Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 CURSO DE DIREITO Disciplina: História do Direito Prof. Fabrício Ferreira 2008.2 Direito Romano – Introdução e História A República Romana 2 Contextualização. Período que vai de 510 a. C. até 27 a. C.; Instaura-se a REPÚBLICA (res + publicae = coisa do povo); O poder passou para a mão dos patrícios, que, em resumo, substituíram o rei por dois cônsules, eleitos anualmente; Os patrícios possuíam, além do poder político, a totalidade das terras e monopolizavam a vida religiosa; Situação da Plebe: acuada política e economicamente; Promovem greves e se retiram, em massa (armados), para o monte sagrado (Monte Aventino); Conseqüência: a cidade de Roma paralisa. 3 Visando aplacar a situação, os patrícios enviam o orador Menênio Agripa, sendo esta a origem do apólogo dos membros e do estômago; Os patrícios e plebeus resolvem fazer um acordo, no qual são atendidas diversas reivindicações, sendo a mais importante, a criação do tribuno da plebe (tribuni plebis), representante do povo no senado romano; Os tribunos eram eleitos pela Assembléia da Plebe (Concilium plebis); Inicialmente estes eram em número de dois, que foram, mais tarde, elevados para 4, 5 e 10 (471 a. C.); Tibério e Caio Graco foram os tribunos mais destacados; 4 Sua criação data de 494 a. C. eram magistrados plebeus, invioláveis, sagrados (sacrossanti), com direito de veto contra as decisões a serem tomadas; Não pode ser acusado, preso e nem punido (imunidades totais – imunidades parlamentares - Art. 53 da CF); Não podem dormir fora de Roma; Deveriam manter as portas de suas casas sempre abertas (dia e noite), estando sempre prontos para intervirem a favor dos plebeus; Possuem também a intercessio, poder que coloca em crise a máquina do estado romano, utilizado todas as vezes que identificavam prejuízos para a plebe; (art. 84, V da CF); 5 Direito Romano: A República Romana 1. Instituições político-administrativas: 1. Magistratura (ordinária e extraordinária); 2. Senado; 3. Assembléias do povo (comitias). 6 Magistratura: Características Magistrados eram as pessoas que detinham o poder executivo em Roma, tendo, cada um, uma função específica; Em Roma, o termo magistrado é utilizado de forma mais abrangente, não exclusivamente para os que exerciam a justiça; Magistrado era qualquer cidadão eleito pelo povo, para exercer uma função pública e específica. Suas funções abrangiam o comando do exército e a supervisão das atividades judiciárias; Também chamada de Suprema Magistratura; 7 Não havia hierarquia entre cônsules e magistrados. Os magistrados eram autônomos em suas funções. Os magistrados só podiam se candidatar ao mesmo cargo após o intervalo de 1 ano. A prestação de contas dos magistrados para o povo era rigorosa. O povo exercia controle e fiscalização rigorosos sobre os atos dos magistrados, que podiam ser depostos quando a população desejasse. Magistratura: Características 8 Os magistrados tinham como poderes: a potestas, o imperium e a iurisdictio. A potestas era o poder de representar o povo romano; O imperium era o poder de soberania, contendo as faculdades de comandar os exércitos, de convocar o senado e as assembléias populares e de administrar a justiça. O imperium era próprio dos cônsules, dos pretores e, acidentalmente, do ditador, magistrado excepcional criado quando o ordenamento civil era suspenso por força de calamidade pública, crise política interna ou externa. A iurisdictio era o poder específico de administrar a justiça; competia preferencialmente aos pretores e, secundariamente, aos questores e edis curuis. Magistratura: Características 9 Magistratura ordinária: Era permanente e os magistrados eleitos anualmente; Os candidatos a determinada magistratura deviam obedecer a determinadas condições: (art. 101 e 104, CF) Ser cidadãos de optimo iure (de pleno direito) (art. 87, CF), e, dependendo do cargo, ter exercido outra atividade do cursus honorum; O cursus honorum ou caminho da honra é uma escala de cargos que deveriam ser alcançados sucessivamente: a questura; a edilidade; a pretura e o consulado; 10 No século I a. C. ficou estabelecida a idade mínima para o desempenho de cada uma dessas magistraturas: 31 anos para a questura; 37 anos para a edilidade; 40 anos para a pretura; 43 anos para o consulado; (art. 14, § 3º, VI da CF) 11 Magistratura ordinária: Cônsules; Pretores; Edis; Questores. Cônsules: O povo elegia 2 cônsules, concomitantemente, com mandato anual; Princípio da colegialidade; Cada cônsul, por um mês, governava Roma. O que não estava governando, fiscalizava o que exercia o poder, tendo contra este o direito de veto (intercessio), em caso de discordância; 12 tinham o direito de comandar o exército; função = presidente (art. 84, CF); de distribuir a justiça civil e criminal; de convocar os comícios