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DOENÇAS FUNCIONAIS DO CÓLON SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL Suellen da Silva Beraldo INTRODUÇÃO Um distúrbio funcional é definido pela presença associada de uma anatomia normal e uma função anormal. (Sabiston, 18ª ed.); Presença de dor abdominal crônica ou recorrente associada a alterações do hábito intestinal, na ausência de qualquer lesão orgânica detectável no trato gastrointestinal (TGI). (Medcurso, 2010); INTRODUÇÃO Os cirurgiões frequentemente são consultados a respeito de distúrbios funcionais do intestino grosso ou do soalho pélvico; Em geral, esses problemas não precisam de intervenção cirúrgica; No entanto, os sinais e sintomas destes distúrbios simulam doenças cirúrgicas e precisam de um reconhecimento e um tratamento adequados. DEFINIÇÃO A SII é um distúrbio intestinal funcional caracterizado por dor ou desconforto abdominal e hábitos intestinais alterados na ausência de anormalidades estruturais identificáveis. (Harrison, 18ª ed.). DEFINIÇÃO Quando não há presença de dor o caso é tratado como diarréia ou constipação funcional; Não existe nenhum marcador diagnóstico claro da SII, portanto, todas as definições da doença baseiam-se na apresentação clínica. EPIDEMIOLOGIA Em todo o mundo, 10% a 20% dos adultos e jovens apresentam sintomas; A SII representa 25-50% das consultas gastroenterológicas, sendo a patologia mais comum desta especialidade na prática clínica; Sexo feminino : Mais comum em jovens (<45 anos). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Dor e desconforto abdominal são sintomas-chave; Sintomas devem melhorar com a defecação; e/ou Ter seu início associado a mudança na frequência das evacuações ou no formato das fezes. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Dor abdominal; Alterações dos hábitos intestinais; Sintomas gastrointestinais; Sintomas extraintestinais. DOR ABDOMINAL Característica clínica indispensável; Altamente variável em intensidade e localização (Hipogástrio 25%; à direita 20%; à esquerda 20%; epigástrio 10%); Dor episódica, do tipo cólica; Dor pós-prandial; Melhora com a eliminação de gases e fezes; Desnutrição e privação de sono devido à dor são incomuns. ALTERAÇÕES DOS HÁBITOS INTESTINAIS Alternância entre constipação e diarréia: mais comum; Geralmente há predominância de um deles. Subtipos dos padrões intestinais: SII-diarreia (SII-D); SII-constipação (SII-PV); ou SII-mista (SII-M). ALTERAÇÕES DOS HÁBITOS INTESTINAIS CONSTIPAÇÃO De episódica a contínua; Fezes duras e de calibre estreitado (desidratação e espasmo); Sensação de evacuação incompleta; Pode ser interrompida por curtos períodos de diarréia. DIARRÉIA Fezes moles, acompanhadas ou não de grandes quantidades de muco; Pequenos volumes (<200ml) Pode ser agravada por ingesta alimentar ou estresse emocional; Ausência de sangramento (exceto em casos de hemorroidas), má absorção e perda de peso. SINTOMAS GASTROINTESTINAIS Distensão abdominal; Eructação e flatulência; Refluxo Gastroesofágico; Disfagia; Náuseas; Vômitos; Saciedade precoce; Dor torácica não cardíaca. SINTOMAS EXTRAINTESTINAIS Disfunção sexual; Dispareunia; Dismenorreia; Disúria/polaciúria; Lombalgia; Fibromialgia; Hiperreatividade brônquica; Cefaleia crônica; Disfunção psicossocial. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA Anormalidade fisiopatológica é desconhecida, porém evidências científicas sugerem três alterações em mecanismos fisiológicos: Alterações de motilidade; Hipersensibilidade visceral; Processamento sensorial alterado no SNC. ALTERAÇÕES DE MOTILIDADE Dismotilidade do intestino delgado : Contrações jejunais “em salva”; Contrações ileais prolongadas. Dismotilidade colônica: Motilidade normal, com resposta motora exagerada a certos estímulos: Distensão colônica; Agentes colinérgicos; Estresse agudo; Fatores hormonais, como: Colecistocinina (dieta rica em gordura); Prostaglandinas (primeiros dias do período menstrual). HIPERSENSIBILIDADE VISCERAL Resposta sensorial exagerada à estimulação visceral; Disfunção da inervação visceral; Preservação das vias somáticas: Não exibe sensibilidade aumentada em outros locais do corpo. HIPERSENSIBILIDADE VISCERAL Mecanismos propostos: Sensibilidade aumentada dos órgãos-alvos com recrutamento de nociceptores “silenciosos”; Hiperexcitabilidade espinal com ativação de neurotransmissores (óxido nítrico); Modulação endógena (cortical e do centro cerebral) da transmissão nociceptiva caudal; Hiperalgesia a longo prazo, devido à neuroplasticidade. SISTEMA NERVOSO CENTRAL Alteração na ativação do giro cingulado anterior (parte do sistema límbico capaz de ajudar a reduzir a informação sensitiva) em resposta à distensão retal: Fluxo sanguíneo não aumentado em TC. Associado a distúrbios psiquiátricos: Registrados