Buscar

Análise de trabalhos sobre meio ambiente

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

V Encontro Nacional da Anppas 
4 a 7 de outubro de 2010 
Florianópolis - SC – Brasil 
______________________________________________________ 
 
Avaliação dos Impactos Sociais do Arranjo Produtivo Local da 
Piscicultura na região do Jacuí-Centro do Rio Grande do Sul 
 
 
 
Tanise Dias Freitas (UFSM/RS) 
Graduada em Ciências Sociais e 
Mestranda do PPG em Ciências Sociais – UFSM/RS 
Email: tanise1208@yahoo.com.br 
 
João Vicente Ribeiro B. Costa Lima (UFSM/RS) 
Professor Doutor do Departamento de Ciências Sociais – UFSM 
Email: jvcostalima@gmail.com 
 
 
Resumo: 
 A piscicultura tem crescido em todo território brasileiro de diferentes maneiras e com 
diferentes espécies. Como uma fonte alternativa de renda ou como fonte principal, a aqüicultura 
tem apresentado uma nova forma de gerir recursos dentro de pequenas propriedades agrícolas 
familiares, apontando para um desenvolvimento sustentável do mundo rural, utilizando ao máximo 
os recursos alimentares da própria região. Este artigo busca mostrar como vem sendo arquitetado 
um Arranjo Produtivo Local da Piscicultura na Região do Jacuí-Centro no Rio Grande do Sul, onde 
a monocultura do arroz já não tem dado conta da geração de renda, emprego e da melhoria da 
qualidade de vida destes atores sociais. 
 
Palavras-chave: 
Qualidade de vida, desenvolvimento sustentável, piscicultura. 
 
 
1. Introdução: 
 Ignacy Sachs em seu trabalho intitulado “Brasil: Tristes Trópicos ou terra da boa 
esperança?”1 descreve sobre a questão do clima e da terra, ressaltando que a ausência de uma 
reforma agrária no Brasil no século XIX explica em grande parte as diferentes trajetórias de 
desenvolvimento seguidas por Brasil e Estados Unidos, por exemplo. Ao levar em consideração 
esse paralelo, Sachs afirma que a agricultura familiar aparece como peça principal de uma 
estratégia de desenvolvimento impulsionada pelo progresso do campo e pela dinamização do 
mercado interno. Nesse sentido, para se pensar em “superação desse atraso” em relação aos 
países desenvolvidos não se pode aceitar a situação de êxodo rural num país que possui as 
melhores condições do mundo para utilizar o potencial existente nas zonas rurais como o motor 
de um novo estilo de desenvolvimento, que saiba aproveitar as vantagens de um ambiente 
tropical, rico em biodiversidade, com climas variados, solos propícios para diferentes culturas e 
rico em recursos hídricos, relativamente bem distribuídos pelo território. 
 Essa descrição de Sachs sobre os aspectos biofísicos brasileiros aponta para a 
necessidade de uma tomada de consciência ecológica que privilegie os recursos renováveis, 
voltando-se para o desenvolvimento do meio rural, rompendo com um modelo de apropriação 
predatória dos recursos naturais. Ainda há muito que se pesquisar e desenvolver num campo que 
Sachs denomina como da “sociedade da biomassa”: saber otimizar os seis uso da biomassa 
(alimentação, rações, adubos, matérias-primas industriais, materiais de construção e energia) é o 
grande desafio das pesquisas em matéria de valorização da biodiversidade. 
 Segundo Ignacy Sachs, o futuro do Brasil passa pelo desenvolvimento de uma agricultura 
familiar modernizada, complementada pela criação das agroindústrias, gerando emprego e renda 
no meio rural, evitando a migração em massa para as cidades. Desenvolver as zonas rurais é 
essencial para a dinamização do mercado interno, uma estratégia de desenvolvimento em longo 
prazo, importantíssima para diminuição da desigualdade de qualidade de vida das populações do 
meio rural. 
“Diante disso, devemos nos orientar no sentido da elaboração 
de propostas mais complexas de desenvolvimento rural 
integrado, capazes de gerar empregos ou auto-empregos 
sem desrespeitar a integridade da floresta, assegurando a 
proteção da biodiversidade mediante a utilização racional 
(...)”. (SACHS, 2007 – p. 400). 
 
