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ACUPUNTURAS Revista Eletrônica de Acupuntura 1 A VISÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE FRENTE À ACUPUNTURA NO SUS THE VISION OF HEALTH PROFESSIONALS TO ACUPUNCTURE IN FRONT SUS LA VISIÓN DE LOS PROFESIONALES DE LA SALUD ACERCA DE LA ACUPUNTURA EN SUS GLÁUCIA DE SOUSA VILELA1, RENATO TEIXEIRA ALMEIDA2, VINICIUS APARECIDO DE OLIVEIRA3 1 – Enfermeira, Pós-graduada em Acupuntura pelo CBA/ABACO. Rua Francisco Hilário, 94. Centro. Itagurara – MG. 35514-000. E-mail: glauciasvilela@yahoo.com.br 2– Odontólogo, Pós-graduado em acupuntura pelo CBA/ABACO, mestre em Fisiologia e Farmacologia pela UFMG, doutorando em Fisiologia e Farmacologia pela UFMG 3 – Fisioterapeuta, pós-graduado em Acupuntura pelo CBA/ABACO PESQUISA ACUPUNTURAS Revista Eletrônica de Acupuntura 2 A VISÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE FRENTE À ACUPUNTURA NO SUS RESUMO - Este trabalho tem como objetivo caracterizar a visão dos profissionais de saúde vinculados à Secretaria Municipal de Saúde de Itatiaiuçu/MG quando ao desenvolvimento da acupuntura no Sistema Único de Saúde. Procedeu-se a investigação com a realização de entrevista semiestruturada aos participantes através de formulários, num total de 12 entrevistados. Através de uma abordagem qualitativa, peça de fundamental importância para este estudo, as observações dos entrevistados sobre a acupuntura no SUS foram colhidas e analisadas. A pesquisa evidenciou que, embora os profissionais pouco conheçam do tema e limitem a prática de encaminhamentos à esta terapia, acreditam que a prática, se disponibilizada pela saúde pública e com número de profissionais suficientes, pode beneficiar a população. Palavras-chave: Acupuntura, Saúde Pública, Pessoal de Saúde . ABSTRACT - This work aims to characterize the vision of health professionals linked to the Municipal Health Itatiaiuçu/MG when the development of acupuncture in the National Health System There has been research on the achievement of a semistructured interview to participants through forms A total of 12 respondents. Through a qualitative approach, part of fundamental importance for this study, the comments of respondents on acupuncture in SUS were collected and analyzed. The research showed that while professionals may know little of the subject and limit the practice of referrals to this therapy believe that the practice be made available for public health and with sufficient numbers of professionals, can benefit the population. Palavras-chave: Acupuncture, Public Health, Health Personnel RESUMEN - Este trabajo tiene como objetivo caracterizar la visión de profesionales de la salud vinculados a la Salud Municipal Itatiaiuçu/MG cuando el desarrollo de la acupuntura en el Sistema Nacional de Salud se ha investigado sobre la realización de una entrevista semiestructurada a los participantes a través de formas Un total de 12 encuestados. A través de un enfoque cualitativo, una parte de fundamental importancia para este estudio, los comentarios de los encuestados sobre la acupuntura en el SUS fueron recogidos y analizados. La investigación demostró que mientras que los profesionales pueden saber poco del tema y de limitar la práctica de las referencias a esta terapia que la práctica se destine a la salud pública y con un número suficiente de profesionales, pueden beneficiar a la población. Palabras clave: Acupuntura, Salud Pública, Personal de Salud. ACUPUNTURAS Revista Eletrônica de Acupuntura 3 A VISÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE FRENTE À ACUPUNTURA NO SUS 1 INTRODUÇÃO A história da acupuntura no Brasil facilmente se confunde com a da imigração dos povos orientais. Naqueles tempos1, os pioneiros imigrantes trouxeram na bagagem uma cultura milenar que contribuiu de maneira significativa não só para o desenvolvimento das terapias naturais, como também das artes plásticas e marciais, da culinária, da religião, da ciência, da tecnologia, da filosofia e do pensamento. Com eles chegaram a acupuntura, o do–in e novos conhecimentos na utilização das ervas, o Kung Fu e o Tai Chi Chuan, o Qui Gong e o Feng Shui; também, influências na poesia, na literatura e na pintura. Hoje, no Brasil, a milenar terapia das agulhas, que já foi taxada inadvertidamente até como charlatanismo e curandeirismo, é reconhecida por oito Conselhos Federais de Saúde como