e o Senado; de nomear senadores; Em casos de risco à República, o cônsul em exercício amealhava o poder dos dois, tornando-se ditador, com poderes absolutos, perdendo o outro, o direito de veto; (art. 136 e 137 da CF); O ditador é precedido de 24 lictores (oficiais romanos), doze dos quais carregam machadinhas, circundadas por um feixe de varas (fasces, origem do termo fascismo); Esses lictores marchavam à frente dos principais magistrados da antiga Roma, cônsules e pretores, tendo a função de afastar, talvez com as varas, a multidão. Os feixes simbolizavam a força total do magistrado, isento de quaisquer restrições a seus atos, como a intercessio ou a provocatio (apelo do povo quando reunido em comícios); 13 Pretores: (investido da jurisdictio e do imperium); Para o estudo do direito romano este é o magistrado mais importante, pois sua atuação era relativa à justiça; O pretor precisava necessariamente ter conhecimentos profundos do Direito. Administrava a justiça mas não era juiz; tão-somente, dizia o direito; O pretor era um magistrado (não um juiz), eleito pelo povo para um período de um ano. Ao assumir o cargo indica em “editos”, afixados no forum os casos em que vai usar o imperium, as diversas fórmulas que dará as partes para a solução dos litígios; Tal sistema, conhecido por “fórmulas” acabou por influenciar o direito no período; Possuía a função de completar e suprir as lacunas da lei, dizendo o direito ao caso concreto, fato que culminou por aplacar a rigidez do direito posto; 14 Edis: Eram uma espécie de vereadores daquela época; Cuidavam fisicamente da cidade; Velavam pela segurança pública e pelo tráfego urbano; Vigiavam aumentos abusivos de preços e a exatidão dos pesos e medidas do mercado; Cuidavam da conservação dos bens públicos; Organizavam os jogos públicos; Possuíam a jurisdictio (faculdade de dizer o direito); 15 Questores: Chefes do erário público (escolhidos pelos cônsules); Quando atuavam nas províncias, possuíam a jurisdictio; 16 Magistratura extraordinária: Era temporária e os magistrados eram escolhidos quando havia necessidade; Em casos excepcionais e urgentes (guerras, calamidades, problemas graves) o povo elegia os magistrados extraordinários; 17 Censores: Embora não fizesse parte do cursus honorum era um cargo cobiçado na época da República Romana; Só era ocupado por cidadãos romanos respeitadíssimos, e que já tivessem ocupado o cargo de cônsul; Eram eleitos em número de dois, de 5 em 5 anos, mas só permaneciam no cargo por, no máximo, 18 meses; Cobravam impostos; Responsáveis pelo recenseamento e “policiamento” dos costumes, e o que não estivesse de acordo com os “costumes romanos”,era denunciado e o causado, condenado, poderia perder os seus direitos políticos. 18 O senado romano: O Senado era o órgão político da República que reunia a aristocracia econômica e cultural. As suas decisões eram verdadeiras ordens, mas sua principal função era legitimar e validar as leis aprovadas nos comícios. Senadores: eram patrícios escolhidos pelos cônsules; O Senado ganha importância política, apesar de ser de n o m e a ç ã o d o s c ô n s u l e s , p o r q u e e x i s t e m a i o r responsabilidade em sua escolha, justamente em razão da espécie de mandato dos cônsules, que passam a consultar o Senado em todas as decisões importantes. Controlavam as finanças públicas, negociavam com os povos estrangeiros, ratificavam as leis votadas pelas assembléias; No fim da República: “senadores-plebeus”; 19 As assembléias populares: As três já existentes (Comitita Curiata, Calatae Centuriata); Concilia plebis – composta apenas por plebeus (plebiscito – forma anômala de produção legislativa); 20 Fontes do Direito Romano Pré-Clássico O costume:o consuetudo ou mos – o “bom romano” era obediente aos costumes e tradições: A fides que tem como sentido o cumprimento de um juramento, compromete ambas as partes em um pacto. Figura existente, no mínimo, desde antes da Lei das XII Tábuas; 21 A Lei: As Leis romanas não possuem a mesma definição do que hoje entendemos por leis (fonte do direito objetivo), mas sim: Uma deliberação de vontade com efeitos obrigatórios; “aquilo que o povo romano estabelecia por proposta de um magistrado senatorial, como, por exemplo, o cônsul”; “é a deliberação de conteúdo normativo tomada pelo povo romano, reunido em comício, por proposta de um magistrado e confirmado pelo senado”; “é a determinação geral do povo ou da plebe por proposta do magistrado”; 22 A Lei das XII Tábuas (Lex duodecim tabutarum ou Lex Decemviralis): Primeira lei escrita no mundo romano; A Lei das XII Tábuas é um monumento fundamental para o Direito, que revela claramente uma legislação rude e bárbara, fortemente inspirada em legislações primitivas e talvez muito pouco diferente do direito vigente nos séculos anteriores. Em 462 a. C. o