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ESTUDO SOBRE OS ELEMENTOS AFRO-BRASILEIROS DO CANDOMBLÉ EM LETRA E MÚSICA DE VINÍCIUS DE MORAES E BADEN POWELL: OS “AFRO-SAMBAS”1 Frank Michael Carlos Kuehn performancetheorie@gmail.com Resumo: O propósito deste estudo é enfocar a parte da obra de Vinícius de Moraes relacionada com temas e identidade afro-brasileiros do candomblé. No exemplo dos assim chamados afro-ambas, compostos em parceria com o violonista Baden Powell e lançados em disco em 1966, serão examinados alguns dos aspectos históricos, musicais e religiosos das faixas. Segundo Moraes, seu mergulho nas raízes místicas e mitológicas negras representou algo como “a busca pela própria alma” e, para alcançar seus objetivos, não poupou esforços. Ao representar uma recriação peculiar que fusionou o samba carioca com elementos religiosos do candomblé, Moraes idealizou “uma forma de sincretismo novo” em que a referência a toques, símbolos e entidades do candomblé é uma constante. Mentor e catalisador de toda uma geração de jovens músicos e compositores brasileiros, poesia e criatividade de Vinícius de Moraes transformaram o samba e projetaram a música popular brasileira como nunca antes para o mundo. Em suma, os afro-sambas ocupam uma posição de destaque na história da música popular brasileira. Palavras-chave: Vinícius de Moraes; Baden Powell; afro-samba; candomblé; música popular brasileira (MPB); (etno)musicologia. Study on the elements of Afro-Brazilian candomblé practice in music and lyrics written by Vinícius de Moraes and Baden Powell: the “afro-sambas” Abstract: The purpose of this study is to focus on the part of the work of Vinícius de Moraes that is related to issues and identity of Afro-Brazilian candomblé practice and meaning. In the example of the so- called “afro-sambas”, written in partnership with Brazilian guitarist Baden Powell and released on LP in 1966, we examine some of its historical, religious and other conceptual aspects. According to Moraes, his immersion into the mystical and mythological roots of black Afro-Brazilian culture represented something like “the search for his soul”, and to reach his goal, Moraes spared no efforts. Representing the fusion of urban samba from Rio de Janeiro with “points” and issues of candomblé from northeast state of Bahia, Moraes envisioned "a new form of syncretism", in which the reference to symbols and entities of candomblé is almost everywhere. As a mentor and catalyst for an entire generation of young Brazilian musicians and composers, poetry, musicality and creativity of Vinícius de Moraes transformed the samba and disseminated Brazilian popular music around the world. In short, the afro-samba deserve a very distinguished position in the cultural history of Brazil, with meanings beyond the merely musical. Keywords: Vinícius de Moraes; Baden Powell; afro-samba; candomblé; Brazilian Popular Music (MPB); (etno)musicology. 1 Estudo desenvolvido por ocasião do Seminário em Etnomusicologia “Música e ritual: a etnomusicologia do Candomblé”, ministrado durante o período 2001/2 pelo Prof. Dr. Gérard Béhague (1937-2005), University of Austin, Texas, EUA, nas dependências da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Preliminarmente, foi apresentado no 3º Colóquio de Pesquisa em Música do Departamento de Pós-Graduação da Escola de Música da UFRJ, também 2002, sendo publicado apenas parcialmente nos Anais do evento (Kuehn, 2002, p.94-103). Observação: A presente edição digital representa a versão completa revisada da edição impressa de 2002, a qual está substituindo. KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 2 1. Apresentação do problema Em seus Estudos sobre a poesia popular do Brasil, datados de 1888, o filósofo, sociólogo e historiador brasileiro Sílvio Romero (1851-1914) já tinha alertado sobre a necessidade de se realizar estudos científicos sobre o negro e sua cultura no Brasil. Escreveu Romero (1977, p.34): “É uma vergonha para a ciência do Brasil que nada tenhamos consagrado de nossos trabalhos ao estudo das línguas e das religiões africanas”. Hoje, no entanto, mais de cem anos depois, sabemos que o elemento negro está presente em praticamente toda a cultura, bem como no DNA brasileiro, enquanto, socialmente, a situação do negro continua um tanto problemática. Todavia, em fins do século XIX, durante o assim chamado período nativista, já havia algumas incursões artísticas de cunho romântico com elementos do negro e do indígena brasileiro como tema de seu enredo. Dessa vertente faziam parte os compositores Carlos Gomes (1839-1896), com a ópera O Guarani (1870), entre algumas peças de inspiração negra para piano solo; Alberto Nepomuceno (1864-1920), com o Batuque da Série Brasileira (1897); e Alexandre Levy (1864-1892), com o Samba da Suíte Brasileira (1890), em suma, compositores precursores das vertentes nacionalistas e modernistas que os sucederam no século XX. Os primeiros estudos científicos foram empreendidos a partir do início do século XX por um grupo de intelectuais, cujas investigações giraram em torno da formação histórica étnico-racial, cultural e social do Brasil. Entre estes figuram o etnógrafo e sociólogo Nina Rodrigues (1862-1906), com O animismo fetichista dos negros da Bahia (1900) e Os africanos no Brasil (1932); o antropólogo, folclorista e médico Artur Ramos (1903-1949), com O folclore negro no Brasil (1935), As culturas negras do novo mundo (1937), A aculturação negra no Brasil (1942) e Introdução à antropologia brasileira (1947); o sociólogo Gilberto Freire (1900-1987), com Casa grande e senzala (1933), principalmente, dentre outras de sua vasta obra literária; o folclorista Renato Almeida (1895-1981), com História da música brasileira (1922) e Formação moderna do Brasil (1923); a folclorista, poetisa e musicóloga Oneida Alvarenga (1911-1984), com Cateretês do sul de Minas Gerais (1937); o antropólogo francês Roger Bastide (1898-1974), com