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IESB - PENAL I - 11ª aula ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO

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CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE 
BRASÍLIA 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE 
BRASÍLIA 
CURSO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
 
 
PROF. PAULO EMÍLIO 
 
IESB - DIREITO PENAL I – 
AULA XI 
 
 
IV.) ERRO DE TIPO E ERRO DE 
PROIBIÇÃO. 
IV.A) ERRO DE TIPO 
“Art. 20 - O erro sobre elemento 
constitutivo do tipo legal de crime exclui o 
dolo, mas permite a punição por crime 
culposo, se previsto em lei” 
A teoria do erro de tipo se relaciona de 
modo estreito com a teoria do dolo, porque 
o erro de tipo é a ausência do dolo segundo 
o correspondente tipo. 
Com efeito, se o dolo pressupõe a 
consciência e a vontade de realizar os 
elementos do tipo, segue-se que não será 
dolosa a ação sempre que o agente errar 
sobre os elementos que o constituem, pois, 
em tal caso, faltará a exata representação da 
realidade. Dele cuida o art. 20, caput do 
Código Penal acima transcrito. 
Conseqüência do erro de tipo, portanto, é 
a exclusão do dolo, respondendo o agente 
somente a título de culpa, ou seja, pela 
modalidade culposa do crime, se previsto 
na lei penal. Assim, por exemplo, o caçador que 
se encontra em local ermo, à caça de onças. 
Durante a noite, ouve um barulho e sai de sua 
barraca e vislumbra um vulto rasteiro no meio 
da penumbra. Desfere um tiro e mata o animal, 
mas quando verifica a caça, percebe se tratar de 
uma pessoa. Nesse exemplo, podemos ver que o 
agente desconhecia um dos elementos do crime 
de homicídio, na medida em que pensava ser o 
alvo um animal. Desconhecia no caso a 
elementar ‘alguém’, que se refere a ser humano. 
Da mesma forma, aquele que subtrai coisa 
alheia móvel, pensando se tratar de coisa 
própria. Exemplo, o advogado está em cartório 
de vara judicial, e ao sair leva consigo a maleta 
do colega, que muito se parecia com a sua 
própria. Pode-se dizer que sua conduta perfez o 
tipo penal do furto (Art. 155 - Subtrair, para si 
ou para outrem, coisa alheia móvel), mas 
desconhecia a circunstância elementar: coisa 
alheia, pois imaginava ser a sua própria maleta. 
Espécies de erro de tipo. 
O erro de tipo pode ser: 1) inevitável 
(escusável) ou 2) evitável (inescusável). No erro 
de tipo inevitável (escusável) o sujeito não tem 
noção alguma sobre existência real da elementar 
do tipo, como nos exemplos acima citados. Em 
tais casos, não haverá o crime. Nos exemplos 
citados, não responderão os sujeitos pelo crime 
de homicídio (1º exemplo), por desconhecer de 
forma absoluta que se tratava de pessoa 
(elementar: “alguém”), ou de furto (2º 
exemplo), pois desconhecia que se apossava de 
coisa alheia. 
O erro de tipo evitável (inescusável) ocorre 
quando o desconhecimento da elementar ocorre 
por falta de prudência do agente, por sua 
leviandade, por culpa. O erro, nessas 
hipóteses, poderia ser afastado se o agente 
adotasse o mínimo de cautela. Nesses 
casos, o agente deverá responder pela 
modalidade culposa, se prevista. Se tal 
modalidade não for prevista, não 
responderá por crime algum. [Atenção: 
Pelo disposto no artigo 18, § único do CP, 
somente há o crime culposo, se esta 
modalidade for expressamente prevista 
no tipo penal. Assim, vemos que há 
modalidade culposa prevista nos crimes 
de homicídio e lesões corporais, e não as 
há nos crimes de aborto, furto, dano, 
etc]. 
No caso do caçador, imagine-se que a 
situação tivesse ocorrido durante o dia e em 
local habitado, o erro do caçador seria 
evitável (inescusável), na medida que seria 
exigível sua prudência em certificar-se se o 
alvo de seu disparo era, de fato, uma fera. 
Sendo, no caso, o erro evitável, resta 
excluído o dolo, mas responderá pelo 
homicídio culposo (expressamente previsto 
no art. 121, § 3º do CP). 
Temos, ainda, que o erro de tipo aqui 
estudado deve residir sobre elementos 
essenciais do tipo penal. São erros de tipo 
acidentais os que recaírem “sobre o objeto 
material (error in persona e error in 
objecto), sobre o seu modo de execução 
(aberratio ictus e aberratio criminis) ou 
sobre o nexo causal (aberratio causae ou 
dolo geral)”.1. Tais modalidades de erro serão 
estudadas adiante. 
Assim, se o agente queria furtar uma 
determinada jóia no interior de uma loja, mas 
subtrai uma bijuteria em seu lugar, acreditando 
ser a jóia que planejava subtrair, não há se falar 
em erro de tipo, pois os elementos típicos 
essenciais do crime de furto estão presentes na 
conduta do agente. 
Por fim, cabe dizer que o erro de tipo pode, 
ainda, levar à desclassificação do crime para 
outro tipo penal, quando o desconhecimento se 
referir a uma elementar de um tipo, mas exista 
outro tipo subsidiário: Assim, no caso de o 
agente desacata funcionário público 
desconhecendo tal qualidade (que é elementar 
do crime previsto no art. 331 do CP), 
responderá por injúria (art. 140, CP) 
[Conclusão: Se o erro de tipo é inevitável (ou 
escusável), haverá atipicidade (absoluta ou 
relativa). Se o erro de tipo é evitável (ou 
inescusável) e há modalidade culposa do 
crime prevista na lei penal, responderá pela 
modalidade culposa do crime.] 
 
