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Apostila de Psicopatologia Prof. Adelmo

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CURSO DE PSICOLOGIA 
PSICOPATOLOGIA 
(SDE 0167) 
TEXTOS DE APOIO 
 
Professor ADELMO GOMES 
adelmoprofessor20151@bol.com.br 
 
 
1 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
CALENDÁRIO ACADÊMICO 2015.1 (6 º PERÍODO) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EMENTA DA DISCIPLINA 
Unidade I - Introdução ao estudo da Psicopatologia e o diagnóstico em Psiquiatria 
1.1 - Histórico e principais correntes em Psicopatologia; 
1.2 - O normal e patológico em Psicopatologia; 
1.3 - Conceituação de doença mental e transtorno psiquiátrico; 
1.4 - Sistemas classificatórios: DSM IV e CID-10; 
1.5 - Entrevista psiquiátrica e exame da doença mental; anamnese psiquiátrica; diagnóstico 
pluridimensional. 
Unidade II - Processos psíquicos e suas alterações 
2.1 - Alterações da consciência (vigilância); 
2.2 - Alterações da atenção; 
2.3 - Alterações da orientação; 
2.4 - Alterações nas vivências de tempo e espaço; 
2.5 - Alterações da sensopercepção (alucinação); 
2.6 - Alterações do pensamento; 
2.7 - Alteração do juízo de realidade (delírio); 
2.8 - Alterações da afetividade; 
 QUARTA-FEIRA SEXTA-FEIRA 
 
FEV 
11 13 Carnaval 
18 Carnaval 20 
25 27 
 
 
MAR 
04 06 
11 13 
18 20 
25 27 
 
 
ABR 
01 03 Paixão 
08 (AV 1) 10 (AV 1) 
15 17 
22 Descobrimento 24 
29 
 
 
MAI 
06 01 Trabalhador 
13 08 
20 15 
27 22 
 29 
 
 
JUN 
03 05 
10 12 
17 (AV 2) 19 (AV 2) 
24 26 
 
JUL 
01 (AV 3) 03 (AV 3) 
08 10 Fim 
2 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
2.9 - Alterações da volição; 
2.10 - Alterações do comportamento motor; 
2.11 – Alterações da linguagem; 
2.12 – Alterações da memória. 
Unidade III - Transtornos de Ansiedade: A ansiedade normal e patológica 
3.1 – Agorafobia; 
3.2 - Transtorno do Pânico; 
3.3 - Fobia Específica; 
3.4 - Fobia Social; 
3.5 - Transtorno de Ansiedade Generalizada; 
3.6 - Transtorno de Estresse Pós-Traumático; 
3.7 - Transtorno Obsessivo-Compulsivo; 
Unidade IV - Transtornos Somatoformes; 
4.1 - Transtorno de Somatização; 
4.2 - Transtorno Conversivo; 
4.3 - Transtorno de Dor Psicogênica; 
4.4 - Transtorno Factício; 
Unidade V - Transtornos de Personalidade e Transtornos de Ajustamento 
5.1 - Transtornos de personalidade e psicopatias; 
5.2 - Transtornos de ajustamento; 
Unidade VI - Transtornos do Humor 
6.1 – Distimia; 
6.2 – Ciclotimia; 
6.3 - Transtorno Bipolar; 
6.4 - Transtorno Depressivo Maior; 
Unidade VII - Transtornos Psicóticos 
7.1 – Esquizofrenia; 
7.2 - Outros transtornos psicóticos; 
Unidade VIII - Transtornos relacionados ao uso de substâncias 
8.1 - Conceitos gerais (uso social, abuso, dependência, síndrome de abstinência); 
8.2 - Transtornos relacionados ao álcool; 
8.2 - Transtornos relacionados à anfetamina e cocaína; 
8.3 - Transtornos relacionados à cannabis e alucinógenos; 
8.4 - Transtornos relacionados à cafeína e nicotina; 
8.5 - Transtornos relacionados aos inalantes. 
*** 
3 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
Considerações preliminares 
A expressão psicopatologia origina-se de três afixos gregos: “pshiché” – 
psiquismo, psiquê, psíquico; “pathos” – paixão, sofrimento e, “logos” – 
discurso, conhecimento. 
[...] A psicopatologia pode ser definida como o conjunto de conhecimentos 
referentes ao adoecimento mental do ser humano. É um conhecimento que se 
esforça por ser sistemático, elucidativo e desmistificante. Como conhecimento que visa ser 
científico, não inclui critérios de valor, nem aceita dogmas ou verdades a priori. O psicopatólogo 
não julga moralmente o seu objeto, busca apenas observar, identificar e compreender os diversos 
elementos da doença mental. 
A psicopatologia estuda especialmente os transtornos, não a sua causa ou tratamento. Procura, 
portanto, estudar as manifestações clínicas das doenças mentais. 
É um estudo descritivo dos transtornos, então não é explicativo. 
 
Nesse sentido, a psicopatologia possui uma natureza semiológica, ou seja, a de um estudo dos 
sinais e sintomas dos transtornos mentais (ou patognomonia). 
 
O que são doenças mentais? 
Transtornos caracterizados por [signos] psicológicos, comportamentos anormais, 
funcionamento prejudicado ou qualquer combinação destes. Tais transtornos podem 
causar sofrimento clinicamente significativo e prejuízo em uma variedade de esferas 
de funcionamento e podem ser devidos a fatores orgânicos, sociais, genéticos, 
químicos ou psicológicos. (adaptado APA, 2010, p. 984-5) 
As doenças mentais podem ter uma base orgânica (genética/neurológica/cerebral) 
conhecida (por exemplo, as demências nas doenças de Alzheimer e de Parkinson), presumida (por 
exemplo, a Esquizofrenia
1
 e o Transtorno Afetivo Bipolar) ou desconhecida/inexistente (por 
exemplo, nas neuroses). No entanto, no estudo das causas das doenças mentais a influência do 
ambiente (relações familiares, traumas emocionais, condições socioeconômicas e culturais etc.) 
deverá sempre ser levada em consideração, sob pena de se cair num discurso organicista de cunho 
determinista. 
Ou seja, ao se avaliar uma doença, a partir de uma perspectiva multidimensional, três fatores 
precisam ser considerados. São eles: (1) as possíveis predisposições genéticas (temperamento, 
doenças genéticas etc.), (2) as influências ambientais (relações de afeto, educação, socialização, 
eventos ocorridos etc.) e, (3) as estruturas psicológicas constituídos e desenvolvidas (caráter, 
inteligência, psicopatologias etc.). 
 
1
 Vide artigo sobre as causas genéticas da Esquizofrenia – pág. 195. 
4 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
Sinais e sintomas 
Os sinais e os sintomas
2
 representam os signos da psicopatologia [...]. Os 
sintomas são subjetivos (vivências, sensações e impressões) e aparecem 
nas queixas do paciente. Dor, o sentimento de tristeza e a escuta 
alucinatória, por exemplo, são sintomas. Já os sinais são objetivos, ou seja 
são verificáveis pela observação direta. Eles podem ser detectados por outra 
pessoa, às vezes pelo próprio paciente. [...] uma fácies de tristeza e o solilóquio (falar sozinho) são 
sinais. (CHENIAUX, 2013, p. 4). Síndrome é um agrupamento de sintomas e sinais que ocorrem 
juntos e que constituem uma condição reconhecível com etiologias e mecanismos diversos.
3
 
 
Sintomas positivos e negativos 
Sintomas Positivos – [...] estão relacionados diretamente ao surto psicótico4. Entende-se por surto 
psicótico um estado mental agudo caracterizado por grave desorganização psíquica e fenômenos 
delirantes e/ou alucinatórios, com perda do juízo crítico da realidade. A capacidade de perder a 
noção do que é real e do que é fantasia, criação da mente da própria pessoa, é um aspecto muito 
presente nos quadros agudos da esquizofrenia. [...] 
Sintomas Negativos – [...] estão mais relacionados à fase crônica da esquizofrenia. Embora 
possam ocorrer na fase aguda, eles se estendem por mais tempo e predominam a longo prazo. Esses 
sintomas são chamados também de deficitários, como referência à deficiência de algumas funções 
mentais, como a vontade e a afetividade. 
(http://entendendoaesquizofrenia.com.br/website/?page_id=144) 
 
Transfundos das Vivências Psicopatológicas e Sintomas Emergentes
5
 
Desenvolvendo o modelo sugerido por autores como Jaspers, Schineider e Weitbrecht, propõe-se 
aqui situaras vivências psicopatológicas em duas perspectivas fundamentais: têm-se de um lado, os 
transfundos das vivências psicopatológicas, espécie de palco, de contexto mais geral, em que 
emergem os sintomas. De outro, reconhecem-se os sintomas específicos vivenciados, denominados 
sintomas emergentes
6
. Eles são, portanto, vivências pontuais, que ocorrem sempre sobre 
determinado transfundo. Esse transfundo, por sua vez, influencia basicamente o sentido, a direção, a 
qualidade específica do sintoma emergente. Há uma relação dialética entre o sintoma emergente e 
o transfundo, entre a figura e o fundo, a parte e o todo, o pontual e o contextual. 
Nesse modelo, discriminam-se dois tipos básicos de transfundo: os estáveis e duradouros e os 
mutáveis e momentâneos: 
1. Os transfundos estáveis, pouco mutáveis, são a personalidade e a inteligência. Qualquer 
vivência ganha conotação diferente a partir da personalidade específica do indivíduo. 
Pacientes passivos, dependentes, astênicos e ‘largados’ tendem a vivenciar os sintomas de 
modo também passivo; já indivíduos explosivos, hipersensíveis e muito reativos a diferentes 
 
