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FUNDAMENTOS DE GEOLOGIA Prof. Dr. Fabio Olivieri de Nobile i Conteúdo CAPITULO 1. O SISTEMA TERRA ....................................................................... 1 1.1. O MÉTODO CIENTÍFICO .........................................................................2 1.2. AS TEORIAS E AS PRÁTICAS MODERNAS DE GEOLOGIA .....................3 1.3.A hipótese da nebulosa .................................................................................7 1.4.A TERRA PRIMITIVA: FORMAÇÃO DE UM PLANETA EM CAMADAS .......9 1.4.1. Aquecimento e fusão da Terra primordial ........................................... 9 1.4.2. Começa a diferenciação ................................................................... 11 1.4.3. A formação dos continentes, dos oceanos e da atmosfera da Terra 13 1.5.O BOMBARDEAMENTO VINDO DO ESPAÇO ........................................... 15 1.6.A TERRA COMO UM SISTEMA DE COMPONENTES INTERATIVOS ...... 17 1.6.1. O sistema do clima ........................................................................... 18 1.6.2. O sistema das placas tectônicas ...................................................... 19 1.6.3. A evolução da vida ........................................................................... 21 CAPÍTULO 2. MINERAIS. CONSTITUINTES BÁSICOS DAS ROCHAS............ 26 2.1.A ESTRUTURA ATOMICA DA MATÉRIA ................................................... 27 2.1.1. A estrutura de um átomo .................................................................. 28 2.1.2. Número atômico e massa atômica ................................................... 29 2.1.3. Reações químicas ............................................................................ 31 2.1.4. Ligações químicas ............................................................................ 32 2.1.5. Ligações iônicas ............................................................................... 33 2.1.6. Ligações covalentes ......................................................................... 33 2.2.A ESTRUTURA ATÓMICA DOS MINERAIS ............................................... 34 2.2.1. Como se formam os minerais? ......................................................... 34 2.3.MINERAIS FORMADORES DE ROCHA ..................................................... 41 2.3.1. SILICATOS ....................................................................................... 42 2.3.2. CARBONATOS ................................................................................. 44 2.3.3. ÓXIDOS ............................................................................................ 44 2.3.4. SULFETOS ....................................................................................... 45 2.3.5. SULFATOS ....................................................................................... 45 2.4.PROPRIEDADES FÍSICAS DOS MINERAIS .............................................. 46 2.4.1. Dureza .............................................................................................. 47 2.4.2. Clivagem ........................................................................................... 49 2.4.3. Fratura .............................................................................................. 53 2.4.4. Brilho ................................................................................................ 53 2.4.5. Cor .................................................................................................... 54 2.4.6. Gravidade específica e densidade .................................................... 56 2.4.7. Hábito cristalino ................................................................................ 56 CAPÍTULO 3. INTEMPERISMO .......................................................................... 58 3.1. Considerações Gerais ................................................................................ 58 3.1.1. Trabalho de Goldich (1938) ................................................................. 59 3.1.2. Trabalho de Chesworth (1973) ............................................................ 65 3.2. Mecanismos e Processos de Intemperismo ............................................... 67 3.2.1. Intemperismo Físico ............................................................................ 67 3.2.2. Intemperismo Químico ........................................................................ 70 3.3. Intemperismo Químico de Minerais e Rochas ............................................ 78 CAPÍTULO 4 - ROCHAS MAGMÁTICAS ............................................................ 79 4.1. Introdução ................................................................................................... 79 ii 4.2 Origens e tipos fundamentais de magmas .................................................. 80 4.3. Composição e classificação das Rochas Magmáticas ............................... 84 4.4. Resfriamento do Magma............................................................................. 86 4.4.1. Estágios de Resfriamento ................................................................... 86 4.4.1.1. Estágio Pneumatolítico (ou Pegmatítico) ......................................... 86 4.4.1.2. Estágio Hidrotermal .......................................................................... 87 4.4.2.Textura das rochas magmáticas .......................................................... 87 4.5. Seqüência de Cristalização ........................................................................ 88 4.6. Principais Rochas Magmáticas ................................................................... 90 4.6.1. Família Granito - Riólito ....................................................................... 90 4.6.2. Família Diorito - Andesito .................................................................... 91 4.6.3. Família Gabro-Basalto ........................................................................ 91 CAPÍTULO 5 - ROCHAS SEDIMENTARES ........................................................ 93 5.1. Introdução ................................................................................................... 93 5.2. Ciclo Sedimentar ........................................................................................ 95 5.3. Composição .............................................................................................. 100 5.4. Estrutura e Textura das Rochas Sedimentares ........................................ 102 5.5. Ambientes Deposicionais e Formação da Paisagem ................................ 103 5.5.1. Ambientes Deposicionais .................................................................. 103 5.5.2. Formação da Paisagem .................................................................... 105 5.6. Classificação ............................................................................................. 106 5.6.1. Rochas Clásticas............................................................................... 107 5.6.2. Rochas sedimentares químicas e orgânicas ..................................... 112 5.6.2.1. Rochas Sedimentares de Origem Química .................................... 112 5.6.2.2. Rochas sedimentares orgânicas .................................................... 113 CAPÍTULO 6- ROCHAS METAMÓRFICAS ...................................................... 115 6.1. Introdução ................................................................................................. 115 6.2. Tipos de Metamorfismo ............................................................................ 117 6.2.1. Metamorfismo de Contato ................................................................. 117 6.2.2. Metamorfismo Regional .................................................................... 118 6.3. Foliação ....................................................................................................119 6.4. Classificação das Rochas Metamórficas .................................................. 119 6.4.1. Ardósias ............................................................................................ 121 6.4.2. Filitos ................................................................................................. 121 6.4.3. Xistos ................................................................................................ 122 6.4.4. Gnaisses ........................................................................................... 122 6.4.5. Metaconglomerados .......................................................................... 123 6.4.6. Quartzito ............................................................................................ 123 6.4.7. Mármore ............................................................................................ 124 6.4.8 Anfibólios ............................................................................................ 124 6.4.9. Itabiritos ............................................................................................. 124 CAPÍTULO 7. O CICLO HIDROLOGICO E AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS..... 127 7.1. Os fluxos e os reservatórios ..................................................................... 127 7.2. O ciclo hidrológico: um componente do sistema Terra ............................. 129 7.3. A hidrologia e o clima ............................................................................... 