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Raphael Padula INFRA-ESTRUTURA I: TRANSPORTES Fundamentos e propostas para o Brasil Raphael Padula TRANSPORTES Fundamentos e propostas para o Brasil Fevereiro de 2008 Clóvis Nascimento C ésar B enjamin C onfea - Super intendência de C omunicação e Market ing Dia log C omunicação e Eventos Luana Lima C oronár io Editora Gráf ica Ltda C oordenação E dição Produção Executiva Ar te da capa E ditoração e diagramação Impressão © R aphael Padula , 2008 D i r e i t o s a d q u i r i d o s p e l o C o n s e l h o F e d e r a l d e E n g e n h a r i a , A r q u i t e t u r a e A g r o n o m i a - C o n f e a www.confea .org .br S ér ie Pensar o Bras i l e C onstruir o Futuro da Nação 1 a edição, fevereiro de 2008 Tiragem: 5000 exemplares P125i Padula , R aphael Transportes – fundamentos e propostas para o Bras i l . - Bras í l ia : C onfea , 2008. 215p. – (Pensar o Bras i l - C onstruir o Futuro da Nação) 1.Transporte – Infra-estrutura . I . Títu lo. I I . S ér ie Sumário Apresentação Introdução I. Fundamentos Infra-estrutura de transportes: importância, objetivos e ações • Os modais de transporte e a intermodalidade • Logística e produtividade II. Situação dos transportes no Brasil A matriz de transportes • Transporte de cargas • Transporte de passageiros • Logística • Analisando os modais • Transporte rodoviário • Transporte ferroviário • Transporte aquaviário • Transporte dutoviário • Transporte aéreo • Financiamento da infra-estrutura de transportes: Estado versus mercado III. Eixos viários e um plano de ação Um plano de ação nos transportes • O planejamento de transportes no atual governo: o PNLT e o PAC • Os eixos viários e um plano de obras • Os espaços viários continentais e territoriais • Principais eixos viários e plano da ação viário • Irrigação econômica • Indução ao desenvolvimento • Penetração nos espaços territoriais da cordilheira dos Andes e do litoral Pacífico • Ações complementares IV. Considerações gerais sobre a integração sul-americana e a IIRSA O quadro geral • A Iniciativa para a Integração da Infra-Estrutura Regio- nal Sul-Americana (IIRSA) V. Breves considerações finais Bibliografia 7 9 15 33 165 191 205 213 Apresentação Chegamos ao terceiro livro da nossa série sobre problemas brasi- leiros, produzidos pelo Projeto Pensar o Brasil e Construir o Futuro da Nação. Os dois primeiros tratavam de regiões: Amazônia, soberania e desenvolvimento sustentável, de Márcio Henrique Monteiro de Castro, e Semi-Árido, uma visão holística, de Roberto Malvezzi. Neste, destacamos a Matriz de Transportes, um segmento fundamental da infra-estrutura. A escolha dos temas, com alternância de território e setores, não é casual. Depois de mais de vinte anos em que predominaram ampla- mente os debates sobre questões monetárias e financeiras, é hora de voltarmos a prestar atenção às características permanentes da Nação. Muito mais do que as movimentações do capital volátil, a população, a economia física, a disponibilidade de recursos naturais, o Estado e a posição do país na geopolítica mundial são os elementos decisivos para se pensar a necessária retomada de um projeto nacional. Debruçados sobre esses temas, verificamos a cada passo quanto resta a fazer. Os descaminhos da história do Brasil estão registrados fisicamente na infra-estrutura de transportes. Durante séculos ela serviu, basica- mente, para ligar regiões exportadoras aos portos, de modo a apoiar o envio de matérias-primas, minérios e alimentos para o sistema in- ternacional. Este era o nosso lugar. No século XX, ela foi alterada pela implantação da indústria automobilística, que demandava estradas de rodagem, e pela construção de Brasília, que finalmente criou um pólo interior para onde passaram a convergir os caminhos. A herança desse tempo ainda predomina. Até hoje, a modalidade rodoviária, cara e poluente, responde por mais de 95% do transporte de passageiros e por mais de 60% do transporte de cargas. Permaneceram atrofiadas as potencialidades dos modos ferroviário e aquaviário, que, no entanto, poderiam ter papel central nos deslocamentos interiores de um país-continente dotado de gigantescas bacias hidrográficas. A inter- modalidade – um dos segredos de uma matriz eficiente – deixa, assim, de existir. Os prejuízos se contam em bilhões, todos os anos. Raphael Padula cita, neste trabalho, um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de 2002, que traz uma informação chocante: ao longo das cadeias produtivas, as empresas brasileiras mantêm em torno de US$ 118 bilhões parados em excesso de estoque, por causa das ineficiências do setor de transportes. A inércia de uma matriz de transportes é enorme. Alterá-la exige investimentos gigantescos e de longo prazo. Isso remete, inevitavelmen- te, ao papel do Estado, pois, agindo por si, o setor privado não tem nem escala nem visão de conjunto, no espaço e no tempo, para liderar tama- nha transformação. No último período da nossa história, porém, o Es- tado brasileiro perdeu capacidade de investimento e abriu mão de suas funções estratégicas. O último Plano Viário Nacional data de 1973. Muitos consideram que essa inação é virtuosa. Mas ela fere de morte toda a economia nacional. O setor de transportes, por exemplo, não produz produtos, produz a própria produtividade. Nenhuma em- presa, isoladamente, pode superar gargalos assim. Ao entregar esta série de textos sobre o Brasil aos profissionais do Sistema, a professores e estudantes, a jornalistas, a parlamentares e ou- tras autoridades, o Confea espera contribuir para a elevação da qualida- de dos debates, tendo em vista construir o futuro da Nação. Brasília, fevereiro de 2008 Marco Túlio de Melo Presidente do Confea Clovis F. Nascimento Filho Coordenador do Projeto Pensar o Brasil e Construir o Futuro da Nação 9 O Brasil é um país continental, com aproximadamente 8,5 milhões de km2, dotado de grande extensão de vias hídricas potencialmente nave- gáveis e 7.500 km de costa atlântica. Abriga regiões diversas, tanto em termos de condições geográficas quanto econômicas e sociais. Seu ter- ritório equivale a 47% da América do Sul. Seu produto interno bruto (PIB) ultrapassa a metade do produto da região. A infra-estrutura de transportes é fundamental para o desenvol- vimento de um país com essas dimensões. É um elemento-chave para constituir um mercado interno integrado e também para ligá-lo ao mer- cado externo. É vital para a eficiência de toda a economia: investimentos em transportes, ao diminuírem custos e distâncias, não criam produtos, criam a própria produtividade. Têm grandes efeitos multiplicadores em toda a cadeia produtiva, propiciando o desenvolvimento de setores eco- nômicos e de regiões. Por tudo isso, e por sua natureza pública, o setor precisa fazer parte das políticas de Estado. Não pode ser conduzido ao sabor de interesses privados. Introdução 1 0 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes Ao longo da nossa história, o oceano Atlântico desempenhou um papel integrador. A colonização portuguesa estabeleceu pontos de cone- xão no litoral, a partir dos quais o interior do continente foi explorado e ocupado. Não havia preocupação em integrar entre si os núcleos urba- nos e/ou econômicos do próprio país: as ligações Norte-Sul, por exem- plo, nunca foram estimuladas, pois a principal preocupação era facilitar a exportação de riquezas para a Europa. A comunicação entre regiões se fazia pelo mar ou, em menor escala, pelas bacias hidrográficas. A infra- estrutura viária e de comunicações foi articulada a partir dos portos, tendo em vista a exportação, e assim continua, predominantemente,até hoje. Até a década de 1930, a cabotagem foi o principal modal para o transporte de cargas a granel. As rodovias passaram a receber grandes investimentos a partir dessa década, o que possibilitou sua rápida ex- pansão e sua predominância, desde então, na matriz de transportes. Nas três preocupações centrais da chamada Era Vargas (1930-1990) – inte- gração, industrialização e urbanização –, o incremento do transporte rodoviário era considerado fundamental, fosse para integrar mercados com rotas mais modernas, fosse para desenvolver o interior do país. A cabotagem e os demais modais perderam participação na movimenta- ção de cargas. Entre 1928 e 1955, a malha rodoviária cresceu cerca de 400%, enquanto a malha ferroviária, por exemplo, cresceu apenas 20%. A construção de Brasília procurou mudar esse eixo de transportes voltado para fora. Instalou-se um pólo irradiador de vias de conexão por dentro do continente, criando-se uma alternativa ao transporte pela via marítima, que se mostrou frágil durante a Segunda Guerra Mundial, quando navios brasileiros foram torpedeados na costa nordestina. Pretendia-se mais do que isso. Com o ciclo da industrialização, no segundo governo Vargas, era necessário expandir o dinamismo do eixo Sul-Sudeste, de modo a envolver as regiões Centro-Oeste, Norte e Nor- deste. Brasília encontra-se no centro geográfico do país, que também é o 1 1 Raph a el Pa du l a centro das nossas três principais bacias hidrográficas: Paraná-Prata, São Francisco e Amazonas (Tocantins-Araguaia). A necessidade de compa- tibilizar a rápida industrialização (na qual o nascente complexo metal- mecânico desempenhava um papel central) e a integração do interior do país gerou o estímulo às rodovias e a concentração espacial e funcional da renda, principalmente em benefício das regiões Sudeste e Sul. A implantação da indústria automobilística na década de 1950 determinou a consolidação e a prevalência do transporte