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Prescrição e Decadência

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Introdução:
Duas das vertentes do Direito Civil estão relacionados a extinção ou perda de Direitos. Estas são a prescrição e a decadência, que se enquadram nos atos jurídicos em sentido estrito. A prescrição é a perda da pretensão, e é dividida em prescrição aquisitiva (denominada usucapião) e prescrição extintiva (também chamada de liberatória). O decurso de tempo exerce grande influência sobre elas. Há, também, a decadência que é a perda de um direito, no caso o potestativo devido a um tempo corrido, já estabelecido em lei, pelo titular. Este assunto é causador de inúmeras dúvidas devido a semelhança que possuem, porém aqui serão apresentadas suas características particulares e as diferenças entre eles de modo a facilitar a compreensão deste assunto. 
Da prescrição: 
De modo simplificado, a prescrição é a perda da pretensão de um direito, ou seja, caso haja “descaso” do titular de um direito sem que ele entre com algum procedimento em lei para assegurá-lo, será decretada a prescrição. Em resumo, para que haja prescrição, é necessário que haja um direito atual que pode ser reclamado em juízo, uma violação desse direito, a passagem de tempo e a inércia do titular em relação a este mesmo direito. Não ocorrendo nenhuma ação por parte do titular para assegurar esse direito e passado o tempo prazo em que o direito deve ser exercido pelo titular e não havendo nenhuma prática para conservar e proteger este direito, a lei declara-o extinto e nada mais poderá ser feito. É importante lembrar que há alguns direitos que não se perdem pela prescrição que são: os que pertencem ao indivíduo, independente de sua vontade, os que mesmo em falta de exercício não são conseqüência da inércia do titular e os direitos sem pretensão. 
	Os prazos prescricionais estão descritos em lei (os prazos prescricionais estão descritos nos artigos 205 e 206, os demais prazos referem-se a decadência) e não estão sujeitos a modificação (art.192, CC). Todavia, a prescrição pode sofrer renúncia, porém esta renúncia somente poderá ser alegada após ter corrido o lapso temporal, desde que não prejudique terceiros e que seja capaz de alienar seus próprios bens. Sobre a renúncia, ela pode se dar de maneira expressa ou tácita (frisa-se que só pode ocorrer após a sua consumação). Diz-se que a renúncia é expressa quando é declarada de forma direta e formal pelo prescribente. A renúncia será tácita quando resulta de um ato não compatível com a invocação da prescrição.
	Em resumo, pode-se afirmar que para que haja a prescrição, deve-se observar: existência de prazo para o exercício de um direito subjetivo patrimonial e disponível (caso não haja um prazo definido, deve-se aplicar a cláusula geral do art. 205 CC), possível pronunciamento da prescrição de ofício pelo juiz ou pela parte interessada ou pelo Ministério público, possível renúncia (sendo esta tácita ou expressa, como já definido) e a possível ocorrência de causas impeditivas, suspensivas ou interruptivas. 
Impedimento, suspensão e impedimento do prazo prescricional
Como já foi dito, anteriormente, não é possível a alteração do prazo prescricional, porém, é possível que ocorram fatos que possam modificar o tempo de curso do prazo prescricional. Estes fatores são o impedimento, a suspensão e a interrupção. O impedimento impede o início da prescrição. A interrupção interrompe o prazo, fazendo-o voltar ao início. já a suspensão “congela” o prazo de prescrição, se este já foi iniciado ( são tratados nos art. 197, 198 e 199, CC). Vale lembrar que a interrupção do prazo prescricional em decorrência destes fatores, logo que resolvida, volta a contar de onde tenha parado o prazo. 
