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RAFAEL CORTE MELLO (org.), ROMULO PONTICELLI GIORGI JUNIOR (org). e JAQUELINE MIELKE SILVA (prefácio) NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO 1ª edição Porto Alegre 2015 M527n Mello, Rafael Corte, 1976- NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO Rafael Corte Mello (org).; Romulo Ponticelli Giorgi Jr. (org). & Jaqueline Mielke Silva (prefácio) - 2015. 722f. MELLO, Rafael Corte (org).; GIORGI JR., Romulo Ponticelli (org.) & SILVA, Jaqueline Mielke (prefácio). Novo Código de Processo Civil Anotado. Charleston, SC, EUA: CreateSpace Independent Publishing Platform, 2015. ISBN do livro impresso 978-1512066272. 1. Processo Civil. 2. Código de Processo Civil. 3. Lei 13.105/2015 4. Precedente. II. Título CDD :341.46 Dedicamos esta obra a Ovídio Araújo Baptista da Silva, in memoriam. Autores Aline Woltz Gueno arts. 133 a 137 Álvaro Vinícius Paranhos Severo arts. 485 a 508 Ana Luísa Martins Etcheverry arts. 926 a 946 André Corte Mello arts. 707 a 718 Anelise Rigo De Marco arts. 700 a 702 e 994 a 1.026 Angélica Salvagni arts. 528 a 535 Antonio Marcelo Pacheco de Souza arts. 947 a 959 Carlos Eduardo Azevedo Olson arts. 70 a 76; 103 a 112; 481 a 484 Clarissa Santos Lucena arts. 509 a 527; 536 a 538 Cristiano Colombo arts. 747 a 763 Daniela Boito Maurmann Hidalgo arts. 926 a 946 Daniela Gonsalves da Silveira arts. 797 a 823 Fábio Cardoso Machado arts. 294 a 310 Felipe Kirchner arts. 67 a 69; 182 a 187; Felipe Scalabrin arts. 824 a 909 Fernanda Borghetti Cantali arts. 133 a 137; 599 a 609; 764 e 765 Gabriel de Oliveira Mathias arts. 236 a 268 Guilherme Antunes da Cunha arts. 911 a 913 Gustavo Santanna art. 910; 914 a 925 Handel Martins Dias arts. 113 a 132; 138; 176 a 181; 674 a 686 Ida Beatriz De Luca arts. 405 a 463 Jaqueline Mielke Silva arts. 98 a 102 Jeferson Luiz Dellavalle Dutra arts. 639 a 667 José Márcio Paz Söderquist arts. 539 a 553 Josimarcos Silva arts. 703 a 706 Juliano Colombo arts. 269 a 293 Letícia Ferrarini arts. 687 a 699 Lisiana Carraro arts. 188 a 235 Luiz Eduardo Jardim Vilar arts. 77 a 97 Marcelo Dadalt arts. 569 a 598 Márcio dos Santos Vieira arts. 42 a 66; 700 a 702 Marco Jobim arts. 771 a 796 Mateus Côrte Vitória arts. 766 a 780 Mauricio Martins Reis arts. 960 a 975 e 1.027 a 1.028 Miguel Nascimento Costa art. 910; 914 a 925 Otávio Augusto Dal Molin Domit arts. 312 a 317 Paulo Cezar Pinheiro Carneiro Filho arts. 236 a 268 Pedro Garcia Verdi arts. 668 a 673 Rafael Corte Mello arts. 1º a 15; 311; 700 a 706 e 994 a 1.026 Rafael Sirangelo de Abreu arts. 1.042 a 1.072 Renata Lisboa arts. 464 a 480 Ricardo Cesar Correa Pires Dornelles arts. 165 a 175 Ricardo Strauch Aveline arts. 16 a 41 Roberta Marcantônio arts. 719 a 746 Rodrigo Flores Fernandes arts. 610 a 638 Rodrigo Ustárroz Cantali arts. 554 a 568 Romulo Ponticelli Giorgi Júnior arts. 976 a 993 e 1.029 a 1.041 Ronaldo Kochem arts. 139 a 164 Vitor de Paula Ramos arts. 369 a 404 Vivian Rigo arts. 318 a 368 Sumário Prefácio Apresentação Artigos 1º a 15, por Rafael Corte Mello Artigos 16 a 41, por Ricardo Strauch Aveline Artigos 42 a 66, por Márcio dos Santos Vieira Artigos 67 a 69, por Felipe Kirchner Artigos 70 a 76, por Carlos Eduardo Azevedo Olson. Artigos 77 a 97, por Luiz Eduardo Jardim Vilar Artigos 98 a 102, por Jaqueline Mielke Silva Artigos 103 a 112, por Carlos Eduardo Azevedo Olson. Artigos 113 a 132, por Handel Martins Dias Artigos 133 a 137, por Aline Woltz Gueno e Fernanda Borghetti Cantali Artigo 138, por Handel Martins Dias Artigos 139 a 164, por Ronaldo Kochem Artigos 165 a 175, por Ricardo Cesar Correa Pires Dornelles Artigos 176 a 181, por Handel Martins Dias Artigos 182 a 187, por Felipe Kirchner Artigos 188 a 235, por Lisiana Carraro Artigos 236 a 268, por Paulo Cezar Pinheiro Carneiro Filho e Gabriel de Oliveira Mathias Artigos 269 a 293, por Juliano Colombo Artigos 294 a 310, por Fábio Cardoso Machado Artigo 311, por Rafael Corte Mello Artigos 312 a 317, por Otávio Augusto Dal Molin Domit Artigos 318 a 368, por Vivian Rigo Artigos 369 a 404, por Vitor de Paula Ramos Artigos 405 a 463, Ida Beatriz De Luca Artigos 464 a 480, por Renata Lisboa Artigos 481 a 484, por Carlos Eduardo Azevedo Olson. Artigos 485 a 508, por Álvaro Vinícius Paranhos Severo Artigos 509 a 527, por Clarissa Santos Lucena Artigos 528 a 533, por Angélica Salvagni Artigos 534 e 535, porAngélica Salvagni Artigos 536 a 538, por Clarissa Santos Lucena Artigos 539 a 553, por José Márcio Paz Söderquist Artigos 554 a 568, por Rodrigo Ustárroz Cantali Artigos 569 a 598, por Marcelo Dadalt Artigos 599 a 609, por Fernanda Borghetti Cantali Artigos 610 a 638, por Rodrigo Flores Fernandes Artigos 639 a 667, por Jeferson Luiz Dellavalle Dutra Artigos 668 a 673, por Pedro Garcia Verdi Artigos 674 a 686, por Handel Martins Dias Artigos 687 a 699, por Letícia Ferrarini Artigos 700 a 702, por Anelise Rigo De Marco, Márcio dos Santos Vieira e Rafael Corte Mello Artigos 703 a 706, por Rafael Corte Mello e Josimarcos Silva Artigos 707 a 718, por André Corte Mello Artigos 719 a 746, por Roberta Marcantônio Artigos 747 a 763, por Cristiano Colombo Artigos 764 e 765, por Fernanda Borghetti Cantali Artigos 766 a 770, por Mateus Côrte Vitória Artigos 771 a 796, por Marco Jobim Artigos 797 a 823, por Daniela Gonsalves da Silveira Artigos 824 a 909, por Felipe Scalabrin Artigo 910, por Gustavo Santanna e Miguel Nascimento Costa Artigos 911 a 913, por Guilherme Antunes da Cunha Artigos 914 a 925, por Gustavo Santanna e Miguel Nascimento Costa Artigos 926 a 946, por Daniela Boito Maurmann Hidalgo e Ana Luísa Martins Etcheverry Artigos 947 a 959, por Antonio Marcelo Pacheco de Souza Artigos 960 a 975, por Mauricio Martins Reis Artigos 976 a 993, por Romulo Ponticelli Giorgi Júnior Artigos 994 a 1.026, por Anelise Rigo De Marco e Rafael Corte Mello Artigos 1.027 e 1.028,por Mauricio Martins Reis Artigos 1.029 a 1.041, por Romulo Ponticelli Giorgi Júnior Artigos 1.042 a 1.072, por Rafael Sirangelo de Abreu CPC/1973 – Indicação dos artigos correspondentes no CPC/2015 LIVRO I - DO PROCESSO DE CONHECIMENTO (arts. 1º a 565) TÍTULO I - DA JURISDIÇÃO E DA AÇÃO (arts. 1º a 6º) TÍTULO II - DAS PARTES E DOS PROCURADORES (arts. 7º a 80) TÍTULO III - DO MINISTÉRIO PÚBLICO (arts. 81 a 85) TÍTULO IV - DOS ÓRGÃOS JUDICIÁRIOS E DOS AUXILIARES DA JUSTIÇA (arts. 86 a 153) TÍTULO V - DOS ATOS PROCESSUAIS (arts. 154 a 261) TÍTULO VI - DA FORMAÇÃO, DA SUSPENSÃO E DA EXTINÇÃO DO PROCESSO (arts. 262 a 269) TÍTULO VII - DO PROCESSO E DO PROCEDIMENTO (arts. 270 a 281) TÍTULO VIII - DO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO (arts. 282 a 475-R) TÍTULO IX - DO PROCESSO NOS TRIBUNAIS (arts. 476 a 495) TÍTULO X - DOS RECURSOS (arts. 496 a 565) LIVRO II - DO PROCESSO DE EXECUÇÃO (arts. 566 a 795) TÍTULO I - DA EXECUÇÃO EM GERAL (arts. 566 a 611) TÍTULO II - DAS DIVERSAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO (arts. 612 a 735) TÍTULO III - DOS EMBARGOS DO DEVEDOR (arts. 736 a 747) TÍTULO IV - DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR INSOLVENTE (arts. 748 a 786) TÍTULO V - DA REMIÇÃO (arts. 787 a 790) TÍTULO VI - DA SUSPENSÃO E DA EXTINÇÃO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO (arts. 791 a 795) LIVRO III - DO PROCESSO CAUTELAR (arts. 796 a 889) TÍTULO ÚNICO - DAS MEDIDAS CAUTELARES (arts. 796 a 889) LIVRO IV - DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS (arts. 890 a 1.210) TÍTULO I - DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA (arts. 890 a 1.102-C) TÍTULO II - DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA (arts. 1.103 a 1.210) LIVRO V - DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS (arts. 1.211 a 1.220) Prefácio O Direito Processual Civil está em descompasso com a realidade social contemporânea, em que pese as inúmeras reformas ocorridas nas últimas duas décadas. O Código de Processo Civil de 1973 sustenta-se em um modelo de processo, elaborado a partir das teorias jurídicas que sustentaram a modernidade, incompatíveis com os conflitos sociais que hoje vivenciamos. As transformações sociais são evidentes. Vivemos hoje em uma sociedade globalizada, cujos conflitos assumem uma nova dimensão. É preciso (re) construir o Direito Processual Civil, reconhecendo-se que o Código de Processo Civil de 1973 está adaptado a uma tradição da era moderna e que, por esta razão, é imperfeito e insuficiente para resolver os conflitos que emergiram nesta nova era. Apenas se pode falar em uma real pacificação social, se tivermos um Direito Processual Civil adequado à realidade moderna, e não a outros momentos históricos. Assim, podemos ter mecanismos processuais ainda vigentes, que talvez muito tenham servido no passado – em determinado momento histórico por nós vivenciado - mas que hoje estão absolutamente superados. Apenas é possível compreender o sistema jurídico, se conhecermos as razões históricas que inspiraram sua formulação. A partir deste conhecimento, é possível – então – a verificação se o mesmo continua, ainda, adequado (ou não) à nova realidade social em que se propõe aplicá-lo. Alasdair MACINTYRE [1] , ao tratar deste tema, refere que a “pessoa fora de todas as tradições carece