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Cooperativismo Passo a Passo 1 COOPERATIVISMO PASSO A PASSO Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 2 Visite nossos sites na Internet www.jurua.com.br e www.editorialjurua.com e-mail: editora@jurua.com.br ISBN: 978-85-362- Brasil – Av. Munhoz da Rocha, 143 – Juvevê – Fone: (41) 4009-3900 Fax: (41) 3252-1311 – CEP: 80.030-475 – Curitiba – Paraná – Brasil Europa – Rua General Torres, 1.220 – Lojas 15 e 16 – Fone: (351) 223 710 600 – Centro Comercial D’Ouro – 4400-096 – Vila Nova de Gaia/Porto – Portugal Editor: José Ernani de Carvalho Pacheco Curitiba: Juruá, 2013. I. Título. Cooperativismo Passo a Passo 3 Paulo Gonçalves Lins Vieira Andrea Mattos Pinheiro COOPERATIVISMO PASSO A PASSO Curitiba Juruá Editora 2014 Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 4 Cooperativismo Passo a Passo 5 APRESENTAÇÃO O cooperativismo é um eficiente instrumento de desenvolvimento social e econômico, por esse motivo a cada ano que passa esse movimento ganha novos membros. Para atender uma demanda cada vez maior de pessoas interessadas em informações básicas sobre o cooperativismo, a Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo, em parceria com o SESCOOP/SP – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado de São Paulo, desenvolveu o presente material. Nesta publicação, o leitor encontrará noções sobre o empreen- dimento cooperativo, a sua estrutura e o seu funcionamento. Além disso, poderá utilizar-se dos modelos que auxiliarão no dia a dia da sociedade. Com isto, esperamos que este manual seja um objeto de consulta perma- nente a todas as cooperativas, independentemente do ramo de atuação. Desejamos a todos uma ótima leitura. Edivaldo Del Grande Presidente do Sistema OCESP Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 6 Cooperativismo Passo a Passo 7 SUMÁRIO 1 – HISTÓRICO ...................................................................................... 11 2 – ÓRGÃOS DE REPRESENTAÇÃO DO COOPERATIVISMO ....... 13 2.1 Aliança Cooperativista Internacional – ACI .................................. 13 2.2 Aliança Cooperativa Internacional – ACI Américas ...................... 13 2.3 Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB ......................... 13 2.4 Organização das Cooperativas Estaduais ...................................... 14 2.5 OCESP – Organização das Cooperativas do Estão de São Paulo.... 14 2.6 Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo – SESCOOP ................................................................................... 15 3 – CONCEITO DE COOPERATIVA .................................................... 17 3.1 Essência das Cooperativas ............................................................ 17 3.2 Legislação Cooperativista............................................................. 18 3.3 Ramos ......................................................................................... 19 3.4 Gênero das Cooperativas .............................................................. 21 4 – PRINCÍPIOS DO COOPERATIVISMO .......................................... 23 4.1 1º Princípio – Adesão Livre e Voluntária ...................................... 23 4.2 2º Princípio – Gestão Democrática pelos Sócios............................ 25 4.2.1 Prazo e pautas ................................................................. 26 4.2.2 Convocação .................................................................... 26 4.2.3 Instalação ....................................................................... 27 4.2.4 Aprovação ...................................................................... 28 4.2.5 Impedimentos ................................................................. 28 4.2.6 Comprovação ................................................................. 28 4.2.7 Não podem ser eleitos ..................................................... 28 4.2.8 Atas e arquivamento ....................................................... 29 4.3 3º Princípio – Participação Econômica dos Sócios ........................ 32 4.4 4º Princípio – Autonomia e Independência .................................... 33 Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 8 4.4.1 Cooperativa singular ....................................................... 34 4.4.2 Cooperativa – central ou federação .................................. 34 4.4.3 Cooperativa – confederação ............................................ 34 4.5 5º Princípio – Educação, Treinamento e Informação ..................... 35 4.6 6º Princípio – Cooperação entre Cooperativas ............................... 35 4.7 7º Princípio – Preocupação com a Comunidade............................. 35 5 – CONSTITUIÇÃO DE UMA COOPERATIVA ................................. 37 5.1 Da Ata de Constituição ................................................................. 37 5.1.1 Denominação .................................................................. 38 5.1.2 Sede ............................................................................... 38 5.1.3 Objeto social ................................................................... 38 5.1.4 Dos sócios fundadores .................................................... 39 5.1.5 Aprovação do estatuto social ........................................... 39 5.1.6 Direção dos trabalhos assembleares ................................. 39 5.1.7 Finalidade ....................................................................... 39 5.1.8 Da constituição da sociedade cooperativa ........................ 39 5.1.9 Capital ............................................................................ 39 5.1.10 Eleição dos órgãos diretivos ............................................ 40 5.1.11 Sócios eleitos .................................................................. 40 5.1.12 Declaração de desimpedimento ....................................... 40 5.1.13 Posse dos eleitos ............................................................. 41 6 – ELABORAÇÃO DO ESTATUTO SOCIAL ..................................... 43 7 – REGISTRO NOS ÓRGÃOS .............................................................. 45 8 – LIVROS OBRIGATÓRIOS ............................................................... 47 8.1 Obrigatoriedade ........................................................................... 47 8.2 Comuns ou Especiais ................................................................... 47 8.3 Possibilidade de Adoção de Livros ou Folhas Soltas ..................... 47 8.4 Normas para Escrituração ............................................................. 47 9 – FUSÃO, INCORPORAÇÃO E DESMEMBRAMENTO .................. 49 10 – DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE ..................................................... 51 ANEXOS I – Modelo de ata de constituição ....................................................... 55 II – Modelo de estatuto social – cooperativa singular ........................... 59 Cooperativismo Passo a Passo 9 III – Modelo de estatuto social de central / federação de cooperativas ... 73 IV – Modelo de proposta de admissão de cooperados ........................... 87 V – Modelo de livro ou ficha de matrícula........................................... 89 VI – Modelo de recibo – capital social .................................................. 93 VII – Modelo de pedido de demissão..................................................... 95 VIII – Modelo de ciência de demissão do cooperado ............................... 97 IX – Modelo de comunicado da eliminação .......................................... 99 X – Modelo de interposição de recurso da eliminação........................ 101 XI – Modelo de comunicado da exclusão do cooperado ...................... 103 XII – Procedimentos recomendados para assembleias... ....................... 105 XIII – Modelo de edital de convocação de AGO ................................... 109 XIV – Modelo de edital de convocação da assembleia geral extraordinária ............................................................................. 111 XV – Modelo de edital de convocação de AGO/AGE .......................... 113 XVI – Modelo de livro de presença dos sócios nas assembleias ............. 115 XVII – Modelo de declaração de elegibilidade........................................ 117 XVIII – Modelo de declaração de desimpedimento .................................. 119 XIX – Modelo de ata da assembleia geral ordinária ............................... 121 XX – Modelo de ata da assembleia geral extraordinária da cooperativa ................................................................................ 125 XXI – Modelo de regimento eleitoral .................................................... 129 XXII – Modelo de regimento interno do órgão de administração ............. 134 XXIII – Modelo da ata de reunião ordinária do conselho de administração ............................................................................. 138 XXIV – Modelo do relatório de prestação de contas ................................. 140 XXV – Modelo do regimento interno do conselho fiscal ......................... 142 XXVI – Ata da primeira reunião do conselho fiscal .................................. 146 XXVII – Modelo de ata da reunião do conselho fiscal ............................... 148 XXVIII – Modelo de parecer mensal do conselho fiscal .............................. 