 Assim como se pretende mostrar com o estudo de um Arranjo Produtivo Local da 
Piscicultura no Rio Grande do Sul, Sachs destaca que existem, no Brasil, condições favoráveis a 
 
1
 Título de capítulo da obra “Rumo à Ecossocioeconomia: teoria e prática do desenvolvimento”, organizado por Paulo Freire Vieira. 
para um desenvolvimento rural que vá além da agricultura propriamente dita, criando empregos 
rurais não-agrícolas nas microindústrias, nos serviços técnicos, pessoais e sociais, envolvendo a 
sociedade civil, Estado e setor privado. É preciso alcançar um modelo que saiba utilizar de forma 
economicamente racional e ecologicamente sustentável as riquezas naturais de cada contexto 
social brasileiro. 
 
2. Objetivos do projeto e metodologia: 
Muitos estudos abordam a questão da avaliação de impactos sociais de um arranjo 
produtivo local somente com relação às variáveis econômicas, chegando a conclusões limitadas, 
não levando em consideração a competência dos agentes para agir com eficiência e produtividade 
requeridos nos ambientes de competitividade. Assim, baseados em Amartya Sem, Ignacy Sachs, 
e outros teóricos, uma avaliação dos impactos sociais do APL da Piscicultura pretende medir e 
qualificar como esses eventos econômicos (piscicultura) afetam a vida das pessoas no plano 
individual e no de sua comunidade. Como estes empreendimentos contribuem para que as 
pessoas cuidem melhor de si mesmas e participem da vida de suas comunidades, buscando 
resolver problemas individuais e da coletividade. 
Assim, pretende-se analisar se o empreendimento (APL) aumenta a auto-estima, reestrutura 
as formas diversas de solidariedade, para além do mundo do trabalho: se esse empreendimento 
agrega ou reagrupa a família pela diminuição das pressões para migrar para regiões mais 
prósperas; agrega a comunidade, a vizinhança e os amigos; se melhora a renda da família, etc. 
Busca-se compreender as variáveis não-econômicas constituídas da ordem econômica da 
realidade. Nesse sentido, o presente estudo busca responder as seguintes questões: 
a) Por que, diante das mesmas condições de oferta de crédito, de acesso às tecnologias e 
assistência técnica, soluções de mercado, comunidades distintas alcançam patamares 
diferentes de desenvolvimento dentro de uma mesma cadeia produtiva? 
b) Por que as metas e objetivos não se realizam nos termos evocados pelo projeto original do 
APL da Piscicultura de forma homogênea? 
Para o delineamento deste trabalho, serão levados em consideração os resultados de 
pesquisas quantitativos, com dados obtidos pelos programas das Nações Unidas para o 
Desenvolvimento (PNUD), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e dados relativos às 
pesquisas do IBGE. Partindo desses dados iniciais, pretende-se relativizar/adequar esses 
números à realidade local, utilizando a análise de entrevistas com alguns representantes locais, 
assim como visitas a fazendas, bairros residências, postos médicos e outros locais entendidos 
como importante para a coleta dos dados. 
O tipo de questionário survey será baseado em uma amostra aleatória, cuja unidade de 
aferição será cada funcionário e cujas características das unidades, das variáveis, estão ligadas 
aos objetivos e avaliação dos impactos sociais da piscicultura nessa região. A população que 
constituirá amostra é o conjunto das pequenas propriedades rurais que praticam a piscicultura e 
participam do arranjo produtivo local. A relação entre variáveis a serem levantadas e entre os 
elementos econômicos (agir de forma eficiente dentro da cadeia do APL) e não-econômicos 
(visões de mundo, de felicidade e bem-estar para além dos valores e interesses econômicos) 
permitirá testar e obter o coeficiente de correlação entre os o agir econômicodentro da APL e o 
bem-estar e a felicidade experimentos pelo pequeno produtor. 
 
