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10 - Ações_Possessórias

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AÇÕES POSSESSÓRIAS (INTERDITOS POSSESSÓRIOS)
(Artigos 920/933 do CPC)
Thyago Luis Barrêto Braga
Procurador Público Efetivo do Município de João Pessoa, Ex-Analista Judiciário do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, Ex-Assessor Jurídico de Gabinete do TJPB, Professor de Direito Processual Civil da Faculdade Maurício de Nassau de João Pessoa e Professor em nível de Pós-Graduação da Faculdade Maurício de Nassau – JP / Escola Superior da Advocacia – ESA/PB
1. Aquele que eventualmente estiver prestes a ser turbado ou esbulhado, pode usar a força imediata e proporcional (necessária) para defender sua posse. Trata-se do instituto do DESFORÇO IMEDIATO previsto no art. 1210, § 1º, do CC/2002:
“Art. 1.210.
1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.”
2. Entretanto, caso não utilize a autotutela como forma de defesa de sua posse, ao ofendido cabe socorrer-se às ações possessórias de: 
a) reintegração de posse – contra esbulho (perda total da posse)
b) manutenção de posse – contra turbação (perda parcial da posse)
c) interdito proibitório – contra ameaça iminente de turbação ou esbulho
3. Vigora entre as referidas ações o PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE, expressamente previsto no art. 920 do CPC:
“Art. 920 A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela, cujos requisitos estejam provados.”
4. Cumpre destacar ser possível ao autor cumular, juntamente com o pedido de proteção possessória, os pedidos de: (i) indenização por perdas e danos civis; (ii) multa no caso de reincidência de turbação ou de esbulho; (iii) de desfazimento de obra ou construção, consoante previsto no art. 921 do CPC: 
“Art. 921. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de:
I - condenação em perdas e danos;
II - cominação de pena para caso de nova turbação ou esbulho;
III - desfazimento de construção ou plantação feita em detrimento de sua posse” 
5. Importante destacar também a NATUREZA DÚPLICE das ações possessórias, afinal dispõe o art. 922 do CPC:
“Art. 922. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.” 
A natureza dúplice das ações possessórias permite que o réu postule (pedido indenizatório + indenização por danos civis) contra o autor, sem necessidade de reconvenção, bastando apresentar referidos pedidos na própria contestação. 
6. Cumpre destacar ser impossível discutir domínio (propriedade) no bojo do processo possessório, tampouco intentar ação de reconhecimento de domínio na pendência do processo possessório, consoante estabelecido pelo art. 923 do CPC: 
Art. 923. Na pendência do processo possessório, é defeso, assim ao autor como ao réu, intentar a ação de reconhecimento do domínio.
Em suma: enquanto durar a demanda possessória, impossível autor ou réu discutirem direito de propriedade, seja nos autos da possessória, seja em outro processo.
7. A legitimidade ativa “ad causam” da ação possessória cabe ao possuidor ofendido em sua posse, podendo referida legitimidade ser imputável ao espólio ou aos herdeiros, no caso de falecimento do “de cujus”.
8. Se a posse for passada pelo antigo possuidor a um cessionário, este possuirá legitimidade para requerer a proteção possessória, mesmo que a ofensa tenha sido praticado, originalmente, contra o primitivo possuidor. 
9. A legitimidade passiva “ad causam” cabe ao esbulhador, ao turbador ou terceiro de má-fé (haverá má-fé quando o terceiro não puder desconsiderar a existência de possível esbulho praticado contra o primitivo possuidor).
10. Caso o terceiro tenha recebido a posse esbulhada de boa-fé, este não possuirá legitimidade passiva “ad causam” para figurar no polo passivo da demanda possessória. Nesse caso, o possuidor esbulhado terá duas hipóteses:
a) demandar ação reivindicatória (exercendo o direito de sequela) contra o terceiro de boa-fé, ocasião em que estará postulando o bem esbulhando não na qualidade de possuidor, mas na qualidade de proprietário;
b) demandar ação indenizatória de perdas e danos contra o esbulhador que passou o bem para o terceiro de boa-fé, caso não seja o proprietário do bem que possuía, pois nesse caso não poderá propor ação possessória, tampouco ação reivindicatória, cabendo-lhe apenas perdas e danos.