2
 Do grego símptoma, significando acontecimento, o que ocorre. 
3
 Lowenkron, T. 2007. 
Com relação aos signos psicopatológicos (sinais e sintomas), caberia a menção dos conceitos de simulação (forjar, 
teatralizar, fingir algum sinal ou sintoma psicopatológico) e de dissimulação (encobrir, disfarçar, esconder algum sinal 
ou sintoma psicopatológico). 
4
 Vide item na página 8 desta apostila. 
5
 Adaptado de DALGALARRONDO, 2008, p. 293-9. (Negritos e acréscimos foram feitos pelo professor da matéria) 
6
 Observe que no caso das psicoses, os sintomas emergentes são classificados como positivos e negativos, conforme 
visto anteriormente. 
5 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
estímulos tendem a responder aos sintomas de forma mais viva e ampla, e assim por diante. 
A inteligência determina essencialmente os contornos, a diferenciação, a profundidade e a 
riqueza de todos os sintomas. Pacientes muito inteligentes produzem, por exemplo, delírios 
ricos e complexos, interpretam constantemente as suas vivências e desenvolvem as 
dimensões conceituais das vivências de forma mais acabada. Sujeitos com inteligência 
reduzida criam quadros psicopatológicos indiscriminados, sem detalhes, superficiais e 
pueris. 
2. Os transfundos mutáveis e momentâneos também atuam decisivamente na determinação 
da qualidade e no sentido do conjunto das vivências psicopatológicas. O nível de 
consciência estabelece a clareza e a precisão dos sintomas. Sob o estado de turvação, uma 
alucinação auditiva ou visual, uma recordação, um sentimento específico são 
experimentados em uma atmosfera mais onírica e confusa. O humor e o estado afetivo-
volitivo momentâneo influem decisivamente não apenas no desencadeamento de sintomas 
(os chamados sintomas catatímicos
7
), mas também no colorido específico de sintomas não 
diretamente deriváveis do estado afetivo. Uma ideia prevalente, em um contexto ansioso 
intenso, pode ganhar dimensões muito próprias. Em um estado depressivo, qualquer 
dificuldade cognitiva passa a ter uma importância enorme para o paciente. 
 
Sintomas emergentes são todas aquelas vivências psicopatológicas mais destacadas, 
individualizáveis, que o paciente experimenta. Incluem as esferas que não fazem parte dos 
transfundos, como uma alucinação (sensopercepção), um sentimento (afetividade), um delírio 
(juízo), uma paramnésia (memória), uma alteração do pensamento ou da linguagem, etc.
8
 
 
 
7
 Catatimia - 1. Entidade psiquiátrica que se manifesta paroxisticamente como crises passageiras, ditas catatímicas, e 
que se caracteriza por intensa alteração do humor, seja no sentido da depressão, da expansão ou da passividade, não 
levando, contudo, à melancolia, à mania ou à esquizofrenia. 2. Influência que exerce o estado afetivo sobre as demais 
funções psíquicas. (Aurélio) 
8
 DALGALARRONDO, p., 2008, p. 293-4) 
6 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
Transfundos e Sintomas Emergentes 
 
Componentes do surgimento, da constituição e da manifestação dos sintomas e transtornos 
 
Evolução Temporal dos Transtornos Mentais 
 
CURSOS CRÔNICOS DOS TRANSTORNOS MENTAIS
9
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9
 Adaptado de DALGALARRONDO, 2008, p. 296-9. (Negritos e acréscimos foram feitos pelo professor da matéria) 
PROCESSO 
DESENVOLVIMENTO 
(ou, EVOLUÇÃO) 
Crises (ou, Ataques) 
Episódios 
Reação Vivencial Anormal 
Fase 
Surto 
Fenômenos Agudos ou 
Subagudos 
- Personalidade pré-mórbida; 
- Sinais prodrômicos; 
- Remissão; 
- Recuperação; 
- Recaída ou Recidiva; 
- Recorrência. 
7 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
Processo 
Processo refere-se a uma transformação lenta e insidiosa da personalidade, decorrente de alterações 
psicologicamente incompreensíveis, de natureza endógena. O processo irreversível, supostamente 
de natureza corporal (neurobiológica), rompe a continuidade do sentido normal do desenvolvimento 
biográfico de uma pessoa. Utiliza-se o termo processo, por exemplo, para caracterizar a natureza de 
uma esquizofrenia de evolução insidiosa [doentia, maléfica], que lenta e radicalmente transforma a 
personalidade do sujeito acometido. 
 
Desenvolvimento (ou, Evolução) 
Desenvolvimento refere-se à evolução psicologicamente compreensível de uma personalidade. Essa 
evolução pode ser normal, configurando os distintos traços de caráter do individuo, ou anormal, 
deter minando os transtornos da personalidade e as neuroses. Nesse caso, há uma conexão de 
sentido, uma trajetória compreensível ao longo da vida do sujeito. Fala-se, então, em 
‘desenvolvimento paranoide’, ‘desenvolvimento histriônico’, ‘desenvolvimento hipocondríaco’, etc. 
 
Crise (ou, Ataque) 
A crise, ou ataque, caracteriza-se, em geral, por surgimento e término abruptos, durando 
segundos ou minutos, raramente horas. Utilizam-se os termos crise ou ataque para fenômenos 
como: crises epilépticas, crises ou ataques de pânico, crises histéricas, crises de agitação 
psicomotora, etc. 
 
Episódio 
O episódio tem geralmente a duração de dias até semanas. Tanto o termo crise como o termo 
episodio nada especificam sobre a natureza do fenômeno mórbido. Os termos episodio e crise são 
denominações referentes apenas ao aspecto temporal do fenômeno. Na pratica, é comum utilizar-
se o termo episodio de forma inespecífica, quando não há condições de precisar a natureza do 
fenômeno mórbido. Assim, pode-se falar em episodio maniatimorfo, episodio paranoide, episodio 
depressivo, etc. 
 
Personalidade pré-mórbida e sinais pré-mórbidos 
A personalidade pré-mórbida e os sinais pré-mórbidos são aqueles elementos identificados em 
períodos da vida do paciente claramente anteriores ao surgimento da doença propriamente 
dita, em geral na infância. Já pertencendo ao início do transtorno, fala-se em sinais e sintomas 
prodrômicos10, que representam de fato a fase precoce, inicial do adoecimento. 
A literatura psiquiátrica, principalmente a de língua inglesa, utiliza os seguintes termos em relação 
ao curso dos episódios de transtornos mentais: 
 
Remissão (remission). É o retorno ao estado normal tão logo acaba o episódio agudo. Fala-se em 
remissão espontânea quando o paciente se recupera sem o auxílio de intervenção terapêutica.Recuperação (recovery). É o retorno e a manutenção do estado normal, já tendo passado um bom 
período de tempo (geralmente se considera um ano) sem que o paciente apresente recaída do 
quadro. 
 
10
 Pródromo - Fenômeno clínico que revela o início de uma doença; propatia. 
8 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
Recaída ou recidiva (relapse). É o retorno dos sintomas logo após haver ocorrido uma melhora 
parcial do quadro clínico [...] (não tendo passado um ano do episódio agudo). 
 
Recorrência (recurrence). É o surgimento de um novo episódio, tendo o indivíduo estado 
assintomático por um bom período (pelo menos por cerca de um ano). Pode-se dizer que a 
recorrência é um novo episódio da doença. 
 
 
Reação Vivencial Anormal 
A reação vivencial anormal caracteriza-se por ser um fenômeno psicologicamente compreensível, 
desencadeado por eventos vitais significativos para o individuo que os experimenta. É designada 
reação anormal pela intensidade muito marcante e duração prolongada dos sintomas. Ocorre 
geralmente em personalidades vulneráveis, predispostas a reagir de forma anormal a certas 
ocorrências da vida. Após a morte de uma pessoa próxima, da perda do emprego ou do divórcio, o 
individuo reage, por exemplo, apresentando um conjunto de sintomas depressivos ou ansiosos, 
sintomas fóbicos ou mesmo paranóides. A reação vivencial pode durar semanas ou meses, 
eventualmente alguns anos. Passada a reação vivencial, o individuo retorna ao que era antes, sua 
personalidade não sofre ruptura; pode empobrecer-se ou enriquecer-se, mas não se modifica 
radicalmente. 
 
Fase 
Já a fase refere-se particularmente aos períodos de depressão e de mania dos transtornos 
afetivos. Passada a fase, o individuo retorna ao que era antes dela, sem alterações duradouras na 
personalidade, ou seja, não há sequelas na personalidade. A fase é, em sua gênese, incompreensível 
psicologicamente, tendo um caráter endógeno. Uma fase pode durar semanas ou meses, menos 
frequentemente, anos, havendo sempre (ou quase sempre) restitutio ad integrum
11
. Fala-se, então, 
em fase depressiva, fase maníaca e período interfásico assintomático. 
 