3. A piscicultura no Brasil 
Segundo o Ministério da Agricultura Pecuária e Desenvolvimento, através de estudos da 
Embrapa, a piscicultura tem crescido significativamente no Brasil nos últimos anos. O consumo de 
pescado no país é bastante variado e com um potencial de desenvolvimento elevado, 
principalmente nos estados do Norte, como o exemplo do Amazonas, onde o consumo per capita 
de pescados é de 54 kg/ano. No caso do Rio de Janeiro é de 16 kg/ per capita/ano, enquanto que 
a média brasileira está ao redor de 6 kg/per capita/ano, bastante baixa quando comparado aos 
países europeus e americanos. Contudo, há uma tendência de aumento do consumo, 
principalmente, através de produtos beneficiados/industrializados, tais como filés e empanados. 
De acordo com as previsões feitas em 2001 pelo Departamento de Pesca e Aqüicultura – DPA do 
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, caso sejam mantidas as taxas atuais de 
crescimento da aqüicultura (superiores a 15% ao ano) é possível que o Brasil alcance uma 
produção superior a 300.000 t/ano. 
Diagnósticos recentes têm indicado que um dos entraves para o desenvolvimento do setor 
no Brasil tem sido a insuficiência e a dispersão de esforços em Pesquisa & Desenvolvimento; a 
falta de uma coordenação nacional das pesquisas relacionadas à aqüicultura tem levado à 
dispersão e redundância de esforços que nem sempre atendem as reais necessidades do setor. 
Por estar cada vez mais visível nas discussões relacionadas à sustentabilidade e competitividade 
ds sistemas agrícolas, as culturas aqüíferas possuem demandas específicas, como a questão da 
preservação ambiental, uma vez que, a exemplo da piscicultura, essas culturas dependem do uso 
direto de recursos hídricos captados ou ainda pelo uso do meio ambiente na produção. A rápida 
expansão da aquicultura em várias partes do mundo, muitas vezes de forma desordenada e sem 
a devida regulação social, tem levado a preocupações quanto aos impactos que essa atividade 
pode causar ao meio ambiente – o que pode ser em grande medida aplicado também no caso 
brasileiro. 
A rápida e recente expansão da aqüicultura no Brasil nos últimos anos, a uma taxa de 15% 
a.a., correspondeu em 2001 a uma produção, em torno de 210 mil t/ano. Segundo a Embrapa e o 
MAPA Este significativo crescimento tem colocado para o setor algumas questões associadas à 
sustentabilidade e competitividade. Como consequência desse crescimento, a poluição das águas 
causada pelo acúmulo de substâncias contidas nos efluentes da aquicultura, é tida como um dos 
principais problemas ambientais encontrados nos ecossistemas aquáticos. Porém, como a 
qualidade ambiental é atualmente um dos componentes fundamentais da competitividade no 
mercado internacional de produtos da aquicultura, o setor produtivo tem sido induzido a mover-se 
em direção à busca de sistemas de gestão ambiental. 
Assim como as demais culturas aquíferas, a criação de peixes tem se mostrado uma fonte 
de renda alternativa e quem vem diversificando as atividades produtivas, transformando o espaço 
rural e dando origem a outros tipos de agribusiness, como por exemplo, o ecoturismo ou turismo 
rural através da proliferação de inúmeros pesque–pagues, em especial no Centro-Sul do país. 
Nessa região, tal atividade está transformando também a piscicultura tradicional: atualmente mais 
de 80% dos peixes de água doce cultivados são comprados pelos pesque–pagues; a lucratividade 
e versatilidade da aquicultura e a possibilidade de aproveitamento de áreas marginais indicam a 
necessidade de mais pesquisas que possam assegurar ao setor competitividade e 
sustentabilidade. 
Atualmente, com o crescimento da consciência ambiental, um dos grandes 
questionamentos referentes à piscicultura é quanto a sua sustentabilidade ecológica e as 
conseqüências que as novas leis de proteção ambiental poderão gerar ao desenvolvimento dessa 
atividade. Certamente, no novo cenário de mercados globalizados é necessário considerar a 
questão ambiental como um dos principais objetivos de qualquer projeto, plano ou programa de 
desenvolvimento, quer pelos aspectos relativos à sustentabilidade, quer com relação à sua 
competitividade internacional. 
 