rodoviário. Esse modal – caracterizado pela agilidade, flexibilidade e capacidade de pronta resposta – passou a predominar na nossa matriz de transportes, possibilitando o deslocamento de cargas para regiões mais distantes. Hoje, a modalidade rodoviária responde por mais de 95% da ma- triz de transporte de passageiros e mais de 60% da matriz de transporte de cargas. É mais cara, em relação aos modais ferroviário e aquaviário, o que torna necessário reestruturar toda a matriz, tendo em vista o futuro. No entanto, tal não se faz: há quase duas décadas prevalece a falta de planejamento e de investimentos, com ampla predominância de uma visão de curto prazo que privilegia necessidades de mercado, desvincu- lada de qualquer visão estratégica. Os problemas do setor se aprofunda- ram, dificultando qualquer mudança estrutural. O último Plano Viário Nacional foi elaborado em 1973. Precisa ser totalmente revisto, de preferência com um processo participativo que envolva a sociedade brasileira. Independentemente disso, é necessário apresentar desde logo um conjunto de projetos estruturais que são im- prescindíveis para o desenvolvimento equilibrado do país e para o for- talecimento do mercado interno. O sistema de transportes na América do Sul também se caracteriza por articular as regiões de forma frágil e precária. A interligação entre os centros produtores e consumidores é ruim. A infra-estrutura está voltada para fora, privilegiando a exportação de commodities primárias. Assim como no Brasil, as poucas e precárias conexões existentes se dão 1 2 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes predominantemente pelo modal rodoviário, o que faz dos transportes um obstáculo significativo – maior que as tarifas aduaneiras – à integra- ção dos mercados da região. Este estudo pretende organizar uma visão geral do setor de trans- portes no Brasil, identificando os principais problemas e as principais causas desses problemas. Faremos comparações com países com carac- terísticas geográficas similares às do Brasil, ou seja, países continentais, principalmente os Estados Unidos, que podem ser considerados um padrão nesse setor. Também destacaremos a principal causa da situa- ção atual: a postura do Estado, seus baixos investimentos e a falta de planejamento, que perduram por quase duas décadas. Nosso enfoque priorizará o transporte de cargas e suas principais modalidades, os transportes rodoviário, ferroviário e aquaviário. Adi- cionalmente, abordaremos de forma breve os demais modais e o trans- porte de passageiros. Sugeriremos políticas e um plano de ação para melhorar a eficiência o setor. Buscaremos uma visão ampla, abordando aspectos econômicos e sociais, privilegiando o crescimento do país com distribuição de renda no contexto de um planejamento integrado e de longo prazo. A criação, desenvolvimento e fortalecimento de um grande e integrado mercado interno, reunindo todos os brasileiros e garantindo condições dignas de vida em um Brasil indivisível, será a maior herança para os nossos filhos. Poucos países dispõem da extensão e da potencialidade territorial, econômica e populacional brasileira. Poucos possuem uma coesão cul- tural, social, histórica e de solidariedade humana como nós. Somos um país raro, um dos últimos países que podem obter uma inserção sobe- rana no atual cenário internacional e ajudar outros a também obtê-la, especialmente por meio da integração sul-americana. Um novo ciclo de desenvolvimento deve enfrentar o desafio de integrar plenamente todas as regiões, reestruturando a matriz de trans- portes, de modo a estabelecer vias de comunicação adequadas à integra- 1 3 Raph a el Pa du l a ção desse arquipélago de espaços geográficos chamado Brasil. E deve ir mais além, propondo a integração física de todos os espaços da América do Sul. 15 Infra-estrutura de transportes: importância, objetivos e ações No mundo moderno, países continentais só conseguem sobreviver se são capazes de assumir a própria identidade. Para isso, é essencial que possuam redes próprias de transportes, de energia e de comunicações, submetidas ao interesse da sociedade. Nosso ponto de partida, pois, é a necessidade de realizar uma integração nacional por meio de uma rede que dê a cada cidadão a certeza da mobilidade, da transformação pro- dutiva e da capacidade criativa, preservando a identidade nacional. Investimentos em infra estrutura física são elementos fundamen- tais de uma política de Estado. Transportes, energia e comunicações fornecem externalidades para toda a economia, viabilizando os demais setores e, conseqüentemente, o desenvolvimento econômico e social do país. Investimentos em infra-estrutura não geram produtos, geram a própria produtividade. A oferta de infra-estrutura deve andar na frente da demanda, para que não existam impedimentos e gargalos ao desen- volvimento de setores e regiões. I Fundamentos 1 6 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes A infra-estrutura de transportes possibilita: (a) abrir novos merca- dos para os produtores e obter maior escala de produção, resultando em menores custos por causa de economias de escala e ganhos de produti- vidade; (b) levar o desenvolvimento econômico a novas regiões; (c) di- minuir custos e favorecer a competitividade dos produtos; (d) aumentar a eficiência da economia como um todo; (e) promover oportunidades para a ampliação e o florescimento de empreendimentos. Em síntese, os transportes reduzem os custos de produção e circu- lação, dinamizando a economia; ampliam as possibilidades de abasteci- mento interno, aumentando o consumo de produtos e serviços. No caso brasileiro, os investimentos e a reestruturação da matriz de transportes possibilitarão reduzir o chamado custo Brasil. Também possibilitarão o aumento da renda disponível para os trabalhadores, funcionando como política social,graças à diminuição dos custos de transporte na forma- ção dos preços da cesta básica. A importância das obras de infra-estrutura, e especificamente de transportes, nos remete a dois grandes ícones do desenvolvimento de nosso tempo, a Inglaterra e os Estados Unidos. Ambos os países fizeram amplo uso de vias de comunicação e transportes para interligar suas economias. Sabiam da importância de um sistema de infra-estrutura adequado. Alexander Hamilton, primeiro secretário do Tesouro dos Estados Unidos, foi um homem fundamental na construção da nação, um dos “pais fundadores”. Em seu Relatório sobre as manufaturas de 1791, sub- metido ao Congresso, Hamilton afirma que melhorar o setor de trans- portes diz respeito “a todos os interesses de um país” e, principalmente, àqueles ligados ao desenvolvimento industrial: Dificilmente encontrar-se-á algo mais bem concebido para ajudar as manufaturas da Grã-Bretanha do que o melhora- 1 7 Raph a el Pa du l a mento das estradas públicas desse reino e o grande progresso obtido ultimamente na abertura de canais. Quanto ao primei- ro, os Estados Unidos ainda deixam muito a desejar; para o segundo, apresentam facilidades incomuns.1 (...) Dificilmente haverá empreendimento que mereça mais atenção dos gover- nos locais, e seria desejável que não houvesse qualquer dúvida sobre a faculdade de o governo nacional prestar ajuda direta, no contexto de um plano geral. Este é um dos melhoramentos que poderiam ser realizados mais eficazmente pelo conjunto do que por uma ou várias partes da União. Existem casos nos quais haverá o perigo de se sacrificar o interesse geral em be- nefício de presumidos interesses locais (...).2 Para Hamilton, uma oferta adequada de infra-estrutura de trans- portes, ao diminuir o custo, permite que partes remotas de um país es- tejam mais próximas das cidades, fomentando a produção, e, por isso, constituindo “o maior de todos os melhoramentos”. Nas suas palavras: Os transportes fomentam o cultivo de áreas remotas, que, em geral, são as mais extensas do país. Beneficiam a cidade, por romper o monopólio das zonas rurais situadas nas suas vizi- nhanças. São vantajosos, inclusive, para estas partes do país, pois, embora introduzam alguns produtos rivais nos velhos mercados, abrem aos seus produtos muitos novos mercados.3 1 Hamilton, 1791, p.109. 2 Op.Cit. pp.109-110. 3 Op.Cit. p.110. 