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Apostila de filosofia do direito

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FILOSOFIA DO DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
DOCENTE: PEDRO R. CAMPANINI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
Capítulo I – Do mito à razão 02
Capítulo II – Noção Preliminar de Filosofia 06
Capítulo III – Filosofia do Direito na Grécia 09
Capítulo IV – Filosofia do Direito em Roma 19
Capítulo V – Filosofia do Direito na Idade Média 21
Capítulo VI – Filosofia do Direito do Renascimento até o Século XIX 27
Capítulo VII – Positivismo Jurídico 37
Capítulo VIII – Carlos Cossio 42
Capítulo IX - Miguel Reale 43
Textos 46
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARARAQUARA 
 2
CAPÍTULO I 
DO MITO À RAZÃO 
 
Filosofar é ver o relâmpago como fenômeno natural 
e não como vingança ou ameaça divina. 
 
 
I - PANORAMA HISTÓRICO E CULTURAL 
 
- A civilização grega se desenvolveu na Península Balcânica, a mais oriental do sul da Europa, 
rodeada por inúmeras ilhas. Com relevo montanhoso, grupos humanos isolados e autônomos foram 
se criando: as cidades-estados (polis). 
- A sociedade grega era organizada em monarquias, com caráter divino; e religião politeísta baseada 
na mitologia. O período era teocêntrico. 
- O crescimento populacional, a procura de terras férteis e o comércio incentivaram a navegação. 
- Nos séculos VI e V a.C., as polis alcançaram o apogeu econômico, político e cultural. Neste 
período surge o confronto entre mito e filosofia. Podem ser apontadas, com maior profundidade, as 
seguintes condições históricas que permitiram o conflito entre mito e filosofia: 
ƒ as viagens marítimas: permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos diziam 
habitados por deuses, titãs e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres humanos; e 
que as regiões dos mares que os mitos diziam habitados por monstros e seres fabulosos não 
possuíam tais personagens. As viagens produziram o desencantamento ou a desmistificação 
do mundo, que passou, assim, a exigir uma explicação sobre sua origem, explicação que o 
mito já não podia oferecer; 
ƒ o surgimento da vida urbana: com predomínio do comércio e do artesanato, dando 
desenvolvimento a técnicas de fabricação e de troca, diminui o prestígio das famílias da 
aristocracia proprietária de terras, por quem e para quem os mitos foram criados; além disso, 
o surgimento de uma classe de comerciantes ricos, que precisava encontrar pontos de poder 
e de prestígio para suplantar o velho poderio da aristocracia de terras e de sangue (as 
linhagens constituídas pelas famílias), fez com que se procurasse o prestígio pelo patrocínio 
e estímulo às artes, às técnicas e aos conhecimentos, favorecendo um ambiente no qual a 
Filosofia poderia surgir. 
ƒ a invenção da política: introduz três aspectos novos e decisivos para o nascimento da 
Filosofia: 
1. A idéia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que decide 
por si mesma e não por ordens divinas. 
2. O surgimento de um espaço público, que faz aparecer um novo tipo de palavra ou de 
discurso, diferente daquele que era proferido pelo mito, ou seja, quem resolve as 
questões políticas são os homens e não profetas que “ditam” as palavras dos deuses. 
3. A política estimula o pensamento e o discurso público, que são transmitidos e 
discutidos. A idéia de um pensamento que todos podem compreender e discutir, que 
todos podem comunicar e transmitir, é fundamental para a Filosofia. 
 
- Durante um longo período a mitologia representou a fonte exclusiva de explicação para a 
existência do homem, suas relações sociais e sobre a organização do mundo. 
- O mito é uma narrativa imaginária que estrutura e organiza de forma criativa as crenças culturais. 
Os atores de tais lendas são os deuses e, muitas vezes, seus relacionamentos com os seres humanos. 
Apesar da fantasia dos mitos, há uma forte carga de sabedoria e conhecimento das paixões 
humanas, dos problemas existenciais e da necessidade de leis que possibilitem a vida comum. Além 
disso, dada a falta de qualquer conhecimento científico, os mitos explicavam os fenômenos naturais 
com alguma consistência. 
- Devido ao desenvolvimento e aos contatos culturais com outros povos, decorrentes do comércio e 
da navegação, os gregos cultos buscaram explicações mais universais para justificar o universo e as 
 3
instituições humanas. Os novos conceitos tinham por base a razão, substituindo assim, lentamente, 
os mitos. 
 
 
II - Os principais períodos da Filosofia 
 
1. Filosofia antiga (século VI a.C. ao século VI d.C.) 
Compreende os quatro grandes períodos da Filosofia greco-romana, indo dos pré-socráticos aos 
grandes sistemas do período helenístico. 
 
2. Filosofia patrística (século I ao século VII) 
 
Inicia-se com as Epístolas de São Paulo e o Evangelho de São João e termina no século VIII, 
quando teve início a Filosofia medieval. 
A patrística resultou do esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelos 
primeiros Padres da Igreja para conciliar a nova religião - o Cristianismo - com o pensamento 
filosófico dos gregos e romanos, pois somente com tal conciliação seria possível convencer os 
pagãos da nova verdade e converte-los a ela. A Filosofia patrística liga-se, portanto, à tarefa 
religiosa da evangelização e à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que 
recebia dos antigos. 
A patrística foi obrigada a introduzir idéias desconhecidas para os filósofos greco-romanos: a 
idéia de criação do mundo, de pecado original, de Deus como trindade una, de encarnação e morte 
de Deus, de juízo final ou de fim dos tempos e ressurreição dos mortos, etc. Precisou também 
explicar como o mal pode existir no mundo, já que tudo foi criado por Deus, que é pura perfeição e 
bondade. Introduziu a idéia de "homem interior", isto é, da consciência moral e do livre-arbítrio, 
pelo qual o homem se torna responsável pela existência do mal no mundo. 
A verdade da Bíblia representa para a patrística dogmas divinos, irrefutáveis e inquestionáveis, 
pois são revelações de Deus. 
 
 
3. Filosofia medieval (século VIII ao século XIV) 
 
Abrange pensadores europeus, árabes e judeus. É o período em que a Igreja Romana dominava a 
Europa, ungia e coroava reis, organizava Cruzadas à Terra Santa e criava, à volta das catedrais, as 
primeiras universidades ou escolas. 
E, a partir do século XII, por ter sido ensinada nas escolas, a Filosofia medieval também é 
conhecida com o nome de Escolástica. 
A Filosofia medieval teve como influências principais Platão e Aristóteles, embora o Platão que 
os medievais conhecessem fosse o neoplatônico (vindo da Filosofia de Plotino, do século VI d.C.), 
e o Aristóteles que conhecessem fosse aquele conservado e traduzido pelos árabes. Além destes, o 
pensamento de Santo Agostinho também influenciou bastante. 
Durante esse período surge propriamente a Filosofia cristã, que é, na verdade, a teologia. Um de 
seus temas mais constantes são as provas da existência de Deus e da alma, isto é, demonstrações 
racionais da existência do infinito criador e do espírito humano imortal. 
A diferença e separação entre infinito (Deus) e finito (homem, mundo), a diferença entre razão e 
fé (a primeira deve subordinar-se à segunda), a diferença e separação entre corpo (matéria) e alma 
(espírito), O Universo como uma hierarquia de seres, onde os superiores dominam e governam os 
inferiores (Deus, arcanjos, anjos, alma, corpo, animais, vegetais, minerais), a subordinação do poder 
temporal dos reis e barões ao poder espiritual de papas e bispos. 
Os teólogos medievais mais importantes foram: Abelardo, Duns Scoto, Escoto Erígena, Santo 
Anselmo, Santo Tomás de Aquino, Roger Bacon. 
 
4. Filosofia da Renascença (século XIV ao século XVI) 
 
 4
É marcada pela descoberta de obras de Platão desconhecidas na Idade Média, de novas obras de 
Aristóteles, bem como pela recuperação das obras dos grandes autores e artistas gregos e romanos. 
São três as grandes linhas de pensamento que predominavam na Renascença: 
- A idéia da Natureza como um grande ser vivo; o homem faz parte da Natureza como um 
microcosmoe pode agir sobre ela através da magia natural, da alquimia e da astrologia, pois o 
mundo é constituído por vínculos e ligações secretas entre as coisas; o homem pode, também, 
conhecer esses vínculos e criar outros, como um deus. 
- Aquela originária dos pensadores florentinos, que valorizava a vida ativa, isto é, a política, e 
defendia os ideais republicanos das cidades italianas contra o Império Romano-Germânico, isto é, 
contra o poderio dos papas e dos imperadores. Na defesa do ideal republicano, os escritores 
resgataram autores políticos da Antigüidade, historiadores e juristas, e propuseram a "imitação dos 
antigos" ou o renascimento da liberdade política, anterior ao surgimento do império eclesiástico. 
- Aquela que propunha o ideal do homem como construtor de seu próprio destino, tanto através 
dos conhecimentos (astrologia, magia, alquimia), quanto através da política (o ideal republicano), 
das técnicas (medicina, arquitetura, engenharia, navegação) e das artes (pintura, escultura, literatura, 
teatro). 
Todas estas teorias sofreram influência positiva das grandes descobertas marítimas, que 
garantiam ao homem o conhecimento de novos mares, novos céus, novas terras e novas gentes, 
permitindo-lhe ter uma visão crítica de sua própria sociedade. 
Esses conhecimentos culturais e políticos levaram a críticas profundas à Igreja Romana, 
culminando na Reforma Protestante, baseada na idéia de liberdade de crença e de pensamento. À 
Reforma a Igreja respondeu com a Contra-Reforma e com o aumento do poder da Inquisição. 
Os nomes mais importantes desse período são: Dante, Marcílio Ficino, Giordano Bruno, 
Campannella, Maquiavel, Montaigne, Erasmo, Tomás Morus, Jean Bodin, Kepler e Nicolau de 
Cusa. 
 
 
5. Filosofia moderna (século XVII a meados do século XVIII) 
 
 Período conhecido como o Grande Racionalismo Clássico. Predomina a idéia de conquista 
científica e técnica de toda a realidade, a partir da explicação mecânica e matemática do Universo e 
da invenção das máquinas, graças às experiências físicas e químicas. 
Existe também a convicção de que a razão humana é capaz de conhecer a origem, as causas e os 
efeitos das paixões e das emoções e, pela vontade orientada pelo intelecto, é capaz de governá-las e 
dominá-las, de tal modo que a vida ética pode ser plenamente racional. 
A mesma convicção orienta o racionalismo político, isto é, a idéia de que a razão é capaz de 
definir para cada sociedade qual o melhor regime político e como mantê-lo racionalmente. 
Os principais pensadores desse período foram: Francis Bacon, Descartes, Galileu, Pascal, 
Hobbes, Espinosa, Leibniz, Malebranche, Locke, Berkeley, Newton, Gassendi. 
 