131 7.4. Umidade, chuva e paisagem .................................................................... 132 7.5. As secas ................................................................................................... 133 7.6. A HIDROLOGIA DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL ............................... 134 7.7. A água subterrânea .................................................................................. 137 7.7.1. Como a água flui através do solo e da rocha .................................... 137 iii 7.7.2. A superfície freática ........................................................................... 139 7.7.3. Os aquíferos ...................................................................................... 141 7.7.4. Balanço de recarga e descarga ........................................................ 145 7.7.5. A velocidade do fluxo da água subterrânea ...................................... 149 7.8. A EROSÃO PELA ÁGUA SUBTERRÂNEA .............................................. 151 7.9. A QUALIDADE DA ÁGUA......................................................................... 152 7.10. A ÁGUA NAS PROFUNDEZAS DA CROSTA ........................................ 157 CAPÍTULO 8 – APLICAÇÕES DE ROCHAS E SOLOS E OBRAS DE ENGENHARIA. .................................................................................................. 162 8.1 DEFINIÇÕES ............................................................................................. 162 8.2 NA CONSTRUÇÃO CIVIL ......................................................................... 163 8.3 EM ESTRADAS ......................................................................................... 163 8.4 EM BARRAGENS DE TERRA ................................................................... 164 CAPÍTULO 9. GEOLOGIA DE TÚNEIS ............................................................. 165 9.1 CONCEITUAÇÃO ...................................................................................... 165 9.2 ESTUDOS GEOLÓGICOS PARA TÚNEIS ............................................... 165 9.3 ELEMENTOS ESTRUTURAIS .................................................................. 166 9.4 FATORES GEOLÓGICOS TÍPICOS E SUA INFLUÊNCIA NA CONSTRUÇÃO DE TÚNEIS ........................................................................... 166 9.6 MÉTODOS DE ESCAVAÇÃO DE TÚNEIS ............................................... 167 CAPÍTULO 10. GEOLOGIA DE BARRAGENS ................................................. 171 10.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 171 10.2 ESTUDOS GEOLÓGICOS DE UMA BARRAGEM .................................. 171 10.3 PROBLEMAS CORRELACIONADOS COM AS CONDIÇÕES GEOLÓGICAS ................................................................................................. 176 CAPÍTULO 11. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .............................................. 178 1 CAPITULO 1. O SISTEMA TERRA A Terra é um lugar único, a casa de milhões de organismos, incluindo nós mesmos. Nenhum outro local que já tenhamos descoberto tem o mesmo delicado equilíbrio de condições para manter a vida. A Geologia é a ciência que estuda a Terra: como nasceu, como evoluiu, como funciona e como podemos ajudar a preservar os hábitats que sustentam a vida. Os geólogos buscam respostas a muitas perguntas básicas. De que material o planeta é composto? Por que existem continentes e oceanos? Como o Himalaia, os Alpes e as Montanhas Rochosas chegam a tamanha altura? Por que algumas regiões estão sujeitas a terremotos e erupções vulcânicas, enquanto outras não estão? Como o ambiente da superfície terrestre, e a vida contida nele, evoluiu ao longo de bilhões de anos? Quais são as prováveis mudanças no futuro? Acreditamos que as respostas a essas perguntas sejam fascinantes. Bem-vindo à ciência da Geologia! Nesta apsotila, estruturamos os temas da Geologia em torno de três conceitos básicos, que vão aparecer em quase todos os capítulos, inclusive neste: (1) a Terra como sistema de componentes interativos; (2) a tectônica de placas como uma teoria unificadora da Geologia; e (3) as mudanças do sistema Terra ao longo do tempo geológico. Veremos que nosso planeta trabalha como um sistema de muitos componentes interativos sob sua superfície sólida, em sua atmosfera e em seus oceanos. Entretanto, para obter uma perspectiva completa de como a Terra funciona, precisamos entender os modos como seus subsistemas interagem entre si - por exemplo, como os gases de um vulcão podem ocasionar mudanças climáticas ou como os organismos vivos podem modificar a atmosfera e, por sua vez, serem afetados por essas mudanças. Devemos entender, também, como o sistema Terra evoluiu ao longo do tempo. Você irá perceber que, enquanto lê estas páginas, sua idéia de tempo começará a mudar. Uma visão geológica do tempo deve acomodar intervalos tão vastos que nós, às vezes, temos dificuldades de compreendê-Ios. Os geólogos estimam que a Terra tenha aproximadamente 4,5 bilhões de anos. Antes de 3 bilhões de anos atrás, células vivas desenvolveram-se sobre a Terra, mas nossa origem humana ocorreu há apenas poucos milhões de anos - meros centésimos percentuais de toda a existência da Terra. As escalas que medem as vidas dos 2 indivíduos em décadas e marcam períodos da História humana, escrita em centenas ou milhares de anos, são inadequadas para estudar a Terra. Os geólogos devem explicar eventos que evoluíram em dezenas de milhares, centenas de milhares ou muitos milhões de anos. 1.1. O MÉTODO CIENTÍFICO O objetivo de toda a Ciência é explicar como o Universo funciona. O método científico, que todo cientista adota, é um pIano geral de pesquisa baseado em observações metodológicas e experimentos. Os cientistas acreditam que os eventos físicos têm explicações físicas, mesmo quando estão além da nossa capacidade atual de entendimento. Quando os cientistas propõem uma hipótese - uma tentativa de explicação baseada em dados coletados por meio de observação e experimentação -, eles a submetem à comunidade científica para que seja criticada e repetidamente testada contra novos dados. Uma hipótese que é confirmada por outroscientistas obtém credibilidade. Uma hipótese que sobreviveu a repetidas mudanças e acumulou um significativo corpo de suporte experimental é elevada à condição de teoria. Embora a força explanatória e preditiva de uma teoria tenha sido demonstrada, ela nunca pode ser considerada definitivamente provada. A essência da Ciência é que nenhuma explicação, não importa a quão acreditada ou atraente, é exatamente concordante com o problema. Se evidências novas e convincentes indicam que uma teoria está errada, os cientistas podem modificá-Ia ou descartá-Ia. 3 Um modelo científico é a representação de algum aspecto da natureza com base em um conjunto de hipóteses (incluindo, geralmente, algumas teorias bem estabelecidas). A comparação entre as predições do modelo e as observações feitas é uma maneira eficaz de testar se as hipóteses discutidas pelo modelo são mutuamente consistentes com ele. Atualmente, os modelos costumam ser formulados em termos de programas computadorizados, que procuram simular o comportamento de sistemas naturais por meio de cálculos numéricos. As simulações computadorizadas são importantes, por permitirem que se entendam aspectos do comportamento de sistemas de longa duração que nem as observações de campo nem os experimentos laboratoriais sozinhos poderiam elucidar. Para encorajar a discussão de suas ideias, os cientistas as compartilham com seus colegas, juntamente com os dados em que elas se baseiam. Eles apresentam suas descobertas em encontros profissionais, publicam-nas em revistas especializadas e explicam-nas em conversações informais com seus pares. Os cientistas aprendem com os trabalhos dos outros e, também, com as descobertas feitas no passado. A maioria dos principais conceitos da Ciência, que surgem tanto a partir de um lampejo da imaginação como de uma análise cuidadosa, é fruto de incontáveis interações dessa natureza. Albert Einstein assim se referiu sobre essa questão: "Na Ciência (...) o trabalho científico do indivíduo está tão inseparavelmente conectado ao de seus antecessores e contemporâneos, que parece ser quase um produto impessoal de sua geração". 1.2. AS TEORIAS E AS PRÁTICAS MODERNAS DE GEOLOGIA Como em muitas outras ciências, a Geologia depende de experimentos em laboratórios e simulações computacionais para descrever as propriedades físicas e químicas dos materiais terrestres e modelar os processos naturais que ocorrem nas superfícies e no interior da Terra. Entretanto, a Geologia tem seu próprio estilo e visão particular. Ela é uma "ciência de campo" que se baseia nas observações e experimentos orientados no local do objetivo de estudo e coletados por dispositivos de sensoriamento, como o de satélites orbitais. O registro geológico é a informação preservada nas rochas originadas em vários tempos da longa história da Terra. 