Erro de tipo sobre existência de causa 
excludente de ilicitude (Descriminantes 
putativas). 
“Art 20. (...) 
§ 1º - É isento de pena quem, por erro 
plenamente justificado pelas circunstâncias, 
supõe situação de fato que, se existisse, tornaria 
a ação legítima. Não há isenção de pena quando 
 
1
 Luiz Flávio Gomes, “Erro de tipo”, p. 99 
o erro deriva de culpa e o fato é punível 
como crime culposo”. 
Pode ocorrer que o erro de tipo recaia sobre 
a existência de determinada situação fática 
que, se existisse, justificaria a ação típica. 
No caso, tal circunstância não existe de 
fato, mas a errônea percepção da realidade 
pelo agente, fê-lo supor legitimamente sua 
ocorrência. 
As circunstâncias que tornam a conduta 
lícita, apesar de típica, são: 1) legítima 
defesa, 2) estado de necessidade, 3) 
exercício regular de direito e 4) estrito 
cumprimento de dever legal (previstos nos 
artigos 23 a 25 do CP). 
Os tipos permissivos (que veiculam as 
causas excludentes da ilicitude) também são 
compostos por elementos que, na verdade, 
são seus requisitos. Assim, por exemplo, a 
legítima defesa possui os seguintes 
elementos: agressão injusta, atual ou 
iminente, a direito próprio ou alheio, 
moderação na repulsa e emprego dos meios 
necessários. Ocorrerá um erro de tipo 
permissivo quando o agente imaginar, 
erroneamente, uma situação de fato 
totalmente diversa da realidade, em que 
estão presentes os requisitos de uma causa 
de justificação. 
Assim, por exemplo, o agente que age 
supondo estar em legítima defesa, como no 
seguinte caso: ‘A’ caminha por uma escura 
viela quando se encontra com ‘B’, seu 
inimigo capital, que lhe havia feito ameaças 
de morte. Ao aproximar-se de B, A vê que 
seu inimigo lança a mão ao bolso do 
casaco. Imaginando que B estaria buscando sua 
arma, A é mais rápido e desfere 1 tiro certeiro. 
Após a morte de B, descobre-se que, de fato, ele 
alcançava apenas um lenço e não uma arma. 
A solução adotada pelo Código Penal é 
equivalente aos demais erros de tipo: No 
exemplo, A pensou que B sacaria uma arma, 
situação de fato que, se presente, tornaria 
legítima sua conduta (legítima defesa). Pela 
redação do artigo 20, § 1º do CP, A será 
absolvido, se o erro é inevitável, ou, se evitável, 
responderá a título de culpa, desde que exista 
modalidade culposa prevista na lei penal (erro 
de tipo). 
Por fim, cabe dizer que a doutrina denomina de 
culpa imprópria, a que resulta do 
reconhecimento de erro de tipo vencível 
incidente sobre elementos das causas 
justificadoras (descriminantes putativas). A 
respeito da culpa imprópria, Damásio2 diz que 
“a denominação é incorreta, uma vez que 
estamos diante de um crime doloso, a que o 
legislador aplica a pena do crime culposo”. 
 