Religiões africanas no Brasil (1960); e o sociólogo e historiador Aurélio Buarque de Holanda (1902-1982), com Raízes do Brasil (1936) e Visão do KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 3 paraíso (1958). De forma geral, a miscigenação brasileira foi tratada dentro de uma visão histórica idealizada (vide na figura do homem cordial) ou idílica (vide a sua pujança natural e tropical), uma visão em que as três raças formadoras do Brasil moderno convivem social e pacificamente sem maiores atritos ou problemas. Tais interpretações, contudo, não correspondiam à realidade e não se sustentaram com o tempo. Muito pelo contrário, sendo mitos, precisavam ser desmascarados. No tocante à arte popular, destacam-se os Estudos de folclore do compositor, pianista e regente Luciano Gallet (1893-1931); Os mitos africanos no Brasil (1937), Negros bantus (1947) e O quilombo dos Palmares (1947) do folclorista e historiador Edison Carneiro (1912-1972); Música de feitiçaria no Brasil e Ensaio sobre a música brasileira (1928) do folclorista, poeta e musicólogo Mário de Andrade (1893-1945); e Maracatus do Recife (1956) do compositor, regente e arranjador César Guerra-Peixe (1914-1993), um eminente pesquisador das raízes africanas na música brasileira e defensor das causas nacionais.A Semana de Arte Moderna de 1922 certamente representa um dos eventos de maior impacto histórico, em cujo desenvolvimento de novas linguagens artísticas também a cultura negra ganhou maior espaço. Segundo Mário de Andrade, os oito anos que se seguiram à “festa” da Semana da Arte Moderna foram “a maior orgia intelectual que a história artística registr[ou]”. Isto também vale para a música de concerto, pois a partir de 1922 muitos compositores brasileiros começaram a buscar inspiração nos mais diversos elementos afro-brasileiros, como em ritmos e temas religiosos do candomblé e da umbanda.2 Esta tendência foi mais intensa durante o período modernista brasileiro, principalmente entre os anos 1922 e 1950, mas que, por extensão de sentido, se desdobra ao longo de praticamente todo o Século Vinte. Existe mesmo uma grande variedadede compositores e obras a citar: Luciano Gallet (1893-1931), com a Suíte sobre temas negros brasileiros (Macumba, Acalanto e Jongo); Heitor Villa-Lobos (1887-1959), com Danças africanas para piano e orquestra, Bazzum para coro misto a cappella, Xangô e Estrela é lua nova das Canções típicas brasileiras; Lorenzo Fernandez (1897-1948), com o Batuque da Suíte para Orquestra e 2 Umbanda, uma união sincrética de elementos do candomblé, do catolicismo e do espiritismo de cunho kardecista. KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 4 o Reisado do Pastoreio; Jaime Ovale (1894-1955), com os Três pontos de santo e Xangô – mencionados por Moraes na contracapa do LP dos afro-sambas como “uma experiência camerística muito bem sucedida e com temas negros do candomblé”; Camargo Guarnieri (1907-1993), com a Dança Negra para piano solo; Itiberê da Cunha (1846-1913), com Despertar do matuto, Acalanto ingênuo e Canção ritual de macumba da Série Brasileira; José Siqueira (1907-1985), com Macumba do pai José e Ogum (canções), Candomblé (oratório), Senzala (bailado) e Carnaval em Recife (peça para orquestra); Francisco Mignone (1897-1986), com Cântico do Obaluayé e Dona Janaína (canções), Batucajé e Babalorixá (poemas sinfônicos), Maracatu do Chico Rei e Congada da ópera O Contratador de Diamantes; e Radamés Gnattali (1906-1988), com o Jongo das Três Miniaturas para Orquestra. 2. O aspecto religioso afro-brasileiro Os negros trazidos pelo comércio do tráfico negreiro ao Brasil vieram, em sua grande maioria, da região do Golfo de Benin, do sudoeste da Nigéria, e do norte de Togo. Outros vieram da região onde hoje se situam a Gana e a Angola. Daí, de acordo com a procedência, os idiomas, falados em sua terra de cativeiro foram basicamente o nagô na Bahia e o quimbundo com seus dialetos nos outros estados brasileiros. A exemplo de Cuba, onde recebeu o nome de “santeria”, também a música e os rituais religiosos introduzidos pelos africanos escravizados no Brasil têm sua origem em cosmogonias e práticas de magia oriundas da vida tribal africana. Os orixás – termo do iorubá que significa “divindade” – representam as divindades espirituais que se manifestam nos elementos da natureza (animismo). Por suas forças sobrenaturais, os orixás têm a função de intermediar entre os homens e o mundo sobrenatural, sendo que as cantigas e ritmos do candomblé – também chamados de “pontos” – as oferendas e as danças que acompanham o culto evocam a(s) divindade(s), à(s) qual/quais estão dedicado(s). Se os diferentes grupos étnicos se distinguiam pela linguagem, decorre que também na música e nos cultos deveria haver peculiaridades que os caracterizam ou diferenciam. De acordo com a sua distribuição geográfica e particularidades regionais, estes cultos afro-brasileiros receberem denominações diferentes: “candomblé” na Bahia, “xangô” KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 5 em Recife e Alagoas, “tambor-de-mina” no Maranhão, “babacuê” no Pará, “batuque” no Rio Grande do Sul e “macumba” no Rio de Janeiro.3 Existe, contudo, certo consenso de que o candomblé baiano, em cujos locais se praticou ou ainda se pratica o nagô – como nas comunidades remanescentes dos quilombos, por exemplo – seja muito provavelmente a variante que melhor conservou as características originais africanas. É também muito comum o sincretismo religioso,4 em que os orixás são associados a santos católicos. Esta foi uma forma de o negro reagir ao domínio repressor do colonizador e da igreja católica romana. De qualquer forma, o fato de ambas as religiões venerarem imagens facilitou o desenvolvimento de uma forma genuinamente brasileira do sincretismo, pois a saída que o escravo encontrou para escapar das punições físicas severas foi disfarçar a sua crença para, num impulso de autopreservação, poder passá-la para as gerações futuras. 