150 XXIX – Modelo de parecer anual do conselho fiscal ................................ 152 XXX – Modelo regimento interno do RATES (antigo FATES)11 ............. 154 XXXI – Modelo de termo de abertura dos livros sociais ........................... 158 XXXII – Modelo de termo de encerramento dos livros sociais ................... 160 XXXIII – Modelo de declaração de vontade ............................................... 162 Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 10 XXXIV – Modelo – edital – AGE – desmembramento ................................ 164 XXXV – Modelo – edital – assembleia – relatório da comissão de estudos ....................................................................................... 166 XXXVI – Modelo – edital – assembleia – fusão .......................................... 168 XXXVII – Modelo – edital – assembleia – aprovação relatório da comissão – fusão ........................................................................ 170 XXXVIII – Modelo – edital – assembleia – nova cooperativa – fusão ............ 172 XXXIX – Modelo – edital – assembleia – incorporação .............................. 174 XL – Modelo – edital – assembleia – incorporação .............................. 176 XLI – Modelo edital – convocação para dissolução ............................... 178 XLII – Modelo – termo de compromisso de liquidante ........................... 180 XLIII – Modelo de petição – arquivamento junta comercial ..................... 182 XLIV – Modelo de auto de arrecadação – liquidante ................................ 184 XLV – Modelo de circular de convocação de credores ............................ 186 XLVI – Modelo – requisição de documentos ........................................... 188 XLVII – Modelo quadro geral de credores ................................................ 190 XLVIII – Modelo – relatório do liquidante ................................................. 192 XLIX – Modelo do edital de convocação – fase liquidação ...................... 194 L – Modelo – relatório do liquidante II ............................................. 196 LI – Modelo – AGE – prestação de contas finais do liquidante ........... 198 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 200 ÍNDICE ALFABÉTICO ............................................................................. 202 Cooperativismo Passo a Passo 11 1 HISTÓRICO O trabalho em equipe sempre existiu, pois o ser humano é um ser social, ou seja, ele precisa do outro para sobreviver e para garantir seu desenvolvimento. Em plena Revolução Industrial, período de grande exploração do ser humano, surgiu oficialmente no ano de 1844 no bairro de Rochdale, em Manchester (Inglaterra), o primeiro grupo que formalizou a prática da cooperação. O grupo formado por 28 (vinte e oito) pessoas, na sua maioria tecelões, se uniram para adquirir coletivamente bens de consumo. Duran- te um ano fizeram o planejamento, estabeleceram normas e metas, guar- daram recursos e investiram capital para dar início ao funcionamento da sociedade que recebeu o nome de “Sociedade Rochdale dos Pioneiros Equitativos”. Coletivamente os trabalhadores poderiam negociar melhores condições de consumo, buscando melhores preços, prazos, quantidade e qualidade dos produtos. Observa-se na ilustração acima, que o grupo reuniu-se para ir direitamente ao fornecedor, eliminando os intermediários da relação eco- nômica. Esse fato é importante, pois em regra, todas as cooperativas sur- gem para substituir os atravessadores. Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 12 Cooperativismo Passo a Passo 13 2 ÓRGÃOS DE REPRESENTAÇÃO DO COOPERATIVISMO 2.1 ALIANÇA COOPERATIVISTA INTERNACIONAL – ACI A ACI – Aliança Cooperativista Internacional, é o órgão máxi- mo de representação do cooperativismo constituído em 1895 com o obje- tivo de continuar o trabalho dos pioneiros de Rochdale. Trata-se de uma organização não governamental que congrega organizações de cooperati- vas de todo o mundo, com sede em Genebra (Suíça). Saiba mais pelo site: <http://www.ica.coop/>. 2.2 ALIANÇA COOPERATIVA INTERNACIONAL – ACI AMÉRICAS A ACI – Américas, com sede em Bogotá – Colômbia, é o órgão de representação do cooperativismo nas Américas, vinculado à ACI – Aliança Cooperativista Internacional. Saiba mais pelo site: <http://www.aciamericas.coop/>. 2.3 ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS – OCB A OCB é o órgão máximo de representação das cooperativas no Brasil. É a guardiã da doutrina e dos princípios do cooperativismo. Trata- -se de uma instituição sem fins lucrativos, com sede em Brasília. Funcio- na como órgão técnico consultivo do governo, atua na representação, fortalecimento, integração, promoção, fomento e defesa do Sistema Coo- perativista Brasileiro. Saiba mais pelo site: <www.brasilcooperativo.coop.br>. Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 14 2.4 ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS ESTADUAIS Em cada Estado Brasileiro existe uma unidade estadual da Or- ganização das Cooperativas Brasileiras – OCB. A Organização das Coo- perativas Estadual – OCE, é constituída pelas cooperativas singulares, centrais, federações e confederações de todos os ramos. De acordo com o art. 107 da Lei 5.764, de 16.12.1971, todas as cooperativas são obrigadas a registrar-se na OCB, ou na unidade estadual. 2.5 OCESP – ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS DO ESTÃO DE SÃO PAULO A OCESP, uma unidade estadual da OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras, tem comoobjetivo representar, integrar, forta- lecer e defender os interesses das cooperativas em âmbito estadual. É uma entidade sem fins lucrativos, formada por cooperativas singulares, centrais, federações e confederações de cooperativas localiza- das no Estado de São Paulo. O órgão máximo da OCESP é a Assembleia Geral que ocorre uma vez por ano, até o mês de abril, para deliberar sobre as ações do ano anterior, bem como aprovar o plano para o exercício seguinte. A OCESP possui uma Diretoria constituída por um representan- te de cada ramo do cooperativismo paulista, todos eleitos pela Assem- bleia Geral, para um mandato de 04 (quatro) anos. A gestão da OCESP é fiscalizada de maneira assídua e minucio- sa por um Conselho Fiscal constituído de 03 (três) membros efetivos e de 03 (três) membros suplentes, com um mandato de 04 (quatro) anos. A OCESP, em parceria com o SESCOOP/SP, firmou a missão de “Promover permanentemente a excelência do cooperativismo paulista, viabilizando e realizando ações de educação, integração, comunicação, representação e orientação”. A OCESP possui uma parceria com a FESCOOP/SP – Federa- ção dos Sindicatos das Cooperativas no Estado de São Paulo, para defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, utilizando- -se das prerrogativas como sindicato. A Federação de Sindicatos tem como base territorial o Estado de São Paulo e a função de defender os interesses individuais e coletivos da categoria e coordenar as negociações coletivas realizadas pelos sindi- catos filiados. A Federação pode celebrar acordo e convenção coletiva, quando ausente ou inexistente o sindicato. Saiba mais pelo site: <www.ocesp.org.br/>. Cooperativismo Passo a Passo 15 2.6 SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM DO COOPERATIVISMO – SESCOOP O SESCOOP, criado em 1998, é uma instituição que faz parte do Sistema “S” – Serviço Social Autônomo, que tem o objetivo de orga- nizar, administrar e executar em todo território nacional, o ensino de for- mação profissional, desenvolvimento, monitoramento e promoção social do trabalhador em cooperativa e dos cooperados. Em cada Estado do Brasil o SESCOOP possui uma unidade atuando em parceria com as unidades estaduais da OCB. Saiba mais pelo site: <www.brasilcooperativo.coop.br>. Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 16 Cooperativismo Passo a Passo 17 3 CONCEITO DE COOPERATIVA Cooperativa é uma associação autônoma de pessoas unidas vo- luntariamente para fazer frente às suas necessidades e aspirações econô- micas, sociais e culturais comuns por meio de uma empresa de proprie- dade conjunta e democraticamente controlada. Tal conceito foi definido pela ACI – Aliança Cooperativista Internacional. A união de pessoas em torno de um negócio (atividade econô- mica) de interesse comum é o que faz surgir um empreendimento coope- rativo. A cooperativa é um sistema diferenciado e democrático de organi- zação social que busca melhores condições sociais e econômicas. Pela legislação brasileira (Lei 5.764/71), para uma cooperativa constituir-se são necessárias 20 (vinte) pessoas que se obriguem a contri- buir para o exercício de uma atividade econômica de proveito comum, sem o objetivo de remunerar o capital de seus sócios, ou seja, sem finali- dade de lucro. A cooperativa é criada para gerar benefícios aos seus só- cios, tendo características legais e doutrinarias própria. Em 19.07.2012, foi promulgada a Lei 12.690, que surgiu com o objetivo de disciplinar a organização e o funcionamento das cooperativas de trabalho e, especificamente para este ramo, reduziu o número mínimo de sócios para constituição de uma cooperativa de trabalho da previsão geral anterior de 20 (vinte) para apenas 07 (sete) sócios. 3.1 ESSÊNCIA DAS COOPERATIVAS Cooperativa é uma forma de organização social para exercício de uma atividade econômica de proveito comum, baseada na igualdade de direitos e não na apropriação do trabalho alheio, cujo cooperado é o dono e usuário do empreendimento. Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 18 Exercício de uma atividade de proveito comum – Os sócios devem oferecer ou adquirir um produto ou serviço do mer- cado de forma coletiva. A atividade econômica refere-se ao negócio da cooperativa resultante da organização dos se- guintes fatores: capital, insumos, tecnologia, competência, relacionamento e trabalho; Dupla Qualidade – Os cooperados são ao mesmo tempo do- nos e usuários (trabalhadores/consumidores) do empreendi- mento cooperativo. Na figura de usuário o cooperado utiliza- se dos benefícios oferecidos pelo empreendimento coopera- tivo, na figura de dono ele participa das decisões, assume os riscos do negócio e se apropria dos resultados. Tais papéis são complementares e indissociáveis; Igualdade de Direitos – Na cooperativa a relação é baseada no trabalho e não no capital de seus sócios. Cada membro tem direito a um só voto, independentemente do capital so- cial integralizado, ou seja, todos têm direito de participar das decisões, de operar com a cooperativa, votar e ser votado pa- ra os cargos sociais. Não apropriação do trabalho alheio – A cooperativa busca remunerar o trabalho de seus cooperados, eliminando o in- termediário da relação econômica, assumindo os riscos da atividade e apropriando-se do excedente do trabalho que é divido entre os cooperados. Ela não visa o lucro que é carac- terizado pela apropriação do excedente do trabalho em fun- ção do capital. 3.2 LEGISLAÇÃO COOPERATIVISTA Como vimos, existem normas internacionais e nacionais que re- gulam o cooperativismo, segue abaixo uma tabela sobre as principais normativas: Normativa Observações Recomendação 193 da OIT – Orga- nização Internacional do Trabalho Aprovado em 2002 na conferência da OIT. Lei Marco para as Cooperativas da América Latina Aprovado em 2008 pela Aliança Coo- perativa Internacional – Américas. Constituição da República Federa- tiva do Brasil A Constituição em diversos disposi- tivos tratou sobre o cooperativismo. Cooperativismo Passo a Passo 19 3.3 RAMOS Para classificação dos ramos da cooperativa é necessário fixar critérios, buscando identificar as semelhanças. Não existe um único crité- rio de classificação das cooperativas. Pode-se utilizar como um critério a forma de relacionamento com o mercado, assim as cooperativas se classificam como organização do consumo ou organização do trabalho. Pode-se, ainda, utilizar o critério atividade econômica, desta forma teremos inúmeros ramos: transporte, produção, mineração, turismo e lazer; consumo, trabalho, agropecuário, crédito, educacional, habitacio- nal, infraestrutura, etc. Atualmente a OCB classifica as cooperativas em 13 (treze) ra- mos, são eles: Agropecuário: destinado a receber transportar, classificar, pa- dronizar, armazenar, beneficiar, industrializar e comercializar a produção de seus cooperados. A cooperativa pode ainda adquirir e repassar aos sócios bens de produção e insumos necessários ao desenvolvimento de suas atividades. Dentro deste ramo existem diversas culturas: arroz, fei- jão, café, soja, milho, trigo, cana-de-açúcar etc. Lei 5.764/71 A principal legislação brasileira sobre o cooperativismo. Lei Complementar 130/09 Dispõe sobre o cooperativismo de crédito. Lei 12.690/12 Dispõe sobre a organização e o fun- cionamento das Cooperativas de Trabalho. Lei 10.406/02 Trata-se do novo Código Civil que trouxe um capítulo específico “Das Sociedades Cooperativas”. Lei 11.488/07 Estendeu alguns benefícios do estatu- to da micro e pequena empresa para as cooperativas. Lei 9.867/99 Dispõe sobre a criação e funciona-mento das cooperativas sociais. Medida Provisória 1.715/98 Autorizou a criação do SESCOOP – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo. Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 20 Consumo: destinado a aquisição de bens de consumo e forne- cimento ao seu quadro social. Este ramo realiza compras em comum de diversos produtos de uso diário. Crédito: destinado a estimular a poupança e o desenvolvimento de programas de assistência financeira e geração de benefícios financei- ros a seus sócios. Neste ramo existem cooperativas de crédito rural, crédi- to mútuo (urbano), cooperativa de crédito de empresários e crédito aberta, esta última também denominada de “cooperativa de crédito do tipo Luzzatti”, em homenagem a um de seus idealizadores, o italiano Luigi Luzzatti. O cooperativismo de crédito, além de observar as normas do Conselho Monetário Nacional e do Banco Central do Brasil, possui legis- lação específica, a Lei Complementar 130, de 19.07.2009, que dispõe sobre o sistema nacional de crédito cooperativo. Educacional: destinado a desenvolver atividades educacionais. A cooperativa educacional pode ser constituída por professores para pres- tação de serviços. Também pode ser constituída por pais e/ou responsá- veis de alunos ou pelos próprios alunos para aquisição coletiva de servi- ços de educação. A cooperativa deste ramo pode criar, organizar, manter e dirigir instituições de ensino e educação, bem como adquirir material educacional para fornecimento aos cooperados, seus filhos e dependentes. Este ramo deve observar as normas do MEC – Ministério da Educação e Cultura. Habitacional: destinado a atuar no ramo imobiliário. A coopera- tiva habitacional quando constituída por trabalhadores pretende construir e comercializar unidades habitacionais. Quando constituída por consumi- dores, a cooperativa visa propiciar a construção e aquisição da casa pró- pria a preço de custo. Na vertente consumo, a cooperativa pode funcionar pelo sistema de autofinanciamento, financiamento externo e ainda por meio de mutirão. Infraestrutura: composto por cooperativas destinadas à aquisi- ção ou comercialização de serviços de energia elétrica, saneamento bási- co, telefonia e abastecimento de água. A atividade de telefonia precisa observar as regras da ANATEL – Agência Nacional de Telecomunica- ções e a atividade de energia elétrica regras da ANEEL – Agência Nacio- nal de Energia Elétrica. Mineral: as cooperativas inseridas nesse ramo buscam pesqui- sar, extrair, industrializar, comercializar, importar e exportar produtos minerais. Cooperativismo Passo a Passo 21 Produção: destinado a produção, beneficiamento, industrializa- ção e comercialização de produtos. Os produtos oferecidos pelas coopera- tivas precisam observar a legislação vigente, bem como as regras do IN- METRO. Estão enquadradas no ramo produção as cooperativas da linha industrial, artesanal e de reciclagem – coletiva seletiva. Saúde: quando formado por profissionais da área da saúde, visa à prestação de serviços de saúde bem com a preservação e a promoção da saúde humana; quando formada por usuários de serviços de saúde, visa a aquisição coletiva do serviço. As cooperativas que comercializam planos de saúde devem observar as regras da ANS – Agência Nacional de Saúde. Transporte: destinado à prestação ou aquisição de serviços de transportes de cargas e de passageiros. Deste ramo, destacamos as seguin- tes modalidades: táxi, escolar, transporte alternativo (perua/vans), moto- táxi, aéreo e marítimo. As cooperativas de transporte terrestre devem observar as regras da ANTT – Agência Nacional de Transporte Terrestre. Turismo e Lazer: destinado à prestação ou aquisição de serviços turísticos, artísticos, de entretenimento desportivo e de hotelaria. As coo- perativas deverão observar as normas do Ministério do Turismo de Lazer. Trabalho: ramo residual, o que não se enquadra nos serviços es- pecíficos (transporte, educacional, saúde, produção, agropecuário, habita- cional, etc.) enquadra-se neste ramo. A cooperativa surge a partir de um grupo empreendedor para realizar uma atividade econômica. A coopera- tiva organiza o trabalho e demais recursos necessários para viabilizar um negócio, na forma de serviços e/ou produtos, oferecendo-os ao mercado e remunerando o quadro social por meio dos resultados financeiros obtidos. Este ramo conta uma legislação específica, a Lei 12.690/12, que discipli- na e organiza o funcionamento dessas cooperativas. Social/Especial: Regido pela Lei 9.867, de 10.11.1999, objetiva a integração social de pessoas que se encontre em desvantagem frente ao mercado de trabalho. Qualquer ramo acima citado pode se enquadrar como uma cooperativa social, desde que a maioria do quadro social seja composta por deficientes físicos, mentais e sensoriais, dependentes quí- micos, egressos de prisões, condenados a penas alternativas e adolescen- tes em idade adequada para o trabalho. 3.4 GÊNERO DAS COOPERATIVAS A cooperativa é constituída para o exercício de uma atividade econômica de proveito comum. Assim, todos os ramos do cooperativismo poderiam ser classificados em duas vertentes: Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 22 – Trabalho: inclui as cooperativas agropecuárias em sua atua- ção, educacionais quando formadas por profissionais de educação, produção, transporte, saúde e trabalho; – Consumo: inclui as cooperativas agropecuárias em sua atua- ção na aquisição de insumos e serviços, educacionais forma- das por alunos ou responsáveis, infraestrutura, habitacionais, crédito e consumo. Tal conclusão decorre da percepção de que as cooperativas se organizam a partir da necessidade de oferecer o resultado do trabalho das pessoas ao mercado, bem como de buscar nele as mercadorias ou os ser- viços necessários aos seus cooperados, isto é, necessidades de oferta ou de demanda. Cooperativismo Passo a Passo 23 4 PRINCÍPIOS DO COOPERATIVISMO Os princípios básicos do cooperativismo foram criados pelos “Probos Pioneiros de Rochdale”. Em 1995 a ACI realizou a última adapta- ção e atualização dos conceitos. Importante frisar que os princípios regem todas as cooperativas do mundo, independente do ramo de atuação. 