4. O Arranjo Produtivo Local da piscicultura na Região do Jacuí-Centro do Rio 
Grande do Sul 
 No contexto do desenvolvimento dos municípios pertencentes à região do Corede Jacuí-
Centro do Rio Grande do Sul, tem-se tentado implementar o que se denomina de um Arranjo 
Produtivo Local2 de Piscicultura, com o objetivo de gerar trabalho e renda nos municípios de 
Cachoeira do Sul, Cerro Branco, Novo Cabrais, Paraíso do Sul, Restinga Seca, São Sepé e Vila 
Nova do Sul. Tais municípios possuem características geográficas privilegiadas para uma 
atividade que é uma das vocações da região: são pequenas propriedades familiares 
inviabilizadas, em dificuldades financeiras, com baixa diversificação de atividades no meio rural e 
forte necessidade de alternativas para a geração de trabalho e renda. 
 
2
 O arranjo produtivo local é fundamentado na organização de atividades produtivas com base nas economias de proximidade. Ele se 
constitui em um tipo particular de aglomerado geralmente formado por empresas de pequeno ou médio porte em torno de uma 
determinada atividade produtiva, uma profissão ou um negócio, onde há um ambiente propício para a interação local e geração de 
externalidades que podem ampliar sua competitividade. 
 
 A viabilidade do projeto passa pela busca da sustentabilidade econômica, social e 
ambiental da atividade, aproveitando-se ao máximo os recursos alimentares oriundos da própria 
propriedade agrícola e tornando possível a industrialização e o aproveitamento de resíduos 
oriundo do processamento (carcaças, peles e escamas), com vistas ao incremento da agregação 
de valor e à redução do impacto ambiental gerado pelos resíduos. Para tanto, uma engenharia 
institucional dispõe diversos atores coletivos, públicos e privados, integrados para prover as 
condições técnicas, financeiras e políticas capazes de gerar os efeitos ótimos da organização da 
produção, do seu desenvolvimento técnico e gerencial dos produtores, sob bases cooperativas 
eficientes para, ao final, propiciar a colocação de um produto competitivo no mercado, visando 
agregar valor e possibilitar o acesso a novos mercados de atuação, internos e externos. 
Confirma-se este fato a partir da disponibilidade existente de áreas com potencial para o 
desenvolvimento de piscicultura nos municípios do Corede Jacuí-Centro – definidas em 45.381 
hectares (IRGA, 2006). Estas áreas atualmente são utilizadas apenas para a irrigação de lavouras 
de arroz, podendo ser aproveitadas para incrementar a renda familiar dos produtores rurais 
através do cultivo semi-extensivo de peixes, otimizando o aproveitamento da área sub-utilizada. 
Estes dados concordam com Roczanski et al., (2000) onde este destaca que as características 
topográficas, climáticas e hídricas, aliadas à disponibilidade de produtos e subprodutos 
agropecuários propiciam excelentes condições para o desenvolvimento de uma piscicultura 
diversificada nas águas interiores a um baixo custo de produção. 
 Os dados de incremento de renda nas propriedades participantes do Projeto dizem 
respeito tão somente à receita líquida proveniente da venda da produção, sem se considerar o 
valor agregado pelo beneficiamento da carne. De outro lado, está o fato de que os 7 municípios do 
Corede Jacuí-Centro possuem, juntos, 7.988 propriedades familiares3. Isto significa que existem 
mais 7.303 propriedades que podem ser prospectadas paraum processo de expansão da 
produção e posterior atendimento a novos mercados, a partir da utilização de novos canais de 
comercialização. Outro dado importante é que estes municípios possuem em sua matriz produtiva 
a predominância de cultivo do arroz como atividade econômica principal nas propriedades rurais. 
 Este fato leva à possibilidade da prática de culturas integradas, como a rizipiscicultura4. 
Neste sistema, além do ganho com a produção do arroz, o produtor ainda tem grande produção 
de peixes, chegando a multiplicar por cinco seus rendimentos por área, sem contar a diminuição 
de mão-de-obra e a redução na utilização de agroquímicos. Acrescente-se a possibilidade do 
 