Surto 
O surto, segundo a noção da patologia geral (mas assumida pela psicopatologia), é uma ocorrência 
aguda, que se instala de forma repentina, fazendo eclodir uma doença de base endógena, não 
compreensível psicologicamente. O característico do surto é que ele produz sequelas irreversíveis, 
danos à personalidade e/ou à esfera cognitiva do individuo. Assim como, após o primeiro surto de 
esclerose múltipla, o paciente ‘sai’ com alguma sequela sensitiva ou motora, após o primeiro surto 
de esquizofrenia (com alucinações, delírios, percepção delirante, etc.), que pode durar de 3 a 4 
meses, por exemplo, o individuo ‘sai diferente’, seu contato com os amigos torna-se mais 
distanciado, o afeto modula menos, e ele tem dificuldades na vida social, as quais não consegue 
explicar ou entender. É o ‘déficit pós-esquizofrênico’, devido àquilo que Bleuler afirmava: ‘A 
esquizofrenia, de modo geral, não permite restitutio ad integrum’. Tem-se, portanto, como 
possibilidades, um surto esquizofrênico agudo, um surto hebefrênico, um surto catatônico, etc. 
Após vários anos de doença, nos quais vários surtos foram se sucedendo (ou um processo insidioso 
foi se implantando de forma lenta), em geral o paciente encontra-se no chamado estado residual da 
 
11
 Restitutio ad integrum - Regresso ou retorno completo à normalidade ou à integridade. 
9 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
doença, apresentando apenas sinais e sintomas que são sequelas desta, sintomas 
predominantemente negativos. 
Dessa forma, é incorreto falar em surto maníaco [pois o surto, no exemplo dado, é bipolar], fase 
esquizofrênica [pois fase refere-se a períodos dos transtornos afetivos, conforme visto 
anteriormente, e não à doença], crise maníaca [pois a crise, ou ataque, refere-se ao que foi visto 
anteriormente]; tal uso revela o desconhecimento da terminologia e dos conceitos psicopatológicos 
básicos. 
 
Forma e conteúdo dos signos psicopatológicos 
Em geral, quando se estudam os sintomas psicopatológicos, dois aspectos básicos costumam ser 
enfocados: a forma dos sintomas, isto é, sua estrutura básica, relativamente semelhante nos 
diversos pacientes (alucinação, delírio, ideia obsessiva, labilidade afetiva etc.), e seu conteúdo, ou 
seja, aquilo que preenche a alteração estrutural (conteúdo de culpa, religioso, de perseguição, etc.). 
Este último é geralmente mais pessoal, dependendo da história de vida do paciente, de seu universo 
cultural e da personalidade prévia do adoecimento. 
De um modo geral, os conteúdos dos sintomas estão relacionados aos temas centrais da existência 
humana, tais como sobrevivência e segurança, sexualidade, temores básicos (morte, doença, 
miséria, etc.), religiosidade, entre outros. Esses temas representam uma espécie de substrato, que 
entra como ingrediente fundamental na constituição da experiência psicopatológica. 
(DALGALARRONDO, 2008, p. 28) 
 
Sistemas classificatórios: DSM 5 e CID-10
12
 
São dois os principais sistemas classificatórios: 
1º) A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, da 
Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente em sua 10ª revisão – 
CID – 10 e, 
2ª) A Diagnostic and Statiscal Manual of Mental Disorders, da American 
Psychiatric Association atualmente em sua 5ª edição – DSM – V. 
 
 
12
 Toda classificação não é o resultado de um trabalho exclusivamente científico ou apenas um instrumento político; ela 
é o conjunto, de modo geral, desses fatores. Cabe aos que produzem as classificações e aos que se utilizam delas que 
estejam cientes desses propósitos, de suas finalidades e de seus limites. (Lowenkron, T. 2007) 
10 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
Classificação Geral das Doenças Mentais 
 
Conceituação 
a. Oligofrenias (ou, Retardos Mentais) 
Oligofrenia é sinônimo de Deficiência ou Retardo Mental. A característica essencial do Retardo 
Mental é um funcionamento intelectual significativamente inferior à média, acompanhado de 
limitações significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de 
habilidades: comunicação, autocuidados, vida doméstica, habilidades sociais/interpessoais, uso de 
recursos comunitários, autossuficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança. 
O início deve ocorrer antes dos 18 anos. O Retardo Mental possui muitas causas diferentes que 
afetam o funcionamento do sistema nervoso central. 
O funcionamento intelectual geral é definido pelo quociente de inteligência (QI ou equivalente) 
obtido mediante avaliação com um ou mais testes de inteligência padronizados de administração 
individual (por ex., Escalas Wechsler de Inteligência para Crianças — Revisada, Stanford-Binet, 
Bateria Kaufman de Avaliação para Crianças). Um funcionamento intelectual significativamente 
abaixo da média é definido como um QI de cerca de 70 ou menos (aproximadamente 2 desvios-
padrão abaixo da média). 
Cabe notar que existe um erro de medição de aproximadamente 5 pontos na avaliação do QI, 
embora este possa variar de instrumento para instrumento (por ex., um QI de 70 na escala Wechsler 
é considerado como representando uma faixa de 65-75). Portanto, é possível diagnosticaro Retardo 
Mental em indivíduos com QIs entre 70 e 75, que exibem déficits significativos no comportamento 
adaptativo. Inversamente, o Retardo Mental não deve ser diagnosticado em um indivíduo com um 
QI inferior a 70, se não existirem déficits ou prejuízos significativos no funcionamento adaptativo. 
(http://www.psiqweb.med.br) 
 
11 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
b. Demências 
A demência não é apenas um tipo de doença, ela é considerada uma síndrome, ou 
seja, é um grupo de sinais físicos e sintomas que a pessoa apresenta, estando 
presente em várias doenças diferentes. Assim, como uma síndrome a Demência 
apresenta três características principais. 
Prejuízo da memória. Os problemas de memória podem ser desde um simples 
esquecimento leve até um prejuízo severo a ponto de não se recordar da própria 
identidade. 
Problemas de comportamento. Normalmente se caracteriza por agitação, insônia, choro fácil, 
comportamentos inadequados, perda da inibição social normal, alterações de personalidade. 
Perda das habilidades. São as habilidades adquiridas durante a vida, tais como, organizar os 
compromissos, dirigir, vestir a roupa, cuidar da vida financeira, cozinhar, etc. 
Os sintomas iniciais de Demência variam, mas a perda de memória em curto prazo costuma ser a 
característica principal ou única a ser trazida à atenção do médico na primeira consulta. Ainda 
assim, nem todos os problemas cognitivos nos idosos são devidos a Demência. Perguntas 
cuidadosas aos pacientes e aos familiares podem ajudar a determinar a natureza do 
comprometimento cognitivo e a estreitar o diagnóstico. 
Os sintomas mais comuns que aparecem nas Demências são: 
1- déficit de memória; 
2- dificuldades de executar tarefas domésticas; 
3- problema com o vocabulário; 
4- desorientação no tempo e espaço; 
5- incapacidade de julgar situações; 
6- problemas com o raciocínio abstrato; 
7- colocar objetos em lugares equivocados; 
8- alterações de humor de comportamento; 
9- alterações de personalidade; 
10- perda da iniciativa – passividade. 
Existem muitas doenças ou alterações orgânicas capazes de levar a um quadro demencial. Muitas 
dessas causas relacionadas à Demência são reversíveis, principalmente o uso prolongado de alguns 
medicamentos, como por exemplo, drogas usadas para hipertensão arterial, diuréticos, alguns 
hipnóticos. A depressão também pode esta associada à Demência. Muitas vezes, diferenciar a 
Demência da depressão é uma tarefa difícil e que apresenta muitos obstáculos. Outras doenças 
relacionadas com a Demência são: 
doenças vasculares do sistema nervoso central – SNC, 
doenças infecciosas, 
hipotireoidismo, 
deficiência de vitamina B12, 
Síndrome de Wernic-Korsacoff, 
sífilis e HIV no SNC, 
doenças degenerativas do SNC (doenças inflamatórias, atrofias etc.) 
(adaptado de http://www.psiqweb.med.br/) 
 
 
12 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
c. Psicoses 
Psicoses são distúrbios psiquiátricos graves onde o paciente perde contato 
com a realidade, emite juízos falsos (delírios), podendo também apresentar 
alucinações (ter percepções irreais quanto a audição, visão, tato), distúrbios 
de conduta levando à impossibilidade de convívio social, além de outras 
formas bizarras de comportamento. 
O termo Psicose (e sintomas psicóticos) é empregado para se referir à perda do juízo da realidade e 
um comprometimento do funcionamento mental, social e pessoal, normalmente levando a um 
prejuízo no desempenho das tarefas e papéis habituais. 
As Psicoses podem ter várias origens: por lesões cerebrais, tumores cerebrais, esquizofrenia, 
tóxicos, álcool, infecções, traumas emocionais etc. Algumas Psicose são incuráveis, outras 
apresentam cura completa. Quase sempre requer tratamento à base de psicotrópicos. Nem sempre é 
necessária a internação. Nas psicoses agudas, as psicoterapias são pouco indicadas. 
[No DSM-5, os Transtornos Psicóticos incluem: Transtorno Psicótico Breve, Transtorno 
Esquizofreniforme, Esquizofrenia, Transtorno Esquizoafetivo, Transtorno Psicótico Induzido por 
Substância/Medicamento, Transtorno Psicótico Devido a Outra Condição Médica, Catatonia13 
Associada a Outro Transtorno Mental, Transtorno Catatônico Devido a Outra Condição Médica, 
Catatonia Não Especificada, Outro Transtorno do Espectro da Esquizofrenia e Outro Transtorno 
Psicótico Especificado, Transtorno do Espectro da Esquizofrenia e Outro Transtorno Psicótico Não 
Especificado.] 
Na CID.10 os Transtornos Psicóticos são classificados como (F20-F29) esquizofrenia, transtornos 
esquizotípicos e transtornos delirantes. Este agrupamento reúne a esquizofrenia, a categoria mais 
importante deste grupo de transtornos, o transtorno esquizotípico e os transtornos delirantes 
persistentes e um grupo maior de transtornos psicóticos agudos e transitórios. Os transtornos 
esquizoafetivos foram mantidos nesta seção, ainda que sua natureza permaneça controversa.” 
(http://www.psiqweb.med.br/) 
A perspectiva psicanalítica em relação às psicoses propõe existir um terrível conflito entre o ego 
e o mundo externo. Incapaz de mediar satisfatoriamente tais circunstâncias o ego criaria uma nova 
realidade, uma realidade delirante e alucinadamente de acordo com os impulsos do Id. 
“O efeito patogênico depende do ego, numa tensão conflitual desse tipo, permanecer fiel à sua 
dependência do mundo externo e tentar silenciar o id, ou se ele se deixar derrotar pelo id e, 
portanto, ser arrancado da realidade.” Inicialmente, Freud propõe que na neurose existe uma luta 
vitoriosa contra a perda da realidade, enquanto na psicose a perda é irremediável. Posteriormente, 
através da observação clínica, ele conclui no texto “A Perda da Realidade na Neurose e na Psicose” 
que tanto na neurose quanto na psicose existe uma perturbação da relação do sujeito com a 
realidade. “Na neurose, um fragmento da realidade é evitado por uma espécie de fuga, ao passo que 
na psicose ele é remodelado... a neurose não repudia a realidade, apenas a ignora: a psicose a 
repudia e tenta substituí-la”. (Freud, 1924, pág. 231) [...] 
Para Freud, o ponto central de sua observação é que em ambas as estruturas o mais importante não 
 