especialidade2. Reconhecimento este legitimado pelo apoio popular que já aparece em alguns estudos sobre o tema2,6,8 e ações governamentais obtidas em nosso país4,10,11, embora ainda existam projetos que tentam limitar a atividade multidisciplinar da acupuntura1. No Brasil, a legitimação e institucionalização das práticas complementares teve início nos anos de 1980, principalmente, após a descentralização, participação popular e crescimento da autonomia municipal, promovidos pelo SUS¹. Este fato foi possível a partir da VIII Conferência Nacional de Saúde (CNS), que trouxe um conceito mais abrangente de saúde visando a prevenção, promoção, proteção e recuperação, num cenário de reabertura política e com o reconhecimento da falência do modelo de saúde centrado na doença13. Nessa Conferência, foi deliberada, em seu relatório final, a introdução de práticas alternativas de assistência à saúde no âmbito dos serviços de saúde, possibilitando ao usuário o acesso democrático para escolher a terapêutica preferida, dando possibilidades a diferentes abordagens face ao adoecimento13. Este relatório e os princípios doutrinários do SUS – Universalidade, Equidade e Integralidade da assistência – criados pela Lei Orgânica da Saúde (Lei 8080/90)3 permitiram uma pluralidade no que diz respeito à atenção à saúde, sendo que, a ACUPUNTURAS Revista Eletrônica de Acupuntura 4 noção de pluralismo foi originalmente desenvolvida com a finalidade de defender o princípio de que cidadãos socialmente iguais, em direitos e deveres, podem ser diferentes, em percepções e necessidades. No campo da saúde este preceito ainda sofre grande resistência, no entanto, o Ministério da Saúde deu mais um passo para a expansão da pluralidade na saúde brasileira com a regulamentação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS – PNPIC-SUS, aprovada pelo Ministério da Saúde pela portaria CNS 9711,4,13. Essa portaria garante a realização de acupuntura no SUS a diversos profissionais (fisioterapeutas, farmacêuticos, médicos, dentistas, biomédicos, biologistas, enfermeiros e psicólogos) em todo o território nacional. Em 17 de novembro de 2006, a portaria 853 inclui na tabela de Serviços/Classificações do Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (SCNES) de Informações do SUS – o serviço acupuntura - Práticas Integrativas e Complementares; realizadas por profissionais de saúde especialistas em acupuntura11,13. Em relação aos objetivos da PNPIC para o SUS, foram enfatizados: • a prevenção de agravos e a promoção e recuperação da saúde, com ênfase na atenção básica, voltada para o cuidado continuado, humanizado e integral em saúde; • a contribuição ao aumento da resolubilidade e a ampliação do acesso, garantindo qualidade, eficácia, eficiência e segurança no uso; • a promoção e racionalização das ações de saúde; • o estímulo das ações de controle/participação social, promovendo o envolvimento responsável e continuado dos usuários, gestores e trabalhadores da saúde¹. No que diz respeito às diretrizes da PNPIC, foram nomeadas 11 principais, com o fim de definir estratégias de inserção, gestão e avaliação das práticas complementares no SUS, quais sejam: 1. estruturação e fortalecimento da atenção; 2. desenvolvimentode qualificação para profissionais; 3. divulgação e informação de evidências para profissionais, gestores e usuários; 4. estímulo às ações intersetoriais; 5. fortalecimento da participação social; ACUPUNTURAS Revista Eletrônica de Acupuntura 5 6. acesso a medicamentos; 7. acesso a insumos; 8. incentivo à pesquisa sobre eficiência, eficácia, efetividade e segurança; 9. desenvolvimento de acompanhamento e avaliação; 10. cooperação nacional e internacional; 11. monitoramento da qualidade¹. Numa ampliação das práticas de acupuntura no SUS, a portaria nº 154, de 24 de janeiro de 2008, cria os Núcleos de Saúde da Família (NASF), gerando oportunidade para que outros profissionais possam ser inseridos à Estratégia de Saúde da Família, como: médicos (ginecologistas, pediatras e psiquiatras), profissionais de Educação Física, nutricionistas, acupunturistas, homeopatas, farmacêuticos, assistentes sociais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais. Esses profissionais atuam em parceria com as equipes de Saúde da Família, buscando a integralidade da assistência através do vínculo equipe-comunidade, funcionando como porta de entrada preferencial do usuário