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Professor: Rafael Guerreiro guerreiro@fagen.ufu.br Percepção e Tomada de Decisão Individual Conceito de percepção Segundo Soto (2011) a percepção se refere ao processo ativo de perceber a realidade e organizá-la em interpretações ou visões sensatas. Para ele, a percepção é importante no ambiente organizacional, já que costuma fazer com que diferentes pessoas tenham diferentes interpretações ou visões, inclusive contraditórias, do mesmo fato ou pessoa. Conceito de percepção De acordo com Robbins, Judge e Sobral (2010) a percepção pode ser definida como o processo pelo qual os indivíduos organizam e interpretam suas impressões sensoriais com a finalidade de dar sentido ao seu ambiente. Para eles, entretanto, o que uma pessoa percebe pode ser substancialmente diferente da realidade objetiva. Os autores afirmam que a percepção é importante para o estudo do comportamento organizacional, simplesmente porque o comportamento das pessoas baseia-se em sua percepção da realidade, não na realidade em si. Fores que influenciam a percepção PERCEPÇÃO Fatores no perceptor - Atitudes - Personalidade - Motivações - Interesses - Experiência - Expectativas Fatores na situação - Momento - Ambiente de trabalho - Ambiente social Fatores no alvo - Novidade - Movimento - Sons - Tamanho - Cenário - Proximidade - Semelhança Percepção de pessoas: Fazendo julgamento sobre os outros A teoria da atribuição foi proposta para explicar por que julgamos as pessoas de modo distinto, dependendo do significado que atribuímos a um dado comportamento. Basicamente, a teoria sugere que , quando observamos o comportamento de alguém, tentamos determinar se a causa deste é interna ou externa. Teoria da atribuição Comportamento do indivíduo Diferenciação Alta = Externa Baixa = Interna Consenso Alto = Externo Baixo = Interno Consistência Alta = Interna Baixa = Externa Teoria da atribuição Segundo Robbins, Judge e Sobral(2010), uma das descobertas mais interessantes da teoria da atribuição é que existem erros e vieses que podem distorcer as atribuições. Para os autores, quando julgamos o comportamento dos outros, tendemos a subestimar a influência dos fatores externos e a superestimar a influência daqueles internos ou pessoais. Isso é chamado de erro fundamental de atribuição. Há também a tendência de os indivíduos atribuírem o próprio sucesso o próprio sucesso a fatores internos, como capacidade e esforço, e de colocar a culpa dos fracassos em fatores externos, como falta de sorte. Isso é chamado de viés de conveniência. Distorções de percepção Percepção seletiva: as pessoas interpretam seletivamente o que vêem a partir de seus interesses, antecedentes, experiências e atitudes. Efeito de halo: obtém-se a impressão geral de um indivíduo a partir de uma só característica. Projeção: atribuição das características próprias a outra pessoa. Estereótipo: juízo formado a respeito de alguém, segundo o critério da percepção própria do grupo ao qual essa pessoa pertence. Efeito de contraste: avaliação das características de uma pessoa afetadas pela comparação com outra recentemente contratada, que qualifica de forma mais alta ou mais baixa, com essas mesmas características. Aplicação nas organizações Entrevista de emprego: O entrevistador deve reconhecer que os fatores de percepção influem nas pessoas que são contratadas e na qualidade da mão-de-obra de uma organização. Avaliação de desempenho: O resultado das avaliações será afetado pelas medidas subjetivas que o avaliador percebe como “boas ou más” características/comportamentos do empregado. Lealdade do empregado: O que alguém que toma decisões percebe como sendo lealdade é bastante discriminável. Um empregado que questiona uma ordem pode ser considerado desleal por uns ou cuidados por outros. Os delatores atuam em nome da lealdade, mas são vistos como causadores de problemas pela administração. Expectativas de desempenho: A profecia do autocumprimento ou efeito pigmaleão caracteriza o fato de que as expectativas dos superiores determinam o comportamento dos seus subordinados. Esforço no empregado: A avaliação do esforço de um indivíduo é algo subjetivo sujeito a distorções de percepção e pode ser uma influência primária em seu futuro na organização. Ligação entre percepção e tomada de decisões individual A forma como as pessoas tomam decisões e a qualidade de