4 No século XVIII, o médico e geólogo escocês James Hutton antecipou um princípio histórico da Geologia que pode ser assim resumido: "o presente é a chave do passado". O conceito de Hutton tornou-se conhecido como o princípio do uniformitarismo, o qual considera que os processos geológicos que vemos atuantes hoje também funcionaram de modo muito semelhante ao longo do tempo geológico. O princípio do uniformitarismo não significa que todo fenômeno geológico ocorre de forma lenta. Alguns dos mais importantes processos ocorrem como eventos súbitos. Um meteoroide grande que impacta a Terra - um bólido - pode escavar uma vasta cratera em questão de segundos. Um vulcão pode explodir seu cume e uma falha pode rachar o solo num terremoto muito rapidamente. Outros processos ocorrem de maneira mais lenta. Milhões de anos são necessários para que continentes migrem, montanhas sejam soerguidas e erodidas, e sistemas fluviais depositem espessas camadas de sedimentos. Os processos geológicos ocorrem numa extraordinária gama de escalas tanto no espaço como no tempo (Figura 1). 5 Figura 1. Os fenômenos geológicos podem estender-se durante milhares de séculos ou ocorrer com velocidades estupendas. (Esquerda) O Grand Canyon, no Arizona (EUA). (Direita) Cratera do Meteorito, Arizona (EUA). 6 Figura 2. Evolução do sistema solar Processos não têm sido diretamente observados nos últimos dois séculos e meio. No registro histórico, os humanos nunca presenciaram o impacto de um grande bólido, mas sabemos que tais eventos aconteceram muitas vezes no passado geológico e que certamente acontecerão de novo. O mesmo pode ser dito de vastos derrames vulcânicos, que cobriram com lavas áreas maiores que o Texas e envenenaram a atmosfera global com gases. A longa evolução da Terra é pontuada por muitos eventos extremos, ainda que infrequentes, envolvendo mudanças rápidas no sistema Terra. A ORIGEM DO NOSSO SISTEMA PLANETÁRIO A busca da origem do Universo e de nossa própria e pequena parte contida nele remonta às mais antigas mitologias registradas. Atualmente, a explicação científica mais aceita é a teoria da Grande Explosão (Big Bang), a qual considera que nosso Universo começou entre 13 a 14 bilhões de anos atrás a partir de uma "explosão" cósmica. Antes desse instante, toda a matéria e energia estavam concentradas num único ponto de densidade inconcebível. Embora saibamos pouco do que ocorreu na primeira fração de segundo após o início do tempo, os astrônomos obtiveram um entendimento geral dos bilhões de anos que e seguiram. Desde aquele instante, num processo que ainda continua, o Universo expandiu-se e diluiu-se para formar galáxias e estrelas. Os geólogos ainda analisam os últimos 4,5 bilhões de anos dessa vasta expansão, um tempo durante o qual o no sistema solar - a estrela que nós chamamos de Sol e os planetas que nela orbitam - formou-se e evoluiu. Mais especificamente, os geólogos examinam a formação do sistema solar para entender a formação da Terra. 7 1.3. A hipótese da nebulosa Em 1755, o filósofo alemão Immanuel Kant sugeriu que a origem do sistema solar poderia ser traçada pela rotação de uma nuvem de gás e poeira fina. Descobertas feitas há poucas décadas levaram os astrônomos de volta a essa antiga idéia, agora chamada de hipótese da nebulosa. Equipados com telescópios modernos, eles descobriram que o espaço exterior além do sistema solar não está vazio como anteriormente era pensado. Os astrônomos registraram muitas nuvens do mesmo tipo, tendo denominado as mesmas de nebulosas. Eles também identificaram os materiais que formam essas nuvens. Os gases são predominantemente hidrogênio e hélio, os dois elementos que constituem tudo, exceto uma pequena fração do nosso Sol. As partículas do tamanho do pó são quimicamente similares aos materiais encontrados na Terra. Como pode o nosso sistema solar ter ficado com a forma que tem, a partir de tal nuvem? Essa nuvem difusa em rotação lenta contraiu-se devido à força da gravidade, a qual resulta da atração entre os corpos por causa de suas massas (Figura 2). A concentração, por sua vez acelerou a rotação das partículas (exatamente como os patinadores sobre o gelo, que giram mais rápido quando contraem os braços) e essa rotação mais rápida achatou a nuvem na forma de um disco. A formação do Sol. Sob a atração da gravidade, a matéria começou a deslocar-se para o centro, acumulando-se como uma proto-estrela, a precurssora do nosso Sol atual. Comprimido sob seu gigante peso, o material do proto-Sol tornou-se mais denso e quente. A temperatura interna do proto-Sol elevou-se para milhões de graus, iniciando-se então uma fusão nuclear. A fusão nuclear do sol, que continua até hoje, é a mesma reação nuclear queacontece em uma bomba de hidrogênio. Em ambos os casos, átomos de hidrogênio sob intensa pressão e em alta temperatura combinam-se (fundem-se) para formar hélio. Nesse processo, parte da massa é convertida em energia. Essa conversão é representada pela famosa equação de Albert Einstein, E = mc2, na qual E é a quantidade de energia emitida pela conversão de massa (m) e c é a velocidade da luz. Como e é um número muito grande (cerca de 300.000 km/s) e c2 é imensa, uma pequena quantidade de massa pode gerar uma grande quantidade de energia. O Sol emite parte dessa energia como luz. 8 A formação dos planetas. Embora a maior parte da matéria da nebulosa original tenha sido concentrada no proto-Sol, restou um disco de gás e poeira, chamado de nebulosa solar, envolvendo-o. A nebulosa solar tornou-se quente quando se achatou na forma de um disco e ficou mais quente na região interna, onde mais matéria se acumulou, do que nas regiões externas menos densas. Uma vez formado, o disco começou a esfriar e muitos gases condensaram-se. Ou seja, eles mudaram para suas formas líquidas ou sólidas, assim como o vapor d'água condensa em gotas na parte externa de um copo gelado e a água solidifica em gelo quando esfria até o ponto de congelamento. A atração gravitacional causou a agregação de poeira e material condensado por meio de colisões "pegajosas" em pequenos blocos ou planetesimais de 1 km. Por sua vez, esses planetesimais colidiram e se agregaram, formando corpos maiores, com o tamanho da Lua. Num estágio final de impactos cataclísmicos, uma pequena quantidade desses corpos maiores - cuja atração gravitacional é também maior – arrastou os outros para formar os nossos nove planetas em suas órbitas atuais. Quando os planetas se formaram, aqueles cujas órbitas estavam mais próximas do Sol desenvolveram-se de maneira marcadamente diferente daqueles com órbitas mais afastadas. A composição dos planetas interiores é muito diferente daquela dos planetas exteriores. Os planetas interiores Os quatro planetas interiores, em ordem de proximidade do Sol, são: Mercúrio, Vênus, Terra e Marte (Figura 3). Eles também são conhecidos como planetas terrestres ("parecidos com a Terra"). Em contraste com os planetas exteriores, os quatro planetas interiores são pequenos e constituídos de rochas e metais. Eles cresceram próximos ao Sol, onde as condições foram tão quentes que a maioria dos materiais voláteis - aqueles que se tornaram gases e evaporaram em temperaturas relativamente baixas - não pôde ser retida. O fluxo de radiação e matéria proveniente do Sol impeliu a maior parte do hidrogênio, do hélio, da água e de outros gases e líquidos leves que havia nesses planetas. Metais densos, como o ferro e outras substâncias pesadas constituintes das rochas que formaram os planetas interiores, foram deixados para trás. A partir da idade dos meteoritos, que ocasionalmente golpeiam a Terra e são tidos como remanescentes do período pré-planetário, deduzimos que os planetas interiores começaram a acrescer há cerca de 4,56 bilhões de anos. Cálculos teóricos indicam que eles teriam crescido até o tamanho de planeta num 9 intervalo de tempo impressionantemente curto, de menos de 100 milhões de anos. Figura 3. O sistema solar. A figura mostra o tamanho relativo dos planetas e o cinturão de asteróides que separa os planetas interiores dos planetas exteriores. Os planetas exteriores gigantes A maioria dos materiais voláteis varridos da região dos planetas interiores foi impelida para a parte mais externa e fria da nebulosa. Isso possibilitou ao sistema solar formar os planetas exteriores gigantes, constituídos de gelo e gases - Júpiter, Saturno, Urano e Netuno -, e seus satélites. Os planetas gigantes, suficientemente grandes e com forte atração gravitacional, varreram os constituintes mais leves da nebulosa. Assim, embora tenham núcleos rochosos, eles (como o Sol) são compostos predominantemente por hidrogênio e hélio, além de outros constituintes leves da nebulosa original. 1.4. A TERRA PRIMITIVA: FORMAÇÃO DE UM PLANETA EM CAMADAS Como, a partir de uma massa rochosa, a Terra evoluiu até um planeta vivo, com continentes, oceanos e uma atmosfera? A resposta reside na diferenciação: a transformação de blocos aleatórios de matéria primordial num corpo cujo interior é dividido em camadas concêntricas, que diferem umas das outras tanto física como quimicamente. A diferenciação ocorreu nos primeiros momentos da história da Terra, quando o planeta adquiriu calor suficiente para se fundir. 