3. Vinícius de Moraes Autor de uma obra de extraordinária eloquência poética, versatilidade e musicalidade, Marcus Vinícius da Cruz de Melo Moraes (1913-1980) também é chamado de “poeta da paixão” (Castello, 1997) ou, simplesmente, de “poetinha”. Depois de passar por Oxford, onde estudou Língua e Literatura Inglesa, Vinícius de Moraes entrou, em 1943, para o Itamaraty, em cuja missão diplomática chegou a cumprir diversas missões diplomáticas em Los Angeles, Paris, Montevidéu e Roma. Segundo a sua própria definição, foi “o branco mais preto do país”.5 Em verdade, a atração de Moraes pela cultura negra afro-brasileira já vinha de longa data, ou seja, exatamente de 1942, quando lhe tinha ocorrido a ideia de adaptar o drama grego do mito 3 O termo macumba se revela problemático ao remeter a diversos significados, entre outros, também aos de cunho pejorativo, dados pela maioria cristã. Desse modo, “macumba” pode designar desde “cultos afro-brasileiros e seus respectivos rituais” até “a designação leiga desses cultos quando supostamente praticam a magia negra” (Houaiss, 2001). Ou seja, dependendo do falante, “macumba” pode ter a conotação de “bruxaria” ou “feitiçaria” – “negra”, portanto, em sentido depreciativo. 4 “O sincretismo religioso consiste em se unir os pedaços das histórias míticas de duas tradições diferentes em um todo que permanece ordenado por um mesmo sistema” (Bastide apud Ortiz, 1980, p.100). Ou, como define Houaiss (2001): “Fusão de diferentes cultos ou doutrinas religiosas, com reinterpretação de seus elementos [...] síntese de elementos díspares, originários de diferentes visões do mundo ou de doutrinas filosóficas distintas.” 5 “Eu como exemplo / o capitão-do-mato Vinícius de Moraes / poeta e diplomata / o branco mais preto do país / na linha direta de Xangô, saravá, saravá!” (Samba da Bênção, de Vinícius de Moraes e Baden Powell). KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 6 de Orfeu a ambiente social e topografia cariocas. A estreia de Orfeu da Conceição, no entanto, apenas ocorreu em 1956, no Teatro Municipal de Rio de Janeiro.6 As canções da peça foram compostas, em grande parte, por Vinícius de Moraes e seu na época ainda novíssimo parceiroAntonio Carlos Jobim (1927-1994). Naquele ano, Moraes estava com 43 anos, tendo já conquistado certo reconhecimento como poeta. Apesar disso, também lhe acompanhou certa fama em que, por vezes, se chocavam as imagens de poeta e de intelectual, de boêmio e de diplomata. Estando a serviço do Estado Brasileiro, figura e comportamento despojados de Moraes estavam transgredindo o protocolo e causar certo embaraço no meio diplomático brasileiro. Com a peça Orfeu da Conceição, Vinícius de Moraes “personalizou” o mito grego, dando-lhe uma feição brasileira. Ao mesmo tempo, como drama social e racial, o “universalizou” musicalmente. Apenas três anos depois da estreia, Orfeu da Conceição inspirou o diretor francês Marcel Camus para uma versão cinematográfica, intitulada de Orfeu Negro. Apesar da versão estereotipada e comercial, o filme foi aclamado internacionalmente e conseguiu a proeza de abocanhar, no mesmo ano de 1959, o Prêmio do Festival de Cinema de Cannes e o Oscar da categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Nas décadas de 1960 e de 1970, o filme e as músicas A Felicidade e Se Todos Fossem Iguais a Você se tornariam sucessos duradouros que renderam a seus autores uma grande projeção para o exterior, impulsionando, desse modo, a disseminação internacional da Bossa Nova.7 Todavia, por ironia da história, tudo isso teve início quando Moraes: [A]companhava o autor de América Hispana [o escritor estadunidense Waldo Frank] em todas as incursões por favelas, macumbas [sic], clubes e festejos negros no Brasil que me sentia particularmente impregnado do espírito da raça [...] criou-se subitamente em nós um processo por associação caótica [...] como se o negro, o negro carioca fosse um negro em canga – um grego ainda despojado de cultura e do culto apolíneo à beleza, mas marcado pelo sentimento dionisíaco da vida (Caderno de Programa de Orfeu da Conçeição, 1956, apud Chediak, 1993). 6 Os cenários eram do arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012). 7 À parte do sucesso das canções da dupla Moraes e Jobim, vale lembrar que a música de maior sucesso a nível mundial foi a canção Manhã de Carnaval, de autoria de Luis Bonfá e Antonio Maria. KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 7 Nesse relato há alguns pontos que chamam atenção. Antes de tudo, Moraes se revela um leitor atento do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Conhecido por sua crítica mordaz à cultura ocidental e ao cristianismo,8 o apolíneo e o dionisíaco constituíram para Nietzsche uma vez princípios primordiais que se complementaram na cultura grega da Antiguidade. Enquanto Apolo era a divindade da clareza, da forma, da harmonia, da beleza, da criação e da ordem, Dionísio era a divindade da vontade, da exuberância, da embriaguez e – da música. O culto a Dionísio consistia na assim chamada “festa do bode”, na qual as musas bacantes tinham uma função central. Em sua agitação orgíaca, as festividades do bode evocam associações com uma imagem arquetípica do carnaval. É, entretanto, particularmente interessante notar como Moraes se refere ao grego e ao negro, ou seja, ao elemento “apolíneo da beleza” e ao “dionisíaco da vida”, estabelecendo, de um lado, ainda que “por associação caótica”, um elo entre a filosofia estética de Nietzsche, como este a esboçou em sua obra inaugural de nome A origem da tragédia (1872 [1999]), e, de outro, a imagem do “negro carioca” (por que não o negro brasileiro?), como se este ainda “fosse um negro em canga” ou “um grego despojado de cultura”. Ou seja, o elemento negro estaria se entregando ao culto de Dionísio, diga-se ao lado vibrante e extático de celebrar a vida – no caso brasileiro representado, ainda que como clichê, pelo trinômio de