1 8 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes Friedrich List, economista alemão que lançou a idéia da União Aduaneira Nacional dos Estados Alemães (Zollverein), ao chegar aos Estados Unidos se encantou ao ver aquela grande nação se edificando em torno de um sistema de transportes, com ferrovias sendo construí- das em conexão com portos, ligando o país de costa a costa. No Prefácio de seu Sistema nacional de economia política, de 1841, ele reconhece a importância de um sistema integrado de transportes, valoriza sua ex- periência nos Estados Unidos e prevê que esse país seria uma grande nação: Eu já sabia da importância dos meios de transporte sob o ân- gulo da teoria do valor; observara apenas o efeito dos negócios de transporte em casos particulares e só com respeito à ex- pansão do mercado e à redução dos preços de bens materiais. Só agora comecei de fato a considerar isso do ponto de vista da teoria das forças produtivas e do seu efeito total como um sistema nacional de transportes – conseqüentemente, com sua influência sobre a totalidade da vida mental e política, das relações sociais, da produtividade e do poder das nações. Só agora reconheço a relação recíproca que existe entre o poder industrial e o sistema nacional de transportes: um não pode se desenvolver ao máximo sem o outro. A partir dessa experiência, List começou a imaginar uma Alema- nha unificada e ligada por um sistema ferroviário – projeto no qual tra- balhou –, assim como uma Europa totalmente ligada e vinculada à Ásia. Costa (2003, p. 138) afirma: 1 9 Raph a el Pa du l a O melhor exemplo do tipo de grandes obras que devem inspi- rar os povos de toda a América do Sul é a rede de canais e fer- rovias transcontinentais construídas nos Estados Unidos no século XIX. Obras assim cumprem o objetivo de criar as bases econômicas e físicas do crescimento sustentado, mediante a integração. Esse raciocínio deve ser aplicado a um país continental, como o Brasil. Ao discutirmos um sistema de transporte, é importante atentarmos para o que o filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) chamou “economia física” e seus desdobramentos sobre os poderes pro- dutivos de uma nação. Nessa concepção, um adequado sistema de trans- portes é fundamental para que uma economia opere de forma eficiente, liberando recursos (capital e energia, por exemplo) para serem utiliza- dos em outros setores e objetivos, favorecendo os poderes produtivos da nação. Um sistema de transportes mais eficiente mimetiza o progresso tecnológico, pois “de forma não-linear e geralmente incomensurável – mas muito real –, a infra-estrutura adiciona eficiência e produtividade ao setores que produzem bens” (Darc Costa, 2003, p. 136). Os transportes constituem um fator importantíssimo para o su- cesso de programas sociais e econômicos. Um programa ou plano para o setor deve priorizar a integração territorial, pois é a partir do con- tínuo espacial que se constrói a identidade nacional. Adicionalmente, deve induzir ao desenvolvimento, não somente da economia vista como um todo, mas de áreas geográficas específicas (regiões, municípios, ci- dades), já que a infra-estrutura é o elemento articulador do processo de geração de riqueza. Finalmente, tem que irrigar os espaços congestiona- dos, oferecendo saídas e canais que possibilitem o livre fluxo de merca- dorias, permitindo a circulação de bens e serviços e, conseqüentemente, 2 0 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes atendendo as exigências de consumo dos cidadãos. Sendo capaz de au- mentar a produtividade da economia nacional, a política de transpor- tes, em um país com as dimensões do Brasil, tem que buscar três ações obrigatórias: induzir o desenvolvimento, integrar os mercados e irrigar economicamente os espaços. A atividade de indução ao desenvolvimento pressupõe que se estabeleça uma estrutura viária de acesso a um espaço geográfico, co- locando-o como instrumento de geração de riqueza e ocupação desse território. É usual que esse tipo de ação seja demandado por áreas mais isoladas e/ou menos desenvolvidas. No Brasil, três regiões são prioritá- rias para ações de indução ao desenvolvimento no setor de transportes: Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Todas podem ser consideradas regiões de fronteira. A atividade de irrigação econômica pressupõe construir novas passagens viárias em áreas de fluxo saturado ou superar os engarrafa- mentos de canais sobreocupados, facilitando e/ou descongestionando o acesso à área geográfica. Esse tipo de ação tende a ser demandado por áreas mais desenvolvidas (como pólos econômicos e metrópoles), que, por seus efeitos polarizadores – atraindo recursos e atividades, por exemplo –, incorrem em deseconomias de concentração. A irrigação econômica é uma questão central para a matriz de transportes do Brasil. As ações prioritárias, neste caso, localizam-se na região Sudeste, respon- sável por mais de 50% da produção de transportes no Brasil. A atividade de integração de mercados pressupõe a ligação viária entre mercados (produtores e/ou consumidores) já existentes, de forma a permitir o fluxo de pessoas, bens e mercadorias, dando valor comer- cial aos excedentes de produção existentes em cada mercado. Esta ação costuma ser demandada por áreas mais desenvolvidas. Vem sendo utili- zada a concepção de corredores de integração, que pretendem interligar macromercados delimitados por regiões definidas.Integrar as regiões, por meio de corredores de integração, significa construir um complexo 2 1 Raph a el Pa du l a de facilidades que começa em um eixo de transportes, mas acrescenta outros insumos à atividade econômica: estradas alimentadoras, termi- nais e pátios intermodais, armazenagem nas propriedades, terminais portuários especializados etc. Em uma região (ou país) agrícola onde cada família produz prin- cipalmente para subsistência, somente uma parte destina-se à troca e quase não existem transportes de bens e passageiros, não há interesses econômicos privados que justifiquem investimentos em infra-estrutura, mas sim interesses sociais e econômicos voltados para induzir o desen- volvimento. O setor de transportes demanda fortemente a indústria (constru- ção civil, metal-mecânica, eletroeletrônica etc.), tanto durante a implan- tação, quanto na operação e gerenciamento. Os projetos são intensivos em capital, geram grande quantidade de empregos com baixa qualifi- cação e têm longo período de maturação. O planejamento de qualquer empreendimento deve ser exaustivo, inclusive no que diz respeito ao impacto sobre o meio ambiente, para que as várias condicionantes que cercam o projeto não criem graves distorções. Infra-estrutura de transportes deve ser pensada dentro do concei- to de capital social básico, isto é, aquele grupo de atividades de apoio sem as quais os setores de produção primário, secundário e terciário não conseguem funcionar. Os resultados macroeconômicos e setoriais (microeconômicos), decorrentes de sua deficiência, são fartamente co- nhecidos. Por ter implicações na cadeia produtiva e atuar de forma a ligar os setores e atividades econômicas, interligando a micro e a macroecono- mia, com efeitos multiplicadores por todo o sistema econômico e em sua eficiência e competitividade (no todo e nas partes), podemos defi- nir a infra-estrutura de transportes como um setor que atua com efeitos polinômicos sobre a economia. Por isso, merece atenção especial da boa administração pública. O transporte de cargas é essencial para a compe- 2 2 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes titividade do país. Toda a sociedade deve colaborar para aperfeiçoá-lo, sob a atuação planejada e orquestrada do Estado. A matriz de transportes, a integração dos modais, a oferta e a efi- ciência do sistema logístico são fundamentais para o desenvolvimento. Delas dependem as cadeias produtivas modernas, que são determinan- tes para a competitividade e eficiência de um país, região, setor ou em- presa. Os transportes de uma nação devem ser considerados como um ativo precioso, merecedor de cuidados de manutenção, conservação e reparação, assim como de permanente monitoramento, avaliação e pla- nejamento. Conforme List (1841) ressalta, o sistema de transportes e a infra-estrutura em geral compõem as forças produtivas de uma nação e são fundamentais para sua riqueza e poder, real ou potencial, atual ou futuro. Em todo o mundo, inclusive no Brasil, a atividade de transportes é um serviço de utilidade pública, concedido pelo Estado. A atuação da empresa privada deve ser coordenada pelo setor público. O crescimen- to sustentado da economia depende da oferta e da qualidade da infra- estrutura. No caso dos transportes, é necessário que o sistema apresente disponibilidade, confiabilidade, segurança e baixos custos para os usu- ários. As operações em infra-estrutura de transportes possuem três fases bem caracterizadas: (a) Construção ou ampliação, que pressupõe necessariamente o atendimento de objetivos econômicos ou estratégicos. (b) Manutenção ou conservação, destinada a manter a adequada conservação das vias, em condições técnicas e operacionais favoráveis. Essa operação se aplica a trechos desgastados e deteriorados, mas em boas condições. Tem caráter permanente e visa a assegurar a vida útil das vias, conforme o projeto original. (c) Restauração, que visa a preparar as vias para um novo período de vida útil, restabelecendo as condições originais em trechos que neces- 2 3 Raph a el Pa du l a sitam adição ou substituição, total ou parcial, de sua estrutura. Aplica-se em trechos em condições regulares, ruins ou péssimas. Nas rodovias destaca-se também a operação de reconstrução, que vai além da restauração, pois se aplica a trechos totalmente destruídos, em péssimas condições, que exigem trabalhos que englobam base, leito e subleito. Em todas essas operações, os benefícios, claramente explicitados e mensurados, devem ser superiores aos custos envolvidos. Evidentemen- te, qualquer interrupção nas atividades de conservação reduz a vida útil da via, antecipando a necessidade de restauração (ou reconstrução). Por sua vez, se a atividade de restauração deixa de ser executada na época oportuna, será necessário recuperar ou reconstruir completamente a infra-estrutura, gerando maiores custos do que os necessários à preven- ção. Esta, infelizmente, é a realidade da matriz de transportes brasileira, que será tratada com detalhes no próximo capítulo. Por causa do abandono do planejamento e dos baixos níveis de investimento no setor há duas décadas, 75% das rodovias encontram- se em condições comprometidas, classificadas pela Confederação Na- cional dos Transportes (CNT) como péssimas, ruins ou regulares. As estradas em boas condições estão concentradas nas regiões Sul e, princi- palmente, Sudeste e/ou fazem escoamento de commodities para portos, o que tende a gerar efeitos polarizadores e acentuar a nossa condição primário-exportadora. O custo de manutenção de um quilômetro de estrada é R$ 180 mil, o de restauração é de R$ 420 mil e o de reconstrução é de R$ 750 mil, em média. Como se vê, restaurar é aproximadamente 2,4 vezes mais caro que conservar; reconstruir é mais de quatro vezes mais caro que con- servar e quase duas vezes mais caro que restaurar. Fazer uma coisa ou outra pode gerar diferenças de bilhões no orçamento da infra-estrutura de transportes. 