de recursos racionais suficientes para a pesquisa, e, a fortiori, para a pesquisa sobre qual tradição deve ser racionalmente preferida. Essa pessoa não tem os meios relevantes adequados de avaliação racional, e, portanto, não pode chegar a nenhuma conclusão bem-fundamentada, incluindo a conclusão de que nenhuma tradição pode se defender contra qualquer outra. Estar fora de todas as tradições significa ser estranho à pesquisa; significa estar num estado de destituição moral e intelectual, uma condição a partir da qual é impossível formular a objeção relativista”. É preciso que seja estabelecida esta atividade dialógica entre o Direito Processual Civil e o mundo da vida, implementando-se instrumentos diferenciados, capazes de torná-lo mais ágil e efetivo. Ao tratar do tema, refere Nicolò TROCKER [2] : Ligado ao contraste entre o garantismo formal que abre abstratamente os mecanismos processuais a quem quer pretenda recorrer ao juiz para a defesa das próprias razões, e a realidade dos nossos sistemas processuais – que com a sua complexidade e custos criam obstáculos severos à realização do direito -, o problema de acesso à justiça manifesta-se antes de mais nada como problema de acesso aos instrumentos de tutela jurisdicional. E como tal, este solicita encontrar uma sua primeira resposta no compromisso de instituir adequados instrumentos capazes de atenuar os obstáculos de caráter econômico – o custo dos litígios – que condicionam a possibilidade de perseguir o reconhecimento judicial dos direitos. Hoje, este compromisso assume também uma severidade particular perante o reconhecimento constitucional das garantias ligadas ao princípio do ‘processo justo`. A aprovação de um Novo Código de Processo Civil representa uma tentativa de aproximação entre o Direito Processual Civil e a realidade social. Velhos mecanismos processuais foram reinventados – v.g. o novo procedimento comum -, assim como novos foram criados, como o incidente de resolução de demandas repetitivas. Os principais fundamentos que norteiam o Novo Código de Processo Civil são os mesmos já adotados nas reformas processuais realizadas nos últimos anos em diversos países. A flexibilização das formas processuais, em prol da realização de direitos, é - sem qualquer dúvida – uma das grandes conquistas da nova legislação. O Direito Processual Civil contemporâneo, deve ter escopo, antes de tudo, a realização de direitos. O direito substancial deve prevalecer sobre o formalismo processual. Por outro lado, os requisitos previstos no artigo 489, § 1° a § 3° do novo Código de Processo Civil para a fundamentação das decisões judiciais, são absolutamente compatíveis com o Estado Social e Democrático de Direito. Argumentos [3] em prol da legitimidade do direito devem ser compatíveis com os princípios morais da justiça e da solidariedade universal – sob pena de dissonâncias cognitivas – bem como com os princípios éticos [4] de uma conduta de vida auto-responsável, projetada conscientemente, tanto de indivíduos, como de coletividades [5] . Jürgen HABERMAS [6] designa, como morais, todas as instituições que nos informam sobre as melhores formas de nos comportarmos, “para que possamos reagir, mediante a deferência e a consideração, à extrema vulnerabilidade dos indivíduos”. Segundo Luigi Paolo COMOGLIO [7] , “quest’ultima impone di considerare come dovuto (e cioè: come due, debido o devido) non già qualunque processo che si limite ad essere estrinsecamente fair (vale a dire: correto, leale o regolare, sul piano formale, secondo la law of the land), bensì um processo che sia intrinsecamente equo e giusto, secondo i parametri etico-morali accetatti dal comune sentimento degli uomini di qualsiasi epoca o paese, in quanto si riveli capace di realizzare una giustizia veramente imparziale, fondata sulla natura e sulla ragione. Da Qui traggono origine le postulazioni teoriche, ormai quasi dovunque condivise, per la promulgazione e l’adozione di solenni atti legislativi (nazionali od internazionali) che riconoscano a tutti gli individui, in termini effettivi e senza irrazionali discriminazioni, il diritto fondamentale as un processo equo e giusto, quale nucleo essenziale del più ampio diritto ad un ordinamento giuridico giusto”. Interpretar e aplicar o Direito obriga sempre a um balanceamento entre o geral e o singular, entre o texto passado da norma e a exigência presente da justiça [8] . Atender ao chamado da justiça exige a recriação da norma contida no texto legal, não somente no sentido de que toda leitura/interpretação jurídica deve atender à singularidade de cada caso. Neste sentido, umaprática interpretativa que adote os princípios morais e éticos pode ajudar a superar a indeterminação dos enunciados jurídicos. Não se trata de uma interpretação dirigida a uma resposta certa [9] , mas uma interpretação comprometida com a busca da justiça e o caráter aberto, intangível desta. Os princípios morais e éticos não funcionariam com sentido único e decisivo, mas apenas como orientação à atividade do julgador. Ao lado das preocupações com a moral e ética que o Direito Processual Civil deve ter como escopo, um dos grandes problemas contemporâneos é o da duração do processo. A inadequação dos instrumentos processuais faz com que a prestação jurisdicional seja demorada. Ora, prestar jurisdição tardiamente significa o mesmo que não prestá-la. O novo Código de Processo Civil, inova ao tornar obrigatória a audiência de tentativa de conciliação e mediação no início do procedimento comum. Sem qualquer dúvida, um acordo é sempre melhor do que uma prestação jurisdicional demorada. No âmbito do procedimento comum foram introduzidos mecanismos com o nítido propósito de reduzir o tempo de duração do processo como, por exemplo, a revogação da exceções processuais e a apresentação da reconvenção na mesma peça processual da contestação. Relativamente à tutela provisória – em que pese a confusão teórica do novo Código de Processo Civil -, houve a nítida intenção de simplificar a técnica adotada no Código de Processo Civil de 1973. Os presentes comentários ao novo Código de Processo Civil são o resultado de um trabalho árduo dos autores, em sua grande maioria professores de direito processual civil e operadores do direito, com reconhecida capacidade jurídica. É uma obra que certamente em muito auxiliará aos operadores do direito e a todos aqueles que buscam um maior aprofundamento no estudo do Processo Civil. Maio de 2.015. Jaqueline Mielke Silva Novo Código de Processo Civil Anotado Apresentação A ideia de trabalhar o novo texto do Código de Processo Civil nasce com o objetivo de contribuir com a divulgação do importante texto normativo para que tanto o profissional quanto o acadêmico de Direito identifique a nova estrutura e as mudanças em relação ao Código de Processo Civil de 1973 vigente até 15 de janeiro de 2016. Também se deseja aproveitar ao máximo o que há de positivo e desmistificar, por outro lado, o imaginário de que a alteração foi radical. A intenção é ser objetivo e prático. O que, se por um lado impedirá um aprofundamento doutrinário, por outro lado permitirá uma boa compreensão e a apresentação elegante e clara do Código. As disposições inalteradas não serão anotadas, para viabilização da estratégia do estudo. As alterações de procedimentos serão pontuadas, pois, de fato, podem surpreender o jurista que não se ocupar em tomar conhecimento das mesmas, podendo ensejar perdas de oportunidades por desconhecimento dos novos instrumentos à disposição ao embate judicial. Com efeito, do ponto de vista do ineditismo o texto pode surpreender por não ter aprofundado nem contemplado algumas mudanças que eram aguardadas, perdendo a oportunidade de realizar um efetivo rompimento com o diploma projetado anteriormente para o Estado Legislativo rumo a um Código voltado ao Estado Democrático de Direito. De qualquer sorte, o CPC Anotado responderá às seguintes indagações: (a) o que foi alterado? (b) por qual motivo ou como ficou? (c) qual a doutrina ou jurisprudência que subsidia a alteração, quando existentes? Feito esse breve registro, esclarece-se que para realização do trabalho colocamos na coluna da esquerda o CPC/1973, na da direita o CPC/2015 e logo abaixo o comentário, identificando a autoria a cada grupo de artigos anotados. Desejamos a todos uma excelente leitura. Rafael Corte Mello LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Código de Processo Civil. A PRESIDENTA DA REPÚBLICA faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Artigos 1º a 15, por Rafael Corte Mello [10] PARTE GERAL LIVRO I - DAS NORMAS PROCESSUAIS CIVIS TÍTULO ÚNICO - DAS NORMAS FUNDAMENTAIS E DA APLICAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS CAPÍTULO I - DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: O capítulo I pretende expressar taxativamente em dispositivos da lei infraconstitucional princípios e garantias, inclusive de natureza constitucional, de há muito consagrados como informadores do processo civil brasileiro. É importante destacar que a inovação não se refere à necessidade respeito da Constituição no âmbito do processo civil, uma vez que essa é uma condição do Estado Democrático de Direito e, portanto, sempre