3
 Ministério de Desenvolvimento Agrário. Novo Retrato da Agricultura Familiar: O Brasil Redescoberto. 
4
 Cultivo consorciado de arroz irrigado com a criação de peixes. 
aumento do valor do arroz, por se tratar a partir daí de um produto orgânico, apto a receber o selo 
verde5, com alto valor comercial. 
 Outra potencial atividade a ser desenvolvida a partir do avanço do Projeto e principalmente 
sob uma perspectiva de expansão é a implantação de uma estação de alevinagem (ou Estação de 
Reprodução). Com a formação desta estação, viabiliza-se a padronização genética e de tamanho 
dos alevinos a serem desenvolvidos para a criação, bem como a centralização de seu processo 
de comercialização junto aos próprios produtores. Pode-se ainda implantar tanques de recria para 
o desenvolvimento de alevinos até a idade juvenil, quando então podem ser inseridos nos açudes 
sem necessidade de esvaziamento e com maior chance de sobrevivência a predadores, 
adequando-se assim à estrutura disponível de cada propriedade. 
 Os resultados iniciais desta pesquisa provêm da documentação da ADSS (Agência de 
Desenvolvimento de São Sepé), responsável pelo Arranjo Produtivo Local da Piscicultura, de 
novembro de 2007, um levantamento realizado junto aos municípios da região Jacuí-Centro, 
apresentando os seguintes resultados: existência de 685 produtores de peixe, com um total de 
1.020 tanques e açudes: uma produção total de 229 toneladas/ano de peixe. A análise dos dados 
mostra que a região possui potencial para aumentar a produtividade para 2.349,8 kg/hectare/ano. 
Os sete municípios desta região possuem, juntos, 7.988 propriedades familiares, mais 7.303 
propriedades que podem ser prospectadas para um processo de expansão da produção e 
posterior atendimento a novos mercados, a partir da utilização de novos canais de 
comercialização. 
Um de seus maiores atributos neste tipo de propriedade é o fato de sua produtividade ser 
otimizada a partir da utilização da alimentação alternativa, quase sempre já disponível na 
propriedade, reduzindo-se assim os custos com a criação e propiciando um produto de alta 
qualidade, saudável, de boa aceitação pelo consumidor e com preços bastante significativos. A 
presente proposta busca preponderantemente viabilizar as pequenas propriedades rurais, a partir 
de um modelo de Arranjo Produtivo Local voltado à piscicultura em toda a extensão de sua cadeia 
produtiva. Logo, a aqüicultura poderá proporcionar a gradativa redução do extrativismo e da pesca 
predatória, transferindo o esforço da mão-de-obra para o cultivo de organismos aquáticos, 
repercutindo de maneira positiva para a preservação dos ecossistemas e contribuindo para a 
permanência das pequenas famílias no meio rural da região do Jacuí-Centro no Rio Grande do 
Sul. 
 
