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MONOGRAFIA IGUALDADE RACIAL NO BRASIL

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1
FACULDADES INTEGRADAS HÉLIO ALONSO 
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL 
PUBLICIDADE E PROPAGANDA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
IGUALDADE RACIAL �O BRASIL.UTOPIA? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
André Meireles Gomes de Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
Maio de 2009 
 2
A�DRÉ MEIRELES GOMES DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
IGUALDADE RACIAL �O BRASIL.UTOPIA? 
 
 
 
 
 
Monografia de graduação do Curso de 
Comunicação Social, habilitação em 
Publicidade e Propaganda, apresentada 
como exigência final do curso. 
Disciplina: Projeto Experimental (2º 
semestre/2008) 
 
 
 
 
Orientador: Estanislau Felix 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro, Maio de 2009 
 
 
FACULDADES I�TEGRADAS HÉLIO ALO�SO 
 3
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A todos que me apoiaram na minha vida acadêmica, profissional e 
espiritual e que de certa forma contribuíram para que esse trabalho fosse 
concluído. 
Oxalá e meus ancestrais abençoem a todos por estarem do meu lado 
retribuindo em dobro toda força que vocês me passam. 
Axé. 
 4
Sumário 
 
1. Introdução..............................................................................................06 
2. Desenvolvimento..............................................................................12 
2.1 O Racismo e seus desdobramentos.......................................................12 
2.2 O Mito da democracia racial.................................................................18 
2.3 Mecanismos de invisibilidade...............................................................24 
2.4 Imprensa x III Conferência Mundial Contra o Racismo.......................25 
2.4.1 Cobertura sobre a CMCR: Números e Nomes...................................28 
2.5 Democracia e respeito a diversidade religiosa......................................33 
2.6 Casos de intolerância religiosa..............................................................35 
3. Conclusão...............................................................................................42 
4. Bibliografia.............................................................................................43 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 5
Resumo 
 
Nesse trabalho iremos conhecer quais mecanismos invisibilizam os 
negros e suas ações na mídia, no trabalho, no lazer, na cultura e na 
religiosidade. 
As leis que regulam essa prática e explicitar como as sutilezas do 
racismo e intolerância têm permeado as relações cotidianas de uma parcela 
expressiva da população. Leis que devem ser garantidas e cumpridas. Não 
basta criminalizar os agressores, o mais importante é educar e conscientizar 
a sociedade para que possamos conviver no espírito de paz e democracia. O 
diálogo e o conhecimento são os pontos norteadores que devemos seguir. 
O desconhecimento das conseqüências que o cerceamento desses 
direitos básicos traz ás vítimas ainda é um fator fundamental na luta contra 
o racismo, a prática do proselitismo e a discriminação propagada às "ditas" 
minorias étnicas. Através dessas informações devemos dar subsídios a 
todas as pessoas, autoridades ou não, que tomem conhecimento dessas 
práticas e busquem seus direitos de cidadão. É por isso que não basta o 
discurso da liberdade para todos, enquanto direito fundamental da pessoa 
humana. É necessário que se garanta a pluralidade de idéias e a diversidade 
cultural. 
Os pilares do Estado Democrático de Direito são o respeito, a 
liberdade e o acesso irrestrito aos direitos fundamentais. O Estado Laico, 
onde se garante a liberdade de pensamento, prevê a igualdade entre homens 
e mulheres independente de sua cor, etnia, orientação religiosa ou 
filosófica. O maior patrimônio de uma nação é a prática da solidariedade 
entre seus cidadãos. 
 
 
 6
1. Introdução 
Os navegadores portugueses encontraram, abaixo da linha do 
Equador, uma terra com um extenso litoral de praias e enseadas 
paradisíacas. Terra habitada por gentes pardas e saudáveis, contadas aos 
milhões, reunidas em famílias, tribos e “nações”: Tupi-Guarani, Tapuia, 
Tupinambá, Tamoio, Tupiniquim, Xavante, Charrua. Povos de línguas 
ágrafas, não se conhecendo ao certo de que paragens teriam vindo, e há 
quanto tempo estavam ali, conluiados com a exuberante natureza, em 
sociedades afluentes. Mas ali estavam, com seus costumes, adaptados às 
condições materiais do ambiente; com seu modo de viver e de conceber o 
mundo. 
Pelo calendário cristão, há pouco mais de quinhentos anos, esse lugar 
entrou na história de um outro lugar, mas continuou sem uma história 
própria, em que os seus antigos habitantes, os autóctones, participassem da 
narrativa na condição de sujeitos do discurso. 
Depois, aos milhões, entram em cena gentes da cor do ébano, 
trazidas da África, igualmente forçadas à amnésia delas próprias. Alguns 
séculos mais tarde, as elites intelectuais e políticas desse lugar resolvem 
contar a história da nova Nação. Concluem que não seria difícil a tarefa. 
Bastava “imaginar” e reconstituir, da frente para trás, os acontecimentos, 
reais ou não. O dia 22 de abril de 1500, data da carta de Pero Vaz Caminha 
ao rei de Portugal, é estabelecido como marco zero. Mas a narrativa teria 
que ser uniforme, sem dissonâncias que pudessem partir daqueles “homens 
pardos, todos nus”, como os viu Caminha, nem dos da cor do ébano. E 
assim foi. Uma Nação narrada como tendo um povo homogêneo, uma 
língua única, um único modo de ser, e uma única religião. Nação 
harmoniosa, sem conflitos, sem preconceitos, formada pacificamente. No 
relato, o senhor bondoso, o negro alegre, o indígena amistoso e a mulher 
 7
recatada e obediente. Como num conto de fadas. O tempo passa, e o 
paradigma social da “casa-grande” abastada, esbanjando felicidade e poder, 
e da “senzala” infecta, esbanjando sofrimento, doença e ignorância, vai 
desafiar os tempos republicanos e impor a dualidade social brasileira sob 
novos signos: mansão e barraco, condomínio e “conjunto”, colina e morro, 
“asfalto” e favela, campina e alagado, cidadão e “suspeito”. 
Na verdade, ainda sofremos os efeitos do imperialismo colonial 
europeu, que se estendeu pelo mundo acreditando-se portador da missão 
“divina” de levar civilização aos povos “primitivos”, com visão 
essencializada dos grupos humanos. Ora, é da essência dos pássaros voar, 
do peixe nadar e do escorpião aferroar, mas não é da sua essência falar, rir, 
chorar e pensar, essências humanas. Para o expansionismo europeu, 
entretanto, basear-se apenas nas essências humanas para lidar com pessoas 
e grupos não atendia aos seus propósitos. 
Era preciso inventar algumas “essências” e atribuí-las 
arbitrariamente a estes e aqueles grupos, de modo a hierarquizá-los como 
algo natural. Alguns signos se prestariam a isso com perfeição, 
notadamente os de “raça” e de “sexo”. A raça serviria para diferenciar os 
povos segundo uma hierarquia supostamente biológica, cromática, com as 
qualidades tidas por positivas situadas nos mais claros, e as tidas por 
negativas nos mais escuros. O sexo diferenciá-las-ia, segundo uma 
hierarquia referida à força, atribuindo-se ao “mais forte” (o homem) as 
qualidades da razão, do tino empreendedor e do destemor, e ao “mais 
fraco” (a mulher) as qualidades da emoção, da intuição e da resignação. 
Essências inventadas por uma mesma matriz, auto-colocada no pólo 
positivo de dicotomias fixas (homem/mulher, branco/negro, Norte/Sul), a 
saber: o “macho branco europeu”. 
 8
Entre nós, a dificuldade de dar coerência a essas invenções podeexplicar a extrema ambigüidade dos discursos narrativos da nacionalidade 
brasileira, em que convivem harmoniosamente exercícios de “mímica” dos 
valores estéticos e morais europeus, por um lado, com a exaltação de 
valores da “raça” brasileira – produto final de uma espécie de fusão físico-
químico-biológico, em que teriam desaparecido as “essências” do negro, do 
branco e do indígena – e surgido um novo tipo, aprimorado, único: o 
“brasileiro”, com características não menos ambíguas. Em princípio ele 
será incolor e desracializado (assexuado), mas poderá ser mestiço, ao 
mesmo tempo em que poderá ser ou branco, ou negro, ou indígena, 
masculino ou feminino. Assim, não sendo uma coisa nem outra, poderá ser 
todas elas, como um coringa num jogo de cartas. 
Estranhamente, contudo, depois dessa “fusão” e do ufanismo em 
torno da “mistura de raças”, metade dos brasileiros continuam a se 
apresentar ao IBGE como brancos e brancas. E o próprio IBGE mostra os 
espaços que ocupam e o que fazem brancas, pretas, pardas e índias na 
estrutura social do País. 
A intolerância religiosa tem sido uma das principais causas de 
desagregação social e de guerras no mundo. No entanto, esse não é um 
problema em si mesmo, que se circunscreva às diferenças de crença 
religiosa. É parte de um mal maior, o da intolerância etnorracial, a qual tem 
a ver com diferenças identitárias individuais e coletivas, referidas às idéias 
de etnia, “raça”, “cor”, gênero, crenças, aparência, origem etc. Intolerância 
como atitude autoritária, negativa, da parte de um indivíduo ou grupo 
humano específico em relação a outros indivíduos ou grupos considerados 
culturalmente inferiores ou “maus”. Manifesta-se sob as formas de racismo, 
machismo, homofobia, elitismo, xenofobia, intolerância política, 
intolerância religiosa. E manifesta-se igualmente contra quem defenda 
 9
idéias diferentes das defendidas por aqueles que se consideram detentores 
da verdade, dos “bons costumes” e do bom gosto. Daí, de uma mera atitude 
de desconsideração e menosprezo, a intolerância pode desdobrar-se em 
violência física quando determinado indivíduo ou grupo não consegue 
impor as suas “razões” pela persuasão discursiva e outros meios não-
violentos. 
A intolerância dos tempos presentes guarda íntima relação com o 
empreendimento colonialista, como afirmado na Declaração de Durban. A 
conquista e dominação dos povos da África, das Américas e da Ásia 
pressupunham, ademais da utilização da força das armas, a inculcação dos 
valores culturais dos dominadores europeus por diferentes vias, sobretudo a 
religião e o sistema de ensino, este fortemente influenciado por aquela. 
Uma combinação de força militar, religião e ensino (ou a negação do 
mesmo). Se a força militar responde pelo genocídio, ou seja, a eliminação 
dos corpos daqueles que se opunham à dominação, o etnocídio cuidou da 
eliminação dos valores étnicos dos povos dominados, e partiu do princípio 
de que estes poderiam ser melhorados para se ajustarem ao modelo cultural 
do dominador. Era preciso apagar da mente desses povos as suas 
lembranças, suas concepções de mundo, tradições e crenças, e os seus 
deuses. 
Não seria diferente no Brasil, colonizado pelos portugueses, e que 
teve o catolicismo como religião oficial desde os tempos de colônia de 
Portugal até a Proclamação da República, em 1889. 
É bem verdade que aqueles eram outros tempos. Tempos de 
escravidão legal e de partilha das terras do mundo. Tempos de hierarquias 
das “raças”, supostamente fundadas na natureza, vale dizer, nos desígnios 
de Deus, e em teorias tidas por científicas. Aos dominadores não faltariam 
justificativas para levar “civilização” aos povos não-europeus. Por tanto, 
 10
naqueles tempos, não era o caso de se falar em intolerância propriamente, 
como o termo é entendido hoje, e sim em opressão, pura e simplesmente. 
Hoje, no entanto, quando os princípios da igualdade entre todos os seres 
humanos e a liberdade de expressão e de culto se inscrevem na Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, nas convenções internacionais e nas 
Constituições da maioria das sociedades livres do mundo, a opressão 
precisa sofisticar-se e mascarar se, sob o manto do princípio universalista. 
De um universalismo conveniente, tomado como panacéia, utilizado como 
instrumento de negação do direito à diferença, mas, contraditoriamente, 
alinhado às perspectivas e interesses dos tradicionais detentores do poder. 
A despeito de o Brasil ser signatário da Declaração de Durban, de 
Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância 
Correlata (2001), de a Assembléia Geral da ONU, em 1981, ter proclamado 
a Declaração sobre a Eliminação de todas as Formas de Intolerância e de 
Discriminação baseadas na Religião ou Credo; de a Constituição brasileira 
estabelecer no seu Art. 5º, incisos VI e VIII, que “é inviolável a liberdade 
de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos 
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a 
suas liturgias”; e que “ninguém será privado de direitos por motivo de 
crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar 
para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir 
prestação alternativa, fixada em lei”, e no inciso XLII que “a prática do 
racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de 
reclusão, nos termos da lei”, ultimamente a intolerância religiosa vem-se 
manifestando de forma cada vez mais intensa. São manifestações 
ostensivas de menosprezo, com ofensas e, não raro, atos de violência física, 
incluindo depredações de templos e agressões a adeptos de crenças 
diferentes daquelas dos agressores. Os casos se multiplicam Brasil afora, 
 11
tendo como alvos preferenciais as religiões de matriz africana, como se 
demonstra adiante, em (b), onde são relacionados seis casos emblemáticos. 
Este texto se destina a orientar os cidadãos em geral a respeito de um 
problema que vem adquirindo conotações perigosas em nossa sociedade: a 
intolerância religiosa. Ele se desdobra do Manual de Ação Policial contra a 
Discriminação: Racial, Étnica, Religiosa, de origem ou Procedência 
Nacional, publicado em 2008 sob os auspícios do Instituto de Segurança 
Pública – ISP, da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de 
Janeiro, no qual as diferentes formas de intolerância de conotação étnico-
racial são abordadas. Naquele Manual, lê-se: 
 
