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O Bêbado e a Equilibrista Caía a tarde feito um viaduto E um bêbado trajando luto Me lembrou Carlitos A lua tal qual a dona do bordel Pedia a cada estrela fria Um brilho de aluguel E nuvens lá no mata-borrão do céu Chupavam manchas torturadas Que sufoco! Louco! O bêbado com chapéu-coco Fazia irreverências mil Pra noite do Brasil Meu Brasil! Que sonha com a volta do irmão do Henfil Com tanta gente que partiu Num rabo de foguete Chora A nossa Pátria mãe gentil Choram Marias e Clarisses No solo do Brasil Mas sei que uma dor assim pungente Não há de ser inutilmente A esperança Dança na corda bamba de sombrinha E em cada passo dessa linha Pode se machucar Azar! A esperança equilibrista Sabe que o show de todo artista Tem que continuar Elis Regina Inicialmente, pode-se notar que a música exposta, lançada em 1978, possui citações “escondidas” em metáforas, visto que na época em que foi composta regia-se a ditadura. Tal acontecimento promovia a censura sociocultural sobre qualquer manifestação que repudiasse ou criticasse o regime militar e seus respectivos atos. Um fator marcante desta música foi a sua forte repercussão de sucesso, pois, cantada na voz de Elis Regina, ela ficou conhecida como o Hino da Anistia, com o nome dado pelo cartunista Henfil. Isto foi devido aos diversos fatos desastrosos ocorridos durante o período, que foram insinuados nas letras por Aladir Blanc, e com a melodia imposta por João Bosco inspirada na música “Smile” homenageava-se o falecido ator Charles Chaplin, morto no natal de 1977, além de citá-lo em um dos versos”.. E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos..”. Nos versos é notada a variedade destas insinuações indiretas e ocultas referente aos casos, fazendo disto uma música que marca a história brasileira e as lutas dos cidadãos indignados por suas perdas familiares e sociais, por reivindicações aos decretos-lei abusivos e atos institucionais que causavam pânico à população, além da falta de liberdade por conta da repressão ideológica e social que o Brasil sofria, sendo o mesmo também influenciado por estratégias de outros de regimes ditatoriais contemporâneos a este. No que se refere às manifestações culturais, há esta citação “..A esperança Dança na corda bamba de sombrinha.. E em cada passo dessa linha .. Pode se machucar..”, ou seja, mencionava uma sociedade sempre com temor de ser pega fora dos limites impostos pelos militares, por conta de poemas, músicas ou formas secretas que as pessoas criavam para tentar escapar de tais imposições repressivas, e organizar uma revolução de mudança para ordem de democracia e garantia de seus direitos pessoais e da dignidade humana na requerida constituição. Existia à época a temida polícia militar, conhecida como DOI-CODI, responsável pela maioria dos assassinatos ocorridos, dentre eles pode-se citar os de maior polêmica: a morte do operário Manuel Fiel Filho e do jornalista Vladimir Herzog, sendo o primeiro esposo de Maria e o segundo esposo de Clarisse. Estas estão citadas em um dos acalantados versos “..A nossa Pátria mãe gentil.. Choram Marias e Clarisses... No solo do Brasil..”. Portanto, através da profunda interpretação a respeito da música e seu polêmico contexto social, esclarecem-se algumas dúvidas sobre os regimes militares e suas formas de direcionar o poder de suas forças ideológicas, abrindo uma série de questionamentos a respeito dos presos políticos, pessoas e famosos vítimas da anistia, cujo significado seria “Ato do poder público que declara impuníveis delitos praticados até determinada data por motivos políticos ou penais, ao mesmo tempo em que anula condenações e suspende diligências persecutórias”, sem deixar de mencionar a quantidade de pessoas desaparecidas durante 1964 – 1985 (Duração do Regime Ditatorial Brasileiro).
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