foi tido por respeitável doutrina e jurisprudência qualificada como uma condição de possibilidade de todo e qualquer processo judicial. [11] A inovação, portanto, fica por conta de estarem inúmeros princípios e garantias constantes no texto constitucional agora também expressos no Código de Processo Civil. É possível especular que do ponto de vista da história brasileira ainda hoje o texto constitucional convém ser reafirmado pelo legislador, como forma de divulgação e efetivação do mesmo, ou seja, para consolidar os valores do Estado Democrático de Direito expresso em uma constituição que em 2015 tem menos de 30 anos de idade. Destacam-se os seguintes princípios e garantias: a) da demanda (art. 2º); b) o monopólio da jurisdição ou garantia do acesso à justiça (art. 3º relacionado com o art. 5º, XXXV, CF); c) duração razoável do processo (art. 4º relacionado com o art. 5º, LIV e LXXVIII, CF), explicitando ao final a noção de que a satisfação do direito faz parte da prestação jurisdicional (desdobramento do art. 5º, XXXV e LIV CF); d) a cooperação no processo (art. 6º, identificado como desdobramento do art. 5º, XXXV, LIV e LXXVIII, CF); e) a dignidade da pessoa humana (art. 6º relacionado com o art. 1º, III, CF); f) a razoabilidade (art. 8º, identificado como desdobramento do art. 5º, XXXV e LIV, CF); g) a legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência (art. 8º, todos relacionados com o art. 37, caput, CF); h) a igualdade (art. 7º do novo texto, relacionado com o art. 5º, caput, CF); i) a ampla defesa e o contraditório (art. 9º e 10 do novo texto, relacionados com o art. 5º, LV, CF); j) a publicidade e a motivação (art. 11, relacionado com o art. 93, IX, CF). Os princípios e garantias eleitos para figurarem no texto infraconstitucional do Diploma processual vinham sendo aplicados pela doutrina e jurisprudência processual, bem como invocados pelas partes quando eivado de vício o devido processo legal. Em termos práticos se poderia afirmar não consistirem em alteração significativa, sendo quase uma superafetação, não fosse a importância de sua reafirmação. [12] Ainda assim, merecem destaque a menção à satisfação do direito (art. 4º), a noção de cooperação no processo (art. 6º) e os princípios que informam a administração pública (art. 8º). Para além dessas observações, do ponto de vista prático do acesso à jurisdição dos tribunais superiores a previsão expressa de princípios e garantias constitucionais no texto infraconstitucional proporcionará mais oportunidades para interposição de recursos especiais ao Superior Tribunal de Justiça. A afirmação decorre do fato de que grande parte dos recursos extraordinários que debatem questões processuais sob o enfoque das garantias e princípios constitucionais aplicáveis são inadmitidos pelo Supremo Tribunal Federal sob o argumento de que a constituição teria sido afrontada de modo meramente “oblíquo” [13] , enquanto que a análise de tal questão pelo Superior Tribunal de Justiça poderia ter sido afastada por se tratar de matéria constitucional. [14] Agora, com a expressa previsão das garantias e princípios constitucionais no texto infraconstitucional fica aberta a oportunidadede debatê- los também diante do Superior Tribunal de Justiça, evitando ausência de prestação jurisdicional sobre temas jurídicos de tamanho relevo. Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: ver anotação anterior. Art. 262. O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso oficial. Art. 2º. Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais. Art. 2º O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei. Anotação: Trata-se do conhecido princípio da demanda e do impulso oficial de modo que devem ser consultadas as obras de processo civil, tais como SILVA, Ovídio A. Baptista da. Curso de Processo Civil. São Paulo: Forense; SILVA, Jaqueline Mielke. O Direito Processual Civil Como Instrumento de Realização d e Direitos. Porto Alegre: Verbo Jurídico; MITIDIERO, Daniel; OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. Curso de Processo Civil - Processo de Conhecimento - Vol. 1. São Paulo: Atlas; MARINONI, Luiz Guilherme. Teoria Geral do Processo. São Paulo: editora RT; CINTRA, Antonio Carlos Araujo, DINAMARCO, Cândido Rangel e GRINOVER, Ada Pellegrini. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Malheiros editores. Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. § 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei. § 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. § 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial. * Sem correspondência no CPC/73. Ver art. 5º, XXXV da CF, quanto ao acesso à justiça. Ver Lei 9.307/1996, quanto à arbitragem. Anotação: Trata-se da garantia constitucional de acesso à justiça. Sugerida consulta às seguintes obras: CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. Coimbra: Almedina; SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia Dos Direitos Fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado. Art. 4º As partes têm direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. * Sem correspondência no CPC/73. Ver art. 5º, LXXVIII da CF, quanto à garantia da duração razoável do processo. Anotação: Trata-se da garantia constitucional da duração razoável do processo. Sugerida consulta às seguintes obras: CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. Coimbra: Almedina; MARINONI, Luiz Guilherme, MITIDIERO, Daniel e SARLET, Ingo Wolfgang. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: RT. Já a explicitação da satisfação (art. 4º), anteriormente materializada por meio das antecipações de tutela e das tutelas específicas (arts. 273 e 461 do CPC-73), ou por meio do ineficiente procedimento executivo, agora se sobressai como sendo um direito de que deve se ocupar a prestação jurisdicional. A crítica que se faz à ideologia da modernidade mais voltada para as declarações do direito – a busca por verdades e certezas absolutas e preexistentes - não é nova [15] . Nada obstante, pela primeira vez se prescreve de modo expresso ser dever estatal também a satisfação do direito. Direito-dever inerente à proibição da autotutela. Ou seja, o juiz deve se ocupar em concretizar os direitos e não se dar por cumpridor de seu ofício ao apenas declarar o vencedor por meio de sentenças, decisões e acórdãos. O direito à satisfação vincula a atividade jurisdicional com algo muito mais relevante do que apenas julgar (dizer o direito), ou seja, vincula com a concretização do direito, tornando-se evidente que é tarefa precípua do Poder Judiciário entregar o bem da vida a quem obteve o reconhecimento da titularidade do direito material e não apenas julgar. Com efeito, é possível ponderar ter a reforma perdido a oportunidade de se dedicar com mais afinco à satisfação dos direitos, incluindo-a no cronograma de julgamentos (art. 12), equiparando-a em importância ao invés de deixá-la para o segundo plano, novamente. Atualmente não existe sequer controle estatístico de decisões dos tribunais e dos juízes que efetivamente são cumpridas, enquanto os julgamentos proferidos aos milhares sem controle de qualidade são divulgados à sociedade como se fossem demonstrações de eficiência. Sob tal perspectiva é bem vinda a menção do direito à satisfação (art. 4º). Art. 5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé. * Sem correspondência no CPC/73. Ver art. 113 do Código Civil. Anotação: O tema da boa-fé objetiva é bem elaborado na doutrina do direito material civil. No âmbito do processo se costuma trabalhar com as violações, ou seja, condutas contrárias à boa-fé ou que caracterizem litigância de má-fé. Ver artigos 142, 533, parágrafo 4º e 775. Ainda sobre os atos atentatórios à dignidade da justiça: artigos 77, IV e VI e parágrafo 1º. Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. * Sem correspondência no CPC/73. Ver art. 5º, LXXVIII da CF, quanto à garantia da duração razoável do processo. Anotação: A cooperação no processo (art. 6º), também denominada de colaboração pela doutrina, vem prestigiar o contraditório, o diálogo e a justiça, enriquecendo a busca pela efetividade do direito. A cooperação contribui para recuperar a responsabilidade de todos para com a fluência da prestação jurisdicional, tornando mais evidente que as partes devem colaborar com o Poder Judiciário em prol do devido processo legal. Sob outra perspectiva, o juiz também deve se ocupar em colaborar com as partes, observando suas dificuldades e em pé de igualdade contribuir com propostas efetivas e casuísticas para que, respeitando o devido processo legal, seja substancialmente exercido o direito de acesso à justiça. Trata-se de uma noção voltada à concretização de valores constitucionais, enfim, de justiça, eleitos pela sociedade brasileira. Sobre a colaboração se poderia afirmar já estarem as exigências de respeito mútuo e deveres das partes anunciadas em disposições do Código anterior, v.g. art. 14, CPC/73, porém, pela primeira vez se destaca esse enfoque denominado de cooperação para com a efetivação do direito a qual implica também o julgador como sujeito que deve cooperar com as partes em busca da realização do direito e não mais reservado a uma posição passiva e inerte. [16] É a contribuição do legislador, por exemplo, para com o fim do padrão de despacho judicial intime-se a parte, sob pena de arquivamento sem que antes o próprio magistrado tenha esgotado sua colaboração para com a satisfação do direito, propondo inclusive diligências ou recomendando as menos onerosas. Exemplos concretos de colaboração entre os sujeitos do processo no texto legal são os de dispor de comum acordo sobre atos processuais: art. 189, parágrafo 1º (fixar calendário para a prática dos atos processuais) e art. Art. 468 (escolha do perito). A cooperação entre juiz e partes torna mais civilizada a relação jurídica processual, evitando decisões surpreendentes ao final do litígio, pois permite a construção coletiva da demanda. Importante o registro sobre ser o objetivo do processo a solução de mérito, tanto quanto sua efetivação (concretização) e não o mero julgamento (dizer o direito).Art. 125. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, competindo-lhe: I - assegurar às partes igualdade de tratamento; Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aosdeveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. Anotação: A paridade de tratamento é desdobramento do direito fundamental à igualdade, art. 1º, CF. A igualdade de tratamento pode ser vista sob a perspectiva da legislação, igualdade formal, perante a lei, ou substancial, na lei. [17] Para o processo civil a paridade possui uma perspectiva voltada a igualdade de oportunidades, ou seja, paridade de armas diante do combate [18] . O juiz ao presidir o processo deve garantir que as partes possuam idênticas oportunidades durante o embate judicial, seja em relação a prazos, a provas, a audiências, a sustentação oral, a atendimento às partes e seus advogados etc. Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. * Sem correspondência no CPC/73. Ver arts.1º, III, 5º, LIV e 37, CF/88. Anotação: ver anotação inicial deste capítulo com destaque a parte final sobre o cabimento de recurso especial. Recomenda-se a leitura de ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios – da definição à aplicação dos princípios jurídicos. São Paulo: Malheiros; CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. Coimbra: Almedina; SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado. Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que esta seja previamente ouvida. Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica: I – à tutela provisória de urgência; II – às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 309, incisos II e III; III – à decisão prevista no art. 699. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: O artigo reafirma a regra do contraditório prévio à decisão judicial. A exceção é a tomada de decisão inaudita altera parte (sem ouvir a outra parte). As exceções em que se permite a tomada de decisão sem ouvir a parte adversária estão relacionadas a situações de urgência, ou de direito evidente. Ver as anotações dos arts. 292 e seguintes, 309 e 699. Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: O contraditório é objeto de destaque expresso no novo Código. Não é incomum na prática forense atual que a parte se dedique a desenvolver sua argumentação voltada a demonstrar que merece vencer por ser a titular do direito. Porém, ao final, poderia ser surpreendida por uma decisão judicial extintiva do processo, sem enfrentar o mérito. Fundamento a respeito do qual jamais fora chamada a se manifestar. Outra hipótese é a adoção de fundamento sob perspectiva jurídica que surpreende por jamais ter sido alvo de debate entre as partes, mas que o magistrado reputa essencial para solução do litígio. Essas condutas sempre foram admitidas sob os adágios do da mihi factum, dabo tibi ius e iura novit curia, ou dá-me os fatos e te darei o direito ou o juiz conhece a norma. [19] Contudo, diante de um novo sistema processual em que a cooperação entre juiz e partes ganha relevo, não mais deve ser tolerada a decisão que surpreende com fundamentação jurídica jamais debatida nos autos. Privilegia-se a aplicação substancial do contraditório ao determinar que antes de julgar, em qualquer grau de jurisdição, o juiz deverá ouvir as partes a respeito de perspectiva jurídica que possa determinar a fundamentação de sua decisão. Se um fundamento jurídico for cogitado pelo juiz sem que tenha sido debatido ele terá que oportunizar às partes manifestação prévia à tomada de decisão. Se no Tribunal, antes do julgamento deverá explicitar a questão jurídica e dar vista às partes. Note-se que essa regra aplica-se mesmo em questão de ordem pública, a respeito da qual o magistrado deva se pronunciar de ofício - por conta própria. Art. 131. O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento. Art. 165. As sentenças e acórdãos serão proferidos com observância do disposto no art. 458; as demais decisões serão fundamentadas, ainda que de modo conciso. Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada somente a presença das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público. Anotação: O dispositivo trata dos princípios da publicidade e da motivação. Reproduz texto do art. 93, IX, CF. Ver sobre o tema BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A motivação das decisões judiciais como garantia inerente ao Estado de Direito. In Temas de direito processual. São Paulo: Saraiva. O parágrafo excepciona casos de segredo de justiça antes constantes do art. 155 do CPC/73. Ver também arts. 107, I, 152, V, 189 e, sobre a fundamentação, ver especialmente o art. 489, parágrafo 1º. Art. 12. Os juízes e os tribunais deverão obedecer à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão. § 1º A lista de processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente à disposição para consulta pública em cartório e na rede mundial de computadores. § 2º Estão excluídos da regra do caput: I – as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência liminar do pedido; II – o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em julgamento de casos repetitivos; III – o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de demandas repetitivas; IV – as decisões proferidas com base nos arts. 482 e 930; V – o julgamento de embargos de declaração; VI – o julgamento de agravo interno; VII – as preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça; VIII – os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham competência penal; IX – a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão fundamentada. § 3º Após elaboração de lista própria, respeitar-se-á a ordem cronológica das conclusões entre as preferências legais. § 4º Após a inclusão do processo na lista de que trata o § 1º, o requerimento formulado pela parte não altera a ordem cronológica para a decisão, exceto quando implicar a reabertura da instrução ou a conversão do julgamento em diligência. § 5º Decidido o requerimento previsto no § 4º, o processo retornará à mesma posição em que anteriormente se encontrava na lista. § 6º Ocupará o primeiro lugar na lista prevista no § 1º ou, conforme o caso, no § 3º, o processo: I – que tiver sua sentença ou acordão anulado, salvo quando houver necessidade de realização de diligência ou de complementação da instrução; II – quando ocorrer a hipótese do art. 1.037, inciso II. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: O artigo 12 se ocupa em materializar o princípio da igualdade (art. 1º, CF) por meio da criação de um procedimento específico de controle da ordem cronológica de julgamentos. Combate privilégios indevidos e o tratamento desigual na ordem de julgar, impondo um critério objetivo de antiguidade, ressalvando circunstâncias excepcionais ou voltadas à preservação de direito ou de coerência a mecanismo legal como a publicação de acórdão em modalidade de repetitivo (art. 1.037, II). Este último por ser mecanismo que suspende a tramitação do processo até o julgamento do paradigma, não podendo ser considerado no cronograma enquanto não cessada a suspensão. E devendo ser julgado imediatamente quando do resultado do paradigma a ser reproduzido.CAPÍTULO II - DA APLICAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS * Sem correspondência no CPC/73. Art. 1.211. Este Código regerá o processo civil em todo o território brasileiro. (...). * Correspondência parcial. Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte. Art. 1.211. (...). Ao entrar em vigor, suas disposições aplicar-se-ão desde logo aos processos pendentes. * Correspondência parcial. Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada. Anotação: O CPC entra em vigor após decorrido um ano da data de sua publicação oficial, conforme artigo 1.042 das disposições transitórias, porém, segue respeitada a regra de aplicação imediata das normas processuais tão logo esteja em vigor o Código. O CPC/15 deve ser aplicado aos processos em tramitação não importando a fase processual em que a ação se encontre. Nada obstante, os atos processuais e as situações jurídicas superadas e consolidadas à luz do CPC/73 deverão ser respeitados. Isso não significa que as novas ferramentas processuais voltadas para satisfação do direito não possam ser invocadas para efetivação de execuções, inclusive as arquivadas, desde que não prescrito ou caducado o direito reclamado. Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente. * Sem correspondência no CPC/73 Anotação: Segundo o art. 22, I da CF/88 compete privativamente à União legislar sobre o direito processual. Isso significa que apenas à norma infraconstitucional federal cabe regular sobre processo. Com efeito, dada a organização judiciária brasileira que subdividiu o Poder Judiciário em órgãos diversos (art. 92, CF/88) e também dada a especialização da prestação jurisdicional para determinados tipos de direitos materiais, v.g. eleitoral, trabalhista. Existem normas federais que regulam os mais diversos procedimentos em contraditório, ou seja, os processos judiciais. Com efeito, entendeu o legislador, para além da previsão de normas especiais que expressamente apontam o CPC como fonte supletiva e subsidiária [20] de eventual lacuna, por exemplo, a CLT, art. 769, que também seria pertinente indicar a partir do CPC ser ele invocável para processos eleitorais e trabalhistas. A Comissão Especial do CPC aceitou a sugestão sob a justificativa de que a Lei nº 6.830/80 (Lei das execuções fiscais) tem sido utilizada no processo trabalhista, o que geraria confusão. Nada obstante o desejo de contribuição manifestado, é importante lembrar que o art. 889 da CLT segue indicando expressamente tal norma. Interessante ainda observar a extensão da aplicação do CPC também aos processos administrativos, ou seja, não judiciais. A previsão é coerente com o art. 93, IX, CF/88, relativo à exigência da publicidade e da motivação dos julgamentos, o qual desde sempre foi entendido como sendo aplicável também ao processo administrativo. Artigos 16 a 41, por Ricardo Strauch Aveline [21] LIVRO II - DA FUNÇÃO JURISDICIONAL TÍTULO I - DA JURISDIÇÃO E DA AÇÃO Anotação: Jurisdição é a função estatal que tem por finalidade a atuação da vontade concreta da lei, substituindo a atividade do particular pela intervenção do Estado. Através do seu exercício, declaram-se direitos preexistentes. [22] Sobre o tema, ver CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil. Volume 1. Campinas: Bookseller, 2000, p. 59-60; PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Direito Processual Civil Contemporâneo. Volume 1. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 145; AMENDOEIRA JR., Sidnei. Manual de direito processual civil. Volume 1. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 15. Art. 1º A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo o território nacional, conforme as disposições que este Código estabelece. Art. 16. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições deste Código. Anotação: A jurisdição, que em latim significa “ação de dizer o direito”, decorre da soberania do Estado e, juntamente com as funções administrativa e legislativa, compõe as funções estatais típicas. [23] A jurisdição civil engloba pretensões de natureza fiscal, administrativa, constitucional, civil, comercial, etc. [24] Ver sobre o tema AMENDOEIRA JR., Sidnei. Manual de direito processual civil. Volume 1. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 25. Art. 3º Para propor ou contestar ação é necessário ter interesse e legitimidade. Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade. Anotação: Refere-se ao proveito da tutela jurisdicional. Não convém ao Estado movimentar o seu aparato judicial sem que dessa atividade possa ser extraído algum resultado útil. Sobre o tema ver PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Direito Processual Civil Contemporâneo. Volume 1. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 190. Art. 6º Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei. Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico. Anotação: O artigo 18 mantém a regra da legitimação ordinária, colocando a extraordinária como exceção que depende de autorização legal expressa. Sobre o tema ver PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Direito Processual Civil Contemporâneo. Volume 1. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 199. Art. 4º O interesse do autor pode limitar-se à declaração: I - da existência ou da inexistência de relação jurídica; II - da autenticidade ou falsidade de documento. Ar t . 19. O interesse do autor pode se limitar à declaração: I – da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma relação jurídica; II – da autenticidade ou da falsidade de documento. Anotação: O artigo 19 repete a redação do artigo 4.º do antigo Código de Processo Civil. Sobre o tema ver PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Direito Processual Civil Contemporâneo. Volume 1. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 190. Art. 4.º (...) Parágrafo único. É admissível a ação declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito. A r t . 20. É admissível a ação meramente declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito. Anotação: O artigo 20 repete a redação do parágrafo único do artigo 4.º do antigo Código de Processo Civil. Sobre o tema ver PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Direito Processual Civil Contemporâneo. Volume 1. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 190. TÍTULO II - DOS LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL E DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL CAPÍTULO I - DOS LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: Andou bem o legislador ao alterar o nome deste capítulo do Código de Processo Civil. Anteriormente utilizava o termo “Da Competência Internacional” e, agora, passou a utilizar “Dos Limites da Jurisdição Nacional”. O termo “competência internacional” vem sendo utilizado para designar a competência de tribunais internacionais, tais como a Corte Internacional de Justiça e o Tribunal Penal Internacional, ambos situados em Haia na Holanda. [25] Já o termo “limites da jurisdição nacional” remete ao estudo dos critérios adotados pelo legislador para definir quando o Poder Judiciário nacional é competente para julgar questões envolvendo pessoas naturais ou jurídicas estrangeiras e seus negócios jurídicos com pessoas naturais ou jurídicas brasileiras. Ar t . 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando: I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II - no Brasil tiver deser cumprida a obrigação; III - a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil. Parágrafo único. Para o fim do disposto no n.º I, reputa-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que aqui tiver agência, filial ou sucursal. Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que: I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II – no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III – o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal. Anotação: Dada a autonomia jurisdicional dos Estados, cada um deles tem inteira independência para indicar em sua legislação quais são as causas que podem ser julgadas em sua jurisdição. [26] Assim, nos casos previstos no artigo 21 do novo CPC, o direito brasileiro admite a possibilidade de a justiça de outro Estado ser igualmente competente para julgar a causa. Trata-se, pois, de competência concorrente. [27] Sobre o tema ver PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Direito Processual Civil Contemporâneo. Volume 1. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 204.Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações: I – de alimentos, quando: a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil; b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos; II – decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil; III – em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: No artigo 22, o legislador inseriu hipóteses de competência interna que já vinham sendo reconhecidas pela jurisprudência, destacando-se as compras realizadas por consumidores brasileiros em sites estrangeiros na internet. Tal hipótese demandava interpretação e aplicação do artigo 101, I, do Código de Defesa do Consumidor no tocante ao foro privilegiado do consumidor. Agora o CPC retirou qualquer dúvida: o consumidor pode processar o fornecedor estrangeiro no Brasil. Sobre o tema, ver DEL’OLMO, Florisbal de Souza. Curso de Direito Internacional Privado. 9.ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 114, 175 e 185; PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Direito Processual Civil Contemporâneo. Volume 1. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 223. Art. 89. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; II - proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional. Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular, inventário e partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional; III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional. Anotação: O Estado é composto por povo, território e autoridade estatal. [28] Os imóveis, por sua vez, compõem parte do território, por isso, os legisladores, nos mais diversos países, procuram dar competência à autoridade judiciária interna para tratar deles, defendendo, assim, a soberania do Estado. Com este espírito e, seguindo o que vinha entendendo a jurisprudência, o artigo 23 do novo CPC incluiu a hipótese de competência da autoridade judiciária brasileira em casos de divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável quando houver bens situados no Brasil. Em muitos casos, o advogado ingressará com uma ação de divórcio no Brasil, por exemplo, arrolando os bens aqui situados e deverá mover outra ação, em outro país, se o casal tiver bens imóveis no exterior. Isto ocorre uma vez que o juiz brasileiro não possui competência para julgar ações que envolvam imóveis situados no exterior. Trata-se, pois, de foros exclusivos ou absolutos. Sobre o tema, ver DEL’OLMO, Florisbal de Souza. Curso de Direito Internacional Privado. 9.ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 209 e RECHSTEINER, Beat Walter. Direito Internacional Privado. 12.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 258. A r t . 90. A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz litispendência, nem obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que Ihe são conexas. A r t . 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil. Parágrafo único. A pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para produzir efeitos no Brasil. Parágrafo único. A pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para produzir efeitos no Brasil. Anotação: A ação que tramita em outra ordem jurídica não gera litispendência no Brasil. Assim, entende-se que mesmo que a ação já tenha sido decidida no país estrangeiro, com trânsito em julgado, tal circunstância deve ser ignorada pelo juiz brasileiro, pois somente depois de homologada pelo STJ é que a sentença estrangeira terá eficácia no Brasil. Sobre o tema, ver PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Direito Processual Civil Contemporâneo. Volume 1. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 205; AMENDOEIRA JR., Sidnei. Manual de direito processual civil. Volume 1. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 124; DEL’OLMO, Florisbal de Souza. Curso de Direito Internacional Privado. 9.ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 245. Art. 25. Não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato internacional, arguida pelo réu na contestação. § 1º Não se aplica o disposto no caput às hipóteses de competência internacional exclusiva previstas neste Capítulo. § 2º Aplicam-se à hipótese do caput o art. 63, §§ 1º a 4º. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: O artigo 25 corrobora o entendimento do STF sobre o tema ao emitir a Súmula 335 que dispõe que: “É válida a cláusula de eleição de foro para os processos oriundos de contrato.” Tal entendimento é criticado por parte da doutrina que afirma que a autonomia da vontade, neste caso específico, estimula uma espécie de forum shopping. Ver sobre o tema, BAPTISTA, Luiz Olavo, Contratos Internacionais. São Paulo: Lex Magister, 2011, p 182. CAPÍTULO II - DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: A efetividade do Direito em um cenário de intensificação das relações internacionais, seja no âmbito civil, comercial, trabalhista, migratório ou informacional, demanda uma crescente cooperação internacional e, até mesmo, uma integração entre os países. Neste sentido, as “relações jurídicas não se processam mais unicamente dentro de um único Estado Soberano, pelo contrário, é necessário cooperar e pedir cooperação de outros Estados para que se satisfaça as pretensões por justiça do indivíduo e da sociedade”. Sobre o tema, ver Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos. Cooperação em Matéria Civil. 3.ª ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2012, p. 15;LOULA, Maria Rosa. Auxílio Direto: Novo Instrumento Brasileiro de Cooperação Jurídica Internacional. Belo Horizonte: Editora Forum, 2010; SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. “Cooperação Jurídica Internacional e Auxílio Direto”. I n TIBÚRCIO, Carmen; BARROSO, Luís Roberto. Direito Internacional Contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. Art. 26. A cooperação jurídica internacional será regida por tratado do qual o Brasil seja parte e observará: I – o respeito às garantias do devido processo legal no Estado requerente; II – a igualdade de tratamento entre nacionais e estrangeiros, residentes ou não no Brasil, em relação ao acesso à justiça e à tramitação dos processos, assegurando-se assistência judiciária aos necessitados; III – a publicidade processual, exceto nas hipóteses de sigilo previstas na legislação brasileira ou na do Estado requerente; IV – a existência de autoridade central para recepção e transmissão dos pedidos de cooperação; V – a espontaneidade na transmissão de informações a autoridades estrangeiras. § 1º Na ausência de tratado, a cooperação jurídica internacional poderá realizar-se com base em reciprocidade, manifestada por via diplomática. § 2º Não se exigirá a reciprocidade referida no § 1º para homologação de sentença estrangeira. § 3º Na cooperação jurídica internacional não será admitida a prática de atos que contrariem ou que produzam resultados incompatíveis com as normas fundamentais que regem o Estado brasileiro. § 4º O Ministério da Justiça exercerá as funções de autoridade central na ausência de designação específica. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: Com o passar dos anos, a cooperação jurídica internacional deixou de ser exclusivamente um ato de cortesia ent re os Estados e passou a ser uma obrigação decorrente de tratados internacionais. Destaca-se, entre os tratados internacionais, a Convenção de Haia de Comunicação de Atos Processuais de 1965, que trouxe a obrigação de cada Estado parte designar uma Autoridade Central para receber os pedidos de cooperação jurídica. A autoridade central é um órgão técnico-especializado responsável pela boa condução da cooperação jurídica que cada Estado exerce com as demais soberanias. No Brasil, tal função é exercida pelo Ministério da Justiça. Sobre o tema, ver Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos. Cooperação em Matéria Civil. 3.ª ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2012, p. 20; LOULA, Maria Rosa. Auxílio Direto: Novo Instrumento Brasileiro de Cooperação Jurídica Internacional. Belo Horizonte: Editora Forum, 2010; SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. “Cooperação Jurídica Internacional e Auxílio Direto”. In TIBÚRCIO, Carmen; BARROSO, Luís Roberto. Direito Internacional Contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. Art. 27. A cooperação jurídica internacional terá por objeto: I – citação, intimação e notificação judicial e extrajudicial; II – colheita de provas e obtenção de informações; III – homologação e cumprimento de decisão; IV – concessão de medida judicial de urgência; V – assistência jurídica internacional; VI – qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei brasileira. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: As cartas rogatórias destinam-se ao cumprimento de vários dos atos citados no artigo 27 do novo CPC, tais como, citação, notificação e cientificação, denominados ordinários ou de mero trâmite, de coleta de provas, chamados instrutórios; e ainda os de caráter restritivo, chamados executórios. Em síntese, é o veículo de transmissão de qualquer pedido judicial. Sobre o tema, ver Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos. Cooperação em Matéria Civil. 3.ª ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2012, p. 38; LOULA, Maria Rosa. Auxílio Direto: Novo Instrumento Brasileiro de Cooperação Jurídica Internacional. Belo Horizonte: Editora Forum, 2010; SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. “Cooperação Jurídica Internacional e Auxílio Direto”. I n TIBÚRCIO, Carmen; BARROSO, Luís Roberto. Direito Internacional Contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. SEÇÃO II - DO AUXÍLIO DIRETO Art. 28. Cabe auxílio direto quando a medida não decorrer diretamente de decisão de autoridade jurisdicional estrangeira a ser submetida a juízo de delibação no Brasil. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: O auxílio direto é uma modalidade de cooperação que surgiu diante da necessidade de respostas mais rápidas aos pedidos formulados. Trata-se de cooperação efetuada entre autoridades centrais de Estados parte de tratados internacionais que prevejam esta modalidade. Um exemplo é a Convenção de Haia sobre Aspectos Cíveis do Sequestro de Menores. Sobre o tema, ver Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos. Cooperação em Matéria Civil. 3.ª ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2012, p. 43; LOULA, Maria Rosa. Auxílio Direto: Novo Instrumento Brasileiro de Cooperação Jurídica Internacional. Belo Horizonte: Editora Forum, 2010; SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. “Cooperação Jurídica Internacional e Auxílio Direto”. I n TIBÚRCIO, Carmen; BARROSO, Luís Roberto. Direito Internacional Contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. Art. 29. A solicitação de auxílio direto será encaminhada pelo órgão estrangeiro interessado à autoridade central, cabendo ao Estado requerente assegurar a autenticidade e a clareza do pedido. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: Sobre o tema, ver Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos. Cooperação em Matéria Civil. 3.ª ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2012, p. 43; LOULA, Maria Rosa. Auxílio Direto: Novo Instrumento Brasileiro de Cooperação Jurídica Internacional. Belo Horizonte: Editora Forum, 2010; SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. “Cooperação Jurídica Internacional e Auxílio Direto”. I n TIBÚRCIO, Carmen; BARROSO, Luís Roberto. Direito Internacional Contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. Art. 30. Além dos casos previstos em tratados de que o Brasil seja parte, o auxílio direto terá os seguintes objetos: I – obtenção e prestação de informações sobre o ordenamento jurídico e sobre processos administrativos ou jurisdicionais findos ou em curso; II – colheita de provas, salvo se a medida for adotada em processo, em curso no estrangeiro, de competência exclusiva de autoridade judiciária brasileira; III - qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei brasileira. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: No caso de pedidos de informação, a ordem judicial estrangeira pode ser dispensada, havendo um auxílio direto entre as Autoridades Centrais. Tais situações poderão ocorrer, por exemplo, quando da aplicação da Convenção de Nova Iorque sobre Prestação de Alimentos de 1956. Sobre o tema, ver Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos. Cooperação em Matéria Civil. 3.ª ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2012, p. 44; LOULA, Maria Rosa. Auxílio Direto: Novo Instrumento Brasileiro de Cooperação Jurídica Internacional. Belo Horizonte: Editora Forum, 2010; SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. “Cooperação Jurídica Internacional e Auxílio Direto”. I n TIBÚRCIO, Carmen; BARROSO, Luís Roberto. Direito Internacional Contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. Ar t . 31. A autoridade central brasileira comunicar-se-á diretamente com suas congêneres e, se necessário, com outros órgãos estrangeiros responsáveis pela tramitação e pela execução de pedidos de cooperação enviados e recebidos pelo Estado brasileiro, respeitadas disposições específicas constantes de tratado. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: Idem comentários ao artigo 30. Sobre o tema, ver Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos. Cooperação em Matéria Civil. 3.ª ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2012, p. 44; LOULA, Maria Rosa. Auxílio Direto: Novo Instrumento Brasileirode Cooperação Jurídica Internacional. Belo Horizonte: Editora Forum, 2010; SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. “Cooperação Jurídica Internacional e Auxílio Direto”. I n TIBÚRCIO, Carmen; BARROSO, Luís Roberto. Direito Internacional Contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. Art. 32. No caso de auxílio direto para a prática de atos que, segundo a lei brasileira, não necessitem de prestação jurisdicional, a autoridade central adotará as providências necessárias para seu cumprimento. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: Idem comentários ao artigo 30. Sobre o tema, ver Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos. Cooperação em Matéria Civil. 3.ª ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2012, p. 44; LOULA, Maria Rosa. Auxílio Direto: Novo Instrumento Brasileiro de Cooperação Jurídica Internacional. Belo Horizonte: Editora Forum, 2010; SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. “Cooperação Jurídica Internacional e Auxílio Direto”. I n TIBÚRCIO, Carmen; BARROSO, Luís Roberto. Direito Internacional Contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. Art. 33. Recebido o pedido de auxílio direto passivo, a autoridade central o encaminhará à Advocacia- Geral da União, que requererá em juízo a medida solicitada. Parágrafo único. O Ministério Público requererá em juízo a medida solicitada quando for autoridade central. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: Sobre o tema, ver LOULA, Maria Rosa. Auxílio Direto: Novo Instrumento Brasileiro de Cooperação Jurídica Internacional. Belo Horizonte: Editora Forum, 2010; SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. “Cooperação Jurídica Internacional e Auxílio Direto”. In TIBÚRCIO, Carmen; BARROSO, Luís Roberto. Direito Internacional Contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. Art. 34. Compete ao juízo federal do lugar em que deva ser executada a medida apreciar pedido de auxílio direto passivo que demande prestação de atividade jurisdicional. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: Sobre o tema, ver Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos. Cooperação em Matéria Civil. 3.ª ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2012, p. 44; LOULA, Maria Rosa. Auxílio Direto: Novo Instrumento Brasileiro de Cooperação Jurídica Internacional. Belo Horizonte: Editora Forum, 2010; SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. “Cooperação Jurídica Internacional e Auxílio Direto”. I n TIBÚRCIO, Carmen; BARROSO, Luís Roberto. Direito Internacional Contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. SEÇÃO III - DA CARTA ROGATÓRIA Art. 35. Dar-se-á por meio de carta rogatória o pedido de cooperação entre órgão jurisdicional brasileiro e órgão jurisdicional estrangeiro para prática de ato de citação, intimação, notificação judicial, colheita de provas, obtenção de informações e de cumprimento de decisão interlocutória, sempre que o ato estrangeiro constituir decisão a ser executada no Brasil. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: O meio clássico para obter a cooperação de uma autoridade estrangeira é a carta rogatória, que é o instrumento que contém o pedido de auxílio feito pela autoridade judiciária de um Estado a outro Estado estrangeiro. A autoridade judiciária rogada aplica sua própria lei quanto ao cumprimento das diligências solicitadas. [29] Sobre o tema, ver RECHSTEINER, Beat Walter. Direito Internacional Privado. 12.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 259. Art. 36. O procedimento da carta rogatória perante o Superior Tribunal de Justiça é de jurisdição contenciosa e deve assegurar às partes as garantias do devido processo legal. § 1º A defesa restringir- se-á à discussão quanto ao atendimento dos requisitos para que o pronunciamento judicial estrangeiro produza efeitos no Brasil. § 2º Em qualquer hipótese, é vedada a revisão do mérito do pronunciamento judicial estrangeiro pela autoridade judiciária brasileira. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: O artigo 36 trouxe para o novo CPC a competência do STJ para o procedimento da carta rogatória, o que havia sido fixado pela Emenda Constitucional n.º 45 de 2004. Anteriormente a competência era do STF. Sobre o tema, ver RECHSTEINER, Beat Walter. Direito Internacional Privado. 12.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 312 e ss. SEÇÃO IV - DAS DISPOSIÇÕES COMUNS ÀS SEÇÕES ANTERIORES Art. 37. O pedido de cooperação jurídica internacional oriundo de autoridade brasileira competente será encaminhado à autoridade central para posterior envio ao Estado requerido para lhe dar andamento. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: Sobre o tema, ver Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos. Cooperação em Matéria Civil. 3.ª ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2012, p. 44; LOULA, Maria Rosa. Auxílio Direto: Novo Instrumento Brasileiro de Cooperação Jurídica Internacional. Belo Horizonte: Editora Forum, 2010; SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. “Cooperação Jurídica Internacional e Auxílio Direto”. I n TIBÚRCIO, Carmen; BARROSO, Luís Roberto. Direito Internacional Contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. Art. 38. O pedido de cooperação oriundo de autoridade brasileira competente e os documentos anexos que o instruem serão encaminhados à autoridade central, acompanhados de tradução para a língua oficial do Estado requerido. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: As cartas rogatórias, de modo geral, precisam ser redigidas na língua da justiça rogada. Esse princípio estabelece exceções quando permitido por convenções ou tratados internacionais. Sobre o tema, ver RECHSTEINER, Beat Walter. Direito Internacional Privado. 12.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 312; Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos. Cooperação em Matéria Civil. 3.ª ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2012, p. 44; LOULA, Maria Rosa. Auxílio Direto: Novo Instrumento Brasileiro de Cooperação Jurídica Internacional. Belo Horizonte: Editora Forum, 2010; SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. “Cooperação Jurídica Internacional e Auxílio Direto”. I n TIBÚRCIO, Carmen; BARROSO, Luís Roberto. Direito Internacional Contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. Art. 39. O pedido passivo de cooperação jurídica internacional será recusado se configurar manifesta ofensa à ordem pública. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: As cartas rogatórias podem ser ativas e passivas. As primeiras são aquelas expedidas por autoridades judiciárias brasileiras e as segundas emanam de juízes ou tribunais estrangeiros e são direcionadas ao Superior Tribunal de Justiça. Cartas rogatórias que tenham como objeto uma medida contrária à ordem pública serão recusadas. Sobre o tema, ver RECHSTEINER, Beat Walter. Direito Internacional Privado. 12.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 312; Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos. Cooperação em Matéria Civil. 3.ª ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2012, p. 44; LOULA, Maria Rosa. Auxílio Direto: Novo Instrumento Brasileiro de Cooperação Jurídica Internacional. Belo Horizonte: Editora Forum, 2010; SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. “Cooperação Jurídica Internacional e Auxílio Direto”. In TIBÚRCIO, Carmen; BARROSO, Luís Roberto. Direito Internacional Contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. Art. 40. A cooperação jurídica internacional para execução de decisão estrangeira dar-se-á por meio de carta rogatória ou de ação de homologação de sentença estrangeira, de acordo com o art. 957. * Sem correspondência no CPC/73. Anotação: A sentença decorrente de outro Estado necessita passar por um processo de homologação no STJ para que possa ser executada pela Justiça Federal no território nacional. No processo de homologação de sentença estrangeira há possibilidade de ampla defesa e contraditório. Sobre o tema, ver CASTRO, Amilcar de. Direito Internacional Privado. 6.ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 474. Art. 41. Considera-seautêntico o documento que instruir pedido de cooperação jurídica internacional, inclusive tradução para a língua portuguesa, quando encaminhado ao Estado brasileiro por meio de autoridade central ou por via diplomática, dispensando-se ajuramentação, autenticação ou qualquer procedimento de legalização. Parágrafo único. O disposto no caput não impede, quando necessária, a aplicação pelo Estado brasileiro do princípio da reciprocidade de tratamento. * Sem correspondência no CPC/73. Sobre o tema, ver Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos. Cooperação em Matéria Civil. 3.ª ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2012, p. 44; LOULA, Maria Rosa. Auxílio Direto: Novo Instrumento Brasileiro de Cooperação Jurídica Internacional. Belo Horizonte: Editora Forum, 2010; SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. “Cooperação Jurídica Internacional e Auxílio Direto”. In TIBÚRCIO, Carmen; BARROSO, Luís Roberto. Direito Internacional Contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. Artigos 42 a 66, por Márcio dos Santos Vieira [30] TÍTULO IV TÍTULO III DOS ÓRGÃOS JUDICIÁRIOS E DOS AUXILIARES DA JUSTIÇA DA COMPETÊNCIA INTERNA CAPÍTULO I CAPÍTULO I DA COMPETÊNCIA DA COMPETÊNCIA Seção I Disposições Gerais Anotação: O CPC/15 traz uma inovação em sua organização topográfica ao estabelecer uma Parte Geral e uma Parte Especial. A Parte Geral está dividida em 6 livros, sendo que o tema da competência está inserido em seu Livro II – Da Função Jurisdicional. O Livro II, por sua vez, está organizado em 3 títulos: I – Da Jurisdição e Da Ação; II - Dos Limites Da Jurisdição Nacional e Da Cooperação Internacional; e III – Da Competência Interna. Este título III é dividido em 2 capítulos: Capítulo I – Da Competência, e Capítulo II – Da Cooperação Nacional. Por fim, o capítulo Da Competência, que é o objeto de estudo neste momento, esta dividido em três seções: Seção I – Das Disposições Gerais; Seção II – Da Modificação da Competência; Seção III – Da Incompetência. A organização aqui sumariamente descrita representa uma melhoria em relação ao CPC/73. Este continha as disposições gerais sobre a competência, a seguir disciplinava a competência internacional, e depois passava a tratar das regras da competência relativa (território e valor) e absoluta (matéria e função), das modificações da competência e da declaração de incompetência. A partir de agora, as regras até então denominadas como da competência internacional passam a ser disciplinadas em capítulo próprio, denominado, de forma mais apropriada, como “Dos Limites da Jurisdição Nacional” [31] (artigos 21 a 25 do CPC/15). Do ponto de vista sistemático, portanto, se observa um avanço no tratamento do tema da competência pelo CPC/15. Art. 86. As causas cíveis serão processadas e decididas, ou simplesmente decididas, pelos órgãos jurisdicionais, nos limites de s u a competência, ressalvada às partes a faculdade de instituírem juízo arbitral. Art. 42. As causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos limites de sua competência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, na forma da lei. Anotação: A jurisdição é poder estatal insuscetível de fracionamento. [32] Por uma questão de ordem prática, há a necessidade da divisão do trabalho, limitando-se as atividades dos juízos segundo critérios previamente estabelecidos. Esta limitação é a competência, que a doutrina tradicional afirma se tratar de uma medida da jurisdição atribuída a cada juiz. [33] O presente dispositivo, da mesma forma que outros neste capítulo, reproduz em essência o quanto disposto no CPC/73, atendendo ao que o Ministro Luiz Fux, presidente da comissão de juristas que elaborou o anteprojeto do novo Código de Processo Civil, vem sustentando, e inclusive consta da exposição de motivos do projeto entregue ao Senado [34] , no sentido de manter-se institutos cujos resultados foram positivos, incluindo-se tantos outros necessários à atualização e modernização do CPC. Art. 87. Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário o u alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia. Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta. Anotação: Trata-se da regra da perpetuação da competência, ou perpetuatio jurisdicionis. Vale dizer: uma vez fixada a competência para uma determinada causa, esta não mais se modificará, a não ser em casos muito especiais. Sugere-se consultar as obras de ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto e MITIDIERO, Daniel. Curso de Processo Civil: volume I: teoria geral do processo civil e parte geral do direito processual civil, BARBI, Celso Agrícola. Comentários ao Código de Processo Civil, Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973, vol. I, e DIDIER JR, Fredie, Curso de Direito Processual Civil, Teoria geral do processo e processo de conhecimento, Volume I, 11a. ed, Salvador Juspodivm, 2009. Há também um pequeno ajuste no texto ao passar a referir a competência absoluta lato sensu, ao inves de mencionar a competência em razão da matéria ou da hierarquia, que são dois critérios de distribuição da competência a partir do regime de competência absoluta, conforme era disposto no art. 87 do CPC/73. A medida parece acertada, p ois passa a abarcar todos os critérios de distribuição de competência a partir do regime da competência absoluta. Para mais detalhes neste ponto, ver ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto e MITIDIERO, Daniel, e também DIDIER JR, Fredie, nas obras já citadas [35] .CAPÍTULO III DA COMPETÊNCIA INTERNA Seção I Da Competência em Razão do Valor e da Matéria Art. 91. Regem a competência em razão do valor e da matéria as normas de organização judiciária, ressalvados os casos expressos neste Código. Art. 92. Compete, porém, exclusivamente ao juiz de direito processar e julgar: I - o processo de insolvência; II - as ações concernentes ao estado e à capacidade da pessoa. Seção II Da Competência Funcional Art. 93. Regem a competência dos tribunais as normas da Constituição da República e de organização judiciária. A competência funcional dos juízes de primeiro grau é disciplinada neste Código. Art. 44. Obedecidos os limites estabelecidos pela Constituição Federal, a competência é determinada pelas normas previstas neste Código ou em legislação especial, pelas normas de organização judiciária e, ainda, no que couber, pelas constituições dos Estados. Anotação: O CPC/15 simplifica a referência às fontes legais que regem a competência. O CPC/73 observa a clássica divisão dos critérios de fixação de competência: (a) objetivo, (b) funcional e (c) territorial [36] . As fontes legais dos critérios objetivos do valor e da matéria estão no art. 91, e da função no art. 93. Já o CPC/15 opta, no art. 44, em estabelecer as fontes legais da competência em geral, independentemente do critério para sua fixação. Nada obstante, vale referir que os estados da federação detém competência para legislar, seja em normas de organização judiciária, seja nas constituições estaduais, sobre certos aspectos, em especial sobre os critérios objetivo e funcional. Sugere-se, neste passo, a consulta à obra de ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto e MITIDIERO, Daniel, já citada. Art. 45. Tramitando o processo perante outro juízo, os autos serão remetidos ao juízo federal competente se nele intervier a União, suas empresas públicas, entidades autárquicas e fundações, ou conselho de fiscalização de atividade profissional, na qualidade de parte ou de terceiro interveniente, exceto as ações: I – de recuperação
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