“Daí a pré-condição de que a leitura do Manual seja precedida da 
aceitação, por parte do profissional, de que a discriminação 
étnico-racial entre nós é um fato, e que incumbe aos brasileiros de 
todas as cores e origens lutar contra ela, mais ainda quando esse 
brasileiro é alguém a quem o Estado atribui esse mandato. Em 
suma, o agente público da área da segurança precisa estar 
imbuído da sua dupla inserção social: como cidadão comum e 
como cidadão - operador do sistema. Na primeira condição, é 
compreensível que compartilhe preconceitos presentes na 
sociedade brasileira, fortemente marcada pelo autoritarismo e a 
hierarquia social. Porém, como agente público, deverá esforçar-se 
para discernir entre os seus preconceitos pessoais e a necessidade 
de se livrar deles. Seu compromisso há de ser com a racionalidade 
da Constituição e da Lei.” 
 
Ali a discriminação religiosa, sobretudo contra as religiões de matriz 
africana, foi realçada, da mesma forma que a discriminação contra os 
 12
judeus, tudo nos limites da Lei 7.716/89 (Lei Caó), com as modificações 
nela introduzidas posteriormente. Fazia-se necessário, todavia, em vista do 
acirramento dos ânimos provocadospor atitudes intolerantes de alguns 
setores religiosos, alargar a análise para além dos aspectos legais, a fim de 
mostrar o tamanho do problema e buscar caminhos pacíficos, do Estado e 
da Sociedade Civil, para enfrentá-lo. É o que se faz no presente texto. 
Impõe-se sublinhar que as manifestações de intolerância contra as religiões 
de matriz africana em particular, exibem altas doses de ódio e violência, 
física e simbólica, o que potencializa o sofrimento dos que insistem em 
exercitar o seu direito humano e constitucional à liberdade de culto e 
crença. 
Na terceira parte do texto, o leitor é convidado a buscar respostas 
para três perguntas fundamentais: “Em que consiste a prática da 
intolerância religiosa (e da intolerância etnorracial em geral)?; “O que fazer 
diante dos casos concretos?”; e “Como fazer?”. A compreensão das 
respostas a essas perguntas, no entanto, pressupõe o conhecimento de 
algumas informações preliminares sobre relações etnorraciais e sobre a 
nova ordem de direitos inaugurada pela Constituição de 1988, para o que 
foram concebidas a primeira e a segunda partes. 
 