1.4.1. Aquecimento e fusão da Terra primordial Para entender a atual estrutura em camadas da Terra, devemos retornar ao tempo que ela foi exposta aos violentos impactos dos planetesimais e de corpos maiores. O movimento de objetos carrega energia cinemática ou de 10 movimento. (Pense no modo como a energia do movimento comprime um carro numa colisão). Um planetesimal colidindo com a Terra numa velocidade típica de 15 a 20 km/s liberará uma energia equivalente a 100 vezes o seu peso TNT1 Quando planetesimais e corpos grandes colidiram com a Terra primitiva, a maior parte da energia cinética foi convertida em calor, outra forma de energia. A energia de um impacto de um corpo, com aproximadamente o tamanho de Marte, colidindo com a Terra seria equivalente a explodir vários trilhões de bombas nucleares de 1 megaton = energia de 1milhão de toneladas de TNT. Isso seria suficiente para ejetar no espaço uma grande quantidade de detritos e gerar calor suficiente para fundir a maior parte do que restou da Terra. Muitos cientistas agora pensam que tal cataclismo de fato ocorreu durante os estágios tardios de acrescimento da Terra. O grande impacto criou uma chuva de detritos tanto da Terra como do corpo impactante, que se propalou para o espaço. A Lua agregou-se a partir desses detritos (Figura 4). Figura 4. Ilustração de uma simulação computadorizada da origem da Lua por meio do impacto de um corpo do tamanho de Marte. (Solid Earth Sciences and Society, National Research Council, 1993.) A Terra teria se reconstituído como um corpo em grande parte fundido. Esse monumental impacto acelerou a velocidade de rotação da Terra e mudou seu eixo rotacional, golpeando-o da posição vertical em relação ao plano orbital 1 TNT é a sigla de trinitrotolueno, C7H506N3 1. Durante os estágios intermediários e finais do acrescimento da Terra, ha cerca de 4,5 bilhões de anos, um corpo do tamanho de marte impactou a Terra... 2. ...e o impacto gigante ejetou para o espaço uma chuva de detritos tanto do corpo impactante como da terra.. 3. O impacto acelerou a rotação da Terra e inclinou o seu plano orbital para 23º. 4. A Terra reconstitui-se como um grande corpo fundido... 5. ...e a Lua agregou-se a partir dos detritos. 6. Rochas da Lua com 4,47 bi de anos, trazidas pelos astronautas da Apollo, confirmaram essa hipótese do impacto. 11 da Terra para sua atual inclinação de 23º. Tudo isso há cerca de 4,5 bilhões de anos, entre o período de inicio de acrescimento da Terra (4,56 bilhões de anos) e a idade das rochas mais antigas da Lua (4,47 bilhões de anos) trazidas pelos astronautas da Apollo. Além do impacto colossal, uma outra força de calor teria causado a fusão nos primórdios da história da Terra. Vários elementos (uranio, por exemplo) são radioativos, o que significa que se desintegram espontaneamente com a emissão de partículas subatômicas. Como essas partículas são absorvidas pela matéria do entorno, sua energia de movimento é transformada em calor. O calor radioativoteria contribuído para aquecer e fundir materiais da então jovem Terra. Elementos radioativos, embora apenas presentes em pequenas quantidades, tiveram um efeito considerável na evolução da Terra e continuam a manter o calor interior. 1.4.2. Começa a diferenciação Embora a Terra provavelmente tenha iniciado como uma mistura não- segregada de planetesimais e outros remanescentes da nebulosa, ela não manteve essa forma durante muito tempo. Uma fusão de grande proporção ocorreu como resultado de um gigantesco impacto. Alguns trabalhos sobre esse tema especulam que cerca de 30 a 65% da Terra fundiram-se, formando uma camada externa de centenas de quilômetros de espessura, a qual chamaram de "oceano de lava" (rocha derretida). Da mesma forma, o interior aqueceu-se até um estado "leve" (menos denso), no qual seus componentes podiam mover-se de um lado para outro. O material pesado mergulhou para o interior para tornar-se o núcleo e o material mais leve flutuou para a superfície e formou a crosta. A emersão do material mais leve carregou consigo calor interno para a superfície, de onde ele poderia irradiar-se para o espaço. Dessa forma, a Terra resfriou-se e grande parte dela solidificou-se e foi transformada em um planeta diferenciado ou zoneado em três camadas principais: um núcleo central e uma crosta externa separados por um manto (Figura 5). Um resumo dos períodos de tempo que descrevem a origem da Terra e sua evolução num planeta diferenciado é mostrado na Figura 11. Núcleo da Terra O ferro, que é mais denso que a maioria dos outros elementos, correspondia a cerca de um terço do material do planeta primitivo. O ferro e outros elementos pesados, como o níquel, mergulharam para formar o 12 núcleo central. Os cientistas consideram que o núcleo, o qual começa numa profundidade de cerca de 2.900 km, é líquido na parte externa, mas sólido numa região chamada de núcleo central, que se estende desde uma profundidade de cerca de 5.200 krn até o centro da Terra, a cerca de 6.400 krn. O núcleo interno é sólido porque a pressão no centro é muito alta para o ferro fundir-se (a temperatura em que qualquer material se funde eleva-se com o aumento da pressão). Crosta da Terra Outros materiais líquidos e menos densos separaram-se das substâncias geradoras flutuando em direção à superfície do oceano de magma. Aí resfriaram-se para formar a crosta sólida da Terra, uma fina camada externa com cerca de 40 km de espessura. A crosta contém materiais relativamente leves com temperaturas de fusão baixas. A maioria desses materiais, que facilmente se fundem, é composta de elementos de silício, alumínio, ferro, cálcio, magnésio, sódio e potássio combinados com oxigênio. Todos eles, com exceção do ferro, estão entre os elementos sólidos mais leves. Figura 5. A diferenciação da Terra primitiva resultou num planeta zoneado com um denso núcleo de ferro, uma crosta de rochas leves e um manto residual entre ambos. Manto da Terra Entre o núcleo e a crosta encontra-se o manto, uma região que forma a maior parte da Terra sólida. O manto é o material deixado na zona intermediária depois que grande quantidade da matéria pesada afundou e a Figura 5. 13 matéria mais leve emergiu. O manto abrange profundidades que vão desde 40 até 2.900 km. Ele consiste em rochas com densidade intermediária, em sua maioria compostos de oxigênio com magnésio, ferro e silício. Existem mais de cem elementos, mas as análises químicas das rochas indicam que apenas oito constituem 99% da massa da Terra (Figura 6). De fato, cerca de 90% da Terra consistem em apenas quatro elementos: ferro, oxigênio, silício e magnésio. Quando comparamos a abundância relativa dos elementos constituintes da crosta com sua abundância em relação a toda a Terra, podemos constatar que o ferro soma 35% da massa desta. Devido à diferenciação, entretanto, há pouco ferro na crosta, onde os elementos leves predominam. Como se pode ver na Figura 1.7, as rochas crustais sobre as quais estamos são constituídas por quase 50% de oxigênio. Figura 6. A abundância relativa dos elementos da Terra inteira comparada com a dos elementos da crosta é dada em percentuais de peso. A diferenciação criou uma crosta leve, empobrecida de ferro e rica em oxigênio, silício, alumínio, cálcio, potássio e sódio. 1.4.3. A formação dos continentes, dos oceanos e da atmosfera da Terra A fusão primitiva promoveu a formação da crosta da Terra e, fortuitamente, dos continentes. Ela fez com que os materiais mais leves se concentrassem nas camadas externas e permitiu que pelo menos os gases mais leves escapassem do interior. Esses gases formaram grande parte da atmosfera e dos oceanos. Até hoje, remanescentes retidos da nebulosa solar original continuam a ser emitidos como gases primitivos em erupções vulcânicas. Continentes A feição mais visível da crosta da Terra são os continentes. O crescimento dos continentes começou logo após a diferenciação e continuou ao longo do tempo geológico. Tem-se, quando muito, apenas uma noção geral do que levou à sua formação. Imaginamos que o magma partiu do interior derretido 14 da Terra e ascendeu à superfície, onde esfriou e se solidificou para formar a crosta rochosa. Essa crosta primitiva fundiu-se e solidificou-se repetidamente, fazendo com que os materiais mais leves se separassem dos mais pesados e ascendessem ao topo, para formar os núcleos primitivos dos continentes. A água da chuva e outros constituintes da atmosfera erodiram as rochas, levando-as a decomporem-se e desintegrarem-se. Água, vento e gelo desprenderam, então, os detritos rochosos se moveram-nos para lugares de deposição mais baixos. Aí se acumularam em camadas espessas, formando praias, deltas e os assoalhos dos mares adjacentes. A repetição desse processo durante muitos ciclos estruturou os continentes. Oceanos e a atmosfera Alguns geólogos pensam que a maior parte do ar e da água da Terra atual vieram de fora do sistema solar por meio de materiais ricos em voláteis que impactaram o planeta depois que ele foi formado. Por exemplo, os cometas que vemos são compostos predominantemente de gelo mais dióxido de carbono e outros gases congelados. Incontáveis cometas podem ter bombardeado a Terra nos primórdios de sua história, fornecendo água e gases que, subsequentemente, deram origem aos oceanos e à atmosfera primitivos. Muitos outros geólogos acreditam que os oceanos e a atmosfera podem ter sua origem rastreada no "nascimento úmido" da própria Terra. De acordo com essa hipótese, os planetesimais que se agregaram para formar nosso planeta tinham gelo, água e outros voláteis. Originalmente, a água estava aprisionada (quimicamente ligada como oxigênio e hidrogênio) em certos minerais trazidos pela agregação dos planetesimais. De forma similar, nitrogênio e carbono também estavam quimicamente ligados nos minerais. Quando a Terra se aqueceu e seus materiais fundiram-se parcialmente, o vapor d'água e outros gases foram liberados e levados para a superfície pelos magmas, sendo lançados na atmosfera pela atividade vulcânica. Os gases emitidos pelos vulcões há cerca de 4 bilhões de anos consistiam, provavelmente, nas mesmas substâncias que são expelidas dos vulcões atuais (embora não necessariamente na mesma quantidade relativa): fundamentalmente hidrogênio, dióxido de carbono, nitrogênio, vapor d'água e alguns outros gases (Figura 7). Quase todo o hidrogênio escapou para o espaço exterior, enquanto os gases pesados envolveram o planeta. Essa atmosfera primitiva era destituída de 15 oxigênio,elemento que constitui 21% da atmosfera atual. O oxigênio não fazia parte da atmosfera até que organismos fotos sintéticos evoluíssem. Figura 7. A atividade vulcânica primitiva contribuiu com o lançamento, para a atmosfera e os oceanos, de grandes quantidades de vapor d'água, dióxido de carbono e outros gases e, para os continentes, de materiais sólidos. A fotossíntese dos microrganismos remove o dióxido de carbono e adicionou oxigênio à atmosfera primordial. O hidrogênio, devido à sua leveza, escapou para o espaço exterior. 