Tribuno Tarentílio Arsa propõe a criação de uma comissão para a redação de uma lei; Visava aplacar a um desejo da plebe de uma norma aplicável a todos e menos sujeita ao traço de incerteza que caracterizava o costume; Em razão das diversas derrotas judiciais que assolavam à plebe, por não conhecer a inteireza do direito consuetudinário, passaram a exigir, ao menos, que “as regras do jogo” fossem escritas, de tal sorte que delas pudessem conhecer; 23 Em um primeiro momento, uma comissão de 3 patrícios foi enviada à Grécia para estudar as leis de Sólon, aproveitando-a, no que fosse cabível, para a realidade romana; Sua redação encontrou forte resistência por parte dos patrícios e do senado; Posteriormente, um decenvirato foi formado para apresentar a redação definitiva da lei. As leis gregas foram o ponto de partida para a nova redação; Texto de lei rígido, formal e incompleto; No início eram X tábuas (450 a. C.), gravadas sobre bronze ou carvalho, e expostas no comitium (lugar do fórum reservado à justiça). No ano seguinte, mais 2 tábuas são incorporadas ao conjunto, estas visavam a garantir os direitos dos plebeus; Apesar de a Lei das XII Tábuas não amparar direitos aos plebeus, os mesmos se uniram na defesa de seus interesses e, pari passu, alguns direitos lhes foram concedidos. 24 Conteúdo da Lei das XII Tábuas: Direito Público Privado Direito sagrado Direito processual Civil “O caráter tipicamente romano é visível em todas as disposições da Lei, exceto no que se refere ao direito sagrado, de inspiração grega. No mais, em tudo se reflete o traço primitivo, prático, concreto, imediatista e violento do povo romano.” (J. Cretella Júnior) 25 Sobre os delitos – Tábua VII Contra aquele que destruiu um membro de outrem e não transigiu com o mutilado, seja aplicada a pena de Talião. O ladrão confesso, sendo um homem livre, será vergastado por aquele a quem roubou; se for um escravo, será vergastado e precipitado da Rocha Tarpéia; mas, sendo impúbere, será apenas vergastado a critério do magistrado e condenado a reparar o dano (Tábua II) Falso testemunho Seja precipitado da Rocha Tarpéia aquele que prestou falso testemunho 26 O Direito brasileiro deriva, em grande parte, do Direito Romano. O dono de uma propriedade ameaçada de prejuízos pelas águas pluviais provenientes de trabalhos artificiais ou por aqueduto, tem direito de pedir garantias contra os mesmos prejuízos. Art. 564 do Código Civil Brasileiro (1916) – quando as águas, artificialmente levadas ao prédio superior, correrem dele para o inferior, poderá o dono deste reclamar que se desviem, ou se lhe indenize o prejuízo que sofrer. O proprietário tem direito de colher, da propriedade vizinha, os frutos das árvores pendentes para o seu lado Art. 557 do CC 1916 – Os frutos caídos de árvores de terreno vizinho pertencem ao dono do solo onde caíram, se esta for de propriedade particular. 27 Editos dos magistrados: Os pretores, encarregados de distribuir a justiça, publicavam a maneira pela qual iriam administrá-la; Eram programas de trabalho que os magistrados, após elei tos (cônsules, pretores, censores, governadores de província) pretendiam desenvolver durante a sua gestão; O termo “edito” provem de “ex dictum”, de “ex dicere”, proclamar, dizer solenemente; Os editos foram criando, ao lado do direito civil (ius civile), um novo direito, o direito pretoriano, ou direito honorário; 28 Senatos consultos: Deliberações do senado mediante propostas dos magistrados; Só passam a ser lei após o Principado (século I a. C.), ou seja, só após este período é que passam a ser considerados como fonte do direito; Não legislava, porém, influenciava o direito, na medida em que aconselhava os magistrados para que seguissem a determinadas prescrições na administração da justiça; 29 Plebiscitos: Eram decisões tomadas pelos plebeus, após deliberarem sobre uma proposta de um magistrado: Populiscita: deliberações tomadas por todo o povo romano (patrícios e plebeus); Plebiscita: deliberações da plebe; Lei Hortênsia – plebiscitos recebem a denominação de lei e passam a ser aplicáveis a todos os romanos; 30 Jurisprudência: Interpretação dos prudentes; Pessoas encarregadas de preencher as lacunas da lei; Não possuía força obrigatória; Vai aos poucos ganhando projeção, pois, representa uma orientação aos magistrados na edição dos editos e para os jurados nas soluções que devem das aos processos; Pode ser comparada ao que hoje entendemos por doutrina; Até o fim da República, a atividade dos jurisconsultos não era utilizada como fonte do direito; Somente a partir do século I a. C., com Augusto, é que seus pareceres passaram a ter força de lei, em razão de que estes tiveram a sua autoridade igualada a autoridade do príncipe. Atividade exercida gratuitamente, em nome da fama, da vaidade e destaque social;
Compartilhar