samba, carnaval e futebol. O aspecto apolíneo, ao qual Moraes se refere, estaria nos elementos brancos, europeus. Suas marcas seriam a racionalidade, o cristianismo e as ciências modernas, ao passo que o elemento dionisíaco estaria na poesia, assim como no próprio empenho de Moraes em buscar o elemento negro como identidade complementar. Ainda que percebido como “obscuro”, o elemento dionisíaco representa o elemento afirmativo da vida. Todavia, face à associação de Moraes, não devemos incorrer numa interpretação equivocada que reduz a dualidade do conceito helênico a outro clichê – como, por exemplo, a dicotomia entre o “civilizador” (ou seja, de superioridade) e o “não civilizado” (de inferioridade) sugere. Nos anos 1930, Mário de Andrade já havia 8 Para Nietzsche, ao cultuar uma verdade artificial e pregar a submissão, o cristianismo levou a cultura ocidental a uma postura de abnegação da expressão vital humana. KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 8 alertado com muita propriedade que: “Seria um engano imaginar que o primitivismo brasileiro de hoje é estético. Ele é social” (Andrade apud Neves, 1981, p.44). Resta saber se hoje em dia o postulado de Mario de Andrade ainda está em vigor ou não. Notamos na trajetória de Vinícius de Moraes uma nítida preferência por jovens músicos compositores, praticamente todos violonistas. Como mentor e catalisador de toda uma geração de grandes talentos, Moraes formava, nos anos de 1960 e 1970, o centro de uma rede artística e intelectual que revelou Antonio Carlos Jobim (n.1927), Baden Powell (n.1937), Carlos Lyra (n.1939), Edu Lobo (n.1943), Chico Buarque (n.1944), Toquinho (n.1946),9 e João Bosco (n.1946). Finalmente, só nos resta afirmar com Costa (2000): “Poesia e a musicalidade de Vinícius transformaram o samba, representando um divisor de águas na história da MPB”. 4. A parceria entre Vinícius de Moraes e Baden Powell Na época do lançamento do disco, Vinícius de Moraes e Baden Powell já estavam compondo há alguns anos. Tudo indica que a parceria tenha se iniciado por volta de 1962, ano que ficou conhecido como uma espécie de “clausura musical”, pois ambos teriam ficado trancados meses a fio no apartamento de Moraes para comporem os primeiros afro-sambas. Nas anedotas, esse período é geralmente lembrado como um dos mais inspirados da história da música popular brasileira. Diga-se de passagem, o apartamento estava situado no luxuoso condomínio do Parque Guinle, Laranjeiras, Rio de Janeiro, um projeto dos anos de 1950 do hoje lendário arquiteto modernista Lúcio Costa. De tamanho enorme e equipado com todo tipo e espaço de conforto, o apartamento tornou- 9 O samba Na Tonga da Mironga do Kabuleté, composto em 1970 por Vinícius de Moraes e Toquinho, intriga principalmente por seu título-refrão que estaria “inteiramente em nagô” (Toquinho apud Chediak, 1993). Apesar do tom descontraído e brincalhão da música, tinha para mim algo de misterioso. Decidi então procurar Toquinho por e-mail, que gentilmente retornou com a seguinte resposta: “Vamos falar um pouco sobre a canção ‘Na Tonga da Mironga’. Era uma época difícil, que dava vontade de mandar todo mundo para aquele lugar: ano 1970, ditadura, militares etc. Então, a Gesse, mulher de Vinícius, veio com essa expressão em nagô. Significado: ‘o último pentelho do saco’. Aproveitamos e fizemos a música, mandando tudo para ‘A Tonga da Mirongado Kabuletê’. E foi aquela brincadeira séria.” Com efeito, o relato de Toquinho revela uma forma (talvez peculiarmente brasileira?) de protesto popular que, durante a ditadura militar (1964-1985), conseguiu “resistir” e “driblar subversivamente” a censura, sem, contudo, apesar da repressão severa, perder o ânimo ao revestir-se de uma noção peculiar de humor. KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 9 se famoso pelas muitas caixas de uísque escocês que a dupla lá teria consumido durante suas sessões (compositivas e compulsivas). Baden Powell de Aquino (1937-2000), por sua vez, pela dimensão musical e pela destreza instrumental que revelou tanto em termos de composição quanto de interpretação, enquadra-se na linhagem dos grandes violonistas brasileiros, como Sátiro Bilhar, Quincas Laranjeiras, João Pernambuco, Garoto e Bola Sete (Costa, 2000). Powell tinha estudado violão com o lendário violonista e professor Jayme Florence, o Meira (1909-1982), o mesmo que, nos anos de 1970, foi professor do violonista Rafael Rabello (1962-1995). Não demorou que Powell tinha desenvolvido no violão uma pegada de samba inconfundível, habilidade em que era capaz de reproduzir instrumentos de percussão tipicamente brasileiros, entre os quais principalmente a caixa, o repique, o berimbau e o tamborim. Powell afirma também ter estudado com o compositor, arranjador e saxofonista pernambucano Moacir Santos (1926-2006), o qual, nos anos de 1960, estava de passagem por Rio de Janeiro, de onde, anos depois, emigrou para os Estados Unidos: “Moacir me passava exercícios de composição em cima dos sete modos gregos, os modos litúrgicos do canto gregoriano. Foram esses exercícios que viriam a se tornar mais tarde os afro-sambas”, afirmou Powell (O Globo, Segundo Caderno, 24/03/2000). Vale, contudo, lembrar que, em outra entrevista, o violonista tinha afirmado a mesma pessoa ter sido o maestro Guerra-Peixe (cf. Folha de São Paulo, Caderno Ilustrada, 13/07/1999). De qualquer forma, trata-se aqui de uma afirmação, cuja veracidade não pôde comprovada.10 Mais do que isso, chama atenção que no depoimento de Powell tinha surgido novamente “o grego”, desta vez, porém, em combinação com os “sete modos litúrgicos do canto gregoriano”. Considerando-se que, no âmbito da música popular, o emprego da terminologia costuma ser de muito maior liberdade, presume-se que Powell tenha se referido aos sete modos escalares Jônico, Dórico, Frígio, Lídio, Mixolídio, Eólio e 10 Ex-alunos de Guerra-Peixe, entre eles o sanfoneiro Sivuca e os professores Antônio Guerreiro