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P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 1 TEORIA DA PENA 1. DOSIMETRIA DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE O Brasil adotou o Sistema Trifásico, através qual o juiz deve levar em conta, na primeira fase, as circunstâncias judiciais (art. 59, CP) para estabelecer a pena base; na segunda fase serão consideradas circunstâncias agravantes (arts. 61 e 62, CP) e atenuantes (arts. 65 e 66, CP) para aumentar ou diminuir a pena base estabelecida na primeira fase e, na terceira fase, serão consideradas as chamadas causas de aumento e de diminuição de pena, que possuem valor certo para aumentar ou reduzir a pena e que aparecem tanto na parte geral quanto na parte especial do CP. a) Primeira fase Na primeira fase da dosimetria, a pena deve ser fixada entre o mínimo e o máximo previstos em lei para o tipo penal. Além disso, a pena base jamais poderá ultrapassar o ponto médio entre o mínimo e o máximo abstratamente previstos. Os antecedentes criminais surgem quando o acusado, no momento da sentença condenatória do seu crime, já tem outra sentença condenatória transitada em julgado anterior. Inquéritos policiais ou ações penais em curso anteriores não geram maus antecedentes para o fato posterior. Para que haja maus antecedentes, não se exige que a prática do segundo crime ocorra após o trânsito em julgado condenatório do primeiro, mas sim que a sentença condenatória do segundo fato, quando for proferida, ocorra após haver trânsito em julgado condenatório do primeiro fato. Nesse caso, o agente possui maus antecedentes, já que a sentença condenatória do segundo fato foi proferida após o trânsito em julgado da sentença condenatória do primeiro fato, mas não é reincidente, pois a prática do segundo fato foi anterior ao trânsito em julgado do primeiro fato. Nesse sentido, veja-se a súmula 444 STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base. b) Segunda fase Embora não haja previsão legal, o limite máximo para aumento de pena em uma agravante será de 1/6, assim como o limite para redução de pena P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 2 numa atenuante será também de 1/6, respeitando-se, em ambos os casos, os limites mínimo e máximo abstratamente previstos no tipo penal. Reincidência (arts. 63 e 64, CP): Ocorre quando o sujeito pratica o novo crime após o trânsito em julgado condenatório do crime anterior, sendo que será reincidente até o prazo de 5 anos, contados da data do término de cumprimento de pena do crime anterior (não da data do trânsito em julgado). Logo, se voltar a cometer crime depois de passados os 5 anos do término de cumprimento de pena, será tecnicamente primário, não reincidente, porém com maus antecedentes. Para que haja reincidência, de acordo com o CP e a Lei de Contravenções Penais (DL nº 3.688/41), deve haver: → crime + crime → contravenção + contravenção → crime + contravenção NÃO HÁ REINCIDÊNCIA QUANDO OCORRE CONTRAVENÇÃO + CRIME. Circunstâncias atenuantes → Idade do autor (art. 65, I, CP): Se o autor tiver até 21 anos na data da prática do fato ou for maior de 70 anos na data da sentença condenatória. Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença; Observação: de acordo com o art. 67, CP, são preponderantes, prevalecendo sobre as demais, as circunstâncias agravantes e atenuantes ligadas à personalidade, à reincidência e aos motivos determinantes do crime. Logo, havendo conflito entre a idade do autor (atenuante ligada à personalidade do agente) e a reincidência (agravante), prevalece a atenuação da pena. Art. 67 - No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência. c) Terceira fase P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 3 Causas de aumento e diminuição de pena sempre possuem valor delimitado em lei e sua aplicação permite que a pena fique acima ou abaixo do mínimo e máximo, abstratamente previstas em lei. 2. EXECUÇÃO DA PENA O nosso ordenamento jurídico adotou o sistema progressivo de cumprimento de pena, através do qual, o condenado deverá cumprir, ao menos, 1/6 da pena no regime em que se encontre, para progredir para o regime subsequente menos rigoroso. São eles: regime fechado, semiaberto e aberto. Crimes hediondos terão sua progressão condicionada ao cumprimento de 2/5 da pena no regime em que se encontre ou 3/5 da pena, caso seja reincidente. Crimes hediondos praticados antes da Lei 11.464/07 poderão progredir, porém utilizando os parâmetros da LEP (1/6), sendo que a progressão irá acontecer com base nos parâmetros mais severos desta lei (2/5 e 3/5) somente para crimes hediondos praticados após a lei. Embora a lei 11.464/07 preveja regime inicial fechado para crimes hediondos, o STF vem entendendo ser possível começar a cumprir a pena em outro regime menos rigoroso. Nos crimes contra a Administração Pública, a progressão de regime fica condicionada à reparação do dano, à restituição da coisa. De acordo com a súmula 491 STJ, não se admite a progressão per saltum, ou seja, por salto, pulando o regime semiaberto. Nada impede, porém, a regressão de regime, inclusive por salto, direto para o regime fechado, caso o condenado não cumpra as regras do regime ou seja condenado por outro crime e sua pena exija um regime mais severo. Súmula 491 STJ: É inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional Há duas espécies de pena privativa de liberdade: a reclusão, prevista para crimes mais graves e que admite o regime fechado, bem como o semiaberto ou o aberto, e a detenção, para crimes menos graves, que não admite regime fechado, salvo em hipótese de regressão. 2.1. REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO a) Regime fechado: → penas de reclusão superiores a 08 anos; → reincidente em crime doloso (regra); P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 4 → De acordo com a lei 11.464/07, hediondos possuem regime inicial fechado (STF admite outros regimes). b) Regime semiaberto: → não reincidente condenado a uma pena superior a 04 anos e até 08 anos. → reincidente com pena de até 04 anos (Súmula 269, STJ). c) Regime aberto → não reincidente condenado a uma pena de até 04 anos. Advertência: de acordo com a súmula 269 do STJ, o reincidente condenado a pena de até 04 anos poderá iniciar o cumprimento de pena em regime semiaberto. Súmula 269 STJ: É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos, se favoráveis as circunstâncias judiciais. 