2 4 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes Investimentos para recuperar rodovias R$ / km Reconstrução 750.000 Restauração 420.000 Manutenção 180.000 A definição dos objetivos estratégicos para construir ou ampliar uma via requer o apoio da sociedade, para que os custos programados sejam entendidos e aceitos pela população. Os setores privado e público usam critérios diferentes para decidir sobre a localização dos investi- mentos: o empresário privado dá maior peso à rentabilidade, enquanto a esfera pública deve levar em conta a utilidade social; além da análise de custos e benefícios econômicos, deve avaliar os custos e os benefí- cios dos investimentos para a sociedade e a Nação como um todo.4 A questão do financiamento é fundamental. Conforme aponta Darc Costa (2003, p.136): No ambiente econômico, prevalece a contabilidade de custos, decorrente das teses econômicas liberais. É comum encobrir- se de mistério o verdadeiro papel da infra-estrutura. Do ponto de vista da contabilização de custos, o investimento em infra- estrutura não se paga sozinho, nem poderá pagar-se com as quotas dos usuários. Seria desejável que os usuários arcassem com os custos de investi- mento, manutenção e operação, cobrando-se que os poderes conceden- 4 Ignácio Rangel, Elementos de economia do projetamento. São Paulo: Bienal, 1987. 2 5 Raph a el Pa du l a tes e os operadores prestassem os serviços com eficiência, mas essa situ- ação não é usual. Na maioria das vezes, o Estado realiza a intermediação por meio de uma política de subsídio explícito (direto) ou implícito (cruzado). O sucesso de uma política de transportes reside em como se faz essa intermediação. Os princípios básicos de intermediação do Esta- do devem garantir: (a) aproveitamento da capacidade ociosa existente; (b) política tarifária que façaa tarifa refletir o custo do serviço utiliza- do; (c) suprimento de recursos suficientes para garantir o crescimento do setor de um modo compatível com o desenvolvimento econômico e social do país. O gráfico a seguir dá uma idéia do valor estratégico da produção de transportes para o Brasil. Historicamente, o crescimento dos trans- portes cargas é maior do que o crescimento dos principais agregados reais da economia – o PIB, o PIB agrícola e o PIB industrial –, pois ne- cessidade da produção de meios de transporte tem superado as taxas de crescimento da produção em geral. Crescimento da produção de cargas e dos principais agregados reais (ano base 1970 = 100) Produto Real Industrial Cargas Produto Real Agropecuário Produto Real Total 1974 1978 1982 1985 1988 1991 400 300 200 100 Fonte: Anuários Estatísticos do Geipot. 2 6 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes Esse comportamento está relacionado, principalmente, com o crescimento da distância média dos transportes, que evoluiu de 267 km em 1970 para 612 km em 2004. A distribuição geográfica das necessida- des de transportes está mais concentrada na região Sudeste, responsável por mais de 50% do total brasileiro. Nos últimos quinze anos, nosso país optou por não realizar pla- nejamento de longo prazo nem referenciar-se em um projeto nacional. É um erro. É necessário que voltemos a ter um planejamento amplo, com interconexões entre as políticas macroeconômica, setorial, regio- nal etc. A infra-estrutura é um instrumento fundamental para o desen- volvimento de setores e regiões. Além disso, o Estado neoliberal e suas agências não conseguiram exercer com eficiência nem mesmo a função mínima de controle do setor, o que contribui para acentuar a desastrosa situação em que está a infra-estrutura de transportes no Brasil. Os modais de transporte e a intermodalidade Os modais de transporte são: rodoviário, ferroviário, dutoviário, aqua- viário e aéreo, com características diferenciadas. Por isso, é fundamen- tal planejar um sistema de transporte integrado. A complementaridade entre os diferentes modais e a intermodalidade devem ser aproveitadas em toda a sua potencialidade, o que exige apoio logístico adequado e eficiente. O núcleo de maior dinamismo do setor de transportes rodoviá- rios encontra-se nas empresas que realizam esse serviço. Essa predo- minância deve-se à maior flexibilidade operacional, espacial e de nível de serviço que esse modal possui, bem como à maior agressividade de seus operadores, que respondem rapidamente às demandas. O modal rodoviário é dominante tanto nos transportes de cargas quanto nos transportes urbanos de passageiros, mas cabe destacar a importância crescente, em algumas grandes cidades e regiões metropolitanas, do transporte sobre trilhos. 2 7 Raph a el Pa du l a O modal ferroviário caracteriza-se, especialmente, pela capacida- de de transportar grandes volumes com elevada eficiência energética, principalmente em casos de deslocamentos em médias e grandes dis- tâncias. Apresenta, ainda, maior segurança em relação ao modal rodo- viário, com menor índice de acidentes e menor incidência de furtos e roubos. Possui elevado custo fixo de implantação e manutenção, mas baixo custo variável de uso. O transporte de cargas predomina nessas operações. São cargas típicas do modal ferroviário: produtos siderúrgi- cos, grãos, minério de ferro (mais de 60% do volume total transportado pelas ferrovias no Brasil), cimento e cal, adubos e fertilizantes, derivados de petróleo, calcário, carvão mineral e clínquer, além de contêineres. O transporte aquaviário usa rios, lagos e oceanos. O subsetor hi- droviário (ou de transporte fluvial) usa rios navegáveis; o subsetor marí- timo divide-se em transporte de cabotagem, realizado na costa brasilei- ra ou entre países vizinhos, e navegação de longo curso, referente a rotas internacionais e a serviços de alimentação de linhas (serviço de feeder, que é o transbordo de carga internacional para posterior distribuição ao longo da costa, realizado em pequena escala no Brasil). O transporte aéreo se dedica a passageiros e a carga de alto valor agregado e pequeno volume. O transporte dutoviário movimenta combustíveis e minérios, atra- vés de minerodutos (sal-gema, minério de ferro e concentrado fosfá- tico), oleodutos (transportando petróleo, óleo combustível, gasolina, diesel, álcool, GLP, querosene, nafta e outros produtos) e gasodutos (gás natural). 2 8 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes O transporte multimodal de cargas é aquele que duas ou mais modalidades de transporte, desde a origem até o destino5. Custos comparativos dos modais de transporte Modal US$ centavos/ ton. km Aéreo 14.0 Rodoviário 4.0 - 5.0 Ferroviário 0.3 - 1.0 Dutoviário 0.1 - 0.3 Balsa e rebocador 0.12 - 0.18 Cargueiro 0.06 - 0.24 Navio graneleiro 0.02 - 0.04 Fonte: Consultoria DLC. Custos comparativos dos modais de transporte Modal Custo = R$/1000 TKU Aéreo 1.762 Rodoviário 213 Aquaviário 70 Dutoviário 54 Ferroviário 36 Fonte: Lima, 2006. TKU = tonelada por quilômetro útil. 5 Segundo a ANTT, o Operador de Transporte Multimodal assume a responsabili- dade pela execução dos contratos de transporte multimodal, “O OTM é a pessoa jurídica con- tratada como principal para a realização do Transporte Multimodal de Cargas, da origem até o destino, por meios próprios ou por intermédio de terceiros. O OTM poderá ser transportador ou não. O exercício da atividade do OTM depende de prévia habilitação e registro na ANTT. Caso o OTM deseje atuar em âmbito internacional, deverá também se licenciar na Secretaria da Receita Federal.” (www.antt.gov.br) 2 9 Raph a el Pa du l a Os modais de transportes têm custos diferentes, como mostra a tabela acima, que usa dados internacionais. Conforme podemos obser- var, o rodoviário é de longe o de maior custo, se comparado com o fer- roviário e o aquaviário. A situação do Brasil, altamente concentrado no modal rodoviário (mais de 60%) e com pouca participação dos modais ferroviário e aquaviário, revela a necessidade de reestruturar a matriz de transportes, que compromete a competitividade da nossa economia. O Brasil precisa de uma infra-estrutura de transportes menos onerosa. É preciso privilegiar aspectos de intermodalidade, para que o transporte de cargas obtenha menores custos, utilizando diferentes modais, con- forme o caso. Os modos ferroviário e aquaviário de carga devem receber ênfase crescente na matriz brasileira. Se quisermos obter o máximo de produtividade e rentabilidade em nosso desenvolvimento interno e nosso comércio exterior, precisamos (a) aproveitar a multiplicidade de nossas vias naturais, representadas pelo extenso litoral e as bacias interiores, integrando-as por modais de maior capacidade, como navegação de cabotagem e fluvial, além de fer- rovias; e (b) buscar a integração dos espaços de tráfego condominiais de que participamos e dos outros que atendam aos interesses estratégicos do Brasil e de nações vizinhas. O planejamento da matriz de transportes é o principal instrumen- to para superarmos nossas deficiências. Sem esse planejamento, que deve definir programas e projetos de curto, médio e longo prazos, os imediatismos do mercado continuarão a reproduzir, ano a ano, os erros do passado, agravando o quadro já existente. São notórias as características desejáveis de uma matriz de trans- portes