Segundo Cristiano Farias e Nelson Rosenvald (p.558) As causas suspensivas e impeditivas podem ocorrer: entre cônjuges em sociedade conjugal (estando incluindo os casais em união estável ou em união homoafetiva. De acordo com uma interpretação do art. 197, CC), entre ascendentes e descendentes durante o poder familiar, entre tutelados ou curatelados e respectivos tutores e curadores enquanto ocorrer o exercício de tutela e curatela, contra os absolutamente incapazes, contra os ausentes do país em serviço público da União, Estados ou Municípios (desde que estejam obrigatoriamente em serviço enquanto estiverem fora, não admitindo a paralização se estes estiverem a passeio), contra os que estiverem servindo as Forças Armadas (necessariamente em tempo de guerra), sujeito a condição suspensiva, não estando vencido o prazo e com ação de evicção pendente. Os casos de interrupção da prescrição ocorrerão de acordo com o art. 202, CC. É importante salientar que a interrupção pode ocorrer somente uma vez, e esta poderá ser pedida por qualquer interessado (art. 203, CC). As causas interruptivas dizem respeito a atos judiciais, e as suspensivas/impeditivas são referentes a atos não judiciais. 
De acordo com o art.193, a parte a quem aproveita pode alegar a prescrição em qualquer grau de jurisdição e em qualquer tipo de processo. Os prazos prescricionais estão previstos nos art. 205 (cláusula geral) e 206 (prazos específicos). Os prazos, em geral, são de 10 anos. 
Pretensões imprescritíveis
Em geral, todos os direitos subjetivos são prescritíveis, exceto algumas exceções. São imprescritíveis os direitos da personalidade (direito à vida, à integridade física, direito à imagem e etc), as relacionadas aos direitos das pessoas (estado de filiação, cidadania, reconhecimento de paternidade e entre outros), os bens públicos, os direitos facultativos, os que protegem o direito a propriedade, bens confiados a terceiros (como o penhor, mandato e etc) e as que anulam a inscrição do nome empresarial, fruto de uma violação da lei.
Decadência
Também denominada caducidade, a decadência, assemelha-se muito à prescrição, porém possui um caráter “mais profundo”, já que atinge o direito em sua essência. A decadência é em relação aos direitos potestativos. Portanto, a decadência é a perda do exercício de um direito potestativo, quando não exercido, através do curso de tempo. Vale lembrar que se não houver um prazo determinado em lei para o exerício de tal direito, ele não poderá decair. E, diferente, da prescrição, o prazo decadencial não se suspende, não é interrompido, porém, o art.208 trata o fato de não haver curso de prazo decadencial para os incapazes. Quanto aos prazos decadenciais, fica a dica de que, como os prazos prescricionais estão previstos nos art. 205 e 206, os demais prazos serão, obrigatoriamente decadenciais. 
Tipos de decadência
Há dois importantes tipos de decadência, a decadêcia ex vi legis e a decadência ex vi voluntaris. A decadência ex vi legis, também chamada de decadência legal, é pública e está relacionada a expressa previsão de lei, não podendo ser renunciada. Já a decadência ex voluntaris, também chamada de decadência contratual, é de ordem particular, pode ser renunciada, como por exemplo os prazos de garantia. 
Prescrição x Decadência
Devido a semelhança de fatores como a inércia do titular de um direito e o lapso temporal, há uma relativa confusão entre a prescrição e decadência que será sanada aqui. Pra iniciar a diferenciação, vale dizer que a prescrição está ligada a direitos subjetivos e disponíveis (direitos com pretensão), já a decadência está relacionada ao direito potestativo( direitos sem pretensão). Os pazos de prescrição podem sofrer suspensão e interrupção, já os prazos decadenciais não, porém estes não são aplicados contra absolutamente incapazes. Se não houver um prazo prescricional definido, aplicará o que couber no art.205, CC, já na decadência, se não houver um prazo estabelecido, este direito não poderá ser extinto. A prescrição diz respeito ao não exercício de um direito, já a decadência estabelece um prazo para o exercício do direito. A prescrição extingue a pretensão, já a decadência extingue o direito. A prescrição pode ser renunciada após a sua consumação, já com a decadência, isto não é possível. Apesar da notória semelhança,
a prescrição e a decadência são coisas distintas e não podem ser confundidas.
Por: Mylena Rocha
Fonte:
CHAVES de Farias Cristiano. ROSENVALD Nelson. Direito Civil – Teoria Geral. 7.ed. – Rio de Janeiro: Lúmen Júris Editora, 2008.

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