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Fichamento - CAP VI - Teoria formas de governo

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Universidade Federal de Santa Catarina 
Curso de graduação: Direito – 15.1 – Noturno 
Acadêmico: Andrey Lyncon Soares Bento 
Disciplina: Teoria Política 
Professor: Rogério S. Portanova 
 
Fichamento de Leitura: “A Teoria das Formas de Governo” – Norberto Bobbio 
 
Capítulo VI – Maquiavel 
 
 O “pai” da ciência política, Nicolau Maquiavel, como não poderia deixar, ganha 
um capítulo na obra de Bobbio. Foi um grande pensador político, historiador e 
diplomata italiano. Sua maior obra “O Príncipe” é usada como base para as páginas da 
obra de Norberto. 
 Bobbio começa relatando as novidades trazidas por Maquiavel no pensamento 
político e dá destaque para a nova classificação das formas de governo. Essa inovação 
da classificação das constituições já é colocada bem de fronte nas primeiras páginas da 
obra de Nicolau, o qual deixa claro que todas as formas de Estado que existem e que já 
existiram são e foram sempre repúblicas ou monarquias. Apresenta além da ideia 
inovadora, a palavra “Estado” para indicar o governo (grego – polis, romano – res 
publica). 
 Com as modificações maquiavélicas, os pensamentos clássicos são 
reorganizados para o encaixe no pensamento de Nicolau. Tal encaixe se deu 
simplificadamente entre apenas duas formas de governo: principado e repúblicas; o 
principado correspondendo ao reino/monarquia já as repúblicas as aristocracias e 
democracias; em síntese a divisão passa a ser o Estado governado por um e aquele 
governado por muitos. Tal divisão, deixa claro Bobbio, que se faz jus ao tempo que 
fora elaborada, diferentemente daquelas teorias citadas capítulos atrás por 
pensadores gregos, os quais tinham nas observações das cidades as características. 
Outra consideração da quebra da tripartição é que na novidade maquiavélica não há 
visivelmente a duplicação das formas de governo boas e más (no que se refere aos 
principados), sendo a figura do tirano como os demais. 
 Desfazendo o pensamento “polibiliano” do governo misto, Maquiavel deixa 
claro em várias partes da sua obra que o Estado só seria perfeito, e estável, quando 
fora apenas uma única constituição, a qual se apresentava apenas, ou como principado 
ou como república. “Quanto a impugnar o Estado de Cosmo, e à afirmativa de que 
nenhum Estado pode ser estável se não é um genuíno principado ou uma verdadeira 
república, porque todos os governos intermediários são defeituosos, a razão é 
claríssima: o principado só tem um caminho para a sua dissolução que é descer até a 
república; e a república só tem um meio de dissolver-se: subir até o principado. Mas os 
Estados intermediários têm dois caminhos, um no sentido do principado, outro no 
sentido da república – de onde nasce sua instabilidade”. (85 – 4 – 1) 
Após a explicação sintetizada, Bobbio levanta a hipótese da contradição 
maquiavélica em relação aos estados mistos, cujo pensamento a frente é colocado por 
terra mediante ao próprio autor designar o ponto específico em que se referia. Pois 
nem todas as formas mistas combinam, podendo ou não trazer a estabilidade ao 
estado. O citado Estado Misto criticado por Nicolau não é aquele que funde em 
“Até aqui nos ajudou o Senhor” 
2 Samuel 7:12 
 