eficiente. Em primeiro lugar, ela deve concentrar-se em modais de menor custo. É preciso que exista uma oferta adequada de portos eficientes, interligados a outros modais por boas vias de acesso, com alta capacidade de armazenagem e baixo tempo de espera para atraca- ção das embarcações; que asferrovias sejam eficientes, com materiais de 3 0 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes rodagem e equipamentos modernos e freqüentemente renovados, inter- ligadas a outros modais com ampla estrutura logística, com tamanho de bitolas padronizado, possibilitando a interligação em todo o território nacional, com acesso aos portos e implantação de contorno de cidades; que as hidrovias tenham todo o seu potencial aproveitado e desenvol- vido para navegação interior, com embarcações adequadas; que a cabo- tagem seja amplamente utilizada, com bons navios; que os aeroportos sejam dotados de capacidade adequada à demanda de passageiros e de cargas, integrados aos demais modais de transporte; que as rodovias es- tejam em boas condições; que haja integração intermodal apoiada por um sistema de logística eficiente, com alta produtividade, baixos custos e oferta adequada, contando ainda com o desenvolvimento de operado- res logísticos. É importante uma regulação eficiente, na qual o poder concedente opere com uma visão estratégica e econômica de longo prazo e as agên- cias reguladoras atuem de acordo com o interesse público. Infelizmente, como poderemos observar ao longo deste livro, o quadro de infra-estrutura de transporte no Brasil está muito longe dessa descrição. Logística e produtividade Logística é o conjunto integrado das operações de planejamento, trans- porte, armazenagem, controle de estoques, distribuição e tecnologia da informação, que unem os centros produtores aos centros distribuidores. A logística se enquadra no âmbito da superestrutura, mas age de forma complementar à infra-estrutura. Até o fim da Segunda Guerra Mundial, a logística sempre esteve associada às atividades militares, principalmente a estratégia de deslo- 3 1 Raph a el Pa du l a camento de recursos.6 Por isso, no dicionário Aurélio, uma das defini- ções de logística é “a parte da arte da guerra que trata do planejamento e da realização de: projeto e desenvolvimento, obtenção, armazenamento, transporte, distribuição, reparação, manutenção e evacuação de mate- rial para fins operativos ou administrativos”. Contudo, no período do após-guerra, com os avanços tecnológicos e as novas necessidades das economias, a idéia de logística foi ampliada e passou a ser adotada in- clusive por empresas. A infra-estrutura logística exige ação conjunta de todas as esferas executivas – União, Estados e Municípios –, de empresas privadas, coo- perativas, associações de produtores e outras entidades da sociedade ci- vil, visando a superar problemas existentes no interior de microrregiões, cidades, distritos etc. Representam ações de logística a construção, ma- nutenção e gestão de estradas alimentadoras, pátios e terminais, além de armazenagem dentro das propriedades. No Brasil, os principais produ- tos que utilizam o sistema logístico são: minerais, metal-metalúrgicos, químicos, petroquímicos, automotivos, alimentícios, farmacêuticos e eletro-eletrônicos. Um sistema logístico adequado tem baixos custos, disponibilidade de unidades de armazenamento (portos secos, pátios, terminais etc.), facilidade de operação e tecnologia apropriada. A produtividade desse sistema é fundamental para a competitividade e a produtividade de toda a economia. 6 Desde a antiguidade, na era Antes de Cristo, líderes militares utilizavam a logística em guerras - que eram geralmente longas e geralmente distantes, demandavam grandes deslo- camentos de recursos e, consequentemente, umas organização e execução logística. 33 A matriz de transportes Transporte de cargas Atualmente, o setor de transportes equivale a 6,4% do PIB. Segundo a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), operam nele cerca de 40 mil empresas transportadoras, empregando 2,5 milhões de trabalha- dores, e existem mais de 300 mil transportadores autônomos. As duas últimas décadas foram marcadas pelo abandono de um projeto nacional, e, conseqüentemente, pela falta de investimentos e de planejamento. Nesse período, houve aumento de custos e acentuada de- terioração da infra-estrutura. As principais características da matriz brasileira de transportes de cargas são: alta concentração no modal rodoviário, que responde por mais de 60% dos transportes; baixa integração entre os modais; altos custos logísticos; má qualidade do sistema rodoviário; dificuldades de acesso aos portos; baixa utilização das vias navegáveis e do transporte de cabotagem. Esse quadro resulta em elevados custos logísticos, esti- II Situação dos transportes no Brasil 3 4 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes mados entre 16% e 20% do PIB, quando comparados a 9,8% nos Estados Unidos e a 12% na Europa. O Brasil possui um sistema de logística de transportes pouco de- senvolvido, que gera perdas de competitividade ao longo de toda a ca- deia produtiva por causa dos custos incorridos, que funcionam como uma espécie de “imposto” adicional sobre o preço dos bens. O sistema é caracterizado por falta de infra-estrutura de apoio e por investimentos precários em corredores de transporte. Em 2002, havia no Brasil 250 terminais de transporte, contra 3 mil nos Estados Unidos. Estimativas (CNT/CEL-Coppead 2002) apontam que as empresas brasileiras man- têm em torno de 118 bilhões de dólares parados em excesso de estoque, ao longo das cadeias produtivas, por causa das ineficiências do setor de transportes. Se o setor operasse de forma mais eficiente, segura e con- fiável, bilhões de reais estariam disponíveis para serem investidos em outras atividades, gerando emprego e renda. O desequilíbrio aparece na concentração no modal rodoviário, mais custoso em relação aos modais ferroviário e aquaviário, com parti- cipação de mais de 60% na produção de transportes de cargas, em tone- ladas por quilômetro útil (TKU). Os modais ferroviário e o aquaviário têm participação em cerca de 21% e 14%, respectivamente. Matriz de transportes de cargas - 2006 Modal Participação (%) Milhões TKU Rodoviário 61,1 485.625 Ferroviário 20,7 164.809 Aquaviário 13,6 108.00 Dutoviário 4,2 33.300 Aéreo 0,4 3.169 Total 100 794.903 Fonte: Boletim estatístico CNT, jan/2007. 3 5 Raph a el Pa du l a Matriz de Transportes de Cargas Participação dos Modais (%) Aéreo Dutoviário Aquaviário Rodoviário Ferroviário 20,7% 61,1% 13,6% 4,2%0,4% Matrix de Transportes de Cargas Participação dos modais (%) Fonte: Boletim estatístico CNT, jan/2007. As participações em termos de movimentação de cargas, em to- neladas, seguem a concentração no modal rodoviário, responsável por mais de 50% das cargas movimentadas, como mostra a tabela a seguir. Volume transportado (em toneladas) Modal Total % Rodoviário 934.408.939 52 Ferroviário 431.804.306 24 Aquaviário 429.305.802 23,9 Aeroviário 1.229.679 0,07 Fonte: Boletim estatístico CNT, jan/2007. A estrutura da matriz de transportes brasileira incide diretamente, de forma desfavorável, na competitividade dos produtos nacionais. A composição da matriz de transportes de cargas é relativamente estável, 3 6 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes principalmente pela falta de investimentos e a concentração dos poucos recursos públicos no modal rodoviário. No entanto, pode-se identificar desde 1996 – após as privatizações – um ligeiro crescimento na parti- cipação do modal ferroviário no total de cargas movimentadas (tonela- das), com maior crescimento de movimentação em relação aos outros modais. Evolução do transporte de cargas por modalidade (bilhões de TKU) Anos Modalidades Aéreo Ferroviário Aquaviário Rodoviário Dutoviário Total 1969 0.2 25.0 22.7 72.8 nd 120.7 1975 0.5 58.9 31.7 132.1 6.9 230.2 1981 1.1 79.4 42.4 204.7 11.1 338.7 1987 1.5 120.0 90.5 310.6 19.7 532.9 1990 1.8 120.3 102.6 313.2 20.9 558.8 2000 2.4 156.0 103.4470.9 33.2 765.9 2004 * 1 206 105 512 39 863 Fonte:Anuários Estatísticos do Geipot, CNT, CEL-Coppead. * Valores de 2004 aproximados Crescimento do volume de cargas transportado pelos diferentes modais Ferroviário Rodoviário Aquaviário Total 1996-2004 6,1% 3,8% 2,3% 4,1% 1999-2004 8,0% 1,8% 2,1% 3,2% Fonte: ANTF. 3 7 Raph a el Pa du l a Porcentagem do PIB investido em transportes (governo federal) 0,30% 0,25% 0,20% 0,15% 0,10% 0,05% 0,00% Po rc en ta ge m d o PI B Ano 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Fonte: Apresentação da CNT para o PNLT. Disponível em www.centran.eb.br/plano_logistica A produção de transportes no Brasil deve ser reestruturada para uma matriz intermodal. O desequilíbrio na matriz atual não vem sendo tratado de forma adequada pelos governos. Nos últimos vinte anos, os investimentos públicos em transportes têm sido insignificantes: de 1995 a 2005, em média, foram 0,2% do PIB. Além disso, tais investimentos foram concentrados no modal rodoviário, mantendo-se estável a matriz de transportes existente, desbalanceada: desde 1995, mais da metade dos recursos investidos no setor se direcionaram ao modal rodoviário; esse percentual ultrapassou 70% em 1998, 80% em 2002 e chegou a 90% em 2005. Considerando-se somente os três principais modais – rodovi- ário, aquaviário e ferroviário –, o rodoviário tem sido privilegiado com mais de 70% dos recursos. 