 
6. Filosofia da Ilustração ou Iluminismo (meados do século XVIII ao começo do século XIX) 
 
Esse período também crê nos poderes da razão, chamada de As Luzes (por isso, o nome 
Iluminismo). 
O Iluminismo afirma que: 
- pela razão, o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade social e política (foi decisiva 
para as idéias da Revolução Francesa de 1789); 
- a razão é capaz de evolução e progresso, e o homem é um ser perfectível. A perfectibilidade 
consiste em liberar-se dos preconceitos religiosos, sociais e morais, em libertar-se da superstição e 
do medo, graças ao conhecimento, às ciências, às artes e à moral; 
- o aperfeiçoamento da razão se realiza pelo progresso das civilizações, que vão das mais 
atrasadas (também chamadas de "primitivas" ou "selvagens") às mais adiantadas e perfeitas (as da 
Europa Ocidental); 
 5
- há diferença entre Natureza e civilização, isto é, a Natureza é o reino das relações necessárias 
de causa e efeito ou das leis naturais universais e imutáveis, enquanto a civilização é o reino da 
liberdade e da finalidade proposta pela vontade livre dos próprios homens, em seu aperfeiçoamento 
moral, técnico e político. 
 
Nesse período há grande interesse pelas ciências que se relacionam com a idéia de evolução 
(biologia); com as artes (na medida em que elas são as expressões do grau de progresso de uma 
civilização), e pela compreensão das bases econômicas da vida social e política, surgindo uma 
reflexão sobre a origem e a forma das riquezas das nações, com uma controvérsia sobre a 
importância maior ou menor da agricultura e do comércio, controvérsia que se exprime em duas 
correntes do pensamento econômico: a corrente fisiocrata (a agricultura é a fonte principal das 
riquezas) e a mercantilista (o comércio é a fonte principal da riqueza das nações). 
Os principais pensadores do período foram: Hume, Voltaire, D’Alembert, Diderot, Rousseau, e 
Kant. 
 
 
7. Filosofia contemporânea 
 
Abrange o pensamento filosófico que vai de meados do século XIX e chega aos nossos dias. 
Esse período, por ser o mais próximo de nós e estar em construção atualmente, parece ser o mais 
complexo e o mais difícil de definir, pois as diferenças entre as várias filosofias ou posições 
filosóficas nos parecem muito grandes porque as estamos vendo surgir diante de nós. 
 
 
 6
CAPÍTULO II 
NOÇÃO PRELIMINAR DE FILOSOFIA 
 
“Não se ensina Filosofia, se ensina a filosofar”. Kant 
 
 
FILOSOFIA 
o Filo - Do grego philos = amigo, atraído por, que tem afinidade com 
o Sofia - Do grego sophia = saber, ciência, sabedoria 
o Conclusão: significa amizade ou amor pela sabedoria 
- Os primeiros filósofos gregos não concordaram em ser chamados sábios, por terem consciência do 
muito que ignoravam. Preferiram ser conhecidos como amigos da sabedoria, ou seja — filósofos. 
 
- Aristóteles (384-322 a.C.), repetindo ensinamento platônico, dizia que a Filosofia começou com a 
perplexidade, ou melhor, com a atitude de assombro do homem perante a natureza, em um 
crescendo de dúvidas, a começar pelas dificuldades mais aparentes. 
 
- Os mitos: O homem passou a filosofar no momento em que se viu cercado pelo problema e pelo 
mistério, adquirindo consciência de sua dignidade pensante. 
 
- Não é preciso seguir um sistema de Filosofia, nem ser capaz de dizer em que ano escreveu Kant 
cada um de seus estudos, para possuir atitude filosófica. 
- Atitude filosófica: é própria de quem saiba captar e renovar os problemas universais sobre o 
cosmos e sobre a vida, procurando satisfazer às exigências atuais, significantes por novos e por 
velhos problemas situados em diversos ciclos histórico-culturais. 
- A Filosofia deseja saber os princípios e causas em seus estudos, ou seja, como começam e como 
terminam ou se concretizam os fatos ou atos = sentido de universalidade (saber o todo). 
 
- Busca pela verdade. Há, no entanto, uma verdade absoluta? 
 
- Por isso quem passa a estudar Filosofia no plano da História fica, à primeira vista, desapontado, 
quando não cético, por encontrar um tumultuar de respostas, uma multiplicação de sistemas e de 
teorias. Surge, então, logo a pergunta: 
- Por que estudar Filosofia, se os filósofos jamais conseguem se entender? 
- Qual a vantagem ou a utilidade da Filosofia, se os maiores pensadores nunca chegam a 
concordância sobre pontos fundamentais? 
o A vantagem é a busca incessante pela verdade, pois de outra forma desistiríamos 
do conhecimento, viveríamos com “verdades” estipuladas por outras pessoas. 
o O conhecimento é sempre limitado pelo espaço e pelo tempo, bem como pelo 
ponto de vista de cada um. 
 
 
- O que distingue, porém, a Filosofia é que as perguntas formuladas por Platão, Aristóteles ou Kant, 
não perdem a sua atualidade, visto possuírem um significado universal, que ultrapassa os horizontes 
dos ciclos históricos => as perguntas filosóficas interessam a todos, pois tratam do próprio homem 
(como pode um ser humano não se interessar por sua existência). 
 
- Para Marilena Chauí, a utilidade da filosofia assim se conceitua: “Se abandonar a ingenuidade e os 
preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão à idéias dominantes e 
aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da 
história for útil; se conhecer o sentidodas criações humanas nas artes, nas ciências, e na política for 
útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas 
ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer 
 7
que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes”. (Convite à 
filosofia, Ática: 1999, p. 18). 
 
 
FILOSOFIA DO DIREITO (Jusfilosofia) 
 
- Filosofia do Direito: não é disciplina jurídica, mas é a própria Filosofia voltada para uma ordem 
de realidade, que é a "realidade jurídica". 
- Nem mesmo se pode afirmar que seja Filosofia especial, porque é a Filosofia, na sua totalidade, na 
medida em que se preocupa com algo que possui valor universal, a experiência histórica e social do 
direito. 
- O direito é realidade universal. Onde quer que exista o homem, aí existe o direito como expressão 
de vida e de convivência. 
- É exatamente por ser o direito fenômeno universal que é ele suscetível de indagação filosófica. A 
Filosofia não pode cuidar senão daquilo que tenha sentido de universalidade. 
- Na Filosofia do Direito faz-se reflexão sobre o problema jurídico em suas raízes, 
independentemente de preocupações imediatas de ordem prática. 
 
- O jurista constrói a sua ciência partindo de certos pressupostos, que são fornecidos pela lei e pelos 
códigos. 
- Quando o advogado invoca o texto apropriado da lei, fica relativamente tranqüilo, porque a lei 
constitui ponto de partida seguro para o seu trabalho profissional; da mesma forma, quando um juiz 
prolata a sua sentença e a apóia cuidadosamente em textos legais, tem a certeza de estar cumprindo 
sua missão de ciência e de humanidade, porquanto assenta a sua convicção em pontos ou em 
cânones que devem ser reconhecidos como obrigatórios. 
- O filósofo do direito, ao contrário, converte tais pontos de partida em problemas, perguntando: 
o Por que o juiz deve apoiar-se na lei? 
o Quais as razões lógicas e morais que levam o juiz a não se revoltar contra a lei, e a não 
criar solução sua para o caso que está apreciando, uma vez convencido da inutilidade, 
da inadequação ou da injustiça da lei vigente? 
o Por que a lei obriga? 
o Como obriga? 
o Quais os limites lógicos da obrigatoriedade legal? 
 
 
- A missão da Filosofia do Direito é, portanto, de crítica da experiência jurídica, no sentido de 
determinar as suas condições transcendentais (condições que servem de fundamento à experiência 
jurídica tornando-a possível). 
- Para tanto a Filosofia do Direito precisa saber (através dos pressupostos jurídicos, descobrir os 
fundamentos do Direito): 
o Quem governa a vida jurídica? 
o O que é que condiciona o trabalho do jurista? 
o Quais as bases da Ciência do Direito e quais os títulos éticos da atividade do 
legislador? 
 
- A Filosofia é um conhecimento que converte em problema os pressupostos das ciências. É, 
portanto, sempre de natureza crítica. 
 
- Delineamos, portanto uma noção geral do que entendemos por Filosofia, como estudo das 
condições últimas, dos primeiros princípios que governam a realidade natural e o mundo moral, ou 
compreensão crítico-sistemática do universo e da vida. 
 
 
Propostas da Filosofia do Direito: 
 8
- Disciplina tendente a estudar a justiça (jusnaturalistas) 
- Disciplina tendente a estudar o dever-ser, verificando sua autonomia existencial 
(positivistas) 
- Disciplina tendente a estudar e criticar o método jurídico utilizado cientificamente pelos 
juristas (formalistas) 
- Disciplina tendente a estudar questões jurídicas históricas, assim como contribuir para o 
aperfeiçoamento do direito positivo (normativistas) 
- Disciplina tendente a estudar os fatos jurídicos (sociologistas) 
 
Metas da Filosofia do Direito: 
- proceder à crítica das práticas, das atitudes e atividades dos operadores do Direito 
- avaliar e questionar a atividade legiferante, bem como oferecer suporte reflexivo ao 
legislador 
- investigar as causas da desestruturação, do enfraquecimento ou da ruína de um sistema 
jurídico 
- investigar a eficácia dos institutos jurídicos, sua atuação social e seu compromisso com 
as questões sociais, seja no que tange a um indivíduo, a uma população definida, ou a 
temas universais 
- esclarecer e definir a finalidade (teleologia) do Direito e seus aspectos valorativos 
- por meio da crítica conceitual institucional, valorativa, política e procedimental, auxiliar 
o juiz no processo decisório 
- difundir a mentalidade da Justiça como fundamento e finalidade do Direito 
- discutir as bases axiológicas (valores morais), econômicas e estruturais que delineiam o 
Direito 
- denunciar ideologias que orientam a cultura da comunidade jurídica. 
 