13
 Catatonia - Fenômeno esquizofrênico caracterizado por perda da iniciativa motora e certo grau de tensão muscular, 
atitude fixa, fenômenos cinéticos e automáticos paradoxais, e, às vezes, estupor, mutismo e negativismo. 
13 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
é a questão relativa à perda da realidade, mas sim os substitutos encontrados. Na neurose, o 
substituto encontrado ocorre via mundo da fantasia; já na psicose, os substitutos são delírio e 
alucinação.
14
 
 
d. Neuroses 
[...] A neurose é uma reação exagerada do sistema emocional em relação a uma 
experiência vivida (Reação Vivencial). Neurose é uma maneira da pessoa SER e 
de reagir à vida. Quando se diz que a pessoa É neurótica e não ESTÁ neurótica, 
está se tentando dizer que a neurose é uma maneira da pessoa ser, associada a 
traços de sua personalidade. Essa maneira de ser neurótica significa que a pessoa 
reage à vida através de reações vivenciais não normais; seja no sentido dessas 
reações serem desproporcionais, seja pelo fato de serem muito duradouras, seja 
pelo fato delas existirem mesmo sem que exista uma causa vivencial aparente. 
Essa maneira exagerada de reagir leva a pessoa neurótica a adotar uma serie de comportamentos 
compatíveis com o que está sentindo. Cada tipo de transtorno neurótico tem seus sintomas, suas 
atitudes e sentimentos;o quadro das neuroses é muito variável. 
Na realidade os quadros neuróticos estão descritos em várias seções, tais como Ansiedades e 
Fobias, Depressão, Estresse, Histeria e afins, Obsessões e Compulsões e outros. 
O neurótico tem plena consciência do seu problema e muitas vezes, sente-se impotente para 
modificá-lo. [...] 
(adaptado de http://www.psiqweb.med.br/) 
Sob o ponto de vista psicanalítico, as neuroses corresponderiam, então, “numa divisão entre o 
afeto e a ideia. O afeto permanece na esfera psíquica, enquanto a ideia passa a ser enfraquecida e 
permanece na [recalcada no inconsciente], separada de qualquer associação. Para Freud, o afeto 
apresenta um destino diferenciado.
15
 
‘Mas seu afeto, tornado livre, liga-se a outras ideias que não lhe sejam incompatíveis; e, graças a 
essa ‘falsa conexão’, tais ideias desenvolvem-se como obsessivas. Essa é, em poucas palavras, a 
teoria psicológica das obsessões e fobias...’ (Freud,1894, pág. 64) 
Nesse texto encontra-se a afirmativa de que a histeria, as fobias e obsessões acham-se diretamente 
relacionadas a ideias sexuais reprimidas. 
No artigo “hereditariedade e a etiologia das Neuroses”, de 1896, Freud reafirma que a origem das 
neuroses está vinculada à vida sexual: 
‘Baseado em uma laboriosa observação dos fatos, devo sustentar que essa última suposição 
concorda e muito com a realidade, pois cada uma das neuroses maiores que enumerei têm como sua 
causa imediata um distúrbio particular da economia do sistema nervoso, e que essas modificações 
patológicas funcionais têm como fonte comum a vida sexual do sujeito, sejam apoiadas em uma 
perturbação de sua vida sexual contemporânea ou em fatos importantes do passado.’ (Freud,1896, 
pág. 171/172)
16
 
 
 
 
14
 Adaptado de OLIVEIRA, M.S.B., O conceito das estruturas clínicas neurose e psicose para a psicanálise. [s.d.], 
p. 120. 
15
 Estas ideias correspondem ao que se conceitua em psicanálise de “Solução de Compromisso” nas neuroses. 
16
 OLIVEIRA, M.S.B., O conceito das estruturas clínicas neurose e psicose para a psicanálise. [s.d.], p. 120. As 
chaves são do professor. 
14 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
e. Transtornos de personalidade 
Pessoas explosivas, teatrais, sistemáticas, meticulosas, obsessivas, cismadas, 
muito emotivas e outros tipos difíceis de conviver sugerem, intuitivamente 
para todos nós, tratar-se de uma maneira de SER assim e não de ESTAR 
assim. Ao longo da vida essas pessoas podem melhorar, através de muito 
empenho e vontade de morrer melhor do que nasceram. Outras estacionam, 
petrificadas para sempre, sofrendo e fazendo sofrer. 
Henri Ey considera algumas pessoas portadoras de um Ego Patológico, caracterizando não apenas 
uma maneira de ESTAR no mundo, mas sobretudo, uma maneira de SER no mundo. Karl Jaspers 
afirma serem anormais as personalidades que fazem sofrer, tanto a pessoa quanto quem a rodeia. 
Para Jaspers, as personalidades anormais representam variações não-normais da natureza humana, 
as quais podem perfeitamente ser entendidas como Transtornos de Personalidade (TP). 
Diz a CID.10 que os transtornos de personalidade são estados e tipos de comportamentos 
característicos que expressam maneiras da pessoa viver e de estabelecer relações consigo 
mesma e com os outros. São distúrbios da constituição e das tendências comportamentais – 
continua dizendo a CID.10 – não diretamente relacionados a alguma doença, lesão, afecção 
cerebral ou a outro transtorno psiquiátrico. Isso tudo quer dizer que a pessoa simplesmente é 
desse jeito e será sempre assim.
17
 
Habitualmente os transtornos da personalidade se acompanham de sofrimento e de 
comprometimento no desempenho global da pessoa. Aparecem precocemente durante o 
desenvolvimento individual sob a influência de múltiplos fatores, sejam constitucionais, sociais ou 
existenciais.
18
 Depois de solidificado este conjunto de traços pessoais, tal como uma 
personalidade normal, persistirá indefinidamente. 
Entretanto, dependendo da cognição, juízo crítico, conhecimento e disposição ao entendimento, tais 
estados supostamente pétreos podem seguir por caminhos mais favoráveis e de menor sofrimento, 
tanto para a pessoa deles portadora, quanto dos demais à sua volta. Sabendo lidar com essa questão 
a pessoa poderá se adaptar perfeitamente a sua maneira de ser, poderá disciplinar pulsões, esquemas 
de pensamentos, impulsos específicos desses transtornos, e tal manejo poderá ser de tal forma 
eficiente que a qualidade da vida emocional será muito melhorada. 
De fato, o que denomina, classifica ou dá o nome ao transtorno da personalidade é a 
predominância de determinados traços, os quais todos nós os temos em dose diminuta. Todos 
temos algo de histéricos, uma pitada de paranoia, traços de ansiedade, e assim por diante. 
Entretanto, no transtorno da personalidade tais traços são predominantes e dominam tiranamente a 
maneira de ração dessas pessoas de forma a causar sofrimento (na pessoa e/ou naqueles próximos) e 
comprometer o desempenho. 
[...] A Organização Mundial de Saúde (OMS) trata do assunto sob o titulo de Transtornos da 
Personalidade e de Comportamento, especificando-os nos códigos F60 até F69 na CID-10. A OMS 
descreve tais transtornos da seguinte maneira: 
‘Estes tipos de condição abrangem padrões de comportamento permanentes e profundamente 
arraigados no ser que se manifestam como respostas inflexíveis a uma ampla série de situações 
 