3 8 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes Distribuição dos investimentos em transportes (governo federal) Rodoviário Ferroviário Aquaviário Aéreo Outros 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Fonte: Apresentação da CNT para o PNLT. Disponível em www.centran.eb.br/plano_logistica Nos últimos vinte anos, a política de transportes e a ação do Es- tado têm sido afetadas pelo predomínio das doutrinas neoliberais, que retiram do planejamento o seu verdadeiro papel. Ao estimularem a ação atomizada e microeconômica, contribuem para desorganizar o setor. Além disso, subordinam os investimentos em transportes à contabili- dade de custos. É fundamental estabelecer um planejamento para o setor que di- recione os investimentos com recursos públicos, inclusive a poupança compulsória alocada às agências federais de financiamento, conforme um prévio e criterioso estudo de viabilidade técnico-econômica do em- preendimento e de seus efeitos sobre a economia, garantindo também a redução dos custos e a melhor execução das obras. É preciso que se- jam constituídos fundos setoriais, pois a Constituição Federal de 1988 acabou com o Fundo Nacional de Transportes, o que prejudicou as 3 9 Raph a el Pa du l a condições do setor. A maior parte dos recursos da Contribuição de In- tervenção no Domínio Econômico (CIDE) fica sem uso ou é usada em outras despesas, como a formação de superávit primário pelo governo. São recursos que deveriam ser investidos no setor de transportes. Destinação dos recursos da Cide Destinação dos Recursos da CIDE 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% Não Utilizado Transporte Outras Despesas 2002 2003 2004 2005 Ano Fonte: Siafi. A comparação da matriz de transportes brasileira com a matriz de outros países continentais, com condições geográficas similares, ilustra mais facilmente a distorção e suas conseqüências sobre a produção na- cional, em termos de custos e competitividade, diante da concorrência internacional. Considerando-se apenas os principais modais – ferroviário, ro- doviário e aquaviário –, constatamos uma significativa participação do modal ferroviário em alguns países, às vezes de forma predominante. A Rússia se destaca, com o transporte ferroviário atingindo 81% de participação, enquanto o rodoviário tem somente 8% e o hidroviário 11%. Com a exceção da Rússia e do México, que tem uma matriz de transportes mais similar à do Brasil – com 55 % concentrada no modal rodoviário –, nos demais países mostrados na tabela a participação das rodovias fica em torno de 40% (entre 37% na China e 46% no Canadá). 4 0 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes No longo prazo, é preciso que o Brasil se aproxime de uma matriz como a dos Estados Unidos, com 40% das cargas transportadas no modal fer- roviário, 20% no rodoviário e 40% no aquaviário – considerando-se so- mente esses modais. Comparação internacional de matriz de transportes – divisão entre os principais modais* em 2003 Ferroviário % Rodoviário % Hidroviário % Extensão territorial terrestre** (milhões km) Rússia 81 8 11 17,0 Canadá 46 43 11 9,2 Austrália 43 53 4 7,6 EUA 43 32 25 9,2 China 37 50 13 9,6 Brasil 24 52 14 8,5 México 11 55 34 2,0 * Sem considerar os modais aéreo e dutoviário. ** Sem considerar as áreas cobertas por águas. Fonte: ANTT, elaborado pela Trevisan (Análise Trevisan, 2005). Comparação internacional de matizes de transportes principais modais (% 2003) R Hidroviário Ferroviário Rodoviário 0 20 40 60 80 100 México Brasil China EUA Austrália Canadá Rússia 11 24 37 43 43 46 81 55 52 50 32 53 43 8 34 14 13 25 4 11 11 4 1 Raph a el Pa du l a Comparando diretamente o Brasil com os Estados Unidos, ob- servamos uma diferença muito acentuada na participação do modal rodoviário. Nos Estados Unidos, esse modal participa com 22,7 % da produção de transporte, percentual muito distante dos mais de 60 % no Brasil. Lá, a participação conjunta dos transportes ferroviário (36,3%) e aquaviário (16,8%) ultrapassa 55%. Esses modais de menor custo, que predominam na matriz norte-americana, não chegam a 35% no Brasil. Outra nítida diferença é a participação do modal dutoviário: 24% nos Estados Unidos contra 4,2% no Brasil. Os Estados Unidos são um país continental com dutos ligando e cruzando todo o território, enquanto no Brasil não há grande uso de dutos (normalmente usados para trans- porte de gás, petróleo, minérios e grãos). Comparação da matriz de transportes de Brasil e Estados Unidos 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 0,2%0,4% 13,6% 16,8% 4,2% 24,0% 20,7% 36,3% 61,1% 22,7% ” Brasil EUA Aéreo Hidroviário Dutoviário Ferroviário Rodoviário Fonte: Apresentação da CNT para o PNLT, p. 9. Disponível em www.centran.eb.br/plano_logistica. 4 2 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes A discrepância existente entre a matriz de transportes brasileira e uma matriz ideal, com maiores participações dos modais ferroviário e aquaviário – como a dos países que mostramos acima –, atinge di- retamente a competitividade e a eficiência da nossa economia. O pro- duto agrícola brasileiro, por exemplo, é onerado em cerca de 40% do seu valor. Isso afeta negativamente tanto a renda do produtor brasileiro quanto a dos consumidores, principalmente os mais pobres, pois afeta os preços dos bens que formam a cesta básica. Uma forma de mensurar a produtividade do transporte de cargas é medida pela tonelada por quilômetro útil (TKU) produzida por empre- gado no setor. Esta medida é importante para revelar a ineficiência do setor no Brasil, principalmente quando comparado aos Estados Unidos. Os gráficos abaixo, retirados do estudo CNT/CEL-Coppead (2002), re- velam que o Brasil tem menor produtividade em cada modal. A produ- tividade do modal rodoviário no Brasil é 33% da registrada nos Estados Unidos; a do ferroviário é de aproximadamente 44%, e a do aquaviário é de aproximadamente 48%. Produtividade dos modais (106 TKU/empregado) 0% 5% 10% 15% 20% 25% Hidroviário Ferroviário Rodoviário 17,18,2 9,3 21,2 0,6 1,8 ” Brasil EUA Fonte: CNT/CEL, 2002, p. 17. Elaborado a partir de dados do Geipot 2001; IBGE/1998; Bureau of Transportation Statistics e Bureau of Labor Statistics. 4 3 Raph a el Pa du l a Como a matriz de transportes do Brasil é muito concentrada no modal menos produtivo, o rodoviário, a matriz como um todo é bem menos produtiva do que cada modal visto em separado, quando compa- rada com os Estados Unidos. A produtividade do sistema de transporte de cargas é de somente 22% em relação à norte-americana (1 para 4,5). A matriz brasileira apresenta um desempenho pior em termos de pro- dutividade por mão-de-obra empregada. Produtividade do setor de transportes de carga (106 TKU/empregado) 0% 1% 2% 3% 4% 5% 1,0 4,5 Brasil EUA Fonte: CNT/CEL, 2002, p. 18. O estudo CNT/CEL (2002) também apresentou a produtividade do transporte de cargas em relação aos outros setores da economia bra- sileira, tendo os Estados Unidos como parâmetro (equivalente a 100%). Revelou que o setor também apresenta um baixo desempenho quando observado desse ângulo. Conforme revela o gráfico abaixo, entre os se- tores analisados, o setor de transportes só supera os setores de processa- mento de alimentos (18%) e varejo de alimentos (14%). 4 4 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes 0% 20% 40% 60% 80% 100% Benchmark - EUA Siderurgia Transporte Aéreo Telecomunicações Bancos de Varejo Montadoras Construção Civil Autopeças Transporte de Cargas Proc. Alimentos Varejo Alimentos 14% 18% 22% 22% 35% 36% 40% 45% 47% 68% 100% Produtividade de mão-de-obra por setor Fonte: CNT/CEL, 2002, p.18. Uma maneira de analisar a oferta de transportes no Brasil é a partir do índice de densidade de infra-estrutura, calculado pela relação entre a extensão (em km) de infra-estrutura ofertada e a área territorial do país (em km2). O desbalanceamento da matriz de transportes tem também como causa a baixa disponibilidade dos demais modais – ferroviário e aquaviário, tanto de cabotagem quanto hidroviário –, assim como suas limitações operacionais, o que faz com que eles não apresentem alternativas em relação ao modal rodoviário, mais flexível e dinâmico. A densidade de transporte dos modais revela a discrepância na oferta, favorecendo, de longe, o modal rodoviário. 4 5 Raph a el Pa du l a 0% 4% 8% 12% 16% 20% 17,3 5,6 3,4 Rodoviário Hidroviário Ferroviário (rodovia asfaltada) (rios navegáveis) Densidade de Transporte km/1000 km� Fonte: CNT/CEL, 2002, p. 41. O estudo CNT/CEL 2002 comparou a densidade da infra-estrutu- ra brasileira com a de outros países continentais. A comparação mostra que a oferta nacional de transporte é a menor: 26,4 km de extensão de vias para 1 mil km2 de área territorial do país, menos que a metade do México (57,2), por exemplo. O mesmo estudo aponta que a densidade dos Estados Unidos é de 447 km de vias para 1 mil km2 de área, muito maior que a dos demais países analisados. No gráfico, chama a atenção também a baixa densidade do modal ferroviário e a baixa utilização do transporte hidroviário na matriz brasileira. 4 6 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes Fonte: CNT/CEL 2002 Além da pequena quantidade da infra-estrutura ofertada, a quali- dade da infra-estrutura está comprometida. Da extensão total de rodo- vias nacionais, 88% não são pavimentadas e, das pavimentadas, 75% são classificadas como péssimas, ruins ou deficientes pela CNT (Pesquisa Rodoviária CNT 2006). O modal ferroviário apresenta altos índices de acidentes, quando comparados com outros países.1 O setor de transportes de carga também é prejudicado pela defi- ciência de oferta e qualidade de infra-estrutura de apoio, com poucos e ineficientes terminais intermodais, que são fundamentais para a inter- conexão e a coordenação entre modais. A partir dos números de termi- nais aquaviários e ferroviários, o estudo CNT/CEL estima que existem 250 terminais intermodais no Brasil, enquanto nos Estados Unidos eles chegam a 3 mil. Lá, além disso, a eficiência operacional de cada terminal é muito maior. O Brasil está dividido em cinco regiões. A articulação inter-regiões é bastante deficiente, centrada basicamente no modal rodoviário, nas 1 A situação dos modais de transporte serão tratadas nas próximas seções. 