Erro provocado por terceiro. 
“Art. 20. (...) 
§ 2º - Responde pelo crime o terceiro que 
determina o erro”. 
Com a adoção do dispositivo legal acima 
apontado, o legislador quis responsabilizar o 
terceiro que crioua percepção errônea no 
agente. Em casos tais, o 
provocador responderá pelo crime. 
Exemplo: No crime do artigo 253 do Código 
 
2
 Damásio E. de Jesus “Direito Penal”, op. cit., p. 257 
Penal, A contrata B (motorista profissional) 
para que transporte determinado gás tóxico 
de São Paulo a Brasília. Na oportunidade, A 
fornece a B uma falsa licença para 
transporte do produto tóxico, vindo B a ser 
preso pela prática do crime acima referido. 
Nessa situação, parece claro que B 
desconhecia a situação elementar (erro de 
tipo): “sem a licença da autoridade 
competente”. Por ter agido por provocação 
de A que o induziu ao erro, B será 
absolvido por atipicidade da conduta e A 
responderá pelo crime. 
Outro exemplo, é o senhor de idade que, a 
pedido de seu neto, transporta um pacote de 
Brasília para Goiânia, acreditando ser um 
presente, quando na verdade se trata de 
quantidade de droga. O avô não responderá 
pelo crime de tráfico (art. 33 Lei 
11.343/06), mas o neto tão somente. 
Diga-se que a provocação do terceiro, em 
outros casos, pode ser culposa ou dolosa e o 
provocador responderá, conforme o caso, 
pela modalidade culposa ou dolosa. 
 
IV.B) ERRO DE PROIBIÇÃO. 
“Art. 21 - O desconhecimento da lei é 
inescusável. O erro sobre a ilicitude do 
fato, se inevitável, isenta de pena; se 
evitável, poderá diminuí-la de um sexto a 
um terço. Parágrafo único - Considera-se 
evitável o erro se o agente atua ou se omite 
sem a consciência da ilicitude do fato, 
quando lhe era possível, nas 
circunstâncias, ter ou atingir essa 
consciência”. 
Há erro de proibição ou “erro sobre a ilicitude 
do fato”, na dicção do Código Penal (art. 21), 
quando o agente supõe, erroneamente, praticar 
um ato permitido, mas, na verdade, realiza um 
comportamento proibido pelo direito. No erro 
de proibição, o agente engana-se quanto ao 
caráter ilícito de sua ação supondo-a lícita. Seria 
o caso do exemplo já referido do holandês que 
desembarcasse em férias na Bahia com pequena 
quantidade de maconha consigo (ação 
considerada lícita em seu País), imaginando que 
também aqui seria lícita. 
Diferentemente do erro de tipo – em que o 
agente não sabe o que faz – no erro de proibição 
o agente sabe exatamente o que faz, mas supõe 
atuar dentre da legalidade. 
O exemplo usado por Damásio3 para diferenciá-
los é o seguinte: “Se o sujeito tem cocaína 
guardada em casa supondo ser outra 
substância, inócua, trata-se de erro de tipo; mas 
se a tem supondo que o depósito não é proibido, 
o tema é de erro de proibição”. 
Por fim, cabe dizer que a colocação do estudo 
do erro de proibição neste ponto se dá somente 
por questão de ordem didática, uma vez que o 
erro de proibição afetará a existência de 
culpabilidade (por ausência de potencial 
consciência de ilicitude) e não exatamente de 
tipicidade. Todavia, pela semelhança entre os 
institutos, convém que o analisemos neste 
momento. 
Espécies de erro de proibição. 
Também no que tange ao erro de proibição, há 
duas espécies: erro de proibição inevitável 
 
3
 Damásio E. de Jesus “Direito Penal”, op. cit., p. 303 
(justificável) e o erro de proibição evitável 
(injustificável). 
O erro de proibição inevitável, na redação 
do art. 21 do Código Penal, isenta o agente 
de pena, o que significa dizer que exclui sua 
culpabilidade. O agente será absolvido. 
O erro de proibição evitável, por sua vez, é 
aquele em que o agente atua ou se omite 
sem o conhecimento da ilicitude do fato, 
quando lhe era possível, nas circunstâncias, 
ter ou atingir tal consciência. Nesses casos, 
a pena será diminuída de um sexto a um 
terço. 
Cumpre verificar que o erro de proibição é 
evitável se o agente tinha, pelas 
circunstâncias, o potencial de atingir a 
consciência da ilicitude, ainda que não a 
tivesse. 
A principal distinção existente entre erro de 
tipo e erro de proibição reside em que 
aquele exclui o dolo, afastando a própria 
tipicidade da conduta. Já este isenta de 
pena, excluindo a culpabilidade. 
 