e Maria Aparecida Ferreiro, desconhecem o fato de Powell ter estudado com Guerra-Peixe. Sivuca, além de ter sido amigo de Baden Powell, estudou com ele no fim dos anos de 1950; Guerreiro defendeu tese de mestrado sobre Guerra-Peixe; e Ferreiro foi monitora do maestro na Pró-Arte em meados dos anos 1960 (vide Caiado, 2001). KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 10 Lócrio, pois, ainda que compartilhem os nomes, os modos gregos e os modos gregorianos diferem em seu perfil. Além disso, os modos gregorianos são oito (e não sete). De qualquer forma, determinadas composições, em particular os assim chamados afro-sambas tinham destacado Baden Powell como compositor e instrumentista. Na contracapa do disco, Moraes (1966) conta “que a Bahia fez-lhe uma impressão enorme”. Powell teria ficado completamente fissurado ao escutar um disco de folclore baiano que Moraes tinha recebido de Carlos Coquejo, um amigo de Salvador, e que continha uma seleção de cantigas do candomblé, sambas-de-roda e cantos de capoeira, gravado in loco nos arredores de Salvador e em localidades do Recôncavo Baiano (Moraes, 1966; cf. Dreyfus, 2001, p.81-83). 5. Os afro-sambas de Baden Powell e Vinícius de Moraes: o disco Ficha técnica: LP. Forma / Companhia Brasileira de Discos (CBD). Rio de Janeiro, 1966. Arranjos e regência: César Guerra-Peixe. Participação do Quarteto em Cy (vocais). Produção e direção artística: Roberto Quartin e Wadi Gebara. Vocais: Vinícius de Moraes, Quarteto em Cy e coro misto. Sax-tenor: Pedro Luíz de Assis. Sax-barítono: Aurino Ferreira. Flauta: Nicolino Cópia. Violão: Baden Powell. Contrabaixo: Jorge Marinho. Bateria: Reisinho. Atabaque: Alfredo Bessa. Atabaque pequeno: Nelson Luiz. Bongô: Alexandre Martins. Pandeiro: Gilson de Freitas. Agogô: Mineirinho. Afoché: Adyr Raymundo. Todas as músicas são de autoria de Baden Powell e de Vinícius de Moraes, sendo gravadas nos dias 3, 4, 5 e 6 de janeiro de 1966, sob a supervisão direta de Roberto Quartin. Lado A 1) Canto de Ossanha (Baden Powell / Vinícius de Moraes) samba 2) Canto de Xangô (Baden Powell / Vinícius de Moraes) candomblé 3) Bocoché (Baden Powell / Vinícius de Moraes) candomblé 4) Canto de Iemanjá (Baden Powell / Vinícius de Moraes) candomblé KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 11 Lado B 5) Tempo de Amor (Baden Powell / Vinícius de Moraes) samba 6) Canto do Caboclo Pedra Preta (Baden Powell / Vinícius de Moraes) samba 7) Tristeza e Solidão (Baden Powell / Vinícius de Moraes) samba- canção 8) Lamento de Exu (Baden Powell / Vinícius de Moraes) balada O propósito central da análise que se segue é apontar os elementos sincréticos do samba e do candomblé na performance das faixas do disco e identificar o modo como estes se evidenciam poético e musicalmente. Para tal, apoiou-se na escuta do fonograma original como principal fonte para as conclusões. Da letra foram reproduzidos somente aqueles trechos que contêm referências diretas a elementos do candomblé, acrescidos da parte necessária para se garantir a compreensão do sentido e do (con)texto poético. 5.1. Canto de Ossanha Tom: Ré menor. Compasso: binário. Ritmo: samba. Forma: A-B (refrão). Duração da faixa: 3:25. Ossanha, Ossãe ou Ossain – nome e grafia de cada divindade podem variar de acordo com a região e o falante – é o orixá da terra, da vegetação, das ervas e da medicina. As folhas das plantas medicinais são portadoras de axé, a energia cósmica ou força sagrada da natureza. Sendo evocado através das plantas e da magia do ritual religioso, Ossanha é o orixá portador do “axé”, ou seja, da força vital que permeia a natureza. Segundo a mitologia, existe uma forte rivalidade entre Ossanha e Xangô, de quem Ossanha tentou roubar Obá, uma de suas mulheres. Por isso, teve de enfrentar a ira de Xangô, o que lhe fez perder uma das pernas. Há também uma variante que atribui o motivo da rivalidade de ambos ao furto do fogo por Ossanha, que o teria dado aos homens (cf. www.mundodosorixas.com.br). Essa rivalidade transparece também no enredo da letra. Outrossim, explica o seu sentido, pois, à primeira vista, o texto parece um pouco obscuro ou confuso. Sendo sucedido pelo Canto de Xangô, essa rivalidade KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementosafro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 12 também explica a ordenação das faixas, onde o Canto de Ossanha abre caminho para as outras “alas” do disco. O homem que diz “dou”, não dá, porque quem dá mesmo, não “diz” [...] Coitado do homem que cai no canto de Ossanha, traidor Coitado do homem que vai atrás de mandinga de amor [...] Amigo sinhô, saravá11 – Xangô me mandou lhe dizer Se é canto de Ossanha não vá, que muito vai se arrepender Pergunte pro seu orixá - amor só é bom se doer [...] amar (vai, vai) sofrer (vai, vai) chorar (vai, vai) dizer (vai, vai) A primeira parte da canção se desenvolve com base em uma linha cromática descendente no baixo. Esta linha de baixo constitui uma parte característica marcante da composição e não deve ser atribuída ao arranjo de Guerra-Peixe: Fá – Mi – Mi bemol – Ré. A linha de baixo é acompanhada por um encadeamento harmônico também cromático descendente: Dm/F – E7 – EbM7 – Dm. A parte “B” da canção cumpre a função de refrão e consiste de dois períodos de oito compassos cada. A modulação para o tom homônimo de Ré maior é repentina e contrasta fortemente com a primeira. Além dos improvisos da flauta transversa e do(s) saxofone(s), também o chocalho, o pandeiro e os demais instrumentos percussivos merecem destaque. No segundo período ocorre ainda outra modulação, desta vez para o tom maior uma terça menor acima (Fá maior). Tanto a linha melódica quanto a progressão harmônica de ambos os períodos são sequenciais, predominando, na harmonia, cadenciais do tipo IIm7-V7 e dominantes secundários. Percebemos que o arranjo de Guerra-Peixe é rico em contrapontos e contracantos em que as vozes, o naipe de sopros, o violão, o coro feminino e a percussão dialogam entre si. Canto de Ossanha certamente é o afro-samba mais conhecido, tanto no Brasil 11 Saudação – forma como os negros escravizados de nação banto pronunciavam a palavra portuguesa “salvar” ou “salve” (Houaiss, 2001). KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 13 quanto no exterior. Em suma, com esta composição, Baden Powell tinha alcançado “o máximo de profundidade em sua carreira de compositor” (Moraes, 1966). 