17
 Este trecho nos sugere uma causa genética/orgânica para os diversos Transtornos de Personalidade. 
18
 Observe que neste trecho, diferentemente dos demais, cogitam-se causas sociais e existenciais para os TP. Isto nos 
sugere uma possível falta de consenso entre os autores psiquiátricos. Note-se, no entanto, que a tendência predominante 
em psiquiatria, em relação às causas dos TP, é a de atribuir às causas genéticas/orgânicas. 
15 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
pessoais e sociais. Elas representam desvios extremos ou significativos do modo como o 
indivíduo médio, em uma dada cultura, percebe, pensa, sente e, particularmente, se relaciona 
com os outros’. 
Quando a OMS diz ‘...permanentes e profundamente arraigados no ser...’ ela quer dizer que se trata 
de uma característica definitiva. Uma pessoa obsessiva, meticulosa, perfeccionista e rígida com 
problemas de adaptação, por exemplo, pode mudar sua maneira de ser para melhor refazendo 
algumas crenças pessoais e atitudes comportamentais no sentido de construir melhor relação 
consigo mesma, com os outros e com a vida, embora continue sendo menos obsessiva, menos 
meticulosa, menos perfeccionista e menos rígida. Acontecendo assim a pessoa deixará de ter um 
transtorno de personalidade para ter apenas traços obsessivos, traços perfeccionistas e assim por 
diante. 
As características de personalidade por si só não caracterizam um Transtorno de 
Personalidade, elas são os traços, ou seja, padrões duradouros de percepção, relação e 
pensamento acerca do ambiente e de si mesmo, e são exibidos numa ampla faixa de contextos 
sociais e pessoais importantes. É somente quando as características de personalidade são 
inflexíveis e desadaptadas, causando um comprometimento significativo no desempenho da 
pessoa é que elas podem constituir-se em Transtornos da Personalidade. 
Os Transtornos de Personalidade, ainda segundo a CID-10, são condições do desenvolvimento da 
personalidade que aparecem na infância ou adolescência e continuam pela vida adulta. Esta 
condição constitucional e biológicade desenvolvimento diferencia o Transtorno da Alteração 
da Personalidade. A Alteração da Personalidade ocorre durante a vida em consequência de 
algum outro transtorno emocional, dependência química, traumatismo craniano, tumores, 
infecções cerebrais, etc. 
Enfatizando, os Transtornos de Personalidades são perturbações graves da constituição do 
caráter e das tendências comportamentais [atitudes], portanto, não são adquiridas no meio tal 
como as Alterações da Personalidade
19
. A CID-10 apresenta entre os títulos F60 e F69 uma 
grande variedade de subtipos de Transtornos de Personalidade. [...] 
A Associação Norte-americana de Psiquiatria, através de seus critérios de classificação e 
diagnóstico de transtornos mentais, o DSM-5, fala sobre os Transtornos da Personalidade da 
seguinte forma: 
Os traços de personalidade constituem transtornos da personalidade somente quando são inflexíveis 
e mal-adaptativos e causam prejuízo funcional ou sofrimento subjetivo significativos. O aspecto 
essencial de um transtorno da personalidade é um padrão persistente de experiência interna e 
comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo e que se 
manifesta em pelo menos duas das seguintes áreas: cognição, afetividade, funcionamento 
interpessoal ou controle de impulsos (Critério A). Esse padrão persistente é inflexível e abrange 
uma ampla faixa de situações pessoais e sociais (Critério B), provocando sofrimento clinicamente 
significativo e prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da 
vida do indivíduo (Critério C). O padrão é estável e de longa duração, e seu surgimento ocorre pelo 
menos a partir da adolescência ou do início da fase adulta (Critério D). O padrão não é mais bem 
explicado como uma manifestação ou consequência de outro transtorno mental (Critério E) e não é 
atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento, 
 
19
 Este trecho nos sugere uma possível origem genética para tais transtornos. Tal posição da psiquiatria não é a 
definitiva nas ciências que estudam a mente humana (por exemplo, a própria psicologia). 
16 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
exposição a uma toxina) ou a outra condição médica (p. ex., traumatismo craniencefálico) (Critério 
F). 
E qual seria a diferença entre o Transtorno da Personalidade e a Doença Mental franca? As 
doenças mentais ocorrem e se desenvolvem a partir de um momento definido da vida, tal como são 
as crises, reações, processos, episódios e surtos
20
, enquanto os Transtornos da Personalidade, por 
sua vez, são maneiras problemáticas de ser, constantes e perenes. As doenças mentais surgem e os 
Transtornos da Personalidade são.
21
 
Na Esquizofrenia, por exemplo, assim como nos Transtornos do Humor e outros, a partir de um 
determinado momento na vida a personalidade, que já era chamada pré-mórbida, envereda por uma 
trajetória que se afasta mais e mais do normal resultando em um episódio agudo. Nos Transtornos 
da Personalidade o rumo da personalidade está e sempre esteve algo distante do normal, embora não 
tenha obrigatoriamente que piorar cada vez mais, como nos outros processos psicopatológicos. 
Os Transtornos de Personalidade afetam todas as áreas da personalidade, o modo como o indivíduo 
vê o mundo, a maneira como expressa as emoções, o comportamento social. Caracteriza um estilo 
pessoal de vida mal adaptado, inflexível e prejudicial a si próprio e/ou aos que com ele convivem. 
Essas características, no entanto, apesar de necessárias não são suficientes para identificação dos 
Transtornos de Personalidade, pelo fato de serem muito vagas. A maneira mais clara como a 
classificação deste problema vem sendo tratada é através da subdivisão em tipos de transtornos de 
personalidade, com critérios de diagnóstico próprios e bem definidos, tanto pela CID.10, quanto 
pelo DSM-5. 
Convencionalmente os transtornos da personalidade foram divididos em três grupos: 
1º. Grupo – Aqui estão as pessoas caracterizadas essencialmente por pensamentos estranhos, 
comportamentos excêntricos e mórbida tendência ao isolamento. Estão classificadas aqui as 
personalidades paranoides e esquizoides, as primeiras possuidoras de rígido padrão de suspeitas e 
desconfianças infundadas, as segundas são emocionalmente distantes e com dificuldade em 
estabelecer relações sociais. 
2º Grupo – Os transtornos deste grupo têm em comum um comportamento com tendência à 
dramaticidade, apelação e emoções que se expressam intensamente. Os indivíduos histriônicos 
representam esse grupo, sendo muito excitáveis, demonstrativos, justificativos e egocêntricos. 
Também está aqui a chamada Personalidade Antissocial, que manifesta expressiva incapacidade 
geral de adaptação aos padrões sociais estabelecidos e para relações afetivas estáveis. 
3º. Grupo – Estão neste grupo as personalidades com marcantes traços de dificuldade no controle 
dos impulsos; transtorno explosivo ou impulsivo da personalidade, transtorno ansioso ou evitativo 
da personalidade, transtorno anancástico ou obsessivo-compulsivo da personalidade.
22
 
 
20
 Assim definidas, o conceito de Doença Mental assemelha-se ao de Alteração da Personalidade, anteriormente 
estabelecido. 
21
 Este parágrafo nos sugere, portanto, que os TP não deveriam ser classificados, stricto-sensu, como “doenças 
mentais”. 
22
 Adaptado de www.psiqweb.com.br. 
17 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
Introdução ao estudo da Psicopatologia e o diagnóstico em Psiquiatria 
Histórico e principais correntes em Psicopatologia 
 
CORRENTE DA PSICOPATOLOGIA
23
 
 
DESCRITIVA – “interessa-se 
fundamentalmente pela forma das alterações 
psíquicas, a estrutura dos sintomas, aquilo que 
caracteriza a vivência patológica como sintoma 
mais ou menos típico.” 
Possui, portanto, características diagnósticas 
e objetivas. 
 DINÂMICA – “interessa-se pelo conteúdo da 
vivência, os movimentos internos de afetos, 
desejos e temores do indivíduo, sua 
experiência particular, pessoal, não 
necessariamente classificável em sintomas 
previamente descritos. 
Possui, portanto, características pessoais e 
subjetivas. 
 
MÉDICO-NATURALISTA – “Trabalha com 
uma noção de homem centrada no corpo, no 
ser biológico como espécie natural e universal. 
Assim, o adoecimento mental é visto como um 
mau funcionamento do cérebro, uma 
desregulação, uma disfunção de alguma parte 
do “aparelho biológico”. 
 EXISTENCIAL – “O doente é visto 
principalmente como “existência singular”, 
como ser lançado a um mundo que é apenas 
natural e biológico na sua dimensão elementar, 
mas que é fundamentalmente histórico e 
humano. O ser é construído por meio da 
experiência particular de cada sujeito, na sua 
relação com outros sujeitos, na abertura para a 
construção de cada destino pessoal. A doença 
mental, nessa perspectiva, não é vista tanto 
como disfunção biológica ou psicológica, mas, 
sobretudo, como um modo particular de 
existência, uma forma trágica de ser no mundo, 
de construir um destino, um modo 
particularmente doloroso de ser com os 
outros.” 
 
COMPORTAMENTAL-COGNITIVISTA – 
“o homem é visto como um conjunto de 
comportamentos observáveis, verificáveis, que 
são regulados por estímulos específicos e 
gerais, e por certas leis e determinantes do 
aprendizado. Associada a essa visão, a 
perspectiva cognitivista centra atenção sobre 
as representações cognitivasconscientes de 
cada indivíduo. As representações conscientes 
seriam vistas como essenciais ao 
funcionamento mental, normal e patológico. 
Os sintomas resultam de comportamentos e 
representações cognitivas disfuncionais, 
aprendidas e reforçadas pela experiência 
sociofamiliar.” 
 PSICANALÍTICA – “o homem é visto como 
ser “determinado”, dominado por forças, 
desejos e conflitos inconscientes. A psicanálise 
dá grande importância aos afetos, que, segundo 
ela, dominam o psiquismo; o homem racional, 
autocontrolado, senhor de si e de seus desejos, 
é, para ela, uma enorme ilusão. Na visão 
psicanalítica, [as] síndromes mentais são 
consideradas formas de expressão de conflitos, 
predominantemente inconscientes, de desejos 
que não podem ser realizados, de temores aos 
quais o indivíduo não tem acesso. O sintoma é 
encarado, nesse caso, como uma “formação de 
compromisso”, um certo arranjo entre o desejo 
inconsciente, as normas e as permissões 
culturais e as possibilidades reais de satisfação 
desse desejo. A resultante desse emaranhado 
 
23
 Quadro montado a partir de DALGALARRONDO, 2008, p. 35-8) 
18 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
de forças, dessa “trama conflitiva” 
inconsciente, é o que se identifica como 
sintoma psicopatológico.” 
 