 
Erro de 
Tipo 
(Artigo 20, 
CP) 
Erro de 
Proibição 
(Artigo 21, 
CP) 
INEVITÁVEL 
(Justificável) 
Exclui a 
tipicidade 
(Dolo/Culpa) 
Exclui a 
Culpabilidade 
(Potencial 
consciência da 
Ilicitude) 
EVITÁVEL 
(Injustificável) 
Exclui o 
dolo, mas 
permite 
punição por 
culpa, se 
prevista. 
Diminui a 
pena de 1/6 a 
1/3 
 
 
IV.C) ERROS DE TIPO ACIDENTAIS. 
 
Como vimos, o erro de tipo pode se referir às 
circunstâncias elementares ou essenciais do tipo 
penal, o que levará à exclusão do dolo, nos 
termos referidos no incido IV.A acima. 
Em princípio, os erros de tipo acidentais não 
implicam em exclusão do dolo. Há, contudo, 
erros de tipo incidentes sobre circunstâncias 
acidentais do tipo penal que, conforme o caso, 
merecem solução diversa. 
Erro sobre a pessoa 
Há erro sobre a pessoa quando o agente, em vez 
de cometer o crime contra a pessoa que 
desejava, atinge, por erro, pessoa diversa. Em 
tal hipótese, responde o agente como se tivesse 
praticado o crime contra a vítima virtual (a que 
desejava atingir) e não a real. 
É um erro na representação mental do agente, 
que olha uma pessoa e a confunde com outra. 
Nesses casos, aplica-se o artigo 20, § 3º do CP, 
assim redigido: 
“Art 20. (...) 
§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o 
crime é praticado não isenta de pena. Não se 
consideram, neste caso, as condições ou 
qualidades da vítima, senão as da pessoa contra 
quem o agente queria praticar o crime”. 
Assim, por exemplo, se A intenta matar seu pai, 
mas desfere tiros contra B, pessoa diversa, 
considerar-se-ão as condições pessoais da 
pessoa visada (pai) e não as da vítima. Nesse 
caso, o agente responderá pela agravante 
genérica prevista no art. 61, II, e, do CP. 
Se, ao contrário, planejava matar B, mas, 
por erro, vem a atingir seu pai, não incidirá 
a referida agravante. 
 
Erro na execução (aberratio ictus) 
“Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no 
uso dos meios de execução, o agente, ao 
invés de atingir a pessoa que pretendia 
ofender, atinge pessoa diversa, responde 
como se tivesse praticado o crime contra 
aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do 
art. 20 deste Código. No caso de ser 
também atingida a pessoa que o agente 
pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 
70 deste Código” 
Essa espécie de erro de tipo acidental é 
também conhecida como desvio no golpe, 
uma vez que ocorre um verdadeiro erro na 
execução do crime. O agente não se 
confunde quanto à pessoa que pretende 
atingir, mas realiza o crime de forma 
desastrada, errando o alvo e atingindo 
vítima diversa. 
Para a aberratio ictus, há algumas formas 
com soluções distintas: 
- Com unidade simples ou resultado único: 
em face do erro na execução do crime, o 
agente, ao invés de atingir a pessoa 
pretendida (virtual), acaba por acertar um 
terceiro inocente (vítima efetiva). 
Denomina-se resultado único, porque 
somente é atingida a pessoa diversa daquela 
visada, não sofrendo a vítima virtual 
qualquer lesão. 
Conseqüência: em princípio, seria certo 
dizer que o agente teria praticado uma 
tentativa de homicídio contra a vítima virtual e 
um homicídio culposo contra a vítima real. 
Todavia, pela redação do artigo 73, caput, 1ª 
parte, do CP, é de se considerar o crime como se 
tivesse sido praticado contra a vítima virtual 
(considerando-se, pois, suas condições 
pessoais). 
- Com unidade complexa, ou resultado duplo: 
nessa hipótese o agente, além de atingir a vítima 
visada, acerta terceira pessoa. A expressão 
“resultado duplo” indica que dois resultados 
foram produzidos – o desejado e um outro não 
querido. Pode ser, contudo, que este último 
atinja mais de uma pessoa. É o caso do sujeito 
que pretendendo matar seu devedor, se utiliza 
de uma metralhadora e, além da vítima visada, 
mata outras 15 pessoas. O resultado foi duplo: 
um desejado e outro não querido. 
Conseqüência: aplica-se a regra do concurso 
formal, prevista naprimeira parte do art. 70 do 
CP, que assim dispõe: 
“Quando o agente, mediante uma só ação ou 
omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos 
ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas 
cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas 
aumentada, em qualquer caso, de um sexto até 
metade. As penas aplicam-se, entretanto, 
cumulativamente, se a ação ou omissão é 
dolosa e os crimes concorrentes resultam de 
desígnios autônomos, consoante o disposto no 
artigo anterior”. 
No caso, portanto, aplica-se a pena do crime 
mais grave, aumentada de um sexto até a 
metade. 
Registre-se que, se quanto às demais vítimas 
houver dolo eventual, o agente responderá na 
forma do concurso formal impróprio, 
previsto na parte final do art. 70, pois 
haveria desígnios autônomos quanto aos 
resultados ensejando a aplicação cumulativa 
das penas. 
 