5.2. Canto de Xangô Tom: Mi menor. Compasso: composto. Ritmo: inspirado em toques do candomblé. Forma: A-A-B-A. Duração da faixa: 6:29. O Canto de Xangô reverencia o antepassado mítico e fundador da nação nagô. De origem real, é o orixá do fogo, do raio e do trovão. É também o orixá da justiça, simbolizado pelo machado de dois gumes. Dotado de poderes extraordinários, Xangô corresponde, por analogia sincrética, ao lanceiro São Jorge. [...] Eu sou negro de cor, mas tudo é só amor [...] Xangô agodô, salve Xangô, meu rei Senhor Salve meu orixá [...] Xangô meu Senhor Saravá! Xangô agodô! [...] Composição e arranjo do Canto de Xangô parecem recriar um ambiente de terreiro. Nos ritos do candomblé, o agogô e os atabaques – distintos tanto em tamanho e afinação quanto em sua função – são indispensáveis para a realização do culto, fato que também esclarece porque estes instrumentos participam de praticamente todas as faixas do disco. O texto poético é simples, feito a um canto de louvor. Salvo algumas variações notáveis, o violão conduz a marcha harmônica e a linha de baixo com muita propriedade do início até o fim. A melodia é pentatônica, ricamente ornamentada por contracantos diafônicos, executadas pelo Quarteto em Cy e pela flauta transversa. Destacam-se, sobretudo, as variações rítmicas e a beleza embaladora do canto. Certamente não é por acaso que o Canto de Xangó é também a faixa mais longa do disco. 5.3. Bocoché (Segredo) Tom: Ré maior. Compasso: composto. Ritmo: inspirado em toques do candomblé. Forma: A-A-B. Duração da faixa: 2:35. KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 14 [...] Nhem-nhem-nhem [...] Menina bonita que foi para o mar (bis) Dorme meu bem que você também é Iemanjá [...] Nesta canção percebemos nitidamente que os elementos musicais que mais se destacam no candomblé estão na diversidade rítmica e percussiva, nesta faixa principalmente na performance do pandeiro, tocado à maneira do samba carioca, em combinação com o agogô, o afoxé e os atabaques oriundos dos terreiros baianos. Ainda que possua alguns trechos movimentados, como um todo, Bocoché bem se parece com uma cantiga de ninar. A temática gira em torno de uma certa “menina bonita”, do mar e de Iemanjá. Tendo como fundo uma história de amor, as referências são sobretudo simbólicas. Representando a água um elemento indispensável para a vida orgânica, o mar simboliza uma espécie de berço ou útero materno, onde tudo se origina e para onde tudo parece retornar. Com as palavras do poeta: “Onda que vai / onda que vem / é vida que vai / não volta ninguém”. O arranjo é notável no tocante à distribuição do canto entre o poeta e da(s) voz(es) feminina(s). O naipe de sopros e o fraseado homofônico remetem ocasionalmente ao jazz, em particular a timbre e modo de execução westcoast, um estilo da costa oeste dos EUA.12 Em suma, a simplicidade do arranjo e da ordenação dos instrumentos propicia momentos sublimes para o ouvinte. 5.4. Canto de Iemanjá Tom: Ré menor. Compasso: composto. Ritmo: inspirado em toques do candomblé. Forma: A-A-B-A. Duração da faixa: 4:49. Nesta faixa, trata-se de uma cantilena que evoca a imagem de Iemanjá musicalmente. Sendo Iemanjá a mãe de todos os demais orixás, rege também a maternidade. Iemanjá é a orixá das águas salgadas (na África, também das águas doces). 12 Lembrando, em alguns trechos, os saxofonistas estadunidenses Zoot Sims e Gerry Mulligan, que formaram, nos anos de 1960, juntamente com Al Cohn e Lee Konitz, os Four Brothers. KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 15 Muito popular em todo o Brasil, o culto a Iemanjá se separou dos terreiros, podendo ser facilmente encontrado em local e tempo distantes destes (como na virada do ano). Nas lendas, Iemanjá costuma seduzir e/ou confundir sua(s) vítima(s) através dos sentidos, arrastando-o(s) para as profundezas do mar. No sincretismo da umbanda, corresponde à imagem da Nossa Senhora (ou Virgem Maria). [...] Iemanjá, Iemanjá, Iemanjá, é dona Janaína que vem Iemanjá, Iemanjá, Iemanjá, é muita tristeza que vem [...] Se você quiser amar, se você quiser amor Vem comigo a Salvador, para ouvir Iemanjá A cantar [...] Arranjo e instrumentação suscitam a imagem mítica de uma sereia, cujo canto tem o poder de hipnotizar. Seu efeito pode ser comparado com o de um poderoso sonífero, capaz de vencer os mortais, como ocorre no épico de Homero. Ademais, destacam-se no arranjo de Guerra-Peixe: a nota pedal no grave, executada pelos saxofones; e a riqueza rítmica da percussão, sobretudo do agogô, do sino e do berimbau. 5.5. Tempo de Amor Tom: Dó menor. Compasso: binário. Ritmo: samba ligeiro. Forma: A-A-B-A. Duração da faixa: 4:29. Tendo “no samba a sua estrutura autenticamente negra” (Moraes, 1966), Tempo de Amor não tem nenhuma relação direta com o candomblé. Sem aqui poder tocar na questão da “autenticidade”, destacam-se, em Tempo de Amor, os seguintes elementos do samba especificamente carioca, como: compasso binário; destaque para a levada de samba no violão; executada com muita destreza, reproduz a marcação rítmica do tamborim; KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 16 modulação harmônica com bordões de samba-choro no violão; canto diafônico (refrão), executado pelo solista e as vozes femininas; marcação rítmica fortemente sincopada; breques típicos do samba carioca; batucada final (ou seja, tudo termina em samba). 