2. Desenvolvimento 
2.1 O Racismo e seus desdobramentos 
Neste início de século, parece não haver dúvidas sobre a 
consolidação do movimento negro no cenário das lutas sociais do Brasil. 
Seu combate contra o racismo, chega ao século XXI de modo bastante forte 
e atuante. Numa demonstração de importância em relação ao conjunto dos 
movimentos sociais. Graças a isso, a discriminação racial, que é um dos 
principais problemas estruturais da nação brasileira, ganhou uma ampla 
 13
visibilidade social. O que, de certa forma, forçou mais uma vez o debate 
sobre a questão racial no Brasil e a situação subalterna dos negros. 
Entretanto, esse avanço não se deu de modo harmônico e consensual 
internamente. Em muitos momentos o próprio movimento negro demonstra 
fragilidades em relação á sua unidade. Principalmente sobre a questão que 
envolve a relação classe/raça. De um lado, existem setores defensores de 
uma luta anti-racismo desvinculada com a questão de classe, já que para 
eles, no Brasil o elemento determinante para a situação social de um 
indivíduo é muito mais racial do que classista. De outro, argumentam que 
no Brasil, assim como em qualquer outro país capitalista, a situação de 
classe interfere diretamente nas questões raciais. E neste sentido, a luta 
anti-racismo deve ser vinculada á luta de classes. 
Claro que essas duas posições, que permeiam muitos dos debates 
internos do movimento negro, não parecem ser simples de solução. Tanto 
uma quanto a outra, apresentam boas argumentações, com diversos 
exemplos coerentes e legítimos. Todavia, ao invés de caminharem para 
uma posição consensual, elas assumem, quase sempre, a forma da 
polarização-oposição. Demonstrando que classe e raça não são elementos 
fáceis de conciliação. A pergunta que se pode fazer é: quais são os motivos 
para a existência dessa polarização interna no movimento negro? 
Florestan Fernandes foi um dos principais autores brasileiros a se 
defrontar com essa questão. Sendo que para ele a união desses dois 
elementos era fundamental para uma luta eficaz do movimento negro. 
Encarregado de fazer um estudo sobre os negros no Brasil para a 
UNESCO, Florestan, em 1951, passou a pesquisar a relação raça e classe 
em São Paulo. Nesta ocasião, lançou-se ao confronto da idéia de que no 
Brasil existia uma "democracia racial", fundamentada por Gilberto Freire. 
 14
Para o escritor baiano, a harmonia racial seria a contribuição brasileira para 
as relações sociais de outros povos. 
Por um lado, esse conflito poderia até ser justificado caso os negros 
da sociedade brasileira estivessem inseridos nas diversas classes sociais de 
modo equilibrado, sem grandes assimetrias. Pois assim, não haveria como 
argumentar que o racismo é praticado independentemente da classe social. 
Isso poderia até acontecer, quer dizer, haver práticas racistas independente 
da condição de classe dos negros. Talvez, os Estados Unidos seja um bom 
exemplo disso. Mesmo que a eliminação do fator classe, ainda sim, seja 
arriscada. Todavia, essa não é a realidade do Brasil. A grande maioria dos 
negros brasileiros está inserida nas classes subalternas. E isso não é, de 
maneira alguma, uma novidade. Portanto, como não envolver a classe 
social na questão do racismo? 
Por outro lado, a situação do negro brasileiro foi, por um bom tempo, 
desmerecida pelo movimento comunista. O próprio Partido Comunista 
Brasileiro, defendia a tese de que a questão do racismo era uma questão 
puramente de classe. Tal postura, certamente, acabou distanciando o 
movimento negro das lutas de cunho classista. Mesmo que em muitos casos 
essa grande parte da população estivesse inserida na estrutura da classe 
operária, ela não se sentia representada pelos órgãos comunistas na luta 
anti-racismo. As privações que o negro sofria eram vistas apenas sob o 
angulo do interior da fábrica, desconsiderando todo o aspecto repressivo 
lançado pela cultural racista da sociedade. 
De certa maneira, o que acontece nos dias atuais referentes á recusa 
de parte do movimento negro em considerar a questão de classe, 
assemelha-se ao que o movimento comunista fez tempos antes com a luta 
do negro. Partindo das reflexões de Florestan, ambos, estiveram ou estão 
em direções equivocadas. Para ele, no Brasil classe e raça são dois 
 15
elementos explosivos e revolucionários e que por isso devem ser unidos. 
Simbolicamente o 1º de maio dia do trabalho e 20 de novembro dedicado a 
Zumbi, representam os laços econômicos, morais e políticos que prendem 
os oprimidos entre si e subordinam todas as suas causas a uma mesma 
bandeira revolucionária. Assim, os comunistas devem saber que o 
"preconceito e a discriminação raciais estão presos a uma rede da 
exploração do homem pelo homem e que o bombardeiro da identidade 
racial é prelúdio ou o requisito da formação de uma população excedente 
destinada, em massa, ao trabalho sujo e mal pago..."1 
A questão exposta pelo autor está centrada na idéia de que o operário 
negro necessita superar dois tipos de ideologias que as classes dominantes 
do capitalismo criaram. A primeira corresponde á idéia de que o pobre não 
se torna rico devido tanto á sua vida mundana, quanto á falta de parcimônia 
com relação aos seus ganhos. A segunda relaciona-se á idéia de que os 
negros fazem parte de uma raça inferior, não dotada de razão e civilidade, 
em relação aos brancos. Então o negro operário dos dias atuais carrega nas 
costas o peso de duas fortes ideologias, produzidas pelo capital, a de que 
ele é "mundano" e "inferior". 
Assim, os negros possuem uma tarefa dupla, a de desvendar os 
motivos pelos quais são operários e também pelos quais são submetidos ao 
racismo pelas elites em geral, mas fundamentalmente a branca. Tais 
reivindicações fazem parte de um profundo e amplo projeto de nação 
realmente revolucionário, pois tem como objetivo desmistificar a realidade 
criada pelas elites do Brasil. Portanto, os negros têm como tarefa "limpar" 
da nação brasileira parte significativa das formas estranhadas de entender a 
sua sociabilidade. E neste sentido, um dos primeiros obstáculos a ser 
superado corresponde á teoria da existência de uma "democracia racial". 
 16
Para Florestan, a desmistificação dessa idéia de convivência pacífica 
entre as raças no Brasil, deveria ser um dos primeiros passos que o 
movimento negro deveria dar como forma de fortalecimento. Em seguida, 
ele deveria construir um movimento de oposição á ideologia dominante, 
criando assim suas bases político-culturais de combate não apenas aoracismo, mas também ao capitalismo. Na verdade, sua luta deve ser 
canalizada para a conquista de uma "Segunda Abolição" que parta de baixo 
para cima, ao contrário da Primeira. Combatendo além da elite branca, 
também a pequena camada privilegiada negra. Esse pequeno grupo de 
negros que passou a integrar as camadas médias, que segundo Florestan são 
os "novos negros", devem ser combatidos uma vez que, alcançado o 
conforto da vida burguesa, eles passaram a rejeitar e satanizar o movimento 
negro perante a sociedade. Tal processo de ida de alguns negros para as 
classes privilegiadas teve início na década de 1940, aprofundando-se 
posteriormente. O "novo negro", na verdade, buscava a igualdade social 
por meio de um processo pacífico e gradual. Voltando-se para os interesses 
pequeno-burgueses e prontos a excluir de suas relações os "negros 
inferiores". Assim, a luta contra a subordinação do movimento passou a 
ficar em mãos exclusivas da grande maioria oprimida. Aqui fica evidente 
que a chamada "democracia racial" não teve como alvo apenas as classe 
dominantes, em sua maioria branca, seus propósitos ideológicos também 
penetraram de modo devastador entre os negros. Em conseqüência, 
percebe-se o aprisionamento de parte desses indivíduos em certos 
paradoxos que conduzem á negação de si próprio. Não conseguindo se ver 
como de fato são vistos pelos brancos. 
De modo breve, essas são algumas questões postas por Florestan 
Fernandes que podem ajudar sobre a questão aqui posta, que é o de 
ressaltar algumas determinações da relação raça/classe no interior do 
 17
movimento negro. Mesmo que Florestan tenha feito essas análises no final 
da década de 1980, suas idéias permanecem instigando e contribuindo para 
se pensar novas táticas teórico-políticas. De certa forma, suas idéias ainda 
podem ajudar a entender o papel social e histórico que o movimento negro 
tem numa sociedade capitalista como a brasileira. Também fornecem 
elementos que desmistificam a polarização-oposição estrutural entre classe 
operária/movimentos sociais, deixando clara a existência de equívocos de 
ambos os lados. Em outras palavras, para o autor, a estrutura da classe 
operária brasileira é composta não somente pela questão social, mas 
também pela questão racial, o que concretiza a particularidade da luta de 
classes no Brasil. E neste sentido, tenta traduzir suas especificidades 
nacionais em luta radical, buscando a particularidade do processo de 
inovação social em âmbitos brasileiros. 
Mesmo que o crescimento do movimento negro esteja assentado, 
fundamentalmente, sobre lutas raciais específicas - ou seja, em equívocos 
anteriores e bastante caros a ele, graças ao isolamento social provocado - 
estruturalmente raça e classe no Brasil estão intimamente ligadas. 
E as sugestões dadas por Florestan contribuem para se entender os 
motivos nos quais repousam essa polarização-oposição entre classe/raça 
presente no interior desse movimento. Primeiro pela recusa dos comunistas 
em tratarem a questão racial em suas verdadeiras dimensões. Segundo pela 
"cooptação" de certa parte dos negros ao universo ideológico das elites. Ao 
que parece, a junção desses dois fatores criaram o que hoje é facilmente 
percebível nos debates do movimento negro sobre a relação classe/raça. 
Portanto, as tarefas desse movimento parecem ser muito mais 
complexas do que se possa imaginar, á medida que trava uma batalha tanto 
externa contra as desigualdades sociais e raciais, quanto interna para buscar 
uma unidade de grupo realmente definido e coeso perante a sociedade. Ao 
 18
que tudo indica, o solução de uma está intimamente ligada ao caráter da 
outra. Neste sentido, as formas assumidas pela luta política-ideológica 
estão ligadas aos rumos teóricos pelos quais a relação raça/classe se 
desenvolveram. 
 