suas escolhas dependem muito de suas percepções. A tomada de decisão ocorre em reação a um problema. Um problema existe quando se verifica a discrepância entre o estado atual das coisas e seu estado desejável, o que exige uma avaliação dos cursos de ação alternativos para se atingir esse estado desejável. O que é um problema para uma pessoa pode ser um estado satisfatório para outra. Em todo processo decisório, muitas vezes surgem distorções perceptivas que podem afetar as análises e conclusões. O que é decisão? De acordo com Dubrin (2008) uma decisão ocorre quando uma pessoa opta entre duas ou mais alternativas para resolver um problema. As pessoas tentam resolver problemas porque um problema é uma discrepância entre o ideal e o real. Para eles, os gerentes de alto nível gastam mais tempo tomando decisões não programadas, ao passo que gerentes de nível inferior enfrentam uma proporção maior de decisões programadas. Tomando decisões nas organizações Segundo Robbins, Judge e Sobral (2010) as escolas de administração geralmente treinam os alunos para utilizar os modelos racionais nas tomadas de decisão. Embora esses modelos tenham muitos méritos, não necessariamente descrevem como as pessoas tomam decisões na realidade. É aqui que entra em ação o papel do comportamento organizacional: para melhorar a maneira de tomar decisões nas organizações,teremos de entender os erros que as pessoas cometem , além dos erros de percepção, ao fazê-lo. Pense nisto! Soto (2011) argumenta que tanto no âmbito da vida privada quanto no profissional,nossas decisões formam nosso presente e condicionam nosso futuro. Para quem tem responsabilidades em uma organização e deve assumir riscos, sua capacidade para tomar decisões é uma das facetas mais importantes e mais analisadas na atualidade. Modelo racional de tomada de decisão O modelo racional se baseia em várias premissas, incluindo a de que o tomador de decisões tenha todas as informações, seja capaz de identificar todas as opções relevantes de forma imparcial e opte pela alternativa que maximize a sua utilidade. 1. Definir o problema. 2. Identificar os critérios para decisão. 3. Atribuir pesos específicos a cada um desses critérios. 4. Desenvolver alternativas. 5. Avaliar as alternativas. 6. Escolher a melhor alternativa. Atenção! Soto (2011) nos alerta que um diagnóstico profundo do problema é importante porque o problema real poderá ser diferente daquele que pode parecer à primeira vista. Para diagnosticar um problema corretamente, você precisa esclarecer sua verdadeira natureza. Racionalidade limitada Para Dubrin (2008) racionalidade limitada significa que as habilidades mentais limitadas das pessoas, combinadas com influências externas sobre as quais elas tem pouco ou nenhum controle, impedem-nas de tomar decisões totalmente racionais. Decisões satisfatórias são o resultado da racionalidadelimitada. Racionalidade limitada Nossa capacidade limitada de processamento de informações torna impossível assimilar e compreender todos os dados necessários para a otimização de uma decisão. Então, a maioria das pessoas reage a um problema complexo reduzindo-o a um nível que se possa entendê-lo completamente. Da mesma forma, muitos problemas tendem a não apresentar uma solução ótima por serem complicados demais para ser subdivididos de acordo com os parâmetros do modelo de tomada de decisão racional. E aí que as pessoas se satisfazem, isto é, buscam soluções que sejam suficientes e satisfatórias e não ótimas. Racionalidade limitada Como a capacidade da mente humana não consegue formular e solucionar problemas complexos com a racionalidade plena, as pessoas operam dentro de uma racionalidade limitada. Construímos modelos simplificados que extraem os aspectos essenciais dos problemas, sem capturar toda a sua complexidade. Esse processo de satisfazer não é sempre uma má ideia: usar processos simples pode ser muitas vezes mais sensato que usar o modelo clássico de tomada de decisão racional. Para usar o modelo racional no mundo real, você precisa reunir muitas informações sobre todas as opções, computar os pesos aplicáveis e depois calcular os valores de uma infinidade de critérios. Racionalidade limitada Racionalidade vinculada ao tomador de decisão Intuição Procrastinação Valores Crise e conflito Considerações políticas Qualidade e acessibilidade da informação Inteligência emocional Personalidade