2.2. LIVRAMENTO CONDICIONAL O livramento condicional não é regime de cumprimento de pena, mas sim um benefício concedido ao condenado, que tenha cumprido o quantum mínimo da pena e atendidos também os requisitos subjetivos, para que fique solto, com algumas condições expostas (Ex.: trabalho). Obs.: não se admite livramento condicional para o reincidente em crime hediondo. 2.3. TRABALHO PRISIONAL É um direito e dever do preso. Trata-se de atividade remunerada também e influi no tempo de sua remição, ou seja, é um benefício no qual para cada 03 dias trabalhados, o preso ganha um dia da pena, outrossim, é um abatimento de pena com base no trabalho. O art.126/127 da LEP sofreu alterações. O estudo já era aceito pelo STJ, como causa de remição, como por exemplo, frequentar escolas ou faculdades. A lei não falava nada, portanto,isso passou a ser previsto. A contagem é diferente para a remição de trabalho, pois requer 12 horas de estudos para abater 1 dia, podendo ser fracionada em dias. P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 5 Quanto ao trabalho prisional e à remição, a LEP em seus art.126/127 sofreram alterações. São elas: 1. O estudo passa formalmente a gerar remição, na razão de 12 horas de estudo cumpridas de no mínimo 3 dias para abater 1 dia de pena. 2. O trabalho gera remição apenas nos regimes fechado e semiaberto, mas não para quem está em regime aberto ou em livramento condicional. Já o estudo, gera remição em todos os regimes, inclusive o aberto, e também, no livramento condicional. O trabalho pela lei e LEP gera remição para quais regimes? Somente no fechado e semiaberto, logo não influi no livramento condicional e no aberto. Mas esse tratamento não é igual para nos casos de remição de estudos. Dessa forma, surgiu discussão para estender essa benesse para o trabalho-remição. Observação1: A falta grave faz com que o condenado perca até 1/3 do tempo remido, diferentemente do que era adotado com base na súmula vinculante 9 do STF que permitia até a perda de todo o tempo remido pelo trabalho. A falta grave causava a perda completa dos dias remidos pelo Juiz das Execuções Penais. A LEP promoveu alteração. A falta grave gera a perda dos dias remidos, mas não mais a sua totalidade, limitando-se de até 1/3 do tempo que ele ganhou. Logo, a súmula vinculante 9 perdeu utilidade. Observação2: Nada impede que haja cumulação do trabalho com o estudo para efeito de remição, desde que os períodos sejam compatíveis. É possível cumular trabalho e estudo para efeito de remição? Sim, desde que sejam compatíveis esses períodos. Deve ser cumprida 8 horas de trabalho e o restante para os estudos. 3. CONVERSÃO DA PENA a) Prestação de Serviço à Comunidade. Tem relação útil para o Estado em que o condenado possa prestar. É a mais importante e frequente. b) Prestação Pecuniária. Também é a mais frequente. É o pagamento de determinado valor, para a vítima ou à sua família, ou destinado a alguma entidade. Não se confunde com a multa, no qual esta vai para o Estado. P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 6 c) Interdição Temporária de Direitos Suspende temporariamente direitos, a exemplo da suspensão da CNH. O que é uma pena restritiva de direitos? É a peça mais incidente. Ela substitui a pena privativa de liberdade, portanto nunca é aplicada cumulativamente com a pena restrititiva de direitos. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS – ART.43 E SS. DO CP. É modalidade autônoma de pena para substituir a pena privativa de liberdade concretamente aplicada, de acordo com certos requisitos. Jamais poderá ser cumulada com a pena privativa de liberdade sendo que as duas espécies mais utilizadas são: a) Prestação de Serviços à Comunidade; b) Prestação Pecuniária, que consiste no pagamento à vítima, seus familiares ou instituição com destinação social de determinado valor, com base nos danos causados. Requisitos de Conversão Crime culposo sempre terá a sua pena convertida, não importa o valor da pena e qual foi o crime praticado. O crime culposo é aquele em que o agente não tem a intenção e atua por falta de cuidado, imperícia, imprudência e negligência. Obs.: Os crimes culposos sempre terão a pena concretamente aplicada convertida em restritiva de direitos. Requisitos de conversão para os crimes dolosos Em crimes dolosos a conversão ocorrerá quando: Regras Cumulativas – Art.44 do CP: a) Pena concreta de até 4 anos; b) Não ser reincidente específico (mesmo crime) – Art. 44, §3º; c) Crime sem violência ou grave ameaça à pessoa. Observação1: De acordo com o art. 44, §3º do CP, havendo reincidência por crimes diferentes, o Juiz poderá conceder a conversão se as condições forem favoráveis e os demais requisitos preenchidos. Porém, se a reincidência for pelo mesmo crime, a conversão é vedada. P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 7 Observação2: De acordo com o art.44, §2º do CP, penas de até 1 ano, serão convertidas em 01 restritivas de direitos ou 01 multa e penas superiores a 1 ano, convertidas em 02 restritivas de direitos ou 01 restritiva + multa. 4. PENA DE MULTA A multa não é paga para a vítima e nem para a sua família, assim, vai para o Estado. A multa não tem cunho indenizatório e nem caráter reparativo. É modalidade autônoma de pena produto da prática de crime e que consiste no pagamento para o Estado de determinados valores, calculados através do sistema de dias-multa, não possuindo cunho indenizatório ou de ressarcimento de danos. Observação: Embora seja dívida de valor inscrita na dívida ativa da Fazenda Pública (art.51 do CP), a pena de multa não perde a sua natureza jurídica originária, que é de sanção penal, produto da prática de crime, e que, em face do PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA DAS PENAS, jamais se transmite a terceiros, nem mesmo à herança no caso de morte do autor. A pena de multa poderá ser aplicada de 3 formas: 1. Cumulativamente a pena privativa de liberdade, quando houver, expressa previsão no tipo (e multa); 2. De forma alternativa, a pena privativa de liberdade, quando houver, expressa previsão no tipo (ou multa); 3. De forma substitutiva a pena privativa de liberdade de até 1 ano, atendidos os demais requisitos do art.44, CP. Como é calculada a multa? Nosso ordenamento adotou o critério de dias-multa, pelo qual se estipula o número de dias com base na gravidade do fato entre 10 e 360 dias, e, depois determina-se o valor de unidade de referência dia-multa, entre 1 sobre 30, até 5 vezes o salário mínimo para multiplicando (com base na condição do condenado), chegar ao valor da multa. Se o valor da unidade estiver sido estipulada no máximo, a ainda assim for pouco, é possível até triplicar o valor final da multa. 5. ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS (Crimes contra o patrimônio) P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 8 Escusar é sinônimo de desculpar. É uma desculpa que o ordenamento jurídico dá em certas situações, afastar a punibilidade do fato (art.181 a 183 do CP). São causas pessoais de pena de exclusão da punibilidade , que incidem sobre os crimes contra o patrimônio e que não sejam violentos, contra cônjuge (na constância do casamento), ascendentes e descendentes, vale também para a união estável. Alguns requisitos: a) As causas pessoais não se comunicam com os demais que praticam eventualmente em coautoria, sendo exclusivamente aplicável ao autor. b) Para hipótese de união estável, durante a sua constância, em face de analogia in bonan partem. c) Não se aplica o instituto se a vítima tiver idade igual ou superior a 60 anos. Observação: De acordo com o art.182 do CP, nos crimes patrimoniais não violentos, quando a vítima for cônjuge separado (pode ser separação, divórcio etc), irmão, ou ainda, tio ou sobrinho com quem o agente coabite não haverá escusa absolutória, porém, a ação penal deixa de ser pública incondicionada (regra), para ser pública condicionada à representação (condição de procedibilidade). PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E CRIMES TRIBUTÁRIOS 1. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA Não há previsão legal. 1.1. CONCEITO Esse princípio determina que lesões pequenas, ínfimas, insignificantes, a um bem jurídico alheio, devem ser desconsideradas e o fato reconhecido como atípico, por ausência de tipicidade material. Esse princípio é observado preponderantemente nos crimes patrimoniais e crimes tributários. P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 9 De acordo com o STF, a tipicidade penalresulta da tipicidade formal agregada à chamada tipicidade material. A tipicidade formal é o próprio artigo da lei. O agente preenche o tipo penal na hora de agir. Tipicidade material tem a ver com a lesão do bem jurídico de terceiro (princípio da lesividade ou ofensividade). Lesões que sejam insignificantes ao bem alheio não serão suficientes para gerar a tipicidade material, segundo o STF. 1.2. CARACTERÍSTICAS a) Não se aplica a insignificância para os crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa. Exemplo: artigo 157 do CP - roubo; b) Não se aplica a insignificância para o crime de tráfico de droga – artigo 33 da 11.343/06. No caso do artigo 28 da mesma lei (uso), é admitida a aplicação desse princípio; c) Não se aplica a insignificância quando se tratar de falsificação de moeda ou outras falsidades no que tange ao pequeno valor falsificado. Atenção: a falsificação grosseira de moeda, incapaz de iludir uma pessoa comum, dá origem à tese de defesa do crime impossível, gerando atipicidade do fato embora nada impeça que outros crimes realizados (por exemplo, estelionato - artigo 171 do CP) sejam imputados ao autor. 2. CRIMES TRIBUTÁRIOS → Lei 8.137/90; → Artigo 334 do CP (descaminho); → Artigo 168-A do CP; Observação1: O pagamento integral do tributo devido será causa de extinção da punibilidade nos crimes tributários, e poderá ser feito a qualquer tempo, MESMO APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO CONDENATÓRIO. Observação2: O parcelamento do tributo devido é causa de suspensão da pretensão punitiva do fato e SÓ PODE SER FEITO ATÉ O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA, embora o pagamento integral possa ser realizado a qualquer tempo, tenha feito ou não o parcelamento. Observação3: Não há crime tributário e o fato é atípico enquanto não houver o lançamento DEFINITIVO do tributo na esfera administrativa (súmula vinculante 24). P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 10 Súmula vinculante 24 do STF: “Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo”. Insignificância no crime tributário Em crimes tributários, com base na alteração sofrida da lei de execução fiscal (portaria n.º 75), o princípio da insignificância será aplicado para considerar o fato atípico para lesões de até R$ 20.000,00 (vinte mil reais). TEORIA DO CRIME 1. ESTRUTURA DO CRIME → FATO TÍPICO a) Tipicidade material b) Tipicidade formal → ILICITUDE a) Excludentes (artigo 23 do CP) → CULPABILIDADE (REPROVABILIDADE) a) Imputabilidade b) Potencial conhecimento da ilicitude c) Exigibilidade de conduta diversa → PENA - No que tange a sua dosimetria - No que tange à execução (LEP) 2. FATO TÍPICO 2.1. Tipicidade formal Trata-se da conduta descrita na lei. É o que está descrito no artigo. P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 11 Reconhecimento da ATIPICIDADE FORMAL DOLO E CULPA. Ausente essas condutas, ocorrerá atipicidade. Erro de tipo incriminador (artigo 20 do CP). Sempre terá como consequência afastar o DOLO. Desistência voluntária e o arrependimento eficaz (artigo 15 do CP). Se o agente for denunciado pelo cometimento de um crime tentado, reproduzir na tese de defesa a desclassificação da conduta do agente para desistência voluntária ou arrependimento eficaz, gerando, assim, a atipicidade. Desistência voluntária → está em execução. Arrependimento eficaz → já houve a execução. Crime impossível (artigo 17 do CP). Também será apresentado como tentativa para, posteriormente, requerer o reconhecimento da atipicidade. No artigo, devem ser observados os elementos objetivos do tipo penal e o elemento subjetivo especial (especial fim de agir). Exemplo: furto de uso (subtrair o bem para si ou para outrem), extorsão mediante sequestro (com a finalidade de obter vantagem). 2.2. ATIPICIDADE MATERIAL (PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA) O fato se torna atípico por ausência de tipicidade material. Nessa hipótese, não há um artigo para mencionar. 