11. Rito procedimental
As ações possessórias de reintegração de posse (esbulho) e de manutenção de posse (turbação) podem ser classificadas como ação de força nova ou ação de força velha.
Serão ações possessórias de força nova, caso tenham sido propostas a menos de 01 (um) ano e 01 (um) dia da ciência do esbulho ou da turbação. Nesse caso, o rito procedimental comportará a possibilidade de concessão da tutela antecipada especial – tutela esta que não depende da comprovação dos requisitos do art. 273/CPC, mas apenas da demonstração da perda/turbação da posse pelo autor há menos de 01 (um) ano e 01 (um) dia – mas apenas da demonstração da perda da posse pelo autor da demanda.
No caso de ação possessória de força nova, será possível ao juiz designar audiência de justificação para que o autor demonstre ter perdido a sua posse a menos de 01 (um) ano e 01 (um) dia, conforme previsto no art. 928 do CPC: 
“Art. 928. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração; no caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada.”
12. Conforme se observa, o réu deve ser intimado para comparecer à audiência de justificação (diferente do que ocorre, em regra, com as medidas cautelares), ocasião em que poderá inquirir as testemunhas do autor, caso esteja acompanhado de advogado, profissional que possui capacidade postulatória.
13. Após a audiência de justificação e concessão ou não da tutela antecipada especial em prol do autor, o procedimento da ação de força nova seguirá o rito ordinário.
14. No caso de ação possessória de força velha, revela-se possível a concessão da tutela antecipada, mas esta depende da satisfação dos requisitos do art. 273/CPC. Ademais, nas ações de força velha, o rito procedimental será, desde o início, o rito ordinário.
15. As disposições normativas que tratam das ações possessórias NÃO preveem a intervenção do Ministério Público. E não poderia ser diferente, afinal o interesse na demanda possessória é, em regra, um interesse meramente particular que não comporta a intervenção do Ministério Público.
16. Havendo vários invasores não identificados, como no caso de uma invasão (esbulho) praticado por integrantes do MST, a citação pode ser genérica, ou seja, pode ser realizada nas pessoas que eventualmente estiverem liderando o movimento, tudo a ser certificado pelo Oficial de Justiça. Mesmo no caso de invasão praticada pelo MST, esse professor entende pela desnecessidade de intervenção do MP, uma vez que a pretensão jurídica deduzida na demanda é de interesse particular exclusivo do possuidor, que se considera turbado ou esbulhado.
17. Existe a possibilidade de concessão de tutela antecipada liminar contra a fazenda pública, desde que seja assegurada a prévia oitiva de seus representantes legais, consoante imposto pelo art. 928, parágrafo único, do CPC:
“Art. 928 (omissis)
Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais.” 
Observação: Importante não confundir a prévia audiência dos representantes judiciais da fazenda pública com a necessidade de realização de uma audiência de justificação. Com efeito, esta audiência é realizada para que o autor comprove
o seu direito à obtenção da liminar, sendo o local em que, via de regra, serão ouvidas apenas as testemunhas do promovente. A oitiva dos representantes legais da Fazenda Pública será realizada antes da concessão liminar, haja ou não audiência de justificação. 
18. Lembremos ser possível a propositura de ação possessória em sede de Juizado Especial Estadual, desde que o valor do imóvel não seja superior a 40 (quarenta) salários mínimos, consoante previsão do art. 3º, inciso IV, da Lei mº 9.099/95.
19. A competência é territorial absoluta, consoante previsão do art. 95/CPC. Por outro lado, é dispensável a outorga uxória.
20. Não se confunde a possessória com: ação de imissão de posse, ação reivindicatória, ação de despejo, tampouco embargos de terceiro
Amigos alunos, 
Bons estudos

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