e inteligência cognitiva Tomada de decisão intuitiva É um processo cognitivo inconsciente apoiado nas experiências vividas. Suas principais características são: – Ela ocorre fora do pensamento consciente. – Apoia-se em associações holísticas ou conexões difusas entre informações divergentes. – É rápida. – Tem um grande componente afetivo, o que significa que geralmente envolve emoções. É uma forma altamente complexa e desenvolvida de raciocínio, baseada em anos de experiência e aprendizado. Erros e vieses mais comuns na tomada de decisão. Além da racionalidade limitada,um grande número de pesquisas indica que os tomadores de decisões também permitem que erros e vieses sistemáticos atrapalhem seus julgamentos. Para minimizar esforços e evitar dilemas, as pessoas tendem a se valer excessivamente da própria experiência, de seus impulsos, instintos e regras de “senso comum” convenientes no momento. Em muitas situações esses atalhos parecem ser válidos. Contudo, eles também podem conduzir a sérias distorções da realidade. Erros e vieses mais comuns na tomada de decisão Excesso de confiança: Os indivíduos que possuem habilidades intelectuais e interpessoais mais fracas apresentam maiores probabilidades de superestimar sua capacidade de desempenho. Assim, quanto mais um administrador ou subordinado aprende a respeito de alguma coisa, menor será a probabilidade dele demonstrar excesso de confiança. Também há uma relação negativa entre o otimismo dos empreendedores e o desempenho de suas novas empresas: quanto mais otimismo, menos sucesso. A tendência apresentada por alguns empreendedores de ser confiantes demais em suas ideias pode impedir o planejamento para evitar problema eventuais. Erros e vieses mais comuns na tomada de decisão Ancoragem: O viés de ancoragem é a tendência de nos fixarmos em uma informação como ponto de partida e a dificuldade de nos ajudarmos diante de informações posteriores. Quanto mais precisa for sua âncora, menor será o ajuste feito. Algumas pesquisas sugerem que certas pessoas consideram ajuste o arredondamento do número fixado na ancoragem. Erros e vieses mais comuns na tomada de decisão Evidência confirmadora: O processo de decisão de tomada de decisões racionais pressupõe que levantemos informações de maneira objetiva. Mas isso não acontece. Levantamos as informações seletivamente. O viés da evidência confirmadora representa um tipo específico de percepção seletiva: buscamos informações que corroborem nossas escolhas anteriores e desprezamos aquelas que as contestam. Também tendemos a aceitar prontamente as informações que confirmam nossos pontos de vista preconcebidos e somos críticos ou céticos com relação àquelas que os contrariam. Erros e vieses mais comuns na tomada de decisão Viés da disponibilidade: O viés de disponibilidade é a tendência de as pessoas julgarem as coisas com base nas informações mais disponíveis. Os eventos que despertam nossas emoções, que são particularmente vividos ou que ocorreram há pouco tempo tendem a estar mais disponíveis em nossa memória, levando-nos a superestimar eventos improváveis como os acidentes de avião. Erros e vieses mais comuns na tomada de decisão Escalada do comprometimento: A escalada do comprometimento pode ser definida como o apego a uma decisão anterior, mesmo quando fica claro que ela foi um erro. As pessoas aumentam seu comprometimento com ações malsucedidas quando se veem como responsáveis pelo fracasso. Elas desperdiçam muita energia para recuperar o prejuízo na tentativa de demonstrar que sua decisão inicial não estava errada e não ter de admitir que cometeram um erro. Erros e vieses mais comuns na tomada de decisão Escalada do comprometimento: Na verdade, aqueles que coletam e ponderam as informações cuidadosamente, seguindo o modelo de tomada de decisões racional, apresentando uma tendência maior de se envolver em escalada de comprometimento do qual os que gastam menos tempo pensando em suas opções. Talvez isso ocorra porque eles investiram tanto tempo em energia em suas decisões que acabam se convencendo de que estão no caminho certo e não atualizam seu conhecimento diante das novas informações. Erros e vieses mais comuns na tomada de decisão Erro de aleatoriedade: Os seres humanos tem dificuldades para lidar com o acaso. A maioria de nós prefere acreditar que tem algum controle sobre o mundo e sobre o próprio destino. Nossa