3. ILICITUDE Todo fato típico tende a ser ilícito, salvo as excludentes de ilicitude: a) Estado de necessidade (Art. 24, CP) b) Legítima defesa (Art. 25, CP) c) Estrito cumprimento do dever legal d) Exercício regular do direito e) Consentimento do ofendido 3.1. Excludentes de Ilicitude (artigo 23 do CP) P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 12 a) Estado de necessidade (artigo 24): A palavra chave para identificar o estado de necessidade é “PERIGO”, que deve ser atual e inevitável, não criado por vontade do agente, bem próprio ou de terceiro e inexigibilidade de sacrifício do bem. b) Legítima defesa (artigo 25): A palavra chave para identificar a legítima defesa é “AGRESSÃO” (conduta humana direcionada a atingir outra pessoa). A “agressão” deve ser atual ou iminente, injusta (agressão que não foi autorizada), a bem próprio ou de terceiro e os meios devem ser moderados, ou seja, meios suficientes, necessários ou disponíveis para cessar a agressão. Os excessos estão no artigo 23, parágrafo único, do CP. Não há legítima defesa se o outro agente está amparado por uma excludente de ilicitude. c) Estrito cumprimento do dever legal: É um instituto exclusivamente voltado para o funcionário público que atua no exercício da função, cumprindo o seu dever legal (amparado por lei). Quando o POLICIAL DISPARA SUA ARMA contra um meliante NÃO ATUA EM ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL, e só terá a sua ilicitude e o crime afastados pela LEGÍTIMA DEFESA própria ou de terceiro, devendo haver, portanto, agressão. d) Exercício regular de direito: Qualquer pessoa que exerça o seu direito próprio. Exemplo: poder familiar, intervenção cirúrgica, lesões desportivas, ofendículas ou ofensáculos (exemplo: cerca elétrica, caco de vidro, cachorro). e) Consentimento do ofendido: O titular do bem consente com a lesão desse bem previamente. O bem deve ser disponível. Assim, não cabe para crime contra a vida. 4. CULPABILIDADE (REPROVABILIDADE) Segunda a teoria normativa pura da culpabilidade, o juízo de reprovação é formada por três elementos cumulativos e necessários, quais sejam: imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa. A culpabilidade será afastada quando faltar um desses elementos. 4.1. Imputabilidade P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 13 Haverá exclusão da culpabilidade a ocorrência da inimputabilidade decorrente de doença mental (artigo 26 do CP), menoridade (artigo 27 do CP) e embriaguez acidental completa – involuntária (artigo 28, II, §§ 1º e 2º, do CP). A teoria da “actio libera in causa” dispõe que em caso de embriaguez voluntária ou culposa o agente será responsabilizado. 4.2. Potencial consciência da ilicitude → Erro de proibição (artigo 21 do CP): As consequências do erro de proibição será a diminuição da pena de 1/6 a 1/3 ou afastar a culpabilidade. 4.3. Exigibilidade de conduta diversa O agente deveria ter tido um comportamento diferente da conduta que teve. Ocorre em dois casos: a) Coação moral irresistível (artigo 22 do CP): O agente foi coagido, de forma que o compeliu a cometer o crime. Exemplo: faça determinada coisa se não matarei o seu filho. b) Obediência hierárquica (artigo 22 do CP): O superior hierárquico, por vínculo de direito público, recebe uma ordem que acredita ser legítima/legal. Se a ordem for claramente, manifestamente ilegal, não há obediência hierárquica. Assim, o superior e o subordinado responderão pela infração penal. 5. TEORIA DA PENA 5.1. Quanto à aplicação da penaa) Analisar a dosimetria da pena; b) Concurso de crimes (artigos 69, 70 e 71 do CP); c) Prescrição; d) Escusas absolutórias (artigos 181 a 183 do CP). 5.2. Quanto à execução da pena a) Regime inicial (artigo 33 e 34 do CP); b) Conversão em restritiva de direitos (artigo 44 do CP); P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 14 c) Avaliar progressão de regime (artigo 112 da LEP); d) Livramento condicional (artigo 83 e seguintes do CP); e) SURSIS (artigo 77 e seguintes do CP). 6. TÓPICOS MAIS APROFUNDADOS 6.1. Iter criminis São as etapas de realização de um crime doloso 1ª Cogitação: etapa psicológica, em que o agente planeja a prática do crime. Trata-se de etapa totalmente impunível, pois não há lesividade no plano do pensamento. 2ª Preparação (atos preparatórios): são atos concretos no mundo fático em que o agente se organiza, prepara, instrumentaliza a realização do crime. Em regra é impunível por não afetar bem alheio. Porém, é possível, por escolha do legislador, se criminalizar um ato que seria de mera preparação impunível, criando-se, assim, um crime autônomo. Exemplo: associação criminosa, petrechos para falsificação de moeda, 3ª Execução (atos executórios): ocorre quando o agente dá início à execução do crime, manifestando o seu dolo através da prática de uma conduta e passando a interferir na esfera do bem alheio. A partir da execução, o direito penal passa a punir o fato, inicialmente através da tentativa (Art. 14, II e parágrafo único) caso por motivo alheio a sua vontade (dolo) não chegue a obter a sua consumação. O dolo na tentativa é o mesmo do crime consumado e o agente responderá pelo mesmo crime com a pena diminuída de 1/3 a 2/3. 4º Consumação: se dá quando o crime está completo, sendo que isto ocorre com a produção do resultado previsto (Crime material →Ex.: furto), ou com a completa prática da conduta formalmente proibida, mesmo que não ocorra o resultado previsto (Crime formal → Ex.: extorsão mediante sequestro), ou ainda com a realização da mera conduta proibida, já que não há sequer resultado (Crime de mera conduta → Ex.: desacato, desobediência). → Tentativa → Desistência voluntária e arrependimento posterior P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 15 → Arrependimento posterior: é aquele posterior à consumação que se dá com a reparação do dano para que haja diminuição de pena de 1/3 a 2/3. Requisitos: (1) crime sem violência ou grave ameaça; (2) ser feito até o recebimento da denúncia. → Crime impossível: é aquele impossível de consumar em que o agente atua com dolo, inicia os atos executórios e não chega à consumação, já que esta, de plano, era impossível de ocorrer. Fala-se em uma “tentativa ineficaz, imprópria, inidônea” para gerar o resultado. O fato que se é impossível de consumar será considerado atípico. Porém, nada impede que outros crimes ocorridos sejam imputados ao agente. A tentativa será inidônea e o fato atípico pela ineficácia absoluta do meio ou pela impropriedade absoluta do objeto a ser atingida pela conduta. Obs1: se o meio for relativamente ineficaz para gerar o resultado ou o objeto relativamente impróprio de sofrer o resultado, não haverá crime impossível, mas sim tentativa punível. Ex.: tentativa de furto com câmera de segurança (STJ) Obs2: Flagrante preparado (delito de ensaio) → de acordo com a Súmula 145 do STF, o flagrante preparado, também chamado de delito de ensaio por obra do agente provocador, configura crime impossível e a conduta reconhecida como atípica. P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 16 7. TEORIA DO ERRO 7.1. Erro essencial É aquele que se refere aos elementos essenciais do crime. a) Erro de tipo incriminador (Art. 