1.5. O BOMBARDEAMENTO VINDO DO ESPAÇO As superfícies salpicadas por crateras da Lua, Marte, Mercúrio e outros corpos são evidências de um importante intervalo da história primordial do sistema solar: o período de Bombardeamento Pesado (ver Figura 2). Durante esse período, que deve ter durado desde a formação dos planetas até 600 milhões de anos depois, os planetas varreram e colidiram com a matéria residual deixada para trás na época em que foram agregados. A atividade geológica na Terra obliterou os efeitos desse bombardeamento. O espaço está cheio de asteróides, meteoróides, cometas e outros detritos abandonados desde o início do nosso sistema solar. Pequenos blocos de detritos aqueceram-se e vaporizaram-se na atmosfera da Terra antes de alcançar a sua superfície, enquanto blocos maiores atravessaram-na por completo. Atualmente, 16 cerca de 40 mil toneladas de material extraterrestre caem na Terra a cada ano, sobretudo como poeira e pequenos objetos não observados. Embora a atual taxa de impacto seja, em várias ordens de magnitude, menor que aquela do período de Bombardeamento Pesado, um grande bloco, de 1 a 2 km de diâmetro, ainda pode colidir com a Terra em intervalos aproximados de poucos milhões de anos. Embora tais colisões tenham se tomado raras, telescópios estão sendo programados para localizar os maiores corpos no espaço e, assim, possibilitar que sejamos antecipadamente advertidos da potencialidade de alguns deles virem a se chocar com a Terra. Recentemente, os astrônomos da NASA previram, "com uma probabilidade nada negligenciável" (uma chance em 300), que um asteróide de 1km de diâmetro colidirá com a Terra março de 2880. Um evento como esse constituiria uma ameaça à civilização. Tabela 1. Impactos de bólitos e seus efeitos na Terra Tamanho (R = raio) Exemplo Última ocorrência (em anos) Efeitos planetários Efeitos na vida Supercolossal R> 2.000 km Evento de formação da Lua 4,45 x 10 9 Fusão do planeta Extinção da vida Colossal R> 700 km Plutão 4,3 x 10 9 Fusão da crosta Extinção da vida Imenso R> 200 km Um asteroide grande 4,0 x 10 9 Vaporização dos oceanos A vida pode sobreviver na superfície Extragrande R> 70 km Chiron (maior cometa em movimento) 3,8 x 10 9 Vaporização do topo dos oceanos ate 100m Cozimento sob pressão, pode cessar a fotossíntese Grande R> 30 km Cometa Hale-Bopp 2,0x 10 9 Aquecimento da atmosfera e da superfície até 727ºC Cauterização dos continentes Médio R> 10 km O maior asteroide próximo a Terra 65 x 10 6 Incêndios, poeira, escuridão, mudanças químicas nos oceanos e atmosfera, grande oscilação de temperatura Extinção de metade da espécie, o evento levou a extinção dos dinossauros Pequeno R> 1 km Tamanho de 500 asteroides próximos da Terra 300.000 Suspensão de poeira em toda a atmosfera durante meses Interrupção da fotossíntese, indivíduos morrem, mas poucas espécies são extintas, ameaça a civilização Mito pequeno R> 100 m Evento de Tunguska (Sibéria) 1908 Derrubou arvores num rastro de dezenas de km Manchetes de jornais 17 1.6. A TERRA COMO UM SISTEMA DE COMPONENTES INTERATIVOS Embora a Terra tenha se esfriado desde seu início ardente, ela continua um planeta inquieto, mudando continuamente por meio de atividades geológicas, tais como terremotos, vulcões e glaciações. Essas atividades são governadas por dois mecanismos térmicos: um interno e o outro externo. Mecanismos de tal tipo como, por exemplo, o motor a gasolina de um automóvel- transformam calor em movimento mecânico ou trabalho. O mecanismo interno da Terra é governado pela energia térmica aprisionada durante a origem cataclísmica do planeta e gerada pela radioatividade em seus níveis mais profundos. O calor interior controla os movimentos no manto e no núcleo, suprindo energia para fundir rochas, mover continentes e soerguer montanhas. O mecanismo externo da Terra é controlado pela energia solar - calor da superfície terrestre proveniente do Sol. O calor do Sol energiza a atmosfera e os oceanos e é responsável pelo nosso clima e tempo. Chuva, vento e gelo erodem montanhas e modelam a paisagem e, por sua vez, a forma da superfície muda o clima. Todas as partes do nosso planeta e todas suas interações, tomadas juntas, constituem o sistema Terra. Embora os cientistas da Terra pensem já há algum tempo em termos de sistemas naturais, foi apenas nas últimas décadas do século XX que eles dispuseram de equipamentos adequados para investigar como o sistema Terra realmente funciona. Dentre os principais avanços, estão as redes de instrumentos e satélites orbitantes de coleta de informações do Sistema Terra numa escala global e o uso de computadores eletrônicos com potência suficiente para calcular a massa e a energia transferidas dentro do sistema. A Terra é um sistema aberto, no sentido de que troca massa e energia com o restante do cosmos. A energia radiante do Sol energiza o intemperismo e a erosão da superfície terrestre, bem como o crescimento das plantas, as quais servem de alimento a muitos outros seres vivos. Nosso clima é controlado pelo balanço entre a energia solar que chega até o sistema Terra e a energia que o planeta irradia de volta para o espaço. As transferências de massa entre a Terra e o espaço decresceram marcadamente depois do período de Bombardeamento Pesado, mas ainda desempenham um papel ativo no sistema Terra – é só perguntar aos dinossauros. 18 Figura 8. Principais componentes e subsistemas do sistema Terra. As interações entre os componentes são governadas pela energia do Sol e do interior do planeta e organizadas em três geossistemas globais: o sistema do clima, o sistema das placas tectônicas e o sistema geodínamo 1.6.1. O sistema do clima Tempo é o termo que usamos para descrever a temperatura, a precipitação, a nebulosidade e os ventos observados num ponto da superfície terrestre. Todos sabem o quanto o tempo pode ser variável - quente e chuvoso num dia, frio e seco no outro -, dependendo dos movimentos de sistemas de tempestades, frentes frias e quentes e outras mudanças rápidas dos distúrbios atmosféricos. Como a atmosfera é muito complexa, mesmo os melhores meteorologistas têm dificuldades em prever o tempo com antecedência de mais 1 2 3 4 5 6 19 de quatro ou cinco dias. Entretanto, podemos inferir como ele será, em termos gerais, num futuro bem mais distante, pois o tempo predominante é governado principalmente pelas variações do influxo de energia solar nos ciclos sazonais e diários: verões são quentes e invernos, frios; dias são quentes e noite, mais frescas. O clima é a descrição desses ciclos de tempo em termos das médias de temperatura e outras variáveis obtidas durante muitos anos de observação. Além dos valores médios, uma descrição completa do clima também inclui medidas de quanto tem sido a variação do tempo meteorológico, tais como as temperaturas mais altas ou mais baixasjá registradas num certo dia. O sistema do clima inclui todas as propriedades e interações dos componentes dentro do sistema Terra necessárias para determinar o clima numa escala global e descobrir como ele muda com o tempo. O problema é incrivelmente complicado porque o clima não é apenas o comportamento da atmosfera sozinha. Ele é sensível a muitos outros processos envolvendo a hidrosfera, a biosfera e a Terra sólida (ver Figura panorâmica 8). Para entender essas interações, os cientistas elaboram modelos numéricos - sistemas climáticos virtuais - em supercomputadores e comparam os resultados de suas simulações com os dados observados. (Em março de 2002, o Japão anunciou o maior e mais rápido computador do mundo, o Simulador da Terra - Earth Simulator -, dedicado à modelagem do clima terrestre e outros geossistemas). 