4.1 1º PRINCÍPIO – ADESÃO LIVRE E VOLUNTÁRIA “Cooperativas são organizações voluntárias abertas a todas as pessoas aptas a usar seus serviços e dispostas a aceitar as responsabili- dades de sócios, sem discriminação social, racial, política, religiosa e de qualquer gênero” – ACI. O princípio da Adesão Livre e voluntária, também chamado de “princípio das portas abertas”, estabelece que ninguém é obrigado a in- gressar ou permanecer como sócio da cooperativa. Desta forma, qualquer pessoa que atenda ao objeto social (negócio) do empreendimento pode ser cooperado. A cooperativa tem como característica o número ilimitado de sócios, assim não existe um número máximo de sócios, desde que tenha capacidade técnica para atender a todos. Para quem pretende ingressar na cooperativa é importante veri- ficar se a mesma está regularmente registrada na unidade estadual da Organização das Cooperativas Brasileira e demais órgãos públicos, além disso, o interessado deve procurar conhecer a legislação cooperativista e o estatuto da sociedade. A unidade estadual da OCB oferece palestras, cursos e treinamentos sobre o cooperativismo. A cooperativa deve ter um procedimento de admissão de novos membros. Assim, o interessado deve preencher uma proposta de adesão que será analisada pelo órgão de administração da sociedade. Este órgão Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 24 precisa verificar se o interessado não é um concorrente da cooperativa, seo mesmo tem condições de praticar o negócio de interesse comum, se preenche as condições previstas no estatuto e, por fim, se existe possibili- dade técnica (estrutura) para admissão de novos cooperados. Ressalta-se que a decisão sobre o ingresso de novos associados é de competência do órgão de administração, sendo desnecessária a con- vocação de uma Assembleia Geral. Aceito o pedido de admissão, o novo cooperado assinará o livro de matrícula, junto com o representante da cooperativa, caso ainda não tenha recebido, deverá receber no ato uma cópia do estatuto social e ou- tros documentos educativos e normativos internos da sociedade. Nesse momento o cooperado poderá firmar um documento manifestando sua concordância com as disposições estatutárias e com as normas internas da cooperativa. Cumprindo o procedimento de ingresso, o cooperado adquire todos os direitos e assume os deveres e obrigações decorrentes da lei, do estatuto e das deliberações tomadas pela Assembleia Geral. No momento de ingresso o cooperado deverá adquirir (subscre- ver) as quotas partes do capital, observando o mínimo e o máximo previs- to no estatuto. É importante que a cooperativa forneça um recibo ao coo- perado da integralização (pagamento) das quotas parte do capital. Observa-se que apesar do princípio da adesão livre e voluntária (princípio das portas abertas) a cooperativa pode negar o pedido de in- gresso de novos sócios baseando-se em critérios técnicos, objetivos, le- gais e estatutários. Para tanto, é indispensável a elaboração de um estudo de viabilidade econômica e social. As unidades estaduais da OCB podem auxiliar o grupo na elaboração de tal estudo. O critério para admissão de novos membros nunca poderá ser discriminatório. O empreendimento cooperativo é regido pela indiscrimi- nação de qualquer espécie, isto significa dizer que a cooperativa não pode utilizar como critério para admissão de novos sócios a questões política, social, religiosa ou de qualquer gênero. A sociedade é constituída para o exercício de uma atividade econômica e não em torno de uma instituição religiosa, política ou social. Vide Anexo IV – Proposta de Admissão de Cooperados. Vide Anexo V – Modelo do Livro / Ficha de Matrícula. Vide Anexo VI – Modelo de Recibo – Capital Social. Desligamento da Cooperativa: Assim, como a adesão é livre e voluntária, ninguém é obrigado a permanecer filiado à cooperativa. O Cooperativismo Passo a Passo 25 cooperado, para se desligar da sociedade, pode pedir demissão, ser elimi- nado ou excluído. Demissão: É também livre e voluntária, esse pedido do sócio não pode ser negado. Eliminação: Será realizada em virtude de infração legal e/ou estatutária, mediante deliberação pelo órgão de administração que terá 30 (trinta) dias para comunicar tal fato. O eliminado poderá interpor recurso, dentro do prazo fixado no estatuto, que terá efeito suspensivo até a pró- xima Assembleia Geral. Exclusão: Ocorre por fatos previstos na lei, em seu art. 35, co- mo: por morte da pessoa física, por incapacidade civil não suprida, por deixar de atender os requisitos de ingresso e permanência na sociedade e dissolução da pessoa jurídica. Independentemente da forma de desligamento o cooperado tem o direito à restituição do capital social integralizado, que em regra, acon- tecerá após a aprovação de contas do exercício pela Assembleia Geral, bem como deve ser levado a registro o fato no Livro de Matrícula. Vide Anexo VII – Pedido de Demissão. Vide Anexo VIII – Ciência de Demissão de Cooperado. Vide Anexo IX – Comunicado da eliminação. Vide Anexo X – Interposição do Recurso de Eliminação. Vide Anexo XI – Comunicado de Exclusão do Cooperado. 4.2 2º PRINCÍPIO – GESTÃO DEMOCRÁTICA PELOS SÓCIOS “As cooperativas são organizações democráticas controladas por seus sócios os quais participam ativamente no estabelecimento de suas políticas e na tomada de decisões”. – ACI. A cooperativa deve desenvolver suas atividades empreendedo- ras com base no princípio da Gestão Democrática, isso significa dizer que deve ser gerida e administrada pelos seus membros. A gestão democrática na cooperativa é com base na pessoa e não no capital, isto significa dizer, que cada pessoa tem o mesmo direito independente do capital integralizado na sociedade. Para cumprir a gestão democrática a cooperativa é obrigada a realizar anualmente uma Assembleia Geral Ordinária de cooperados e sempre que necessário uma Assembleia Geral Extraordinária. As coope- rativas de trabalho, nos termos da Lei 12.690/12, têm também a obrigato- Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 26 riedade de realizar ao menos uma Assembleia Geral Especial anual, sem exclusão das já previstas na Lei 5.764/71 (Ordinária e Extraordinária), para tratar de assuntos específicos como: disciplina, direitos e deveres dos sócios, dentre outros. A realização de uma Assembleia depende de vários procedimentos que devem ser seguidos pelos sócios. 4.2.1 Prazo e Pautas A Assembleia Geral Ordinária deve ocorrer nos 03 (três) pri- meiros meses após o término do exercício social – salvo nas cooperativas de crédito, que pode ocorrer nos 04 (quatro) primeiros meses após o tér- mino do exercício social –, para deliberar sobre a prestação de contas do exercício anterior, destinação das sobras ou perdas, eleição dos órgãos de administração e conselho fiscal, fixação de honorários dos cargos sociais, bem como outros assuntos de interesse da sociedade. A Assembleia Geral Extraordinária pode ser realizada sempre que necessário, porém conforme a Lei 5.764/71 as pautas reforma de estatuto, dissolução da cooperativa, fusão, incorporação, desmembramen- to, aprovação de contas do liquidante só podem ser discutidos neste tipo de Assembleia e precisam 2/3 (dois terços) dos cooperados presentes para tornar válidas as deliberações. A Assembleia Geral Especial, de realização obrigatória para as cooperativas de trabalho, ao menos uma vez por ano, sempre no segundo semestre do ano, para deliberar sobre assuntos específicos, dentre outros previstos no edital de convocação, a saber: gestão da cooperativa; discipli- na; direitos e deveres dos sócios; planejamento e resultado econômico dos projetos e contratos firmados; além da organização do trabalho, como por exemplo, a fixação das regras para afastamento remunerado do sócio em algumas hipóteses, como casamento, nascimento de filho, dentre outras. 4.2.2 Convocação Independente do tipo de Assembleia, ela deve ser convocada com antecedência de no mínimo 10 (dez) dias (na contagem dos dias exclui-se o dia da publicação e inclui o dia de vencimento) mediante edi- tais fixados em locais mais frequentados pelos sócios, publicado em jor- nal de acordo com a área de ação para admissão de cooperados e entregue aos associados por intermédio de circulares. Cooperativismo Passo a Passo 27 Para as cooperativas de trabalho, a Lei 12.690/12 prevê sucessi- vas possibilidades de notificação, eliminando a forma tríplice de convo- cação estabelecidas para as demais cooperativas na Lei 5.764/71: – A notificação pessoal do associado com antecedência míni- ma de 10 (dez) dias de sua realização (nessa hipótese, deve- rá, necessariamente, ser colhida uma declaração de ciência do sócio, devidamente datada, no ato da comunicação); – Na impossibilidade de notificação pessoal, a mesma dar-se-á pela via postal, devendo o recebimento pelo sócio ocorrer com antecedência mínima de 10 (dez) dias de sua realização (neste caso é imprescindível que a notificação seja encami- nhada com Aviso de Recebimento (AR), como forma de prova do cumprimento do prazo legal); – Na impossibilidade de realização das notificações antece- dentes, os sócios serão notificados medianteedital afixado na sede e em outros locais previstos no estatuto e publicado em jornal de grande circulação na região da sede da coopera- tiva ou na região onde ela exerça suas atividades, respeitada a antecedência de 10 (dez) dias da data de realização da As- sembleia Geral. A convocação será feita pelo Presidente, ou por qualquer dos órgãos de administração, pelo conselho fiscal, ou após solicitação não atendida, por 1/5 (um quinto) dos cooperados. 