em até 80% dos pacientes com SII; História de estresse crônico (altera o limiar sensorial): Abuso sexual, morte familiar, divórcio; Má adaptação social. DIAGNÓSTICO Identificação da síndrome clínica: Manifestações clínicas; Critérios diagnósticos: Critérios de Manning (1978); Critérios de Roma III (2005): mais utilizado; Doença funcional x doença orgânica. Exclusão de outras causas. Exames complementares: Dispensáveis quando os critérios são preenchidos e na ausência de sinais de alerta. CRITÉRIOS DE MANNING (1978) Dor aliviada com a evacuação; Aumento da frequência das evacuações junto ao início da dor; Diminuição da consistência fecal junto ao início da dor; Distensão abdominal visível; Evacuação com muco; Sensação de evacuação incompleta; CRITÉRIOS DE ROMA III (2005) Uma vez descartadas causas orgânicas e endocrinometabólicas; Nos últimos 3 meses, pelo menos 3 dias/mês de episódios de dor ou desconforto abdominal com mais pelo menos 2 das seguintes características : Aliviada pela evacuação; Início associado à mudança na frequência das evacuações; Início associado à mudança na forma (aparência geral) das fezes. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DOENÇA FUNCIONAL DOENÇA ORGÂNICA Início dos sintomas na adolescência ou juventude; Dor abdominal que piora com as refeições, alivia com evacuações e não acorda o paciente; Distensão abdominal; Fezes em cíbalos; Padrão estável de sintomatologia em cada paciente; Sintomas relacionados a problemas emocionais; Estado geral e peso mantidos. Início dos sintomas após a 4ª década de vida; Sintomas com curso progressivo e aparecimento de novos sintomas com o passar do tempo; Quadro doloroso acorda o paciente; Sangramento vivo retal, excluindo-se patologia orificial (ex., hemorróidas); Esteatorréia e outras evidências de má absorção, como emagrecimento, desnutrição etc.. EXAMES LABORATORIAIS Hemograma completo; Exame sigmoidoscópico; Exame Parasitológico de Fezes (EPF); Pacientes > 40 anos: Enema baritado contrastado com ar; Colonoscopia; Predomínio de diarreia e gases: Teste respiratório com hidrogênio ou avaliação após dieta isenta de lactose por 3 semanas; Excluir deficiência de lactase; Excluir espru celíaco. TRATAMENTO Medidas comportamentais e dietéticas; Tratamento farmacológico; Psicoterapia. MEDIDAS COMPORTAMENTAIS E DIETÉTICAS Suplementação dietética de fibras (20 a 30 g/dia): Psyllium (Metamucil) e farelo de trigo; Evitar cafeína, alimentos ricos em sorbitol (maçã, chocolate, entre outros) e alimentos gordurosos; Evitar alimentos flatogênicos (feijão, repolho, nabo, entre outros) Evitar tabagismo e álcool; Ter refeições regulares; Diminuir fatores geradores de estresse. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO ANTIESPASMÓDICOS: Podem oferecer alívio temporário dos sintomas, como cólicas dolorosas relacionadas com o espasmo intestinal (inibem o reflexo gastrocólico): Anticolinérgicos TRATAMENTO FARMACOLÓGICO ANTIDIARREICOS Terapia inicial de escolha para a SII-D; Opiáceos com atuação periférica. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO ANTIDEPRESSIVOS Predomínio de SII-D: Tricíclicos: Efeito inibitório motor: Lentifica a propagação jejunal; Retarda o trânsito orocecal e intestinal total. Predomínio de SII-PV: Inibidor seletivo da recaptação da serotonina (ISRS): Acelera o trânsito orocecal. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO TERAPIA ANTIFLATULÊNCIA O tratamento raramente é satisfatório; Os pacientes devem ser aconselhados a comer lentamente, não mascar chiclete nem ingerir refrigerantes; Evitar adoçantes artificiais, legumes e alimentos da família do repolho. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO AGONISTAS E ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES DA 5HT3 (Tegaserode): Reduz a percepção da estimulação visceral dolorosa; Reduz o relaxamento retal, aumenta a complacência retal e retarda o trânsito colônico; Tendência a causar constipação em pacientes com SII, com diarreia alternando com constipação; Retirado do mercado por aumentar eventos cardiovasculares sérios. PSICOTERAPIA Terapia cognitivo-comportamental Hipnose Técnicas de relaxamento Biofeedback Ludoterapia TRATAMENTO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS TOWNSENDD, Courtney M.; SABISTON, David C.. Tratado de Cirurgia. 18. ed. : Elsevier, 2010.; FAUCI, Anthony S.; LONGO, Dan L.; KASPER, Dennis L.; JAMESON, J. Larry; HAUSER, Stephen L.; LOSCALZO, Joseph. Tratado de Medicina Interna de Harrison. 18. ed. Porto Alegre: Artemed - Grupo a, 2013. 2 v.; Medcurso, 2010.; Psiquiatria na Prática Médica, Diagnóstico e tratamento da síndrome do intestino irritável. Disponível em: <http://www.unifesp.br/dpsiq/polbr/ppm/atu2_06.htm> Acesso em: 03 de Setembro de 2014
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