CATEGORIAL – “As entidades 
nosológicas
24
 ou transtornos mentais 
específicos podem ser compreendidos como 
entidades completamente individualizadas, 
com contornos e fronteiras bem demarcados. 
As categorias diagnósticas seriam “espécies 
únicas”, tal qual espécies biológicas, cuja 
identificação precisa constituiria uma das 
tarefas da psicopatologia. Assim, entre a 
esquizofrenia e os transtornos afetivos 
bipolares e os delirantes, haveria, por exemplo, 
uma fronteira nítida, configurando-os como 
entidades ou categorias diagnósticas diferentes 
e discerníveis na sua natureza básica.” [é o 
modelo adotado pelo CID-10 e pelo DSM-5]. 
 DIMENSIONAL – “Haveria, então, 
dimensões como, por exemplo, o espectro 
esquizofrênico, que incluiria desde formais 
muito graves, tipo ‘demência precoce’ (com 
grave deterioração da personalidade, 
embotamento afetivo, muitos sintomas 
residuais), formas menos deteriorantes de 
esquizofrenia, formas com sintomas afetivos, 
chegando até um outro polo, de transtornos 
afetivos, incluindo formas com sintomas 
psicóticos até formas puras de depressão
25
 e 
mania
26
 (hipótese esta que se relaciona à antiga 
noção de psicose
27
 unitária). 
Algumas polaridades dimensionais em 
psicopatologia seriam, por exemplo: 
Esquizofrenia deficitária / Esquizofrenia 
benigna / Psicoses esquizoafetivas / 
Transtornos afetivos com sintomas psicóticos / 
Transtornos afetivos menores 
Ou 
Depressões graves (estupor
28
, psicótica) / 
Depressão bipolar / Depressões moderadas / 
Distimia / Personalidade depressiva / 
Depressão subclínica.” 
 
 
 
24
 Nosologia – é o estudo das doenças. 
25
 Distimia – [...] em psicopatologia geral, é o termo que designa a alteração básica do humor, tanto no sentido da 
inibição como no sentido da exaltação. Não se deve confundir o sintoma distímico com o transtorno depressivo 
persistente (no DSM-5 também chamado de distimia), que, segundo as classificações da CID-10 e do DSM-5, é um 
transtorno depressivo leve e crônico. (DALGALARRONDO, 2008, p. 164). Como transtorno, a distimia caracteriza-se 
por ser um rebaixamento crônico do humor, persistindo ao menos por vários anos, mas cuja gravidade não é suficiente 
ou na qual os episódios individuais são muito curtos para responder aos critérios de transtorno depressivo recorrente 
grave, moderado ou leve. 
26
 Mania sem sintomas psicóticos - Presença de uma elevação do humor fora de proporção com a situação do sujeito, 
podendo variar de uma jovialidade descuidada a uma agitação praticamente incontrolável. Esta elação se acompanha de 
um aumento da energia, levando à hiperatividade, um desejo de falar e uma redução da necessidade de sono. A atenção 
não pode ser mantida, e existe frequentemente uma grande distração. O sujeito apresenta frequentemente um aumento 
do autoestima com ideias de grandeza e superestimativa de suas capacidades. A perda das inibições sociais pode levar a 
condutas imprudentes, irrazoáveis, inapropriadas ou deslocadas. (CID 10) 
Mania com sintomas psicóticos - Presença, além do quadro clínico descrito [anteriormente] de ideias delirantes (em 
geral de grandeza) ou de alucinações (em geral do tipo de voz que fala diretamente ao sujeito) ou de agitação, de 
atividade motora excessiva e de fuga de ideias de uma gravidade tal que o sujeito se torna incompreensível ou 
inacessível a toda comunicação normal. (CID 10) 
27
 ‘ [...] Uma psicose corresponde a uma perturbação primária da relação libidinal com a realidade. A oposição neurose-
psicose põe em jogo a posição intermediária do ego entre o id e a realidade. Enquanto na neurose o ego obedece as 
exigências da realidade (e do superego), recalcando as reivindicações pulsionais, na psicose começar por se gerar uma 
ruptura entre o ego e a realidade, que deixa o ego sob o domínio do id.” (CASTRO, 2006, p. 75) 
28
 Estupor – “estado mental no qual um indivíduo fica total ou quase totalmente insensível e imóvel e experimenta 
desorientação”. (APA, 2010, p. 391) 
19 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
BIOLÓGICA – “enfatiza os aspectos 
cerebrais, neuroquímicos ou neurofisiológicos 
das doenças e dos sintomas mentais. A base de 
todo transtorno mental são alterações de 
mecanismos neurais e de determinadas áreas e 
circuitos cerebrais. [...] ‘doenças mentais são 
(de fato) doenças cerebrais. Griesinger, 1845.” 
SOCIOCULTURAL – “visa estudar os 
transtornos mentais como comportamentos 
desviantes que surgem a partir de certos fatores 
socioculturais, como discriminação, pobreza, 
migração, estresse ocupacional, 
desmoralização sócio familiar etc. Os sintomas 
e os transtornos devem ser estudados, segundo 
essa visão, no seu contexto eminentemente 
sociocultural, simbólico e histórico. É nesse 
contexto de normas, valores e símbolos 
culturalmente construídos que os sintomas 
recebem seu significado, e, portanto, poderiam 
ser precisamente estudados e tratados. Mais 
que isso, a cultura, em tal perspectiva, é 
elemento fundamental na própria determinação 
do que é normal ou patológico, na constituição 
dos transtornos e nos repertórios terapêuticos 
disponíveis em cada sociedade.”29 
 
OPERACIONAL-PRAGMÁTICA – “as 
definições básicas de transtornos mentais e 
sintomas são formuladas e tomadas de modo 
arbitrário, em função de sua utilidade 
pragmática, clínica ou orientada à pesquisa. 
Não são questionados a natureza da doença ou 
do sintoma e tampouco os fundamentos 
filosóficos ou antropológicos de determinada 
definição. Trata-se do modelo adotado pelas 
modernas classificações de transtornos 
mentais; o DSM-5, norte-americano, e a CID-
10, da OMS.” 
 FUNDAMENTAL – “o projeto de 
psicopatologia fundamental, proposto pelo 
psicanalista francês Pierre Fedida, visa centrar 
a atenção da pesquisa psicopatológica sobre os 
fundamentos de cada conceito psicopatológico. 
Além disso, tal psicopatologia dá ênfase à 
noção de doença mental como pathos, que 
significa sofrimento, paixão e passividade. O 
pathos, diz Berlin (1977), é um sofrimento-
paixão que, ao ser narrado a um interlocutor, 
em certas condições, pode ser transformado em 
experiênciae enriquecimento.” 
 
 
29
 Assim colocada, esta corrente assemelha-se à corrente Existencial, anteriormente estudada. 
20 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
O normal e patológico em Psicopatologia 
"Normalidade é a habilidade para se adaptar ao mundo exterior com satisfação e para dominar a 
tarefa de aculturação". K. Meninge 
Há vários critérios de normalidade e anormalidade em medicina e psicopatologia. A adoção de um 
ou outro depende, entre outras coisas, de opções filosóficas, ideológicas e pragmáticas do 
profissional [...]. Os principais critérios de normalidade utilizados em psicopatologia são: 
1. Normalidade como ausência de doença 
O primeiro critério que geralmente se utiliza é o de saúde como “ausência de sintomas, de 
sinais ou de doenças”. Segundo expressiva formação de René Lerdice (1936): “a saúde é a 
vida no silêncio dos órgãos”. Normal, do ponto de vista psicopatológico, seria então, 
aquele indivíduo que simplesmente não é portador de um transtorno mental definido. 
Tal critério é bastante falho e precário, pois, além de redundante, baseia-se em uma 
“definição negativa”, ou seja, define-se a normalidade não por aquilo que ela supostamente 
é, mas sim, por aquilo que ela não é, pelo que lhe falta [...]. 
2. Normalidade ideal 
A normalidade aqui é tomada como uma certa “utopia”. Estabelece-se arbitrariamente uma 
norma ideal, o que é supostamente “sadio”, mas “evoluído”. Tal norma é, de fato, 
socialmente construída e referendada. Depende, portanto, de critérios socioculturais e 
ideológicos arbitrários, e, às vezes, dogmáticos e doutrinários. Exemplos de tais conceitos de 
normalidade são aqueles com base na adaptação do indivíduo às normas morais e políticas 
de terminada sociedade (como no caso do macarthismo
30
 nos EUA e do pseudodiagnóstico 
de dissidentes políticos como doentes mentais da antiga União Soviética). 
“[...] chamamos de mentalmente insanas as pessoas cujas condutas pessoais violam certas 
normas éticas, políticas e sociais. Isso explica porque muitas figuras históricas, de Jesus a 
Castro, e de Jó a Hitler, têm sido diagnosticadas como sofrendo desta ou daquela doença 
psiquiátrica.” (SZASZ, 1980, p. 29) 
3. Normalidade estatística 
A normalidade estatística identifica norma e frequência. Trata-se de 
um conceito de normalidade que se aplica especialmente a fenômenos 
quantitativos, com determinada distribuição estatística na população 
geral (como peso, altura, tensão arterial, horas de sono, quantidade de 
sintomas ansiosos, etc.). O normal passa a ser aquilo que se observa com maior 
frequência. Os indivíduos que se situam estatisticamente fora (ou no extremo) de uma curva 
de distribuição normal passam, por exemplo, a ser considerados anormais ou doentes. É um 
critério muitas vezes falho em saúde geral e mental, pois nem tudo o que é frequente é 
necessariamente “saudável”, e nem tudo que é raro ou infrequente é patológico. 
Tomem-se como exemplo fenômenos como as cáries dentárias, a presbiopia
31
, os sintomas 
ansiosos e depressivos leves, o uso pesado do álcool, fenômenos estes que podem ser muito 
 