20, CP): ocorre quando o agente comete um crime errando a respeito da situação fática que realiza, errando sobre os elementos que compõem o tipo penal, pois “acha que está” fazendo algo diferente do crime realizado. Ex.: o agente é encontrado com drogas, mas acreditava que carregava medicamentos. Consequência: afasta o dolo, podendo afastar também a culpa e tornar o fato atípico (erro inevitável), ou afastar o doo e punir a conduta culposa se houver (erro evitável). b) Erro de proibição: é aquele em que o agente comete o crime, porém em erro a respeito do caráter proibido ilícito contrário ao ordenamento daquilo que faz. O agente “acha que pode fazer” aquilo realizou. Consequência: afasta a culpabilidade, isenta de pena e exclui o crime (erro inevitável) ou reduz a pena de 1/6 a 1/3 (erro evitável). c) Erro de tipo permissivo (Art. 21, CP): é aquele em que o agente erra a respeito da situação fática e acredita estar agindo em situação de exclusão da ilicitude. Erra acerca de elementos fáticos presentes em uma excludente de ilicitude. Ex.: erra sobre uma agressão pensando estar em legítima defesa. Consequências: afasta a responsabilidade por dolo e culpa isentando de pena, excluindo o crime. (erro inevitável) ou afasta o dolo e pune a forma culposa do crime. (erro evitável). 7.2. Erro acidental São aqueles em que ocorre uma falha, acidente na realização do crime, atingindo vítima diversa da pretendida ou lesionando bem jurídico diverso do desejado. a) Erro sobre a pessoa (Art. 20, §3º, CP): Trata-se de erro de valoração a respeito da identidade da vítima (erro do irmão gêmeo). Consequência: ignora as características da vítima efetivamente lesionada, imputando-se o crime como se tivesse atingido quem pretendia. P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 17 b) Erro de execução (Aberratio ictus – Art. 73, CP): Trata-se de erro fático em que o agente erra o alvo e atinge pessoa diversa da pretendida. Ex.: erro da “bala perdida”. Consequência: ignora-se a vítima lesionada, imputando o crime como se tivesse atingido a pessoa atingida, o alvo visado. Gerando dois ou mais resultado trabalha-se normalmente o concurso formal perfeito – artigo 70, 1ª parte. c) Aberratio criminis (Art. 74, CP): Trata-se do erro quanto ao bem jurídico atingido em que o agente quer lesionar uma “coisa” (patrimônio – dano), mas acaba atingindo uma pessoa (lesão corporal ou homicídio por culpa – artigo 121 ou 129). Consequência: neste caso afasta-se a tentativa do crime doloso realizado (dano) imputando-se apenas o CRIME CULPOSO gerado na pessoa. Gerando dois ou mais resultado trabalha-se normalmente o concurso formal perfeito – artigo 70, 1ª parte. 8 CRIMES CONTRA A HONRA Os crimes contra a honra dividem-se em 2 grupos: os que afetam a honra objetiva (calúnia e difamação), ou seja, a imagem pública e a reputação social da vítima e ainda o que afeta a honra subjetiva (injúria), ou seja, sentimento pessoal de dignidade e de decoro, o orgulho próprio. → Calúnia: Art. 138, CP. É sinônimo de mentira. → Difamação: É sinônimo de fofoca. → Injúria: É sinônimo de xingamento. 8.1. Calúnia: Art. 138, CP Sinônimo de mentira sobre a prática de crime. Se consuma com a publicidade. Sendo mentira, a prova da verdade gera atipicidade da calúnia. 8.2. Difamação: Art. 139, CP Por ser fofoca significa atribuir fatos desonrosos a alguém, logo, não precisa de publicidade para se consumar. Sendo fofoca não importa se os fatos atribuídos são verdadeiros ou falsos, logo não admite a prova da verdade exceto em uma hipótese, quando a vítima é funcionário público e a difamação se refere ao exercício funcional. 8.3. Injúria: Art. 140, CP P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 18 Sinônimo de xingamento. Para se consumar basta que a vítima tome conhecimento e também não admite a prova da verdade. Injúria real é aquela que se caracterizapor atos concretos como vias de fato. Injúria preconceituosa não se refere apenas a raça, mas também origem, religião, condição de idoso e deficiente. A injúria preconceituosa não se confunde com o crime de racismo onde o que ocorre é segregação e não apenas o xingamento com motivação racial. CONCURSO DE CRIMES Ocorre quando determinado sujeito realiza dois ou mais crimes através de uma só conduta ou de várias condutas, determinando assim a forma de aplicação de pena no caso concreto. ESPÉCIES 1. Concurso material (Art. 69, CP): Ocorre quando o sujeito realiza vários crimes idênticos ou não, através de condutas independentes. Neste caso, deve- se SOMAR as penas aplicadas a cada um dos crimes. Quando a pena ultrapassar o limite máximo de 30 anos (Art. 75, CP), esse valor total das penas somadas será levado em conta para a progressão de regime e livramento condicional (Súmula 715 do STF). 2. Concurso formal: 2.1. Perfeito (Art. 70, 1ª parte) → Ocorre quando através de uma só conduta (ação ou omissão) se produzem dois ou mais resultados e o agente atua com unidade de desígnio (dolo ou culpa). Aplica-se a pena de um só crime aumentada de 1/6 a metade, salvo se o aumento de pena gerar uma pena maior que o equivalente a soma das penas apresentadas na questão. Neste caso, afasta-se o concurso formal aplicando-se a regra do concurso material benéfico (Art. 70, parágrafo único, CP), somando as penas. 2.2. Imperfeito (Art. 70, 2ª parte) → Quando através de uma só conduta o agente pratica vários crimes possuindo dolos independentes, desígnios autônomos, quer cada um dos resultados. Aplica-se a pena da mesma forma que no concurso material, ou seja, somadas. P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 19 3. Crime Continuado: Trata-se de uma ficção jurídica criada para evitar a aplicação do concurso material e sua regra (soma das penas) para se considerar os vários crimes como um só realizado em continuidade. Para que se aplique a pena de um só crime aumentada. (sistema exasperação) Requisitos: → Crimes de mesma espécie (mesmo artigo – STF) → Circunstâncias de tempo, lugar e modo de execução semelhantes. Ex.: “chacina”, “arrastão”, o crime do “maníaco do parque” em SP. → Aplicação da pena: de um só crime (o mais grave), aumentado de 1/6 a 2/3. → Afastar o concurso material e a soma. 3.1. Crime continuado específico (Art. 71, parágrafo único, CP) Requisitos: pluralidade de vítimas e violência. Além dos requisitos básicos, se pressupõe violência ou grave ameaça em todas as condutas e também pluralidade de vítimas para que o aumento de pena seja de 1/6 até o triplo. Observação1: a súmula 605 do STF perdeu