2.2 O Mito da democracia racial 
Os mitos existem para esconder a realidade. Por isso mesmo, eles 
revelam a realidade íntima de uma sociedade ou de uma civilização. Como 
se poderia no Brasil colonial ou imperial acreditar que a escravidão seria, 
aqui, por causa de nossa "índole cristã", mais humana, suave e doce que em 
outros lugares? Ou, então, propagar-se, no século 19, no próprio país no 
qual o partido republicano preparava-se para trair simultaneamente a 
ideologia e a utopia republicanas, optando pelos interesses dos fazendeiros 
contra os escravos, que a ordem social nascente seria democrática? Por fim, 
como ficar indiferente ao drama humano intrínseco à Abolição, que largou 
a massa dos ex-escravos, dos libertos e dos ingênuos à própria sorte, como 
se eles fossem um simples bagaço do antigo sistema de produção? 
Entretanto, a idéia da democracia racial não só arraizou. Ela se tornou um 
mores, como dizem alguns sociólogos, algo intocável, a pedra de toque da 
"contribuição brasileira" ao processo civilizatório da Humanidade. 
Ora, a revolução social que se vincula à desagregação da produção 
escravista e da ordem social correspondente não se fazia para toda a 
sociedade brasileira. Os seus limites históricos eram fechados, embora os 
seus dinamismos históricos fossem abertos e duráveis. Naqueles limites, 
não cabiam nem o escravo e o liberto, nem o "negro" ou o "branco pobre" 
como categorias sociais. Tratava-se de uma revolução das elites, pelas 
elites e para as elites; no plano racial, de uma revolução do Branco para o 
Branco, ainda que se tenha de entender essa noção em sentido etnológico e 
 19
sociológico. Colocando-se a idéia de democracia racial dentro desse vasto 
pano de fundo, ela quer dizer algo muito claro: um meio de evasão dos 
estratos dominantes de uma classe social diante de obrigações e 
responsabilidades intransferíveis e inarredáveis. Daí a necessidade do mito. 
A falsa consciência oculta a realidade e simplifica as coisas. Todo um 
complexo de privilégios, padrões de comportamento e "valores" de uma 
ordem social arcaica podia manter-se intacto, em proveito dos estratos 
dominantes da "raça branca", embora em prejuízo fatal da Nação. As elites 
e as classes privilegiadas não precisavam levar a revolução social à esfera 
das relações raciais, na qual a democracia germinaria espontaneamente... 
Cinismo? Não! A consciência social turva, obstinada e mesquinha dos 
egoísmos enraizados, que não se viam postos à prova (antes, se protegiam) 
contra as exigências cruéis de uma estratificação racial extremamente 
desigual. 
Portanto, nem o branco "rebelde" nem a República enfrentaram a 
descolonização, com a carga que ela se impunha, em termos das estruturas 
raciais da sociedade. Como os privilégios construídos no período 
escravista, estas ficam intocáveis e intocadas. Mesmo os abolicionistas, de 
Nabuco a Patrocínio, procuram separar o duro golpe do abolicionismo do 
agravamento dos "ódios" ou dos "conflitos" raciais. Somente Antonio 
Bento perfilha uma diretriz redentorista, condenando amargamente o 
engolfamento do passado no presente, através do tratamento discriminativo 
e preconceituoso do negro e do mulato. Em consequência, o mito floresceu 
sem contestação, até que os próprios negros ganharam condições materiais 
e intelectuais para erguer o seu protesto. Um protesto que ficou ignorado 
pelo meio social ambiente, mas que teve enorme significação histórica, 
humana e política. De fato, até hoje, constitui a única manifestação 
autêntica de populismo, de afirmação do povo humilde como gente de sua 
 20
autoliberação. O protesto negro se corporificou e floresceu na década de 
trinta, irradiando-se pouco além pela década subsequente. Foi sufocado 
pela indiferença dos brancos, em geral; pela precariedade da condição 
humana da gente negra; e pela intolerânciado Estado Novo diante do que 
fosse estruturalmente democrático. 
O principal feito do protesto negro configura-se na elaboração de 
uma contra-ideologia racial. Por um jogo dialético, o farisaísmo do branco 
rico e dominante era tomado ao pé da letra: e o liberalismo vazio, acima de 
tudo, via-se saturado em todos os níveis. O negro assume o papel do 
burguês conquistador (ou do "notável" iluminista) e comporta-se como o 
paladino da causa da democracia e da ordem republicana. Não era 
propriamente um teatro popular, que se montava com o Tribunal dos justos. 
Porém, tudo se desenrola através de dois planos, por meio dos quais o jogo 
cênico e a realidade se interpenetram. O que resulta é uma cabal e 
indignada desmistificação: na lei, a ordem é uma; nos fatos, é outra; na 
consciência, as variações não são registradas. O negro desmascara e, ao 
mesmo tempo em que ergue a sua denúncia e mostra a sua ira, exige uma 
Segunda Abolição. Em suma, clama por participar da revolução social que 
não o atingiu, levantando o véu de uma descolonização que ficara 
interrompida desde a Proclamação da Independência e indicando sem 
subterfúgios os requisitos sinequanon da democracia racial. O protesto se 
confinara à ordem estabelecida. Mas era autêntico e revolucionário, pois 
exigia a plena democratização da ordem republicana - através das raças 
contra os preconceitos e privilégios raciais. 
A eclosão liberal de após Segunda Guerra Mundial não liberou as 
forças sociais que alimentaram o protesto negro. Ao contrário, este refluiu e 
apagou-se, enquanto as energias da gente negra forçavam a democratização 
e a igualitarização progressiva pelos subterrâneos da porosidade de uma 
 21
sociedade capitalista em crescimento desigual. O talento negro condena-se 
à seleção ao acaso, à venda no mercado e às duas regras da acefalização das 
raças dominadas, perdidas nas classes subalternas. O novo negro, que se 
afirma como categoria social, e assusta o branco conformista, 
tradicionalista ou autoritário, não constitui um rebento do protesto negro, 
mas da luta pela vida e do êxito na competição inter-racial numa sociedade 
de classes multi-racial. Por aí, a modernização generaliza-se às elites em 
formação do meio negro e cria um "novo começo" que procurei descrever 
sob alguns de seus aspectos mais importantes ou fascinantes. 
Essa evolução faz com que, em pleno fim do século, a 
descolonização não tenha penetrado profundamente na esfera das relações e 
das estruturas raciais da sociedade brasileira. No último censo em que o 
levantamento racial foi contemplado, o de 1950, os números demarcavam 
que o desenvolvimento desigual era ainda mais desigual no que diz respeito 
à estratificação racial. De Norte a Sul, dos Estados tidos como 
"tradicionalmente mais democráticos" aos que foram contemplados como 
representativos de um "racismo importado", prevalece a mesma tendência 
estrutural à extrema desigualdade racial - à centralização e à concentração 
raciais da riqueza, do prestígio social e do poder. Tanto a estrutura 
ocupacional quanto a pirâmide educacional deixam uma participação 
ínfima para o negro e o mulato, assinalando uma quase-exclusão e uma 
marginalização sistemática e desvendando, inclusive, que, na luta pelas 
oportunidades tão desiguais e sonegadas, há uma desigualdade adicional 
entre o negro e o mulato (pois este vara relativamente melhor várias das 
barreiras raciais camufladas). 
Os fatos e não as hipóteses, confirmam que o mito da democracia 
racial continua a preencher as funções de um retardador das mudanças 
estruturais. As elites que se apegaram a ele numa fase confusa, incerta e 
 22
complexa de transição do escravismo para o trabalho livre continuam a usá-
lo como expediente para "tapar o sol com a peneira" e de autocomplacência 
valorativa. Pois consideremos: o mito - não os fatos - permite ignorar a 
enormidade da preservação de desigualdades tão extremas e desumanas 
como são as desigualdades raciais no Brasil; dissimula que as vantagens 
relativas "sobem" - nunca "descem" - na pirâmide racial; e confunde as 
percepções e as explicações - mesmo as que se têm como "críticas", mas 
não vão ao fundo das coisas - das realidades cotidianas. 
Onde não existe sequer democracia para o dissidente branco de elite 
haveria democracia racial, democracia para baixo, para os que descendem 
dos escravos e libertos negros ou mulatos? Poderia existir democracia 
racial sem certas equivalências (não digamos igualdades) entre todas as 
raças? 
A tenacidade do mito e a importância de suas funções para a 
"estabilidade da ordem" exigem uma reflexão política séria. De um lado, 
fica patente que o negro ainda é o fulcro pelo qual se poderá medir a 
revolução social que se desencadeou com a Abolição e com a proclamação 
da República (e que ainda não se concluiu). De outro, é igualmente claro 
que, no Brasil, as elites não concedem espaço para as camadas populares e 
para as classes subalternas. Estas têm de conquistá-lo de tal forma que o 
avanço apareça como "fato inevitável e consumado". O que quer dizer que, 
em sua tentativa de desmascaramento e de auto-afirmação, o protesto negro 
antecipou a substância da realidade histórica do presente que estamos 
enfrentando com tantas angústias e sobressaltos. Cabe às classes 
subalternas e às camadas populares revitalizar a República democrática, 
primeiro, para ajudarem a completar, em seguida, o ciclo da revolução 
social interrompida, e, por fim, colocarem o Brasil no fluxo das revoluções 
socialistas do século 20. O que sugere a complexidade do formoso destino 
 23
que cabe ao negro na cena histórica e no vir a ser político. A revolução da 
qual ele foi o motivo não se concluiu porque ele não se converteu em seu 
agente e, por isso, não podia levá-la até o fim e até ao fundo. Hoje, a 
oportunidade ressurge e o enigma que nos fascina consiste em verificar se o 
negro poderá abraçar esse destino histórico, redimindo a sociedade que o 
escravizou e contribuindo para libertar a Nação que voltou as costas à sua 
desgraça coletiva e ao seu opróbrio. 
Essa interpretação global contém uma mensagem clara aos 
companheiros que tentam refundir e reativar o protesto negro. É preciso 
evitar o equívoco do "branco de elite", no qual caiu a primeira 
manifestação histórica do protesto negro. Nada de isolar raça e classe. Na 
sociedade brasileira, as categorias raciais não contêm, em si e por si 
mesmas, uma potencialidade revolucionária. De onde vinha o temor dos 
brancos, nos vários períodos escravistas? Do entroncamento entre 
escravidão e os estoques raciais dos quais eram retirados os contingentes 
que alimentavam o trabalho escravo. Essa superposição ou paralelismo 
(como a descreveu Caio Prado Junior) ou essa estrutura simultaneamente 
racial e social conferia ao escravo a condição do "vulcão que ameaçava a 
sociedade". A realidade histórica de hoje não é a mesma. Não obstante, 
desvinculada da estrutura de classes da sociedade brasileira atual, da 
marginalização secular que tem vitimado o negro nas várias etapas da 
revolução burguesa e da exploração capitalista direta ou da espoliação 
inerente à exclusão, os estoques raciais perdem o seu terrível potencial 
revolucionário e dilui-se o significado político que o negro representa como 
limite histórico da descolonização (negativamente) e da revolução 
democrática (positivamente). Portanto, para ser ativada pelo negro e pelo 
mulato, a negação do mito da democracia racial no plano prático exige uma 
 24
estratégia de luta política corajosa, pela qual a fusão de "raça" e "classe" 
regule a eclosão do Povo na história. 
 