 
CONCEITOS DE FILOSOFIA DO DIREITO 
 
Miguel Reale: 
 “Perquirição permanente e desinteressada das condições morais, lógicas e históricas do fenômeno 
jurídico e da Ciência do Direito” (Lições Preliminares de Direito, p. 14) 
 
Eduardo C. B. Bittar: 
 “A Filosofia do Direito é um saber crítico a respeito das construções jurídicas erigidas pela Ciência 
do Direito e pela própria práxis do Direito. Mais que isso, é sua tarefa buscar fundamentos do 
Direito, seja para cientificar-se de sua natureza, seja para criticar o assento sobre o qual se fundam 
as estruturas do raciocínio jurídico, provocando, por vezes, fissuras no edifício que por sobre as 
mesmas se ergue.” (Curso de Filosofia do Direito, 2004, p. 50). 
 
 
APLICAÇÃO DA FILOSOFIA DO DIREITO: 
1. Direito: uma ação humana para um fim imediato 
2. Filosofia do Direito: observação => visão do todo para estabelecer os meios de decisão para 
tomada das ações -> re-pensar. 
3. Não há ação sem decisão (reflexão leva a decisão). 
4. A filosofia investiga os fundamentos da decisão, aprofunda os conhecimentos para melhor 
embasar as decisões. 
5. Com a reflexão a ação é mais perfeita, portanto, as linhas do Direito tendem a evoluir. 
 
 9
 
CAPÍTULO III 
FILOSOFIA DO DIREITO NA GRÉCIA 
 
 Na Grécia Antiga, pela primeira vez, o direito deixa de ser objeto exclusivo de sacerdotes e 
monarcas, para ser discutidos por filósofos e juristas. Pela primeira vez o material jurídico 
desvencilha-se de traços religiosos, morais e políticos. 
 
 
1 - A ESCOLA PITAGÓRICA 
 
 - Fundamentada em Pitágoras de Samos, o núcleo dos estudos eram os números, que são a essência 
e princípio dos seres. Deus é o número perfeito e dele tudo emana. 
- Para o direito, a filosofia dos números teve importância ao enxergar a Justiça como uma equação 
aritmética, ou seja, só há justiça quando há proporção, igualdade. Só há justiça quando há uma 
relação aritmética de igualdade entre dano e reparação, prestação e contraprestação. 
- Diante disso os pitagóricos representavam a Justiça por um quadrado (pensando na exata 
igualdade dos quatro lados). Portanto, para eles, a Justiça exige, antes de qualquer coisa, a 
igualdade. 
 - Tal conceito influenciou Aristóteles na criação dos conceitos de Justiça Distributiva, Corretiva e 
Comutativa. Influenciou Dante Alighieri na definição de direito baseada na proporção. Também 
influenciou Beccaria quando este definiu que há necessidade de proporcionalidade entre o delito e a 
pena. 
 
 
 
2 - PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO E OS SOFISTAS 
 
- Inicialmente os filósofos gregos estudavam a natureza e seus fenômenos, o surgimento da vida, o 
elemento vital. Eram conhecidos como filósofos da natureza ou pré-socráticos. 
- Por volta de 450 a.C., Atenas se transformou no centro cultural do mundo grego. A partir dessa 
época, a filosofia tomou um novo rumo. 
- O centro dos estudos se deslocou para o homem e para sua posição na sociedade = 
antropocentrismo. 
- Nessa época desenvolveu-se a democracia1 e, portanto, a retórica (a arte de bem falar) era muito 
importante para as discussões em assembléias e tribunais, e necessitava estudo e conhecimento para 
ser bem desempenhada. 
- Com isso, um grupo de mestres e filósofos se concentrou em Atenas. Eramos sofistas: pessoas 
estudadas que ganhavam a vida ensinando aos cidadãos (homens de alto nível social). 
- Os sofistas2, assim como os filósofos da natureza, eram contrários à mitologia. 
- Os sofistas achavam que jamais alguém seria capaz de encontrar respostas para muitas questões, 
como por exemplo, os mistérios da natureza e do universo. É o chamado ceticismo, uma prevenção 
diante da possibilidade de descobrir a verdade. 
- Os sofistas eram pessoas muito viajadas, conheciam diversos sistemas de governo, diversas 
culturas, com isso começaram a discutir o que seria natural e o que seria criado pela sociedade. Foi 
o início da crítica social. 
 
1 Democracia = Sentido literal Æ demo = povo + cracia = poder = poder do povo 
Æ A palavra democracia surgiu na Grécia, tendo seu período áureo em Atenas. Como era a democracia ateniense: havia 240 
mil habitantes, desse total 150 mil eram escravos (s/ direitos políticos) e 60 mil, mulheres e crianças (s/ direitos políticos), 
dos 30 mil restantes (os homens), a média de votantes era de 6 mil, pois muitos eram menores de idades e muitos também 
faltavam às votações. Ainda assim, as leis diziam que o povo inteiro deveria decidir. Podemos concluir que a democracia 
plena nunca existiu. 
2 Os sofistas cobravam para ensinar. Por isso a palavra “sofisma” ganhou sentido pejorativo: Argumento aparentemente 
válido, mas, na realidade não conclusivo, que supõe a má-fé por parte de quem o apresenta. Parte de premissas verdadeiras, 
e, apesar de chegar a uma conclusão inadmissível, é produto de regras formais de raciocínio, não podendo ser refutado. 
 10
 
- Eles demonstraram que não existia um sentimento natural de pudor, pois as pessoas não nasciam 
com o sentimento de vergonha, não era algo inato, pois se assim fosse, em todos os lugares as 
pessoas achariam as mesmas coisas como certas. Com isso percebemos que nossa moral é 
determinada pela sociedade. 
 - Os sofistas afirmaram que não havia regras absolutas, com isso os governantes ficaram muito 
irritados, pois eles faziam as regras e diziam que os deuses queriam dessa forma, pois era a Justiça 
Absoluta. 
- Segundo Protágoras (487-420 a.C.) “o homem é a medida de todas as coisas”. 
- Com isso ele quis dizer que o certo e o errado, o bem e o mal sempre tinham de ser avaliados em 
relação às necessidades do homem. 
- Aí está o mérito da sofística: libertar o homem dos conceitos mitológicos, colocando-o no centro 
do pensamento. 
- Por esta forma de raciocínio, os sofistas passaram a entender os valores como relativos e não mais 
absolutos (de definição divina). Assim, a Justiça passou a ser vista como um valor relativo, a 
serviço dos interesses humanos. 
- Ao analisar as leis, os sofistas perceberam que o homem era o princípio e a causa de si mesmo e 
não a natureza: quem define as leis são os homens, não as divindades. 
- Caso fosse a natureza que definisse as leis, elas seriam iguais em todos os lugares do mundo3, 
portanto, é possível concluir que o homem define, conforme seus interesses, o certo e o errado. As 
leis são atos humanos e racionais que se constituem no centro da sociedade, por causa das 
necessidades sociais e através da discussão comum. 
- Trasímaco disse que a justiça é vantagem para quem domina e não para quem é dominado. Com 
isso os sofistas relativizaram o conceito de justiça, igualando-o ao de lei: é justo o que está na lei. 
Com a relativização da justiça cria-se um debate para toda a história do Direito: a Justiça é relativa 
ou absoluta, muda ou não com o tempo e espaço? 
 
 
 
3 - SÓCRATES (470-399 a.C.) 
 
3.1 - Método Socrático 
 
- Diferentemente dos sofistas, queria demonstrar que algumas normas são absolutas e de validade 
universal. 
- Sócrates era contemporâneo dos sofistas, mas diferentemente deles nunca cobrou nada por seus 
ensinamentos. Ele se afirmava como um verdadeiro amante da sabedoria, e que todas as pessoas 
poderiam aprender e chegar ao seu objetivo: sabedoria. 
- O ponto central da atuação de Sócrates é que ele não queria propriamente passar seus 
conhecimentos aos demais. No início de seus diálogos ele passava a impressão ao outro interlocutor 
de que queria aprender e, discutindo e dialogando, chegava ao ponto desejado. Geralmente, no 
começo das conversas ele só fazia perguntas, como se não soubesse nada. Durante a conversa 
levava seu interlocutor a perceber a fragilidade do próprio ponto de vista, que com isso acabava 
reconhecendo o certo e o errado e, por muitas vezes mudava de opinião. 
- A mãe de Sócrates era parteira e ele se comparava a uma parteira, pois assim como ela que só 
ajuda e indica o caminho para o bebê nascer, ele só ajudava a pessoa a perceber o conhecimento que 
tinha dentro de si, pois o verdadeiro conhecimento tinha de vir de dentro. Ele achava que as pessoas 
poderiam entender as verdades filosóficas usando sua própria razão. 
- Sócrates entendia que a alma era imortal e por isso ela acumulava o conhecimento de várias vidas, 
então quando aprendemos algo, só estamos relembrando. Quando nascemos, ninguém nos ensina a 
usarmos nossos sentidos, pois já vivemos outras vezes. Quem é bom já nasceu bom, pois já tivemos 
experiências em outras vidas que nos dão essa capacidade. 
 
3 Muito tempo depois Aristóteles disse que o fogo, por ser fenômeno da natureza, arde de forma igual em todos os 
lugares. No entanto, o Direito não se apresenta igual em culturas diferentes. 
 11
- Como Sócrates se fingia de ignorante para que as pessoas pudessem “parir” seus conhecimentos, 
criou-se o termo “ironia socrática” e maiesese (parto do conhecimento). 
- Muitas vezes, pessoas de maior poder aquisitivo e que se consideravam inteligentes, eram levadas 
a mudar de opinião após dialogarem com Sócrates, isso às vezes acontecia em frente de outras 
pessoas, o que para os arrogantes era uma grande humilhação. 
- Mas Sócrates não fazia isso por pura vontade, dizia ele que ouvia dentro de si uma voz divina, que 
lhe pedia para acordar as pessoas de sua ignorância. A essa voz ele dava o nome de “daimon”. 
 
- Para procurar os conceitos universais o método socrático, baseado no diálogo, está assentado em 
dois passos fundamentais: 
1 - Ironia. Sócrates começa por solicitar ao seu interlocutor que defina um dado conceito (O 
que é o Bem? a Justiça? a Retórica?). Aceita qualquer definição como ponto de partida, para 
em seguida formular um conjunto de questões em torno da mesma, mostrando as suas 
limitações. Chama-se ironia a este passo, porque nos Diálogos de Platão, Sócrates, finge 
ignorar as respostas que procura. 
2 - Maiêutica. Confrontado com as limitações das suas definições, o interlocutor, acaba por 
reconhecer as limitações do seu próprio saber. É então convidado a reformular a resposta 
anterior, dando uma definição mais ampla, na direção da universalidade. Maiese = parto. 
 