aplicação; Observação2: o limite máximo de tempo entre as condutas será de 30 dias, passando deste período de intervalo afasta-se o crime continuado, aplicando-se o concurso material; Observação3: De acordo com a súmula 711 do STF havendo uma lei nova mais severa durante a permanência em crime permanente (Art. 288 e 148, CP) ou durante a continuidade delitiva, esta lei nova se aplica em conjunto; Observação4: O valor da pena aumentada no crime continuado e no concurso material perfeito jamais poderá ultrapassar o equivalente à soma das penas (Art. 70, parágrafo único, CP – concurso material benéfico). CONCURSO DE PESSOAS OU AGENTES (ART. 29, CP) O CP adotou a teoria monista pela qual todos que concorrem para o crime como coautores ou partícipes, através do concurso de pessoas, e por isso P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 20 ligados por um liame subjetivo (acordo de vontades), respondem pelo mesmo crime, porém na medida de sua culpabilidade com as penas individualizadas. Obs.: Exceção pluralista à teoria monista: O crime de aborto pode ser considerado uma exceção em que dois coautores respondem cada um por um crime diferente (Art. 124/126, CP). Autoria: Nosso ordenamento adota majoritariamente a teoria do domínio do fato, pela qual autor será aquele que possui o controle (as rédeas) da situação, o domínio sobre o final dos fatos, independentemente de realizar o verbo núcleo do tipo (autor-executor) ou não. 1. ESPÉCIES DE AUTORIA a) Autor direto/executor: quem pratica o verbo e tem o domínio do fato. b) Autor intelectual: é aquele que planeja, elabora e controla a situação sem realizar o verbo que será praticado por um autor/executor que também tem o domínio do fato. c) Autoria mediata ou indireta: quando determinado sujeito com domínio do fato leva outrem a praticar a conduta criminosa sem domínio do fato. Responde pelo crime somente este autor “por detrás” enquanto quem praticou a ação não é autor e não responde por nada. Ex.: coação moral irresistível e obediência hierárquica, erro determinado por terceiro (Art. 20, §2º) e uso de inimputável. d) Autoria colateral: quando dois sujeitos, um sem saber do outro e sem acordo de vontades, atuam ao mesmo tempo realizando o mesmo crime contra a mesma vítima. Neste caso, aquele que obtiver o resultado responde pelo crime consumado e o outro, apenas pela tentativa. Obs.: se na autoria colateral, sem acordo de vontades, não for possível identificar quem gerou o resultado, ambos respondem pela tentativa (in dubio pro reo e presunção de inocência). 2. COAUTORIA Trata-se apenas de uma autoria em conjunto quando dois ou mais agentes mediante um acordo de vontades todos com domínio do fato concorrem para a prática de um crime. Pode ocorrer de duas formas: com todos realizando a conduta típica ou através da divisão de tarefas quando cada um dos coautores desempenha uma função essencial para a empreitada. 3. PARTICIPAÇÃO P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 21 É a colaboração dolosa no fato alheio, sem o domínio do fato, e, portanto, de forma acessória. Nosso ordenamento adotou a teoria da acessoriedade limitada pela qual para se responsabilizar um partícipe a conduta principal do autor deve ser típica e ilícita. Logo, havendo exclusão da ilicitude do autor, se afasta também a responsabilidade penal do partícipe. Espécies: a) Participação moral/induzimento/instigação/auxílio moral. b) Participação material (auxílio concreto, material) 3.1. Participação de menor importância: É causa de diminuição de pena exclusiva para participação quando a colaboração do partícipe for de pequena importância. 3.2. Cooperação dolosamente distinta: Ar. 29, §2º, CP. quando o coautor ou partícipe quer colaborar para um crime, mas o autor/executor acaba praticando outro mais grave. Neste caso o autor responde pelo que fez e o participante responde somente pelo crime para o qual quis colaborar (tese de defesa). Caso o resultado mais grave fosse previsível, a pena do crime para o qual quis colaborar será aumentada de até a metade. OBS.: Admite-se coautoria e participação em crimes omissivos, e também coautoria em crime culposo. Só não se aceita participação em crime culposo, já que todos que concorrem com a falta de cuidado para um resultado serão considerados autores. PRESCRIÇÃO (ART. 109, CP) É causa de extinção de punibilidade em face do decurso de certo período de tempo devido a inércia do Estado em promover a ação penal, dar andamento a ação penal ou ainda em executar a pena. Podendo afastar o direito de punir (ius puniendi) pela extinção da punibilidade, isentando de pena. Espécies: 1. DA PRETENSÃO PUNITIVA Trata-se da prescrição da ação penal começando a correr na data da consumação do crime ou do último ato executório no caso de tentativa, e P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 22 prosseguindo até o trânsito em julgado da sentença condenatória,passando por etapas em que o prazo prescricional poderá ser interrompido ou suspenso. 2. DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA Trata-se da prescrição da pena definitiva aplicada, sendo seu prazo contado a partir do trânsito em julgado da sentença. O prazo prescricional será apurado com base na tabela do artigo 109 do CP, considerando-se como base a pena máxima abstrata prevista para o crime. Havendo sentença e pena concreta, e servirá de base para o prazo prescricional de acordo com a tabela do artigo 109 do CP. De acordo com o artigo 115 do CP reduz-se os prazo prescricionais pela metade se o autor é menor de 21 anos na data do fato ou maior de 70 anos na data da sentença. Quanto aos prazos prescricionais pode ocorrer: causas interruptivas da prescrição, em que a contagem do prazo é interrompida voltando-se ao ponto de partida, recomeçando a contagem do prazo do zero. Isso ocorre a cada movimento do Estado no processo (Art. 117, CP). Causas suspensivas da prescrição são fatores que impedem o andamento da ação penal e que por isso suspendem a contagem do prazo até que sejam resolvidos, sendo que após a causa suspensiva a contagem é reiniciada do ponto onde parou. (Art. 116, CP). De acordo com o artigo 111 do CP nos crimes permanentes a contagem do prazo prescricional só começa a partir do término da permanência e ainda em crimes sexuais praticados contra menores de 18 anos, o prazo começa a correr a partir da data em que a vítima completa 18 anos. Obs.: Na PPE uma vez iniciado o cumprimento de pena, caso o condenado fuja, recomeça a contagem do prazo prescricional, porém levando em conta o restante de tempo de pena a cumprir com base na tabela do artigo 109 do CP. A pena de multa prescreve em 2 anos ou havendo pena privativa de liberdade prescreve junto com esta pena. 3. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE OU SUPERVENIENTE (Art. 110 e §1º, CP) Após a sentença condenatória de 1ª instância começa a correr um prazo até o trânsito em julgado ou até o acórdão de 2ª instância para a prescrição da P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 23 pretensão punitiva, sendo que este prazo será calculado de acordo com a pena concreta da sentença de 1ª instância com base na tabela do artigo 109 do CP. 2. PRESCRIÇÃO RETROATIVA: Art. 110, §1º, CP. Depois de transitada em julgado a sentença ou acórdão desta sentença de 1ª instância até o recebimento da denúncia para avaliar se com base neste novo prazo prescricional que teve como base a pena definitiva houve prescrição. Não se faz contagem de prescrição retroativa da etapa pré-processual, ou seja, não se conta o período do recebimento da denúncia a data da consumação. 3. PRESCRIÇÃO PELA PENA ABSTRATA OU IDEAL OU PRESCRIÇÃO VIRTUAL OU PRESCRIÇÃO EM PERSPECTIVA. A prescrição virtual ou em perspectiva não é mais aceita pela jurisprudência e pela lei (Art. 110, §1º do CP) já que na contagem da prescrição retroativa, não se leva mais em conta o primeiro lapso interruptivo, ou seja, o que vai do recebimento da denúncia até a data do fato. Logo, não se pode ao início do processo considerar o fato já prescrito devido ao tempo passado da data do fato ao recebimento da denúncia projetando para isso a pena final definitiva que poderá ser aplicada, já que esse período inicial não é levado em conta na prescrição retroativa com base na pena concreta definitiva. LEGISLAÇÃO ESPECIAL 1. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA A Lei 9.296/96 regula a interceptação telefônica, excepcionando o dispositivo constitucional disciplinado no art. 5º, XII da CF (Sigilo das ligações). Finalidade da lei - é obter a prova para a investigação criminal ou para instrução criminal. Esta finalidade esta prevista no artigo 1º da Lei 9.296/96, só podendo ser decretada por autoridade judiciária. Decretação - A Interceptação poderá ocorrer de ofício ou a requerimento da autoridade policial (apenas e tão somente durante a investigação), ou ainda pode acorre ainda mediante requerimento do Ministério Público (durante a P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 24 investigação; ou ainda durante a instrução processual penal - art. 3º da Lei 9.296/96). Conteúdo do Requerimento – deve demonstrar que a realização da interceptação telefônica é necessária para apurar a infração penal. Deve também indicar os meios que serão empregados para a realização da interceptação. Observação: Excepcionalmente, o requerimento para decretar interceptação poderá ser formulado verbalmente, oralmente e reduzido a termo (art. 4º da Lei 9.296/96). Decisão - Prazo para decidir é de 24 horas. A decisão deve ser devidamente fundamentada, sob pena de nulidade, devendo ainda indicar a forma de execução da diligencia (art. 5º da Lei 9.296/96). Prazo da duração - é de 15 dias que pode ser renovado por igual período uma única vez, ou seja, mais 15 dias. A jurisprudência admite que seja prorrogável por um período maior, mas só poderá haver prorrogação quando ficar demonstrada que ela é indispensável. Não cabimento de interceptação telefônica → Não cabe interceptação telefônica se não houver indícios razoáveis de autoria ou de participação em infração penal. → Não cabe também interceptação telefônica em crime de detenção, mas somente em crime de reclusão. → Ou ainda quando se pode fazer a prova por outros meios – art. 2º da Lei 9.296/96. Advertência: realizar interceptação sem autorização judicial ou fora dos casos previstos em lei É CRIME (Art. 10 da Lei 9.292/96). 2. LEI DE DROGAS (Lei 11.343/06) Objeto jurídico da lei – A lei procura como um todo proteger aquilo que chamamos de saúde pública, que é um bem supraindividual, um bem coletivo (o somatório de todas as saúdes). Sujeito ativo - Em regra, os crimes previstos na Lei, no que diz respeito ao sujeito ativo, são comuns, ou seja, praticados por qualquer pessoa. P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 25 Exceção: art. 38 da Lei 11.343/06 - crime culposo exige que aquele que pratica o crime só pode ser uma pessoa que prescreve ou que ministre determinada substância, sendo esta pessoa médico, dentista, farmacêutico, profissional de enfermagem. Sujeito passivo (vitima) – temos em regra a coletividade, pois a saúde pública é um bem coletivo. Norma penal em branco - Essa lei em regra é uma norma penal em branco, pois o rol de substâncias entorpecentes (psicotrópicas) é previsto em norma complementar (ANVISA), sendo necessário o enquadramento para haver a tipicidade da conduta. Crime do artigo 28 da lei 11.343/06 (para consumo pessoal) – é crime, mas não possui pena privativa de liberdade (despenalização - STF). Possui como penas: advertência ou, prestação de serviços a comunidade ou, medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Advertência: o prazo de prescrição do uso é de 02 anos (art. 30 da Lei 11.343/06). Critério para se determinar o uso pessoal e não o trafico (Art. 28, §2º): a) Natureza e quantidade da substancia b) Local e as condições em que se desenvolveu a ação criminosa c) Circunstâncias sociais e pessoais da agente d) Conduta do individuo e os antecedentes Advertência: Individuo flagrado com droga para uso pessoal não permanece preso em flagrante. Ele é levado à delegacia, lavra-se um termo circunstanciado e ele é liberado. Trafico de Drogas (Art. 33 da Lei 11.343/06) É um crime de perigo abstrato, sendo equiparado ao hediondo apenas no caput e no seu §1º, sendo que os §§ 2º e 3º não se trata a crime equiparado a hediondo. Existem 5 condutas previstas no artigo 33 da lei 11.343/06 que também estão no artigo 28, por exemplo: ADQUIRIR, GUARDAR, TER EM DEPÓSITO, TRANSPORTAR,TRAZER CONSIGO. → Sujeito ativo: qualquer pessoa. P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 26 → Sujeito passivo: coletividade. Advertência: §2º do art. 33 da lei 11.343/06 – traz a figura daquele que induzir ou instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga. É uma figura branda de trafico e não é equiparado ao hediondo, com pena de detenção de 1 a 3 anos. Com pena mínima de 1 ano é possível aplicar o instituto da suspensão condicional do processo da lei 9.099/95. Figura do §3º - oferecer droga