2.3 Mecanismos de invisibilidade 
Discutiras dinâmicas da mídia frente às questões de raça e 
etnicidade é, em grande medida, discutir as matrizes do racismo no Br asil. 
Os meios de comunicação são, por assim dizer, um caso-modelo de 
reprodução da nossas relações raciais. 
Tanto quanto na sociedade, ou até mais intensamente, prevalecem 
nos meios de comunicação ainda que combinados a outros mecanismos os 
dispositivos da denegação, do recalque, do silêncio e da invisibilidade, O 
racismo não se reproduz na mídia (nem, via de regra, em outros âmbitos da 
sociedade brasileira) através da afirmação aberta da inferioridade e da 
superioridade, através da marca da racialização, ou de mecanismos 
explícitos de segregação. O racismo tampouco se exerce por normas e 
regulamentos diferentes no tratamento de brancos e negros e no tratamento 
de problemas que afetam a população afrodescendente. As dinâmicas de 
exclusão, invisibilização e silenciamento são complexas, híbridas e sutis 
ainda que sejam decididamente racistas. 
Além de ser um caso exemplar dos mecanismos de reprodução das 
relações raciais, a mídia desempenha um papel central e único na produção 
e manutenção do racismo. Através dos meios de comunicação, 
especialmente dos meios de massa, como a televisão e o rádio, as 
desigualdades raciais são naturalizadas, banalizadas e muitas vezes 
racionalizadas. Em grande medida, através da mídia de massa as 
representações raciais são atualizadas e reificadas. E dessa forma, como 
“coisas”, circulam como noções mais ou menos comuns a toda a sociedade 
e como idéias mais ou menos sensatas. 
 25
A mídia tem ainda, por sua presença na vida brasileira e também por 
sua proximidade com a cultura e as artes, uma terceira característica 
importante no debate sobre o racismo e sobre os caminhos brasileiros para 
a sua superação. Os meios de comunicação são, ao mesmo tempo, 
instrumentos poderosos de criação e veiculação de paradigmas alternativos. 
Nenhum processo cultural de superação do racismo, de combate aos 
estereótipos e de luta contra a discriminação será realizado sem os jornais, 
a televisão, as artes e a música. 
Por essa centralidade e a despeito de ter sido até recentemente pouco 
explorada pela militância anti-racista, a mídia tende a ter cada vez mais, na 
sociedade brasileira, um papel vital na construção de saídas capazes de 
reduzir a exclusão racial. 
 
2.4 Imprensa x III Conferência Mundial Contra o Racismo 
A mídia costuma ser um lugar privilegiado na criação do que se 
chamou “estados de opinião”, onde os discursos circulam e definem 
sujeitos. O horizonte cognitivo da maioria da população é determinado, 
quase completamente, pelo conteúdo veiculado nos meios de comunicação. 
Como principal espaço de construção simbólica, a mídia chega a ter 
uma relevância social e um poder de influência sem precedentes, chegando 
inclusive a determinar uma nova forma de exclusão social que afeta 
diferentes segmentos sociais como negros, mulheres, indígenas, através ou 
da veiculação de imagens estereotipadas, folclorizadas, como também 
deturpadas em seus conteúdos, ou da sua invisibilização. 
As representações hegemônicas se constituem em hierarquias sociais 
legitimadas pelas diferenças, transformadas em desigualdades e a 
estigmatização do diferente que, invariavelmente nos leva a ver o outro 
como um estranho,“colocando-o no seu devido lugar”. 
 26
E qual seria o lugar do negro brasileiro na sociedade da informação? 
Conforme Bernardo Ajzenberg, ombudsman da Folha de São Paulo, 
em seu artigo “Os invisíveis”2 a discriminação racial “... continua como 
tema tabu, sob disfarce, de há muito desmascarado, da suposta democracia 
racial. E não configuraria exagero afirmar que o seja justamente pelo grau 
de exclusividade que carrega. Com raríssimas exceções, o racismo e suas 
mazelas não freqüentam as pautas diárias, estão alijados de qualquer 
iniciativa regular e permanente”. É importante notar que estamos falando 
de 45% da população brasileira, a segunda maior população negra fora da 
África, super-representada nos índices de exclusão e sub-representadas nos 
espaços de poder, onde os meios de comunicação são altamente 
representativos. 
Nesse contexto, a Conferência Mundial contra o Racismo 
apresentava-se como um momento privilegiado para análise do 
comportamento da mídia diante desses temas considerados tabus pela 
sociedade. 
Criada pelas Nações Unidas, a Conferência Mundial contra o 
Racismo, a Xenofobia e formas correlatas de Intolerância tinha por objetivo 
rever os progressos alcançados na luta contra o racismo, a discriminação 
racial a xenofobia e intolerâncias correlatas, particularmente desde a 
adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Tratava-se de uma 
importante oportunidade de chamar a atenção da comunidade internacional 
sobre essas questões e ampliar o compromisso político com vistas à 
definição de um novo enfoque na luta contra o racismo para o próximo 
milênio. 
Ao trazer para a pauta política muitas das contradições que 
atravessaram o mundo globalizado, a III CMCR se constituía na grande 
oportunidade de analisarmos o tratamento dado pela mídia impressa a essas 
 27
questões, procurando compreender os vários papéis culturais construídos 
pelo imaginário social que alimenta e se alimenta desses discursos. 
Para mensurar e analisar o comportamento da mídia imprensa em 
relação à III Conferência Mundial contra o Racismo, a Articulação de 
ONGs de Mulheres Negras Brasileiras decidiu desenvolver um projeto de 
monitoramento da mídia que tinha por principal acompanhar e divulgar a 
cobertura que a imprensa escrita brasileira realizou sobre a CMCR. 
O Projeto de Monitoramento da cobertura da imprensa escrita sobre a 
Conferência Mundial contra o Racismo foi financiado pela Fundação Ford, 
teve a coordenação geral de Nilza Iraci, a coordenação executiva de Marisa 
Sanematsu e contou, ainda, com a colaboração de Maria José Faria Torres 
na execução dos clippings. 
O principal objetivo do projeto de monitoramento foi acompanhar e 
divulgar a cobertura que a imprensa escrita brasileira realizou sobre a 
CMCR. Foi desenvolvido de 25 de agosto a 21 de setembro de 2001, 
perfazendo um total de 36 dias de trabalho, que envolveram as seguintes 
atividades: discussão e definição das variáveis/categorias que nortearam o 
trabalho de leitura, seleção e cadastramento de matérias no banco de dados, 
elaboração do banco de dados, utilizando-se o software estatístico SPSS for 
Windows, cadastramento de matérias, emissão de gráficos/relatórios, 
elaboração de projeto gráfico e proposta de conteúdo para o informativo 
eletrônico, cadastramento de e-mails em catálogo de endereços eletrônicos 
(+ de 1.500), clipping, leitura e seleção das matérias veiculadas nos jornais 
e revistas e Redação e envio de boletins eletrônicos. O monitoramento dos 
jornais e revistas estendeu-se de 25 de agosto a 14 de setembro (total de 21 
dias), compreendendo os seguintes períodos: 25 a 31 de agosto: semana 
que antecedeu a Conferência; 1 a 7 de setembro: semana de realização da 
Conferência e 8 a 14 de setembro: semana posterior à Conferência. 
 28
Os resultados desse monitoramento eram publicados através de 
Boletins eletrônicos (8 edições), que foram distribuídos via correio 
eletrônico para todo o país e América Latina: edição de 25 a 31 de agosto, 
contendo uma avaliação sobre a cobertura na semana que antecedeu a 
Conferência (clima/expectativas); e 7 edições diárias, entre os dias 1 e 8 de 
setembro, contendo resumos e comentários sobre a cobertura realizada 
durante a Conferência e uma edição final contendo uma análise desse 
monitoramento. 
Enviados diariamentea mais de 1.500 e-mails, os boletins 
eletrônicos, continham resumos e comentários sobre a cobertura e 
divulgavam informações atualizadas acerca das principais discussões que 
estavam ocorrendo durante a conferência mundial e informavam e 
informavam a/os interessada/os que não estavam presentes em Durban, mas 
também serviram de fonte de informação para as centenas de brasileiros 
que participavam da Conferência. Suas edições diárias eram copiadas e 
circulavam entre ativistas, jornalistas além da delegação oficial do governo 
brasileiro, que podiam dessa forma acompanhar os debates sobre a 
Conferência e sua repercussão na mídia brasileira. 
 