ao serviço de saúde13. Cabe ressaltar que as ações executadas nesta esfera de atenção devem ser resolutivas em 80% das necessidades da população, conforme citado na Portaria 678/2006 CNS/MS, pautando-se na prevenção, tratamento e reabilitação dos agravos à saúde5. Em se tratando da ação direta dos profissionais no cuidado à saúde dos pacientes, e relacionando esta ação à acupuntura, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece que a acupuntura poderia servir como tratamento principal ou complementar para as mais diversas patologias, conforme segue a lista abaixo7: • Doenças do Trato Respiratório Sinusite aguda Rinite aguda Resfriado comum Amigdalite aguda • Afecções broncopulmonares Bronquite aguda Asma brônquica • Doenças Oftalmológicas Conjuntivite aguda ACUPUNTURAS Revista Eletrônica de Acupuntura 6 Retinite central Miopia (em crianças) Catarata (sem complicações) • Distúrbios da cavidade bucal Odontalgia Dor pós extração dental Gengivites Faringites agudas e crônicas • Distúrbios Gastrointestinais Espasmos do esôfago e cárdia Soluços Gastroptose Gastrite aguda e crônica Hiperacidez gástrica Úlcera duodenal crônica Colites agudas e crônicas Disenteria bacteriana aguda Constipação Diarréia Íleo paralítico • Distúrbios Ortopédicos e Neurológicos Cefaléias Enxaqueca Neuralgia do trigêmeo Paralisia Facial Paralisia Pós AVC Neuropatia periférica Paralisia causada por poliomielite Síndrome de Menière (vertigem) Disfunção neurogênica da Bexiga Urinária Enurese noturna. Neuralgia intercostal Periartrite escapulo-umeral Epicondilite lateral (tennis elbow) ACUPUNTURAS Revista Eletrônica de Acupuntura 7 Ciática, lombalgia (dor na coluna lombar) Artrite Reumatóide. Vale ressaltar que nesta lista estão distúrbios e enfermidades para as quais se tem comprovação científica da eficácia do tratamento pelo método. Além disso, vários estudos têm demonstrado que a acupuntura apresenta uma influência profunda sobre os problemas físicos, emocionais, sendo recomendável a combinação dessa técnica com outros tratamentos. Desde o ano de 2002, a OMS procura incentivar a utilização das práticas alternativas nos seus países membros por meio do documento conhecido como "WHO Traditional Medicine - definitions". Esse informe da OMS aponta diversas razões, como baixo custo e elevada efetividade, pelas quais as práticas da medicina tradicional, incluindo-se a acupuntura, devem ser utilizadas por seus países membros 7,13. As consultas em acupuntura vêm apresentando, em todo o país, uma tendência de crescimento, visto que já existem vários municípios que possuem profissionais acupunturistas médicos e não-médicos registrando atendimentos em acupuntura no SUS. Isso aponta para uma promissora mudança em direção à universalização da acupuntura no sistema público de saúde brasileiro13. Neste sentido, surgiu o objetivo deste estudo, que se define por caracterizar o encaminhamento aos serviços de acupuntura pelos profissionais de nível superior vinculados ao serviço público de saúde do município de Itatiaiuçu/MG, apresentando o porquê do encaminhamento ou do não encaminhamento oferecido pelo profissional de nível superior de formação. O estudo do encaminhamento dos pacientes a tratamentos por acupuntura faz-se necessário por ser esta uma prática que, possivelmente, pode interferir na demanda do serviço, tanto pela indicação a um tratamento confiável e embasado cientificamente quanto pela divulgação de informações desconhecidas pelos pacientes (efeitos da acupuntura e disponibilidade no sitema único de saúde). O encaminhamento profissional e as orientações advindas deste processo podem orientar à solução das necessidades terapêuticas individuais. Alem disso, existe uma escassez de estudos relacionados ao tema práticas integrativas, especialmente a acupuntura, e SUS, o que justifica a execução deste, visto que se deve buscar um maior incentivo à inserção dessas novas práticas no sistema público de saúde, pois estudos realizados no Brasil já buscam indícios do ACUPUNTURAS Revista Eletrônica de Acupuntura 8 conhecimento sobre o tema e a satisfação dos pacientes que tiveram acesso a essas formas de tratamento2,6,8. Neste sentido, propôs-se o desenvolvimento deste estudo, escolhendo-se como cenário um município do centro-oeste mineiro, a cidade de Itatiaiuçu, com cerca de 267 quilômetros quadrados de área, o município de Itatiaiuçu tem uma população de