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IESB - PENAL I - 6ª aula - Conflito aparente normas penais

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CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE 
BRASÍLIA 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE 
BRASÍLIA 
CURSO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
 
 
PROF. PAULO EMÍLIO 
 
IESB - DIREITO PENAL I – AULA VI 
 
I – CONFLITO APARENTE DE 
NORMAS PENAIS 
Segundo Paulo Queiroz1, Dá-se o nome de 
“conflito aparente de normas” – ou 
concurso aparente de normas – sempre que 
sobre determinado comportamento humano 
incidir, simultaneamente, mais de uma 
norma penal incriminadora, embora apenas 
uma possa ser aplicada. 
Assim, por exemplo, sobre a conduta de 
eliminar a vida de alguém, incidem, em 
tese, dentre outras, as normas do art. 121 
(homicídio), 123 (infanticídio), 124 
(aborto), 129, § 3º (lesão corporal seguida 
de morte), 157, § 3º (latrocínio), 158, § 3º 
(extorsão com morte), 213 c/c o art 223, 
parágrafo único (estupro com resultado 
morte), 214 c/c 223, parágrafo único 
(atentado violento ao pudor com resultado 
morte), todos do Código Penal, visto que 
todos incriminam, de alguma forma o 
resultado morte. 
Ao contrário do que faz no concurso de 
crimes, a lei penal não regula as situações 
de concurso aparente de normas, devendo a 
 
1
 Direito Penal Parte Geral”, Ed. Saraiva, 2ª edição, 2005, 
pp. 62/65. 
 
solução ser encontrada através da interpretação, 
pressupondo, porém, a unidade de conduta ou 
de fato, pluralidade de normas coexistentes e 
relação de hierarquia ou de dependência destas 
normas. 
Em casos tais, que não raro são de difícil 
solução, o juiz terá de, considerando as 
singularidades de cada caso, bem como os 
elementos que integram cada tipo penal, 
declarar a norma a ser aplicada ao caso 
concreto. 
A se admitir a aplicação simultânea de normas 
penais sobre um só e mesmo fato, violar-se-ia o 
princípio do non bis in idem, pois de outra 
forma haveria apenação múltipla e um castigo 
repetido do mesmo fato. 
O referido princípio (non bis in idem), todavia, 
não impede que o agente de um crime seja 
punido, concomitantemente, em âmbitos 
jurídicos distintos (penal, civil e administrativo), 
em face de uma mesma conduta, pois diversos 
os fundamentos da apenação. Por exemplo, o 
servidor público corrupto pode ser condenado à 
pena de prisão (âmbito penal), à demissão 
(âmbito administrativo) e a reparar o dano 
(âmbito civil), sem que isso revele violência ao 
princípio do non bis in idem. 
 
I.A) PRIMEIRO CRITÉRIO – O DOLO DO 
AGENTE 
A primeira medida que deve dirigir o 
pensamento do intérprete do Direito, na 
identificação da norma a ser aplicada ao caso 
concreto, é a análise da intenção (dolo) do 
agente. 
Se por exemplo, quis o autor matar mediante 
tortura, responderá por homicídio qualificado 
pela tortura (art. 121, § 2º do CP); se, de outra 
forma, a intenção era puramente de praticar a 
tortura, advindo daí a morte do agente, incidirá 
nas penas do crime de tortura qualificado 
pelo resultado morte (Lei 9.455/97, artigo 
1º). Se quis, num primeiro momento, 
apenas torturar a vítima e, depois disso, 
decide matar a vítima já torturada, haverá 
concurso material de crimes – tortura e 
homicídio. 
Mutatis mutandis, se o autor pretende matar 
e, através de múltiplas lesões, vem a 
alcançar seu intento, comete o crime de 
homicídio. De outra forma, se a intenção se 
restringia à causação de lesões corporais e 
daí advém a morte da vítima, haverá de 
responder pelo crime de lesão corporal 
seguida de morte (art. 129, § 3º, CP). 
Ademais, em não agindo com dolo, ou o 
agente responderá por crime culposo 
(quando previsto), ou não responderá 
penalmente (CP, art 18) 
Também é importante verificar se as 
normas em questão protegem ou não o 
mesmo bem jurídico, pois em caso 
afirmativo haverá, em princípio, conflito 
aparente de normas; em caso negativo, 
ocorrerá, normalmente, concurso de crimes. 
 