2.4.1 Cobertura sobre a CMCR: �úmeros e �omes 
Pontos positivos: Uma cobertura ampla, regular e com destaque 
Pontos negativos: Omissões e maniqueísmo 
 
De 25 de agosto a 14 de setembro de 2001, o Projeto de 
Monitoramento acompanhou a cobertura sobre a Conferência Mundial 
Contra o Racismo realizada pelos jornais diários Correio Braziliense, O 
Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil e 
pelas revistas semanais Época, IstoÉ e Veja. 
 29
A partir do acompanhamento contínuo e sistematizado desses 
veículos de imprensa de circulação nacional, foi possível compreender 
alguns aspectos cruciais sobre o processo de construção do noticiário pela 
mídia impressa, como a recorrência de fontes especializadas, alguns 
enfoques preferenciais, a lógica editorial que determinou ênfases e 
supressões, as manifestações do público-leitor, entre outros. 
Durante o período monitorado, a Conferência Mundial contra o 
Racismo freqüentou com regularidade as páginas dos principais jornais e 
revistas do país. A cobertura realizada pela imprensa caracterizou-se 
também pela significativa quantidade de espaço e pelo destaque editorial 
dedicado à Conferência e a alguns dos temas em debate, com especial 
ênfase na semana de realização da cúpula em Durban. 
Segundo o banco de dados desta pesquisa, de 24 de agosto a 14 de 
setembro os oito veículos monitorados publicaram 458 matérias 
apresentando como assunto principal a CMCR ou temas nela debatidos, tais 
como políticas afirmativas ou de reparação para negros, ou os impasses 
gerados pela falta de consenso sobre a menção aos conflitos travados no 
Oriente Médio (sionismo, palestinos, posicionamento dos EUA etc.). 
Das 458 matérias publicadas, 178 (ou 39%) trataram especificamente 
da questão das políticas afirmativas, com destaque para a proposta de 
implantação de cotas para negros em universidades ou cargos públicos. 
Dessas 178 matérias, 56 eram informativas e 122 eram opinativas, o que 
evidencia como a questão gerou debate e estimulou a manifestação do 
posicionamento da sociedade. Por outro lado, isso demonstra também que 
boa parte da cobertura sobre Durban concentrou-se no tema das ações 
afirmativas, embora outros temas importantes também tenham sido 
debatidos e não receberam igual destaque. 
 30
Considerando-se o total de 458 matérias publicadas ao longo de 22 
dias, nas 119 edições dos oito veículos de imprensa monitorados, chega-se 
a uma média de 3,85 matérias por edição, ou quase 21 por dia. Somando-se 
o espaço total que elas ocuparam (26.712 cm coluna), constata-se que 
foram veiculadas mais de 86 páginas de jornal no formato standard, que 
abordaram exclusivamente as questões debatidas durante a CMCR. Assim, 
é possível afirmar que o tema freqüentou com regularidade as páginas 
desses jornais durante as três semanas, sendo objeto de uma ampla 
cobertura. 
A análise apresentada a seguir buscará mostrar como, embora 
caracterizada por um grande volume de matérias, a cobertura da imprensa 
sobre a conferência de Durban deu pouco destaque a alguns eventos, omitiu 
algumas discussões e concentrou-se em algumas questões mais polêmicas. 
Dentre os principais atores sociais que participaram da cobertura, 
destacaram-se além dos próprios jornais e jornalistas ministras, diplomatas, 
pesquisadores/as e ativistas dos movimentos sociais. 
Na semana que antecedeu a CMCR (25 a 31 de agosto), foram 
publicadas 170 matérias; na semana da CMCR (1 a 7 de setembro), 214; e 
na semana posterior (8 a 14 de setembro), 74 matérias. Cabe observar que, 
com os atentados ocorridos nos Estados Unidos em 11 de setembro, a 
cobertura sobre a repercussão da conferência foi bastante prejudicada, com 
os ataques tomando por completo os espaços no noticiário internacional. 
Participaram da Conferência Mundial 2.500 representantes de 170 
países, incluindo 16 chefes de Estado, 58 ministras de relações exteriores e 
outras 44 ministras. Foram credenciadas cerca de 4.000 representantes de 
ONGs e mais de 1.300 jornalistas. 
Representantes de 146 países fizeram discursos nas sessões plenárias 
que aconteceram durante a conferência. Cerca de 80% das oradores/as eram 
 31
homens. Das representes de 125 ONGs que discursaram nas plenárias, 60% 
eram mulheres. 
A Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a 
Xenofobia e a Intolerância Correlata, promovida pela ONU em Durban 
(África do Sul), começou em 31 de agosto e terminou no dia 8 de setembro, 
com um dia de atraso. Ao final dos trabalhos, foram produzidos dois 
documentos: uma declaração de princípios e um plano de ação contra o 
racismo. 
Embora seja recomendada a todos os países-membros da ONU, a 
aplicação dos dois textos não é obrigatória. Segundo avaliação da imprensa 
monitorada, o consenso exigido para a aprovação dos documentos saiu 
enfraquecido: apenas 99 dos 173 países que participaram do encontro 
acompanharam a sessão plenária final. Além disso, cerca de dez países 
apresentaram restrições aos documentos, que serão incluídas no relatório 
final. A alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Mary Robinson, 
disse ser normal que os documentos finais contenham reservas. "Cada um 
quer que se fale de si mesmo, mas a conferência tem de falar pelo todo", 
afirmou. 
Na semana que se seguiu à conferência, os atentados ocorridos nos 
EUA tomaram conta do noticiário internacional, deixando pouco espaço 
para as repercussões sobre os resultados de Durban. Após o dia 11 de 
setembro, o volume de matérias sobre a Conferência ou os temas debatidos 
em Durban diminuiu sensivelmente e o tom das várias das matérias 
publicadas pela imprensa monitorada decretaram o fracasso da conferência 
de Durban. 
Nas reportagens que apresentaram comentários e repercussões sobre 
a conferência, algumas das expressões mais recorrentes foram “conferência 
 32
marcada pela intolerância”, “oportunidade perdida”, “decepcionante” e 
“desapontador”. 
Nesse período, os principais assuntos noticiados e debatidos nos 
jornais e revistas em relação à conferência foram: 
“Faltou preparo de todas as pessoas envolvidas. Não houve avanço 
em quase nada, muito do que foi dito aqui já está na Declaração dos 
Direitos Humanos. Faltaram medidas concretas”, afirmou à Folha Ravi 
Nair, professor da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos. Para Nair, a 
questão do Oriente Médio deveria ter sido tratada do ponto de vista dos 
direitos humanos, com uma menção à situação dos palestinos. “Mas o que 
houve foi um embate político, com países lutando como cães e gatos”, 
disse ele. 
Segundo a imprensa monitorada, no último dia da conferência, as 
palavras mais ouvidas eram “decepcionante” e “desapontador”, conforme 
verificado a seguir: 
Povos indígenas - Foi decepcionante, por exemplo, para os 
indígenas. Eles queriam ser citados sob a denominação "povos indígenas". 
A expressão foi aprovada, porém atrelada a um parágrafo indicando que a 
expressão não tem nenhum significado no direito internacional. 
Homossexuais- O resultado foi desapontador também para os 
homossexuais, que enfrentaram a intolerância de países islâmicos e não 
foram incluídos entre vítimas da discriminação. Essa era uma das propostas 
do Brasil, mas foi rejeitada. 
Migrantes - O texto pede a todos os Estados para revisarem políticas 
de imigração que não estejam de acordo com as declarações internacionais 
dos direitos humanos, a fim de eliminar todas as práticas discriminatórias 
contra os migrantes. 
 33
A prática da Comunicação para nós agentes de transformação social 
deve ser uma ação cotidiana que requer, para que tenhamos um conteúdo 
real, atitudes precedidas por ações racionais, apoiadas por instrumentos 
metodológicos adequados, sem nos limitarmos simplesmente à intuição e 
ao uso de alguns princípios elementares. Dessa forma, o desenvolvimento 
de políticas e estratégias de comunicação nos movimentos sociais são 
instrumentos essenciais para se atuar com eficiência nesse contexto. 
Isso implica em atuar estrategicamente num contexto adverso, mas 
sem maniqueísmo, reconhecendo, conforme nos mostra o resultado desse 
projeto, que a imprensa não é um bloco monolítico, e os discursos 
jornalísticos são construídos por pessoas (mal) formadas por valores de 
uma sociedade branca, masculina e heterossexual. 
Produzir o contra-discurso, promover o intercâmbio de valores sociais, 
reafirmar a identidade de toda uma população excluída “do meio e do 
ambiente” representa um dos grandes desafios sociais frente a essa nova era 
da informação. 
 