3.2 - Intelectualismo Moral 
 
- Quem sabe o que é certo acaba fazendo o que é certo: Só os ignorantes praticam o mal 
- Sócrates recusa uma atitude simplesmente teórica perante o saber (atitude característica dos 
sofistas). Parte do princípio que quem verdadeiramente procura o Bem, só pode viver segundo o 
Bem. 
- Diferentemente dos sofistas, Sócrates entendia que a razão definia o certo e o errado e não a 
sociedade. 
- Para ele quem sabe o que é bom acaba fazendo o bem. 
- Sócrates achava impossível alguém ser feliz se agisse contra suas próprias convicções, e sendo 
assim, quem sabe como ser feliz certamente tentará fazê-lo. 
- A virtude identifica-se com o conhecimento, ou dito de outro modo: Saber e Moralidade são o 
mesmo, e estão indissociavelmente ligados. O único que comete o mal é o ignorante, aquele que 
conhece o bem só pode praticar o bem. 
- O meio único de alcançar a felicidade ou semelhança com Deus, fim supremo do homem, é a 
prática da virtude. 
- Sócrates reconhece também, acima das leis mutáveis e escritas, a existência de uma lei natural 
independente do arbítrio humano, universal, fonteprimordial de todo direito positivo, expressão da 
vontade divina promulgada pela voz interna da consciência. 
 
3.3 - A importância das leis 
 
- Sócrates pregava a obediência às leis. 
- Via no racionalismo sofista (recusar cumprimento às leis dado o ceticismo de seu pensamento e 
sua negação às leis de “caráter” divino) um perigo, pois este levava ao ceticismo, que desorientava a 
noção que se deveria ter de moral e de bem. 
- Em um diálogo que manteve com Hípias — o qual encontra-se no Capítulo IV do Livro IV de 
Memoráveis, escrito por Xenofonte — Sócrates fora questionado sobre sua concepção de justiça e 
respondeu que julgava desnecessário dizer com palavras o que demonstrava com o seu 
comportamento. Como não estivesse satisfeito com a resposta, Hípias pergunta a Sócrates o que 
seria justo e este responde: "eu digo que o que é legal é justo". A priori, essa resposta parece ter um 
cunho altamente positivista, mas se analisarmos as concepções socráticas acerca das leis veremos 
em Sócrates um gérmen do jusnaturalismo, posto que ele acreditava que havia, além das leis 
escritas (humanas), leis que valiam para todos os homens e que eram de origem divina. 
- Ao ser condenado injustamente, Sócrates manteve-se fiel a seus ensinamentos, posto que entendia 
que "era preciso que os homens bons cumpram as leis más para que os homens maus cumpram as 
 12
leis boas". Em conclusão, a ordem e paz social dependem das atitudes humanas em respeitar ou não 
as leis do Estado. 
 
3.4 – Morte 
 
- Depois de uma vida inteira dedicada a interrogar os seus concidadãos, em obediência a uma voz 
interior (daimon) é acusado (399 a.C.) de corromper os jovens contra a religião e as leis da cidade, 
bem como por não acreditar na existência dos deuses. 
- Por uma maioria apertada foi considerado culpado e condenado à morte. 
- Ele poderia ter pedido clemência e se livrado da pena capital, bastando apenas deixar a cidade de 
Atenas. Mas ele não fez isso, apesar do apelo de todos seus familiares e amigos, entre eles Platão. 
Não fez porque entendia que havia feito em toda sua vida o que a voz divina lhe pedia, o que sua 
consciência lhe pedia, havia feito tudo pelo bem do Estado e de seus habitantes, não poderia então, 
pedindo clemência, negar tudo que havia defendido em vida. 
- Além disso, para Sócrates a ordem das leis deve ser seguida, não importando se são justas ou não, 
devendo prevalecer a ética social sobre a ética individual. O Direito aparece assim como um 
elemento de coesão social, que visa realizar o Bem Comum. Dessa forma, a vontade humana não 
pode derrogar a ordem jurídica. 
- Essa história encontra-se na obra “Apologia de Sócrates”, escrita por Platão, que conta desde o 
julgamento até o momento em que Sócrates bebeu o cálice de cicuta. 
- Sócrates não via problema na morte, pois acreditava na eternidade da alma, e acreditava também 
que havia cumprido muito bem seu papel, por isso sua alma seria mandada a um lugar muito bom. 
 
 
 
4 - PLATÃO (427-347 a.C.) 
 
- Os interesses de Platão estavam em tudo aquilo que é eterno e imutável (como Sócrates) e em tudo 
aquilo que flui (como os pré-socráticos, os sofistas). 
- Platão se interessava pelo eterno e imutável na natureza (como os filósofos da natureza) e também 
na moral e na sociedade (como Sócrates e os sofistas). 
- Assim como outros filósofos Platão queria estabelecer certas verdades imutáveis: o que é 
eternamente verdadeiro, eternamente belo, eternamente bom. 
- As preocupações filosóficas devem ser interessantes para sempre, para todas as pessoas. 
 
4.1 Mundo da idéias 
 
- Os filósofos da natureza (Empédocles e Demócrito) já haviam chamado a atenção para o fato de 
que, apesar de todos os fenômenos da natureza fluírem, havia algo que nunca se modificava, para o 
primeiro os quatro elementos (água, terra, fogo e ar) e para o segundo os átomos. Platão também se 
dedicou a este problema, mas de forma bem diferente. 
- Para Platão, tudo que podemos tocar e sentir na natureza flui. Para ele, portanto, não existe um 
elemento básico que não se desintegre, tudo no mundo dos sentidos está sujeito à corrosão do 
tempo. 
- Diante disso Platão idealizou que o que era eterno e imutável não era um elemento físico básico, 
mas sim os modelos espirituais ou abstratos, a partir dos quais todos os fenômenos são formados. 
- Dessa maneira, Platão percebeu que para todas as coisas existia uma “fôrma”, ou seja, uma idéia 
perfeita. Existem milhões de seres humanos e são quase sempre diferentes, mas sempre 
reconhecemos um ser humano, pois sabemos da idéia de ser humano. Platão então separou o mundo 
dos sentidos do mundo das idéias:
=> o mundo dos sentidos é o que podemos tocar, sentir e nada que existe nesse mundo é eterno, 
duradouro. 
=> o mundo das idéias é onde estão as imagens padrão, imutáveis, eternas que encontramos na 
natureza. 
 
Mundo Sensível Mundo Inteligível 
 13
Objetos sensíveis Objetos matemáticos 
Sombras Idéias 
Ilusão Conhecimentos matemáticos 
Crença Dialética 
Opinião Ciência 
Direito Justiça 
 
4.2 - Platão e a justiça idealizada 
 
- Para os sofistas a razão humana não conseguiria compreender o cosmos. A filosofia deveria 
refletir sobre a ação humana na terra. 
- A questão que os sofistas mais discutiram: qual é a origem das regras jurídicas. Os sofistas são 
relativistas (cada um tem uma idéia da verdade e pode convencer os outros). 
- A Justiça foi um dos principais termos abordados pelos sofistas, já que ela está inserida no campo 
das ações humanas. Foi tratada de uma maneira convencionalista, não chegando a definir o justo e o 
injusto como verdades absolutas, apenas prendendo-se às circunstâncias. 
- O fundamento de verdade pode ser a natureza ou a convenção. Para os sofistas a verdade é aceita 
pela teoria do convencionalismo, ditada pelo momento e pelas circunstâncias (tempo/espaço). 
- Em contraposição aos sofistas está Sócrates (não é relativista). Para ele existe uma verdade 
absoluta, única. 
- A Justiça aplicada pelos homens é meramente uma convenção e Platão vai buscar a Justiça 
verdadeira. Mas o que é um homem justo? 
- Para a maioria dos Sofistas a origem da justiça está num complô que os mais fracos fisicamente 
fizeram para deter a força dos mais fortes (CONVENÇÃO). Para Sócrates a justiça não é algo 
convencional, é fundada na natureza das coisas, da qual se tira a verdade absoluta. 
- Platão, como discípulo de Sócrates, seguiu a mesma linha de pensamento de seu mestre e em seus 
diálogos tentou alcançar a justiça verdadeira, uma vez que a definição da época era meramente 
convencional. 
- Podemos dizer, analisando alguns dos diálogos de Platão, que é da essência da Justiça não 
prejudicar ninguém, ou seja, o homem que age e prejudica alguém, mesmo que seja um inimigo, é 
injusto. 
- A palavra “prejuízo” é sinônima de “diminuição de valor”, quando prejudicamos alguém, esse 
alguém se torna menos perfeito, perde valor. Perfeição é objetivo indissociável de Justiça => a 
Justiça não pode ser imperfeita => a balança de Thêmis não pode pender mais para um lado do que 
para outro. 
- A justiça não prejudica, deve sempre atuar com perfeição, ou seja, sempre ser correta. 
- O homem justo deve agir sempre com razão, controlando sua cólera e seu desejo, respeitando o 
saber do mundo das idéias. 
 
"O homem justo [...] estabelece uma ordem verdadeira no seu interior [...], harmoniza as 
três partes (razão, cólera, desejo) de sua alma absolutamente como os três termos da escala 
musical”. República, livro 4. 
 
4.3 - A República 
 
- Nos diálogos da obra A República, Gláucon e Adimanto insistem, através da dialética, na busca 
pela definição de Justiça. Ambos não são sofistas. Sócrates propõe um desvio, uma metodologia: 
como não conseguem saber o que é o homem justo, devem ampliar o quadro e passar a analisar a 
cidade (num quadro maior talvez seja mais fácil de se identificar a justiça) 
- Atenas é uma cidade corrompida, já formada. Sócrates (personagem dos diálogos) propõe que se 
analiseuma cidade idealizada, construída em idéia. A maior parte do diálogo se propõe a construir 
em idéia a cidade. Para Platão a essência do homem e a essência da cidade é a mesma. 
- A cidade vai ganhando complexidade e em um dado momento possui três classes. É uma cidade 
autárquica (auto-suficiente – não precisa de nada além dela): 
· artesãos/comerciantes: sustentação econômica. Alma de bronze. 
 14
· guerreiros/exército: defesa e proteção. Alma de prata. 
· Reis: administrar e planejar – SABER – Filosofia. Alma de ouro. 
 