aproximadamente 9.366 habitantes sendo, 4.770 do sexo masculino e 4.596 do sexo feminino, com uma densidade populacional de quase 35,07 habitantes por Km2. A economia da cidade gira em torno de atividades agropecuárias e, principalmente, da mineração de ferro. O município está cadastrado no tipo de Gestão Plena da Atenção Básica, e conta com uma estrutura de uma equipe de ESF urbana e duas rurais, com 100% de cobertura de acesso, inclusive odontológico; policlínica municipal de saúde, responsável por atendimentos de urgência e emergência em plantão 24 horas e atendimentos especializados em psiquiatria, pediatria, ginecologia, cardiologia e ultrasonografia; é sede da farmácia básica municipal, laboratório de análises clínicas, vigilância epidemiológica. Anexa à policlínica municipal, encontra-se a Secretaria Municipal de Saúde. Possui um setor de atendimento ambulatorial de fisioterapia, descentralizado. Através de suas ações, os serviços de saúde constroem e mantêm seus indicadores de saúde referentes a atenção básica, permitindo a elaboração de um perfil epidemiológico municipal, que se traduz como um índice de qualidade da assistência prestada à população. Ainda, há a utilização de perfis epidemiológicos para nortear o desenvolvimento de estratégias de assistência a saúde, sendo de fundamental importância; pois, pode propiciar o enfrentamento e a resolução dos problemas identificados epidemiologicamente, e tem a prerrogativa de ser desenvolvida a partir das necessidades dos sujeitos. A entrada dos usuários no setor de saúde do município acontece através da unidade de atenção básica primária da Estratégia de Saúde da Família - ESF. Esta oferece consultas médicas, atendimento ambulatorial, imunizações, visitas e atendimentos domiciliares e acompanhamento odontológico. ACUPUNTURAS Revista Eletrônica de Acupuntura 9 2 METODOLOGIA Tratou-se de um estudo retrospectivo de abordagem qualitativa, com objetivo exploratório-descritivo e caráter observacional. Para o desenvolvimento deste estudo,os profissionais com formação superior em saúde, responsáveis pelo cuidado direto ao paciente, vinculados à secretaria municipal de saúde do município de Itatiaiuçu/MG foram convidados a responder uma entrevista onde descreveram sobre os itens constantes neste estudo. Para tanto, leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dando ciência e autorização da participação na pesquisa. A entrevista pré-estruturada referente a este estudo deu ênfase ao conhecimento dos profissionais sobre o tema acupuntura, encaminhamentos feitos pelos mesmos a serviços que oferecem esta terapêutica e sua opinião sobre ser o serviço de acupuntura necessário ou não neste município. Foi desenvolvida no período de abril a junho de 2010, utilizando como ferramenta um questionário pré-estruturado, respondido individualmente por cada entrevistado para que não houvesse nenhuma interferência pelo pesquisador ou pelo meio nas suas respostas. As mesmas encontram-se arquivadas no meio impresso. A avaliação dos dados obtidos foi feita através de análise de conteúdo entre as respostas dos profissionais e a literatura existente acerca do tema. através da análise de conteúdo é possível descobrir o que está por trás dos conteúdos manifestos, indo além das aparências do que está sendo comunicado. Trata-se de um conjunto de “instrumentos metodológicos cada vez mais subtis em constante aperfeiçoamento, que se aplicam a discursos”. Compuseram a amostra do estudo os profissionais de formação superior em saúde vinculados à secretaria municipal de saúde de Itatiaiuçu/MG. Foram excluídos deste estudo profissionais de saúde que atuem no município, porém em instituições distintas à relacionada neste estudo, ou que não possuam nível superior de formação. O desenvolvimento deste estudo obedeceu às normas éticas relacionadas à pesquisa com seres humanos e na Resolução CNS 196/96, que garante o sigilo, anonimato e proteção dos sujeitos envolvidos na pesquisa, sendo autorizado pela secretaria municipal de saúde de Itatiaiuçu/MG. ACUPUNTURAS Revista Eletrônica de Acupuntura 10 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO No que diz respeito ao desenvolvimento das Práticas Integrativas e Complementares junto à população, especialmente da acupuntura, não existe no município o desenvolvimento das mesmas, quer em unidades privadas ou públicas de saúde. De acordo com uma pesquisa