5.6. Canto do caboclo Pedra Preta Tom: Mi bemol. Compasso: binário. Ritmo: samba ligeiro. Duração da faixa: 4:35. Pedra Preta representa uma homenagem explicita ao caboclo ou indígena brasileiro. Também a viola está sendo homenageada. De tradição secular, a viola possui um timbre muito especial e pode ser encontrado em praticamente todo o interior do Brasil. [...] Pandeiro quando toca faz Pedra Preta chegar Viola quando toca faz Pedra Preta sambar [...] De acordo com a nota da contracapa, foi Powell que incentivou o poeta a compor esta canção. Talvez seja por essa razão que Moraes confere a Pedra Preta certa centralidade na contracapa do disco, onde se pode ler: Pedra Preta seria, ao mesmo tempo, o elemento perturbador do eterno casal em conflito, cujo conflito é a essência da vida em sua dinâmica. Só sei que me deixei completamente envolver pela sábia magia do candomblé baiano, e durante meses vivemos em contato com o seu grave e obscuro mundo (Moraes, 1966). Destacam-se a pegada de samba de Powell no violão, a grande versatilidade da seção rítmica e o arranjo contrastante de Guerra-Peixe. KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 17 Na bateria, o estilo é de “jazz-samba”, ou seja, forma ou estilo de atuação em que o baterista mescla o ritmo de samba na base da bateria com um toque de jazz no prato de condução. O jazz-samba é uma criação do carioca Edison Machado nos anos de 1960. 5.7. Tristeza e Solidão Tom: Ré menor / Mi menor. Ritmo: samba-canção. Duração da faixa: 4:35. Assim como no candomblé, também na umbanda “babalorixá” designa o pai-de- santo, e “ialorixá”, a mãe-de-santo. É a eles que se dirigem os que precisam de ajuda espiritual. Dependendo do caso, esta é concedida sob a incumbência de se realizar oferendas – também “obrigações”ou “trabalhos” – ou outro tipo de contrapartida por parte do necessitado. [...] Ela não sabe quanta tristeza cabe numa solidão Eu sei que ela não pensa quanto a indiferença dói no coração [...] Sou da linha de umbanda, vou a um babalaô Para pedir ela voltar pra mim [...] Porque assim que vou morrer de dor [...] Tristeza e Solidão é uma espécie de balada em ritmo de samba-canção. De rara beleza, destacam-se sobretudo a harmonização das vozes femininas que, em alguns trechos, faz lembrar o timbre do lendário conjunto vocal Os Cariocas. A modulação do tom de Ré menor para Mi menor é contrastante e confere à performance da faixa um ganho considerável em termos de brilho e impulso dinâmico, entre outros. 5.8. Lamento de Exu Tom: Mi menor. Compasso: binário / rubato. Ritmo: balada. Duração da faixa: 2:15. Relacionado diretamente aos ancestrais, Exu é o mais humano dos orixás. Seu nome significa “dono da força”. É o guardião das cidades, das casas, dos templos e das encruzilhadas. Por analogia sincrética, Exu corresponde a Santo Antônio ou a São Benedito. KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 18 O Lamento de Exu é a faixa mais curta do disco. Destaque para a introdução em forma de “canto instrumental”. Árido e solitário, o lamento exala algo místico, melancólico. A melodia é exclusivamente pentatônica e lembra, em alguns trechos, ora uma modinha ora uma toada. O andamento é meio rastejante, com trechos em rubato, cujo efeito reforça o caráter lamentoso da faixa. 6. Estendendo-se o conceito dos afro-sambas a outras composições da dupla Dos afro-sambas, compostos por Vinícius de Moraes e Baden Powell, apenas Canto de Ossanha, Berimbau e Samba da Bênção podem ser considerados relativamente bem conhecidos no Brasil e no exterior. Todavia, em razão das semelhanças poéticas e musicais que Samba da Bênção, Berimbau e Consolação possuem com as composições do disco, passemos também estes a considerar parte da categoria dos afro-sambas. 6.1. Samba da Bênção O Samba da Benção representa uma espécie de “auto-retrato” ou “cartão de visita” de Vinícius de Moraes, ao mesmo tempo em que reverencia os nomes de uma série de epígonos da música popular brasileira. A interpretação é bem contida, porém não sem desenvolvimento dinâmico, em que se alternam recitação e canto. A pegada de samba-canção é simples, porém marcante, fluindo do início ao fim. É melhor ser alegre do que triste [...] Porque o samba nasceu lá na Bahia [...] E se hoje ele é branco na poesia Ele é negro demais no coração Eu como exemplo, o capitão do mato Vinícius de Moraes Poeta e diplomata, o branco mais preto do país Na linha direta de Xangô, saravá, saravá! À bênção, Senhora, a maior ialorixá da Bahia Terra de Caymmi e João Gilberto [..] À bênção, à bênção, Baden Powell, amigo novo, parceiro novo [...] KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 19 O Brasil de todos os santos, inclusive o meu São Sebastião Saravá, saravá! [...] Observação: é muito provável que Moraes tenha se referido, com “a maior ialorixá da Bahia”, à lendária mãe de santo Maria Escolástica da Conceição Nazaré (1894- 1986), mais conhecida como Mãe Menininha do Gantois. 6.2. Berimbau Esta composição homenageia a capoeira, a arte africana do corpo, da dança e da autodefesa, em cuja prática, sempre em roda, são entoadas cantigas, geralmente acompanhadas por tambores, pandeiros e berimbaus, ou simplesmente pelas palmas das mãos de seus participantes. De acordo com Sodré (1979), “a capoeira é uma das manifestações mais expressivas da cultura negra no Brasil”. Berimbau só não entrou no disco por já ter sido “demasiadamente conhecido” (Moraes, 1966). Isso, entretanto, muda pouco no fato de Berimbau ter sido sempre uma das músicas preferidas de Powell. Seja ao vivo ou no estúdio, Berimbau representava uma espécie de senha para o violonista e seus acompanhantesimprovisarem longamente com a seção rítmica, que podia variar entre a bateria, um bongô, atabaques (geralmente congas) ou outros instrumentos de percussão (como a cuíca). Quem é homem de bem não trai O amor que lhe quer seu bem [...] Capoeira me mandou dizer que já chegou, chegou para lutar Berimbau me confirmou, vai ter briga de amor Tristeza camará [...] 