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PAPER ATUALIZADO

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A DOGMÁTICA JURÍDICA NO CENÁRIO DA TRANSMODERNIDADE[1: Paper apresentado à disciplina Introdução à Ciência do Direito, ministrada pelo professor Luiz Otávio Pereira, a partir da leitura da bibliografia: WARAT, Luís Alberto. O outro lado da dogmática jurídica. In. Teoria do Direito e do estado. Porto Alegre: Sergio Fabris, 1994, p. 81-95. ]
IZABELA FERNANDA DE ARAÚJO LOBO[2:  Discente regularmente matriculada no curso de Bacharelado em Direito da Universidade Federal do Pará – Campus Belém, sob o número de matrícula 14641005801. ]
izabelalobo@live.com
	
“A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela forma como nos acostumamos a ver o mundo.”
Albert Einstein
INTRODUÇÃO
No texto “O outro lado da dogmática jurídica” (1994), Luís Alberto Warat sustenta o argumento de que o contradogmatismo não tem mais lugar na atual democracia, haja vista que não se vive mais uma ditadura, isto é, o Direito não é usado para a manutenção de um sistema autoritário e repressor. O autor faz menção ao modernismo radical, que de acordo com Gary DeMar (2001) seria uma anti-cosmovisão, a qual contestaria a existência de qualquer verdade universal.
A dogmática jurídica é vista como ratificação do direito vigente, assegurando sua atuação plena, a partir da simulação de um “limite racional”, pois para Warat a ficção possibilita uma melhor compreensão da realidade e assente às normas do direito determinar o paradigma social. O dogmatismo, entretanto, ganha uma nova interpretação que não impõe o fim da reflexão, mas sim a convicção no texto de lei. Sem a condição dogmática é inalcançável uma relação jurídica com a veracidade.
 Reproduzindo o pensamento de Hans Kelsen (1999), o direito positivo, ou seja, dogmático, não deve fazer juízos de valor abstratos, pois isto tornaria difícil a análise do objeto do conhecimento. A Transmodernidade (pós-modernidade) é incessantemente criticada em razão da disparidade do seu ponto de vista com relação ao modernismo radical 
reconhecido pelo autor. Desse modo, o mais eficaz seria identificar as partes positivas da dogmática jurídica, buscando aprimorá-las, ao invés de simplesmente continuar na procura de um modelo idealizado e utópico. Qualquer oposição para com o direito é inútil, se não for associada a alternativas ético-racionais-legais para independência. 
1 CONCEPÇÃO DE TRANSMODERNIDADE 
O conceito de pós-modernidade tornou-se amplamente discutido nas últimas décadas, tendo em vista que abrange uma imensa gama de temáticas referentes à arte, música, literatura e também o direito. O filósofo francês Jean-François Lyotard (1979) definiu o pós-moderno como a incredulidade em relação às metanarrativas. Em outras palavras, a experiência da pós-modernidade decorreria da perda de nossas crenças em visões totalizantes da história, que prescreviam regras de conduta política e ética para toda a humanidade.
Na pós-modernidade ocorre falências das metanarrativas emancipadoras como aquelas propostas pela Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. Mudam-se valores: é o novo, o efêmero, o fugaz, o individualismo, que valem. A aceleração transforma o consumo numa rapidez nunca vivenciada, na qual tudo é descartável. Luís Alberto Warat (1994) utiliza o termo “transmodernidade” ao invés de pós-modernidade, considerando-a como uma banalização do desejo de uma sociedade melhor idealizada na modernidade. 
Os horrores do passado que retornam sob formas simuladas de certas conquistas (a inflação controlada na Argentina, a condenação de Collor no Brasil) e a condenação à trivialização de tudo o que na modernidade representou o sonho de uma sociedade melhor. O olha apagado. A utopia transformada em horror. A transmodernidade como forma passiva da modernidade. O horror de terror que retorna como passividade. O olhar substituído pela imagem (WARAT, 1994). 
2 DIFERENTES PERSPECTIVAS ACERCA DA DOGMÁTICA JURÍDICA
	O jurista e filósofo Hans Kelsen (1985) possui uma visão extremamente dogmática do direito. Em seus estudos, Kelsen busca isolar as normas jurídicas, afastando do direito qualquer compreensão sociológica, metafísica ou política. A separação de tais elementos afirma sua teoria como pura porque se concentra na fonte primordial por meio da qual o sistema se formaliza: a norma jurídica. Tal método atribuiria cientificidade ao direito, tornando-o assim vigente e eficaz.