2.5 Democracia e respeito a diversidade religiosa 
A busca da verdade é a essência e a substância una e única de todas 
as religiões. É uma sabedoria que liberta, pois compreendê-la permite 
entender que todas são ramos diferentes de uma só árvore, que se alimenta 
de uma mesma seiva. O Estado, por ser laico, deve permanecer imparcial 
em matéria de crenças e dogmas. Por este motivo, é responsável pela 
garantia de igualdade de direitos entre todos os cidadãos. O que inclui as 
liberdades de expressão e de culto religioso. Laicidade não significa 
omissão. Todos os indivíduos têm o direito de adotar uma crença, de mudar 
de crença, ou de não ter nenhuma. A laicidade do Estado não é, portanto, 
 34
uma convicção de crença entre outras, mas a condição primária da 
coexistência, entre todas as convicções no espaço público. 
Neste sentido, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da 
Igualdade Racial-SEPPIR vem apoiando os movimentos contra a 
intolerância religiosa e os acompanha atentamente, através de sua 
Subsecretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais. 
Os lamentáveis episódios recorrentes de intolerância, com os quais 
recentemente nos deparamos, representam um precedente perigoso para um 
país onde a diversidade é marcante, como o Brasil, onde, felizmente, as 
pessoas pensam e crêem de formas diferentes. Difundir informações de 
combate à intolerância religiosa, que possibilitem o incremento do diálogo 
e do respeito inter-religioso, portanto, estão entre as prioridades da 
Secretaria. 
As religiões de matrizes africanas são as mais vulneráveis ao 
preconceito, que é aplicado por uma pequena parcela da população que não 
respeita outras religiões. E, além de conviverem com a intolerância, os 
terreiros são alvos da perda de território e da ação de grupos criminosos, 
que limitam o espaço das práticas religiosas e a circulação de seus adeptos 
e frequentadores. 
Para muitos, a tradição de matriz africana é encarada apenas do 
ponto de vista do folclore e da fantasia. Compreendemos, no entanto, que a 
mesma deve ser reconhecida como um espaço de resistência cultural, 
política, social e religiosa. A luta dos negros pela igualdade e pelo 
florescimento de sua religiosidade é feita de memória, de conhecimento e, 
principalmente, de tradição. 
Para ajudar a preservar estas riquezas, a SEPPIR criou o Projeto 
Terreiros do Brasil, que prevê ações de reconhecimento de casas tombadas 
como patrimônio cultural, e também salvaguarda de terreiros com 
 35
importância histórica. Sua ação-piloto teve início no final do mês de agosto 
de 2008, quando, na presença de 14 líderes de religiões de matrizes 
africanas, a Secretaria firmou com vários parceiros um acordo de 
cooperação técnica para mapear os terreiros do Rio de Janeiro. 
O mapeamento geo-referenciado, que será levado aos demais estados 
brasileiros, após a conclusão do projeto-piloto no Rio, vai permitir a 
integração de todas as ações técnicas e comunitárias relativas às questões 
dos terreiros, assim como ações específicas em cada uma destas 
comunidades tradicionais. A experiência poderá ser estendida a outros 
grupos tradicionais, sempre com o objetivo de preservar esta cultura 
religiosa ancestral e garantir a liberdade religiosa de todos os brasileiros. 
Ao colocarmos em prática políticas como estas, criamos os 
instrumentos para a extinção de todas as práticas discriminatórias, e 
ajudamos a construir um país no qual todas as pessoas possam exercer sua 
religiosidade com liberdade e respeito, independentemente da forma e do 
nome pelo qual invoquem Deus em seus corações. 
 
2.6 Casos de intolerância religiosa 
(a) Bispo chuta a santa na TV 
Em 1995, no dia 12 de outubro (dia dedicado a Nossa Senhora 
Aparecida, declarada Padroeira do Brasil pela Igreja Católica), o bispo Von 
Helde, da Igreja Universal do Reino de Deus, no seu programa de TV, 
exibe e chuta diante das câmeras uma imagem da santa, referindo-se a ela 
como “um bicho tão feio, tão horrível, tão desgraçado”, com o argumento 
de que ela não tinha qualquer poder, sendo apenas um objeto de barro, e 
que era um erro do povo acreditar em santos e imagens. O bispo foi 
condenado em ação criminal movida contra ele no Estado de São Paulo 
com base no Art. 20 da Lei 7.716 / 89 (Praticar, induzir ou incitar a 
 36
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência 
nacional. c/c o Art. 208 do Código Penal (Escarnecer de alguém 
publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou 
perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente 
ato ou objeto de culto religioso. 
Pena: detenção, de um mês a um ano, ou multa. Parágrafo único: Se há 
emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da 
correspondente à violência). 
(b) Mãe Gilda sofre pressão e morre de infarto 
Na edição de 26 de setembro a 2 de outubro de 1999 do jornal Folha 
Universal, uma foto de Mãe Gilda (Ialorixá Gildásia dos Santos) foi 
reproduzida numa matéria cujo texto afirmava que, no Brasil, estava em 
crescimento um mercado de enganação, de “macumbeiros charlatães”. 
Dois meses antes, o seu templo tinha sido invadido e depredado por 
adeptos de uma outra denominação evangélica. Mãe Gilda não resistiu à 
tamanha pressão e veio a falecer no dia 21 de janeiro de 2000, um dia 
depois de ter assinado procuração para processar a Igreja Universal do 
Reino de Deus. 
A Igreja foi condenada em primeira instância a indenizar os herdeiros por 
dano moral. Recorreu e perdeu de novo no Superior Tribunal de Justiça. O 
caso ainda está na Justiça. O dia 21 de janeiro passou a ser o “Dia Nacional 
de Combate à Intolerância Religiosa”. 
(c) Depredação das estátuas da Praça dos Orixás 
Em meados de 2006, a Praça dos Orixás, a beira do Lago Paranoá, 
em Brasília, local sagrado para os praticantes de religiões de matriz 
africana, foi palco de seguidos atos de intolerância religiosa, com a 
destruição total ou parcial de várias das 16 estátuas de Orixás, esculpidas 
 37
pelo artista plástico Tati Moreno. Em diferentes ocasiões, os adeptos foram 
hostilizadospela presença de seguidores de religiões evangélicas. 
Em 30 de setembro de 2006 o jornal Correio Brasiliense dava conta de que 
no dia 24 daquele mês um quarto ataque ocorrera, assinalando uma 
coincidência: “todas as agressões foram realizadas às vésperas de datas 
importantes do calendário candomblé. A situação do local é crítica. Das 16 
imagens, cinco já foram retiradas por vândalos. Uma delas é a de lemanjá, 
a deusa das águas, queimada, arrancada e decepada em 13 de dezembro de 
2005, véspera dos festejos e cultos em homenagem à Rainha do Mar, que 
acontecem em duas datas: 31 de dezembro e 2 de fevereiro.” 
(d) Ataque a Templo no Centro do Rio de Janeiro 
No dia 3 de junho de 2008, três jovens e uma jovem que, conduzidos 
à delegacia, se apresentaram como pertencentes à Igreja Evangélica 
Geração Jesus Cristo, invadiram e depredaram o templo religioso Cruz de 
Oxalá, no Centro do Rio, destruindo imagens e utensílios que ali se 
encontravam, além de insultar os fiéis presentes. 
Uma freqüentadora relatou à imprensa que eles: “aos gritos, diziam que, 
por ordem de Jesus, devíamos abandonar o demônio, que estaria ali 
presente”. Na delegacia, segundo noticiado nos jornais, os vândalos 
prestaram depoimento e foram liberados, respondendo pelos crimes de 
ameaça (Art. 147 do Código Penal), dano (Art. 163 do Código Penal) e 
contra o sentimento religioso (Art. 208). Não foi o caso, mas em atos como 
esse, parece estar caracterizada a infringência do Art. 20 da Lei 7.716/89 e 
a prática do crime de formação de formação de quadrilha ou bando (Art. 
288 do Código Penal - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha 
ou bando, para o fim de cometer crimes). Os dirigentes do centro têm medo 
de novos ataques, que teriam começado há alguns meses, depois que uma 
nova igreja evangélica se instalou nas proximidades. 
 38
(e) Filho-de-santo xingado de macumbeiro ganha ação 
Em maio de 2008, durante uma festa típica em Paty do Alferes / RJ, 
o filho-de-santo Marcelo da Silva Gomes foi chamado de macumbeiro 
safado e ameaçado por seu vizinho, o mecânico Mauro Monteiro Pinto, ao 
colocar uma oferenda para Oxossi. Como nos dá conta a Comissão de 
Combate à Intolerância Religiosa (Rua Sampaio Ferraz, 29 – Estácio, Rio), 
o Juizado Especial daquela cidade determinou que Marcelo seja indenizado 
em R$ 3 mil pelo vizinho. O fato ocorreu na véspera de Corpus-Christi. 
Segundo Marcelo, não foi fácil ganhar a processo. Ele conta que primeiro 
procurou a delegacia da região, conseguiu fazer um Registro de Ocorrência 
por “Injúria”, que não foi adiante. Mas não desistiu! Entrou no Juizado 
Cível pedindo ressarcimento pelo constrangimento que sofreu e, para sua 
surpresa, na primeira audiência no Fórum, foi destratado pela conciliadora 
do Juizado. 
“Ela me perguntou que religião é essa que a gente quer indenização? 
Ora, eu fui agredido, humilhado, chamado de macumbeiro safado... 
registrei com muita luta uma queixa na delegacia e não podia sequer 
processar a pessoa que cometeu tais crimes? Aí já era demais. A polícia já 
não registra direito a nossa queixa e a tal da conciliadora ainda queria 
arquivar meu processo.” Por isso ele procurou a Comissão de Combate à 
Intolerância Religiosa, que encaminhou o caso para os advogados do 
Projeto Legal, instituição de Direitos Humanos que atende gratuitamente as 
vítimas de intolerância religiosa. Os advogados agora cuidam do aspecto 
criminal, pois, além da ameaça de balear o filho-de-santo, configuram-se 
também as hipóteses previstas no Art.20 da Lei 7.716/89 e do Art.140,§3º 
(injúria qualificada por ofensa de natureza religiosa). 
 