30
 Macarthismo (em inglês McCarthyism) é o termo que descreve um período de intensa patrulha anticomunista, 
perseguição política e desrespeito aos direitos civis nos Estados Unidos que durou do fim da década de 1940 até meados 
da década de 1950. Foi uma época em que o medo do Comunismo e da sua influência em instituições americanas 
tornou-se exacerbado, juntamente ao medo de ações de espionagem promovidas pela OTAN. (Wikipedia) 
31
 Presbiopia - Distúrbio visual que se observa na velhice, e em que se perde, por baixa de elasticidade e por 
diminuição da capacidade de acomodação do cristalino, o poder de distinguir, com nitidez, objetos próximos. 
(AURÉLIO) 
21 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
frequentes, mas que evidentemente não podem, a priori, ser considerados normais ou 
saudáveis. 
4. Normalidade como bem-estar 
A Organização Mundial de Saúde (WHO, 1946) definiu, em 1946, a saúde como o completo 
bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente como ausência de doença. É um 
conceito criticável por ser muito vasto e impreciso, pois bem-estar é algo difícil de se definir 
objetivamente. Além disso, esse completo bem-estar físico, mental e social é tão utópico que 
poucas pessoas se encaixariam na categoria “saudáveis”. 
5. Normalidade funcional 
Tal conceito baseia-se em aspectos funcionais e não necessariamente quantitativos. O 
fenômeno é considerado patológico a partir do momento em que é disfuncional, produz 
sofrimento para o próprio indivíduo ou para o seu grupo social. 
6. Normalidade como processo 
Neste caso, mais que uma visão estática, consideram-se os aspectos dinâmicos do 
desenvolvimento psicossocial, das desestruturações e das reestruturações ao longo do tempo, 
de crises, de mudanças próprias a certos períodos etários. Esse conceito é particularmente 
útil em psiquiatria infantil, de adolescentes e geriátrica. 
7. Normalidade subjetiva 
Aqui é dada maior ênfase à percepção subjetiva do próprio indivíduo em relação a seu 
estado de saúde, as suas vivências subjetivas. O ponto falho desse critério é que muitas 
pessoas que se sentem bem, “muito saudáveis e felizes”, como no caso de sujeitos em fase 
maníaca, apresentam, de fato, um transtorno mental grave. 
8. Normalidade como liberdade 
Alguns autores de orientação fenomenológica e existencial propõem conceituar a doença 
mental como perda da liberdade existencial (p.ex., Henry Ey). Dessa forma, a saúde mental 
se vincularia às possibilidades de transitar com graus distintos de liberdade sobre o mundo e 
sobre o próprio destino. A doença mental é constrangimento do ser, é fechamento, 
fossilização das possibilidades existenciais. [...] 
9. Normalidade operacional 
Trata-se de um critério assumidamente arbitrário, com finalidades pragmáticas explícitas. 
Define-se, a priori, o que é normal e o que é patológico e busca-se trabalhar 
operacionalmente com esses conceitos, aceitando as consequências de tal definição prévia. 
Portanto, de modo geral, pode-se concluir que os critérios de normalidade e de doença em 
psicopatologia variam consideravelmente em função dos fenômenos específicos com os quais se 
trabalha e, também, de acordo com as opções filosóficas do profissional. Além disso, em alguns 
casos, pode-se utilizar a associação de vários critérios de normalidade ou doença, de acordo com o 
objetivo que se tem em mente. De toda forma, essa é uma área da psicopatologia que existe postura 
permanentemente crítica e reflexiva dos profissionais. (DALGALARRONDO, 2008, p. 31-4) 
 
22 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
Entrevista psiquiátrica e exame da doença mental; anamnese psiquiátrica; diagnóstico 
pluridimensional 
Principais conceitos: 
Anamnese – (do grego anámnesis – ana = novo; mnesis = memória - rememoração; recordação). 
Termo originalmente proposto por Platão para significar a 
possibilidade de reconhecimento, de recordação da verdade, conhecida 
pela alma quando da sua existência no mundo espiritual e esquecida 
quando da sua encarnação material terrena. “[...] em psiquiatria, o 
relato pessoal do paciente, de sua história desenvolvimental, familiar e 
médica anterior ao início de um transtorno psicológico ou internação. [sugerido por Aldolf Meyer, 
psiquiatra norte-americano nascido na Suíça (1866-1950), como um auxílio para o diagnóstico e a 
exploração de possíveiscausas do transtorno do paciente.]” (APA, 2010, p. 74) 
Diagnóstico – (do grego diagnostikós – “movimento através do conhecimento”; distinguir; 
reconhecer) – “processo de identificar e determinar a natureza de uma doença ou distúrbio por seus 
sinais e sintomas, mediante o uso de técnicas de avaliação. [...]” (APA, 2010, p. 283) 
 
A entrevista psiquiátrica
32
 
A entrevista psiquiátrica possui três objetivos básicos: a formulação de um diagnóstico, a 
formulação de um prognóstico
33
 e o planejamento terapêutico. [...] No início é essencial que o 
médico se apresente, explique o objetivo da entrevista e, se possível, obtenha o consentimento do 
paciente. Se não há plena consciência de morbidade por parte do paciente, é fundamental que se 
entrevistem os familiares – ou outras pessoas que possam prestar informações – de preferência com 
a concordância (e a presença) do paciente. 
A arte de entrevistar só pode ser adquirida mediante o treinamento com um supervisor e com a 
prática. Aulas e manuais, contudo, também trazem algum auxílio. Ensina-se ao aluno como 
trabalhar com as evidências apuradas, embora seja difícil mostrar como obtê-las. De qualquer 
modo, há algumas regras básicas que devem ser seguidas: 
- No começo, deve-se deixar o paciente falar livremente, e só depois perguntar de modo mais 
específico temas ou pontos duvidosos. 
- É preciso saber quando e como interromper o paciente: sem cortar o fluxo da comunicação, mas 
sem deixar que a minuciosidade ou a prolixidade (alterações da forma do pensamento) prejudiquem 
a obtenção da história clínica. Sempre controlar e dirigir a entrevista. 
- Não formular as perguntas de maneira monótona ou mecânica. O diálogo deve ser tão informal 
quanto possível. 
- Evitar perguntas muito sugestivas, fechadas, que podem ser respondidas com um simples sim ou 
não: é melhor perguntar ‘Como você está se sentido?’ do que ‘Você está ansioso?’ 
- Não aceitar jargões fornecidos pelos pacientes, como ‘nervoso’, ‘deprimido’, ‘tenho pânico’: pedir 
para que ele explique o que quer dizer com essas palavras. 
- Certificar-se de que o paciente compreende as perguntas: utilizar linguagem acessível, sem termos 
médicos. 
 
 
32
 CHENIAUX, 2013, p. 5-13 – com adaptações. 
33
 Prognóstico - Juízo médico, baseado no diagnóstico e nas possibilidades terapêuticas, acerca da duração, evolução e 
termo de uma doença. (AURÉLIO) 
23 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
Estrutura e conteúdo da anamnese [ou, avaliação] psiquiátrica 
Os dois componentes da avalição psiquiátrica são: a anamnese e o exame psíquico. [...] A 
anamnese psiquiátrica segue, em linhas gerais, o roteiro da anamnese em medicina. É preciso ter em 
mente um roteiro de anamnese, mas este não pode perturbar a espontaneidade da entrevista. 
A redação final de uma observação psiquiátrica precisa ser completa, sem ser sobrecarregada ou 
repetitiva, mas nunca será totalmente completa e precisa. Dois examinadores jamais farão a mesma 
anamnese do mesmo paciente. [...] 
 
Itens da avaliação psiquiátrica 
A redação da avaliação psiquiátrica – incluindo a anamnese e o exame psíquico – pode ser dividida 
nos seguintes itens: 
1) Identificação – A identificação é composta pelos seguintes itens: nome, data de nascimento, 
sexo, estado civil, naturalidade, nível de instrução, profissão, etnia, religião, residência, 
procedência, filiação. 
A identificação pode ser de grande auxílio para a formulação do diagnóstico. Por exemplo, o 
alcoolismo é mais comum em homens; esquizofrênicos em geral não são casados; pacientes 
com retardo mental costumam apresentar um baixo nível educacional; etc. 
Na apresentação pública de casos – como em sessões clínicas -, o nome pode ser 
representado pelas iniciais, mas é preferível, para preservar o sigilo, usar um pseudônimo. 
2) Queixa principal (QP) 
A QP, que constitui o foco da história da doença atual, deve ser sucinta. Convém relacionar 
no máximo três queixas, de preferência apenas uma. 
A QP é redigida com as palavras do paciente (entre aspas, ou usando sic
34
), devendo ser 
registrada mesmo que absurda. Caso o paciente não formule nenhuma queixa, isso também 
tem que ser apontado. 
3) Motivo do atendimento – O item motivo do atendimento só é necessário quando não há 
consciência de morbidade por parte do paciente. O seu conteúdo é fornecido por outra 
pessoa: um familiar, vizinho, bombeiro, policial, outro profissional de saúde, etc. São 
reproduzidas literalmente as palavras do informante. 
4) História da doença atual – (HDA) 
A HDA consta de um relato sobre a época e modo de início da doença, a presença de fatores 
desencadeantes, tratamentos efetuados e o modo de evolução, o impacto sobre a vida do 
paciente, intercorrência de outros sintomas e as queixas atuais. 
Ela é narrada pelo paciente, ou por informantes – no caso de pacientes psicóticos -, ou por 
ambos. Faz-se necessário identificar sempre, para cada informação, qual foi a fonte. Na 
redação da HDA, evitam-se termos técnicos: são utilizadas as palavras do paciente ou do 
informante. Os quadros clínicos são descritos, porém não nomeados. A redação deve seguir 
uma ordem cronológica, mesmo que a narrativa, por parte do paciente ou dos informantes, 
não tenha sido assim. 
São ainda incluídas na HDA informações (sobre alterações psíquicas e físicas) pesquisadas 
ativamente pelo entrevistador, mesmo que não tenham sido trazidas espontaneamente pelo 
paciente ou informante. Fazem parte também da HDA os negativos pertinentes, ou seja, 
 