 
5 O Selo Verde um rótulo colocado em produtos comerciais, que indica que sua produção foi feita atendendo a um conjunto de normas 
pré-estabelecidas pela instituição que emitiu o selo. O Selo Verde atesta, por meio de uma marca colocada voluntariamente pelo 
fabricante, que determinados produtos são adequados ao uso e apresentam menor impacto ambiental em relação a outros similares. A 
diferença de rotulagem ambiental para a Certificação de Sistema de Gestão Ambiental é que o que está sendo certificado é o produto, 
e não o seu processo produtivo. O principal objetivo é deixar claro para o consumidor que o produto está de acordo com critérios de 
excelência de qualidade. (...) A aceitação do Selo Verde pelo consumidor é garantida pela confiança depositada no emitente do selo. 
(Fonte: www.setor1.com) 
5. Sustentabilidade e Qualidade de Vida 
Durante anos foi muito comum tratar desenvolvimento como sinônimo de crescimento 
econômico, tentando simplificar as formas de medir desenvolvimento, levando em consideração a 
evolução de indicadores tradicionais de economia, como Produto Interno Bruto (PIB) per capita. 
Com o tempo, foram surgindo evidências de que equiparar desenvolvimento com crescimento 
econômico já não dava conta de certos fatos, como o crescimento ocorrido na década de 1950, 
em países como Brasil, onde esse crescimento não se traduzia em maior acesso a bens materiais 
e culturais pelas populações mais pobres – como acesso à saúde e educação. 
José Eli da Veiga (2006) considera que o crescimento da economia deva ser entendido 
como um elemento de um processo maior e que seus resultados não se traduzem 
automaticamente em benefícios, apontando para um modelo de desenvolvimento que tenha 
políticas estruturadas por valores que não sejam apenas os da dinâmica econômica. Não se trata 
de desconsiderar o crescimento econômico na análise do desenvolvimento, mas de levar em 
consideração que esse desenvolvimento pode permitir que cada indivíduo revele suas 
capacidades, seus talentos e sua imaginação na busca da auto-realização e da felicidade, com 
esforços coletivos ou individuais. 
Existe uma dissonância entre aspectos da renda per capita e a liberdade dos indivíduos 
para ter uma vida longa e viver bem. As variações na expectativa de vida relacionam-se com 
oportunidades sociais centrais, como políticas de combate a doenças, serviços de saúde, 
facilidades educacionais, dentre outras, que uma análise de desenvolvimento, baseada na renda 
per capita, não dá conta da realidade. Veiga descreve que algumas privações, como vestir-se e 
morar adequadamente, são vinculados aos níveis de renda – tem-se preferência por ter renda alta 
e grande longevidade que apenas esta última, mas torna-se perigoso analisar indicadores básicos 
de qualidade de vida e desenvolvimento somente baseados na renda per capita ou na expectativa 
de vida. 
Segundo Sachs (2007), a chave para conciliar desenvolvimento social com crescimento 
econômico encontra-se na capacidade de dar a orientação necessária ao processo de 
desenvolvimento desses atores sociais, no caso, dentro do contexto da região onde se encontram 
as famílias participantes da piscicultura no Rio Grande do Sul. O autor ressalta que para chegar a 
um desenvolvimento que satisfaça necessidades humanas básicas é preciso ter a solidariedade 
entre as gerações e a participação da população na busca da preservação dos recursos sociais e 
do meio ambiente em geral, na elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança 
social, respeito a outras culturas e com programas de educação voltados para sua realidade e 
suas necessidades.6 
 