Diferença entre erro sobre a pessoa e 
aberratio ictus. 
No erro sobre a pessoa, o agente faz uma 
confusão mental: pensa que a vítima real é a 
vítima virtual. Na aberratio ictus, o sujeito 
não faz qualquer confusão, dirigindo sua 
conduta contra a pessoa que quer atingir. 
 
Resultado diverso do pretendido 
(aberratio delicti) 
“Art. 74 - Fora dos casos do artigo 
anterior, quando, por acidente ou erro na 
execução do crime, sobrevém resultado 
diverso do pretendido, o agente responde 
por culpa, se o fato é previsto como crime 
culposo; se ocorre também o resultado 
pretendido, aplica-se a regra do art. 70 
deste Código”. 
Nesse caso, o agente quer atingir um bem 
jurídico, mas por erro na execução, acerta 
bem diverso. Não se trata aqui de atingir 
uma pessoa em lugar de outra, mas de 
cometer crime diverso do pretendido. 
Exemplo: o agente planeja acertar uma 
pedra em um carro (crime de dano, art. 
163); mas acaba acertando uma pessoa 
(crime de lesões corporais). 
 
Espécies 
- Com unidade simples ou resultado único: só 
atinge bem jurídico diverso do pretendido. 
Conseqüência: responde somente pelo resultado 
produzido, e mesmo assim, se previsto como 
crime culposo. No exemplo dado, responderá 
por lesões corporais culposas. 
- Com unidade complexa ou resultado duplo: 
são atingidos tanto o bem visado quanto um 
diverso. No exemplo, o agente acerta tanto o 
carro como lesiona a pessoa que estava 
próxima. 
Conseqüência – aplica-se a regra do concurso 
formal (art 70, CP), com a pena do crime mais 
grave aumentada de um sexto até a metade. 
 
Observação: Segundo Capez4, devemos atentar 
para a regra de que se o resultado previsto como 
culposo for menos grave ou se o crime não tiver 
modalidade culposa prevista, não se aplica a 
regra da aberratio criminis, prevista no art. 74 
do CP. Exemplo. Se o agente atira na vítima e 
não a acerta (tentativa branca), vindo, por erro a 
atingir uma vidraça; se fôssemos aplicar a regra 
do art. 74, a tentativa branca de homicídio 
ficaria absorvida pelo dano culposo, e como este 
não é previsto no CP, a conduta é considerada 
atípica. 
Assim, seria absurdo que o agente atirando 
contra o balconista de uma farmácia e errasse o 
tiro, mas acertasse uma vitrine, viesse a 
responder por dano culposo, que sequer é 
previsto, e fosse absolvido, ao invés de 
responder por tentativa de homicídio. 
 
4
 Fernando Capez, “Curso de Direito Penal”, vol.I, p. 225 
Neste caso, afasta-se a regra do art 74 do 
CP e o agente responderá, criminalmente, 
somente pela tentativa de homicídio, art. 
121 c/c 14 do CP.

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