semi-fechado e fechado);
Vaporizadores (universal e calibrado);
Manômetro (mede pressão do gás):
Para os circuitos Abertos utilizamos os equipamentos: Câmaras de indução anestésica, Máscara anestésica. No fluxo de 5 – 7L/kg/min. Os gases expirados são diluídos pelo fluxo de O2 e liberados na atmosfera.
Os circuitos Semi-Abertos são utilizados para animais de até 7 kg, os equipamentos usados são: Chicote de Baraka (duplo ‘T’) utilizado em pacientes de 3 a 5 kg, Chicote de Bain utilizado em pacientes entre 5 e 7kg, Chicote de Magil (semelhante ao Bain, mas com válvula pop-off). Com o fluxo de 180-300 ml/kg/min, sendo que 300 ml/kg necessário utilizar 300 ml/kg nos 15 primeiros minutos de anestesia. O animal entra em hipotermia mais facilmente, pois há muita perda de calor pela respiração, com exceção do circuito de Bain (há menor dissipação de calor). Sempre ter atenção máxima a distensão do balão reservatório, pois, como os volumes são pequenos (do balão e dos pulmões) e o fluxo é alto, pode ocorrer facilmente excesso de pressão no sistema acarretando ruptura pulmonar.
Em casos de circuito Semi-Fechado ocorre reinalação parcial de gases, utilizamos: Traquéias corrugadas, Tubos plásticos flexíveis, conectados a um ‘Y’ e ao canister (contendo cal sodada no interior), Válvulas unidirecionais, Válvula de alívio de pressão e exaustão, Balão reservatório. Neste caso o fluxo varia de 50 – 100 ml/kg/min. Utiliza-se filtro circular com válvulas unidirecionais e válvula de alívio de pressão (pop-off). A saída comum de gases é conectada à válvula inspiratória.
	No circuito Fechado ou circuito circular valvular, usamos os mesmo equipamentos que o circuito Semi-Fechado. O fluxo varia de 10-15 ml/kg/min. Válvula de alívio (pop-off) mantém-se fechada. Lembrando que se deve usar um capnógrafo para medição do CO2 expirado. Tem - se menor perda de temperatura do paciente, menor gastos e não há poluição. “A Cal sodada, sofre reação química, liberando água, calor e carbonato de cálcio [...] o qual não quebra [...] e fica com a coloração roxa” (SPINOSA, 2006)
03 – EFEITOS DOS FARMACOS NO ORGANISMO E TOXICIDADE
De acordo com SPINOSA (2006) temos de entender inicialmente a CAM ou Concentração Alveolar Mínima. A definição da CAM é a concentração alveolar de um anestésico volátil que evita a resposta ao estímulo doloroso em 50% dos pacientes, pode ser divida em 1 CAM (produz anestesia leve), 1,5 CAM (produz anestesia moderada, usada como anestesia cirúrgica) e 2 CAM (anestesia profunda). 
A CAM pode ser aumentada por: Hipertermia, fármacos que excitam o SNC (exemplo, doxapram, anfetamina e efedrina). Pode ser reduzida por: Hipotermia, animais idosos, gestação e fármacos que causa depressão do SNC.
Sabendo que FAMENA (2015) os efeitos Farmacológicos de Agentes Inalatórios em Sistema Respiratório causa depressão dose-dependente ocorre diminuição da frequência respiratória e volume/min), hipercapnia e acidose respiratória (aumento da concentração de CO2), depressão do centro respiratório (bulbo – centro apnêustico), depressão dos reflexos faríngeo e laríngeo.
	No Sistema
Cardiovascular causa depressão dose-dependente, ocorre depressão do miocárdio, diminuição do volume sistólico, do débito cardíaco e da pressão arterial (com exceção do halotano, o qual pode aumentar a frequência cardíaca e predispõe ao aparecimento de CVP, se caso houver essa condição, o anestésico inalatório deve ser substituído), depressão do centro vasomotor (os fármacos isoflurano, sevoflurano e desflurano são menos arritmogênicos).
	Segundo RACH et al (2001) nos demais sistemas podemos observar diminuição do fluxo sanguíneo hepático e renal, diminuição da motilidade gastrointestinal, diminuição da motilidade uterina, depressão fetal, miorrelaxamento, hipotermia (perda de calor por via respiração).
De acordo com (CDE, 2015) os anestésicos gerais são fármacos perigosos, haja vista que não possuem antagonistas farmacológicos para neutralizar níveis acidentalmente altos administrados ao paciente, e também por possuírem uma estreita janela terapêutica. Como exemplo o halotano pode raramente causar hepatite grave num pequeno subgrupo de pacientes, que pode ser fatal. O metabolismo do enfurano e do sevoflurano resulta na formação de íons de fluoreto, levantando a questão de nefrotoxicidade desses anestésicos. Devido à toxicidade destes fármacos observamos 1,3 a 2 vezes maior incidência de câncer, aumento de 30% do risco de aborto, 1,2 vezes a incidência de anomalias. 
A hipertermia maligna é um distúrbio genético autossômico dominante dos canais de Ca+ dos retículos sarcoplasmáticos do músculo esquelético que afeta indivíduos suscetíveis submetidos a anestesia geral com agentes inalatórios e relaxantes musculares. Na síndrome da hipertermia maligna ocorre saída descontrolada de Ca+ dos retículos, o que causa o rápido início de taquicardia e hipertensão, rigidez muscular intensa (tetania), hipertermia, hipercalemia e desequilíbrio ácido-básico com acidose. A hipertermia maligna representa uma causa rara, porém importante, de morbidade e mortalidade por anestésicos. O tratamento consiste na administração de dantroleno (que impede a liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático) e medidas apropriadas para reduzir a temperatura corporal e restaurar o equilíbrio eletrolítico e ácido-básico. (CDE, 2015)
“A fim de evitar estes problemas às repetições sucessivas de anestesia inalatória deve se respeitar os intervalos de 15 dias, dependendo do agente utilizado, exemplo dos Halotanos que possuem Metabolização de 10 a 20%, com CSS 2,3 e CAM 0,8 a 1,2. E os Isofluranos que possuem Metabolização de 0,17%, com CSS 1,4 e CAM 1 a 3 [...] quanto maior o coeficiente de solubilidade sangue-gás, maior a combinação ou ligação com proteínas e lipídeos no organismo [...]” (SPINOSA, 2006).