6.3. Consolação A melodia principal deste afro-samba é exclusivamente pentatônica. Fortemente sincopada, chamada e refrão se desenvolvem ciclicamente: Melhor era tudo se acabar Melhor era tudo se acabar Se não tivesse o amor, se não tivesse essa dor [...] É que ninguém nunca teve mais, mais do que eu [...] KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 20 7. Considerações finais O presente estudo demonstrou que a referência de Vinícius de Moraes a entidades e símbolos religiosos do candomblé é praticamente uma constante e, na verdade, se estende também a parcerias antes e depois do lançamento do disco dos afro-sambas. Com efeito, consideramos os afro-sambas o ponto mais alto da busca de Moraes por sua alma negra, iniciada em 1942, com a elaboração literária de Orfeu da Conceição. Ainda que não possuam nenhuma função religiosa, o poeta uniu elementos religiosos, oriundos do candomblé, a elementos do samba carioca, criando, desse modo, um novo gênero de música popular urbana, os afro-sambas. Muito semelhante ao projeto de Orfeu da Conceição, também os afro-sambas eram destinados a “carioquizar, dentro do espírito do samba moderno, o candomblé afro- brasileiro, dando-lhe, ao mesmo tempo, também uma dimensão mais universal” (Moraes, 1966, grifo meu). Desse modo, Moraes estabeleceu – ainda que romanticamente – “um sincretismo novo” entre o terreiro, o morro e a elite social à qual ele mesmo pertencia. Nesse processo “fusionou” elementos regionais de um Brasil ainda periférico e no início da industrialização, ao mesmo tempo em que “universalizou”, através da sua índole generosa e afirmativa, o samba. De um lado, os afro-sambas nasceram da busca do poeta por sua identidade negra, enquanto, de outro, representam uma interpretação das raízes místicas e mitológicas da religiosidade afro-brasileira. Daí ocorre que, em sua dimensão estética, essencialmente urbana, o samba carioca foi sincretizado com toques e temas do candomblé. Outros indícios estão nos assim chamados “pontos” ou “toques” específicos de cada Orixá, cuja execução rítmica segue a orientação dada pelo arranjo de Guerra-Peixe, que aparentemente (não tive acesso á partitura do arranjo) sempre deixou espaço suficiente para que o agogô, o afoxé, o pandeiro e os atabaques, juntamente com o violão, o naipe de sopros, as vozes femininas do Quarteto em Cy e o “coro da amizade” pudessem contrastar com a voz de Moraes e dialogar harmonicamente. Apesar disso, percebemos também falhas técnicas na gravação e na execução do disco. Apesar de tudo, a gravação revela detalhes estéticos notáveis e uma grande riqueza criativa e imaginativa. Por isso, um projeto que se propusesse focalizar a participação especificamente de Guerra-Peixe certamente renderia outro estudo produtivo. KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 21 “Feito com um máximo de liberdade criadora e um mínimo de interesse comercial”, o disco tinha como meta uma produção “sem modismos, nem sofisticações” (Morais, 1966). Um ponto que pesava contra a execução na mídia e, portanto, também contra o sucesso comercial do disco estava na duração das faixas, “mais longas do que gostam os homens de rádio” (Moraes, 1966). Destarte, o disco representou um projeto ousado, talvez até arriscado para os padrões da época. Apesar disso, tudo indica que sua realização dependeu de esforços coletivos consideráveis. Para José Ramos Tinhorão, contudo, musicólogo, historiador e ferrenho adversário da “apropriação artificial e indevida” de elementos do jazz estadunidense por manifestações nacionais, “o afro-samba é uma coisa que não existe” (Tinhorão, s.d., p.26). Em resposta, argumentamos que o historiador parece ter sido apegado a um ideal de pureza caduco, pois as demandas de uma sociedade multicultural em um mundo globalizado fizeram com que o conceito de pureza se tornasse inócuo, sem sentido. Além disso, é notório que a música brasileira jamais poderia estar assentada numa suposta pureza e sim na miscigenação dos mais diversos elementos culturais e raciais. À parte do lado criativo e inovador do disco, ouvidos mais exigentes percebem também algumas falhas que, no entanto, estão longe de comprometer valor e importância do projeto como um todo. De qualquer forma, os defeitos do disco também comprovam que os produtores do disco preferiram valorizar mais o aspecto espontâneo da criação musical do que almejar uma gravação tecnicamente perfeita – algo que implicaria também na aceitação de um produto final mais “nivelado”, ou seja, menos verdadeiro e espontâneo. Finalmente, ao ver no negro brasileiro – principalmente no carioca – “um grego ainda despojado de cultura e do culto apolíneo à beleza, porém marcado pelo sentimento dionisíaco da vida”, entendemos que Moraes quis fundir sua concepção estética, fundamentalmente apolínea e europeia, com a alma negra, incorporando o elemento negro como algo generoso, existencial, dionisíaco – e muito brasileiro. KUEHN, Frank M.C. Estudo sobre os elementos afro-brasileiros do candomblé em letra e música de Vinícius de Moraes e Baden Powell: os “afro-sambas”. In: Anais. 3º Colóquio de Pesquisa em Música. Rio de Janeiro: PPGM/UFRJ, 2012 (2002), p.94-103. Disponível em: unesp dot academia dot edu/fmc. 22 8. Referências bibliográficas ALBIN, Ricardo C. 2006. Dicionário Houaiss da música popular brasileira. Rio de Janeiro: Paracatu. ANDRADE, Mário de. 1972. Ensaio sobre a música brasileira. São Paulo: Martins. __________. 1953. Pequena história da música brasileira. 4.ed. São Paulo: Martins. 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É Mestre em Música pela mesma instituição e Doutor em Música pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Publicou nas revistas Opus (2010), Per Musi (2012), Revista Brasileira de Música (2013) e El Oido Pensante (2013). Atualmente é bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e pesquisador pós-doutorado do Departamento de Música do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista.
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