- Para se explicar, Platão utiliza-se de um esquema igual ao do corpo humano: 
1 - Cabeça: a razão pertence à cabeça, e dessa forma a cabeça tem a virtude da sabedoria, assim 
sendo a cabeça representa os governantes. 
2 - Peito: a vontade pertence ao peito, e dessa forma a virtude do peito seria a coragem, por isso o 
peito simboliza os sentinelas, os guardas. 
3 - baixo-ventre: o desejo, que deve ser controlado, pertence ao baixo-ventre, por causa desse 
controle a virtude do baixo-ventre é a temperança ou a moderação, dessa maneira o baixo-ventre 
representa os trabalhadores que devem ser moderados, dedicando-se ao trabalho. 
 
- Platão dividiu a sociedade ideal em 3 castas: governantes, guerreiros e trabalhadores. Cada casta 
teria sua função e a desempenharia com perfeição, sendo seus membros educados desde a infância 
para poderem agir como esperado. 
- Todos os indivíduos reúnem razão, coragem e vontade, mas um destes atributos se mostra mais 
desenvolvido que os demais. E é conforme a manifestação de sua aptidão que deve ser educado o 
homem. Justo, assim, seria dar-lhe função compatível ao seu mérito. 
- Em princípio, o Estado proposto por Platão nos parece extremamente totalitário, mas devemos 
ponderar que ele vivia numa época totalmente diferente da nossa. 
- Quantos às mulheres, Platão achava que elas também poderiam ser governantes, pois tinham a 
mesma capacidade de raciocínio, de utilização da razão que os homens. Para que as mulheres 
pudessem governar, bastaria que deixassem os trabalhos de casa e o cuidado com as crianças, e 
tivessem o mesmo estudo que os homens. 
- Platão dizia que um Estado que não educa suas mulheres é como um guerreiro que só treina o 
braço direito. 
- Platão queria abolir a propriedade privada dos governantes e dos sentinelas, evitando assim a 
corrupção. 
- Queria abolir ainda uma parcela da vida familiar, passando a educação infantil para a 
responsabilidade do Estado, pois era importante demais para ficar na esfera do indivíduo. Platão foi 
o primeiro a defender a criação de jardins-de-infância e semi-internatos públicos. Na escola as 
crianças primeiro aprenderiam a controlar seus desejos, depois desenvolveriam a coragem e, por 
fim, usariam a razão para alcançar o conhecimento. 
- É na formação (educação das crianças) que vai ser decidido a que classe cada um pertence. O 
processo pedagógico é igual para todos e vai revelar que alma cada um possui. Quem tem alma de 
ouro vai receber educação filosófica, os demais devem parar nos estágios anteriores. 
- Platão imagina que o Estado perfeito deveria ser dirigido por filósofos. A cidade ideal é aquela em 
que os filósofos são reis. Deve governar somente quem tem saber. Para Platão, o saber não está no 
mundo que conhecemos (SENSÍVEL). O verdadeiro saber está no mundo INTELIGÍVEL. No 
mundo inteligível residem as idéias (ex.: idéia de JUSTIÇA). 
- Só os filósofos podem ascender ao mundo inteligível. 
- Cidade perfeita = cidade justa = é aquela no qual cada um executa a sua função de acordo com a 
sua natureza. Impera a ordem e a harmonia. O fundamento da Justiça é inato ao homem, não é 
obtido por uma convenção. A cidade injusta é a que não respeita a ordem natural. 
 
4.4 - Mito da caverna, presente na obra A República 
 
- O que Platão nos mostra é o caminho que o filósofo percorre para alcançar o mundo das idéias. 
- Assim como os habitantes da caverna mataram o companheiro, os atenienses mataram Sócrates, 
por ter colocado em dúvida as noções que eles estavam acostumados e por querer lhes mostrar o 
caminho do verdadeiro conhecimento. 
- A alegoria demonstra a responsabilidade pedagógica e a coragem do filósofo, que já no caminho 
para o mundo das idéias se esforça para buscar seus companheiros, mesmo que isso lhe custe a vida. 
- O mundo dos sentidos seria no interior da caverna e o mundo das idéias seu exterior. 
 15
- Para concluir, Platão não acha que a natureza seja mórbida e feia como o interior da caverna, mas 
entende que o mundo das idéias é muito mais perfeito e claro. 
 
 
 
5 - ARISTÓTELES (384-322 a.C.) 
 
- Considerado um dos maiores e mais influentes pensadores da cultura ocidental. Aristóteles foi 
provavelmente o mais erudito dos filósofos gregos clássicos ou antigos. Familiarizou-se com todo o 
desenvolvimento do pensamento grego anterior a ele. Em sua obra considerou, resumiu, criticou e 
desenvolveu ainda mais toda a rica tradição que herdara. É autor de grande número de tratados de 
lógica, política, história natural, física. 
- Aristóteles é considerado por muitos o maior gênio da humanidade, sendo insuperável na sua 
capacidade de pensamento e construção intelectual. Suas teorias são aceitas até os dias atuais. 
- Na Baixa Idade Média, os ensinamentos aristotélicos desapareceram da Europa, mas foram 
preservados na cultura árabe. Na Alta Idade Média retornam ao cenário europeu: o poeta italiano 
Dante chegou a dizer que Aristóteles é o “mestre dos que sabem”. 
- Além de último grande filósofo grego, foi o primeiro grande biólogo europeu. 
- É considerado por muitos como o fundador da Filosofia Ocidental. 
 
5.1 - Aristóteles e as teorias de Platão 
 
- Enquanto Platão achava que tudo que vemos ao nosso redor são reflexos do mundo das idéias e 
que só com a utilização da razão podemos adquirir conhecimento seguro, Aristóteles achava que o 
grau máximo de visão da realidade era alcançado através dos sentidos. 
- Aristóteles concordava com Platão no fato de que as coisas do mundo dos sentidos se deterioram 
com o tempo, e que as idéias são eternas. 
- Mas, para Aristóteles, as idéias (um cavalo, por exemplo) não passavam de um conceito criado 
pelo homem, ou seja, os homens viram as coisas (cavalos) e assimilaram a idéia de um modelo. 
- Com isso, Aristóteles achava, diferentemente de Platão, que não existiam idéias inatas, ou seja, 
que nascem conosco. Para ele todas as idéias são adquiridas com a vivência. 
- Para Aristóteles não existe nada na consciência do homem que não tenha sido experimentado 
pelos sentidos. 
- Ele achava que todas nossa idéias e pensamentos tinham entrado em nossa consciência através do 
que víamos e ouvíamos. 
 
PLATÃO ARISTÓTELES 
O verdadeiro conhecimento está no mundo 
ideal (das idéias) 
A informação confiável está baseada no 
exame direto do fato observável => 
Empirismo. 
Acreditar nos sentidos é um erro, pois tudo 
no mundo dos sentidos está se deteriorando. 
Empirismo: o conhecimento nasce 
unicamente da experiência. Nega-se a 
existência de princípios puramente racionais.
Apenas através do raciocínio alcançaremos a 
verdade. 
“Sou amigo de Platão, mas amigo maior da 
verdade”. 
 
=> Como se decidir entre Platão e Aristóteles? 
- Bem fez Kant (séc. XVIII): reuniu as duas correntes, ou seja, utilizou-se de argumentação 
puramente racional (abstrata), mas se manteve com os pés no chão (usou também o empirismo). 
Fundiu as duas formas de busca do conhecimento, demonstrando que ambas se complementam. 
 
5.2 - Ética 
 
- Do que o homem precisa para viver uma boa vida? 
- Para Aristóteles o homem possui tanto uma alma vegetal, uma alma animal assim como uma alma 
racional. 
 16
- Então ele achava que o homem só seria feliz se completasse a utilização de todas suas 
capacidades. 
- Existiam 3 formas de felicidade: 
l - Uma vida de prazeres e satisfações (alma vegetal: alimentação e reprodução); 
2 - Uma vida como cidadão livre e responsável (alma animal: movimentação e sentimentos); 
3 -Uma vida como pesquisador e filósofo (alma racional). 
 
- Ele achava que se uma pessoa usufruísse apenas da alma vegetal não seria feliz, assim como 
aquele que usufruísse somente da alma racional também não seria feliz. Ele achava que os extremos 
seriam garantias de tristeza, deveria haver uma conjunção das 3 almas. 
 
5.2.1 - Doutrina do justo meio 
 
- Conselhos de Aristóteles: não devemos ser nem covardes, nem audaciosos, devemos sim ser 
corajosos. Não devemos ser nem avarentos, nem extravagantes, mas generosos. 
- Quais as ações que nos levam à felicidade? São as ações virtuosas. O que é a virtude? O que é a 
excelência de caráter? A virtude é o justo meio entre dois extremos, nem por falta, nem por excesso. 
A virtude da alma está nesse meio termo, que varia de acordo com cada um (cada um nasce com 
determinada pré-disposição). 
- A ética de Aristóteles e Platão lembra em muita a ética da medicina grega: só através do equilíbrio 
e da moderação podemos nos tornar pessoas felizes ou harmônicas. 
- Busca da felicidade 
- Diz Aristóteles que a meta do homem é a felicidade; 
- Ele alcança a felicidade quando desempenha plenamente sua função; 
- Logo, é preciso determinar qual é a função do homem. 
- A função de uma coisa é aquilo que só ela pode fazer, ou o que ela pode fazer melhor. Por 
exemplo, a função do olho é ver, e a função da faca é cortar. Nesse sentido: alma = função. 
- Aristóteles declarou que o homem é o "animal racional", cuja função é raciocinar. Assim, 
segundo Aristóteles, para o homem uma vida feliz é a vida governada pela razão. 
 
- Aristóteles acreditava que um homem que tem dificuldade em proceder eticamente é moralmente 
imperfeito. 
- O homem ideal exercita-se no comportamento razoável e adequado até poder fazê-lo com 
naturalidade e sem esforço. Aristóteles acreditava que a virtude moral é uma questão de evitar os 
extremos no comportamento, procurando, ao contrário, o meio-termo que fica entre os extremos 
(doutrina do justo meio). Por exemplo, a virtude da coragem é o meio-termo entre os vícios da 
covardia, de um lado, e do outro uma louca ousadia 
- Para Aristóteles, tanto a ética como a política estudam o conhecimento prático, isto é, o 
conhecimento que capacita o homem a agir adequadamente e a viver feliz. 
 