04 – PRINCIPAIS FARMACOS E SUAS REAÇÕES NO ORGANISMO
Segundo UFRGS (2015) diz que os fármacos voláteis são os mais seguros para indução do animal ao plano anestésico cirúrgico, possuem menos efeitos colaterais ao organismo e melhor recuperação do animal pós-cirúrgico, podem citar os gases anestésicos:
Óxido Nitroso (N2O) no SNC é um analgésico fraco que produz depressão do córtex cerebral. Em sistema cardiovascular, não produz depressão cardiovascular. Para o sistema respiratório não é irritante para as vias respiratórias e não deprime a ventilação. Uterinos, atravessa a barreira placentária rapidamente, mas não deprime o feto de forma significativa, por isso sempre associar a algum terceiro gás anestésico.
Halotano em SNC produz depressão acentuada por dose-dependente, incluindo os centros termorreguladores (causando hipotermia). Em sistema respiratório causa depressão acentuada da respiração podendo haver apneia, porem não é irritante. Sendo mais pronunciado em ruminantes. No sistema cardiovascular ocorre depressão cardiovascular, vasodilatação periférica e redução da frequência cardíaca. Sensibiliza à catecolaminas produzindo arritmias. No gastrointestinal, observamos leve diminuição de motilidade. A biotransformação hepática leva a formação de componentes hepatotóxicos. Em sistemas renais, causa nefrotoxicidade ocorre se houver desenvolvimento de hipotensão acentuada.
Isoflurano em SNC causa depressão generalizada. Em sistema respiratório ocorre depressão respiratória mais profunda que halotano, pode levar a apneia. O volume/min e a frequência diminuem. No sistema cardiovascular causa pouca depressão (menor que halotano). Não se tem desenvolvimento de arritmias cardíacas e a força de contração do miocárdio é mantida. Na parte renal não ocorre alterações. Gastrointestinal pode reduzir a motilidade e não produz hepatotoxicidade, pois é minimamente metabolizado. Sendo este o anestésico volátil de escolha para cardiopatas.
Sevoflurano em SNC causa depressão generalizada, efeito este causado mais rápido que isoflurano e halotano, devido ao seu baixo coeficiente de solubilidade sangue-gás. No sistema respiratório observamos indução rápida com máscara e causa depressão profunda. Em cardiovasculares, ocorre efeito semelhante ao do isoflurano, a contração miocárdica e o débito cardíaco se mantêm. No Gastrointestinal não ocorre hepatotoxicidade. Sistema Renal pode ter efeito tóxico renal pela produção de olefinas. Sendo ele o agente de escolha para indução com máscara e um excelente miorrelaxante.
05 – CUIDADOS NA RECUPERAÇÃO E MANUTENÇÃO DO ANIMAL
De acordo com EVZ (2015), devemos manter a temperatura para evitar recuperações prolongadas e o aumento do consumo de O2. A utilização de Colchões térmicos, bolsas de água, sacos de aveia, lâmpadas infravermelhas ajudam na recuperação do animal. Observando que o tubo endotraqueal deve permanecer até o aparecimento do reflexo de deglutição e a volta do tônus muscular.
Já os braquicefálicos deve ter a atenção redobrada, pois o traqueotubo deve permanecer por mais tempo. Sempre verificar a ausência de sons ou dificuldade respiratória para evitar a aspiração ou a obstrução das vias aéreas.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
EBPE, Enciclopédia Brasileira de Pesquisa Estudantil. Anestesia - Vol. 02 - p. 320 – 321. Editora FTD SA, 1999.
NATALINI C.C. Teoria e Técnicas em Anestesiologia Veterinária. 1ed. São Paulo: Artmed, 2007.
FANTONI D.T., CORTOPASSI S.R. Anestesia em Cães e Gatos. 1ed. São Paulo: Editora Roca, 2002.
SPINOSA, Helenice de Souza, et al. Farmacologia Aplicada à Medicina Veterinária. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
MARK P. G. Manual Saunders: Terapêutico Veterinário. 2. Ed. São Paulo: Editora MedVet, 2009.
RANG, H. P. et al. Farmacologia. 4 edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. 
CDE, Anestésicos Gerais Inalatórios, Toxicidade - <http://consultadeenfermagem.com/revisoes-academicas/farmacologia/anestesicos-gerais-inalatorios> Acessado em: 04 de Setembro de 2015.
FAMENA, Anestesia em Animais de Laboratorio - <https://www.famema.br/ensino/pos-lato/docceua/CEUABIBLIOGRAFIA/MaterialEventos> Acessado em: 04 de Setembro de 2015.
EVZ, Manutenção pós cirúrgico por Anestesia Inalatória, Recuperação e Manutenção - <http://evz.ufg.br/up/66/o/18a_Anestesia_pequenos> Acessado em: 04 de Setembro de 2015.
UFRGS, Farmacos mais utilizados para Anestesia Inalatoria, Farmacos Voláteis - 
<http://www.ufrgs.br/blocodeensinofavet/documentos> Acessado: 04 de Setembro de 2015

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