4 7 Raph a el Pa du l a poucas e extensas rodovias federais. A articulação entre as regiões se organizou em torno dos antigos caminhos do Brasil colônia. As vias de circulação foram reestruturadas de modo a facilitar a drenagem da produção econômica em direção aos portos, ao comércio exterior. A circulação interior praticamente inexiste. Dados do governo federal apontam que mais de 50% da circulação de cargas está na Região Su- deste, o que corresponde à sua maior participação na distribuição dos fatores econômicos. No Brasil, a divisão geográfica de natureza regional tem uma clara e perfeita contrapartida quando justaposta ao conceito de mercados. Daí a importância que a atividade de transportes ainda pode exercer para a integração das regiões. A recuperação e a ampliação da malha viária devem refletir a im- portância do setor de transporte para o processo de desenvolvimento, assim como para promover a correção dos desequilíbrios regionais. A integração regional deve ser a primeira prioridade de um plano de go- verno nessa área. A falta de planejamento e controle do setor de transportes levará a um colapso – o que alguns já chamam “apagão” dos transportes ou “paradão”, em alusão à crise de energia elétrica ocorrida no governo Fer- nando Henrique. Os principais sintomas são: frota rodoviária e material rodante ferroviário envelhecidos (caminhões com mais de 18 anos e lo- comotivas com idade média superior a 25 anos); estradas em condições inadequadas, 75% das quais com qualidade comprometida (deficiente, ruim ou péssima); baixa oferta de infra-estrutura ferroviária; baixíssi- ma oferta de terminais intermodais (multimodais); e hidrovias pouco utilizadas. Maior concentração da matriz de transportes no modal rodoviário, menos eficiente em termos energéticos, e menor concentração no mo- dal ferroviário, mais eficiente, tendem a fazer o Brasil menos eficiente em termos energéticos nesse setor, principalmente quando comparado aos Estados Unidos. 4 8 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes Visto como um todo e usando-se como critério os gastos de BTUs (British Termal Unit) para cada dólar gerado do PIB, o setor de trans- portes brasileiro apresenta um índice de aproveitamento energético 29% maior que o dos Estados Unidos (CNT/CEL, 2002, p. 24). Aproveitamos menos as fontes não-renováveis de energia no setor, o que incide no nível de emissão de poluentes, no custo dos bens, nas contas externas e na dependência de combustíveis. O nível de emissão de poluentes do setor de transportes brasileiro supera amplamente o norte-americano, em termos de óxidos de nitrogênio e monóxido de carbono, principais poluentes relacionados à combustão de veículos. O baixo nível de ma- nutenção e o envelhecimento da frota tendem a agravar essa diferença. Fonte: CNT/CEL 2002, p. 24. Transporte de passageiros Embora o nosso principal foco seja o transporte de cargas, é importante abordar algumas questões sobre a matriz de transportes de passagei- ros. A concentração do transporte de passageiros no modal rodoviário é muito maior do que a que apontamos no transporte de cargas: nesse caso, a participação das rodovias ultrapassa 90% do total. 4 9 Raph a el Pa du l a Matriz de transporte de passageiros Modalidade Pass. x km % Aérea 29.7 4.9 Ferroviária 10.7 1.8 Metroviária 4.4 0.7 Rodoviária 561.0 92.6 Aquaviária ... ... Dutoviária - -Total 605.8 100.0 Fonte: Anuários estatísticos Geipot e Consultoria DLC. Analisando por número de passageiros transportados, tanto urba- nos quanto de longa distância, a participação rodoviária supera 75% do total. Essa marca se mantém se analisarmos apenas o transporte urbano, mas diminui pouco mais de 10% se analisarmos apenas o transporte de longa distância. Quanto ao modal ferroviário, vale ressaltar sua insigni- ficante participação no transporte de passageiros a longa distância e sua baixa participação no transporte urbano. No transporte de longa distân- cia, é importante observar uma participação relativamente mais elevada do transporte aéreo, que tem crescido nos últimos anos, enfrentando problemas e restrições pela falta de planejamento e de investimentos.2 2 Utilizamos o Boletim CNT 2005 (dez/2005) para análise do número de passageiros transportados por ser o último número do Boletim que ofereceu dados sobre transporte ro- doviário urbano. Os dados são referentes a 2005. 5 0 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes Transporte de passageiros Modal Passageiros transportados (milhões)* % do total Rodoviário Interestadual/ Internacional 132,8 2,71% Rodoviário urbano** 3.582,3 73,02% Ferroviário longa distância 1,7 0,03% Ferroviário urbano*** 1.114,8 22,73% Aéreo 75 1,51% TOTAL 4.905,6 100% Fonte: Boletim CNT dez/2005. *Valores aproximados. ** Acumulado por ano nas principais cidades brasileiras (Belo Horizonte, Goiânia, Fortale- za, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo). *** Metro-ferroviário. Transporte de passageiros urbano Modal Passageiros transportados (milhões) % do total Rodoviário urbano 3.582,3 76,27% Ferroviário urbano 1.114,8 23,73% Total urbano 4.697,1 100% Fonte: Boletim CNT dez/2005. 5 1 Raph a el Pa du l a O número de empresas atuantes no modal rodoviário é bem supe- rior ao dos demais. Conforme observamos, isto se deve principalmente à prioridade dada a esse modal, bem como ao baixo custo de entrada e alto custo de saída no setor de transporte rodoviário de cargas. Em ter- mos globais, os transportes interestaduais e intermunicipais rodoviários geram mais de 500 mil empregos indiretos. O transporte aéreo gera 35 mil empregos diretos e 245 mil empregos indiretos. Empresas e autônomos Modal Rodoviário Fe rr ov iá rio Aé re o Passageiros Tr an sp or ta do ra s Ca m in ho ne iro s Fr et am en to U rb an o In te re sta du al / In te rn ac io na l N.° de empresas/ autônomos 110.942 618.409 8 12 3.808 6.119 222 Fonte: Boletim CNT dez/2005. A racionalização dos transportes públicos de passageiros (coleti- vos) gera maior eficiência econômica, pois reduz os custos, e favorece a qualidade de vida da população, principalmente nos grandes centros urbanos. Embora o automóvel possa ser visto como fonte de conforto individual e sua produção gere empregos, impostos e desenvolvimento, a racionalização do transporte de massa é mais importante para o bem público. A oferta de transporte de massa, sua acessibilidade e grau de in- tegração, bem como seu custo, são importantes para a qualidade de vida por ter reflexos diretos em congestionamentos, acidentes, poluição do ar, ruídos e custo urbano, principalmente em áreas mais concentradas. 5 2 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes Segundo o estudo Transporte de passageiros da CNT/Coppead- UFRJ de 2002 (p. 56), “as variáveis mais importantes para os usuários na escolha do modal para realizar suas viagens são preço, tempo de via- gem, viagens diretas, atendimento, flexibilidade, conforto e segurança. A procura por viagens diretas (não-utilização de integração com ônibus, trem, metrô e barcas) tem várias causas, principalmente o desconforto da integração e uma quase nula vantagem tarifária.” O transporte público deve ser encarado como serviço de utilida- de pública. Além de afetar a qualidade de vida da população, seu custo incide diretamente nos salários reais dos trabalhadores. Grande parce- la do preço da tarifa é utilizada para pagar as gratuidades e subsidiar viagens de longa distância, nas quais os governos não subsidiam nem gratuidades nem passagens normais. Caso não houvesse gratuidade, a tarifa poderia ser menos da metade da atual. Como os governos não pa- gam as gratuidades, estas recaem sobre as tarifas cobradas aos usuários pagantes, em sua maioria trabalhadores. Falta de planejamento e falta de prioridade ao transporte público levam ao caos urbano nos transportes, ao surgimento dos chamados transportes “alternativos” (clandestinos ou não) e ao crescimento do nú- mero de automóveis (flexibilidade e disponibilidade), para quem pode arcar com os custos. Aumentam o número de veículos automotores em circulação, os congestionamentos e a poluição. O resultado final é dimi- nuir a qualidade de vida e reduzir a eficiência econômica. No transporte de passageiros, maior ênfase deveria ser dada à intermodalidade, aos transportes de massa de menor custo, ao planejamento e à idéia de que o transporte é um serviço de utilidade pública que incide pesadamente no custo de vida da população de renda mais baixa. 