1.6.2. O sistema das placas tectônicas Alguns dos mais dramáticos eventos geológicos do planeta erupções vulcânicas e tenemotos, por exemplo - também resultam de interações dentro do sistema Terra. Esses fenômenos são controlados pelo calor interno do globo, que escapa por meio da circulação de material no manto sólido, em um processo conhecido como convecção. Vimos que a Terra é quimicamente zoneada: sua crosta, manto e núcleo são camadas quimicamente distintas que se segregaram durante a diferenciação primordial. A Terra é também zoneada pela reologia, ou seja, pelos diferentes comportamentos materiais que apresenta ao resistir à deformação. Por sua vez, a deformação do material depende da composição química (tijolos são frágeis; barras de sabão, dúcteis) e da temperatura (cera fria é frágil; cera quente, dúctil). De certa forma, a parte externa da Terra sólida comporta-se como uma bola de 20 cera quente. O resfriamento da superfície torna frágil a casca mais externa ou litosfera (do grego lithos, "pedra"), a qual envolve uma quente e dúctil astenosfera (do grego asthenes, "fraqueza"). A litosfera inclui a crosta e o topo do manto até uma profundidade média de cerca de 100 km. Quando submetida a uma força, a litosfera tende a se comportar como uma casca rígida e frágil, enquanto a astenosfera sotoposta flui como um sólido moldável ou dúctil. De acordo com a notável teoria da tectônica de placas, a litosfera não é uma casca contínua; ela é quebrada em 12 grandes "placas" que se movem sobre a superfície terrestre com taxas de alguns centímetros por ano. Cada placa atua como uma unidade rígida distinta que se move sobre a astenosfera, a qual também está em movimento. Ao formar uma placa, a litosfera pode ter uma espessura de apenas alguns quilômetros nas áreas com atividade vulcânica e, talvez, de até 200 km ou mais nas regiões mais antigas e frias dos continentes. As descobertas das placas tectônicas na década de 1960 forneceu aos cientistas a primeira teoria unificada para explicar a distribuição mundial dos terremotos e dos vulcões, a deriva dos continentes, o soerguimento de montanhas e muitos outros fenômenos geológicos. Por que as placas se movem na superfície terrestre ao invés de se fixarem completamente numa casca rígida? As forças que empurram e arrastam as placas ao redor da superfície originam-se do motor térmico do manto sólido da Terra, o qual causa convecção. Em termos gerais, a convecção é um mecanismo de transferência de energia e de massa no qual o material aquecido ascende e o resfriado afunda. A convecção pode ocorrer em qualquer material que flui, seja um fluido ou um sólido dúctil, quando é aquecido na base e resfriado no topo. A matéria quente da base sobe sob a força do empuxo, pois se tornou menos densa que a matéria que está sobre ela no topo. Quando alcança a superfície, ela perde calor e esfria a partir do que se move lateralmente e se torna mais densa. No momento em que adquire mais densidade que o material subjacente, ela afunda pela atração da gravidade, como ilustrado na Figura 9. A circulação continuará durante o tempo necessário para que o calor existente no interior seja transferido para a superfície fria. O movimento das placas é a manifestação superficial da convecção do manto e nos referimos a todo esse sistema como o sistema das placas 21 tectônicas. Controlado pelo calor interno da Terra, o material quente do manto sobe onde as placas se separam, e então começa a endurecer a litosfera. À medida que se move para longe desse limite divergente, a litosfera esfria e torna- se mais rígida. Porém, ela pode eventualmente afundar na astenosfera e arrastar material de volta para o manto, nos bordos onde as placas convergem (Figura 9). Assim como no sistema do clima (que envolve uma ampla variedade de processos convectivos na atmosfera e nos oceanos), os cientistas estudam as placas tectônicas usando simulações computadorizadas para representar o que pensam ser os mais importantes componentes e interações. Eles revisam os modelos cujas implicações estão em desacordo com os dados reais. Figura 9. A água fervendo é um exemplo familiar da convecção. (b) Uma visão simplificada das correntes de convecção no interior da Terra. 1.6.3. A evolução da vida Todos os o organismos vivos e a matéria orgânica que produzem, considerados como uma coisa só constituem a biosfera (do grego bios, "vida") da Terra. A evolução da vida envolveu interações complexas entre biosfera, atmosfera, hidrosfera e litosfera. O inicio da vida, há pouco mais de 4 bilhões de anos, a atmosfera e a hidrosfera primitivas da Terra já tinham se formado. Gases leves, como o hidrogênio, escaparam para o espaço, deixando para trás gases mais pesados, como vapor d' água, dióxido de carbono e dióxido de enxofre. Essa atmosfera primitiva permitiu que quase todos os componentes da luz solar alcançassem a superfície terrestre - incluindo os raios ultravioleta (UV), dos quais são danosos para a vida. Na mesma época, havia dióxido de carbono e vapor d'água suficiente para aprisionar o calor que se irradiava da superfície, mantendo a Terra quente. 22 Esse fenômeno é conhecido como efeito estufa, pois guarda analogia com o aquecimento de uma estufa, onde o vidro deixa a luz passar, enquanto pouco calor consegue sair. De algum modo, a vida iniciou no efeito estufa da Terra, apesar da intensa radiação UV e da atmosfera hostil, pobre em oxigênio. Evidências diretas, embora atualmente questionadas, residem na preservação dos primeiros fósseis (traços de organismos da época geológicas passadas preservados na crosta). Fosseis de bactérias primitivas foram encontrados em rochas datadas de 3,5 bilhões de anos. Uma linha de evidências mais efetiva, embora indireta, é fornecida pela composição da matéria orgânica preservada nas rochas dessa idade. Esses remanescentes químicos dos organismos antigos estão rapidamente ultrapassando a evidência fóssil como sendo a principal base para o entendimento da evolução primitiva da vida na Terra. Há uma forte probabilidade, entretanto, de que a vida tenha originado-se em época anterior, talvez há 4 bilhões de anos ou mesmo antes. O primeiro degrau até a evolução da bactéria primitiva é pensado como sendo a reunião de grandes moléculas de gases, como o metano e a amônia. A energia para essas transformações foi suprida pela forte radiação UV. Esse degrau tem sido explorado em muitos experimentos químicos que mostram como esses diversos tijolos fundamentais da vida poderiam ter se formado. De alguma maneira, essas moléculas orgânicas agregaram-se e formaram sistemas capazes de crescer e metabolizar. Esses sistemas não eram propriamente a vida, pois não se reproduziam, de sorte que são chamados de protovida. Alguns cientistasargumentam que a protovida foi concentrada em nascentes quentes alimentadas por vulcões no assoalho do oceano. O próximo degrau critico foi o desenvolvimento da primeira molécula verdadeiramente auto-replicável: o ácido ribonucleico (RNA). Essa molécula com uma única cadeia de nucleotídeos - assim como seu primo com duas cadeias, o ácido desoxirribonucleico (DNA) - é envolvida intimamente no processo de auto- replicação. O “mundo do RNA" foi transitório e logo evoluiu para o "mundo do DNA", mais complexo, o qual caracterizou a biosfera pelo resto da história geológica. Nem todos os cientistas aprovam essas hipóteses. Poucos deles acreditam que o impacto de cometas trouxe para a Terra não apenas os gases da atmosfera 23 e os oceanos, mas também a própria vida. De acordo com essa visão, a vida na Terra iniciou quando cometas caíram - bolas de gelo e gases congelados – e "colonizaram" o planeta. Um cientista propôs que o constante bombardeamento da Terra nesses tempos iniciais pode muito bem ter destruído a vida logo depois que ela fora sintetizada. Se isso de fato ocorreu, a vida teria reiniciado diversas vezes. Esses estágios primitivos da origem da vida, provavelmente, não afetaram de modo importante a atmosfera, a qual permaneceu composta dominantemente por nitrogênio e dióxido de carbono. O oxigênio torna-se o principal gás da atmosfera. Os organismos primitivos devem ter fornecido quantidades relativamente pequenas de matéria orgânica produzida por processos químicos inorgânicos ou reciclada de outros organismos. A principal mudança ocorreu quando a vida evoluiu para fazer seu próprio alimento por meio da fotossíntese. Esse é o processo pelo qual as plantas e outros organismos verdes utilizam a clorofila (que os colore de verde) e a energia da luz solar para produzir carboidratos a partir do dióxido de carbono e da água. A evolução da fotossíntese no início da história geológica da Terra teve imensas consequências. Um produto derivado da fotossíntese é o oxigênio (O2). À medida que a matéria orgânica da vida fotossintética era soterrada, o carbono era removido da atmosfera e o oxigênio, acumulado. A partir das evidências fósseis, parece que processos semelhantes ocorreram há 2,5 bilhões de anos. Os geólogos encontraram rochas de ferro bandeado muito antigas, com idade de 2,5 bilhões de anos, que foram oxidadas ("enferrujadas") durante sua formação, indicando que havia mais oxigênio na atmosfera naquele tempo. O aumento para os atuais níveis de oxigênio atmosférico é agora pensado como o resultado de uma série de etapas crescentes ocorridas num período de tempo de pelo menos 2 bilhões de anos . Quando as moléculas de oxigênio atmosférico difundiram-se para a estratosfera (atmosfera superior), foram transformadas pela radiação solar em ozônio (O3) criando uma camada estratosférica de ozônio. A camada de ozônio absorve certas porções de radiação UV antes que atinjam a superfície, onde poderiam prejudicar e causar mutações nas células de animais e plantas. Sem esse escudo protetor, a vida não teria florescido na Terra. 