6
 A responsabilidade sócio-ambiental da empresa: interatividade com o estado e a sociedade. in: 
http://www.rlcu.org.ar/destacados/clea/ponencias/i%20encuentro%20rlcu-butske%20iv.pdf 
Sachs (2007) propõe um modelo do “ecodesenvolvimento” apresentando táticas de 
desenvolvimento regional e microrregional, que buscam a continuidade da produção, mas com a 
redução dos custos sociais e ambientais das populações. Além disso, esse conceito enfoca um 
desenvolvimentoparticipativo no campo do planejamento e da gestão, relacionando-o com 
postulados éticos e de saber, como o atendimento às necessidades humanas fundamentais, 
promoção da autoconfiança das populações envolvidas e o cultivo com a prudência ecológica em 
prol de uma visão preventiva-adaptativa, alimentada pela pesquisa de sistemas complexos. 
(SACHS, 2007). 
O ecodesenvolvimento é um modelo de desenvolvimento, de cada ecorregião, que busca 
soluções compatíveis com cada especificidade local, levando em conta dados ecológicos, 
culturais, as necessidades imediatas e de longo prazo desses contextos socioecológicos. Tal 
proposta surge em contraste a esse pensamento convencional, uma vez que os novos princípios 
passam a encadear a realização de avaliações participativas de ecossistemas combinadas com 
estratégias integradas de harmonização dos objetivos socioeconômicos, sócio-culturais e sócio-
ambientais do desenvolvimento, levando-se em consideração cada contexto social, 
compreendendo e conhecendo as particularidades, como o conhecimento tradicional e local. Esse 
conceito é um estilo de desenvolvimento que busca soluções específicas para problemas 
particulares, levando em conta dados ecológicos, sociais, culturais e econômicos e necessidades 
alcançadas em longo prazo. 
De acordo com Amartya Sen e Mahbud ul Haq, em Veiga (2006), só há desenvolvimento 
quando os benefícios do crescimento conseguem ampliar as capacidades humanas – o conjunto 
das coisas que as pessoas podem ser ou fazer na vida. Essas capacidades mais elementares são 
quatro: ter vida longa e saudável, ter bom nível de escolaridade, ter acesso a recursos básicos 
para uma vida digna e participar da vida da comunidade. Sem essas quatro capacidades 
humanas, as outras todas estariam indisponíveis. Assim, fica entendido que o desenvolvimento 
pode expandir as capacidades humanas a partir do momento em que as pessoas podem fazer 
suas escolhas para alcançar a vida que realmente desejam. Essa é a abordagem que o PNUD 
tem adotado, desde 1990, como conceito de desenvolvimento nos seus relatórios anuais. 
Conforme Amarthya Sen, em “Desenvolvimento como Liberdade”, a elaboração e a 
execução de políticas públicas faz-se indispensável na promoção de oportunidades aos 
indivíduos, para que estes possam refletir e alcançar suas “liberdades”, em prol de uma melhoria 
na própria qualidade de vida e na discussão de soluções para os problemas sociais, econômicos, 
ambientais. A partir de uma sociedade reflexiva, com embasamento para a promoção de 
discussões e exigências, e em busca dos interesses individuais, percebe-se que: “os valores 
sociais podem desempenhar um papel importante no êxito de várias formas de organização 
social, incluindo o mecanismo de mercado, a política democrática, os direitos civis e políticos 
elementares, a provisão de bens públicos básicos e instituições para a ação e o protesto público” 
(SEN, 2000 – p.297). Assim, a expansão de capacidades na geração de mudança social, além da 
mudança econômica, aponta para a importância do papel dos seres humanos como instrumentos 
de mudança tanto na produção econômica, quanto no desenvolvimento político e social. 
Selene Herculano (1998) afirma que muitos estudos sobre indicadores enfatizam a sua 
utilidade para a formulação de política nacional e de acordos internacionais, entretanto, os pontos 
indicativos de qualidade de vida devem ser desagregados, mensurados, sobretudo a partir do 
local, pela identificação de micro-espaços minimamente homogêneos – no caso, as unidades 
familiares participantes do APL da piscicultura. Para a autora, assim como é destacado por Sachs, 
entender o micro possibilita tomar medidas contra a estratificação espacial, o que pode repercutir 
na luta contra a desigualdade sócio-econômica, além de salientar a necessidade de políticas 
preservacionistas. Conforme Herculano, um IQV (índice de qualidade de vida) que enfatize o local 
poderá contribuir para melhor nortear políticas de desenvolvimento regional. 
“O conceito de qualidade de vida é aqui proposto como um conceito no 
qual a questão ambiental se agregue aos demais ítens hoje mensurados 
pelo IDH. Propomos que "qualidade de vida" seja definida como a soma 
das condições econômicas, ambientais, científico-culturais e políticas 
coletivamente construídas e postas à disposição dos indivíduos para que 
estes possam realizar suas potencialidades: inclui a acessibilidade à 
produção e ao consumo, aos meios para produzir cultura, ciência e arte, 
bem como pressupõe a existência de mecanismos de comunicação, de 
informação, de participação e de influência nos destinos coletivos, através 
da gestão territorial que assegure água e ar limpos, higidez ambiental, 
equipamentos coletivos urbanos, alimentos saudáveis e a disponibilidade 
de espaços naturais amenos urbanos, bem como da preservação de 
ecossistemas naturais”. (HERCULANO, 1998). 
 As colocações teóricas de Ignacy Sachs, José Eli da Veiga, Amartya Sem, Selene 
Herculano e outros autores apontam para os objetivos do desenvolvimento de políticas como o 
Arranjo Produtivo Local (APL): busca de um modelo de desenvolvimento sustentável que leve em 
consideração os fatores do humano, da melhoria da qualidade de vida e a preservação ambiental 
atrelado ao crescimento econômico da região e não apenas um crescimento da produção de 
peixes como alternativa para auferir renda. 
 