diversas partes que transcende, e sim o da conciliação provisória não combinante de 
duas constituições. 
Classificado as constituições do Estado, Maquiavel se detém ao estudo dos 
principados assim como Bobbio. A primeira distinção efetuada no livro é entre o 
principado hereditário e principados novos; aquele de uma forma que o poder é 
transmitido com base constitucional e este ocupado por alguém que não era príncipe. 
Em relação aos principados hereditários acrescenta-se uma sub divisão: os que 
governam com poder absoluto, ou que governam com intermediação da nobreza. 
Quanto ao novos principados Nicolau sub divide-os em quatro espécies de acordo com 
a maneira diferente que se pode conquista-los: Pela virtude, pela fortuna, pela 
violência e/ou pelo consentimento dos cidadãos. Tais sub divisões podem ser 
colocadas em pares opostos como: Virtude – Fortuna, Força – Consentimento. 
Norberto trás o entendimento de cada uma na visão de Maquiavel: “Os conceitos de 
virtú (coragem, valor, capacidade, eficácia política) e de "fortuna" (sorte, acaso, 
influência das circunstâncias) têm grande importância para a concepção maquiavélica 
da história, como é sabido. Por virtú Maquiavel entende a capacidade pessoal de 
dominar os eventos, de alcançar um fim objetivado, por qualquer meio; por "fortuna", 
entende o curso dos acontecimentos que não dependem da vontade humana. 
Diríamos hoje: o "momento subjetivo" e o "momento objetivo" do movimento 
histórico. Para Maquiavel, o que se consegue realizar não depende nem 
exclusivamente da virtú nem só da "fortuna"; quer dizer: nem só do mérito pessoal 
nem apenas do favor das circunstâncias, mas de ambos os fatores, em partes iguais” 
(87 – 3 – 6) 
 Na visão maquiavélica há uma diferença substancial no que tange a duração 
entre os principados conquistados pela virtú do que aqueles conquistados pela 
fortuna. Sendo aqueles mais duradouros do que estes conquistados por circunstâncias, 
tendo a estabilidade muito menor e tendendo a desaparecer em pouco tempo. 
 Ao se examinar minuciosamente a relação da não distinção entre principados 
bons e maus, verifica-se que todos os príncipes novos são tiranos (no sentido moderno 
da palavra). “Mas, justamente porque num certo sentido todos os príncipes novos são 
tiranos, nenhum o é verdadeiramente. No contexto maquiavélico, não apresentam 
nenhuma conotação negativa. Ao contrário, os príncipes novos que conquistaram o 
poder pelo seu valor (virtú) são celebrados como fundadores de Estados, grandes 
protagonistas do desenvolvimento histórico” (88 – 2 – 5). 
 Maquiavel se preocupa mais no êxito da política de ir encontrar a estabilidade, 
dando menos importância ao caráter moral do bem ou mal. Tal distinção ajuda-o a 
diferenciar o bom e o mau tirano a respeito do seu governo, que dá o exemplo do bom 
como sendo o Agátocles, que embora tenha conquistado o poder por meios 
criminosos consegue ficar estável em seu principado. Nesse sentido a célebre frase do 
“Os fins justificam os meios” fica deveras evidente. Nicolau ainda deixa claro que 
embora bom ou mau, os tiranos são cruéis, e a diferença reside no uso de tal 
crueldade: “[...] a diferença reside no uso adequado ou não da crueldade. No primeiro 
caso, estão aqueles que usaram bem (se é que se pode qualificar um mal com a 
palavra bem), uma vez só, com o objetivo de se garantir, e que depois não persistiram 
nela, mas ao contrário a substituíram por medidas tão benéficas a seus súditos quanto 
possível. As crueldades mal empregadas são as que, sendo a princípio poucas, crescem 
com o tempo, em vez de diminuir. Os que aplicam o primeiro método podem remediar 
de alguma forma sua condição, diante de Deus e dos homens, como Agátocles. Quanto 
aos outros, não conseguem se manter” (88 – 4 – 1). 
 Um dos pontos que Bobbio também destaca é a semelhança dos textos de 
Maquiavel, dos de Políbio ao se referir aos conceitos de tipologia, forma cíclica. Ainda 
fala Norberto de partes que parecem mais traduções, mediante que se verifica os 
exemplos tomados serem iguais, Esparta e Roma. Entretanto, como já declarado 
anteriormente na obra maquiavélica, ele expõem o aspecto negativo das constituições 
boas dada a facilidade de sua degeneração devido a corrupção, igualando-as todas 
pela sua instabilidade. “Para mim, todas estas formas de governo são igualmente 
desvantajosas: as três primeiras, porque não podem durar; as três outras, pelo 
princípio de corrupção que contêm” (90 – 2 – 1) 
 Outra diferença se vê em relação a teoria dos ciclos a qual para Maquiavel não 
era infinita, já que o autor, como destaca Bobbio, é muito realista e sem hesitar dizque não encontra apoio na realidade. Em vez de retornar ao início do ciclo, ele pensa 
que o Estado estará tão fragilizado que um Estado vizinho o anexará. “Mais raramente 
se retorna ao ponto de partida, pois nenhuma república tem resistência suficiente para 
sofrer várias vezes as mesmas vicissitudes. Acontece com frequência que, no meio 
destes distúrbios, uma república, privada de conselhos e de força, é tomada por algum 
Estado visinho, governado com mais sabedoria” (91 – 1 – 1) 
 Em última exposição no capítulo, Bobbio traz a ideia maquiavélica da 
importância de que os tumultos tem em relação a elaboração e promulgação de boas 
leis em defesa da liberdade; eclodindo a ideia de que o direito da liberdade é oriundo, 
também, dos conflitos de classes, desarmonias, sendo necessário pagar este preço 
afim da manutenção da liberdade.

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