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FACULDADE SÃO LUIZ Ética Especial Professor: Dr. Hélio Luciano Acadêmico: José Ricardo Henrique Zorer Data: 11/11/2015 ARTIGO SOBRE O CASO DE VINCENT HUMBERT O presente artigo tem como escopo a discussão de um caso de eutanásia a partir dos critérios da bioética. O caso é o seguinte1: um jovem bombeiro de 20 anos chamado Vincent Humbert sofreu um grave acidente de automóvel, dia 24 de setembro de 2000. Foi numa estrada de França. Depois deste acidente, o rapaz ficou em coma por nove meses. Após o tempo de coma, foi constatado que ele estava em estado tetraplégico, cego e surdo. O único movimento que ainda mantinha era uma leve pressão com o polegar direito. Por meio desses movimentos, ele conseguia se comunicar com a sua mãe. A comunicação era assim: uma pessoa soletrava o alfabeto e ele pressionava com o polegar quando queria utilizar aquela letra. Desde esse momento no qual começou a se comunicar, ele já pedia a eutanásia, pois dizia que estava sendo obrigado a viver e que não queria mais continuar assim. Os médicos, porém, não aceitaram, porque é ilegal a prática da eutanásia em França. Por esse motivo, Vincent chegou a pedir para o presidente francês a autorização para morrer. Ele disse ao presidente que tem o direito de indultar, e ele pedia o direito de morrer. O presidente não autorizou e recomendou-lhe que retomasse o gosto pela vida. Em meio a esta situação, o jovem escreveu um livro com o título Je Vous Demande le Droit de Mourir ( Eu Vos Peço o Direito de Morrer). No dia 24 de setembro de 2003, sua mãe estava sozinha com ele, no quarto do hospital e administrou no filho uma grande dose de barbitúricos (calmantes e sedativos). Com isso, ele veio a falecer no dia 27 do mesmo mês e ano. Sua mãe foi presa por tentativa de assassinato, mas logo solta com a justificativa de que seria 1 Toda a notícia do caso aqui exposto foi extraída do mesmo site que está na citação do fim da descrição da notícia. julgada no momento oportuno. O seu ex-marido, sabendo de todo o acontecido, a apoiou na decisão.2 A partir daqui, visto que o caso já foi descrito, iniciamos a análise ética. É importante ressaltar que uma ação somente pode ser valorada eticamente se for uma ação moral, no sentido de que não é amoral. Isto é, se for amoral, ela não é uma ação mediada pela liberdade de quem a praticou. Se for moral, é mediada pela liberdade de quem a praticou. O caso descrito é moral, já que o rapaz e a mãe tinham plena consciência daquilo que estavam fazendo. Dentro desses casos morais (mediados pela liberdade), existem os casos morais (corretos) e imorais (errados). Para dizer se uma ação é objetivamente moral ou imoral, quer dizer, certa ou errada, é preciso avaliar o seu objeto, seu fim e suas circunstâncias. O objeto do caso de Vincent, ou seja, da ação da sua mãe para com ele, é Eutanásia. Eutanásia é sempre algo errado, pois é uma ação ou omissão com o fim de abreviar a vida para eliminar o sofrimento. Ora, abreviar a vida é matar. Portanto, o objeto é mau. O fim da ação da mãe do jovem foi aliviar, ou melhor, acabar com o sofrimento do filho, que pedia a ela que fizesse aquilo porque declarava estar sendo obrigado a viver. Por isso, sendo o fim aliviar ou acabar com o sofrimento do filho, é bom, porém matar não é a maneira correta de aliviar o sofrimento de alguém. Portanto, o fim é bom, somente os meios que foram utilizados para se chegar a esse fim não foram bons. As circunstâncias foram que ele estava tetraplégico, surdo e cego. Somente tinha o movimento de pressionar o polegar. A comunicação com as pessoas era possível, mas muito difícil e demorada devido à situação. O rapaz havia pedido ao presidente que consentisse a eutanásia no caso dele e o presidente negou. Era certo que ele não melhoraria. O máximo que chegaria era permanecer na mesma situação. Todavia, ainda poderia viver muito tempo e, provavelmente, não seria a sua condição que o levaria à morte, mas alguma doença ou até mesmo a velhice. Destarte, ainda era uma vida humana. Mesmo não querendo aceitar, ele estava vivo. E, por isso, matá-lo foi um ato objetivamente imoral, errado, porque foi 2 Cf. EUTANÁSIA. Casos Reais: Vincent Humbert. Disponível em: <https://sites. google.com/site/eutanasiatematabu/casos-reais---vincent-humbert>. Acesso em: 29 out. 2015. eutanásia, sem dúvidas, dado que as circunstâncias deste caso não mudam o seu objeto. Ainda é possível, entretanto, analisar algo aqui. Talvez o que a mãe do rapaz fez, já que o rapaz alegou que não conseguia mais viver daquela forma, tenha sido uma ação de duplo efeito, porquanto o paciente estava em demasiado sofrimento. Para que haja uma ação de duplo efeito, é necessário que o ato possua quatro características. A primeira é que a ação seja boa em si. A segunda é que o efeito positivo não derive do efeito negativo. A terceira é que o efeito negativo não seja diretamente desejado. E a quarta é que deve haver proporcionalidade entre o efeito positivo e o efeito negativo. Na primeira condição para que seja uma ação de duplo efeito, esse caso já pára, isto é, a primeira condição não se aplica a este caso, porque a eutanásia em si é má. Portanto, de fato, a ação da mãe do rapaz de abreviar a vida do filho foi uma ação objetivamente imoral.
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