tendência em acreditar que podemos prever o resultado de eventos aleatórios, chama-se erro de aleatoriedade. O processo de tomada de decisões fica prejudicado quando tentamos criar um sentido para eventos aleatórios, principalmente quando transformamos padrões imaginários em superstições. Erros e vieses mais comuns na tomada de decisão Aversão ao risco: As pessoas ambiciosas que estão suscetíveis a perder seu poder (a maioria dos gestores) parecem ter especial aversão ao risco, talvez por não quererem perder, em uma aposta, tudo o que lutaram tanto para conseguir. Os CEOs que correm o risco de ser demitidos também são excepcionalmente avessos ao risco, mesmo quando uma estratégia de investimento mais arriscada é mais importante para sua empresa. Quando estão sob o efeito de estresse, as pessoas tendem a se comportar de maneira arriscada se isso envolver resultados negativos e de maneira avessa ao risco se os resultados forem positivos. Erros e vieses mais comuns na tomada de decisão Compreensão tardia: Esse viés é a nossa tendência de, depois da ocorrência de um evento, ter a falsa impressão de que sabíamos qual seria seu resultado. Quando temos uma informação precisa de um resultado, parece-nos muito claro que este era óbvio. Influências na tomada de decisões: Diferenças individuais Personalidade: Facetas específicas daconscienciosidade – e não o traço considerado como um todo – podem influenciar na escalada do comprometimento. Duas facetas de consicienciosidade, em particular – esforço na realização e dedicação – apresentam efeitos contrários nesse quesito. As pessoas que se esforçavam na realização tendiam a intensificar seus compromissos, aos passo que as dedicadas eram menos propensas a isso. Influências na tomada de decisões: Diferenças individuais Gênero: Ainda não está claro porque as mulheres ruminam mais dos que os homens. Uma das teorias seria a de que os pais encorajam e esforçam as expressões de tristeza e ansiedade mais nas meninas do que nos meninos. Outra argumenta que as mulheres, mais que os homens, baseiam sua autoestima e bem-estar na opinião que os outros têm sobre elas. Uma terceira possibilidade é que as mulheres tem mais sentimento de empatia e, assim, são mais afetadas pelo que acontece às outras pessoas. Por isso elas tem mais coisas sobre as quais ruminar. Influências na tomada de decisões: Diferenças individuais Habilidade mental: As pessoas inteligentes são igualmente propensas a ser vítima da ancoragem, do excesso de confiança e da escalada do comprometimento, provavelmente por serem confiantes demais ou emocionalmente defensivas. Isso não significa que a inteligência nunca importa. Uma vez avisadas sobre os erros de tomada de decisão, aqueles mais inteligentes aprendem com rapidez a evitá-los. Eles também são mais capazes de evitar erros de lógica, como falsos silogismos ou interpretações incorretas de dados. Influências na tomada de decisões: Restrições organizacionais Avaliação de desempenho: O modo como os administradores tomam decisões é fortemente influenciado pelos critérios por meio dos quais eles são avaliados. Sistemas de recompensa: O sistema de recompensa da organização influencia os tomadores de decisões ao lhes sugerir quais escolhas são preferíveis em matéria de resultados pessoais. Regulamentações formais: Todas as organizações, exceto as muito pequenas, criam regras e políticas para programar as decisões e padronizar o comportamento de seus membros. Evidentemente, ao fazer isso, elas também restringem as escolhas dos tomadores de decisões. Influências na tomada de decisões: Restrições organizacionais Limites de tempo: Quase todas as decisões importantes possuem um prazo específico. Precedentes históricos: As decisões não são tomadas no vazio. Elas se inserem em um contexto. Na verdade, as decisões individuais são como trechos de um reflexo de decisões. As escolhas que fazemos hoje, portanto, são em grande parte resultado das escolhas que fizemos há anos. Referências: DUBRIN, A. J. Fundamentos do Comportamento Organizacional. São Paulo: Cengage Learning, 2008. ROBBINS, S. P.; JUDGE, T. A.; SOBRAL, F. Comportamento Organizacional: teoria e prática no contexto brasileiro. São Paulo: Pearson, 2010. SOTO, E. Comportamento Organizacional: o impacto das emoções. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2011.
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