I.B) – PRINCÍPIOS PARA SOLUÇÃO 
DO CONFLITO APARENTE DE 
NORMAS. 
Basicamente, quatro princípios são 
admitidos pela doutrina para a solução dos 
conflitos aparente de normas, quais sejam: 
a) princípio da especialidade; b) 
princípio da subsidiariedade; c) princípio 
da consunção e d) princípio da 
alternatividade2, 
 
2
 Com relação ao princípio da alternatividade, há 
autores que defendem que não tem existência 
autônoma, pois pode ser substituído pela aplicação 
do princípio da consunção 
A) PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE 
Diz-se que uma norma é especial em relação à 
outra, dita geral, quando, além dos requisitos 
que esta prevê, contém outros elementos 
(chamados especializantes), ausentes no tipo 
penal genérico, de tal modo que aquele que 
pratica a conduta prevista no tipo especial 
realiza, necessariamente, a conduta do tipo 
geral, embora a recíproca não seja verdadeira. 
Havendo, pois, tal relação entre duas normas, a 
norma especial preferirá à geral. É o que ocorre, 
por exemplo, entre os crimes de homicídio (art 
121), norma geral, e infanticídio, norma 
especial, em que este, além de conter o “matar 
alguém”, contido no art. 121, alude, ainda, às 
circunstâncias especiais (especializantes): “o 
próprio filho”; “sob a influência do estado 
puerperal”; e “durante o parto ou logo após”. 
Vejamos: 
 
Homicídio simples 
Art. 121. Matar alguém: 
Pena - reclusão, de seis a vinte 
anos. 
 
Infanticídio 
Art. 123 - Matar, sob a influência 
do estado puerperal, o próprio 
filho, durante o parto ou logo 
após: 
Pena - detenção, de dois a seis 
anos. 
 
Há relação de especialidade entre os dois tipos 
penais indicados no exemplo, sendo certo que o 
tipo penal do art. 121 é geral em relação ao tipo 
do art. 123, na medida em que o último reúne os 
mesmo elementos daquele (matar alguém) 
acrescido de elementos especializantes. 
Assim, no exemplo acima, a conduta de mãe 
que mata seu filho logo após o parto sob a 
influência do estado puerperal conclamaria, 
inicialmente, a incidência dos dois artigos 
(tipos penais), em aparente concurso. 
Todavia, é certo que havendo relação de 
especialidade entre as normas penais em 
conflito, prevalecerá a incidência da norma 
especial, tão somente, afastando-se a 
incidência da norma geral. 
Da mesma forma, é certo dizer que há 
relação de especialidade entre tipos penais 
qualificados e privilegiados (normas 
especiais) em relação ao tipo básico ou 
fundamental de que derivam (ex.: furto 
simples e o qualificado por emprego de 
chave falsa): 
Furto 
Art. 155 - Subtrair, para si ou 
para outrem, coisa alheia móvel: 
Pena - reclusão, de um a quatro 
anos, e multa. 
 
Furto qualificado 
§ 4º - A pena é de reclusão de 
dois a oito anos, e multa, se o 
crime é cometido: 
III - com emprego de chave 
falsa; 
 