34
 sic - Palavra que se pospõe a uma citação, ou que nesta se intercala, entre parênteses ou entre colchetes, para indicar 
que o texto original é bem assim, por errado ou estranho que pareça. (AURÉLIO) 
24 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
certos sintomas cuja ausência pode ser significativa para a identificação da doença ou da 
fase evolutiva em que esta se encontra. Episódios psiquiátricos anteriores devem ser 
relatados também aqui, já que estes devem estar relacionados ao atual, visto que os 
transtornos mentais são, em geral, crônicos. 
Em casos de transtorno de personalidade ou de retardo mental, será impossível separar HDA 
e história pessoal, que podem ser fundidas. 
5) História patológica pregressa (HPP) 
A HPP refere-se a estados mórbidos passados, em geral não psiquiátricos, que não 
mostrem possuir relação direta ou indireta de causa e efeito com a moléstia atual. Se existir 
essa relação, eles são incluídos na HDA. São investigados principalmente as seguintes 
ocorrências: enurese [incontinência urinária], sonilóquio, pesadelos frequentes, terror 
noturno, sonambulismo, asma, tartamudez [dificuldades para falar, gagueira], fobia escolar, 
na infância; convulsões
35
 ou desmaios; doenças venéreas; outras doenças infecciosas, 
tóxicas ou degenerativas; traumatismos cranianos; alergia; intervenções cirúrgicas; hábitos 
tóxicos (álcool, tabaco, drogas ilícitas); uso de medicamentos. Faz parte também da HPP a 
revisão de sistemas, isto é, o questionamento junto ao paciente relativo a cada aparelho de 
seu organismo (cardiovascular, respiratório, etc.). 
Na redação da HPP incluem-se todas as doenças importantes relatadas. Não se devem listar 
doenças ausentes, já que é impossível citar todas as que existem, a não ser que tal ausência 
seja significativa para a formulação do diagnóstico. 
6) História fisiológica 
São investigados os seguintes elementos relativos à história fisiológica: gestação (da mãe), 
nascimento, aleitamento, desenvolvimentopsicomotor (andar, falar, controle esfincteriano), 
menarca [primeira menstruação], catamênios [menstruação], atividade sexual, gestações, 
partos, abortamentos, menopausa, padrões de sono e de alimentação. 
7) História pessoal (Fatores Predisponentes) 
Pode-se optar por fundir a HPP, a história fisiológica, a história pessoal e a história social, 
sob a denominação de história pessoal. Caso se mantenha a história pessoal como um item 
mais restrito, pesquisam-se as seguintes informações: 
- Infância: personalidade, socialização, jogos e brincadeiras, aproveitamento escolar, 
ansiedade de separação. 
- Adolescência: desempenho escolar, uso de álcool e drogas, delinquência, relacionamentos 
interpessoais. 
- Sexualidade: iniciação, preferência, orientação, número de parceiros, frequência. 
- Vida profissional: vocações; estabilidade no emprego; relacionamento com chefes, 
subordinados e colegas; desempenho. 
- Personalidade pré-mórbida: relacionamentos sociais, interesses, hábitos de lazer e 
culturais, padrão de humor, agressividade, introversão/extroversão, egoísmo, altruísmo, 
independência/dependência, atividade/passividade, valore, adaptação ao ambiente. 
 
35
 As convulsões generalizadas podem ser: De ausência: geralmente ocorrem em crianças. Como o nome implica, a 
pessoa fica ausente do mundo consciente por um breve período. Clônicas: causam convulsões ou movimentos 
involuntários em ambos os lados do corpo. Mioclônicas: envolvem o movimento involuntário da parte superior do 
corpo e dos membros. Tônicas: resultam na contração súbita dos músculos. Essas convulsões são mais comuns durante 
o sono. Atônicas: envolvem a perda do controle muscular, fazendo a pessoa desmaiar ou cair. Tônico-clônicas: 
envolvem uma combinação dos sintomas das convulsões tônicas e clônicas. 
25 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
8) História social 
Fazem parte da história social informações relativas à moradia – condições sanitárias, 
pessoas com quem convive, número de cômodos, privacidade, características sócio-
demográficas da região; situação socioeconômica; características socioculturais; atividade 
ocupacional atual; situação previdenciária; vínculo com o sistema de saúde; atividades 
religiosas e políticas; antecedentes criminais. 
9) História familiar (Fator Predisponente) 
A história familiar abrange dados relacionados a: doenças psiquiátricas e não psiquiátricas; 
ter sido a gravidez desejada ou não pelos pais do paciente, separação dos pais, quem criou o 
paciente; ordem de nascimento entre os irmãos, diferença de idade; características de 
personalidade dos familiares, o relacionamento entre estes e destes com o paciente; atitude 
da família diante da doença do paciente; relacionamento com o cônjuge e filhos. 
 
O exame psíquico 
O exame psíquico também é chamado de exame do estado mental, exame mental, exame 
psicopatológico, exame psiquiátrico. Ele começa no primeiro contato com o paciente, antes de se 
obterem os dados de identificação. O psiquiatra experiente será capaz de realizar a maior parte do 
exame do estado mental ao mesmo tempo em que completa a tomada da história. [...] 
No exame psíquico, são descritas apenas as alterações presenciadas durante a entrevista. Portanto, 
na redação do exame psíquico, expressões como no momento ou durante a entrevista são 
redundantes. De um momento para outro, a sintomatologia psiquiátrica pode mudar – como podem 
mudar a frequência cardíaca, a pressão arterial, etc. -, constituindo assim um outro exame psíquico. 
Nos casos em que a sintomatologia é intermitente, o que não é raro com alucinações e com 
alterações do nível de consciência, um exame psíquico isolado pode ser pouco revelador. Uma 
possível solução seria tornar o exame psíquico mais amplo, compreendendo mais de uma 
observação, com intervalos de horas ou dias entre uma e outra. 
Na redação, é conveniente a descrição das condições nas quais se realizou ou exame: se no 
domicílio do paciente, em consultório ou ambulatório, em quarto de hospital, ou numa enfermaria; 
se havia mais alguém presente. 
Há uma influência mútua entre as funções mentais. Na verdade, qualquer subdivisão das funções 
mentais é artificial, e as diversas funções psíquicas são avaliadas de forma praticamente simultânea. 
As funções psíquicas podem alterar-se quantitativa ou qualitativamente. 
Além do registro das alterações psicopatológicas, faz parte do exame psíquico a descrição das 
funções mentais preservadas. Não devem ser consideradas as possíveis causas dos fenômenos: são 
apontadas todas as alterações presentes, mesmo que, por exemplo, se acredite que elas sejam 
devidas à medicação em uso. Para a avaliação de algumas funções, como memória, orientação, 
inteligência, etc., são necessárias perguntas mais específicas ou mesmo testes. A redação do exame 
psíquico deve restringir-se a uma descrição dos fenômenos observados, sem o uso de termos 
técnicos. 
 
Súmula psicopatológica 
Os itens que compõem a súmula psicopatológica são: (1) aparência; (2) atitude; (3) consciência; (4) 
atenção; (5) sensopercepção; (6) memória; (7) fala e linguagem; (8) pensamento; (9) inteligência; 
26 
 
“[...] e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jesus Cristo) 
(10) imaginação; (11) conação
36
; (12) psicomotricidade; (13) pragmatismo
37
; (14) humor e 
afetividade; (15) orientação
38
; (16) consciência do eu; (17) prospecção
39
; (18) consciência de 
morbidade. 
Esses mesmos elementos são examinados no exame psíquico. A súmula psicopatológica e o exame 
psíquico possuem o mesmo conteúdo, sendo a súmula um resumo do exame psíquico: a partir de 
um exame psíquico bem feito, qualquer outra pessoa terá que formular a mesma súmula 
psicopatológica. Além disso, na súmula torna-se explícita a subdivisão das funções mentais e são 
utilizados termos técnicos. 
Não há uma uniformidade quanto a uma configuração ideal da súmula, nem quanto ao número ou 
ordem de apresentação dos itens. [...] 
 
Diagnóstico psiquiátrico 
[...] As doenças são apenas conceitos, abstrações criadas pelo homem, que podem ser a qualquer 
momento modificadas ou descartadas. Constituem condições relacionadas a desconforto, dor, 
incapacitação ou morte, mas que só vão ser consideradas doenças em função de muitos fatores 
(sociais, econômicos, biológicos, etc.). 
São levantadas algumas objeções à formulação de diagnósticos. Uma delas está relacionada à ideia 
de que cada pessoa é uma realidade única e inclassificável: ‘não existem doenças, mas doentes.’ 
Afirma-se ainda que o diagnóstico é estigmatizante, e que ele apenas serviria para rotular as pessoas 
diferentes, permitindo e legitimando o poder médico, o controle social sobre o indivíduo 
desadaptado ou questionador. 
Mas, entre diagnosticar e reduzir a pessoa que recebeu o diagnóstico a um rótulo, há uma grande 
diferença. Embora possua algumas desvantagens e possa ser usado indevidamente, o diagnóstico 
 
36
 Conação – “[...] conjunto de atividades psíquicas direcionadas para a ação. Incluem-se as funções conativas os 
impulsos e a vontade.” (CHENIAUX, 2013, p.117) 
37
 Pragmatismo – “[...] capacidade de colocar em prática, de realizar de forma eficaz, aquilo que se deseja ou que foi 
planejado. Portanto, ele não pode ser avaliado se a conação está diminuída: se o paciente nada quer, o distúrbio não está 
na transposição do querer para a realização. De certa forma, o pragmatismo serve como uma medida do grau de eficácia 
das funções psíquicas em seu conjunto (Motta, 1995). O pragmatismo só pode se alterar quantitativamente,

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