Em contrapartida, Lyra Filho (2006, p. 21) defende a concepção do direito enquanto processo de libertação, isto é, propõe uma nova ontologia que encontra a essência do Direito longe da norma imutável e fixa. Em sua leitura marxista, Lyra Filho colhe as bases para o humanismo dialético, que afirma a possibilidade de um pluralismo jurídico. Por rejeitar o jusnaturalismo e o positivismo jurídico como soluções acabada, Roberto Lyra Filho oferece outro caminho para entendermos o Direito.
Neste ponto é possível estabelecer uma conexão entre o positivismo radical de Kelsen, o materialismo histórico sustentado por Lyra Filho e as ideias defendidas por Warat. Em sua crítica, o autor alcança outra perspectiva sobre a dogmática jurídica, na qual não exclui a importância do contradogmatismo, mas sim afirma que no atual momento histórico essa utilização alternativa do direito não se faz necessária. Desse modo, não seria prudente ignorar a norma jurídica, como será tratado posteriormente. Outro autor que se manifesta a respeito da dogmática jurídica é Ferraz Junior. 
Para entendermos a Dogmática Jurídica contemporânea, é necessário reconhecer que ela nasce pelo fenômeno da positivação. Este, como já vimos, é caracterizado pela libertação que sofre o Direito de parâmetros imutáveis e duradouros, de premissas materialmente invariáveis, apresentando uma tendência a certo formalismo e institucionalização da mudança e da adaptação através de procedimentos cambiáveis, conforme as diferentes situações (FERRAZ JUNIOR, 1998).
3 OS MOVIMENTOS CONTRADOGMÁTICOS
	A postura contradogmática foi adotada no período da ditadura militar brasileira, pois neste momento houve uma transgressão aos direitos humanos. Portando, segundo Warat, a luta pela redemocratização legitimava os movimentos contradogmáticos, que se adequavam ao momento histórico. O uso do contradogmatismo em regimes autoritários é absolutamente justificável, haja vista que em tais circunstâncias, o direito é instrumento de repressão à cidadania. Contudo, não cabe mais uma postura contradogmática no presente, já que se vigora no Brasil um Estado Democrático de Direito (WARAT, 1994).
	Warat elucida que ao invés de investir em um contradogmatismo ultrapassado, deve-se reconhecer a dogmática jurídica e seu lado positivo, na qual cumpre a função de garantir o bem comum. O passado da ciência jurídica servirá, assim, para compreender os acontecimentos no direito, buscando não repetir os mesmos erros e aperfeiçoar cada vez mais as leis. É possível inferir que os movimentos contradogmáticos devem ser ponderados, uma vez que, via de regra, governos totalitários tem gênese na violação da dogmática jurídica. O autor faz menção a certas posturas as quais colocam em suspeita a credibilidade do contradogmatismo, como não se submeter à lei e a prática do terrorismo com os oprimidos. Para Warat ambos levam à impunidade.
 
4 O ESTADO DE DIREITO
	Segundo Dallari (1998), a base da organização do Estado deve ser a preservação da possibilidade de participação popular no governo, para de que sejam garantidos os direitos naturais. Neste aspecto, destacam-se três pontos fundamentais: a supremacia da vontade popular, a preservação da liberdade e a igualdade de direitos. Esta última deve ser entendida como a proibição de distinções no usufruto de direitos, seja por motivos econômicos ou de discriminação entre classes sociais.
Luís Alberto Warat aposta na democracia tradicionalmente vinculada a dogmática jurídica, na qual o cumprimento das leis se faz indispensável para a concretização do “Estado de Direito”.
A negação do dogmatismo, na concepção de Warat, abriria espaço para o que o autor chama de “Estados de Terror”, ou seja, governos onde ocorre a privação dos direitos humanos garantidos no Estado democrático. Também é feita uma reflexão sobre lutas e resistências inúteis que não trazem nenhum benefício para sociedade ou para o direito.