B) PRINCÍPIO DA 
SUBSIDIARIEDADE 
Existe relação de subsidiariedade entre 
tipos penais quando a disposição de lei, 
visando a proteger um mesmo bem jurídico 
(vida, honra, liberdade, etc), descreve graus 
distintos de violação ao mesmo bem 
jurídico, sendo um tipo penal subsidiário 
em relação ao outro, dito principal. Há, 
nesse caso, hierarquização valorativa de um 
mesmo bem jurídico ou, no dizer de Honig, 
há várias proposições penais protegendo o 
mesmo bem jurídico, em diversas fases de 
ataque, razão pela qual a norma subsidiária 
somente será aplicada quando não couber a 
aplicação da norma principal. 
Assim, imagine-se determinado agente que é 
acusado, in concreto, pela prática do crime de 
roubo (art. 157, CP), mas, no curso do processo 
criminal, não se consiga provar a ocorrência de 
grave ameaça ou violência ou meio redutor da 
resistência da vítima. 
Remanescente a conduta de subtração de coisa 
alheia móvel, aplicar-se-lhe-á a pena prevista 
para o crime de furto (art. 155, CP), que no 
caso, se mostra como tipo subsidiário daquele 
tipo principal, o roubo, servindo-se, no dizer de 
Nélson Hungria, como soldado de reserva para 
a punição da conduta residual. 
 
Roubo 
Art. 157 - Subtrair coisa móvel 
alheia, para si ou para outrem, 
mediante grave ameaça ou violência 
à pessoa, ou depois de havê-la, por 
qualquer meio, reduzidoà 
impossibilidade de resistência: 
Pena - reclusão, de quatro a dez 
anos, e multa. 
 
Furto 
Art. 155 - Subtrair, para si ou 
para outrem, coisa alheia móvel: 
Pena - reclusão, de um a quatro 
anos, e multa. 
 
Assim, o fundamento da subsidiariedade reside 
no fato de distintos tipos penais protegerem o 
mesmo bem jurídico em diversos estágios de 
ataque. Na preciosa lição de Hungria3 “a 
diferença que existe entre especialidade e 
 
3
 HUNGRIA. Nélson. ‘Comentários ao Código Penal’, 
Ed. Forense, v. 1, p 147. 
subsidiariedade é que nesta, ao contrário 
do que ocorre naquela, os fatos previstos 
em uma e outra norma não estão em 
relação de gênero e espécie, e se a pena do 
tipo principal (sempre mais grave do que a 
do crime subsidiário) é excluída por 
qualquer causa, a pena do tipo subsidiário 
pode apresentar-se como ‘soldado de 
reserva’, e aplicar-se pelo residuum”. 
Diz-se, ainda, que a relação de 
subsidiariedade somente pode ser verificada 
no caso concreto, onde a falta de algum dos 
elementos típicos do tipo principal ensejará 
o recurso ao tipo subsidiário. Cita-se, 
comumente, a relação de subsidiariedade 
ente crimes de perigo e os de dano, entre 
crimes culposos e os dolosos, entre os 
consumados e os tentados, etc. 
Por fim, diga-se que a relação de 
subsidiariedade pode ser tácita ou expressa. 
Será expressa quando a lei explicitamente 
condicionar a aplicabilidade da norma 
subsidiária à inaplicabilidade da norma 
principal (ex. art. 132 do CP comina pena e 
diz “se o fato não constitui crime mais 
grave”). 
Há forte crítica de cunho doutrinário acerca 
da adoção do princípio da subsidiariedade, 
na medida em que seus efeitos se 
assemelhariam, em tudo, aos do princípio 
da especialidade. 
Ney Moura Teles4 bem define a questão da 
forma seguinte: 
“Damásio E. de Jesus, após dizer que o tipo 
do constrangimento ilegal é subsidiário do 
estupro, discorda da opinião de 
ANTOLISEI de que o princípio da 
subsidiariedade, por conduzir aos mesmos 
 