24 O "Big Bang" biológico. Comparada com a vida atual, a vida no início da Terra era uma coisa primitiva, consistindo basicamente em pequenos organismos unicelulares que flutuavam próximo à superfície dos oceanos ou viviam no fundo dos mares. Entre 1 e 2 bilhões de anos atrás, a vida tomou-se multicelular, quando algas e algas marinhas foram originadas. Então, por razões não muito bem entendidas, os primeiros animais entraram em cena há cerca de 600 milhões de anos, evoluindo numa sequência de ondas. A primeira onda produziu formas simples, semelhantes a águas-vivas e a samambaias com corpos leves, bem como seres de corpo duro com formas lembrando taças de vinho com buracos (Figura 10). Muito rapidamente foram extintas, embora poucas possam ter servido como protótipos para uma segunda onda, a qual constituiu a maior diversificação de novas formas de vida na história da Terra. Figura 10. Os fósseis que registram a explosão do Cambriano incluem fósseis calcificados do Pré-Cambriano (esquerda), que foram os primeiros organismos a utilizar caleita na produção da concha. Eles foram extintos no limite Pré-Cambriano-Cambriano, junto com outros organismos, e abriram caminho para outro estranho grupo de novos organismos, incluindo o Hallucigenia (centro) e os mais familiares trilobitas (direita). Esses dois últimos formaram carapaças frágeis de material orgânico similar às unhas Num breve período iniciado há 543 milhões de anos e, provavelmente, com uma duração menor que 10 milhões de anos, oito ramos (filas) inteiramente novos do reino animal foram estabelecidos, incluindo os ancestrais de quase todos os animais que conhecemos hoje. Formas mais familiares incluem vermes terrestres 25 e seus correlativos marinhos, estrelas-do-mar e bolachas-da-praia,12 moluscos, insetos, crustáceos e os cordados que, finalmente, evoluíram para os animais superiores (inclusive nós). Outros tipos de animais, agora extintos, tais como os trilobitas, com sua aparência primitiva (ver Figura 10), também passaram a existir. Foi durante essa explosão evolutiva, às vezes refelida como "Big Bang" ("grande explosão") da biologia, que animais cujo corpo continha partes duras e ricas em cálcio deixaram pela primeira vez carcaças fósseis no registro geológico. Extinções em massa por eventos extremos. Embora a evolução biológica seja comumente vista como um processo muito lento, as tendências evolutivas mais amplas foram frequentemente pontuadas por breves períodos de mudança rápida. Um primeiro exemplo notável é o da explosão evolutiva que acabamos de descrever. Igualmente espetaculares foram as extinções em massa durante as quais muitos tipos de animais e plantas desapareceram subitamente do registro geológico. Cinco dessas imensas reviravoltas estão indicadas na Figura 9. A última, já discutida neste capítulo, foi causada pelo impacto de um grande bólido há 65 milhões de anos. Esse evento extremo encerrou a Idade dos Dinossauros. As causas das outras extinções ainda estão sendo debatidas. Além do impacto de bólidos, os cientistas têm proposto outros tipos de eventos extremos, como variações climáticas rápidas ocasionadas por glaciações e enormes erupções de material vulcânico. As evidências são frequentemente ambíguas ou inconsistentes. Por exemplo, o maior evento de extinção de todos os tempos ocorreu há cerca de 250 milhões de anos, varrendo 95% de todas as espécies. Um impacto de um bólido tem sido proposto por alguns investigadores, mas o registro geológico mostra que as capas de gelo se expandiram nessa época e que houve mudança da composição química da água do mar, o que seria consistente com uma grande crise climática. Simultaneamente, uma enorme erupção vulcânica cobriu uma área na Sibéria com quase a metade do tamanho dos Estados Unidos, com 2 ou 3 milhões de quilômetros cúbicos de lava. Essa extinção em massa foi batizada de "Assassino do Expresso Oriente", pois existem suspeitos! 26 CAPÍTULO 2. MINERAIS. CONSTITUINTES BÁSICOS DAS ROCHAS Os minerais são os constituintes básicos das rochas: na maioria dos casos, com ferramentas apropriadas, pode-se separar cada um dos minerais que as constituem. Poucos tipos de rochas, como os calcários, contêm apenas um mineral (nesse caso, a calcita). Outros tipos, como o granito, são constituídos de vários minerais diferentes. Para identificar e classificar os diversos tipos de rochas que compõem a Terra e entender como se formaram, devemos conhecer os minerais. Os geólogos definem um mineral como uma substânciade ocorrência natural, sólida, cristalina, geralmente inorgânica, com uma composição química específica. Os minerais são homogêneos: não podem ser divididos, por meios mecânicos, em componentes menores. Vamos examinar detalhadamente a seguir cada parte da nossa definição de mineral. De ocorrência natural... Para ser qualificada como um mineral, uma substância deve ser encontrada na natureza. Os diamantes que são retirados das minas da África do Sul são minerais. Os exemplares sintéticos, produzidos em laboratórios industriais, não são considerados minerais, nem os milhares de produtos inventados pelos químicos. Substância sólida cristalina ... Os minerais são substâncias sólidas - não são líquidos nem gases. Quando dizemos que um mineral é cristalino, queremos nos referir ao fato de que as minúsculas partículas de matéria, ou átomos, que o compõem estão dispostas em um arranjo tridimensional ordenado e repetitivo. Os materiais sólidos que não têm um arranjo ordenado desse tipo são considerados vítreos ou amorfos (sem forma) e por convenção não são considerados minerais. O vidro de janela é amorfo, como também alguns vidros naturais formados durante as erupções vulcânicas. Geralmente inorgânico... Os minerais são definidos como substâncias inorgânicas, excluindo assim os materiais orgânicos que formam os corpos das plantas e dos animais. A matéria orgânica é composta de carbono orgânico, que é a forma de carbono encontrada em todos os organismos vivos ou mortos. A vegetação em decomposição em um pântano pode ser transformada, por processos geológicos, em carvão, que também é feito de carbono orgânico, mas, 27 embora forme depósitos naturais, o carvão não é tradicionalmente considerado um mineral. Muitos minerais são, entretanto, secretados por organismos. Um desses minerais, a calcita (Figura 11), forma as conchas de ostras e de muitos outros organismos e contém carbono inorgânico. A calcita dessas conchas, que constitui a parte principal de muitos calcários, satisfaz a definição de mineral, por ser inorgânica e cristalina. Figura 11. O mineral calcita é encontrado nas conchas de muitos organismos, como os foraminíferos. ...Com uma composição química específica A chave para entendermos a composição dos materiais que formam a Terra reside em conhecer como os elementos químicos estão organizados nos minerais. O que torna cada mineral único é a sua composição química e a forma como estão dispostos os átomos na sua estrutura interna. A composição química de um mineral, dentro de limites definidos, tanto pode ser fixa como variável. O quartzo, por exemplo, tem uma proporção fixa de quatro átomos de oxigênio para um de silício. Essa proporção nunca muda, embora o quartzo possa ser encontrado em muitos tipos de rochas. Os componentes da olivina - ferro, magnésio e silício sempre ocorrem em uma proporção fixa. Embora a razão entre o número de átomos de ferro e magnésio possa variar, a proporção entre a soma dos mesmos e o total de átomos de silício sempre permanece constante. 2.1. A ESTRUTURA ATOMICA DA MATÉRIA Os dicionários modernos listam muitos significados para a palavra átomo e seus derivativos. Uma das primeiras definições encontradas é "...algo considerado como a menor parte possível de qualquer material". Para os gregos antigos, átomo significava "indivisível". John Dalton (1766-1844), um químico 28 inglês, considerado o pai da teoria atômica moderna, propôs que os átomos fossem partículas de matéria de vários tipos, tão pequenas que não poderiam ser vistas com qualquer microscópio e tão universais que comporiam todas as substâncias. Em 1805, Dalton formulou a hipótese de que cada elemento químico consiste em diferentes tipos de átomos, todos os átomos de um dado elemento químico são idênticos e os compostos químicos são formados por várias combinações de átomos de diferentes elementos em proporções definidas. No início do século XX, os físicos, químicos e mineralogistas, trabalhando a partir das idéias de Dalton, conseguiram entender a estrutura da matéria de uma forma muito próxima daquela aceita atualmente. Sabemos hoje que um átomo é a menor parte de um elemento que conserva as propriedades físicas e químicas deste. Também sabemos que os átomos são as menores unidades de matéria que se combinam nas reações químicas e que os próprios átomos são divisíveis em unidades ainda menores. 2.1.1. A estrutura de um átomo O conhecimento da estrutura dos átomos permite-nos predizer como os elementos químicos irão reagir uns com os outros, formando novas estruturas cristalinas. 29 Figura 12. Estrutura eletrônica do átomo de carbono (carbono-12). Os elétrons, cada um com carga -1, são representados como uma nuvem carregada negativamente, que circunda o núcleo; este contém seis prótons, cada qual com carga +1, e seis nêutrons, cada qual com carga +1, e seis nêutrons, cada qual com carga zero. No desenho, o tamanho do núcleo está representado numa escala muito exagerada em relação ao da nuvem eletrônica, sendo, na realidade, muito menor. Elétrons Circundando o núcleo há uma nuvem de partículas em movimento, os elétrons, cada qual com uma massa tão pequena que, por convenção, é considerada de valor zero. Cada elétron tem uma carga elétrica -1. O número de prótons de qualquer átomo é balanceado pelo mesmo número de elétrons da nuvem que circunda o núcleo; portanto, um átomo é eletricamente neutro. Assim, o núcleo de um átomo de carbono é circundado por seis elétrons (ver Figura 12). 