No “Estado de Horror”, a legalidade estava em mãos dos terroristas de Estado. Por isso, os que pretendiam o retorno da democracia tinham que tratar de estremecer, anular o sentido, diria eu, “verde oliva” da lei do direito. É diferente a situação quando se vivem momentos de consolidação democrática. Nestes casos, são os democratas que ocupam o lugar da lei. E não resta dúvida de que negando a referência legal, usurpa-se o lugar vazio, que é condição do exercício democrático de poder, aqui, o alternativismo, é sempre uma quebra da ordem democrática (WARAT, 1994). 
	Para Hans Kelsen (1985), não há a possibilidade de direito fora do Estado, isto porque todo direito é estatal. Fato importante nessa contextualização é que de acordo com Kelsen, o direito somente pode derivar da norma fundamental, que é uma manifestação do Estado, ou seja, que todo o Direito provém do Estado. Kelsen reconhece os Estados totalitários, pois, segundo sua concepção, tinham todos os elementos característicos, mesmo não oferecendo qualquer espécie de segurança jurídica ou não sendo legitimados. 
CONCLUSÃO
Luís Alberto Warat define a pós-modernidade como um dos dois sentidos da transmodernidade, que é alcançada por um lado como saturação da modernidade. Para Warat, o que mudou foi o sentimento de vazio advindo da percepção dos excessos cometidos pela concepção moderna. Warat entende a pós-modernidade como a modernidade disfarçada de si mesma, já que segundo próprio autor, a modernidade continua aberta e viva hoje. 
Warat, como discípulo de Kelsen, defendia obstinadamente a dogmática jurídica. Em seu discurso desfavorável à pós-modernidade, o jurista argentino critica as intermináveis e excessivas especulações quanto à dogmática jurídica, alegando que indagações sem coerência com o momento histórico não geram melhorias, e sim atenta contra a estabilidade dos poderes e a legitimidade estatal. É necessário se adequar a mudanças e orientar a ação dos fatos sociais ao longo do tempo de forma racional, sem pôr em risco a segurança jurídica. 
O autor se posiciona de maneira relutante aos movimentos contradogmáticos, admitindo inclusive que suas convicções anteriores não se aplicam mais na atualidade. A Dogmática Jurídica é reconhecida por Warat como a parte do Direito que lida com as certezas, sendo um modo de viabilizar decisões, simplificando a complexidade e estabilizando a sociedade. Vale ressaltar que em suas outras obras, Luís Alberto Warat (1985, p. 123) já abordava o estudo acerca da dogmática jurídica, contudo seu pensamento transformou-se tal quanto à sociedade.
A principal referência de Warat usada para contestar os argumentos do contradogmatismo é a ditadura militar. Neste contexto, o direito fora utilizado de modo alternativo, sendo assim a dogmática jurídica um instrumento de combate aos governos totalitários. Logo, a dogmatismo não deve ser rejeitado, pois isto seria a negação do próprio estado de direito. A dogmática jurídica agora cumpre o seu papel, mas ainda precisa ser aperfeiçoada, portanto é função de todos zelarem para que este propósito seja atingido.
REFERÊNCIAS
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da teoria geral do estado. 15 (a) ed. São Paulo: Saraiva, 1991. 
DEMAR, Gary. Thinking straight in a crooked world. 2001. Disponível em: <http://www.monergismo.com/textos/pos_modernismo/def-posmodernismo_demar.pdf>. Acesso em: 10 maio 2014.
FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Função social da dogmática jurídica. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1978. 
KELSEN, Hans. Direito e Ciência. In. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2006. 
LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. 1979. Disponível em: <http://books.scielo.org/id/gf5mh/pdf/nascimento-9788579830983-02.pdf>. Acesso em: 07 maio 2014.
LYRA FILHO, Roberto. Direito e lei. In. O que é direito. São Paulo: Brasiliense, 2006.
MARQUES NETO, Agostinho Ramalho. O processo de elaboração do conhecimento científico. In. A ciência do direito: conceito, objeto e método. Rio de Janeiro: Forense, 1990.
WARAT, Luís Alberto. O outro lado da dogmática jurídica. In. Teoria do direito e do estado. Porto Alegre: Sergio Fabris, 1994.
WARAT, Luís Alberto. As falácias jurídicas. 1985. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/16702/15255>. Acesso em: 09 maio 2014.

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