5.3 - O Direito 
 
- Considerado o pai do Direito Natural. 
- Aristóteles foi o primeiro a dividir os poderes em três: executivo, legislativo e judiciário. 
- Distinguiu, ainda, três tipos de constituição política: monarquia, aristocracia e política, bem como 
suas respectivas "deformações": tirania, oligarquia e democracia (cujo sentido corresponde hoje ao 
de demagogia). 
- Aristóteles distingue dois tipos de justo: o justo natural e o justo político, mas não os separa. 
o Justo natural expressa uma justiça objetiva imutável e que não sofre a interferência humana. 
o Justo político é a lei positiva que tem sua origem na vontade do legislador e que sofre 
variação espaço-temporal. 
 
- Aristóteles classificou a justiça em: distributiva e comutativa. 
o Justiça distributiva ou proporcional constitui na distribuição proporcional ao mérito de cada 
um, de bens ou honras. 
 17
o Justiça comutativa voluntária decorreria das relações de troca (mercantis), de forma que os 
objetos trocados fossem equivalentes, enquanto que a justiça comutativa involuntária era 
decorrente das infrações. 
 
- Função da eqüidade: adequar a lei (norma geral e abstrata) ao caso particular e concreto. 
A seguir, um trecho de Ética a Nicômaco que demonstra bem isso: 
"A justiça e a eqüidade são (...) a mesma coisa, embora a equidade seja melhor. O que cria 
o problema é o fato de o eqüitativo ser justo, mas não o justo segundo a lei, e sim um 
corretivo da justiça legal. A razão é que toda lei é de ordem geral, mas não é possível fazer 
uma afirmação universal que seja correta a certos aspectos particulares. (...) De fato, a lei 
não prevê todas as situações porque é impossível estabelecer uma lei a propósito de 
algumas delas, de tal forma que às vezes se torna necessário recorrer a um decreto. Com 
efeito, quando uma situação é indefinida a regra também tem de ser indefinida, como 
acontece com a régua de chumbo usada pelos construtores em Lesbos; a régua se adapta à 
forma da pedra e não é rígida, e o decreto se adapta aos fatos de maneira idêntica". 
 
5.4 – Justiça 
 
- A gênese do Direito não está em Deus e muito menos nas leis. Segundo Aristóteles, a origem do 
Direito está na própria natureza. 
- O Direito positivo tem como função complementar o Direito Natural. 
- As leis são boas quando estiverem em conformidade com o Direito Natural. 
- A realização da Justiça depende da obtenção da igualdade e da proporcionalidade. 
- O progresso do Estado (todo) e a felicidade (individual) devem ocupar o primeiro plano do 
pensamento. 
- Assim, a origem do Estado não é convenção humana, mas exigência natural. 
 
5.4.1 - Justiça e legislação 
 
- O homem virtuoso procura o bem comum => o legislador deve ser virtuoso => cria então leis que 
objetivam o bem comum => nesse sentido seguir as leis é o mesmo que ser justo 
- Tal raciocínio leva ao “justo total” de Aristóteles: leis justas e ações humanas justas. 
 
5.4.2 - O comportamento justo 
 
- A justiça é uma virtude baseada no comportamento ético que se traduz em ações práticas entre 
seres humanos 
 
5.5 - Política 
 
- Aristóteles entendia que para a sociedade também devia haver moderação. Para ele “o homem é 
por natureza um animal político." 
- Achava que sem a sociedade ao nosso redor não seríamos pessoas no verdadeiro sentido do termo. 
Nesse contexto, a família e a cidade satisfazem nossas necessidades vitais, como a comida e o calor, 
o casamento e a criação de filhos. 
- Ele entendia que o homem só passa a ser civilizado se estiver vivendo em sociedade, se o homem 
não tivesse os olhos da sociedade o vigiando, ele seria um selvagem. 
- Para Aristóteles a sociedade tem como objetivo o homem: o fim social é o homem. 
 
5.6 - A visão da mulher 
 
- Para ele a mulher era um "homem incompleto". 
- Na reprodução a mulher é passiva e receptora, enquanto o homem é ativo e produtivo. Por esta 
razão, segundo Aristóteles, o filho do casal herdava apenas as características do pai. Achava que 
todas as características dos filhos estavam no sêmen do homem. A mulher era apenas o "solo" que 
fazia germinar a semente. O homem fornece a forma e a mulher fornece a substância. 
 18
-Infelizmente, foi o conceito de Aristóteles que predominou na Idade Média, tendo o conceito de 
mulher de Platão sido esquecido. É certo que só há pouco tempo o conceito de igualdade entre 
homens e mulheres está vindo à tona. 
 
5.7 - Retórica 
 
- O que é: estudo do uso persuasivo da linguagem, em especial para o treinamento de oradores. 
- Tradicionalmente, cinco são as partes do estudo retórico: 
a) a inventio, ou descoberta de argumentos; 
b) a dispositio, ou arranjo das idéias; 
c) a elocutio, ou descoberta da expressão apropriada para cada idéia, e que inclui o estudo das 
figuras ou figuras de linguagem; 
d) a memoria, ou memorização do discurso; 
e) a pronuntiatio, ou apresentação oral do discurso para uma audiência. 
 
Ö Conselho da retórica aristotélica: Falar como os homens comuns, pensar como os sábios, 
assim todos entenderão. 
 19
CAPÍTULO IV 
FILOSOFIA DO DIREITO EM ROMA 
 
 Diferentemente da Grécia, o campo filosófico em Roma não encontra ambiente fértil, pois 
tudo se delineia com objetivismo, praticidade e imediatismo. Os grandes objetivos militares, as 
obras monumentais e o interesse imediatista dos romanos não abrem espaço aos filósofos e sim aos 
retóricos e historiadores. 
 A filosofia romana se constrói da importação dos conceitos gregos, preponderando somente 
o que interessava. 
 No mesmo sentido segue a filosofia do direito, mais inclinada à ação do que à reflexão. 
 Para fugir das abstrações os romanos sistematizam seu sistema jurídico, criando o Corpus 
Juris Civilis, totalmentecasuísta, ou seja, surge o apego formalístico à letra da lei, despojado de 
dialética. 
 A codificação do direito representa a razão escrita. Em outras palavras, a dialética perde 
força para dar espaço ao formalismo e seguimento do positivado. 
 
 
1 - MARCO TÚLIO CÍCERO (106-43 a.C.) 
 
- Marcus Tullius Cícero produziu contribuições para política, moral, teologia, Direito, literatura, 
retórica, oratória entre outros campos. 
- Viveu no período clássico do Direito Romano e é o que mais interessa à filosofia do direito. 
- Cícero recebeu grande influência dos estóicos. O estoicismo sintetizou o seguinte ideal do homem 
sábio: aquele que venceu todas as suas paixões e se livrou das influências externas pode alcançar a 
liberdade autêntica. Assim, através da lei natural, o homem pode viver segundo a natureza humana 
e não segundo preceitos humanos construídos por interesses egoísticos. 
- Cícero foi um grande orador político e jurídico, com vasta atuação nos tribunais cíveis e criminais. 
 
1.1 - Ética Ciceroniana 
 
- A ética, com influência estóica, requer o respeito às leis cósmicas e ao universo. Para alcançá-la, o 
homem precisa descobrir seu interior e a atingir o estado em que a alma, pelo equilíbrio e 
moderação na escolha dos prazeres sensíveis e espirituais, atinge o ideal supremo da felicidade: a 
imperturbabilidade. 
- Para Cícero existia apenas uma fonte de lei: o respeito à harmonia natural. Enquanto as leis fossem 
fundamentadas nesta perspectiva, caberia aos homens respeitá-las. Cícero concebe o direito natural 
como a suprema razão inerente à natureza. 
- No entanto, a ética ciceroniana não era pura, recebendo influências dos estóicos, de Sócrates, 
Platão e Aristóteles. 
- Construção da ética ciceroniana: 
- A ética se forma da ligação do homem com a natureza. 
- Ética não é contemplação, reflexão, ética é ação. 
- O que se julga como ético ou não é a própria ação. 
- Com isso, justiça é uma conquista prática, decorrente das ações. 
- A ética depende de uma lei absoluta preexistente, imutável, intocável, soberana e que a 
tudo governa: a lei natural (o bem e o mal são definidos pelas razões da natureza). 
- Conhecer-se a si mesmo e descobrir a lei natural em si é o caminho da sabedoria. 
 
1.2 - Justiça e paz social 
 
- Sociedade justa e organizada: 
- A justiça deve pautar-se nas leis naturais. 
- A criação das leis humanas deve ser inspirada nas leis naturais. 
- A lei natural antecede o homem e deve servir-lhe de parâmetro para construção de sua 
organização artificial, para que assim haja prevalência da justiça. 
 20
- A lei natural capacita a construção de uma razão comum, que levará a uma República 
justa. 
- Para Cícero não há felicidade sem uma boa constituição política e, por ser o homem um 
ser dependente da vida social, necessita de uma estrutura politicamente organizada. 
Assim, conforme a evolução do grau de organização da República, melhor a felicidade 
humana. Para que haja apenas uma única razão, portanto justiça e paz social, é 
necessária a contemplação das leis naturais. 
- “A lei é uma diferença entre o justo e o injusto, feita de acordo com a Natureza” (Cícero, 
Das leis). 
 
 
2 – JURISCONSULTOS ROMANOS 
 
- Os romanos não se enveredaram no campo das abstrações e meditações filosóficas. Contudo, não 
se pode deixar de ressaltar a importantíssima prática da interpretação dos institutos jurídicos que até 
hoje influencia os sistemas jurídicos romanistas. Grande exemplo da importância dessas 
interpretações é o Digesto: coleção das decisões dos jurisconsultos romanos mais célebres, 
transformadas em lei por Justiniano, imperador romano do Oriente (483-565), que é uma das partes 
do Corpus Juris Civilis. 
- É comum na visão dos jurisconsultos perceber a identificação da moral com o direito. Contudo 
vemos também o jurisconsulto Paulo dissociar essa relação, afirmando que nem tudo que é lícito é 
moral (D. 50, 17, 144). 
- Percebe-se ainda forte influência grega nos preceitos de direito contidos no Digesto: viver 
honestamente, não prejudicar a outrem, dar a cada um o que é seu. 
- Mas para não tornar o direito algo pétreo, os romanos permitiram a aequitas: adequamento do jus 
aos infinitos casos concretos, é a justiça do caso concreto. Dessa forma, a lei não se aplica sempre 
da mesma forma, buscando-se o caminho da equidade. O direito é norma geral e abstrata e cada 
situação concreta guarda suas especificidades, portanto, aplicar sempre a lei da mesma forma é 
possibilitar a desigualdade de tratamento (deve-se, muitas vezes, tratar diferente aos desiguais). A 
aequitas não atinge o jus civile, não o contradiz, apenas o adapta ao caso concreto. 
 