4 In ‘Direito Penal – Parte Geral’, Ed. Atlas Jurídica, v. 1. 
p 228 
resultados da regra da especialidade, deve 
considerar-se supérfluo, afirmando que “na 
especialidade os fatos descritos pelas normas 
genéricas e especial estão entre si numa relação 
de gênero e espécie, o que não ocorre numa 
relação de subsidiariedade”. 
Parece, a propósito, primeiramente, que entre o 
tipo de constrangimento ilegal e o de estupro a 
relação é de gênero para espécie: 
a) art. 146: “Constranger alguém”, art. 213: 
“constranger mulher”. O tipo de estupro na 
primeira ação contém um primeiro elemento 
especializante: o sujeito passivo deve ser 
mulher. 
b) art 146: “mediante violência ou grave 
ameaça” – art. 213: “mediante violência ou 
grave ameaça”. 
c) art 146: “a não fazer o que a lei permite ou a 
fazer o que ela não manda”; art 213: “à 
conjunção carnal”, e eis aqui o segundo 
elemento especializante. No constrangimento 
ilegal, a norma proíbe seja alguém 
constrangido a qualquer comportamento não 
proibido ou que a lei não obrigue, e no estupro, 
proíbe o constrangimento a um desses 
comportamentos a que a pessoa não está 
obrigada: a conjunção carnal” 
Parece evidente, pois, que o estupro é um tipo 
especial em relação ao constrangimento ilegal, 
(...) O princípio da subsidiariedade, por isso, é 
mesmo supérfluo, bastando para a solução dos 
conflitos, o princípio da especialidade e o da 
absorção”. 
 
C) PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO OU DA 
ABSORÇÃO. 
Há relação de consunção ou absorção entre tipos 
penais quando o conteúdo de um já se encontra 
inserido noutro, de modo que o crime absorvido 
constitui, em verdade, parte da realização do 
tipo total. Nesses casos, a norma definidora 
de um crime constitui meio necessário, fase 
normal de preparação ou execução de outro 
crime, ou mero exaurimento da conduta. 
Neste caso, diz Damásio, os fatos não se 
apresentam relação de gênero e espécie, 
mas de minus e plus, de conteúdo e de 
continente, de parte e todo, de meio e fim, 
de fração e inteiro. 
Hipóteses comuns de aplicação do princípio 
da consunção são os crimes progressivos, 
que são aqueles em que o agente, 
objetivando desde o início produzir 
resultado mais grave, por meio de atos 
sucessivos, crescentes violações ao bem 
jurídico, de sorte que o último ato, causador 
do resultado planejado, absorverá todos os 
demais atos anteriores destinados à 
produção do resultado, como é o caso de o 
agente desejoso de cometer homicídio 
contra sua vítima e desfere-lhes diversos 
golpes de faca, causadores de lesões 
corporais (art 129, CP). 
Desferindo-lhe o último golpe, produz a 
morte (art. 121, CP). Nesse caso, por força 
do princípio da consunção, somente 
responderá o agente pelo homicídio, crime-
fim, mas não por qualquer das lesões 
corporais, crimes-meio. 
Também na progressão criminosa, há 
emprego do princípio da consunção. 
Progressão criminosa ocorre quando o 
agente deseja produzir um resultado e após 
atingi-lo, reinicia sua agressão, produzindo 
uma lesão mais grave. A diferença com o 
crime progressivo reside somente no fato de 
que neste há uma única vontade do agente, 
que era a de atingir o resultado mais grave, 
conquanto naquela há pluralidade de 
vontades do agente, que a modifica no 
intercurso da condutas. Tomando-se o exemplo 
das lesões, imaginemos que o agente quer 
apenas lesionar a sua vítima, mas após causar 
algumas lesões, decide-se a eliminar sua vida. 
Também nesse caso, a exemplo dos crimes 
progressivos, o agente somente responderá pelo 
resultado mais grave produzido – no caso, o 
homicídio restando absorvidas as condutas 
anteriores. 
Exemplos práticos da aplicação do princípio da 
consunção podem ser observado em um furto 
qualificado pela destruição de obstáculo (art 
155, § 4º, CP). Seria o caso de agente que, a fim 
de furtar aparelho de CD de interior de veículo 
automotor, destrói o vidro lateral do veículo. 
Assim, verificamos que o crime de dano (art. 
163, CP) – destruição do vidro do automóvel – 
foi cometido enquanto meio de prática do furto 
qualificado mediante destruição de obstáculo 
(art 155, § 4º, I). 
Somente se exige que, em casos tais, exista uma 
linha de desdobramento lógico a unir as 
condutas típicas em uma mesma linha. 
Da mesma forma, podemos imaginar o crime de 
violação de homicídio (art 150, CP) como meio 
de prática de furto no interior de uma residência 
(art. 155, CP); da mesma forma, o crime de 
lesão corporal (art. 129) e o homicídio (art 121). 
Nesses casos, se o crime de menor gravidade for 
“anterior” ao crime mais grave, é denominado 
“ante factum” não punível, como é o caso da 
violação do domicílio em relação ao furto no 
interior da residência. Se todavia, o crime 
menos grave se encontre após o crime mais 
grave, no desdobramento da conduta, também 
resta absorvido e denomina-se ‘post factum’ não 
punível. 
Também nos crimes complexos, há incidência 
do princípio da consunção. Crimes complexos 
são aqueles que resultam da fusão de dois ou 
mais crimes autônomos, que passam a 
funcionar como circunstâncias ou 
elementos do crime mais grave. É o caso do 
latrocínio, art. 157, § 3º, CP que reúne as 
figuras típicas do roubo e do homicídio. 
Nesses casos, em que há consunção, é de se 
aplicar apenas o crime mais grave que, 
como se diz, absorve o crime menos grave. 
Para se aferir a gravidade do crime, deve-se 
tomar por critério o quantum da pena 
prevista em abstrato. 
O Superior Tribunal de Justiça tem dado 
fiel aplicação ao princípio da consunção 
entre o crime de homicídio e o porte ilegal 
de arma de fogo quando exista relação de 
meio e fim entre ambos, como se colhe do 
precedente tirado no REsp 570887 / RS: 
“O crime de homicídio absorve, a 
princípio, o de porte ilegal de arma de fogo 
quando as duas condutas delituosas 
guardam, entre si, uma relação de meio e 
fim estreitamente vinculada.” 
Há, todavia, interessante questão debatida 
em doutrina e jurisprudência,relativa à 
Súmula 17 do Superior Tribunal de Justiça, 
segundo a qual o crime de falso será 
absorvido pelo crime de estelionato, quando 
não exista maior potencialidade ofensiva do 
falso (Súmula 17/STJ - “Quando o falso se 
exaure no estelionato, sem mais 
potencialidade lesiva, é por este 
absorvido”). 
Assim, imagine-se o exemplo de crime de 
estelionato (art. 171, CP), praticado por 
uma agente que se vale de documento 
público falsificado (art. 297, CP) para 
induzir o erro da vítima e dali obter 
vantagem indevida. Pela redação da 
Súmula, é de se ver que o crime de 
falsidade – mais grave – é absorvido pelo 
crime de estelionato – menos grave, o que 
estaria a constituir exceção ao princípio da 
consunção. 
A doutrina muito tem debatido a adoção da 
referida súmula, à vista de que constitui 
hipótese única em que crime menos grave 
absorve crime mais grave. 
A melhor interpretação da Súmula, todavia, 
deve ser feita no sentido de somente se aplica-la 
quando o falso não apresente maior potencial 
ofensivo, ou seja: a) No caso de falsificação de 
carteira de identidade para a prática de crime de 
estelionato, o agente responderá pelos dois 
crimes (art 297, CP e art 171, CP); 
b) se todavia, a falsidade recaísse sobre uma 
folha de cheques e o repassasse a um 
comerciante, só responderia pelo crime de 
estelionato, à vista de que o falso não poderia 
ser utilizado para prática de outros crimes, 
ausente, portanto, o potencial lesivo 
remanescente. 
 
D) PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE. 
Pelo princípio da alternatividade, nos tipos 
mistos, ou de múltipla ação – que são aqueles 
em que o tipo penal descreve diversas ação ou 
omissões nucleares – o agente que, agindo em 
unidade de conduta praticar mais de uma ação 
representada pelo verbo nuclear – responderá 
somente uma única vez pelo crime. 
Assim, por exemplo, o tipo penal do art. 33 da 
Lei 11.343/2006 (tráfico de drogas), em que há 
18 verbos nucleares, o agente que importar 5 
quilos de cocaína, transportá-los para Brasília 
e aqui vendê-los, não viola três vezes o tipo 
penal de tráfico, mas somente uma vez. 
De forma diversa ocorreria se não houvesse 
unidade de conduta, por exemplo, se importasse 
5 quilos de cocaína, transportasse 10 quilos de 
maconha e vendesse outros 3 frascos de lança-
perfume – hipótese em que haveria a prática 
de 3 crimes distintos de tráfico. 
A crítica que se faz ao princípio da 
alternatividade é o de que o princípio da 
consunção – se aceito que se possa aplicá-lo 
dentro do mesmo tipo penal – atenderia 
perfeitamente à solução dada, o que 
dispensa a existência de princípio próprio 
para isso. 
I.E) PRIMAZIA DO PRINCÍPIO DA 
ESPECIALIDADE. 
Jakobs entende que todos os conflitos de 
normas podem ser resolvidos pelo princípio 
da especialidade unicamente pelo princípio 
da especialidade, que admitiria quatro 
subdivisões: a) especialidade em virtude da 
intensidade do fato típico, que abrange as 
formas qualificadas, privilegiadas e o crime 
complexo; b) especialidade em virtude da 
concreção da consumação ou intensidade 
do resultado (hipóteses de subsidiariedade); 
c) especialidade relativa ao fato 
concomitante (hipóteses de consunção) e d) 
especialidade em virtude de intervenção 
prévia. 
É que, segundo Jakobs, o método para 
evitar a dupla punição consiste em aplicar 
somente aquela figura do delito que regula 
o caso concreto no contexto mais completo. 
__________________________________ 
CONTAGEM DO PRAZO EM 
MATÉRIA PENAL 
Reza o art. 10 do Código penal que “O dia 
do começo inclui-se no cômputo do prazo. 
Contam-se os dias, os meses e os anos pelo 
calendário comum.” 
Pela regra acima apontada, ocorre, em 
matéria penal (prazos penais), a inclusão do 
dia do início, independente do horário em 
que o prazo começou a correr. Assim, se a 
pena começa a ser cumprida às 23h50 de um 
dia, conta-se o dia por inteiro. Do mesmo modo, 
não interessa se o prazo começa a correr em 
domingo ou feriado, computando-se um ou 
outro como o dia do início. Os prazos de 
prescrição e decadência são contados conforme 
a regra do art. 10 do CP 
Os prazos processuais, de modo diverso, são 
contados com exclusão do dia de seu início, na 
forma do art. 798, § 1º do CPP. De acordo com 
a Súmula 310 do STF, se o dia do começo for 
domingo ou feriado, o início do prazo 
processual será o dia útil imediatamente 
subseqüente. 
Contagem de mês e ano se dá na forma do 
calendário. Ou seja, prazo de 5 meses a partir de 
fevereiro, finda-se em julho, independente do 
número de dias que tenha cada mês (28, 30 ou 
31) 
Exemplo: 
O agente inicia o cumprimento da pena às 
22h00 do dia 15 de setembro de 2005 e a pena é 
de 1 ano 4 meses e 15 dias, qual será o dia do 
término? 
Dividimos em três colunas: 
Dia Mês Ano 
15 09 2005 
15 04 1 Pena 
_________________ 
30 (13- 12) = 1+1 + 2005 
30 01 2007 
Como o dia do início é computado, devemos 
subtrair um a unidade do número de dias, 
alcançando a data de: 
30 01 2007 
- 1 ___ 
29 01 2007 
29 de janeiro de 2007. 
 
 
Distinção entre prazo penal e prazo 
processual 
A explicação de Capez é a de que todo 
prazo cujo decurso leve à extinção do 
direito de punir será considerado prazo 
penal, mesmo que esteja previsto em lei 
processual (Código de Processo Penal) Ex. 
decadência de 6 meses para o oferecimento 
de queixa, em ações privadas, mesmo 
estando previsto no CPP deve ser contado 
na forma do art. 10 do Código Penal. Os 
prazos processuais, por sua vez, são os que 
correm no procedimento penal, e que o seu 
decurso não gera, para o Estado, a extinção 
do poder punitivo.

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