 39
O Brasil ainda não é como gostaríamos que fosse, ou seja, uma 
sociedade harmoniosa, democrática, igualitária, pacífica, fraterna, cordial e 
sem preconceitos, como tem sido descrito ao longo do tempo. E nunca foi, 
pois a aparente harmonia correspondia muito mais a uma arrumação da 
ordem, baseada nas hierarquias tradicionais, numa relação de 
complementaridade, em que sempre se esperou que cada um ocupasse o 
“seu lugar”. Mais: o Brasil não foi formado na base da confraternização 
entre índios, negros e brancos, como se apregoa, como se as posições 
desses grupos fossem intercambiáveis. E nem poderiam ser, num regime 
escravocrata e de dominação colonial. Aliás, a forma romântica como a 
sociedade brasileira costuma ser descrita, soa muito mais como um 
programa de construção nacional a ser realizado no futuro, próximo ou 
distante, o que é alvissareiro. A construção desse País ideal, no entanto, 
depende de algo aparentemente óbvio: do reconhecimento de que ele não é 
assim. Caso contrário, estaremos sujeito a cada vez mais intolerância, o que 
o demonstram os casos exemplares apresentados acima, em especial os 
relacionados com a intolerância para com as religiões de matriz africana. 
Vimos que a nova ordem de direitos instaurada em 1988 oferece 
caminhos para a superação do problema. Mas há muito que avançar. 
Com relação à legislação vigente, pode-se afirmar que as alterações 
sofridas pela Lei n.º 7.716/89 (Lei Caó) em muito contribuíram para 
aperfeiçoá-la, máxime em função do acréscimo do §3º ao Art. 20, que 
incluiu como crime, como vimos, atos de preconceito de “religião, etnia ou 
procedência nacional”, “praticados pelos meios de comunicação ou por 
publicação de qualquer natureza”. Na vertente penal, portanto, a 
conjugação da Lei Caó com o novo “tipo penal” (injúria qualificada 
racialmente), introduzido no CP pela Lei n.º 9.459/97 (Lei Paim), já 
oferece instrumentos razoáveis para um combate um pouco mais eficaz ao 
 40
racismo. Munido desses instrumentos, tanto os discriminados quanto o 
movimento social e os agentes públicos, em particular os profissionais da 
polícia, poderão dar uma grande contribuição para uma maior harmonia da 
sociedade brasileira. 
No mundo inteiro tem-se assistido ao recrudescimento da 
intolerância racial e étnica e a manifestações xenófobas. Talvez, no caso 
brasileiro, tivéssemos que refletir profundamente sobre o que somos, como 
fomos formados, e como têm sido historicamente as nossas relações 
etnorraciais. Mais que tudo, refletir sobre o preço que tem sido pago pelo 
ideal de nos apresentarmos como uma democracia racial sem o sermos de 
fato. 
É indeclinável a necessidade de que todos os brasileiros 
compreendam, independentemente de raça, cor, etnia, origem ou 
procedência nacional, que a finalidade de qualquer lei penal não é a 
punição pela punição, e, sim, inibir os comportamentos indesejáveis que 
tipifica. No caso da intolerância religiosa e do racismo em geral, a 
finalidade não é simplesmente punir os que eventualmente se dedicarem a 
essas práticas, e, sim, promover a integração dos diferentes grupos que 
compõem a nacionalidade brasileira. De acordo com a Pesquisa Nacional 
por Amostra de Domicílios 2007 – PNAD 2007, do IBGE –, declararam-se 
brancos 48,7% da população; e declararam-se “pretos” e “pardos” (afro-
brasileiros) 49,5%. Nada parecido com os Estados Unidos, por exemplo, 
em que a auto declarada população de afro-americanos não passa de 12%. 
Este fato coloca-nos em vantagem, fazendo com que as relações 
interpessoais entre os brasileiros de todos os matizes, sobretudo no espaço 
público, sejam mais amenas. 
Se, entretanto, temos a vantagem no que diz respeito às relações no 
dia-a-dia, não podemos afirmar o mesmo quando estamos falando das 
 41
relações de poder, do poder político e do poder econômico. Aqui, constata-
se um abismo maior do que o verificado naquele país do Norte. É possível 
mesmo arriscar dizer que o bom nível das relações interpessoais entre nós 
tenha sido garantido até aqui pela “arrumação”da ordem social brasileira, 
como notou o antropólogo Roberto Kant de Lima: “Cada macaco no seu 
galho”3 e pela fórmula “Cada coisa para cada lugar, um lugar para cada 
coisa”, nas palavras de Roberto da Matta.4 
Se não aceitarmos que essa “arrumação” social é insustentável numa 
democracia, por mais frágil que seja; se não quebrarmos os paradigmas 
com os quais nossos avós operaram, no marco da hierarquia social e 
etnorracial, teremos que nos preparar para amargar a deterioração de nossas 
relações, com fortes repercussões na violência, como há muito acontece. A 
vantagem que temos no nível das relações interpessoais talvez seja o capital 
de que dispomos para investir na maior participação dos historicamente 
discriminados no poder, na educação e no emprego. Só assim avançaremos 
como Nação. Só assim poderemos contribuir para a construção de um 
Brasil melhor para os nossos filhos. Com respeito às diferenças, com 
tolerância. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 42
3. Conclusão 
Segundo a definição dos dicionários, o utopista é aquele que concebe 
e/ou defende utopias. Já a palavra utopia é definida como projeto 
irrealizável; quimera. O poema de Murilo Mendes, que serve de epígrafe 
para este trabalho, põe em suspenso, justamente, este caráter de 
“irrealizável” que se atribui à utopia. Invertendo de maneira bastante 
irônica os lugares pré-estabelecidos, o utopista de Murilo Mendes, ou seja, 
aquele que concebe ou defende um projeto irrealizável é aquele que não 
acredita na mudança, nem na transformação, que impõe limites até para a 
poesia e para quem não há um “outro mundo”. Na concepção do poeta, 
aquele que não tem esperança é que pode ser chamado de utopista. 
Recorremos, novamente, à poesia e aos poetas, para, mais uma vez, colocar 
em questão as utopias. Como escreveu Mário Quintana, no seu poeminha 
“Das utopias”: 
Se as coisas são inatingíveis.., ora! 
não é motivo para não querê-las... 
Que tristes os caminhos, se não fora 
a mágica presença das estrelas! 
 
Ainda que, neste poema, admita-se que há, na utopia, o desejo de 
alcançar o inatingível, é, também, isso o que move os utopistas, portanto, 
por que não querê-lo nem por que não desejá-lo? É assim que muitos se 
mobilizam, que se movem, que caminham, que trilham seu percurso, sua 
trajetória. É, desta maneira, que nos inserimos no contexto social brasileiro, 
ou seja, acreditando que a mudança seja possível e plenamente alcançável, 
ainda que para muitos, utópicas. 
 
 
 43
4. Bibliografia 
 
Livros: 
FERNANDES, Florestan. Significado do protesto negro. São Paulo, cortez, 
1989. 
RAMOS, Silva. Mídia e racismo. Rio de Janeiro:Pallas, 2002. 
DA SILVA, Jorge.120 Anos de Abolição.Rio de Janeiro:Hama, 2008. 
 
Jornais: 
NASCIMENTO, Abdias do. Elisa Larkin.(org.) Quilombo: vida, problemas 
e aspirações do negro. Edição fac-similar do jornal dirigido por Abdias 
Nascimento. 1 edição.São Paulo: ed.34, 2003. Ano 1 nº 3 p 45. 
 
GUIMARÃES. Antônio Sérgio. Introdução. In. Nascimento, Abdias Do 
Nascimento. Elisa Larkin. (org.) Quilombo: vida, problemas e aspirações 
do negro. Edição fac-similar do jornal dirigido por Abdias Nascimento. 1 
edição.São Paulo. Ed.34, 2003. 
 
Cartilhas: 
SILVA JUNIOR, Hédio; SILVA BENTO, Maria Aparecida. Campanha em 
Defesa da Liberdade de Crença e Contra a Intolerância Religiosa. São 
Paulo:Ceert, 2004. 
 
DA SILVA, Jorge. Guia de Luta Contra a Intolerância Religiosa e o 
Racismo.Rio de Janeiro:Ceap, 2009. 
 
Entrevistas: 
MENEZES, Newton. Depoimentos sobre Solano Trindade [ julho de 2003]. 
Entrevistadora Maria do Carmo Gregório. Rio de janeiro. Entrevista 
concedida para a pesquisa. 
 
Homepage Institucional: 
WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre.Disponivel em: 
http://pt.wikipedia.org/wiki/escravid%c3%a3o#.c3.81frica 
 
RELATÓRIO DA CMCR, Conferência Mundial Contra Racismo, 
discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata.Durban, 2001. 
Disponível em : http://www.comitepaz.org.br/durban_1.htm 
 
DECLARAÇÃO DO PARLAMENTO DAS RELIGIÕES DO MUNDO. 
Disponível em: http://www.comitepaz.org.br/religioes_1.htm 
 
 44
Referências Bibliográficas: 
 
 
1(DA SILVA: 2008) 
 
1 (Florestan, 1989, p.28) 
 
1 (Folha de S.Paulo, 28/8/01) 
 
1 (KANT DE LIMA, 1994) 
 
1 (DA MATTA, 1993, p. 76)

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