 
3 – SURGIMENTO DO CRISTIANISMO 
 
- Até então o pensamento jusfilosófico da Antigüidade se preocupava com o antagonismo 
indivíduo-Estado. Com o Cristianismo, começam indagações relativas à liberdade e igualdade entre 
os homens, dignidade da mulher, tratamento humano aos escravos, união familiar, etc. 
- Isso tudo passou a influenciar as discussões jurídicas. Contudo, nessa época o Cristianismo era 
apolítico, ou seja, não combatia a ordem política dominante (“A César o que é de César, a Deus o 
que é de Deus”; “Meu reino não é deste mundo”). 
- A Antigüidade coloca o Estado acima do indivíduo, na Idade Média cogita-se o poder da igreja 
acima do poder do Estado. Isso tudo é objeto de estudo na Filosofia do Direito na Idade Medida. 
 21
CAPÍTULO V 
FILOSOFIA DO DIREITO NA IDADE MÉDIA 
 
 
 A idade média se caracteriza pela volta do teocentrismo. A denominação média se refere ao 
fato de que esta idade medeia a ligação entre o antropocentrismo da Idade Antiga e o 
antropocentrismo do Renascimento. Com Deus no centro de todas as aspirações filosóficas, 
políticas e culturais a Igreja Católica passa a acumular o poder divino e temporal. 
 Com o fortalecimento da Igreja Católica, a Idade Média tem a jusfilosofia pautada no estudo 
do direito sob foco religioso. Os principais filósofos são Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. 
 
 
 
1 - SANTO AGOSTINHO (354-430) 
 
- No pensamento de santo Agostinho, o ponto de partida é a defesa dos dogmas (pontos de fé 
indiscutíveis) do cristianismo, principalmente na luta contra os pagãos (adeptos de religiões que não 
adotam o batismo ou são politeístas), com as armas intelectuais disponíveis que provêm da filosofia 
helenístico-romana, em especial dos neoplatônicos como Plotino. 
- Para pregar o novo Evangelho, é indispensável conhecer a fundo as Escrituras, que só podem ser 
bem interpretadas através da fé, pois apenas esta sabe ver ali a revelação de verdades divinas. 
Compreender para crer e crer para compreender, tal é a regra a seguir. 
- Baseado em Plotino, santo Agostinho acha que o homem é uma alma que faz uso de um corpo. 
Até naquele conhecimento que se adquire pelos sentidos, a alma se mantém em atividade e 
ultrapassa o corpo. Os sentidos só mostram o imediato e particular, enquanto a alma chega ao 
universal e ao que é de pura compreensão, como os enunciados matemáticos. 
- A verdade eterna somente pode ser alcançada em Deus. Portanto, Deus faz parte do pensamento e 
o supera o tempo todo. Desse modo só pode ser achado e conhecido no fundo de cada um, no 
percurso que se faz de fora para dentro e das coisas inferiores para as coisas superiores. Ele não 
pode ser dito ou definido: é o que é, em todos os tempos e em qualquer lugar. 
- A alma, para santo Agostinho, se confunde com o pensamento, e sua expressão, sua manifestação 
é o conhecimento: por meio deste a alma - ou o pensamento - se ama a si mesma. Assim, o homem 
recompõe nele próprio o mistério da Trindade (a perfeição: criação divina sem hierarquia) e se vê 
feito à imagem e semelhança de Deus: se ele ama e se conhece dessa maneira, ele conhece e ama a 
Deus, conseqüentemente mais interior ao ser humano do que este mesmo. 
- O famoso cogito de Descartes ("Penso, logo existo"), em que a evidência do eu resiste a toda 
dúvida, é genialmente antecipado porsanto Agostinho em seu "Se me engano, sou; quem não é não 
pode enganar-se". Ele valoriza a pessoa humana individual até quando erra (o que, neste aspecto, 
não a torna diferente da que acerta). Talvez por isso dê o mesmo peso à parte humana e à parte 
divina. 
- A salvação do homem, na teologia agostiniana, é algo completamente imerecido e que depende 
tão só da graça de Deus; graça que, no entanto, se manifesta aos homens por meio dos sacramentos 
da igreja visível, católica. Importantes para a salvação, esses sacramentos compreendem todos os 
símbolos sagrados, como o exorcismo e o incenso, embora a eucaristia e o batismo sejam os 
principais para ele. 
 
1.2 - DOUTRINA SOBRE O CONHECIMENTO 
 
A primeira questão filosófica colocada por ele foi a da possibilidade do conhecimento (influência 
do ceticismo), sob dois aspectos: 
 
I. É possível conhecer a verdade? 
- Os céticos afirmam que não, mas para Agostinho é possível conhecer ao menos algumas verdades, 
como por exemplo, a própria existência (se duvido que existo, significa que isto é uma verdade, 
porque a própria dúvida é prova da existência). 
 
 22
II. Como conhecemos a verdade? 
- Acerca do processo do conhecimento, reconhece três operações cognitivas: 
I - Pelos sentidos => determinação da qualidade dos objetos. 
II – Pela razão inferior => determinação das leis da natureza. 
III – Pela razão superior => determinação das verdades eternas. 
 
- Todo o conhecimento é realizado pela alma. Ela é superior ao corpo e não depende dele para nada, 
nem mesmo para a atividade sensitiva. A alma exerce a sensação através do corpo, recebendo dele 
os estímulos que transforma em conhecimento. 
- O conhecimento científico é obtido pela razão inferior, que se ocupa do mundo e produz as leis 
universais da natureza. 
- O conhecimento das verdades eternas é obtido pela razão superior, mediante a iluminação divina 
que atua na alma. Essa iluminação é uma espécie de luz incorpórea, pela qual Deus possibilita aos 
homens o conhecimento das verdades absolutas. 
- Agostinho não esclarece o que entende por verdades eternas. Segundo seus intérpretes, podem ser 
as verdades morais ou a verdade do juízo. 
 
1.3 - A ALMA E O CORPO 
 
- Santo Agostinho afirma-se incapaz de solucionar a questão da origem da alma e, embora tão 
influenciado por Platão, não acha a matéria por si mesma condenável, assim como não encara como 
castigo a união da alma com o corpo. Não seria este, como se disse tanto, a prisão da alma: o que 
faz do homem prisioneiro da matéria é o pecado, do qual deve libertar-se pela vida moral, pelas 
virtudes cristãs. O pecado leva o corpo a dominar a alma; a religião, porém, é o contrário do pecado, 
é a dominação do corpo pela alma, que se orienta livremente para Deus, assistida pela graça. 
- Uma das mais belas concepções de santo Agostinho é a da cidade de Deus. Amando-se uns aos 
outros no amor a Deus, os cristãos, embora vivam nas cidades temporais, constituem os habitantes 
da eterna cidade de Deus. Na aparência, ela se confunde com as outras, como o povo cristão com os 
outros povos, mas o sentido da história e sua razão de ser é a construção da cidade de Deus, em toda 
parte e todo tempo. A obra de santo Agostinho, em si mesma imensa, de extraordinária riqueza, 
funda a filosofia da história e domina todo o pensamento ocidental até o século XIII, quando dá 
lugar ao tomismo e à influência aristotélica. 
- Voltando à cena com os teólogos protestantes (Lutero e, sobretudo, Calvino), hoje é um dos 
alicerces da teologia dialética. 
 
1.4 - MAL E LIBERDADE 
 
- Como se explica o mal, num mundo bom criado por Deus? A questão do mal preocupa Agostinho 
desde quando ele era maniqueu. Obviamente, Deus não pode ser causa do mal. 
- Seguindo Plotino, Agostinho afirma que o mal é ausência ou falta do bem. “O mal é a privação de 
uma perfeição que a substância deveria ter”, não é uma realidade positiva, mas uma lacuna onde 
deveria haver o bem. 
- Ao criar as coisas, Deus coloca todas as condições de seu desenvolvimento, mas como há a 
necessidade da ação das criaturas e estas são imperfeitas, ocorrem falhas que geram o mal. Por 
exemplo: na semente de uma árvore estão presentes todas as características para que ela se 
desenvolva plenamente, Deus a dotou de tudo isso. No entanto não é sempre que a árvore se 
desenvolve em sua plenitude. 
- O mal se manifesta sob duas formas principais: sofrimento e culpa. 
- “Quando um homem abandona o caminho do bem supremo e se volta para um bem particular, 
peca e nisso consiste o mal.” A causa última do mal, portanto, é o próprio homem. 
- Nenhuma coisa é em seu ser má; então, o pecador pode não fazer coisas más, porém pode deixar 
de seguir o bem maior por um bem menor. A origem dessa aversão é o livre arbítrio. Daqui vem a 
culpa e desta, o sofrimento. 
- A liberdade é um bem, porque é a condição da moralidade e sem isso não haveria méritos. 
 23
- Não seria melhor se Deus tivesse criado um mundo onde não existisse o mal? Agostinho diz que 
saber sobre isso é saber mais do que Deus, então esqueçamos tal afirmação. 
- Então, o mal é necessário? Conforme Agostinho, não é necessário, mas é inevitável, por causa da 
condição humana de liberdade, na qual Deus não interfere. Mas para superar a fraqueza humana 
(decorrente do pecado original, que trouxe a introdução do mal para o mundo), Deus dá ao homem 
a sua graça. 
 
1.5 – JUSTIÇA 
 
- De fundo neoplatônico, a teoria de Agostinho divide a justiça em dois planos: 
=> Justiça transitória: realizada pelos homens e por isso é imperfeita corruptível pelos falsos juízos 
humanos – justiça humana. 
=> Justiça eterna: perfeita e isolada da corrupção dos atos humanos – justiça divina. 
 