4.2.3 Instalação Para iniciar uma Assembleia é necessário ter 2/3 (dois terços) dos cooperados em primeira chamada; em segunda convocação metade mais um dos cooperados, e em terceira e última chamada no mínimo 10 (dez). A cooperativa deve observar o intervalo mínimo de 01 (uma) hora entre cada convocação. O quorum de instalação das Assembleias Gerais para as coope- rativas de trabalho também obedece uma formalidade específica: 2/3 (dois terços) do número de cooperados, em primeira chamada; metade mais um dos cooperados, em segunda chamada, e em terceira e última chamada 50 (cinquenta) sócios ou, no mínimo, 20% (vinte por cento) do total dos sócios, prevalecendo o menor número, em terceira convocação, Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 28 exigida a presença de, no mínimo, 04 (quatro) sócios para as cooperativas que possuam até 19 (dezenove) sócios matriculados. 4.2.4 Aprovação As pautas das Assembleias serão aprovadas por maioria de vo- tos dos associados presentes com direito de voto, salvo os assuntos exclu- sivos de Assembleia Geral Extraordinária que precisam de 2/3 (dois ter- ços) dos cooperados presentes. 4.2.5 Impedimentos O cooperado que estabelecer relação de emprego perde o direito de votar e ser votado, até que sejam aprovadas as contas do exercício em que ele deixou o emprego. Os membros dos órgãos de administração e fiscalização na prestação de contas e na fixação de honorários. São impedidos também de votar os cooperados que tenham in- teresse direto na matéria. 4.2.6 Comprovação Para comprovar o número de pessoas presentes em cada As- sembleia a cooperativa deve ter o livro de presença. Para comprovar a realização da Assembleia e as deliberações tomadas a cooperativa deve ter o livro de atas de Assembleias. Para comprovar a inscrição de chapas e/ou de candidatos que participaram das eleições concorrendo aos cargos eleitos, a cooperativa deve ter um livro de inscrição de chapas. 4.2.7 Não Podem ser Eleitos Não podem ser eleitos, além das pessoas impedidas por lei, os condenados a pena que vede o acesso a cargos públicos, ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato, ou contra a econômica popular, a fé pública ou a propriedade. Os candidatos devem declarar que são elegíveis e que não estão impedidos de exercer atividade empresarial (desimpedimento). Cooperativismo Passo a Passo 29 4.2.8 Atas e Arquivamento Tudo que for deliberado em Assembleia deve constar em Ata. Para que as decisões possam ser oponíveis contra terceiros, é necessário o arquivamento na Junta Comercial do Estado. Vide Anexo XII – Procedimentos Recomendados para As- sembleias. Vide Anexo XIII – Edital de Convocação da Assembleia Geral Ordinária. Vide Anexo XIV – Edital de Convocação da Assembleia Geral Extraordinária. Vide Anexo XV – Edital de Convocação da Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária Conjuntas. Vide Anexo XVI – Livro de Presença dos Sócios nas Assem- bleias. Vide Anexo XVII – Declaração de Elegibilidade. Vide Anexo XVIII – Declaração de Desimpedimento. Vide Anexo XIX – Ata da Assembleia Geral Ordinária. Vide Anexo XX – Ata da Assembleia Geral Extraordinária. Vide Anexo XXI – Modelo de Regimento Eleitoral. Vide Anexo XXXIII – Modelo de Declaração de Vontade. A democracia denota que o poder de gestão do negócio emana dos cooperados, que exercem diretamente ou por meio de seus represen- tantes legitimamente eleitos. Essa é uma característica que distinguem a cooperativa de outras formas de organizações econômicas, constituindo um dos alicerces da filosofia cooperativista, onde impera a vontade da maioria. Assim, a cooperativa será administrada por um Conselho de Administração e/ou Diretoria eleitos pela Assembleia Geral, com um mandato de até 04 (quatro) anos, sendo obrigatória a renovação a cada período de 1/3 (um terço) dos membros. No caso das cooperativas de crédito, que tenham conselho de administração, a lei permite que seja criada diretoria executiva a ele su- bordinado, na qualidade de órgão estatutário composto por pessoas físicas associadas ou não, indicadas por aquele conselho. Assim, a cooperativa deste ramo pode ter uma diretoria contratada pelo conselho e não eleita em Assembleia. Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 30 Para as cooperativas de trabalho constituídas com menos de 19 (dezenove) sócios, a Lei 12.690/12 expressamente autoriza que a compo- sição dos Conselhos de Administração e Fiscalização seja distinta daque- la prevista na Lei 5.764/71. O órgão de administração deve se reunir constantemente para deliberar sobre os assuntos de sua competência, conforme definido no estatuto da entidade, devendo sempre realizar as atas de reunião. O Livro de Ata de reuniões é também um livro obrigatório pela lei. A lei não determina a nomenclatura dos cargos, assim, o estatu- to deve definir quantos membros formarão órgão de administração, sendo recomendável ser constituído por no mínimo 03 (três) membros, devendo as atribuições de cada um estar definidas no estatuto. Geralmente, as coo- perativas possuem um presidente, um vice e um secretário. Ao final de cada exercício o órgão de administração deverá ela- borar um relatório de prestação de contas para ser aprovado pela Assem- bleia Geral. A lei determina que não pode haver entre o órgão de adminis- tração e o conselho fiscal parentes até 2º grau, seja em linha reta (pais, avôs, filhos, netos) ou em linha colateral (irmãos). O cônjuge ou companheiro não são legalmente parentes, no en- tanto, deve-se eliminar os vínculos familiares na administração da coope- rativa, evitando assim influências que viciem a postura de isenção e com- prometimento com a finalidade social do empreendimento. Vide Anexo XXII – Modelo do Regimento Interno do Órgão de Administração. Vide Anexo XXIII – Ata da Reunião Ordinária do Conselho de Administração. Vide Anexo XXIV – Roteiro de Prestação de Contas – Órgão de Administração da Cooperativa. A cooperativa é fiscalizada pelos seus próprios membros, que podem fazê-lo diretamente e/ou por meio do Conselho Fiscal. O Conselho Fiscal é constituído por 03 (três) membros efetivos e 03 (três) suplentes, eleitos em Assembleia Geral, para um mandato de 01 (um) ano, sendo obrigatória a renovação de 2/3 (dois terços) dos seus membros. No caso das cooperativas de crédito, a administração será fisca- lizada, por um conselho fiscal, constituído de 03 (três) membros efetivos e 03 (três) suplentes, cujo o mandato será de até 03 (três) anos, observada Cooperativismo Passo a Passo 31 a renovação de, ao menos, 02 (dois) membros da cada eleição, sendo 01 (um) efetivo e 01 (um) suplente. As cooperativas de trabalho, constituídas com menos de 19 (de- zenove) sócios, apesar de lhes expressamente autorizada composição do Conselho Fiscal distinta da prevista na Lei 5.764/71, deve assegurar que esse órgão tenha composição mínima de 03 (três) membros. O Conselho Fiscal são os “olhos e ouvidos” dos cooperados, ele deve fiscalizar assídua e minuciosamente as operações, ações e atividades do empreendimento cooperativo, comunicando possíveis irregularidades. Sua atuação será no sentido de contribuir para que a cooperativaresponda às necessidades individuais e coletivas dos associados, consta- tando também, a satisfação ou não destes sócios nos serviços prestados pela cooperativa e a forma em que estes são oferecidos. Além disso, o Conselho Fiscal tem, por premissa, a função pedagógica, ou seja, auxiliar o órgão de Administração em sua gestão e estreitar as relações entre os cooperados e a Administração da Sociedade Cooperativa. É importante salientar que o Conselho Fiscal não é um parcei- rista de final de exercício, assim, acreditamos que a reunião do Conselho Fiscal deva ocorrer mensalmente. O livro de ata de reunião do conselho fiscal também é um livro obrigatório. Ao final de cada exercício, o Conselho Fiscal deverá realizar um parecer sobre as contas do órgão de administração, sugerindo a apro- vação ou reprovação de contas. Vide Anexo XXV – Regimento Interno do Conselho Fiscal. Vide Anexo XXVI – Ata da Primeira Reunião do Conselho Fiscal. Vide Anexo XXVIII – Parecer Mensal do Conselho Fiscal. Vide Anexo XXVII – Ata da Reunião do Conselho Fiscal. Vide Anexo XXIX – Parecer Anual do Conselho Fiscal. A Assembleia Geral é o órgão supremo da sociedade, que será administrada por uma Diretoria ou Conselho de Administração compos- tos em regra, de associados eleitos justamente pela Assembleia Geral. Esta Assembleia também elege o Conselho Fiscal. No entanto, os órgãos de administração, para melhor administrar à cooperativa, poderão contra- tar gerentes técnicos que deverão constituir-se em empregados de catego- ria, sujeito às normas da legislação trabalhista. Verifica-se, através do organograma acima, que não há hierar- quia entre o Conselho de Administração (Diretoria) e o Conselho Fiscal, já que são órgãos independentes e distintos. Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 32 4.3 3º PRINCÍPIO – PARTICIPAÇÃO ECONÔMICA DOS SÓCIOS “Os sócios contribuem de forma equitativa e controlam demo- craticamente o capital de suas cooperativas” – ACI. A cooperativa é constituída para o exercício de uma atividade econômica de proveito comum, assim, ela deve ser economicamente viá- vel, e para tanto é necessário um estudo de viabilidade. Cada atividade exige um investimento necessário para torná-la possível, esse recurso (investimento) recebe o nome de capital social que será divido pelos sócios, essa divisão recebe o nome de quota parte, de- vendo o estatuto definir quanto que cada sócio deve subscrever (adquirir) e integralizar (pagar) para fazer parte da cooperativa. Assim, o capital social será dividido em quotas partes, sendo que cada quota não pode ser superior ao salário mínimo. Apesar desta observação, é recomendável que a quota seja estabelecida no valor de R$ 1,00 (um real) para facilitar a contabilização. Para evitar a concentração do poder econômico, em regra, nenhum cooperado poderá subscrever mais de 1/3 (um terço) do total das quotas partes. A lei estabelece ainda, que é proibida a distribuição de qualquer espécie de beneficio às quotas partes do capital ou vanta- gem ou privilégios, financeiros ou não, favor de qualquer cooperado ou terceiros, salvo a distribuição de juros de 12% (doze por cento) ao ano que incidirão sobre a parte integralizada. Ressalta-se que a coope- rativa somente poderá distribuir juros ao capital se houver sobras ao final do exercício. No caso das cooperativas de crédito pode existir a distribuição de juros limitada ao valor da taxa SELIC – Sistema Especial de Liquida- ção e de Custódia para Títulos Federais. O “Princípio da Participação Econômica” também determina que as despesas da sociedade sejam cobertas pelos cooperados mediante rateio na proporção direta da fruição dos serviços. A cooperativa poderá, para melhor atender à igualdade da co- bertura das despesas da sociedade, estabelecer que as despesas fixas sejam rateadas entre os cooperados, quer tenham ou não, no ano, usu- fruído dos benefícios por ela prestados e as despesas variáveis em razão direta e proporcional da fruição dos serviços. Para realizar tal operação, a cooperativa deve levantar separadamente as despesas fixas e as despe- sas variáveis. Cooperativismo Passo a Passo 33 Esse rateio de despesas entre os cooperados é chamado geral- mente de “taxa de administração” ou de “contribuição de manutenção”. No exemplo acima, a cooperativa fixou que cada cooperado iria contribuir com 10% (dez por cento) sobre remuneração. Ao final do exer- cício apurou-se que houve um ingresso de R$ 700,00 (setecentos reais) e uma despesa de R$ 500,00 (quinhentos reais), sobrando R$ 200,00 (du- zentos reais). Observa-se que na cooperativa existem sobras que são re- sultado do ingresso menos as despesas, e não lucro, pois este é o resulta- do da exploração do capital sobre o trabalho, a mais-valia, ou simples- mente a remuneração do capital. Desta sobra, a lei determina que 10% (dez por cento) devem ser levados para o Fundo de Reserva e 5% (cinco por cento) para o FATES – Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social. As sobras líquidas do exercício devem retornar proporcionalmente às operações realizadas pelo cooperado, salvo deliberação em contrário da Assembleia Geral. 4.4 4º PRINCÍPIO – AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA “As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas pelos seus sócios” – ACI. As cooperativas devem ser autônomas tanto no aspecto econô- mico como no aspecto social. As decisões, riscos e resultados devem ser assumidos pelos sócios e não por terceiros. O controle da gestão deve ser feita pelos próprios sócios. A Constituição Federal de 1988 estabeleceu que as cooperativas independessem de autorização e proibiu a interferência estatal em seu funcionamento. Isto significa que o Estado não pode tomar as decisões, gerir, destituir dirigentes, apropriar-se dos resultados do empreendimento cooperativo. Atualmente não existe nenhum órgão que fiscalize as cooperati- vas, tal atividade é de competência dos próprios sócios, que podem fazê- lo diretamente ou por meio de seus representantes eleitos para o Conselho Fiscal. Observa-se que as atividades econômicas desenvolvidas pelas cooperativas são fiscalizadas, conforme dispõe a legislação brasileira. Como exemplo, podemos citar que o ramo financeiro é fiscalizado pelo Banco Central; o de saúde pela ANS; o de telefonia pela ANATEL; o de energia rural pela ANEEL e as relações de trabalho pelo Ministério do Trabalho Emprego e Renda. Observa-se que a fiscalização ocorre em função da atividade econômica e não pelo fato de ser cooperativa, como Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 34 acontecia antes de 1988, onde todas as cooperativas eram fiscalizadas pelo INCRA – Instituto Nacional de Reforma Agrária. Para fortalecer o cooperativismo a lei obrigou que todas coope- rativas devem ser registradas na OCB ou em sua entidade estadual. Tal fato, não fere a autonomia e independência da cooperativa, pois a OCB não tem o papel de fiscalização, mas sim de representação e orientação para as cooperativas. Visando garantir maior autonomia e desenvolvi- mento de suas atividades a cooperativa pode ser estruturar em cooperati- vas centrais, federações e confederações. 4.4.1 Cooperativa Singular A cooperativa singular, também denominada de cooperativa de primeiro grau, está na base do sistema cooperativista. Pela lei, ela é cons- tituída por um número mínimo de 20 (vinte) pessoas físicas com o objeti- vo de prestação de serviços aos seus sócios. Vide Anexo II – Modelo de Estatuto Cooperativa Singular. 4.4.2 Cooperativa – Central ou Federação A cooperativa central ou federação formam o segundo grau do sistema cooperativista. São constituídas por, no mínimo, 03 (três) coope- rativas singulares com o objetivo de organizar em comume em maior escala os serviços econômicos e assistenciais de interesse das filiadas, integrando e orientando suas atividades, bem como facilitando a utiliza- ção recíproca dos serviços. Vide Anexo III – Modelo de Estatuto de Central/Federação de Cooperativas. 4.4.3 Cooperativa – Confederação As confederações de cooperativas formam o terceiro grau do sistema cooperativista. São constituídas de, no mínimo, 03 (três) coopera- tivas centrais e ou federações com objetivo de orientar e coordenar as atividades das filiadas, nos casos em que o vulto dos empreendimentos ultrapassar o âmbito de capacidade ou conveniência de atuação das cen- trais e federações. Cooperativismo Passo a Passo 35 4.5 5º PRINCÍPIO – EDUCAÇÃO, TREINAMENTO E INFORMAÇÃO “As cooperativas promovem a educação e a formação dos seus membros, dos representantes eleitos e dos trabalhadores, de forma que estes possam contribuir, eficazmente, para o desenvolvimento das suas cooperativas” – ACI. Desde a primeira cooperativa, em Rochadle, os pioneiros do cooperativismo já destinavam um percentual para um fundo destinado à educação e formação de seus membros. Atualmente, as cooperativas são obrigadas a constituir um fundo que tem como objetivo a assistência so- cial aos seus cooperados, familiares e quando previsto no estatuto, aos empregados da cooperativa. Em uma sociedade em que a pessoa é treinada para competir, ganhar, para chegar em primeiro lugar é muito difícil trabalhar em equi- pe, falar de cooperação, de ajuda mútua, colaboração. Assim, é impres- cindível a atuação da cooperativa na formação e treinamento, principal- mente, de seus membros no que tange à prática da cooperação. Vide Anexo XXX – Modelo de Regimento Interno de Utiliza- ção do FATES. 4.6 6º PRINCÍPIO – COOPERAÇÃO ENTRE COOPERATIVAS Muitas pessoas se dizem cooperativas, entretanto, não operam e não adquirem produtos e/ou serviços de cooperativas. Este princípio se apresenta no sentido de que as cooperativas precisam contratar e operar com outras cooperativas. Desta forma, uma cooperativa agropecuária deve dar preferên- cia na contração de uma cooperativa de transportes de cargas. Uma coo- perativa de trabalho deve preferencialmente adquirir seus produtos em uma cooperativa de consumo e operar com cooperativas de crédito. Uma cooperativa de produção industrial, artesanal e de reciclagem deve colo- car seus filhos em uma cooperativa educacional. O fomento pelo consu- mo consciente reflete muito bem o princípio da intercooperação. 4.7 7º PRINCÍPIO – PREOCUPAÇÃO COM A COMUNIDADE A cooperativa possui em sua essência a preocupação com o próximo, o que atualmente tem recebido o nome de responsabilidade social. Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 36 Algumas pesquisas apontam que onde existe uma cooperati- va há um índice melhor de desenvolvimento humano; que as coopera- tivas de crédito melhoram as condições dos serviços financeiros; a cooperativa de trabalho remunera melhor seus sócios; a de consumo permite negociar mais qualidade através da compra em comum; que as cooperativas educacionais apresentam maior participação dos pais na educação de seus filhos; enfim, a cooperativa torna-se uma referência na comunidade. Cooperativismo Passo a Passo 37 5 CONSTITUIÇÃO DE UMA COOPERATIVA Antes de realizar a Assembleia de Constituição de uma coope- rativa, deve existir um grupo que queira exercer uma atividade econômica (negócio) de proveito comum, baseada na prática do trabalho em equipe. É recomendável que o grupo busque orientações junto à Orga- nização das Cooperativas Brasileiras de seu Estado, elabore uma proposta do estatuto social com assessoria de um advogado e realize um plano de viabilidade econômica e social. A primeira formalidade a ser observada pelo grupo é a realiza- ção de uma Assembleia de Constituição, a qual deverá ter no mínimo 20 (vinte) pessoas ou 07 (sete) caso se trata de uma cooperativa de trabalho. A Assembleia de Constituição é o momento adequado para que o estatuto social seja lido, discutido e aprovado por todos os sócios fun- dadores. Este documento regulamentará o funcionamento da sociedade. Nesta ocasião também deverá ser realizada a eleição dos membros do órgão de Administração e do Conselho Fiscal. As decisões ali tomadas deverão ser transcritas em uma Ata de Constituição, inclusive o estatuto social, que a ela poderá ser transcrito ou anexado. Além disso, os documentos deverão ser assinados por todos os fundadores e por um advogado. A Assembleia Inaugural dispensa o cumprimento das formalida- des do art. 38, § 1º da Lei 5.764/71, quais sejam: convocação com antece- dência mínima de 10 (dez) dias e publicação em editais de forma tríplice (jornal, circulares e afixação em local de circulação dos cooperados). 5.1 DA ATA DE CONSTITUIÇÃO A Ata é um documento formal e será escrita de modo a repro- duzir os fatos e as decisões da Assembleia. Caso ocorram discordâncias ou protestos, recomenda-se que sejam transcritos em Ata. Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 38 As Juntas Comerciais somente arquivarão as atas que não tive- rem “emendas, rasuras e entrelinhas”1. Outra exigência é que deverá ser transcrita de forma corrida e sem espaços. A Ata de Constituição deverá conter a assinatura de todos os fundadores, identificados com o nome por extenso, devendo as demais folhas ser rubricadas. A Ata deverá ser trans- crita apenas no anverso das folhas que deverão ser datilografadas ou im- pressas nas cores pretas ou azuis, obedecendo aos padrões técnicos de legibilidade e de nitidez para permitir sua reprodução, microfilmagem ou digitalização. Ao final, só poderá ser admitida o registro nos órgãos compe- tentes quando receber o visto de um advogado, conforme determina a lei, devendo constar a indicação do nome e número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. A Ata de Constituição da Sociedade cooperativa deverá abordar os seguintes assuntos: 5.1.1 Denominação Deverá conter a expressão “cooperativa”. No caso das coopera- tivas de crédito é proibido adotar a expressão “banco”. As cooperativas de trabalho devem observar a utilização obrigatória da expressão “coope- rativa de trabalho”. É recomendável a identificação da atividade econô- mica, o ramo de atuação e também a realização de uma busca de nomes na Junta Comercial do Estado, para verificar a não existência de outra sociedade com a mesma denominação. 5.1.2 Sede Local de funcionamento da cooperativa. 5.1.3 Objeto Social Refere-se ao negócio do empreendimento cooperativo. O negó- cio é a atividade econômica, operação de mercado, que a cooperativa pretende realizar em benefício de seus sócios. De modo geral, o grupo precisa definir se irá ao mercado oferecer e/ou adquirir produtos e/ou serviços. 1 Art. 35 do Decreto 1.800, de 30.01.1996, que dispõe quanto ao “Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins”. Cooperativismo Passo a Passo 39 5.1.4 Dos Sócios Fundadores A qualificação completa dos sócios fundadores: nome, naciona- lidade, idade, estado civil, profissão e residência. Atenção especial dever ser conferida quanto à nacionalidade, pois somente poderão ser cooperados os estrangeiros que possuam per- manência legalizada em território nacional. Cabe ressaltar que a profissão descrita na Ata de Constituição deve ser aquela que o cooperado irá exercer na cooperativa, assim, deverá estar em conformidade com o objeto social. 5.1.5 Aprovação do Estatuto Social O estatuto social deverá ser aprovado na Assembleia de Constitui- ção. Importante salientar que o estatuto social fixaas regras da sociedade. 5.1.6 Direção dos Trabalhos Assembleares Será escolhida uma pessoa para dirigir os trabalhos, denomina- do coordenador, e outra, denominado secretário, para lavrar a respectiva Ata. 5.1.7 Finalidade O motivo pelo quais os interessados se reuniram, ou seja, o fim de constituir uma sociedade cooperativa. 5.1.8 Da Constituição da Sociedade Cooperativa Descrever a denominação da cooperativa, a partir daquela data; endereço da sede; objeto social da mesma, ou seja, descrição em resumo, das operações e serviços que a cooperativa se propõe a executar, prestar ou desempenhar. 5.1.9 Capital É o investimento necessário para viabilizar a constituição e o desenvolvimento da cooperativa, como a compra de equipamentos e rea- Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 40 lização das instalações necessárias ao seu funcionamento. O grupo poderá definir o valor do capital social da cooperativa com maior precisão com base no plano de viabilidade econômica. Lembramos que tal plano deve ser realizado antes mesmo de constituir a cooperativa. 5.1.10 Eleição dos Órgãos Diretivos É necessária a qualificação completa (nome, nacionalidade, idade, estado civil, profissão e residência) dos membros eleitos para os cargos do Conselho de Administração/ Diretoria e Conselho Fiscal. O Conselho de administração/Diretoria será composto por no mínimo, 03 (três) pessoas e seu mandato não poderá ultrapassar o prazo de 04 (quatro) anos. Já o Conselho Fiscal será composto por 06 (seis) membros, sendo 03 (três) efetivos e 03 (três) suplentes, com mandato anual, com exceção das cooperativas de crédito onde o mandato do Con- selho Fiscal poderá ter até 03 (três) anos. No caso das cooperativas de trabalho com menos de 19 (deze- nove) sócios, a lei expressamente autoriza que a composição dos conse- lhos de Administração e Fiscal seja distinta daquela prevista na Lei 5.764/71, obrigando a mesma a manter um número mínimo de 03 (três) conselheiros fiscais e omitindo-se com relação à composição mínima dos demais órgãos sociais. 5.1.11 Sócios Eleitos Deverá ser descrita a qualificação completa (conforme mencio- nado acima) dos eleitos para os cargos sociais ou apenas seus nomes completos, ocasião em que se mencionará “todos devidamente qualifica- dos na presente Ata”, desde que anteriormente qualificado. 5.1.12 Declaração de Desimpedimento Os concorrentes deverão apresentar declaração de desimpedi- mento para os cargos eletivos e declaração de elegibilidade, que mencio- nará o constante no art. 51 da Lei 5.764/71, combinado com § 1º do art. 1.011 do Código Civil Brasileiro. Art. 51 São inelegíveis, além das pessoas impedidas por lei, os conde- nados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a car- gos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou su- Cooperativismo Passo a Passo 41 borno, concussão, peculato, ou contra a economia popular, a fé pú- blica ou a propriedade. Parágrafo único: Não podem compor uma mesma Diretoria ou Con- selho de Administração, os parentes entre si até o 2º (segundo) grau, em linha reta ou colateral. 5.1.13 Posse dos Eleitos A ata deverá declarar empossados os membros eleitos pela As- sembleia em seus respectivos cargos. Vide Anexo I – Modelo da Ata de Constituição. Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 42 Cooperativismo Passo a Passo 43 6 ELABORAÇÃO DO ESTATUTO SOCIAL O estatuto social estabelece as regras da sociedade cooperativa. Ele deve observar a lei e os princípios cooperativistas. É importante que todos os sócios o conheçam, para isso é recomendável que na sua elabo- ração seja adotada uma linguagem clara e concisa. Vide Anexo II – Modelo de Estatuto Social – Cooperativa Sin- gular. Vide Anexo III – Modelo de Estatuto de Central/Federação de Cooperativas. Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 44 Cooperativismo Passo a Passo 45 7 REGISTRO NOS ÓRGÃOS Antes de encaminhar a documentação para o arquivamento no Departamento de Registro Empresarial e Integração – DREI (antigo DNRC – Departamento Nacional de Registro do Comércio), através da Junta Comercial do Estado, o grupo pode obter orientação junto à unida- de estadual da OCB. Essa análise prévia evita dificuldades junto aos ou- tros órgãos e facilita na obtenção do registro como entidade cooperativa. Mais informações, acesse: <www.brasilcooperativo.coop.br>. Em São Paulo, acesse: <www.ocesp.org.br>. Após a realização da Assembleia Geral de constituição é neces- sário providenciar o arquivamento da ata de constituição e do estatuto social no Departamento de Registro Empresarial e Integração, através da Junta Comercial do Estado. Mais informações, acesse: <http://drei.smpe.gov.br>. Em São Paulo, acesse: <www.jucesp.sp.gov.br>. Vide Anexo XLIII – Modelo de Petição de Arquivamento na Junta Comercial. Com o registro na Junta Comercial, a cooperativa deverá obter a inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ, junto à Receita Federal do Brasil. Mais informações, acesse: <www.receita.fazenda.gov.br>. Com o CNPJ, se a cooperativa tiver como atividade a comercia- lização de mercadorias, ou a prestação de serviços de transporte interes- tadual ou intermunicipal ou de comunicação deverá obter a inscrição estadual junto à Secretaria da Fazenda do Estado. Mais informações, acesse: <http://www.fazenda.sp.gov.br>. Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 46 Com o CNPJ, se a cooperativa tiver como atividade econômica a prestação de serviços deverá obter sua inscrição junto a Prefeitura. Além do registro para recolhimento do ISS, a cooperativa deve- rá obter o alvará de funcionamento. A cooperativa deve providenciar também o cadastro junto à Previdência Social. Mais informações, acesse: <http://www.previdenciasocial.gov.br>. As cooperativas devem também realizar seu registro junto à OCB, ou na unidade estadual. Mais informações, acesse: <www.brasilcooperativo.coop.br>. Em São Paulo, acesse: <www.ocesp.org.br>. Obs.: Independente da atividade, a cooperativa deve ter registro nos órgãos citados. O registro em outras instituições irá depender da aná- lise da atividade econômica da cooperativa. Conforme o ramo de sua atuação deverá obter outros registros. Cooperativismo Passo a Passo 47 8 LIVROS OBRIGATÓRIOS 8.1 OBRIGATORIEDADE Os livros sociais servem de prova dos atos sociais, gerando pre- sunção de veracidade. 8.2 COMUNS OU ESPECIAIS Os especiais são os que se referem à atividade econômica da cooperativa, e os comuns são os que devem ser adotados por todas as cooperativas, independentemente do ramo de atuação. 8.3 POSSIBILIDADE DE ADOÇÃO DE LIVROS OU FOLHAS SOLTAS Podem os livros ser substituídos por registros em folhas soltas, por sistemas mecanizados ou por processos eletrônicos de computação de dados. Ressaltamos que cada folha ou ficha deverá ser rubricada ou as- sinada pelo presidente da cooperativa para atestar sua autenticidade. 8.4 NORMAS PARA ESCRITURAÇÃO No Livro de Matrícula, os associados serão inscritos por ordem cronológica de admissão, dele constando: I – o nome, idade, estado civil, nacionalidade, profissão e residência do associado; II – a data de sua ad- missão e, quando for o caso, de sua demissão a pedido, eliminação ou ex- clusão; III – a conta corrente das respectivas quotas-partes do capital social. Vide Anexos XXXI e XXXII – Modelo de Termo de Abertura e Encerramento dos Livros Sociais. Paulo Gonçalves LinsVieira / Andrea Mattos Pinheiro 48 Cooperativismo Passo a Passo 49 9 FUSÃO, INCORPORAÇÃO E DESMEMBRAMENTO Fusão é o ato pelo qual duas ou mais cooperativas formam nova sociedade. Após deliberação da fusão, cada empreendimento cooperativo indicará nomes para comporem uma comissão mista que procederá aos estudos necessários à constituição da nova sociedade, como por exemplo, o levantamento patrimonial, balanço geral, plano de distribuição de quo- tas, destino dos fundos de reserva e outros e o projeto de estatuto. Portanto, a fusão determina a extinção das cooperativas que se uniram para formar a nova sociedade que lhe sucederá nos direitos e obrigações. Vide Anexo XXXVI – Modelos de Edital para Convocação de Assembleia em que se Efetivará a Fusão. Vide Anexo XXXVII – Edital para Convocação da Assembleia que Aprovará o Relatório da Comissão para Fusão. Vide Anexo XXXVIII – Edital para Convocação da Assembleia que Aprovará a Nova Cooperativa. Incorporação é a operação pelo qual uma sociedade absorve o patrimônio de outra, recebe os associados e lhe sucede em todos os direi- tos e obrigações. A incorporação deve observar o mesmo procedimento da fusão. Vide Anexo XXXIX – Modelo – Edital – AGE – Desmem- bramento. Vide Anexo XL – Modelo – Edital Assembleia de Incorporação. Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 50 Desmembramento é a operação pela qual a sociedade transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedade. A transferência pode ser parcial ou total, neste caso extinguirá a sociedade cindida. A cooperativa pode se desmembrar em quantas for necessária pa- ra atender aos interesses dos seus sócios, podendo uma das novas entidades ser constituída como cooperativa central ou federação de cooperativas. Aprovado o desmembramento, a Assembleia designará uma comissão para estudar as providências necessárias à efetivação da medi- da. O relatório apresentado pela comissão, acompanhado dos projetos de estatutos das novas cooperativas, será apreciado em nova Assembleia especialmente convocada para esse fim. Vide Anexo XXXIV – Modelo de Edital – AGE – Desmem- bramento. Cooperativismo Passo a Passo 51 10 DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE Dissolução é o encerramento da pessoa jurídica cooperativa. Nos seguintes casos a cooperativa deverá ser dissolvida: I) quando aprovado pela Assembleia, exceto se cooperados totalizando o número mínimo legal, não se disponham a assegurar a sua continuidade; II) pelo decurso do prazo de duração; III) devido à alteração de sua forma jurídica; IV) pela redução do número mínimo de sócios; V) pela redução do capital social mínimo; VI) pela paralisação de suas atividades por mais de 120 (cento e vinte) dias. Nos casos IV e V, a cooperativa tem até 06 (seis) meses para restabelecer o patamar mínimo. A dissolução pode ser promovida extrajudicialmente ou judicial- mente. Quando a dissolução for extrajudicial, a mesma deve ser aprovada pela Assembleia Geral Extraordinária, com aprovação de 2/3 (dois terços) dos presentes, devendo a mesma nomear um liquidante ou mais, e um Conselho Fiscal de 03 (três) membros para proceder a liquidação. Em todos os atos e operações, os liquidantes deverão usar a de- nominação da cooperativa, seguida da expressão: “Em liquidação”. Os liquidantes terão todos os poderes normais de administração podendo praticar atos e operações necessários à realização do ativo e pagamento do passivo. Solucionado o passivo, reembolsados os cooperados até o va- lor de suas quotas partes e encaminhado o remanescente na forma da lei, convocará o liquidante Assembleia Geral Extraordinária para pres- Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 52 tação final de contas. Aprovadas as contas, encerra-se a liquidação e a sociedade se extingue, devendo a ata da Assembleia ser arquivada na Junta Comercial. Vide Anexo XLI – Modelo de Edital de Convocação de Assem- bleia Geral Extraordinária para Dissolução da Cooperativa. Vide Anexo XLII – Modelo de Termo de Compromisso do Li- quidante. Vide Anexo XLV – Modelo de Circular de Convocação de Credores. Vide Anexo XLVI – Modelo de Requisição de Documentos. Vide Anexo XLIV – Modelo de Auto de Arrecadação do Li- quidante. Vide Anexo XLVII – Modelo de Quadro Geral de Credores. Vide Anexo XLVIII – Modelo de Relatório do Liquidante. Cooperativismo Passo a Passo 53 ANEXOS Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 54 Cooperativismo Passo a Passo 55 I MODELO DE ATA DE CONSTITUIÇÃO Ata da Assembleia Geral de Constituição da Cooperativa ________________________ realizada no dia _____ de _____ de 20__. Aos................dias do mês de...................do ano de dois mil ......, Município de ....................., do Estado de São Paulo, às ................. horas, à Rua (ou avenida) ......................................... nº...................., reuniram- se, em Assembleia Geral para o fim específico de constituir uma socie- dade cooperativa, nos termos da Lei 5.764/71, os seguintes senhores: (descrever nesse campo todos os dados pessoais dos que participaram da reunião) (Nome) ................................., (idade)....... de) .........................., (Estado Civil) .........................., são) ................., RG n º.................., CPF nº ................................, residente e domiciliado na Rua (Avenida)............................ Foi aclamado(a) para presidir a Assembleia, o(a) senhor(a) ............................................., que assumiu a presidência dos trabalhos, convidando o(a) nhor(a) ........................ para secretariá-los e redigir a respectiva Ata, fi- cando, assim, constituída a mesa. Em sequência, o(a) senhor(a) presiden- te, declarando iniciada a sessão, disse que a finalidade da presente reuni- ão era a fundação de uma cooperativa e deliberação sobre o estatuto soci- al que, se aprovado, passará a reger a vida dessa sociedade e as relações dos associados. Em seguida, o(a) senhor(a) presidente solicitou que o projeto do estatuto da cooperativa, cujas cópias foram distribuídas, previ- amente, para exame a cada um dos presentes, fosse lido, explicado e de- batido, o que foi feito artigo por artigo. Terminada a leitura e análise, foi o mesmo posto em discussão e como ninguém manifestou objeção sobre qualquer de seus dispositivos, foi o respectivo estatuto submetido à vota- ção, sendo aprovado por unanimidade. Então, o(a) senhor(a) presidente Paulo Gonçalves Lins Vieira / Andrea Mattos Pinheiro 56 da Assembleia, após consultar os presentes, declarou definitivamente constituída, a partir desta data, a COOPERATIVA (transcrever a deno- minação da cooperativa e sigla, se houver) ................. com sede na cidade de .............................. no estado de São Paulo, tendo por objetivo a pres- tação de serviços aos seus associados e como objeto social (descrever, resumidamente, as operações e serviços que a cooperativa se propõe a executar, prestar ou desempenhar no mercado. Esse objeto será o mesmo descrito no estatuto social já aprovado), sendo seus fundadores, os associ- ados anteriormente discriminados e qualificados no corpo da presente Ata, os quais ora subscrevem, quotas-partes de Capital, como segue e de con- formidade com a respectiva lista nominativa, que fica fazendo parte inte- grante deste Ato Constitutivo: Cada associado subscreveu (número de quo- tas-partes) .....(.............) quotas-partes, no valor unitário de R$ ................. (............),
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