6. Considerações Finais 
O modelo proposto por Sachs quanto ao “ecodesenvolvimento”, assim como as idéias de 
Amartya Sen, Herculano, Erikson, Allardt, Veiga e outros autores sobre o conceito de 
desenvolvimento como expansão das liberdades e qualidade de vida, tornam-se extremamente 
interessantes e indispensáveis numa análise sociológica do Arranjo Produtivo Local da 
Piscicultura da Região do Jacuí-Centro do Rio Grande do Sul. Tais considerações apontam para 
elementos que subsidiarão a construção de um instrumento de pesquisa que dê conta de uma 
análise mais crítica quanto à elaboração e execução de programas e políticas de melhoria de 
qualidade de vida e desenvolvimento sustentável. Esses debates tencionam ir além de uma 
análise baseada em produção, renda per capita por família PIB, PNB e outras variáveis 
econômicas ou estritamente financeiras/desenvolvimentistas, buscando entender o desempenho 
socioeconômico das unidades racionais (famílias) que compõem o APL. 
O presente estudo permitirá compreender melhor os resultados concretos obtidos quanto à 
padronização da produção, aumento da qualidade e da produtividade do produto e melhoria da 
gestão na propriedade. Tem-se, ao final, um teste sobre a racionalidade desse pequeno produtor 
no equacionamento e conjugação de quesitos como aquisição de insumos, formação de custos e 
preços de venda, procedimentos de abate e transformação do produto, aproveitamento de 
resíduos, implantação de crédito rotativo junto à cooperativa e planejamento e gestão da 
cooperativa. Esse agir econômico é socialmente constituído, é parte de sua visão mais ampla da 
vida, articulando conceitos como felicidade e bem-estar. A partir destes entendimentos, é possível 
intervir mais precisamente em iniciativas de sensibilização e capacitação do pequeno produtor 
para a consecução dos fins precípuos da APL da piscicultura. 
 
 
Referências: 
BUTZKE, A. A responsabilidade sócio-ambiental da empresa: interatividade com o estado e a 
sociedade. I Encontro Rede Latino-Americana de Cooperação Universitária – Caxias do Sul/RS, 
s.d. In: http://www.rlcu.org.ar/destacados/clea/ponencias/i%20encuentro%20rlcu-butske%20iv.pdf 
 
GIDDENS, Anthony. A Constituição da Sociedade. São Paulo: Martins Fontes Editora, 1989. 
 
HERCULANO, S. C. A qualidade de vida e seusindicadores. Revista Ambiente e Sociedade, 
Campinas, UNICAMP/NEPAM, Ano I, nº 2, 1998. 
 
IRGA – Instituto Riograndense do Arroz. Censo da lavoura de arroz irrigado do Rio Grande do Sul 
– Safra 2004/05. Porto Alegre, 2006, 122p. 
 
MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. Fortalecimento do Arranjo Produtivo da Piscicultura 
na Messorregião da Grande Fronteira do Mercosul. Fórum da Mesorregião da Grande Fronteira do 
Mercosul. EMATER/EPAGRI, Agosto de 2005. 
 
NUSSBAUM, Martha C.; SEN, Amartya. La Calidad de Vida. México: Fondo de Cultura 
Económica, 1996. 
 
SACHS, Ignacy. Rumo à Ecossocioeconomia. São Paulo: Cortez, 2007. 
 
SEN, Amartya. Desenvolvimento como Liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. 
 
VEIGA, J. E. da. Desenvolvimento Sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: 
Garamond, 2006. 
 
VIOLA, Eduardo & LEIS, Hector. “A evolução das políticas ambientais no Brasil, 1971-1991: do 
bissetorialismo preservacionista para o multissetorialismo orientado para o desenvolvimento 
sustentável”. In: NOVAES, Ricardo Carneiro. Desenvolvimento Sustentável na Escala Local; a 
Agenda 21 Local como Estratégia para a construção da Sustentabilidade. I ANPPAS. Brasília, 
2002.

Outros materiais