5 3 Raph a el Pa du l a Logística O sistema logístico do Brasil apresenta problemas de produtividade e de custos, que se refletem diretamente na competitividade, na eficiência e nos custos da economia como um todo. A comparação entre os custos logísticos no Brasil e nos Estados Unidos, países continentais, revela a necessidade de ações para aumentar a eficiência do setor. Em 1997, havia 35 operadoras com receita anual de R$ 1 bilhão. Em 2005, já existiam 118 operadoras que empregam 79 mil pessoas, com receita anual de R$ 16,4 bilhões. A tendência é de crescimento no setor. Conforme observamos no capítulo 1, os principais produtos que utilizam logística são: minérios, metal-metalúrgicos, químicos, petro- químicos, automotivos, alimentícios, farmacêuticos e eletro-eletrôni- cos. Nossas mercadorias são muito carregadas por custos logísticos, que são um fator importante no “custo Brasil”. Temos que evoluir para nos tornar mais competitivos. O custo logístico no Brasil foi de R$ 225,5 bilhões em 2004, equiva- lente a 12,8% do PIB. O custo com transportes são os mais importantes. Correspondem a 60% dos custos logísticos, seguidos pelos custos de es- toque, que equivalem a 30,5%. Vale ressaltar o impacto da concentração no modal rodoviário, cujos custos responderam por 6,1% do PIB, ou R$ 109,5 bilhões, quase a metade dos custos logísticos em 2004, conforme dados do Centro de Estudos Logísticos da Coppead-UFRJ. Os custos variáveis são importantes nos fretes. Conforme obser- vamos, os fretes se relacionam mais diretamente aos custos variáveis e não chegam a remunerar os custos fixos. A alta do preço do barril de petróleo incide diretamente nos custos, no preço do óleo diesel e também dos pneus, impactando os fretes e a margem de negociação por parte dos autônomos. 5 4 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes Custo logístico no Brasil 2004 Custo Valor em R$ bi % do PIB Custo total (R$) de transporte 135,5 7,7 Rodoviário 109,5 6,1 Ferroviário 7,5 0,4 Aquaviário 12,5 0,7 Aéreo 2,1 0,1 Dutoviário 3,9 0,2 Custo de estoque 69,8 3,9 Custo de armazenagem 11,7 0,7 Custo administrativo 8,5 0,5 Custo Logístico Total 225,5 12,8 Fonte: Centro de Estudos Logísticos / Coppead-UFRJ. Segundo dados do CEL/Coppead, referentes a 2004, o custo de armazenagem foi estimado em R$ 11,7 bilhões, igual a 0,7% do PIB, e o custo administrativo em R$ 8,5 bilhões, 0,5% do PIB.3 O custo de estoque, equivalente a 1/3 do custo logístico, foi estimado em R$69,8 bilhões, equivalente a 3,9% do PIB. É importante salientar que o custo financeiro (custo de capital) de estoque está relacionado à taxa de juros básica da economia (taxa Selic), que nesse ano foi de 16,25%, em mé- dia.4 3 LIMA, Maurício P. (2006). “Custos logísticos na economia brasileira”. In Revista de Tecnologia, Janeiro/2006. Rio de Janeiro: Coppead – UFRJ. 4 Idem. 5 5 Raph a el Pa du l a O Brasil tem uma taxa de juros alta. A média da taxa de juros no- minal em 1996 foi de 27,15% ao ano, caindo para 16,44% ao ano em 2004 – e alcançou 12,75% ao ano no início de 2007. Se compararmos com os Estados Unidos, a taxa de juros nominal média foi de 5,27% ao ano em 1996 e caiu para 1,38% ao ano, alcançando 5,25% ao ano em 2007. Isso fez com que o custo de estoque, como proporção do produto interno bruto no Brasil, fosse quase o dobro do registrado nos Estados Unidos em 2004: 3,9% contra 2,1%. Este é um dos principais fatores explicativos do maior custo logístico em relação ao PIB no Brasil em comparação com os Estados Unidos.5 O custo administrativo (em rela- ção ao PIB) também foi quase o dobro – 0,5% contra 0,3% – e o custo de transportes, principal custo logístico (também em relação ao PIB), foi o que registrou maior diferença entre Brasil e Estados Unidos: 54%. Custo de logística comparado: Brasil x EUA (em % do PIB - 2004) Brasil EUA Transporte 7,7 5,0 Estoque 3,9 2,1 Armazenagem 0,7 0,7 Administração 0,5 0,3 Total em 2004 12,8 8,1 Fonte: Centro de Estudos Logísticos da Coppead-UFRJ. 5 LIMA, Maurício P. (2006). 5 6 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes Porcentagem de custos logísticos em relação ao PIB: Brasil x EUA (2004) R Ó R Fonte: CEL/Coppead-UFRJ - www.centrodelogistica.com.br Matriz de transporte de cargas e custos comparados em dólar - 2004:* Brasil x EUA MODAL BRASIL EUA % de carga ** US$/1000 T Km % de carga US$/1000 T Km Aéreo 0,1 602 0,4 898 Dutoviário 4,5 18 15,1 9 Aquaviário 12,2 24 15,5 9 Rodoviário 59,3 73 29,5 274 Ferroviário 23,8 12 39,6 17 * Foram usados para o cálculo valores e dólares de 2004, em média R$ 2,93/US$. ** Calculado com base em TKU. Fonte: Lima, 2006 - a partir de dados do Geipot, Fipe e CEL/Coppead-UFRJ. 5 7 Raph a el Pa du l a Lima (2006) chama a atenção para a considerável diferença entre os valores do frete rodoviário do Brasil e dos Estados Unidos. Isso se deve às cargas, ao perfil de rotas e à situação do mercado rodoviário, que são bastante diferentes nos dois países. Nas palavras de Lima (2006, p. 68): “Enquanto no Brasil predomina o transporte de produtos agrícolas em distâncias relativamente longas nesse modal [rodoviário], nos Esta- dos Unidos ele está voltado ao transporte de produtos de mais alto valor agregado [bens industriais] e à complementação dos outros modais por uma ponta rodoviária de menor distância.” O autor ressalta o excesso de oferta de transporte rodoviário no Brasil, diferente da escassez de motoristas nos Estados Unidos. No modal aéreo há pouca diferença, embora o custo do Brasil seja um pouco menor. Já no transporte dutoviário, a diferença em favor dos Estados Unidos é grande, por causa de economias de escala – grandes dutos, transportando grandes volumes em longas distâncias – e do me- nor custo de capital (taxa de juros). Os Estados Unidos também se des- tacam pelo amplo uso do transporte aquaviário, contando com grandes composições para transportar grandes volumes a menor custo. O custo do transporte ferroviário é menor no Brasil – 12 dólares contra 17 dólares por 100 T/Km. No entanto, conforme Lima (2006) observa, se a Companhia Vale do Rio Doce for retirada do cálculo, o valor passa a ser praticamente o mesmo nos dois países (16,93 dólares). A CVRD opera para si mesma, a preço de custo, com alta produtividade e grande volume. Lima assinala (2006, p. 69): “Mesmo considerando a composição da matriz de transportes dos dois países, em 2004 o custo médio de se transportar uma tonelada por 1 mil km era menor no Brasil que nos Estados Unidos.” O custo de transporte é maior no Brasil (7,5%) que nos Estados Unidos (5,1%), em relação ao PIB, por causa da “relação entre a movimentação de carga e o tamanho da economia”. Pois, “enquanto a economia americana é praticamente vinte vezes maior que a nossa, eles 5 8 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes só movimentam sete vezes mais cargas que o Brasil”. Para Lima, isso se deve ao alto valor agregado das mercadorias transportadas e à maior participação do setor de serviços em relação ao PIB nos Estados Unidos. Nossa estrutura produtiva baseada na produção de commodities (bens primários e/ou de baixo valor agregado, não-intensivos em tecnologia) nos leva a realizar grandes transporte de cargas de baixo valor agregado e mantém baixa a participação do setor de serviços. Dois fatores determinantes nos custos de transportes e logísticos brasileiros são sua concentração no modal rodoviário e a falta de in- termodalidade – especialmente em comparação com os Estados Uni- dos. Mesmo com fretes baratos, o setor rodoviário não é competitivo em transportes de longa distância, em relação aos modais ferroviário e aquaviário. A intermodalidade dá a opção de usar no transporte de mer- cadorias, no momento certo, o modal mais adequado em termos de cus- tos – como ocorre nos Estados Unidos. É preciso que o Brasil implante um sistema de transportes intermodal e aproveite toda a potencialidade da intermodalidade, com amplo apoio de oferta logística eficiente. O CEL/Coppead realizou uma pesquisa em que perguntava pela prioridade entre “redução de custos” versus “melhoria de serviços”. Para 55% dos entrevistados do setor, a redução de custo é prioridade em re- lação à melhora dos serviços (para 22,5%, ambos têm prioridade igual e para 22,5% a prioridade é a melhora de serviços). Já nos Estados Uni- dos, os resultados foram: 26% para prioridade igual, 35% para redução de custos e 39% para serviços como principal prioridade em relação à redução de custos. 5 9 Raph a el Pa du l a Brasil x EUA, 2004 Prioridade: redução de custos x melhora de serviços (2004) Brasil EUA Prioridade Igual 22,5% 26,0% Prioridade redução de custos 55,0% 35,0% Prioridade melhora de serviços 22,5% 39,0% Fonte: CEL/Coppead-UFRJ; www.centrodelogistica.com.br Os principais problemas do setor são: (a) oferta inadequada, com escassez de espaço para armazenamento de grãos nas áreas produtoras; (b) gargalo nas estradas de aproximação aos portos, especialmente no caso de Santos; (c) estradas de rodagem em más condições, precisando de grande volume de investimento em restauração e manutenção; (d) frota de caminhões com idade média alta (estimada em cerca de deze- nove anos); (g) estradas de ferro pouco rentáveis e com necessidades de investimentos significativos; (h) utilização precária do transporte aqua- viário e da navegação de cabotagem. As ações de integração nacional e intermodal devem ser acom- panhadas de outros investimentos, como estradas alimentadoras, ter- minais e pátios intermodais, armazenagem nas propriedades, terminais portuários especializados etc. A intervenção governamental poderá contar com expressiva participação do setor privado no investimento direto e/ou na montagem de esquemas de financiamento. A infra-estrutura logística deve receber apoio e financiamento para a construção de armazéns coletores por proprietários, por coope- rativas e por associações de produtores, estabelecendo-se como meta a construção de uma capacidade de 70 milhões de toneladas até 2010. Todas as cidades devem ter, pelo menos, uma unidade armazenadora para realizar todo o processamento, a limpeza e a secagem da produção 6 0 Pe n s ar o Bra si l : Tran sp or tes agrícola local. Além disso,
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