desenvolvida pela Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais, 76 municípios mineiros já desenvolvem alguma Prática Integrativa e Complementar, e, dentre eles, 15,54% desenvolvem a acupuntura. Neste sentido, os profissionais de formação superior vinculados à secretaria municipal de saúde responderam questões acerca da prática de acupuntura. Foram convidados a participar da pesquisa 21 profissionais (médicos, enfermeiros, fisioterapeuta e odontólogo) vinculados à Secretaria Municipal de Saúde, dos quais 12 responderam a entrevista, 3 estavam em licença saúde ou férias e outros 6 não interessaram-se em participar. Dentre os profissionais que participaram da pesquisa, 6 eram enfermeiras, 1 odontólogo, 1 fisioterapeuta e 4 médicos. Primeiramente, os profissionais foram questionados sobre quais são seus conhecimentos acerca da acupuntura, sendo possível perceber que alguns dos profissionais possuem um parco conhecimento acerca do tema, que pode ser visualizado através dos termos usados como: “Sei pouco sobre acupuntura”; “não tenho tanto conhecimento quanto a essa questão”; “Sou muito leiga no assunto, apenas ouvi falar...”; “Não tenho informações científicas sob acupuntura”. No entanto, a maioria dos entrevistados tenta demonstrar seus conhecimentos utilizando-se de termos, como “a utilização de agulhas punturadas em pontos específicos da pele” com a função de restabelecer o “equilíbrio” corporal através de um fluxo energético. A acupuntura se define como um método terapêutico cujo território é o sistema nervoso e a resposta imunitária visando produzir mudanças funcionais de repercussão local e/ou sistêmica, com os objetivos de restaurar a normalidade fisiológica e produzir analgesia nas condições dolorosas. Fundamenta-se em dados biológicos – anatômicos, fisiológicos e fisiopatológicos – e na teoria da Medicina Tradicional Chinesa (MTC)10. De acordo com a MTC, a acupuntura fundamenta-se ACUPUNTURAS Revista Eletrônica de Acupuntura 11 em bases sólidas das teorias Yin-Yang, dos Cinco Elementos e das Substâncias Vitais9. Fica claro nos discursos uma relação da acupuntura utilizada no tratamento de diversas dores, como uma forma de tratamento complementar ou terapia alternativa. Um dos entrevistados relaciona o tratamento da dor por acupuntura ao tratamento da dor em sua clínica diária, quando diz que “Entendo ser um tratamento para alívio da dor, como pontos-gatilhos e ou outras dores miofasciais”. Neste estudo, foi mencionado a abrangência terapêutica promovida pela acupuntura através da exposição da lista de doenças tratáveis por acupuntura desenvolvida pela OMS7, ficando claro que a prática da acupuntura não se restringe somente ao tratamento da dor. Ross afirma em seu livro que a acupuntura quase sempre pode ser usada de maneira eficaz como único método terapêutico ou como complemento do tratamento na Medicina Ocidental, em que o paciente ocupa um papel passivo12. Sequencialmente foram questionados quanto ao encaminhamento, em sua clínica diária, de pacientes para serviços de acupuntura, sendo eles particulares ou públicos, e foi possível perceber que 58,4% dos entrevistados não o fazem e 41,6% vivenciam esta prática. Dentre os profissionais que encaminham seus pacientes a tratamentos por acupuntura, apresentam como justificativa para tal fato êxitos pessoais com o tratamento, um recurso para se evitar a alopatia, a diminuição de efeitos colaterais ou dor durante a terapia, rapidez e eficácia, diminuição do custo operacional no cuidado à saúde e a existência de estudos que comprovam seus resultados. Já para os profissionais que não encaminham seus pacientes à acupuntura, encontramos como justificativas a indisponibilidade do serviço e/ou profissionais no município, tanto na rede pública ou privada e a privação de conhecimentos sobre o tema. Finalizando-se a entrevista, foram questionados quanto a sua opinião sobre a disponibilização de um serviço de acupuntura no município, oferecido e organizado por uma política pública de saúde, nos moldes do Sistema Único de Saúde. Todos os entrevistados posicionaram-se favoravelmente à disponibilização de um serviço de acupuntura no município pautado nos moldes do sistema único de saúde, apresentando como justificativas a existência de demanda de patologias tratáveis por acupuntura, aumento do leque de terapias disponíveis para o ACUPUNTURAS Revista Eletrônica de Acupuntura 12 tratamento do paciente, um modo de controle ou combate à medicalização, redução dos custos com a saúde, a possibilidade de desenvolvimento do processo terapêutico dentro de uma abordagem multidisciplinar e a melhoria da assistência à população. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS No desenvolvimento deste estudo foi possível perceber que o encaminhamento e a indicação de pacientes ao tratamento por acupuntura estão intimamente relacionados ao conhecimento sobre o tema pelos entrevistados e, que, como visto nas respostas, esta indicação se dá principalmente através de experiências exitosas dos próprios participantes em tratamentos por acupuntura. Assim, vê-se que, embora o conhecimento esteja plenamente difundido entre a população, os temas referentes à acupuntura ainda não são bem conhecidos pelos profissionais de saúde e pela população em geral, ainda que os meios de comunicação de massa tenham intensificado a quantidade de informações sobre este tema.Neste contexto, as políticas públicas tem se atentado às Práticas Integrativas e Complementares como uma ferramenta à multidisciplinaridade visando à melhoria da qualidade da assistência prestada. Torna-se imprescindível então, a difusão do conhecimento entre os profissionais e a população para que ambos utilizem desta ferramenta para melhorarem as condições de saúde gerais. Os profissionais de saúde possuem grande parte da responsabilidade pelo êxito desta política, visto que podem formar parte da demanda pelo serviço através dos encaminhamentos e pela sua própria formação, que pode ser direcionada às praticas integrativas e, principalmente à acupuntura. Fica claro que o desenvolvimento das práticas de acupuntura, criação de políticas públicas e o desenvolvimento de estudos sobre o tema devem caminhar juntos para que esta terapia se difunda entre a população e reflita realmente em melhores condições de saúde através de uma abordagem holística, que reduz a medicalização, iatrogenias e custos para os cofres públicos. ACUPUNTURAS Revista Eletrônica de Acupuntura 13 6 REFERÊNCIAS 1 - BARROS, N F; SIEGEL, P e SIMONI, C D. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS: passos para o pluralismo na saúde. Cad. Saúde Pública. 2007, v.23, n.12, p. 3066-3067. 2 - BELLOTTO JÚNIOR N., MARTINS L.C., AKERMAN M. Impacto dos resultados no tratamento por acupuntura: conhecimento, perfil do usuário e implicações para promoção da saúde. Arq Med ABC. 2005;30(2):83-6. 3 - BRAISL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Lei 8080/90. (19 de setembro de 1990) 4 - BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política nacional de práticas integrativas e complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. Portaria nº 971(3 de maio de 2006). 5 - BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria 648/ GM de 28 de março de 2006. 2006. 30p. Disponível em: http://www.saude.mg.gov.br/atos_normativos/legislacao- sanitaria/estabelecimentos-de-saude/atencao-basica/Portaria_648.pdf Acesso em: 30/03/2010 6 - FONTANELLA F., SPECK F.P., PIOVEZAN A.P., KULKAMP I.C. Conhecimento, acesso e aceitação das práticas integrativas e complementares em saúde por uma comunidade usuária do Sistema Único de Saúde na cidade de Tubarão/SC. ACM Arq Catarin Med. 2007;36(2):69-74. 7 - HASHIMOTO, F. Lista de Indicações da Acupuntura pela Organização Mundial de Saúde. Disponível em: http://www.clinicahashimoto.com.br/capa/artigos.html#lista Acesso em: 30/03/2010 8 - LEMOS S.F. Significado de acupuntura para usuários de um serviço de atendimento em saúde [Dissertação]. Goiânia: Universidade Federal de Goiás - UFG; 2006. ACUPUNTURAS Revista Eletrônica de Acupuntura 14 9 - MACCIOCIA, G. Os fundamentos da medicina chinesa. 2ed. São Paulo: Roca. 2007, 958 p. 10 - MINAS GERAIS. SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE. PEPIC – Política Estadual de Práticas Integrativas e Complementares/MG. 2010. 64p. 11 - MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Portaria GM no 853 (17 de Novembro de 2006). 12 - ROSS, J. Combinação de pontos de acupuntura. A chave para o êxito clínico. São Paulo: Roca. 2003, 490 p. 13 - SANTOS, FAS; GOUVEIA, GC; MARTELLI, PJL and VASCONCELOS, EMR. Acupuntura no Sistema Único de Saúde e a inserção de profissionais não-médicos. Rev. bras. fisioter. [online]. 2009, v.13, n.4, p. 330-334.
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