- O principal motivo da justiça humana ser corrupta é o pecado original. As leis humanas muito se 
baseiam nas orientações divinas, mas o homem possui uma natureza corrupta, pois se desgarrou de 
sua origem ao cometer o pecado original. Pode-se até vislumbrar que Agostinho aceita a influência 
cristã sobre a lei como algo positivo, pois aproximaria as leis temporais da justiça divina. 
- A busca espiritual é o caminho para a Cidade dos Homens (maculada pelo pecado original) se 
“aproximar” da Cidade de Deus. Os homens da cidade terrena vivem sob o manto do desregramento 
e os da cidade divina sob o prisma da união à Deus. Os que ficarem de fora da segunda cidade 
estarão condenados à lamúria: a morte eterna. 
- Para Agostinho o livre-arbítrio humano é seu maior motivo de queda espiritual. 
- Portanto, um homem corrupto produz, um Estado corrupto, com leis corruptas. 
- As leis divinas buscam apenas aproximar as almas de Deus. As leis humanas ou leis temporais 
muitas vezes pretendem favorecer certas classes ou pessoas, não buscam sempre o bem comum. 
- Lei eterna e Lei divina: Miguel Reale separa os conceitos. Para o autor Lei eterna é a lei que 
expressa a razão divina e é inseparável dela. Lei divina é a expressão da primeira, a lei revelada, a 
possibilidade mais próxima de conhecimento da lei eterna, como por exemplo os Dez 
Mandamentos. 
- Certo também que as leis temporais, por melhor que sejam, somente se preocupam com a ordem e 
progresso social, deixando de lado as finalidades divinas. Assim sendo, regram apenas o 
indispensável para a paz social, não prescrevendo orientações para a melhora da humanidade. 
- Importa ressaltar ainda, que a sociedade humana sem regramento e punições, se tornaria um local 
de profunda violência. O homem sem lei age sem limites. Isso demonstra que a natureza humana é 
corrupta e distante da lei divina. Agostinha expressa: “Suprimida a justiça que são os grandes reinos 
senão vastos latrocínios?” (De citate Dei, Livro IV, cap. IV.). 
- Agostinho pensa, assim como os romanos, que “Justiça é dar a cada um o que é seu”. 
- Para existir uma república necessária é a ordem e não há ordem sem direito, não havendo direito 
sem justiça. Em resumo: a ordem deve promover a distribuição do que é de cada um. 
 
1.6 - LIVRE-ARBÍTRIO 
 
- As leis temporaisnão regem a alma humana, somente as leis divinas. 
- O livre-arbítrio propicia aos homens a possibilidade de escolhas na vida terrena. 
- Somente quando há livre-arbítrio é que há escolhas, assim sendo, somente nesses casos é possível 
pensar-se em punição, divina ou humana. 
- O julgamento divino acontecerá analisando as decisões tomadas pelos homens por meio de seu 
livre-arbítrio. 
- Para que as leis temporais possam punir o livre-arbítrio, necessária a análise da capacidade do 
homem de tomar decisões, de saber entre certo e errado. 
- Ser livre é não só poder deliberar com autonomia, mas, sobretudo escolher de forma iluminada 
pelo espírito divino, que se busca sempre o caminho de Deus. 
- A orientação para as escolhas deve ser pautada na razão divina. Para tanto o homem deve buscar o 
autoconhecimento. Isto pelo fato de que as leis divinas estão escritas, segundo Agostinho, no 
 24
coração dos homens. Conhecer a si mesmo e a Deus constituem atividades e objetivos fundamentais 
à vida do homem. 
- O homem precisa conhecer a verdade (dos homens) e a Verdade (divina), para então conseguir 
vencer sua natureza corrupta. 
 
 
 
2 - SÃO TOMÁS DE AQUINO (1225-1274) 
 
- São Tomás de Aquino viveu em um século de grande controvérsia intelectual provocada pela 
recuperação da obra de Aristóteles. 
- Aceitou o que para ele era verdadeiro nos estudos de Aristóteles, mas assinalou erros e construiu 
seu grande trabalho a partir de uma combinação do pensamento aristotélico e da revelação cristã. 
Afirmava não haver conflito entre a fé e a razão. Sustentava que a filosofia se baseia na razão e a 
teologia na revelação da palavra de Deus. Como Deus não pode errar, quaisquer discordâncias entre 
as conclusões filosóficas e as verdades da revelação devem originar-se de um erro de raciocínio. 
- A partir do século XVI o tomismo é adotado como doutrina oficial da Igreja Católica. 
- A sua obra marca uma etapa fundamental na escolástica. 
- Escolástica: Doutrinas teológico-filosóficas dominantes na Idade Média, dos sécs. IX ao XVII, 
caracterizadas sobretudo pelo problema da relação entre a fé e a razão. 
 
2.1 – JUSTIÇA 
 
- Aquino cuidou detalhadamente do estudo da Justiça e seus conceitos, principalmente no texto 
Summa Theologica. No entanto, o estudo do Direito e da Justiça utilizam o prisma humano e não 
divino. 
- Aquino se preocupou muito com o Direito Romano e Aristóteles, se importando profundamente 
com o dar a cada um o que é seu. 
- A moral para Aquino é muito próxima do conceito de ética para Aristóteles. 
- Ao refletir sobre Justiça acaba por distinguir: 
a) Justiça distributiva: a que reparte honras, riquezas e dignidades segundo as qualidades de cada 
um. 
b) Justiça comutativa: a que regula trocas econômicas segundo o princípio da igualdade de 
proporção. 
 
Para alcançarmos o entendimento tomista sobre Justiça: 
1 - Para o estudo da Justiça em Aquino precisamos dividir três conceitos de lex: sentido humano, 
sentido natural e sentido divino. 
2 - Necessário ainda visualizarmos a preocupação tomista com a razão prática e com a ética. 
3 – A natureza humana se divide em corpo e alma, sendo o primeiro a matéria perecível, corruptível 
e mortal, diferentemente da alma. O corpo contribui para o aperfeiçoamento da alma. Para São 
Tomás animais e vegetais também possuem alma, em graus diferenciados. 
4 – Assim como para Aristóteles, o homem possui uma alma vegetativa (tarefas fisiológicas), uma 
alma sensitiva (atos) e uma alma intelectual (raciocínio). A alma intelectual diferencia o homem dos 
outros animais e o faz escolher suas ações. 
5 – Para São Tomás o conhecimento também depende da experiência (como para Aristóteles): nada 
está no intelecto que primeiro não tenha passado pelos sentidos. 
6 – Podemos concluir que a vontade (alma sensitiva) e a inteligência (alma intelectual) se 
completam, devendo, no entanto, a definição do ato ser dirigida pela inteligência. 
7 – O homem nasce, por vontade divina, preparado para o bem, mas com a corrupção do corpo 
(material) pode passar a praticar o mal. 
8 – A liberdade consiste exatamente na possibilidade de escolhas entre o que é justo ou injusto, 
através de valores: o livre-arbítrio. 
9 – A atividade ética consiste em discernir, por meio da razão prática, entre bem e mal, destinando 
os atos para determinado fim: o bem. 
 25
10 – A ética do coletivo deve sempre buscar o bem comum, uma vez que é essa a finalidade da 
sociedade. 
 
- Sindérese: São Tomás dá este nome ao fato de que a ética incide sobre a razão prática, sobre o 
agir, guiando-o para a forma justa. 
 
- Lei positiva: a lei positiva é necessária para completar a busca pelo bem (aquilo que agrada a 
todos). O homem através da sinderese é capaz de agir para o bem. No entanto, este caminho que 
parece simples pode ser desvirtuado quando o mal (falsa aparência de bem, ausência de bem) 
influencia na ação. O papel da regra não natural é indicar o caminho correto. 
 
2.2 - NOÇÃO DE JUSTIÇA 
 
- São Tomás faz uso de conceito aristotélico (Justiça é ser ético) e do conceito romano de justiça 
suum cuique tribuere (dar a cada um o que é seu), concluindo que a Justiça é uma virtude. Através 
da razão e da experiência se faz Justiça, dando a cada um o que é seu. 
- Definição do Doutor Angélico (codinome pelo qual também se chama São Tomás): “a justiça é 
um hábito que nos faz agir escolhendo o que é justo”. 
- São Tomás aduz: 
- Nem todos são iguais. 
- A justiça é um hábito (ação escolhida). 
- Como razão prática deve-se distinguir o seu do meu e o meu do seu. 
- A ação justa não pode envolver paixões. 
- Mas o que é de cada um? 
 
2.3 - DIREITO E JUSTIÇA 
 
- O direito não é Justiça, a maior das virtudes, mas busca a realização da justiça. 
- Certo também que o direito não se resume a lex, no sentido de lei positiva. Abrange o que está 
posto (positivado) mais todo o sistema legal e jurídico, que advém da razão divina e da razão 
natural. 
 
2.4 - REGIME DAS LEIS 
 
- É mais conveniente para a comunidade viver sob um regime de leis ou de homens? 
- Para São Tomás o raciocínio é o seguinte: 
Ö Em uma sociedade ampla é necessária a presença de vários juízes para que todos os casos 
sejam analisados. É mais fácil encontrar poucos legisladores bons do que muitos juízes 
bons. 
Ö O legislador deve prever os casos antes que aconteçam. O juiz analisa os casos já ocorridos. 
Se o juiz estiver submisso à lei deverá executá-la. 
Ö O juiz, diante do fato, pode envolver-se subjetivamente, ficando cego diante das emoções. A 
objetividade é fundamental a segurança da sentença. O legislador produz o corpo legal em 
abstrato, não olhando diretamente os casos fáticos e, portanto, sem uso das emoções. 
Ö O ato de justiça é o ato de julgar. Assim sendo, o julgamento deve ser justo e pautado em 
leis abstratas e isentas de emoções. 
- Podemos concluir que para São Tomás a atividade do legislador é fundamental para a preservação 
da Justiça. A lei escrita deve instituir a lei natural, concretizando-a. Quando a lei escrita promulga a 
lei natural faz-se um caminho reto, dirigido por um juízo de razão, para o Bem Comum. 
 
2.5 - A ATIVIDADE DO JUIZ 
 
- Para São Tomás o juiz é a justiça viva, pois sua função é efetivar a justiça, seguindo as leis justas 
emanadas do legislativo. 
- Podemos dizer que a sentença do juiz é uma lei particular aplicada a um caso concreto. Deve 
também ter força coativa, como a lei legislada. 
 26
- O julgamento consiste no restabelecimento concreto da igualdade que foi rompida anteriormente. 
- Somente o juiz constituído tem poder de dizer a justiça, devendo atuar sempre nos limites de seu 
poder. 
- Para um julgamento justo precisamos: 1) proceder com inclinação justa; 2) ser dado por uma 
autoridade investida de poder para tanto; 3) estar inspirado pela prudentia. 
 
2.6 - SÃO TOMÁS E A INQUISIÇÃO 
 
- Se só os juízes podem julgar, como os clérigos poderiam promover julgamento e até mesmo 
condenar a morte? Esta foi uma questão difícil para Tomás em pleno século

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