2.1.2. Número atômico e massa atômica O número de prótons do núcleo de um átomo é chamado número atômico. Como todos os átomos de um mesmo elemento tem igual número de prótons, então, eles também têm o mesmo número atômico. Todos os átomos com seis prótons, por exemplo, são átomos de carbono (número atômico 6). De fato, o número atômico de um elemento pode nos dizer tantas coisas sobre o seu O núcleo: prótons e nêutrons No centro de cada átomo há um núcleo denso, no qual está contida virtualmente toda a massa do átomo, e que é composto de dois tipos de partículas: prótons e nêutrons (Figura 12). O próton tem uma carga elétrica positiva +1. O nêutron é eletricamente neutro - isto é, sem carga. Os átomos de um mesmo elemento químico podem ter diferentes números de nêutrons, mas o número de prótons não varia. Por exemplo, todos os átomos de carbono têm seis prótons. 30 comportamento, que a tabela periódica foi organizada de acordo com esse número (Figura 13). Por exemplo, os elementos de uma mesma coluna, tais como carbono e silício, tendem a reagir de forma similar. Figura 13. A tabela periódica organiza os elementos em ordem crescente de número atômico (nas linhas, da esquerda para a direita), Os elementos de particular importância geológica estão realçados. A massa atômica de um elemento é a soma das massas de seus prótons e nêutrons. (Os elétrons, por terem uma massa muito pequena, não são incluídos nessa soma.) Embora o número de prótons seja constante, os átomos de um mesmo elemento químico podem ter diferentes números de nêutrons e, portanto, diferentes massas atômicas. Esses vários tipos de átomos são chamados de isótopos. Todos os isótopos do elemento carbono, por exemplo, têm seis prótons, podendo ter 6, 7 e 8 nêutrons, cujas massas atômicas serão, portanto, 12, 13 e 14, respectivamente. Na natureza, os elementos químicos existem como misturas de isótopos e, assim, suas massas atômicas nunca são números inteiros. A massa atômica do carbono, por exemplo, é 12,011. É próxima a 12, porque o isótopo carbono-12é, de longe, muito mais abundante. A abundância relativa entre os diferentes isótopos de um elemento na Terra é determinada por processos específicos que causam o aumento da quantidade de alguns isótopos em relação aos outros. A 31 maior abundância do carbono 12, por exemplo, é favorecida por algumas reações, tais como a fotossíntese, nas quais os compostos de carbono orgânico são produzidos a partir de compostos de carbono inorgânico. 2.1.3. Reações químicas A estrutura de um átomo determina suas reações químicas com os demais. As reações químicas são interações entre átomos de dois ou mais elementos químicos em certas proporções fixas, produzindo novas substâncias químicas - os compostos químicos. Por exemplo, quando dois átomos de hidrogênio combinam-se com um de oxigênio, formam um novo composto químico que chamamos de água (H2O). As propriedades de um composto químico formado no decorrer de uma reação podem ser inteiramente diferentes daquelas dos seus elementos constituintes. Por exemplo, quando um átomo de sódio, um metal, combina-se com um átomo de cloro, um gás nocivo, forma-se o composto químico cloreto de sódio, mais conhecido como sal de cozinha. Representa-se esse composto pela fórmula química NaCl, na qual o símbolo Na refere-se ao elemento sódio e o Cl, ao cloro (a cada elemento químico foi atribuído um símbolo próprio, que se usa à maneira de uma notação taquigráfica, para escrever fórmulas e equações químicas). Os compostos químicos, tais como os minerais, são formados por transferências de elétrons entre os átomos reagentes ou por compartilhamento de elétrons entre eles. Na reação entre os átomos de sódio (Na) e de cloro (CI), para formar cloreto de sódio (NaCI), o átomo de sódio perde um elétron, que é transferido para o cloro (Figura 14), Como o átomo de cloro recebeu um elétron com carga negativa, ficou agora carregado negativamente (Cl- ), Da mesma forma, a perda de um elétron dá ao sódio uma carga positiva (Na+). O composto NaCI permanece eletricamente neutro, pois a carga positiva do Na+ é exatamente balanceada pela carga negativa do Cl-. Um íon carregado positivamente é denominado de cátion, e um íon carregado negativamente é chamado de ânion. 32 Figura 14. O sal de cozinha, NaCI, é formado pela reação entre átomos de cloro e de sódio Os átomos que não reagem por meio de perdas ou ganhos de elétrons combinam-se quimicamente por compartilhamento de elétrons. O carbono e o silício, dois dos mais abundantes elementos da crosta terrestre, tendem a formar compostos por meio de compartilhamento de elétrons. O diamante é um composto formado inteiramente por átomos de carbono que compartilham elétrons entre si (Figura 15). 2.1.4. Ligações químicas Os íons ou átomos de elementos que formam os compostos são mantidos juntos por forças de atração entre elétrons e prótons, que chamamos de ligações químicas. As atrações químicas entre elétrons compartilhados ou elétrons cedidos ou ganhos podem ser fortes ou fracas e as ligações criadas por essas atrações podem ser consequentemente fortes ou fracas. As ligações fortes impedem que a substância decomponha-se quimicamente nos seus elementos constituintes ou em outros compostos. Elas também tornam os minerais duros e impedem que eles se quebrem ou se dividam em partes. Existem dois principais tipos de ligações nos minerais que formam as rochas: as ligações iônicas e as covalentes. 33 Figura 15. O compartilhamento de elétrons no diamante. O mineral diamante é composto por um único elemento, o carbono. Cada átomo de carbono compartilha seus quatro elétrons com quatro átomos de carbono adjacentes. 2.1.5. Ligações iônicas A forma mais simples de ligação química é a ligação iônica. As ligações desse tipo formam-se pela atração elétrica entre íons de cargas opostas, como o Na+ e o Cl- no cloreto de sódio (ver Figura 14). Essa atração é exatamente do mesmo tipo da eletricidade estática que faz com que as roupas de náilon ou de seda fiquem grudadas ao nosso corpo. A força de uma ligação iônica diminui muito à medida que a distância entre os íons aumenta e é mais forte se as cargas elétricas destes forem maiores. As ligações iônicas são predominantes nas estruturas cristalinas: cerca de 90% de todos os minerais são compostos essencialmente iônicos. 2.1.6. Ligações covalentes Os elementos que não ganham nem perdem elétrons facilmente para formar íons e que, ao invés disso, formam compostos por compartilhamento eletrônico ligam-se uns aos outros por meio de ligações covalentes, que são, em geral, mais fortes que as ligações iônicas. Um exemplo de mineral com estrutura cristalina ligada por meio de covalência é o diamante, que se compõe unicamente do elemento carbono. Os átomos de carbono têm quatro elétrons na camada de valência e adquirem mais quatro por compartilhamento. No diamante, cada átomo 34 de carbono (nesse caso, não se trata de íon) é circundado por quatro outros átomos, dispostos segundo um tetraedro regular, ou seja, uma forma piramidal de quatro faces triangulares (ver Figura 15). Nessa configuração, cada átomo de carbono compartilha um elétron com cada um de seus átomos vizinhos, o que resulta em uma configuração muito estável. A Figura 5 mostra um retículo formado por tetraedros de carbono ligados entre si. Os átomos de elementos metálicos, que têm forte tendência de perder elétrons, são empacotados como se fossem cátions e os elétrons, que permanecem livres para mover-se, são compartilhados e ficam dispersos entre os íons. Esse compartilhamento de elétrons livres resulta em um tipo de ligação covalente chamada de ligação metálica, que ocorre em poucos minerais, entre eles, o cobre metálico e alguns sulfetos. As ligações químicas de alguns minerais têm caráter intermediário entre ligações puramente iônicas e puramente covalentes, pois alguns elétrons são trocados, enquanto outros são compartilhados. 2.2. A ESTRUTURA ATÓMICA DOS MINERAIS Os minerais podem ser estudados segundo dois pontos de vista complementares: como cristais (ou grãos) que podem ser vistos a olho nu, ou como agrupamentos de átomos submicroscópicos organizados segundo um arranjo tridimensional ordenado. De agora em diante, vamos estudar em detalhe as formas ordenadas que caracterizam a estrutura dos minerais e as condições em que são formados. 2.2.1. Como se formam os minerais? Os minerais formam-se pelo processo de cristalização, que é o crescimento de um sólido a partir de um gás ou líquido cujos átomos constituintes agrupam-se segundo proporções químicas e arranjos cristalinos adequados (lembre-se de que os átomos dos minerais são organizados segundo um arranjo tridimensional ordenado). Um exemplo de cristalização e estrutura cristalina são as ligações de átomos de carbono do diamante, que é um mineral constituído por ligações covalentes. Os átomos de carbono juntam-se em tetraedros, cada qual ligado a outros, constituindo uma estrutura tridimensional regular a partir de um grande número de átomos. À medida que o cristal de diamante cresce, estende sua estrutura tetraédrica em todas as direções, sempre adicionando novos 35 átomos e seguindo um arranjo geométrico próprio. Os diamantes podem ser sintetizados em altas temperaturas e pressões, que reproduzem as condições do manto terrestre. Os íons sódio e cloreto, que constituem o cloreto de sódio, minerais cujas ligações são iônicas, também cristalizam segundo um arranjo tridimensional ordenado. Na Figura 16a, podemos ver como é a geometria desse agrupamento, onde cada íon de um elemento é circundado
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