eventualmente sem obtenção ou objetivo de lucro para pessoa do relacionamento para que haja o consumo em conjunto. Isto é uma espécie de trafico que a pena é de detenção de 6 meses a 1 ano e multa, sendo uma infração de menor potencial ofensivo, com possibilidade da aplicação da lei 9.099/95. No §4 do art. 33 é uma diminuição de pena, uma minorante. Diminuição da pena de 1/6 a 2/3. Este §4º é uma causa de diminuição de pena aplicada somente a figura do caput e a figura do §1º do art. 33 da lei de drogas. Advertência: aplica-se o §4º para o traficante que é primário, de bons antecedentes e que não se dedica a atividades criminosas e que não integra uma organização criminosa. A lei veda a substituição da pena de privativa de liberdade pela restritiva de direitos e a fixação de regime inicial diverso do fechado. O STF e STJ admitem isto, refutando a redação que faz vedação geral de determinado artigo (inconstitucionais). Diante disso, o STF diz que o art. 44 da lei 11.343/06 deve ser analisado no caso concreto. Os artigos 33 caput e 33, §1º e os art. 34 a 37 que são equiparados a hediondos. Isenção de pena da lei de drogas (art. 45 da lei 11.343/06) – Agente, em razão da dependência ou sob o efeito proveniente de caso fortuito ou de força maior, era o tempo da conduta, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou determina-se de acordo com ele. 3. LEI VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – “MARIA DA PENHA” (Lei 11.340/06) Objeto jurídico da lei – Coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher (Art. 226, §8 da CF). P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 27 Sujeito passivo - esta é uma lei que tem a chamada vitima própria, ou seja, só é aplicada para proteger a mulher no ambiente doméstico, familiar e de intimidade. Sujeito ativo - A lei incide contra homem ou contra mulher, inclusive em relações homoafetivas. Conceito de violência domestica e familiar – é aquilo que pode resultar a morte, lesão, sofrimento físico, sofrimento sexual, sofrimento psicológico, dano moral e material (Art. 5º, caput da Lei 11.340/06). Aplicabilidade: → Na unidade doméstica, ou seja, um local de convívio permanente de pessoas com ou sem vinculo familiar, inclusive os esporadicamente agregados (patrão ou patroa de empregada domestica - art. 5º, I da Lei 11.340/06); → No âmbito da família- pessoas que são ou se consideram parentes (laços naturais ou biológicos, afinidade ou por vontade expressa [adoção] - Art. 5º, II da Lei 11.340/06); → Qualquer relação intima de afeto – art. 5º, III da Lei 11.340/06. Observação: Mulher é a vitima, independentemente de sua orientação sexual (paragrafo único do artigo 5º da Lei 11.340/06). Cabe ressaltar que a jurisprudência brasileira defende que deve haver HIPOSSUFICIÊNCIA da mulher agredida. Observação2: A lei Maria da Penha não é a “novatio legis” incriminadora. A lei criou, em termos penais, uma agravante genérica do artigo 61, II “f” do CP. Além disso, aumentou a pena do §9º, do artigo 129 do Código Penal, uma qualificadora já existente e que foi aumentada. Por fim, criou uma causa de aumento de pena no artigo 129 do CP (§ 11º deste artigo). Termos Processuais: → Prisão em flagrante: o art. 41 da Lei 11.340/06 prevê que não se aplica a Lei 9.099/95. Sendo assim, em caso de violência doméstica é possível a prisão em flagrante. → Ação Penal: o crime de lesão corporal leve, por conta da lei 9.099/95, foi transformado em crime de ação penal publica condicionada à representação da vitima. Porém, quando entrou a lei Maria da Penha, ela determinou a não aplicação da lei 9.099/95. Diante disso, crime de lesão corporal leve em situação P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 28 de violência doméstica é ação penal pública incondicionada, decidido assim pelo STF. → Retratação/Representação: sendo de ação penal pública condicionada, poderá haver a renúncia, porém isso só pode acontecer em juízo, com audiência especifica e com a oitiva do Ministério Público, previsto no art. 16 da Lei 11.340/06. → Fase Judicial/Procedimental: A lei 11.340/06 determinou a criação dos juizados Especiais de Violência Domestica e Familiar Contra a Mulher. Advertência: esse juizado tem uma competência chamada cumulativa (cível e criminal - Art. 14 da Lei 11.340/06). Além disso, os atos processuais destes juizados poderão ser aplicados inclusive no período noturno. Estes juizados não possuem um procedimento especifico. O procedimento dependerá do crime (sumário ou ordinário), porém NUNCA SERÁ O RITO SUMARÍSSIMO, pois a Lei Maria da Penha não aceita aplicação da lei 9.099/95. Por fim, não existe um colegiado de juízes da mesma comarca (turma recursal), ou seja, recorre-se para o tribunal comum, pois não foi criado um sistema recursal próprio. 4. LEI CRIMES HEDIONDOS (Lei 8.072/90) Nesta lei encontraremos o maior rigor a determinados crimes. A lei adotou um critério legal para definir quais crimes são hediondos e quais são equiparados a hediondos (rol Taxativo) Os crimes hediondos e equiparados têm em comum as seguintes vedações: Anistia, Graça, Indulto e Fiança (Observação: Proíbe a fiança, mas não veda a liberdade provisória) O art. 2º, §1º da Lei 8.072/90 determina que o regime inicial deve ser obrigatoriamente fechado, porém o STF e STJ são contra. Ainda que tenha sido condenado por um crime comparado hediondo, será possível iniciar o cumprimento da pena em regime diverso do fechado. Para fins de progressão de regime, o indivíduo tem que cumprir um tempo de pena diferenciado (2/5 para primário e 3/5 para reincidente - art. 2º, §2º da lei e Súmula 715 do STF). P e n a l – O A B 2 ª F A S E | 29 Observação: O individuo que praticou o crime hediondo ou equiparado a hediondo antes da lei 11.464/07 (que é a lei que criou os 2/5 e 3/5 dos crimes hediondos), ele tem direito a progredir de regime com 1/6 da pena (Súmula 471 do STJ e Súmula vinculante 26). Livramento Condicional - Cumpre-se 2/3 da pena imposta para obtenção de livramento condicional previsto no art. 83, V do CP c/c Súmula 715 do STF. Observação: o reincidente específico em criem hediondo ou equiparado não tem direito a livramento condicional. O reincidente específico é aquele que foi condenado por transito em julgado por qualquer crime hediondo ou equiparado e depois do transito em julgado ele vem cometer mais um crime hediondo ou equiparado. Prisão temporária prazo da prisão temporária é de 30 dias por mais 30 dias, previsto no §4º do art.2º da lei 8.072/90.
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